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ARTES Jornal de
Ano 18 | N° 01 | ABRIL 2017
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Porto Alegre # 1 | Ano 17 | Abril - 2017
Neste ano de 2017, em comemoração aos 100 anos da instalação "Fonte” de Marcel Duchamp, o ar sta Almandrade analisa a obra e suas consequências para a arte contemporânea
Jornal de
ARTES | Abril # 17 | 2
JORNAL DE
ARTES Artes Plásticas | Artes Cênicas | Cinema | Musica | Literatua
Jornal de Artes é uma publicação da MURUCI Editor Editor | João Clauveci B. Muruci Design Gráfico/Capa/Diagramação | Mauricio Muruci Site|www.murucieditor.com.br CNPJ | 107.715.59-0001/79 - Fone | 51 3276 - 5278 | 51 99874 - 6249
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» Almandrade
Oratorio de Van Gogh
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Marjorie Agosin do Chile
Me lahmo Vicent. Vivo em a inesperada Tierra de las sobras.
Cuando la aipillers hila Lo que no pouede cantar. La errase hace madrasta Cuando quieren que la história Sólo se la parte más inu l De la mitologia. –
Una silueta de viento Me arroja sobre uma textura De cipreses Me consideran um semejante Entre “los comedores de batatas”: Debute de sus cuerpos.
Para informes ocultos de sep embre
Aquellas aman aquella mesa - atenuante del desamparo -.
Por
Ella y yo, habituados A la erra de la ausencia.
É mpedrada ladera. An guo si o de dolor Sus hombre. Laboratorio em las pidras. Cada gota caida, Prodomando callecuelas Entre bordado Festones De silencio.
Dejo no rastro En el portal. Apropiate de él, Como especie de viajero Singlaria. Tansistoria fe chera, Me llama Vicent. Pertenesco a todos los conjuros de lo aislado.
Tal vez al buen aire Se llame San ago. Y tal vez em nuble Aguien cante Como em uma noche de lonquén.
Me consideran um abrigo del olvido.-
La erra se hace madrastra Por
Daniel Cejas
do Chile
Primeiro Verso Gabriela
CAPA: "Fonte” instalação de Marcel Duchamp, completa 100 anos de sua primeira exposição. É considerada uma das obras mais representa vas do dadaísmo na França.
Norma Martin do Chile
Mistral
“La erra se hace madrasta” Si se llevan a la madre. Al rstro alado sin nubes A la ira de algodones Al racismo del azar. Al nusgo em foza común. A la véspera del hombre. La sangre del tes monio. Los diez años bajo erra Donde no encouenra tu cuerpo. Las nieaves enbalsamadas Com tus cartas em la boca, Y aquella pupila oral - ornamento em la ventana-,
do Chile
Estanterías com dos fotografias. Apenas la detecto, regreso Por el mismo camino: I para no verlos!
Jornal de
ARTES | Abril # 17 | 3
DUCHAMP e a arte contemporânea Por
Em 1917, com o pseudônimo de R. Mu , Marcel Duchamp enviou para o Salão da Associação de Ar stas Independentes um urinol de louça, u lizado em sanitários masculinos, com um tulo suges vo de “Fonte”. Não era o primeiro readymade (apropriação e deslocamento de objetos pré-fabricados para o meio de arte), em 1913, Duchamp já havia se u lizado de um banco de cozinha onde parafusou no assento uma roda de bicicleta. Mas foi o primeiro enviado para uma exposição. Noventa anos depois, deste gesto irreverente que determinou pra camente o des no das artes plás cas até os dias de hoje, é um momento oportuno para interrogarmos que relação existe entre Duchamp e o que estamos presenciando com designação de arte contemporânea. Aclamado como influência libertadora por uns, blasfemado por outros, como influência facilitadora e catastrófica. Talvez seja muito citado e pouco entendido. Certamente, Duchamp e diversas manifestações realizadas em nome da arte, não se combinam. Mas do que um provocador, Duchamp era um pensador discreto. No contexto da arte moderna a invenção do readymade, é um dos gestos mais significa vos. O impressionismo foi a primeira revolução na arte ao romper com a linha que contornava a figura, o cubismo realizou o rompimento defini vo com o espaço renascen sta, a decomposição da figura colocou em evidência o plano, como a verdade do espaço plás co moderno. O gesto de Duchamp foi mais além, uma ruptura com uma tradição que reconhecia na técnica e na habilidade do ar sta, a condição da obra de arte. O ar sta deixou de ser o sujeito que faz uma obra e passou a ser alguém que escolhe e decide o que é arte. O readymade é um objeto produzido industrialmente e proposto por um ar sta como objeto de arte. O ar sta não constrói o objeto, escolhe-o e assina. Não mais dependendo da mão do ar sta, a arte passou a ser qualquer coisa determinada pelo poder exercido por um sujeito/ar sta, que age no interior de uma ins tuição específica
Almandrade de Salvador/BA | [ Arquiteto e Artista Plástico]
capaz de legi mar seus atos. Renunciou ao saber das mãos para se cons tuir em uma a tude crí ca, num mundo dominado pelas imagens produzidas pelos modernos meios de produção e reprodução. Fazer arte passou a ser uma forma de reflexão sobre a condição da arte na sociedade moderna, um disposi vo do pensamento e não do entretenimento como ocorre em manifestações ar s cas, na situação da contemporaneidade. O readymade pode ser uma espécie de paradigma da arte contemporânea, mas ao mesmo tempo é a negação do jogo de facilidades, da pressa e da repe ção que contaminaram a arte, distanciando-a do pensamento. Duchamp nha consciência do perigo de cair na facilidade, no vício e na ro na e se limitou a fazer poucos objetos de arte. Logo percebeu o risco de repe r esta forma de expressão indiscriminadamente e construiu uma obra pequena e cuidadosa. Estamos atravessando uma época pobre em matéria de artes visuais, apesar do fluxo descontrolado que circula nos salões, bienais e nos centro culturais, celebrado por curadores e inves dores. Vem acontecendo uma supervalorização de determinadas experiências ar s cas para atender interesses externos à natureza da arte. O ar sta que sempre produziu contemplando as obras do passado, hoje, ele olha para o que ainda não aconteceu: o futuro e se preocupa, muitas vezes, com questões alheias a própria arte. A cada nova tecnologia, um palpite, uma previsão, mas a arte não é uma ilustração de performance tecnológica, polí ca ou ideológica, ela é um sistema autônomo e integrado no corpo da sociedade. O gesto de Duchamp queria dar uma resposta à crise das artes artesanais na sociedade industrial e indagar o funcionamento da ins tuição arte, embora, ele nunca abandonou de fato, o trabalho artesanal, vejam o grande vidro. Foi um ponto de vista crí co frente à arte e suas ins tuições. A arte é também um jogo de poderes que as operações técnicas não explicam. De perto, readymade e o modelo mais difundido de arte contemporânea, não se misturam.
Jornal de
ARTES | Abril # 17 | 4
Semeando Versos ao Vento Em seu livro de estréia, João Alberto Pereira traduz um canto elaborado em imagens subje vas do co diano urbano e rural
Por
Título: Semeando Versos ao Vento Autor: João Alberto Pereira Gênero: Poesia Volume: 116 páginas Editora: Muruci Editor Publicação: 2017 Mais informações em:
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A poesia é um artefato ilusório que pode ser dispensado por aqueles que vendem pneus usados ou novos. Mas é indispensável as pessoas que queiram em um certo momento do dia, do ano e da vida, serem contatados com o etéreo prazer do nada. Ela brota em terreno fér l , e se espalha para as mãos dos que precisam de versos, sem ao menos se perguntarem pra que servem, todas aquelas men ras,.“Os poetas mentem demais” (Nietzsche). Porque men ras ditas pelos poetas servem para livrar de pesadelos, do automa smo que nega a vida que todos sonham. Viver de ar. Há poetas que consegue a ngir esse público, ao falar do co diano, do mundano, e pela esfumaçada visão divina. Seria essa, então, a função do poeta? Embriagar almas desavisadas que os lêem. Quem podera dizer com precisão qualquer resposta que seja. “ Estrada vazia e só./Quando venta sente frio/ E se esconde atrás do pó.” João Alberto fala do efêmero, cujo teor é impercep vel, tentando sobreviver o dia -a -dia de cada homem comum, onde tudo seduz, apesar de toda crueza e gosto salgado do vento que sopra.
Clauveci Muruci de Porto Alegre/RS | [Editor e Artista Plástico]
“ A fome, a miséria,/O ódio, o vício/o malvado o cio”. A poesia é perigosa e o poeta é provocador quando em sua esté ca interioriza sen mentos do olhar realista. Não é fácil ser poeta sem ser incomodo. Quando o homem se veste de poeta, percebe movimentos que somente ele enxerga. «movida pelo vento/vai a folha amarelada/Um dia foi ca va/Hoje voa abandonada». É ele, o poeta, que sente a cor do sol daquela manhã, será ele, que vai colorir essa manhã, com a intensidade de luz necessária o tamanho da dor que quiser transmi r. «Como se depreendeu a folha,/Como relâmpago, ou raio,/vai embora e não vem.» João Alberto é poeta que caminha seu próprio trajeto, e , segue atento com o olhos de quem não sabe disfarçar o gesto alegre ou triste. Pouco importa. É como que nos quisesse, com estrema gen leza emprestar seus olhos, ou sua forma de ver o co diano. O poeta nos faz sen r o que ele mesmo sente. Doa a quem ver coragem de percorrer com ele a mesma trilha.
CHAMUM
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Encadernações Clássicas
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ARTES | Abril # 17 | 5
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O PANO
Em uma série de análises publicada em duas partes pelo Jornal de Artes, Marcela Villavella e Teniza Spinelli escrevem sobre o livro «e se alguém o pano», de Eliane Marques [editado pela Escola de Poesia], vencedor do Prêmio Açorianos de Literatura 2016 [categoria poema]
DUAS POETAS DESCORTINAM «SE SE ALGUÉM O PANO» DECIFRA-ME OU TE DEVORO Por
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Teniza Spinelli de Porto Alegre/RS | [Poeta, escritora, jornalista, integrante da Academia Feminina Literária do RS] A leitura do livro e se alguém o pano, de Eliane Marques, causou-me profundo impacto. Estava diante de uma história de autoria feminina ímpar, cujo gênero, se poesia ou prosa poé ca, pouco importava, senão o forte e denso conteúdo linguís co e emocional no qual adentramos, não de forma convencional, mas pela percepção e entendimento de que algo acontece na escrita. A sensação é de que estamos em um labirinto onde a saída nos é obscura, quase intransponível de início. Mas os ritmos e as palavras, com suas qualidades, aparecem e se impõem com novas conotações de peso, cor, som, esse lembrando de imediato os tambores africanos em agonia ou êxtase. Resta-nos perguntar: E se caísse o pano? Se o algodão limpasse a casa. Enxugasse a nódoa. Dissipasse a infâmia? De fato, nada se apaga no tempo, tudo deixa seu rastro. Não se apaga o passado ignóbil com um sopro. A história permanece incrustada na pele do vencido, cujos testemunhos materiais são em sua maioria intangíveis. Tudo permanece vivo e pulsante. Não se processa a culpa. Não se revisam os ritos. Não se amplia a consciência. Não basta o grito, a indignação, a raiva, a purgação dos aflitos. As sombras e os fantasmas do racismo são reais. Caminham pelas ruas entre nós. Estão em toda parte, à espreita. Mas Eliane Marques, mais do que um libelo, faz literatura. Arranca da solidão a palavra ancestral, a voz da mulher negra das sombras, transfigura-a, com inteligência, transforma a punhalada em frase iluminada pela verdade. Inques onável para quem quer enxergar. Ela abre o livro citando cinco mulheres de seu imaginário afe vo. Talvez saídas da dinas a das lavadeiras, das cozinheiras, das planchadeiras, de tantos an gos o cios. Perpassa por nomes de lugares e homens, vindos das terras africanas de além-mar, fixada em alguns vocábulos de origem. É suges va a citação do poema de Walt Whitmam “Ó Capitão! Meu Capitão”, em honra a Abraham Lincoln, (pág.35) que reverbera em seguida na frase “oh escape Kapo oberkapo captain oh my captain /capitão do mato” Na versão do feminino, as mulheres da poesia de Eliane Marques têm a al vez e a irreverência que se vê na pág.
Confira as duas análises completas em: www.murucie
49: “Foi simbora abandonou a casa/por certo todas as coisas encardidas/permanece inocência/com a medalha da virgem às saias/acoutada/e as duas mãos na cintura”. Mas a palavra chave desses personagens poé cos do tempo da memória e da história nos é revelado “Pelo nome de Jus na que talvez ainda atenda” (pág. 27, em fundo escuro), cuja palavra inicial J lembra jus ça, ou melhor, uma heroína jus ceira, porta-voz do enredo trágico desses versos. Veja-se a pág. 59: “(em terra de pretos) não existe chão para tantos mortos”. A frase parece saída de um corifeu do teatro grego. Para melhor cantar e contar o des no de Jus na e de seus ancestrais, a autora evoca os anúncios de jornais de compra e venda de escravos. Vejam-se os versos antológicos da pág. 19: “ Manda assim a quem aprendê-la que faça sua entrega./ A promessa é da lei para quem a acoutar./ A promessa é da boa paga para quem a devolver.” Assim como abre a epopeia citando mulheres protagonistas, a quem dá nomes, a autora finaliza o livro (pág. 99), com escrita ficcional de denúncia à amnésia, à omissão história (polí ca, administra va, judicial) que apagou dos arquivos os nomes e as linhagens, toda a genealogia do povo negro. Aqui Eliane Marques equilibra-se num tênue fio entre a prosa e a poesia. Ela que vem da área jurídica, num fluxo de consciência, evoca e redige num aparente caos, uma escritura pública de compra e venda em cartório, entre outorgantes e outorgados compradores, reconhecida por tabelião de passado incerto. Num tempo paralelo, de quebra, e não por acaso, insere o ano de 1974, e a ação na cidade de Livramento. Para fechar o livro, a autora faz uma alusão profundamente simbólica à questão da iden dade, sua e de todos os seus personagens. “Assim me pediram e eu lavrei a presente escritura.” Assim Eliane Marques finaliza o livro e cumpre o rito. Concluindo, “há muito pano para manga” nesta obra. Não é sem propósito que a autora omite o verbo do seu tulo, embora toda a ação esteja implícita “por debaixo dos panos”. E se esse alguém, o leitor, rasse o pano, desvelasse os fatos? Então: Que se arejem os panos, que se abram as portas, pois a palavra da poeta pede passagem.
Jornal de
ARTES | Abril # 17 | 6
“E os três, finalmente, foram em direção a uma das portas laterais do teatro: Chiquita e Ramalho na frente Neco Borba dois passos atrás, de cabeça baixa, olhos no chão, todo curvado, como que vergando ao peso de uma grande ignomínia, sob o arbitrário olhar de censura e de repulsa da sociedade, a quem ele não podia a rar como cartel de desafio todo seu amor, todo seu desvairado criminoso amor.”
FOTOGRAFIA
AUTORAL I “Então, moravam eles à rua Riachuelo, no rés-do-chão de um velho prédio de sobradinho ao centro. Uma varanda de gradil de ferro enfeitava o fron spício do andar superior, varanda toda florida de plantas de ornamentação e de trepadeiras virentes. [...] Os sagrados ritos, consecu vamente se consumava o sacri cio ao perene, ao inacessível, ao eterno amor.”
Estrychnina por Mário To a, Paulino Azurenha e Souza Lobo
“Ao passar o veículo em frente à igreja das dores, o Neco reverentemente rou o chapéu, e, ao depois, cobrindo-se do novo, disse, voltado para Chiquita: - Logo mais, se Deus quiser e não mandar o contrário, vamos ver se há ou não há outro mundo. É bom irmos nos preparando para o espetáculo, que deve ser grandioso e único.”
APOIO |
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Rua Santa Rita, 277 • Floresta • Porto Alegre • RS • (51) 3237-7855
E na alma de ambos corria espessa e profunda, sem lua, e sem estrela, a noite soturna da melancolia sinistra, vagamente clareada ao longe pela aurora do suicídio, pela alvorada branca da morte, que vinha surgindo... surgindo.”
Jornal de
FOTOGRAFIA
AUTORAL II
Por Márcio
ARTES | Abril # 17 | 7
Ferraz
«Portugal, um lugar para se viver para sempre. Uma metrópole ainda movida por trilhos na super cie e também no subterrâneo, com todo o seu charme das construções an gas, as grandes igrejas e monumentos. Em viagem de trabalho no ano de 2015, vemos a oportunidade de conhecer este paraíso chamado Lisboa. Um lugar tranquilo totalmente em contraponto ao nosso co diano. Eles nos colonizaram, porém a essência da qualidade de vida certamente, ainda está la no "além mar". Assim que os bom ventos permi rem, estaremos lá novamente para conhecer mais um pouco do paraíso Lusitano.»
Márcio Ferraz Av Benjamin Constant 1630 • São João • Porto Alegre • RS • www.estudioliberta.com.br • 51 96627503 • criar@estudioliberta.com.br
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Fotografia Rua 24 de Outubro, 1746 Porto Alegre | RS 51-3024-4720 | 51-9-9824-5184 www.marcioferraz.com.br
Jornal de
ARTES | Abril # 17 | 8
Título: Chile em Sangue Autor: Euclides Moraes Gomes Gênero: Biografia | História Volume: 55 páginas Editora: Muruci Editor Publicação: 2017 Mais informações em:
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O Golpe de Estado ocorrido no Chile, em 11 de setembro de 1973, é recente, sobre o ponto de vista histórico. Os relatos sobre essa tragédia constantemente surgem na literatura, e quando se acredita não ter mais nada a ser revelado, eis que surgem mais um acontecimento literário. “Chile em Sangue”, obra biográfica de Euclides Morais Gomes, nascido Alegrete no Rio Grande do Sul, que foi envolvido nos acontecimentos revolucionários que abrangeram o Brasil, e Uruguai e Chile nos anos 60 e 70 no século vinte. Gastou a juventude na luta constante por um projeto libertário. Viveu em conseqüência uma saga de perseguições e inquietações. Mas foi no Chile que seu des no revolucionário chegou ao máximo de envolvimento, ao exercer junto a Embaixada do Brasil, em San ago, a função de agente duplo, e membro do Movimento de Izquierda Revolucionária – MIR , passando a essa organização as informações vindas do Brasil, via embaixada, para fomentar o Golpe contra Salvador Allende. “Chile em Sangue”, traz uma narra va poé ca, mas surpreende por revelações inusitadas. “Pouco se enxergava naquele início de manhã. O lusco-fusco entre a noite e o dia, não permi a qualquer adivinhação do caminho pedregoso da entrada do Porto dos Aguateiros. A trilha, apesar de ser conhecida por todos nós andantes, era íngreme, escorregadia e exigia cuidados extremos. A poucos metros, o rio nos esperava, e submerso nele, um pequeno barco amarelo, com o nome Brasil III, pintado em verde na lateral esquerda, próximo à proa.” Era o início da trajetória daquele jovem, que mais tarde iria cruzar as fronteiras do desconhecido, para viver e par cipar das lutas impostas pela guerra fria pós guerra. “Chile em Chamas”, revela muito mais que a par cipação de um jovem revolucionário brasileiro, é o testemunho dos «Anos de Chumbo», época denominada, em que jovens foram torturados e mortos, por perseguirem um projeto de vida e luta. O texto revela as andanças e conflitos de uma geração que se comprometeu ideologicamente por toda a América La na. “Foi nesse período que conheci Takao
Amano, revolucionário de origem nipônica, com ele aprimorei minhas teorias marxistas, e ações de combates. Foi uma figura humana de grande valor naquele momento. Revolucionário de grande firmeza, nutria amor e respeito pelo povo brasileiro, convicto de estar no caminho certo, nunca tubeou em relação aos caminhos da luta armada.” Euclides Morais Gomes, conheceu grandes figuras da luta revolucionária nos anos 70, e com eles par cipou do processo de resistência no Brasil. Mas o rumo da luta armada no Brasil, ficou inviável, com a ação da CIA junto as forças de repressão, forçando aos poucos, os revolucionários a deixar o país. O Chile foi o caminho de muito militantes brasileiros. Euclides Gomes, chegou aquele país andino e se deparou com mais um processo revolucionário. “Encontrei no Chile o espírito revolucionário a cada palavra trocada com as pessoas nas ruas, nos cafés, nos ônibus em todo o lugar. No comando do país, Salvador Allende, eleito em 1970, pelo Par do Socialista, fazendo parte da coalizão da Unidade Popular –UP.» O cenário era adequado a um jovem revolucionário. E foi nesse ambiente que ele consegue desempenhar o mais importante papel em sua vida em se aliar a revolução chilena. Nesse período, vai par cipar de um dos mais importantes movimentos revolucionários da América La na. Assis u todos os episódios significa vos no processo Chile pré golpe, e com par cipação efe va nos acontecimentos que culminaram com o final da Via Socialista sonhada por Allende. E sendo assim, não fica imune as conseqüência impostas pelo momento histórico, foi forçado a se refugiar num campo de refugiado das Nações Unidas, e após longo período, consegue asilo polí co em Portugal, onde mais uma vez foi perseguido pelos agentes da repressão brasileira, finalmente consegue asilo na França, onde vive até hoje. As memórias desse brasileiro, registrada em “Chile em Sangue” servirá aos pesquisadores que desejarem escrever a história dos anos de chumbo, período conhecido como o mais sangrento de nossa história recente.
Agora a Gaudí emoldura suas telas, a preços de fábrica, temos vários modelos na loja
Telas sob medidas | ntas importadas e nacionais | molduras papel para desenho | material para xilogravura | goivas profissinais | rodos | papel algodão
Rua Cabral, 291| Bairro Rio Branco | Porto Alegre | RS 51 3333 3294 | www.telasgaudi.blogspot.com
Jornal de
ARTES | Abril # 17 | 10
Wilson Santanense, autor de «Vou Dançá com a Lua», sob o viaduto da Borges em Porto Alegre, é diretor da AGEI, Associação dos Escritores Independentes do Rio Grande do Sul
MERCADO EDITORIAL Análise sobre os novos lançamentos literários nas áreas de poesia, biografia, ficção, contos, crônicas e HQs
A poesia de Vilson Santanense, poeta de versos livres e canto român co, expressa seus sen mentos voltados para o mundo interior. Assim ele desabafa em confissões que revelam amores impossíveis de um sonhador. O poeta também se faz crí co e retórico, sem deixar de ser sen mental, e as vezes elabora um poema sensual e revela a paixão por alguma mulher, que não corresponda o amor do poeta. Essa poesia com linguagem popular e caráter in mista se expressa na nova imagem do poeta urbano. Ele idealiza suas agruras, dentro de um es lo formal convencional. A temá ca, quase sempre versa sobre amores findos, ou não correspondidos. É a versão do homem que preza amores platônicos, e faz deles, sua voz e expressão. Em «Vem Dançá com a Lua», lançado na 62 ª Feira do Livro em Porto alegre,
Título: Vou Dançar com a Lua Autor: Vilson Santanense Gênero: Poesia Volume: 76 páginas Editora: Independente Publicação: 2017 Mais informações em: www.murucieditor.com.br/semeando-versos-ao-vento
Jornal de
ARTES | Abril # 17 | 12
«Garota Comendo Pássaro - O prazer» 1927, tela de René Magri e
ÓDIO E CONSUMISMO no sistema capitalista Por
Anelore Schumann de Porto Selgre/RS | [ Psicanalista na Après Coup Sociedade Psicanalítica ]
Constatamos no nosso dia-a-dia o aumento do chamado “discurso de ódio”, ou seja, expressões que incitam, promovem e jus ficam ódio racial, xenofobia ou qualquer outra forma de intolerância. Em março de 2016, a ONU divulgou uma nota sobre o aumento alarmante de casos de intolerância no mundo, manifestações racistas e violências causadas pelo ódio O ódio, na pós-modernidade, não se manifesta de forma inédita, é antes a facilidade com a qual pode se desencadear que lhe é específica, como se as barreiras que a cultura construiu, desde os primórdios da civilização, contra o gozo do ódio e sua sa sfação, vessem sido destruídas. A História Universal está repleta de relatos sobre matança de povos e revela que o ódio não está restrito a uma época específica. No texto “Nossa a tude perante a morte”, Freud diz que a ênfase da proibição “Não matarás” indica que somos descendentes de uma interminável série de gerações de assassinos. A inves gação psicanalí ca revela.que no pensamento inconsciente eliminamos todos aqueles que estorvam o nosso caminho, que nos ofendem e nos prejudicam, inclusive por ninharias. Pois, cada ofensa ao nosso todo poderoso e soberano eu é, no fundo, um crime de lesa-majestade e não aceita outro cas go senão a morte. Nas an pa as e aversões indisfarçadas que sen mos por estranhos podemos iden ficar a expressão do amor a nós mesmos, do narcisismo. O ódio provém do repúdio primordial do eu narcísico para com o mundo externo, sendo uma expressão da reação de desprazer promovida pelos outros. Além disso, o ódio irá se manifestar de modo a cons tuir a oposição mesclada ao amor. Se a relação com o ser amado for rompida, frequentemente, o ódio surgirá em seu lugar de modo que temos a impressão de uma transformação do amor em ódio. As relações amorosas caracterizam-se por conterem uma mescla com o ódio, sendo que cada encontro não realizado, cada inves mento não correspondido, cada demanda não sa sfeita desponta o mais primi vo ódio. Se o amor aspira ao ser do outro, o ódio quer o contrário, o seu rebaixamento, sua desorientação, seu desvio, seu delírio, sua negação detalhada, a sua subversão. É nisso que o ódio, como o amor, é uma carreira sem limite. Diferente das paixões, os laços sociais são tecidos e estruturados pela linguagem. No sistema capitalista, verificamos que o mercado oferece ao sujeito uma série de objetos para sua sa sfação que cumprem a função de tamponar sua falta. Zygmunt Bauman, no livro “Vida para o consumo: A transformação das pessoas em mercadoria”, diz que nos encontramos atualmente em plena “revolução consumista”. Passamos de uma sociedade de produtores para uma sociedade de consumidores, cujo valor supremo se encontra na perspec va de ter uma “vida feliz”. Essa busca da felicidade se caracteriza, muitas vezes, por uma demanda de felicidade instantânea e con nua, marcada pela urgência do “aqui e agora”.
Jean-Pierre Lebrun, psicanalista belga, disse numa entrevista para Fronteiras do Pensamento que “o homem contemporâneo não sabe o que é desejar, só sabe o que é consumir.” O aumento da oferta de produtos na atualidade é fruto da exaltação do prazer a qualquer custo, em consonância com a lógica da sociedade de consumo que incen va a aquisição e o descarte de bens. Inúmeros são os objetos elevados à condição de portadores da solução contra qualquer po de sofrimento. Porém, esse modo de consumo desenfreado fracassa em sua função de garan r a felicidade. Isso porque os objetos escolhidos para tamponar a falta não sustentam essa função e o sofrimento retorna. Jacques Lacan trabalha o conceito de discurso para dizer que ele deve ser considerado “como liame social, fundado sobre a linguagem”, ou seja, um laço que liga os seres falantes. Porém, nos alerta que em tudo que diz respeito à relação entre os seres humanos, que se caracteriza como cole vidade, há algo que sempre escapa, pois a própria linguagem aponta para algo que resta de não-ar culável na cadeia significante. Uma das caracterís cas do discurso do analista é ser o avesso do discurso do mestre, base do discurso capitalista. Ao oferecer sua escuta do sofrimento do paciente, supõe que o material que ele traz pela fala contém um saber. Desse modo, no decorrer do tratamento, o analista não se coloca na posição daquele que sabe previamente. Ao contrário do discurso capitalista que rejeita a falta seguindo o modelo da perversão, o discurso do analista se sustenta na impossibilidade e reinstaura a verdade do sujeito. Para a psicanálise o sujeito par cipa na criação e na manutenção do próprio sofrimento, sendo assim, propõe que o analisante possa construir um saber sobre o que lhe causa. Para tal, é preciso que se produza uma mudança de posição subje va que traga para o centro do tratamento o sintoma, como algo a par r do qual um saber advém. Esse modo diferente de tratar o sintoma marca uma das especificidades da psicanálise na abordagem do mal-estar, pois vai na contramão do apagamento da divisão subje va e da negação da mortalidade. A proposta da psicanálise tem como condição a abertura do sujeito à responsabilidade por seu sofrimento e possibilita ao analisante efetuar uma transformação, de uma demanda de alívio para uma demanda de saber. Trabalha a par r de uma lógica diversa à do tamponamento ou do apaziguamento da dor de exis r. O analista lida com o sofrimento de maneira dis nta, pois, no lugar dos objetos de consumo ou de promessas milagrosas de autocontrole e felicidade, um psicanalista interpreta o desejo inconsciente de modo que a falta se evidencie, fazendo emergir o sujeito dividido, sujeito do inconsciente. A par r desse momento o analisante poderá ques onar seu sintoma, deixando-se intrigar pelo seu sofrimento. No lugar de reclamar e posicionar-se como ví ma, o sujeito passa a se ques onar sobre o seu desejo.