Jornal da 3ª Idade www.jornal3idade.com.br - Um jornal a serviço dos direitos dos idosos São Paulo, setembro de 2014 - ano 11 - especial nº 13
Os Franciscanos de São Paulo comemoraram os 20 anos do Cefram de apoio às pessoas HIV e 18 anos da Casa de Clara de idosos Hermínia Brandão
Coral da Casa de Clara , regido pela Maestrina Emely, que acompanhou toda a celebração.
herminia@jornal3idade.com.br
Um Centro de Convivência com várias oficinas e acompanhamento
Esquadrão das Drags recepcionaram a festa dos que foram comemorar os 20 anos do Cefram.
Um olhar sem preconceitos e com solidariedade motivos em 1994 Uma festa alegre e colorida representou o elo que hoje existe entre os trabalhos com idosos e pessoas com HIV, que atualmente dividem o mesmo endereço, mas que no início tiveram, com públicos diferentes, a mesma razão de nascer: oferecer solidariedade, dignidade e preservação da cidadania. Depoimentos de vários fundadores do trabalho do CEFRAM- Centro Franciscano de Apoio as Pessoas com HIV, criado em 1994, lembraram como era sofrido para as pessoas que descobriam que eram portadoras do vírus HIV conviver na sociedade e na família. “Se hoje ainda existe preconceito contra uma pessoa com HIV, há 20 anos era desesperador. Se descobrir com AIDS, como era chamada a
epidemia na época, era quase uma sentença de morte. As famílias passavam a renegar o parente com vergonha, as empresas demitiam de imediato com medo de contágio e profissionais eram aposentados sem serem consultados, como foi o meu caso. Não existiam remédios e a perspectiva de alguns anos de sobrevida era ainda pior. Não era para eu estar aqui. Hoje quando se vislumbra a cura e temos leis e garantias a gente percebe que caminhamos muito”, falou Roberto emocionado, ao lembrar o começo do trabalho. O CEFRAM foi fundamental para a resistência física e moral de centenas de pessoas que passaram pelo atendimento nos últimos 20 anos, pois além de apoio psicológico recebiam cestas de alimento e remédio.
“Chegamos a atender 400 pessoas num só dia. Desde o início a motivação era oferecer solidariedade com dignidade em todos os aspectos. Mesmo nos momentos mais desesperadores- e não foram poucos – a gente procurava manter um ambiente de confraternização. Quando a própria família não queria nem chegar perto da pessoa doente, o abraço de alguém do CEFRAM era todo o afeto que aquela pessoa recebia. Não foi fácil e cada vez que perdíamos um usuário o trabalho para levantar a autoestima dos demais era dobrado. Nem parece que se foram 20 anos”, contou Betinho um dos fundadores do CEFRAM.
Igreja do Largo de São Francisco, no Centro de São Paulo, lotada na missa de ação de graças pela Casa de Clara.
Roberto: resgate da autoestima. Drags: colaboração sem preconceito
Parte da equipe de trabalho do Cefram e Sefras.
Betinho: um dos fundadores
Uma celebração de Ação de Graças que emocionou todos que lotaram a Igreja de São Francisco, na tarde da sexta-feira dia 19 de setembro, e uma alegre confraternização que se viveu na sequência reuniu fundadores, usuários e apoiadores de dois serviços forjados na solidariedade franciscana e inscritos na história da assistência social da cidade de São Paulo: os 20 anos do trabalho com pessoas que vivem com o HIV e os 18 anos de atendimento a idosos. O celebrante foi Frei F i d ê n c i o Va n b o e m m e l ministro provincial, da Província Franciscana da Imaculada Conceição, que teve ao seu lado o Frei José Francisco de Cassia dos Santos, atual responsável pelo SEFRAS e Frei Mário Luiz Tagliari um dos
fundadores do trabalho. Com depoimentos de usuários que em duas décadas sentiram mudanças na qualidade de vida graças ao atendimento recebido, pode-se conhecer um pouco da história dos dois trabalhos. Frei Fidêncio lembrou que embora a Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil, ao longo da sua história, sempre tenha realizado atendimento à população carente em seus conventos e paróquias foi com o processo de construção da Política Nacional de Assistência Social, reconhecida como direito na Constituição de 1988, que a Província organizou os trabalhos realizados na área social. Ele agradeceu a todas as pessoas que estiveram envolvidas nestes 20 anos, especialmente os frades,
as irmãs religiosas, os voluntários e os benfeitores. Frei José Francisco de Cássia dos Santos contou que além de dar continuidade a vocação franciscana, o Sefras tem feito um trabalho de adequação à legislação regulamentadora da Assistência Social e tem se configurado não só como um trabalho comprometido com a promoção humana e a defesa da justiça, mas também como uma forma privilegiada de evangelização. Recordou que em 2002, o antigo Departamento de Obras Sociais recebeu o nome de Serviço Franciscano de Solidariedade – Sefras, quando inaugurou o escritório central na Rua Riachuelo. Em 2010 foi criada a Associação Franciscana de Solidariedade. Frei Mário Luiz Tagliari definiu o Sefras como
expressão do franciscanismo. “São Francisco de Assis nos deixou o grande legado de que nosso lugar é estar com os empobrecidos e marginalizados, como fez no início de sua conversão, quando abraçou o leproso”. Ele lembrou da atuação do Frei Reynaldo Ungaretti que foi o idealizador do CEFRANCentro Franciscano de Luta Contra Aids, em São Paulo, em 3 de setembro de 1994 e da maneira original como ele deu início a entidade: ele celebrou uma missa em que distribuiu rosas vermelhas para todos os presentes, na igreja do Largo São Francisco. Frei Reynaldo - que também era soro positivo morreu dois anos depois e não pode ver o resultado de sua obra, mas vários dos que estavam ao seu lado estiveram presentes.
O atendimento dado na Casa de Clara, o trabalho voltado aos idosos da cidade de São Paulo, do Serviço Franciscano de Solidariedade completou 18 anos. Durante as comemorações foram registrados muitos depoimentos de pessoas usuárias que contaram como as orientações, apoio psicológico, oficinas de terapia e muitas vezes alimentos e remédios os ajudaram a sobreviver em períodos difíceis e encontrar novas perspectivas. “Eu só tenho a agradecer ao CEFRAM e ao SEFRAS pelas oportunidades que temos na Casa de Clara. Lá nós recebemos alimentação, lazer e atividades. A convivência entre os idosos é muito boa, de confraternização e solidariedade. Espero que a gente possa comemorar mais 18 anos desse trabalho que tem sido muito útil para todos. Feliz aniversário para todos nós”, disse Olga Lechner Rodrigues que falou representando os usuários. “Na Casa de Clara a gente discute os nossos direitos. As pessoas não precisam somente de ajuda material. Informação é muito importante. Saber o que o Estatuto do Idoso reserva para nós é a maneira da gente poder reivindicar”, disse Maria, também usuária. “Infelizmente muitos idosos ainda são desprezados por pessoas e pela própria família. Muitos chegam em depressão e sentem que não tem mais papel na sociedade. É preciso mais do que um acolhimento, é necessário um trabalho de cidadania para que elas continuem revigoradas na sua autoestima para continuar a caminhada”, disse Frei José Francisco, responsável pelo SEFRAS.
Irmã Margareth, coordenadora da Casa de Clara fez no seu discurso um histórico da criação e desenvolvimento do trabalho. Ao falar das conquistas conseguidas com idosos que sentiamse desprezados pela sociedade e pela família e encontraram motivação no acompanhamento oferecido, ela tocou no assunto mais dificil em todos os trabalhos com idosos: a violência psicológica que é imposta aos mais velhos. Irmã Margareth enfatizou a questão do trabalho de cidadania que na Casa de Clara anda junto com o trabalho assistêncial. Ela lembrou que leis- como o Estatuto do Idoso- garantem direitos, mas precisam ser fiscalizadas e cobradas permanentemente da sociedade para continuarem ativas. Ela defendeu o protagonismo dos idosos nessa tarefa e a importância do trabalho da Casa de Clara em estimular o exercício da cidadania.
Irmã Margareth: cidadania.
Olga: agradecimento.
Madalena: fruto do trabalho.
Interessados em colaborar podem entrar em contato pelo e-mail: servicosocial.casadeclara@franciscanos.org.br
Josias: o Estatuto do Idoso.