O Jardineiro de Sobral

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O Jardineiro de Sobral

O Menino Jardineiro de Sobral. É para o homem triste, retirante de um país chamado Ceará, que conheci na infância.



Djine Klein

O Jardineiro de Sobral Ilustraçþes de Clauveci Muruci


Todos os direitos reservados à autora. Nenhuma parte desta edição pode ser utilizada ou reproduzida em qualquer meio ou forma, seja mecânico, eletrônico ou automatizado, nem apropriada ou estocada em sistema de banco de dados sem a expressa autorização da autora. O texto deste livro foi fixado conforme o acordo ortográfico vigente no Brasil desde 1° de janeiro de 2009. Ilustrações digitalizadas pela Muruci Editor para a 1ª edição e 1ª impressão em 2014. Bibliotecária responsável pela ficha de catalogação na fonte: Nalin Ferreira - CRB 10/2186.

Ficha Catalográfica

48 p; IL. preto/branco ISBN 978-85-67095-02-8 1. Literatura. Infanto-juvenil 2. Literatura brasileira I. Muruci, Clauveci II. Título

Uma publicação da MURUCI Editor Editor | João Clauveci B. Muruci Design Gráfico/Capa/Diagramação | Mauricio Muruci Email | jornaldeartes@yahoo.com.br Site | www.issuu.com/jornaldeartes Site |www.facebook.com/jornaldeartes Tumblr | www.murucieditor.tumblr.com CNPJ | 107.715.59-0001/79 - Fone | 51 3276 - 5278 | 51 9874 - 6249


O Jardim-sertão Do Menino O jardineiro de Sobral: linguagem criativa, informal, poética – uma voz lírica que fala devagarinho ao pé do ouvido do leitor, desfiando agruras e dores com delicadeza e rara sensibilidade. Dário, filho caçula de Felicidade, o personagem do conto infanto-juvenil de Djine Klein, menino que quase não fala – sofre de ausência – e por isto cala sem som – silêncio do sertão e dele próprio – a quem falta a voz, símbolo aqui de potência, de força. Este tema da ausência e do vazio, do contraste e da harmonia entre o interior e o exterior torna este texto literário de uma pungência exemplar – há um sertão interior nesta criança cujos irmãos e pai nunca mais voltaram, seus sete irmãos, insonte o pai se foram - nunca conheceu pai e aqueles líricos sonhados irmãos...com dois adjetivos a autora apresenta o estado psicológico do menino, ou seja aqueles irmãos eram praticamente alucinados, visualizados por ele. A autora desvela o maltrato do corpo (tempo e terra hostis) por um sertão de securas indigências sofrimentos miséria interior que desabrocha em jardim, cor, fragrâncias e beleza. Jardim contrário da esterilidade, pleno de fecundidade. Clara valorização da natureza como possibilidade de sublimação. Na saga narrada por Djine, Dário perde a mãe por último, quando conhece o cinema, simbólico da civilização, da cidade grande: A madrinha veio para levar Dário a um tal de cinema. O menino q nascia era tão mindinho q a parteira chamou logo o padre: a transformação do nenê mindinho em adulto de posse de seu jardim enfim, surge após todas suas perdas como superação e compensação de tanta solidão e sofrimento - Nos campos de Dário brotou flor [...] cada qual um colibri. Sua voz que grita na força de comunicação da escritora. Notam-se influências linguísticas de Guimarães Rosa e Graciliano Ramos enriquecedoras do relato. O ilustrador João Cloveci Muruci complementa a trama com as linhas simples e fundas e os rostos expressivos de seu desenho artístico. Cenário e gentes de nosso nordeste. Conto que relata o universal contido no sertão – sertão que poderia ser a Síria, o Afeganistão, outros pontos do Brasil, enfim – temos um Dário simbólico das crianças em sofrimento psicológico, da infância ultrajada, do menor abandonado. Djine se compromete com o que há de humanidade em todo leitor. O jardineiro de Sobral constitui-se em peça literária primorosa, de plena afetividade e sabedoria. Prevê reflexões. Adultos também apreciarão esta história de esperança e superação, na qual também se revela o prazer da escrita e da estupenda capacidade de entrar em delírio, fluxo de devaneio – rêverie - da autora.

Berenice Sica Lamas



No Sertão estórias escritas rudes germinam menino-pássaro e flor. Umas as palavras direto da terra crua, a lápis outras em página branca. Em paisagem de silêncio a criatura tem mais ternura, anseios por falar de amor. E os corações no áspero – a vida brota mais sóbria.

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Sobral vai acontecendo mais ao norte desse Brasil Ceará. Foi lá que nasceu Dário, numa noite longa e estrelas, que a Lua bocejou seu ciúme. O menino era tão mindinho que a parteira chamou logo o padre. Vai que Dário desembarcasse da pouca vida que lhe coube antes do amanhecer. E as comadres já se diziam a pouca boca, entre a porta do casebre e o terreiro:

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Essa coisinha de gente parte sem mistério! Antes de salgar as carnes em viver sertanejo... Disse a primeira. Menos um pra ter sede e olho espichado além da vista, comadre! Acrescenta a outra. Calem-se, de blasfemar! Então não sabe vosmecê, Vidinha mais Açucena que destino dado por Deus ninguém pode arrenegar? Se há pouca vida pra carregar, que os santos lhe acompanhem até a margem d'Ele, Comadre!

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E ouviram um amém vindo do fundo da maloca. Era a mãe do menino Dário chegou no retardo dos anos de dona Felicidade. Na última vez que o pai visitou o Sertão deixou a semente. Logo re-partiu com promessa de retorno breve. Mas foi que para a mulher e a criança a terra mais ardeu. Estalando os dias nas saudades, não se voltavam os seus e, o Sertão era só sedes e sofredor. Cada ano daquelas duas vidas no lembrar de seus entes longes transcorriam pelos dias de um século. E só o menino não sabia e, via os olhos da mãe procurando uns sinais na paisagem. Onde o tempo deveras tecendo na pressa que o tempo faz.

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Aconteceu em três anos e trinta séculos - que o menino já falava mais palavras que a boca era de dizer. “Três primaveras para Dário!” Mas onde a flor? A mãe quase se deixou não escutar o perguntar de sua criança na festa dos anos. E o menino adivinhava tanta coisa, os presentes brotando na terra crua de verdura. A mesa posta, a menino tinha tanta ternura que a mãe se morria de ter dó.

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Um dia Felicidade acordou com um sorriso no rosto. Rajava-lhe um sol em cada canto da boca e o ciúme dessa vez foi quase do menino Dário, entre mirar-lhe as faces, a mãe ali e a Lua no céu. Dário agora com nove anos falava menos e já sabia implicar com esse seu destino do Norte. Com ter essa sorte de acalentar muitos sonhos. Ali mesmo feito um mar de palavras, tão rubra a Terra Mundo. O Sertão que os pés se queixam e o rastro calcinando. Contudo as fomes e ainda ser menino sem escola, lhe ardia mais aquela espera. Igualzinho o esperar de Felicidade. A mãe.

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Houve longe um amanhecer no tempo. Há quatorze anos seus sete irmãos, insonte o pai se foram, que pro sul é quando se vai de retirante. De amargura ou desejo de ir colher num jardim. O filho do Sertão ia buscar riqueza, esquecer a tanta pobreza, de até não lembrar-se de quem ou que ficou. Um ponto pulsando triste no Norte.

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Muitas vezes Felicidade pedia paciência, que Dário esperasse o tempo que Deus manda: Teu coração é puro, menino! Deus há de lhe conceder um jardim. Nele há de brotar muita fruta, muita raiz e as fomes todas hão de perecer! Também Deus concederá os seres animais e gentes para que tenhas amigos. Até as criaturas que o munda nem tem, brotando de vos... Das tuas mãos, Dário filho meu!...

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Um dia a madrinha veio, para levar DĂĄrio a um tal de cinema. Aquela ideia, um tantinho de felicidade que Felicidade pensou. Um regalo que a mĂŁe lhe buscava hĂĄ anos, pedindo por caridade a comadre da cidade. Um presente pro menino!

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Finda aquela mesma tarde em que Dário conheceu o mundo na fita, a mãe morreu de espera, ou motivo de despedida. Ver o menino saindo de casa, dizendo: Até que mais volte mãinha! Igualzinho visto em outra era, outros meninos seus de antes. E o adeus que ficou no definitivo aceno.

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No dia seguinte Dário se despediu da mãe, com mais silêncio que voz. E entre viu antes que o esquife se apagasse na terra: aquela sua Felicidade amara ali e amaro ao longe. Agora se apagando ela também como aqueles líricos sonhados irmãos. Então adivinhou Dário o que o vento já lhe assoprava em vozes para contestar a situação. Voltou para o casebre vazio, mas não era mais um triste, embora sem mãeinha pra lhe embalar os sonhos.

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Num gesto primeiro lavrou a terra. Depois olhou para c辿u e nu sentou-se num torr達o para tecer um cesto. Com os restos de algod達o das vestes da m達e coseu-se uma camisa e foi a campo colher pedrinhas.

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Ao amanhecer fez a semeadura. À tardinha veio a chuva e no dia seguinte nos campos de Dário brotou flor. Tantas e eram lindas, cada qual um colibri. E até hoje o povo diz que na terra de Sobral ou longe noutro lugar mais lindo jardim não há.

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Assim é o Sertão, as estórias escritas a graveto em solo cru germinam. E o meninopássaro e flor, as palavras no texto, a terra e o papel. A página nunca é branca.

Tudo eu via a estória, coisa desse meu coração com anseio de fábula. E nem sei quem mais esconde e revela a arte de ser menino no agreste. Por lá os meus pés – que nunca andei – mas que estou pedindo pra lembrar Dário, Felicidade e,um pontinho de paisagem - Ceará

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Djine por Djine Para o desconhecimento da minha pessoa aqui quem se grafa é personagem. Quanto a disposição para narrar sobre meus feitos, fato inconcluso sãos os poestórias que acontecem entre um descuido e a insensatez. Uma confidência? Me auto-acuso de delírios a ponto de afirmar que quem escreve são os quintoplus de eu ser e não ser um autor. Isso quando o Mundo clama por pessoas sérias, com títulos e prêmios, fico sendo o disparate de nunca ter ido buscar um certificado. Fim de linha, os cursos, oficinas e festivais não me encontrarão nas antologias. E, que teimo em ser persona de minha desventura até o egoísmo. Mas se me perguntarem sobre trilhas, sobre ócios de segunda-feira, sou a própria boêmia em não ter juízo sendo o mais disciplinado dos mortais. Ficar horas a fio investigando coisas sem serventia é comigo. Desimportância é o meu forte, é quando fico sábia e sabiá a ponto um Cipriano. Ah, quem dera me ouvissem os acadêmicos! Naquele mesmo e Velho Mundo teriam também eles mais arrebóis. E fato franciscano, isso é, para incluir na biografia – vou falar onde bebi para a minha gramática: juro que aconteceu um marinheiro-mercante com livro de fadas em mãos ásperas, as páginas salgadas de mar. Um andarilho com asas nos pés, uma mulher louca com seus quatro filhinhos natimortos e o caçador. Então fui vítima do magnetismo das suas fábulas, fui aprisionada em palavras onde aprendi antes, bem anterior a ser eu pessoa-gente as primeiras letras. Hoje a médio século de estradas, na enxorrada, uma criança (ladina) é o que mais me traduz.

Djine Klein


O Ilustrador Nasci no Pampa, onde com pequenos pedaços de telhas, aprendi os primeiros traços ao rabiscar as calçadas de minha rua. Por lá deixei minha marca nos riscos facilmente lavados pela primeira chuva a escorrer. Evolui em técnicas diversas e hoje me expresso ao usar tinta China, xilogravuras, têmperas, bico de pena, HQs (que publico no Jornal de Artes), fotografia e óleo sobre tela. Insisto no traço livre, com o rabisco solto, totalmente sem compromisso de agradar. Desenvolvo essa liberdade criadora com prazer. Sou autor de várias ilustrações para livros infantis e ficção adulta, na tentativa de ajudar esses escritores a melhor contar suas histórias. Faço minha parte com prazer na espectativa de que os leitores também absorvam essa minha intervenção criadora.


Site: www.facebook.com/djineklein E-Mail: djineklein@gmail.com






AgĂŞncia Brasileira do ISBN

ISBN 978-85-67095-02-8

99 77 88 88 55 66 77 00 99 55 00 22 88

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