JORNAL DE
ARTES Artes plás cas | Cênicas | Cinema | Música | Literatura Porto Alegre | Janeiro | 2014 | R$ 3,00
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15 ANOS
Publicando Cultura JORNAL DE
ARTES
Porto Alegre |Janeiro | 2014 | ARTES | 2
POESIA EM PROSA
FABULOSO MEDONHO SÓ Por
Djine Klein de Porto Alegre/Viamão/RS
Isso aqui é inventário - com fins e modos onde sapo não é batráquio - a pessoa de Fabuloso inventaria um povo. Era medonho de transmutar pregos em rosas e seus silêncios nham muros de espessura. Lento seguia como quem camufla o movimento. E que no médio de uma praça bradava-se. E sendo visto também se avistava assim – como nódoa de paisagem até num pá o de templo indigente. Mas grande ar sta na arte de sobreviver. Para espairecer narrava contos e lendas. Fabuloso era afetado de pássaros – às vezes adquiria asas, às vezes amanhecia de cocô no chapéu. E nunca renunciava um gozo de orvalho, despertar antes dos bichos, como junto do rio ver garça... Um oco primordial a coruja-Pia ou dália de entulho. Mas quando dava de dizer verdades ficava com língua de poeta: - A gente daqui se merece às ruínas? Vender a causa e as coisas que lhe despertence! Permutar o que o coração anseia por produto ou serviço? De sua atração por indigência diziam a sedução aconteceu na infância. Pescou que um andarilho não era gente, apenas um caminho. Intuía que para ser feliz era necessário se desencaminhar do mundo e suas lides: - Um homem desocupado de necessidades têm mais ocasos de pardais e arrebóis! Um dia Fabuloso quis saber o que faziam os homens de importância e gravatas. Aquilo de uma pessoa gente se dar impróprio nó no próprio pescoço não decifrava o hábito nem luxo: - Alguém sair vida a fora de coleira enfeitado! E contente? Desconjuro! Primeiro foi à Câmara - perguntar por que do povo na praça abulia, se o alto clero nha grandes fatos de luxo para anunciar? Desejoso de incorporar com aqueles homens, a serviço de um fato que desfazia todos os vícios. A consequência era pra ninguém nunca mais ter fome. Voltou num branco de palidez e silêncio de palavra, não traduziu. Depois pegou de banda um trem e seguiu a pé. Dirigia-se ao Senado e lá chegou mais afinado que garça ao azul quando trás no cias do além visto de olho humano. Também informou sobre os da terrinha e o que viu em viagem à margem. As vias de autos, as estradinhas, tudo ásperas de pó. Descreveu desestruturas de prefeituras, falou sobre trilhas e fundamentos. Mas arrematou ofertando aos emplenados uma libélula que desenhara no ar com o próprio corpo. E repe u o que tanto disse em outros cenários: - A gente de lá se merece, às ruínas? Os desgostos que temos tantos e mais esse permanente estado de depressão! Ou, preexiste um crime em cada pessoa?... Todos dali em trono agitando troféus fulminaram. De olhos mais frios que peixe morto, abismados e indignosos... Chamaram a segurança, e que adentraram contra Fabuloso doze de preto e casaca, mais um chefe em desbrandura de palavras: - O senhor se re re imediatamente! Que a casa é de gente direita. E quando alguém disse as palavras - Casa dO Povo - Foi então que Fabuloso ficou alvarado de excitação. Erguera os braços, um riso lhe atravessou a face, pensava que afinal iam lhe escutar em dignidades. Mas recebeu foi o não mais carregado. 24 braços lhe alcançando e mais dois afeitos a ser seta, es cados além de arco. Todos lhe desditavam rumo à porta. E desremendado ganhou o vazio. Fabuloso medonho se foi. Foi que desde a desdita data calou-se de si e as gentes nas praças e arrabaldes. Agora era ele a lhes indagar sem palavras. Passava como embalado por harpa e que música de vento não tem palavras só assobio. E afinal como foi que sua gente se acomodou! Entrementes um menino lhe apontou: - Fabuloso Medonho da Silva? Ou Só!... Os outros riam, e riram até que aquela tarde se esvaziou. Fabuloso renunciou de indício, recolheu-se no ínfimo, mas na manhã seguinte teve liame. Ele que desde menino já se afeiçoava a rio de dentro, que sabia acolher cigarra até a tarde entortando. Não mais es cou até a cidade. E assumiu o codinome – Fabuloso Medonho Só: - Se o indivíduo é justo de posto e personagem recebe remissão? Lá onde a Cultura foi deposta no gesto de alguém ter que pedir demissão! Assim o único narrador de fábulas e verdades que aquele reino conheceu não mais se manifesta em coreto ou extensão plana. Pegou um “Arranjo para assobio” e, a cata de recolher as próprias pegadas recolhe o rastro e volta-se para ser a velha nódoa da paisagem. Desvalido e, que ninguém se recorda de seu ba smo nome. André.
JORNAL DE
ARTES Artes Plásticas | Artes Cênicas | Cinema | Musica | Literatua
Jornal de Artes é uma publicação da MURUCI Editor Editor | João Clauveci B. Muruci Editora de Literatura | Djine Klein (djineklein@gmail.com) Design Gráfico/Capa/Diagramação | Mauricio Muruci Email | jornaldeartes@yahoo.com.br Edição Virtual | www.issuu.com/jornaldeartes Facebook |www.facebook.com/jornaldeartes Tumblr |www.murucieditor.tumblr.com CNPJ | 107.715.59-0001/79 - Fone | 51 3276 - 5278 | 51 9874 - 6249
EXPEDIENTE Colaboradores desta edição Almandrade | Arthur Adans |Cândida Schaedler | Diana Dobranszky | Djine Klein | Gilberto Carvalho | Paulo Bacedônio
Capa: detalhe de «O Perfeito Raffaele Raggi» Tela de Sir. Anthony Dyck. Óleo sobre tela com dimensões de 131cm x 105,4cm. Exposta atualmente na Galeria Nacional de Arte em Washington D.C, Estados Unidos
Porto Alegre |Janeiro | 2014 | ARTES | 3
Ilustrações Paulo Bacedônio
POESIA
POESIA IBERO-AMERICANA Por
Paulo Bacedônio
de Porto Alegre/RS
ADEMÁS ÁRBOL Con lo que ene el árbol de plantado sustenta su coposa ves menta para pulsar al mundo que sustenta el cálido mensaje especulado. Tanto es así que viene sustentado el halo vegetal que lo alimenta por ser la no esporádica tormenta toda vez que se precia de enramado.
sin conocerse el cráneo asombrado carbonizados los muslos sangrando la entrepierna Los peritos iden ficaron nuestros dientes las cavernas sin párpados las horas digitales nuestras líneas terrestres
Y antes que nadie en su figura cruza indescifrable la extensión del nido como inver da amante caperuza.
Esquirlas de aire entre los brazos documentos atrofiados geometría del espacio sin ropa sin manos emparentados con las aves.
Jerónimo Cas llo (Argen na)
Óscar Limache (Perú)
VUELO DE IDENTIDAD
EM STONEHENGE
Anida entre sus ramas el chis do cortante y montaraz de la lechuza como si fuera su primer balido.
No moriré ahora. Un día entero se desata frente a mí. Carlos Drummond de Andrade María Reiche nos vio caer volando bajo el cielo de arena Nasca fue nuestra muerte Sobre las bolsas de plás co nuestros cuerpos se alinearon azules
Para Iracema Marinho "Toda gênese procede da terra. Toda gênese Está manchada de impureza e horror". CONDE DE KEYSERLING I Quem ergueu estas pedras vo vas num espaço sobre-humano e insano? A que deuses invocava a que forças aludia
a que fenômenos referenciava e reverenciava? Quanto pode o homem em sua obs nada recriação — tudo ou nada? E a cultura é sempre contra-natura em sua vã fatuidade?
II Quais os limites da materialidade em que vagamos errantes e solertes? Pretensa eternidade nestas pedras inertes...
III Nas ruínas pré-históricas (atribuídas aos druidas) dois tempos simultâneos contradizendo-se: eu, perplexo, buscando um nexo entre a fragilidade humana e a vã materialidade daquele monumento. Em que momento voltaremos a ser terra regressaremos à comum mineralidade?
Antonio Miranda (Brasil)
Porto Alegre |Janeiro | 2014 | ARTES | 4
GRAPHIC NOVEL
XIRU LAUTÉRIO um personagem que luta contra a morte Por
Cloveci Muruci
de Porto Alegre/RS
Ao reencontrar, após longo tempo, Xiru Lauterio, personagem de HQ criado por Byrata, e desta vez com material suficiente a um olhar mais detalhado, percebi que Xiru é a primeira vista o gaúcho folgado, alegre e valente, envolvido nas lidas do campo; tudo isso ao traço preciso do seu criador. Narra va linear, roteiro envolvente, bem resolvido e sedutor, com humor refinado e raro. Mas, ao olharmos mais detalhadamente para esse alegre gaucho, percebemos um sobrevivente de uma espécie em ex nção. A figura do Peão de Estância, aquele trabalhador que conhece as lidas campeiras como ninguém; e hoje, já não tão indispensável; quando as Fazendas aos poucos se transformam ao implantar novas tecnologias. E homens como Lauterio, estão cada vez mais ausentes, para se transformarem em lendas. Esse Xiru, do qual falamos, tem o perfil psicológico perfeitamente iden ficado, - e quem já se aventurou no interior de nosso Pampa, e/ou região missioneira, “pago” do Lauterio, reconhece seu po alegre, - dono de linguagem própria ao falar com as imagens do lugar onde vive e trabalha. Faz parte da paisagem. O homem e seu cavalo. Por tradição é um valente, por temperamento, um alegre. Byrata apresenta, corajosamente, nessa ul ma publicação, “Xiru Lauterio e os Dinossauros”, o herói acompanhado de um grupo de amigos, que alem de outras lidas campeiras, “carneiam gado à noite” e andam em voltas com dinheiro falsificado. Essas más companhias, e esse desempenho as avessas dos heróis gaúchos chegam mais próximo à realidade contemporânea, obrigando aos trabalhadores do campo a romper um es lo de vida e migrarem para periferia das cidades, caindo obrigatoriamente na realidade do submundo urbano. A “luta” conta a morte, recorrente ao personagem, sugere a metáfora sobre o desaparecimento desse guerreiro dos campos, que em outros tempos, emprestou sua valen a as oligarquias da época e na atualidade brigam ferozmente, sem mesmo saber por que, - como em outros tempos -, contra gres, Demo, e monstros pré-históricos, que subliminarmente se esconde a primeira analise. Junto a tudo isso, - como se não bastasse - Byrata nos traz em detalhes, no traço e falas dos personagens, planos bem elaborados, e as riquezas do co diano campeiro; quando Lauterio prepara o fumo crioulo para o “palheiro”, ou o cuidadoso arranjo do chimarrão. Xiru fala com seu cavalo, e qual gaúcho que não faz isso? Mas nenhum tem um cavalo que pensa e reclama da lida do campo. Para completar, vem em ul ma analise a presença do conflito: um patrão fora da lei, um cien sta alemão possuidor de certa é ca, tempero mais que perfeito para o sabor da trama final.
O Xiru Lautério é um personagem de HQ, criado por Jorge Ubiratan - Byrata, na década de 70, e publicada em 1975, nos jornais: O Semanário (Tupancireta) e o Diário Serrano (Cruz Alta). Em 1978 o autor reúne essas ras numa revista e nos anos 80 a ra reaparece na revista Quadrins, e em 1986 retorna como ra publicada no jornal A Razão de Santa Maria. Em 2007 Byrata inicia a saga do “Xiru Lautério: Brigando Contra a Morte”, “Xiru Lautério Tigre N' Água”, e “Xiru Lautério e os Dinossauros”, lançado em 2013 no Tu Jiorn - Bar dos Cartunista, Cidade Baixa em Porto Alegre.
Porto Alegre |Janeiro | 2014 | ARTES | 05
ARQUITETURA
A ARTE E A CIDADE Por
Almandrade
de Salvador/BA*
Quando o tema é a qualidade de vida nas grandes cidades, interrogamos o desequilíbrio do meio ambiente, o desemprego, a deficiência de moradia... decorrentes de um modelo de desenvolvimento que se caracteriza por favorecer padrões de concentração de renda e poder. Não pensamos na visualidade urbana. Diante de tanta reivindicação não resta tempo para pensar a “beleza” como um componente que qualifica o ambiente cultural das cidades. Na cidade moderna, produto da sociedade industrial, a integração arte / arquitetura foi um princípio racional contra o desperdício de decorações, imposto pelo gosto eclé co do século XVIII. As relações: arte / arquitetura, arte / cidade dizem respeito à qualidade ambiental, são ingredientes que de vez em quando aparecem nas reformas urbanas, no paisagismo, nos espaços e edi cios públicos e privados. No século XIX, a cidade conta com um acervo de monumentos e se transforma num museu. Os monumentos arquitetônicos se destacam no tecido urbano e nos centros das praças são instaladas estátuas de algum indivíduo homenageado pelos seus feitos e ações. A burguesia, ao contrário das sociedades arcaicas, planeja o entorno, marca o urbano com suas estátuas. Até o horizonte das experiências esté cas dos anos 60 do século passado, quando o Minimalismo superou o conceito tradicional de escultura, transformando o objeto escultórico em elemento de composição espacial, quase arquitetônico. Formas geométricas primárias, como protó pos industriais, são inseridos no urbano, destacando-se na paisagem pela monumentalidade. Com os inves mentos das grandes cidades voltados para obras básicas, cidades oneradas por problemas financeiros e sociais, sem grandes recursos, sem uma tradição de polí ca cultural no planejamento urbano, como imaginar a arte pública neste contexto? Quando intervenções em nome da arte são executados de maneira casuís cas e personalistas, respondendo às vezes a interesses de ocasião, sem qualquer relação com o entorno, distante do que entendemos como arte, um adorno na paisagem, neste caso a obra de arte deixa de ser uma contribuição posi va para a visualidade urbana. Não vamos resolver o problema com legislação, sem um programa de educação para as artes e sem consciência de cidadania. É preciso educar os que decidem o des no da cidade com um programa específico de apoio às artes. No Brasil a integração arte / arquitetura foi uma preocupação do modernismo, como podemos constatar na casa modernista em São Paulo em 1930, projetada por Gregor Warchauchik obedecendo aos ideais da Bauhaus. No final da década de 30, no Rio de Janeiro o prédio do Ministério da Educação e Cultura sob a coordenação de Le Corbusier com par cipação de arquitetos como Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, os ar stas plás cos Cândido Por nari e Bruno Giorgi foram convidados para par cipar da concre zação do projeto. Em Salvador, uma legislação dos anos 50 obrigava a cada projeto arquitetônico a reservar um percentual de seu orçamento para uma obra de arte. E o espaço público? Pouco foi feito para valorizar o espaço urbano com a presença da obra de arte. Intervenções que ignoram o contexto, a escala, cultura e a contemporaneidade da cidade, confirmam o crescimento desordenado e o provincianismo da cidade. Se é possível falar de uma esté ca do espaço urbano, ela é resultado da relação que os elementos constru vos mantém entre si e com o todo, nem sempre considerada nas reformas urbanas. A meu ver, é oportuno o pensar sobre a arte pública em cidades onde o fazer ar s co e sua intervenção no urbano é uma relação ainda empírica.
* Almandrade - (ar sta plás co, poeta e arquiteto)
Florido durante a intervenção “Pensando Butoh”. Foto: acervo pessoal ARTES PLÁSTICAS
ARTE CONTRA O PATRIARCADO A ar sta Florido ques ona, através de pinturas, desenhos e intervenções públicas, os padrões de beleza impostos às mulheres Por
Cândida Schaedler
de Porto Alegre/RS
Desconstruir o ero smo do corpo feminino, divulgado – de maneira equívoca – como objeto à disposição do sexo oposto. Cri car a superexposição das curvas da mulher, o julgamento excessivo e injusto ao qual é subme da diariamente e alçá-la a uma posição de independência, ao menos na arte. Essas são as propostas da paulista Priscila Florido, ar sta de 27 anos que expôs suas obras durante um mês no Banx, reduto de muitos ska stas e hipsters da capital gaúcha. Florido - como assina seus trabalhos – u liza diversas técnicas, como colagem, spray, nta acrílica e caneta hidrográfica. Além de pinturas e desenhos inspirados em elementos da natureza e em fractais, também aprecia fotografias e intervenções públicas. Gosta de provar materiais, texturas e formas, e acredita que a própria condição de ser ar sta a induz ao experimentalismo. Suas obras, no início, eram muito voltadas a um surrealismo psicodélico. Hoje, porém, sistema za o tema e segue o formato de pesquisa e projeto. Escolheu, assim, abordar a questão da mulher, ques onando muitas vertentes a par r do tema. No ponto cultural localizado entre a Carlos Gomes e a Nilo Peçanha, expôs 15 obras – divididas em 7 telas, 6 desenhos, uma intervenção sobre fotografia e um registro fotográfico – entre os dias 3 de dezembro e 7 de janeiro, em uma série ba zada de Muta-Corpo. O tulo diz respeito às mutações que o corpo sofre, pois é vida, movimento, evolução. Por meio de suas criações, Florido busca ques onar os padrões de beleza femininos. Acredita que ainda não explorou o lado polí co do corpo, mas desnudou os sofrimentos diários de uma mulher – extrapolando os próprios limites esté cos e a ngindo o campo psicológico. Logo que começa a falar, é possível perceber a maturidade dos pensamentos da ar sta, que abandonou um trabalho como professora, em São Paulo, para se dedicar mais intensamente à criação e morar com o namorado, em Porto Alegre. Desde julho do ano passado vive na capital gaúcha e afirma sen r-se mais acolhida no Rio Grande do Sul. “São Paulo é muito extrema. Embora eu ame a cidade, já estava querendo me mudar”, diz. Com a voz branda, discorre sobre questões feministas com propriedade de quem lê e estuda todos os dias sobre o assunto. Os cabelos negros, levemente ondulados, foram jogados por cima do ombro direito, mesmo lado em que possui uma pinta em cima da boca, próxima ao nariz. Sentada no Banx, ela comentava sobre arte, feminismo e polí ca com opiniões formadas, sem pestanejar. “A arte por si só é ques onadora, pois sempre vai causar sensações e estranhamentos”, pontuou, consciente de que suas ações são importantes. Florido crê na arte como transformação. Denuncia as questões de poder entre gênero e sexo e, através disso, busca decompor o conceito primário e preconceituoso de muitas pessoas. Luta, à sua maneira, para deixar um legado às próximas gerações. "O feminismo é essencial, mas vejo os homens confusos com as reivindicações do movimento. A batalha ainda é muito dura, pois se percebe claramente a supremacia do masculino", avalia.
Porto Alegre |Janeiro | 2014 | ARTES | 07
Entre um gole e outro de cerveja, apontava, orgulhosa, as obras expostas, todas à venda por preços que variavam de R$ 20,00 a R$ 510,00. Em Puberdade, misturou tons claros e escuros para criar a atmosfera que permeia essa fase de alterações, descobertas e dúvidas para as mulheres. Além disso, representou a menstruação, muitas vezes vista como suja e impura: "Mas, se olharmos bem, ela chega até a ser poé ca", opina. Em Mu lada, cri ca a separação e o julgamento das partes do corpo feminino. “Sempre a dividem em peito, bunda, pernas. Os seios são grandes, mas a bunda é pequena, por exemplo. É uma agressão, mexe com o psicológico e com a autoes ma”, defende. Nesta tela, elaborada com técnica mista, Florido abusa dos tons quentes, denunciando de maneira ainda mais forte o quanto tal prá ca – arraigada em nossa cultura e transmi da pela mídia e pela educação familiar – é violenta. Na tela Mastopexia, aborda a cirurgia homônima que “levanta” os seios femininos. Cada vez mais procurada como alterna va após a gravidez e a amamentação, a intervenção reposiciona a auréola e o tecido mamário e compõe um novo contorno para a mama. “A sociedade diz que a mulher tem que sempre estar melhorando algo no próprio corpo, que do jeito que está não é bom. Quis mostrar que o procedimento também causa dor, não é aquela coisa boni nha”, comenta. Nos desenhos da ar sta, a mulher indígena também ganha espaço. A arte sobre papel Índia reflete sobre os confrontos que ocorrem entre índios e fazendeiros – e, consequentemente, policiais – devido à demarcação de terras. Tocada pelos episódios que acontecem no Brasil, procurou representar a questão e refle r sobre o que padecem mulheres cujos preconceitos são ainda mais di ceis de serem quebrados. "Pretendi passar a ideia de que o indígena morre, mas, ao mesmo tempo, é transcendente", explica. A mulher invasiva, que reivindica seus direitos e se posiciona de maneira independente nos tempos atuais aparece na colagem Proibida. O detalhe de um homem, diminuto, a observando, reforça a incompreensão masculina do empoderamento pelo qual mulheres lutam.
“India” um dos trabalhos expostos em dezembro e janeiro na Banx, em Porto Alegre. Foto: Acervo pessoal
Já a dualidade entre gêneros é explorada na tela Ele Está Perfeita, em que cria um rosto andrógino coberto de maquiagem. As interrogações que surgem são várias: Até onde vai o feminino e até onde vai o masculino? Que diferenças são essas que a sociedade criou? Quem disse que só mulher pode usar maquiagem? O desenho Ventre: Caos e Ordem expõe a complexidade que envolve o útero e todos os preconceitos que ainda o rodeiam. Nele, gera-se outra vida, embora – e frisando este fato – tornar-se mãe seja uma escolha. Isto é, mesmo com os avanços, ainda há aquelas que são condenadas pela opção de não terem filhos, o que, muitas vezes, não é uma decisão tomada sozinha, mas em conjunto com o parceiro. Para expor ainda mais a mulher-objeto – como é vista por muitos homens –, Florido criou uma intervenção sobre manequim in tulada ForçaMoça. Com spray, nta e lenços, o resultado foi algo simples e extremamente profundo em significado. Até quando as mulheres vão ser vistas como indivíduos sem personalidade ou inferiores aos homens? Até quando mulheres serão – senão apenas, primeiramente – julgadas pela aparência? Até quando o órgão genital vai con nuar sendo um instrumento de dominação? Estas são algumas perguntas que aparecem quando deparamos com a arte de Florido. Mais obras da ar sta podem ser conferidas na página do Facebook (h p://facebook.com/floridoart) ou por meio do por ólio online (h p://floridoart.wordpress.com).
Estranhamentos pela cidade Além de desenhos e telas, Florido também aprecia intervenções públicas, quando se aproxima ainda mais das pessoas e as ques ona em ambientes corriqueiros. A ar sta se envolveu com dança aos oito anos e se apaixonou pelo ritmo contemporâneo, que define como um divisor de águas em sua vida. Ainda mais essencial foi a oficina de DanceAbility da qual par cipou, pois se deu conta de que qualquer um pode dançar, independente de ser deficiente sico ou mental. A par r da experiência, notou que poderia protestar à sua maneira, conciliando elementos de dança contemporânea. “Eu gostaria que as pessoas u lizassem mais o espaço público, se apropriassem dele para se expressar”, diz. Nas intervenções, Florido cria perguntas e estranhamento nos pedestres. Não passa despercebida. Quando ainda morava em São Paulo, realizou a intervenção De Cor Com a Cidade, em que ques onou a ordem dos governantes paulistas de pintarem muros de cinza, sobretudo aqueles que haviam sido grafitados por ar stas famosos como Os Gêmeos. Saiu pelas ruas da metrópole com um pano laranja, vermelho, verde e azul para dançar. "Que ordem é essa de que a cidade tem que ser cinza? A estrutura do sistema é que cria isso", define. Ela – ainda bem – não aceita as ordens sociais sem fazer nada para mudá-las. Em relação às influências da ar sta, ela enfa za que não vêm somente das artes plás cas, mas também da literatura, do cinema e da música. Ques onada sobre suas inspirações, dá uma risada e confessa: “Sempre tenho dificuldade de responder a essa pergunta”. Toma outro gole de cerveja e pensa. Cita Henri Ma sse, com suas formas e cores, Jean-Michel Basquiat, no qual se espelha na liberdade de expressão, Kiki Smith, que trabalha com arqué pos femininos, e os brasileiros Arthur Bispo do Rosário e Beatriz Milhazes, com suas composições amplas. Frisa, entretanto, que admira várias personalidades, lembrando ainda do diretor Glauber Rocha, do escritor russo Mikhail Bakunin – um dos principais expoentes do anarquismo no século XIX – e das escritoras Simone de Beauvoir e Hilda Hilst. Contudo, o que fica claro, em poucos minutos de conversa e após uma observação atenta às obras da ar sta, é que, apesar da pouca idade, a paulista é muito madura. Depois de decepções profissionais – começou a trabalhar aos 13 e logo notou que não servia para serviços burocrá cos – já sabe o que quer da vida e quais temas aprofundar por meio da arte, sempre lembrando de fazer uma crí ca social em relação à situação da mulher. Com 27 anos, ainda tem muito para evoluir. Mas o que se vê agora não decepciona.
Cloveci Muruci
Porto Alegre |Janeiro | 2014 | ARTES | 8 Poesia
Anticuario RESTO BAR
...E O FILHO DO CARPINTEIRO ? Por
Gilberto Carvalho de Porto
Alegre/RS
Rua Gal. Lima e Silva, 985 esq. Joaquim Nabuco Telefone: 3225-4020 Cidade Baixa - Porto Alegre - RS
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Porto Carioca: Rua da República, 188. Cidade Baixa. Porto Alegre. E-mail: portocarioca@hotmail.com
E se eu – só trouxer o suor de um dia inteiro da luta, batalha, cansaço, sonho, a fome, a desilusão . Olhar dos quase vencidos que buscam desprotegidos a incerteza do pão ???
Pra todo lado que eu olhe há um velhinho, barba branca, a roupa em vermelho vivo, gordo, corado e risonho. Como materializando o lado melhor de um sonho.
- Será que chegando assim, como sou no dia a dia : Nada NOEL – mas PAPAI, vão haver luzes e espaços prá diminutos abraços que só cabem na poesia ?
O “saco”, que Ele carrega jamais tem fundo – nem fim. E ali, estão mil regalos que todos “podem” comprar.
...Então, me fico a pensar no “crime descomunal “ que a INDUSTRIA do NOEL ins tuiu para o momento . O Cristo e seu nascimento na manjedoura singela, cuja estrela, a noite aquela, anunciou os reis do oriente, NÃO EXISTE prá esta gente que hoje confunde NATAL com a data material ornamentada a presentes.
-Compra, quem não tem dinheiro. quem tem menos, ou não tem. Recebe, quem não pediu nem interessa de quem. E é todo mundo correndo num consumismo brutal, para cumprir “o ritual ” de que o velho sempre vem. -Será este o verdadeiro espirito do natal ? Nascimento, redenção pelo Cristo universal ... Ou há um NOVO Messias nesta mídia irracional ? E se, no saco vazio, houverem apenas “ votos ” de amor, amizade e paz, ou orações de carinho , ternura e fraternidade ?! -Haverá Papai Noel e gente esperando aflita, cada um por seu presente ? ...ou caras desapontadas porque pacotes abertos do fundo do coração são coisas ultrapassadas ou sensações “an quadas” que já ninguém quer ou sente ?!
- O menino salvador, tão franzino no presépio, é despido de embalagens, a não ser suas mensagens de amor , de paz e de luz. Nunca virá de trenó com gordas renas, ponteando, mas é o PAI que a humanidade elegeu como verdade - pobre ...estaqueado na cruz ! Por isto, por mais que eu queira ver no velhinho de barbas a imagem humanizada de um po sensacional, ante este quadro brutal que troca abraços e preces por ofertas materiais, e ano a ano sem pensar busca só festa e dinheiro... Só consigo imaginar que estas festas de natais crucificam mais e mais ao “Filho do Carpinteiro “. Natal/2.000
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3276 - 5278 9874 - 6249
HYMNO A SAUDADE Por
Arthur Adans de Porto Alegre/RS
Oh, tu que vens... - Que dor no peitoNos faz reféns Do póstumo leito Sorrisos D'aurora gelada Dos olhos ferventes Á úl ma lágrima chorada De amor presente Vede, Oh, Dama-colombina -Abraçai-me enquanto choro Que meu Ermo não finda Apenas porque oro “Pai, Oh, Pai Até tu me desamparaste? Cura, oh, cura os ais Do filho que tu amaste”. Flores levadas pelo Vento Que juvenil brinca são Co'as saias do convento Qual Lembranças no coração Luz que entra na mata negra Um crepúsculo divino Anjo de santa pureza Tormento que não divido Pinturas da languida nostalgia Das águas escorrendo do horto Quando meu sorriso alguém fazia Enquanto jazia Eu morto - Lembranças, Lembranças! Me abracem enquanto imploro Saudade, tu és esperança De ver por quem tanto choro Ah, apago a vida-luz. É noite Um terço pelo olhos, os meus ferventes -Que Dor- tu te foste Dor eternamente Oremos com graça Choremos com juras -Ah, que desgraçaPormos as flores às sepulturas Lágrimas orvalhais D'outono Com sorriso que aparece Visão dos sonhos - Escutai, Deus, nossa prece! Somos as folhas que oram com graça O Céu nublado que chora com juras A nossa dor só passa Ao lavar com lágrimas as sepulturas.
Porto Alegre |Janeiro | 2014 | ARTES | 9
DELEGADO HIPOLITO Organiza a Direita para lutar contra a Comissao da Verdade
Um alcagueta sabe esconder-se
Ninguem te seguiu?
E claro! sou um exalcagueta.
No Centro Historico de Porto Alegre, dois homens se encontram para tramar acoes contra a Comissao da Verdade, que inferniza a vida dos ex-torturadoes e ex-alcaguetas dos Anos de Chumbo ...
Voltei. Nao gostei do castelhano deles
Quantos arregimentou pra nossa ONG
Meia duzia. O resto se esconde.
Precisamos nos infiltrar na Comissao da Verdade
Andava no Paraguai?
Tecnicas de como silenciar testemunhas
Antes a gente fazia eles falar. Agora nao deve ser muito diferente
Os neonazistas ofereceram 200 socos ingleses,agora falta o apoio oficial da Globo.
Como assim ?
Com o auxilio da Grande Midia, voltaremos ao status de herois.
Apoio Cultural :
Telas, Quadros e Molduras www.kersson.com.br
(51) 3211 - 6833 (51) 3024 - 0341
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Porto Alegre |Janeiro | 2014 | ARTES | 10 ARQUITETURA
O REFERENTE NA FOTOGRAFIA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA Por
Diana Dobranszky
No período abrangido pela pesquisa de mestrado "Referente e imagem na fotografia brasileira em fins do século XX", a história da fotografia brasileira começou a tomar corpo. Apesar de haver pesquisas, tanto publicadas como em andamento, o estudo da fotografia cons tui-se ainda de um trabalho arqueológico. Se para compreender e contextualizar as obras contemporâneas é necessário o entendimento da história da fotografia - como história da arte fotográfica -, todo trabalho de inves gação torna-se redobrado: um quebra-cabeça de informações e estudos isolados. Por outro lado, este período mostra-se empolgante para aqueles que pretendem contribuir para que essa história seja trazida à tona. Aos poucos e por meio de várias vertentes de estudo esperamos que a expressividade brasileira daqueles que escolheram a fotografia como meio ar s co esclareça-se. Ciente da impossibilidade de abarcar a produção fotográfica em sua imensidão, esta pesquisa espera ter dado sua pequena contribuição. Em sua percepção do acervo de fotografias do MAM-SP exposto em 2002 - ano em que essa pesquisa foi finalizada -, Tadeu Chiarelli, munido de seu conhecimento e estudo sobre a história da fotografia, traçou um breve panorama do desenvolvimento da fotografia das úl mas décadas do século XX. Segundo ele, a fotografia brasileira esteve, de maneira geral, atrelada por muito tempo a sua função documental da realidade brasileira, que, apesar de mostrar o caráter de compromisso social, apresentava pouca experimentação. O excurador-chefe do museu diz ter notado, no entanto, que algumas obras do acervo refle am a subje vidade do olhar dos fotógrafos e mostravam até mesmo um discurso sobre a própria fotografia. Quebra maior com o que denominou como tradição da fotografia no Brasil, foi observada por ele na exposição de fotografias "Iden dade/Não iden dade", de 1997, no MAM-SP: "Contra ou parodiando, em chave irônica, essa vertente, a grande maioria dos ar stas presentes em 'Iden dade/Não iden dade', parecia evidenciar o descompromisso com aquela car lha, sobretudo os jovens ar stas. Por outro lado, a mostra tentava evidenciar como essa mesma geração buscava novos valores de iden dade tanto para eles próprios - como indivíduos cidadãos e ar stas, vivendo no final de um milênio, num país como o Brasil - como também para a própria arte e a fotografia" (CHIARELLI, 2002: 10). É aqui que se encontram os fotógrafos focados por este estudo, na busca de uma fotografia brasileira experimental diversificada. Na ocasião da mesma exposição do MAM-SP, Ricardo Mendes tratou da pesquisa sobre a fotografia nos úl mos 30 anos do século XX, apontando a dificuldade de se estudar um meio de expressão e de documentação tão diversificado como a fotografia. Foi na década de 1970 que Mendes acredita ter iniciado um longo processo de reconhecimento da fotografia brasileira, cujo resultado é o panorama da fotografia brasileira contemporânea. O final daquela década e o início da seguinte teriam sido, para ele, de efervescência em termos de pesquisa, livros, galeria e escolas, quando tudo era novo e mo vo de inves gação e estruturação: "É relevante apontar como 'aquela geração' de fotógrafos, os primeiros pesquisadores e a própria sociedade elegeram como conceito 'fotografia' um universo diversificado de manifestações, do jornalismo à experimentação. E aqui, neste ponto, talvez seja o elemento novo do quadro brasileiro, a proposição da fotografia como meio de expressão, abordagem que na longa história da fotografia no Brasil, afora os raros episódios representados pelo pictorialismo no início do século XX e mais tarde na produção mais moderna nas décadas de 1940 e 1950, nunca efe vamente ocorrera, ou seja, a fotografia compreendida enquanto linguagem" (MENDES, 2002: 20). Na pesquisa da fotografia iniciada nesse período, Mendes destaca Boris Kossoy, Gilberto Ferrez, Pedro Vasquez, Joaquim Paiva, e ins tuições de pesquisa, difusão e preservação que ainda existem ou não - Museus de Imagem e Som, o Núcleo de Fotografia e o INFoto (Ins tuto Nacional de Fotografia) criados pela Funarte, e o Centro de Conservação e Preservação Fotográfica. Em sua avaliação, os anos 80 “foram de duro aprendizado prá co. E, talvez, para os par cipantes da primeira fase do projeto 'fotografia brasileira', um pouco amargos. Mas tudo indica que esse projeto informal foi assumido organicamente pela geração seguinte. A década de 1990 poderia ser iden ficada, apropriadamente, como o período da primeira den ção" (MENDES op cit: 20). Nessa mesma década, o estudioso iden fica movimentos encabeçados pelos próprios fotógrafos e pesquisadores como a criação do Núcleo de Amigos da Fotografia (Nafoto) que criou o Mês Internacional da Fotografia de São Paulo. A isso une-se a inicia va, cita ele, do MASP - Museu de Arte de São Paulo, que conjuntamente com a mul nacional Pirelli, cria em 1991 a Coleção MASP/Pirelli - fonte da pesquisadora -, que todo ano adquire obras de fotógrafos brasileiros no intuito de estabelecer um ponto de referência da fotografia nacional. Com esse histórico da pesquisa sobre a fotografia brasileira, Mendes destaca a própria coleção do acervo do MAM-SP, cuja exposição mo vou o ar go citado aqui. Ao mesmo tempo, essa exposição cons tuiu uma importante oportunidade para que pudéssemos ver em perspec va a história da fotografia e o meio em que se inserem os fotógrafos estudados. O que podemos destacar, além das ins tuições mencionadas por ele, é a importância das novas tecnologias, como a Internet (estabelecida no país na mesma década de 1990), na difusão e troca de conhecimentos acerca da fotografia, visto que em muito auxiliou essa inves gação.
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