Julho | 2016

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JORNAL DE

Ano 17 | N° 02 | FEV. 2016

Artes Plás cas | Cinema | Música | Literatura

R$ 3,00

Porto Alegre | Julho | 2016 | www.murucieditor.com.br 0 235890 9

19

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Francisco Brennand DANÇA Com a Alma no Gesso Santander Cultural Celebra 15 anos com a mostra «Francisco Brennand - Senhor da Várzea, da Argila e do Fogo»

Bailarina e coreógrafa espanhola Maria Elvira fala como se dança com a alma no gesto


Poesia em Prosa

JORNAL DE

A Primeira Borboleta

ARTES Artes Plásticas | Artes Cênicas | Cinema | Musica | Literatua

Por

Djine Klein - Porto Alegre/Viamão - RS

Jornal de Artes é uma publicação da MURUCI Editor Editor | João Clauveci B. Muruci Editora de Literatura | Djine Klein (djineklein@gmail.com) Design Gráfico/Capa/Diagramação | Mauricio Muruci Email | jornaldeartes@yahoo.com.br Edição Virtual | www.issuu.com/jornaldeartes Facebook |www.facebook.com/jornaldeartes Tumblr |www.murucieditor.tumblr.com CNPJ | 107.715.59-0001/79 - Fone | 51 3276 - 5278 | 51 9874 - 6249

Sibilava entre um silêncio de pedra e uma errância de asas. Mas não era ave ou árvore. Um inédito e suave farfalhar para seus ouvidos puros, Alceu. Um menino de uns cinco anos, o filho tardio de Maria-Alva. Mulher que viveu anos a não ter conta singrando um rio, e que o tempo nunca informava seus mo vos, apenas deslizava desapartando um sujeito de sua própria viagem. E Maria da casa materna desmemoria-se, não mais sabendo rumo de voltar, ali em canto silêncio do mundo a criar raízes... Aconteceu que naquele mesmo e olvidado porto, foi quando Abdias teve esperanças, subitamente seus olhos depararam uma mulher. Ali em paisagem de arder sol e, ela o semblante na palidez tão própria dos insones. Mas era uma fêmea a que tropeçou aquele seu olhar, Abdias! E que lhe sorria mida, mas logo enalteceu-se de ser vista. Então essas capturas em pupilas de mil noites e sonhos de amar... Ele jogara-a num transe quase dor, um violador desandou a lhe percorrer toda e inteira, até a cabeleira seus dedos trêmulos e a fome. Depois, e que ali mesmo principiou para a mulher um tempo que não se contam os dias, nos dedos ou relógio de sol. Quanto ao homem, ele apenas lhe sorria ao nomeá-la: “Alva”! E Maria desde então, na memória do pescador ficou sendo, entres as tantas marias, Maria-Alva. De repente um estampido, e águas de todo um mar como se desandasse dela, a mulher trôpega se apoiando em uns trastes, gemia ainda mais quando alcançou o espelho, e ver-se redonda bela. Foi apenas um grito e chamar o pescador, mas ele tão longe já em outra viagem... Maria-Alva, acontecia de seu corpo ser como uma rosa, num amanhecer abrindo-se em pétalas. E sem ainda ter todas as no cias de ser o pai de seu menino um desertor... Agora é essa a visão que nos brinda, mãe que do espelho dos seus olhos, a ternura. É o menino Alceu em transe de beleza, ou espanto! Acabara de visar sua primeira borboleta. Quanto ao pai quem pode dar no cias, ô Mar! Grande mesmo e ainda maior é o mistério das distâncias, quando um homem se separa do amor. Ou seria a tua viagem por barquinho, ô pescador! Entrementes zelar por todos esses mistérios e mais os segredos da vida, a mulher em seu ventre...

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Conto

No Lume dos teus Olhos Por

Caxias do Sul | Brasil » Jaque Paule

| Escritório de Arte e

Cria vidade » Rua Inocente de Carli, 963 | B. Cinquentenário, Caxias do Sul | RS

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Rua Vinte de Setembro, 1546 - B. Nossa Sra. de Lourdes, Caxias do Sul | RS

Capa: Diana Caçadora Escultura de Francisco Brennard. Cerâmica Vetrificada, 1980. Exposta no Santander Cultural

Gerson Dias de Oliveira - Viamão - RS

Na luz difusa do quarto era possível ver o armário com uma das portas abertas e a luz de cabeceira projetava na parede a sombra de um Buda, que parecia ainda mais gordo com as roupas sobre a cadeira, parecendo abriga-lo. Da rua distante, ruídos de carros, sirenes e do corredor vozes que chegavam parecendo sussurros indecifráveis, lembrando as vozes de seus pais, durante a noite, em um passado distante. Ao alongar o corpo sen u o lençol quase frio, em um ponto qualquer da cama, mas não quis regular o ar condicionado, optou por cobrir-se com a colcha leve, que estava ao lado, enquanto se encolhia procurando aquecer-se. Os pensamentos, apesar da tranquilidade do ambiente, chegavam emergindo do passado com uma força quase bruta, resgatando lembranças e detalhes, que agora pareciam estar muito próximos. Entre todas as recordações, talvez a mais forte, era a primeira vez que a vira. Ambos, crianças a brincar na praça do bairro e notara a tatuagem temporária feita com estampas de chicletes em seu braço. Daquela data distante lembrava haver comentado o colorido do desenho, e no balanço cada vez mais alto, não verem o tempo passar, enquanto o vento sobre o rosto... Entre o passado e o presente haviam percorrido diferentes caminhos, sem que houvesse no cia de um ou de outro, mas foi em uma reunião de aniversário da an ga escola que se reencontraram. Ela o viu primeiro e quando chamou seu nome, foi como se não houvesse as décadas de separação, apesar do menino de ontem estar com cabelos brancos, mas ela também não possuía mais tranças. Assim recomeçaram uma história, que não sabiam, mas não havia sido encerrada, apenas interrompida... Algo de mágico desde então acontecia no seguir dos encontros. Quando faziam amor o ritmo de seus corpos traziam-lhe sempre a lembrança do balançar na praça e o toque em seus cabelos, era como se fosse o vento, a desmanchar suas tranças...


Dança com a Foto: Tribom Produtora

Alma no Gesto Maria Elvira Noguera, nascida em Zaragoza de mãe andaluza e pai madrilenho, bailarina, professora e coreógrafa na va de dança espanhola é formada até o quarto curso de APDE, começou sua trajetória na dança clássica espanhola na Escuela de Danza Gambini e no Centro Horno em Madri. Recebeu aulas de reconhecidos professores e ar stas espanholes como Pedro Azorin e Merche Esmeralda. Atuou por vários anos no espetáculo da Companhia de Dança Gambini no Teatro Madrid e no FITUR. Na sua chegada no Brasil, trabalhou na Casa Cultural Tony Petzhold, par cipou da mostra do final do ano de Novo Hamburgo da Associção Prodança como convidada com a peça Lucero, de sua autoria. Foi convidada como palestrante sobre cultura e folclore espanhol na Escola Pasqualini (Novo Hamburgo), e desenvolveu oficinas de dança em diferentes eventos de Porto Alegre. Mora atualmente na cidade de Pelotas, onde mantém uma escola de dança do Flamenco, par cipa das aulas de Dança Contemporânea e Sapateado Americano do projeto Coreolab da UFPEL. Tem em seu currículo a autoria de “Gitana”, obra para teatro dança e canto; é autora de “Lucero” entre linguagens do Flamenco e Dança Espanhola; escreveu “El Loco”, dança grupal que reune mulheres do Flamenco. Em entrevista ao Jornal de Artes, Maria Elvira aborda o estudo da dança espanhola e as caracteris cas do aprendizado dessa arte no Brasil. JORNAL DE ARTES - O que significa dançar com a alma no gesto e dançar somente com perfeição técnica? MARIA ELVIRA - Dançar com alma no gesto é se sen r livre para expressar, e conseguir levar para o corpo e para o rosto, as nossas emoções naturalmente. A técnica e o aprimoramento é necessária mas, é só um complemento na hora de interpretar. Na minha formação a técnica era aprendida por copia e repe ção, e entendi que tudo mundo com perseverança pode ser um excelente bailarino. Mas sempre esqueceram de es mular o processo cria vo, o obje vo era sair no palco, não errar e sorrir. Existem es mulos na dança como a música, a fluidez do movimento, o contato com o espaço e o chão, com os colegas ou as referencias culturais que constroem o momento da criação, para mim isso é ser ar sta. JORNAL DE ARTES - A “espontaneidade” significa conhecer as raízes, libertar o medo, sen r o ritmo para libertar o ar sta con do em cada um? MARIA ELVIRA - Em qualquer profissão é importante estar informado sobre a a vidade que se exerce. Na dança, quando se trata de manifestações de raiz popular, se deve procurar as referencias por qualquer meio e contrastar, pois as vezes variam em função da região o do povo que as exercita. Todas as fontes são boas, acho que quantas mais melhor, leituras, vivências, professores. Mas a inicia va do conhecimento parte do interesse de cada um, na dança também. JORNAL DE ARTES - No Brasil, o Flamenco é ensinado basicamente de que forma? MARIA ELVIRA - Bom, acho que o Brasileiro tem um profundo respeito por nossa cultura e paixão pela dança flamenca e que se esforça por respeitar e mostrar com carinho. Mas internacionalmente só é conhecido o flamenco puro, nosso folclore é muito mais rico, e acho necessário entender e mergulhar nos aspecto culturais

Bailarina e coreógrafa espanhola Maria Elvira fala como se dança com a alma no gesto

para mostrar com rigor e naturalidade. A cultura de raiz envolve convivo, influências e uma espontaneidade fora da produção artística. E é conhecendo como se consegue sentir, se divertir e mostrar para os outros. Desde meu ponto de vista a "espontaneidade" nasce das emoções geradas no momento da expressão e são motivadas por vários estimulo, depende dos recursos aprendidos e da capacidade de enchergar todos os estímulos, para mostrar com liberdade, sem medo e desfrutar criando. Só assim se consegue transmitir. JORNAL DE ARTES - Como mostrar ao aluno outra alternativa que não só a técnica esmerada, quase confundindo-se com espetáculo circense? MARIA ELVIRA - Existem varias técnicas, dinâmicas e jogos para libertar o corpo, a mente e es mular o processo cria vo fora do medos, limites ou frustrações. Tem pessoas que acham que não sabem dançar, que não tem sen do do ritmo, que tem medo do contato com outros corpos, e acho que a procura da perfeição técnica influencia nega vamente. Sabemos correr, pular, caminhar e mover os braços. Em outros momentos nos abraçamos, sorrimos ou choramos na nossa ro na, então vamos levar essa naturalidade para as aulas, para os palcos, vamos criar cada um com nossa essência. JORNAL DE ARTES - O que é preciso aos professores de Flamenco para tomarem contato com essa realidade e transmitir aos bailarinos mais riqueza de conhecimento? MARIA ELVIRA - É preciso todo um desafio para os professores em geral, detectar as habilidades do aluno para potencializa-las, e as carências para trabalha-las sem frustar, sem podar. O professor deve doar o conhecimento mas, o trabalho do ensino e o aprendizado é 50% responsabilidade dos dois, aluno e professor. E o aluno tem a liberdade de aprender, trabalhar e ganhar o que achar necessário. JORNAL DE ARTES - Como o professor de dança pode levar ao aluno, o aspecto formal e a expressão criadora, e trabalhar essa liberdade para fazer arte ao invés de somente um bailado? MARIA ELVIRA - Explicando as influencias, os costumes, levando para a sala de aula essas vivencias a través da musica, dos movimentos, das falas e do convívio. Nossa arte nasce das celebrações, festas, homenagens, vem da família, das reuniões, vem para nos fortalecer aos uns com os outros, e o aluno ou o artista pode participar de essa união e das misturas para criar coletivamente. JORNAL DE ARTES - As raizes culturais de cada povo é a base concreta para fazer arte? MARIA ELVIRA - No Flamenco, manifestação de raiz popular, existem como em outras, numerosos elementos que fazem parte da cultura do povo que os expresa com naturalidade e expontaneidade. O professor deve captar isso para transmitir ao aluno, e assim conseguir que ele expresse da mesma forma, sintindo, e não imitando. A paixão pelas coisas que a gente gosta faz maravilhas com nosso potencial, penso que não é necessario nascer num lugar para viver, expressar, e sentir aquelas coisas com que nos identificamos ou escolhemos, mas vezes para alguns, se torna necessário para entende-las.


“ONDE TEM VOCÊ TEM ARTE” integra a arte visual ao co diano. Por

Matilda Curadoria

É com grata sa sfação que o Jornal de Artes vê os movimentos ar s cos pela Serra Gaúcha superaquecidos. Além das inicia vas cole vas, inúmeros ar stas abriram seus atelieres para o público e promotores e curadores inovam em eventos que promovem verdadeiros pactos em prol da cena ar s ca local. Um bom exemplo disto é oprojeto “Onde Tem Você Tem Arte” que teve sua primeira exposição ainda no início do primeiro semestre de 2016. A ideia da ar sta visual JaquePaule nasceu para compor o por ólio de a vidades do Escritório de Arte e Cria vidade que desde junho de 2015, quando abriu suas portas em Caxias do Sul junto ao atelier da ar sta, vem desenvolvendo uma série de ações de fomento das artes visuais na cidade. Esta proposta vai levar trabalhos de ar stas de variadas formas de expressão visual para locais de fácil acesso pelo cidadão comum. Numa contraposição aos espaços ins tucionalizados públicos e privados como museus e galerias- que são o ponto de encontro natural de exposições de arte -, o “Onde Tem Você” abrirá portas para iniciantes, experientes e renomados compar lharem suas produções. O projeto visa inverter o raciocínio de encontro com as obras de arte. Neste caso, obras em pequenos formatos serão expostas em locais inusitados onde podem impactar as pessoas sem que elas estejam buscando isto. Trabalha a ideia da máxima “a arte deve ir onde o povo está”. Embora muitos esforços sejam feitosnesta direção, uma galeria de arte ou sala de museu ainda não é um espaço que seja visitado com frequência. “Núcleos sociais tendem a agruparem-se junto a seus pares, seus “mais iguais”. A impermeabilidade de tais comportamentos acaba por gerar prejuízo cultural à sociedade como um todo, posto que restringe o contato com outras realidades. Por outro lado, vejo que a civilização equilibra-se em três pilares fundamentais: a mís ca (transcendência do homem além da materialidade), a ciência (prá ca de confirmação e controle dos fenômenos naturais) e a arte (capacidade de revisitar a realidade, a par r do senso crí co). Para entender melhor a própria existência, o homem necessita da arte assim como o pequeno pássaro depende da mãe para sobrevivência e desenvolvimento”, comenta Claudio Troian que atua em diversas áreas ar s co-culturais. Ao falar sobre o escritório, Jaque comenta: “acredito na arte como uma linguagem sem fronteiras que tem poder de estabelecer diálogos e romper com padrões estabelecidos e conservadores. Estes há muito já não dão conta da interlocução necessária para os dias de hoje. Estar em locais que desafiam as fronteiras do academicamente ins tuído faz parte da natureza ques onadora da arte e do ar sta.”. Embora o cenário, felizmente venha sofrendo certa mutação graças

de Caxias do Sul/RS

ao avanço da arte de rua e a uma invasão cria va e irreverente de alguns cole vos e promotores culturais independentes, ainda não faz parte dos hábitos do cidadão comum visitar exposições de arte. “O inusitado, o que não era esperado, surpreende o espírito humano, abrindo oportunidade para a descoberta do novo. As questões “o quê”, “como” e “por que” disparam sinapses ver ginosas levando o cérebro ao inevitável raciocínio. Desenvolver-se intelectualmente é o caminho natural da civilização. Crescer com o conhecimento, agigantar-se com a sensibilização frente ao belo e ao ques onável, moldará uma nova face social, derrubando dogmas e abrindo novas oportunidades de desenvolvimento até mesmo para o mais simples dos nossos cidadãos”,sentencia o gestor cultural Claudio Troian. Com a consciência provocada e sen ndo-se desafiada, a ar staJaquePaule insiste em “fazer a sua parte”: “Minha ideia em fomentar estas mostras não é uma crí ca aos espaços ins tucionais, mas sim umatenta va de a vação de novos contextos para a inclusão da arte como elemento formador. Minha ideia tem a ver com o consumo da arte como produto. Faço um paralelo com um produto comes vel que, se ficar embalado, um dia perderá a validade sem ser consumido. Se exposto, tem mais chance de ser consumido em tempo viável e terá cumprido um papel”, comenta Jaque sobre a irreverência do projeto. E salienta ainda que “Os cole vos com seus modos de organização diferenciados, seus espaços autogeridos e a postura democrá ca por excelência, tornaram-se dínamos da efervescência ar s ca e cria va no âmbito em que atuam”. Para a primeira edição o projeto tem como parceiro a Zine“Mosaicco”, uma publicação do Cole vo Labs que ilustra muito bem as mudanças no mercado de artes da Serra. “A construção de uma cena ar s ca mais livre na cidade precisa ser fomentada através de publicações, de exposições, de intervenções na rua, precisa aparecer. Por desconhecer os caminhos tradicionais pelos quais a arte flui na cidade, o Mosaicco é uma forma de criar esse caminho, sem compromisso com formalidades; nosso espaço é aberto pra qualquer um que bote fé no próprio trabalho e queira ter seu trabalho visto, avaliado,comentado pelos leitores da Zine. Nossa parceria com o "onde tem você tem arte" se formou, pois compar lhamos da vontade de levar arte que até então passaria ignorada para ambientes de visibilidade." Comenta Demytrius Meneghe de Pieri um dos responsáveis pela Zine Mosaicco. As Inscrições para a primeira edição do “Onde Tem Você Tem Arte” permaneceram abertas até março. Para par cipar do projeto os ar stas que pretendem expor e locais interessados em receber o conjunto de obras, devem entrar em contato com o Escritório. Escritório de Arte e Cria vidade - JaquePaule . Projeto: “Onde Tem Você Tem Arte” – primeira edição. Informações e inscrições: jaquepaule atelie@gmail.com. (54) 35 382768 (tarde). Ou pelo facebook.com/jaque.paule


FRANCISCO

BRENNAND Senhor da Várzea, da Argila e do Fogo Exposição Fancisco Brennand – Senhor da Várzea, da Argila e do Fogo, com curadoria de Emanoel Araújo, traz um recorte inédito com 84 obras. Por

Clauveci Muruci

de Porto Alegre/RS

De 8 de junho até 4 de setembro, o Santander Cultural realiza a exposição Francisco Brennard – Senhor da Várzea, da Argila e do Fogo. Com curadoria de Emanoel Araújo, trata-se de uma importante inicia va do calendário de artes visuais da unidade de cultura do banco, com esculturas , pinturas,desenhos em murais cerâmicos e vídeos distribuidos pelo Grande Hall e Galerias térreas. A mostra é aberta ao público com programa permanente de ação Educa va para grupos de escolas e público em geral. Para Sérgio Rial, Presidente do Santander Brasil, “a mostra é mo vo de muitas comemorações, pois além marcar a trajetória de sucessos da unidade de cultura do banco no sul do País, es mulando discussões culturais e ar s cas por meio do retrato da arte produzida no Nordeste. O olhar apurado do curador evidencia a grandiosidade das obras do ar sta pernambucano e enfrenta com maestria o desafio de colocar um trabalho tão cheio de significados e mitologia, em um espaço com arquitetura eclé ca e rico em detalhes como o Santander Cultural”. Dividida em quatro vertentes: o teatro das representações mitológicas, o corpo em transmutação interior, os frutos da terra e as ví mas históricas, o conjunto de ações que ocorre simultâneo a exposição, também oferece quatro filmes sobre o ar sta no Cine Santander Cultural. Destaque para o inide smo das obras Adão e Eva, produzidas em cerâmica vitrificada, em exposição públicas. Francisco de Paula Coímbra de Almeida Brennard, ceramista, escultor, desenhista, pintor, tapeceiro e ilustrador, nasceu em 11 de junho de 1927, na cidade do Recife, capital do Estado de Pernambuco. Em novembro de 1971, o ar sta começou a reconstruir a velha Cerâmica São João da Várzea, fundada pelo seu pai em 1917. Esse conjunto, encontrado em ruínas, deu inicio a um colossal projeto instalado num terreno de 14 mil metros quadrados, que hoje abriga mais de duas mil obras espalhadas por jardins, pá os e lagos.

Pássaro Rocca; 1992; Cerâmica Vitrificada; 286 x 60 x 60 cm


OS TEMPOS DA

METÁFORA Por

Anelore Schumann

de Porto Alegre/RS | Curadora da Escola de Poesia

A Escola de Poesia promoverá neste mês de julho a exposição Os Tempos da Metáfora com obras de ar stas do Cole vo Arte Livre. O Cole vo foi criado a par r da circulação do Jornal de Artes por diversos espaços da cidade, inclusive alguns ateliês, bem como do diálogo entre o seu editor, Clauveci Muruci, com pintores, fotógrafos e outros ar stas de diferentes o cios e linguagens. De uma maneira e de outra, foi tecendo um fio vermelho que vincula ar stas, falas e desejos num projeto de exposições i nerantes, cuja a primeira expressão se realizou no Restaurante Espontâneo em fevereiro do presente ano. As obras do Cole vo de Artes são singulares, dizem algo em par cular para cada um de nós, para quem quiser fruir, se deixar tocar, se deixar levar para um outro tempo. Tocou-mecada uma das pinturas, fotografias, colagens e gravuras; cada uma, de modo dis nto, levou-me a escrever poesia. A obra de Vinicius Vieira (inspirado em burkhart), um poema recortado – de um fundo negro se sobressaem letras vasadas como se alguém me perguntasse: por que me fugiste, lua desnuda? A pintura de Raquel Trein(“Deserto”), paisagem surreal de figuras insólitas, zepelling que se passeia vagarosamente. Um outro cosmos onde bailam sombras singelas na tela (“Eu interior”) de Rejane Trein. Já numa pintura de Gustavo Burkhart (“Evolução L.O.L”), o futuro é misturado ao ancestral – num capacete de astronauta ainda mora o totem. Tal mistura de tempos e de lugares me fez pensar que as artes visuais têm o dom de nos conduzir a mundos simultâneos, de diversidade espaço-temporal. Ao contemplar a obra de arte, ingressamos em tempo incomum, tempo no qual o inusitado se revela, nos surpreende, nos emociona. Alegramo-nos quando nos damos conta de que somos capazes de descobrir nova dobra em nós mesmos, que jamais suspeitávamos. A pintura de Emanuela Quadros (sem tulo), remete ao mistério do feminino, o sorriso da Gioconda atravessa os séculos. Ar stas ou expectadores desses mundos criados pela arte somos mul facetados permeáveis ao dentro/fora, a va e con nuamente nos transformamos no ato de criação e de fruição. Como nos diz Murilo Mendes no Poema Dialé co: “Todas as coisas ainda se encontram em esboço Tudo vive em transformação.” Quando nos deixamos levar pelas obras, por essa ver gem, abremseos tempos da metáfora e o mistério se revela sem que deixe de ser mistério. No poema Sobre a maneira de construir obras duradouras, Bertolt Brecht nos pergunta: quanto tempo duram as obras? Tanto quanto ainda não estão completadas. Pois enquanto exigem trabalho não entram em decadência. Assim, convidamos todos aqueles que têm sede de arte, nas suas mais diferentes manifestações, a fazerem parte da exposição. Os tempos da metáfora e a produzirem novos dizeres, quem sabe novos poemas. Par cipam dessa exposição: Ana Izabel Dutra Bretanha, Angélica Magrini Rigo, Cloveci Muruci, Dominik Picnic, Emanuele Bizzoto, Emanuele Quadros, Gustavo Burkhart, José Augusto Pereira, Manoel Santos, Og Wetzel Moreira Filho, Pedro Santos, Raquel Hirtz Trein, Rejane Hirtz Trein, Roberta Ados ni, Rodrigo Tedesco, Ubirajara Sanches, Vinicius Vieira.

«Deserto» da Raquel Hirtz Abertura da Exposição "Os Tempos da Metáfora" Dia: 14 de julho às 19h Visitação: até dia 31 de agosto (com agendamento)

Escola de Poesia: Rua Cabral, 225 - bairro Rio Branco; Fone: (51)3024 2829 facebook: Escola de Poesi; www.aprescoup.com.br


CADERNO DE

CINEMA & FOTOGRAFIA

Cinema de Borda ou Undergroud Por

Clauveci Muruci de Porto Alegre | RS

A realidade do cinema trasch, undergraud ou de borda, é vista preconceituosamente como produções de baixa qualidade técnica. Na maioria das vezes, isso ocorre, por serem produções de baixo orçamento, e também pelas limitações técnicas dos produtores, essas limitações permite dar asas a cria vidades, transformando esses filmes em obras de artes, com boa aceitação entre os cinéfilos. Quando o estabelichement é rompido, cria-se condições ao inesperado, a cria vidade, a adversidade transforma-se em material alterna vo de consumo. É o caso do cinema independente que através da ideia cult conquista grande público. Pe er Baiestorf, catarinense de Palmitos radicado em Porto Alegre, abriu a Mondo Cult, loja com ar gos que contradizem o lugar comum, com objetos colecionáveis, filmes undergraud, HQs cult, pósters de filmes dos anos 80, e tudo que representa o mundo cultural fora dos padrões convencionais. Baiestorf, é cineasta conhecido em todo o país, começou a filmar desde 1992 (Criaturas Hediondas) em VHS, depois dessa experiência, não pode mais largar o cinema trasch, e hoje conta com mais de 300 tulos em sua carreira, incluindo vários longas metragens no currículo, ele tem par cipação em importantes projetos, como no cole vo do cineasta Rodrigo Aragão, que reuniu José Mojica Marins(Zé do Caixão), Joel Caetano, e o próprio Baiestort dirigiu o média metragem Fábulas Negras. Entre os filmes de maior destaque: o Zombio 2: Chimarrão Zombies, (1999), Vou Mijar na Porra do Seu Túmulo(2007), Vadias do Sexo Sangrento (2008) entre outros tulos, todos produzidos pela Canibal Filmes, e alguns deles disponíveis gratuitamente, em (dowlnload). “Provoco as pessoas a saírem da frente do computador” diz ele, e quando essas pessoas chegam na sua loja, sempre retornam devido a temá ca e raridade do material exposto, quase impossível de encontrar em outros lugares. Orgulha-se de não par cipar de editais para realizar seus filmes, prefere usar recursos próprios ou cole vos entre amigos e inves dores par culares. Os editais, além de ter um formato que facilita a burocracia e com recursos que poderiam ser melhor aplicados em saúde ou em educação. Seus filmes não se enquadram numa só linha cria va, pode ser até mesmo classificado como comédia, mas prefere misturar todos os gêneros e culturas, usando muito sexo e escracho se es ver no contexto no momento.


FOTOGRAFIA

AUTORAL I

Fabrício Simões – Possessos

Mais informações em www.fabriciosimoes.com ou em www.estudiovelvet.com.br

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Sena

Distribuidora de Materiais Fotográficos Ltda. Rua 24 de Outubro, 945 Moinhos de Vento - Porto Alegre (51) 3222-7866 | (51) 9199-9275 Email: ortizanchieta@hotmail.com

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FOTOGRAFIA

AUTORAL

II

Escola de Imagem Câmera Viajante Maternidade e Maternagem

A Mostra Fotográfica cole va “Maternidade e Maternagem” destaca uma das facetas mais intensas do universo feminino. As imagens, produzidas por fotógrafos – professores e alunos – da Escola de Imagem Câmera Viajante, retratam o tema com sensibilidade, força e inclusão. O obje vo desse trabalho é mostrar que ser materno está além da relação mãe-filho. A maternidade é condição exclusiva da mulher ao dar a luz. A maternagem é muito mais um estado de espírito, de doação do ser, pois além da mãe que pariu, cuidou, zelou e protegeu sua cria, outros entes também, em qualquer momento, podem exercer a maternagem e acolher: pais, mães, avós, amigos, dindos, dindas, etc. Fotógrafos par cipantes: Curadoria dos professores Claiton Mar ns-Ferreira e Rogério Amaral Ribeiro (RAR); Beatriz Donelli; Camila Paz; Carlos Augusto Vargas; Carlos Eduardo Vaz; Cris na Guanza ; Daniela Dimer; Inezita Cunha; Joana Nyland; Lídia Fabrício; Liliane Paim; Mara Zoch; Sonia Hammermuller; Vanessa da Costa; Vanessi Reis. A exposição esteve no espaço J. B. Scalco do Solar dos Câmara (entrada pela Assembléia Legisla va do RS) permanecendo entre os dias 02/05 e 31/05/2016. Ocorreu uma palestra com a terapeuta e filósofa clínica Regina Mar ns Bley sobre o tema "Maternidade e Maternagem". Maiores informações sobre a palestra e a exposição poderão ser conferidas na página do evento no facebook: h ps://www.facebook.com/events/17295537972650 07/

«Pachamama», por Mara Zoch

«Na luz dos olhos teu», por Claiton Mar ns-Ferreira

«Filha, o espelho da mãe», por Cris na Guanza

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Loja Bento - Vitor Borges Endereço: Av. Bento Gonçalves, 1255 Telefone: 51 3336.1524 51 3223.8354 51 3084.2609 Email: tecnifoto@terra.com.br



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MOVIMENTO PARA REVITALIZAÇÃO DE UM ESPAÇO NOBRE EM PORTO ALEGRE Av. Independência, 1211 | Moinhos de Vento | Porto Alegre - RS

Evento com música portuguesa evidencia diversidade cultural da Galeria


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Julho | 2016

Carmen Medeiros galeria de arte Carmen Medeiros trabalha com arte desde a década de 80. Par cipou de exposi-ções no Brasil, Uruguai, Portugal, Espanha, Itália, México e Canadá. Em 2013, inaugurou a Carmen Medeiros Galeria de Arte, onde expõe trabalhos seus e de ar stas amigos. É uma pequena e aconchegante galeria, onde se conversa sobre arte, música, literatura e cinema. Nas segundas-feiras, ao fim da tarde, as conversações fluem em francês com a orientação de Flavinho Nogueira. No mezanino, ocorre o Estúdio de Pintura, com orientações sobre as melhores técnicas para essa arte.

Jóia-Escultura «Eros» Ar sta: Carmen Medeiros Técnica: pedras brutas naturais e alumínio

No espaço, são expostas telas contemporâneas e tradicionais (em técnica acrílica e óleo), gravuras, desenhos, esculturas, fotografias, joias-esculturas e, ainda, uma boa variedade de molduras.

A Carmen Medeiros Galeria de Arte também conta com serviço de emoldurações em quadros e espelhos A Galeria Carmen Medeiros conta com o Estúdio de Pintura, local des nado a aulas sobre técnicas de pintura

Tela de Carmen Medeiros. Título: “Verão” Técnica: acrílica sobre tela Medida: 60cmx30cm

Encontros com importantes ar stas do estado também ocorrem na galeria Carmen Medeiros. Na foto com o ar sta Fernando Duval

Tela de Fernando Mar ns. Título: “Bougainvillea em Flor”. Técnica: óleo sobre madeira. Medidas: 40cmx30cm. Ano: 1952

Carmen Medeiros Galeria de Arte þ Av. Independência 1211 loja 40. Porto Alegre - RS

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www.carmenmedeirosgaleria.com.br/ E-mail: contato@carmenmedeirosgaleria.com.br na José docarmen@carmenmedeirosgaleria.com.br Patrocínio, 541, Cidade Baixa 55-51-35172482

A cafeteria Flor do Grão Café surgiu a par r da vontade de uma nutricionista em servir às pessoas com produtos selecionados e cuidadosamente preparados. Nossos fornecedores passam por rigorosos critérios de seleção, pensando sempre no cliente. Diariamente são feitos bolos, salgados, sobremesas, refeições, tudo preparado com muito cuidado e carinho. Av Independência 1211 Loja 37 Galeria Moinhos de Vento 51 3207- 4688 EXPEDIENTE Editora Executiva: Carmen

Medeiros

Editor: João Clauveci Muruci Design Gráfico/Capa/Diagramação: Mauricio Muruci Foto de Capa: Major Tom Photo Galery; Show do inauguração do café Amo-te Liboa

com o grupo Alma Lusitana Galeria Minhos de Vento | Independência Criativa é uma publicação da MURUCI Editor Email | jornaldeartes@yahoo.com.br Tumblr |www.murucieditor.tumblr.com CNPJ | 107.715.59-0001/79 Fone | 51 3276 - 5278 | 51 9874 - 6249

MATEUS Loterias

Horário: Segunda a Sexta das 8h ás 19h, Sábados das 8h ás 16h30

Avenida Independência, 1211 - Loja 09 51 3311 3266 | 51 3311 3439

Óptica Lisboa Aviamos sua receita Confecção de Jóias Lentes de Contato Jóias e Semi-Jóias Consertos de Óculos Solar Pilhas para Relógio

Av. independência, 1211 - Loja 26 Porto Alegre - RS Fone 51 3061 - 9830


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Julho | 2016

Flávio Nogueira Um Colecionador de Obras de Arte Flávio Nogueira colecionador de obras de arte, é uma das personalidades ligada a cultura que frequenta a Galeria Moinhos de Vento, no Bairro Independência em Porto Alegre.

Considera que o Mercado de Artes, seja suficiente para cobrir as necessidades dos ar stas e das Galerias de Artes existentes na cidade, mas admite que o setor poderia se desenvolver um pouco mais.

Influenciado pela família, acostumou desde a infância a transitar pela literatura, música e artes visuais. Nos anos 90, inicia a comprar obras de artes, montando um acervo com obras adquiridas em Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro, formando um conjunto eclé co, segundo o colecionador, afirma que não existe preferência ortodoxa sobre es los, “basta detectar qualquer sintonia com a obra, para adquirir para sua coleção.

Flávio Nogueira, traz grande influência de sua estada de cinco anos em Paris, onde foi para fazer cursos ligados a cultura, e, expandir seus conhecimentos arte. Morou três anos em Paris, e dois anos no interior da França. Voltou ao Brasil, quando as raízes falaram mais alto, e aqui passou a trabalhar como Execu vo Cultural, na área governamental.

Em seu acervo se encontram obras no es lo contemporâneo, figura vo e abstrato, “o que realmente importa” diz ele, é a presença da criação em cada peça.

Miguel Tostes, 870 – Porto Alegre, RS 51 – 3331 - 3234 | www.guitargarge.com.br


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Julho | 2016

Naquele Universo O ar sta visual Leandro Michel Antonelo Pereira, ocupa a galeria Carmem Medeiros,(Galeria Moinhos de Vento) para expor sua mais recente produção, desenvolvendo a técnica mista - fotografia/desenho, quando ele junta duas linguagens, por si só, antagônicas, se apropiando de imagens ícones da pintura. Nesse desafio cria vo, o ar sta se joga no conceito contemporâneo de seu trabalho, ao trabalhar com cores suaves e chapadas reveladoras de siluetas, mantendo o traçado da figura,fazendo com o desenho interagir com a realidade. Leandro indica o caminho do olhar pela influência do “grafi ” exposto nos muros das grandes cidades, numa comunhão com a arte popular e a arte de galeria. Com a carreira iniciada em 2011, realiza sua primeira individual “Fotografia Contemporânea” a seguir “Grafite de Porto Alegre”; “Fotos de Paris” e “Pés Modelos”. Revela que para sua próxima exposição, virá com pintura em telas, reelaborando toda a atual postura de sua obra.

Galeria Moinhos de Vento | Seg a Sáb: 9h30 - 18h30 Av. Independência 1211 - loja 31


A POESIA INTERSIGNOS: CULMINAÇÃO DE UM PROCESSO Por

Clemente Padín

de Montevideu | Uruguai

A obra poé ca de Philadelpho Menezes cons tui uma importante contribuição ao desenvolvimento da poesia experimental, não só la no- americana, mas também mundial. Ela completa e culmina a construção originada com o advento da Poesia Concreta brasileira (1956), selando-a com a Poesia Intersignos que vem sendo criada desde os anos 80. É a cereja que coroa a torta. A poesia concreta cons tuiria a base, o poema semió co, o segundo piso, o Poema/Processo o seguinte e, finalmente, a Poesia Intersignos. No meu conceito o caminho é o seguinte: o concre smo literário de tendência matemá co-espacial de Wladimir Dias-Pino, desde seus poemas A Ave (1954) e Sólida (1956) até os poemas "espaciais" (1962) q u e o r i g i n a ra m o p o e m a s e m i ó c o, o Poema/Proceso (1967), lançado no Río de Janeiro e, por úl mo, a Poesia Intersignos de Philadelpho Menezes (1980). Segundo Menezes, se pode "definir sumariamente à Poesía Intersignos como aquela em que os signos visuais e verbais, cada qual com sua carga semân ca própria, atuam conjuntamente na produção do sen do do poema" (Philadelpho Menezes, 1987). Assim, marca suas diferenças com a chamada "Poesia Visual" que se vale da dimensão plás ca da linguagem (a linguagem não só se "lê" mas também se "vê"). Sustenta que no poema visual os elementos plás cos não se integram ao significado total do poema mas que atuam como elementos de confusão, de "ruído" para gerar a maior ambigüidade possível. Também podem estar na função de colocar em relevo (la "mise en relieve") ou de reforço da expressão verbal, à maneira dos poemas ilustrados ou os "carmina figurata" la nos ou os "Pa ern Poems" como os define Dick Higgins (1987) onde, na grande

maioria dos casos, as duas formas de expressão, a verbal e a visual, podem separar-se sem perda de informação poé ca, o que é impossível no poema intersigno. Menezes retoma o programa da poesía concreta histórica: a construção racional dos signos interatuando na formação do sen do, mediante processos de composição "precisos", quase esquemá cos, ao contrário das tendências mais relevantes na poesia visual, oriundas da colagem e da disseminação semán ca. O distanciamento com a Poesía Visual é notório. Compara ambas as formas, o poema visual e o poema intersignos, com a colagem cubista e a montagem cinematográfica: o primeiro é imo vado, livre e não pretende formulações semân cas claras mas ambíguas, o segundo propõe a ar culação visual e verbal (e sonora, numa segunda etapa) que faça possível a apreensão de significados precisos ainda que sua conceituação seja complexa. Fruto destas idéias é o CD Rom INTERPOESIA (1997- 98) realizado conjuntamente com Wilton Azevedo, onde se destaca como um excelente operador de linguagens mul mídias de úl ma linha, onde o componente visual se une indissoluvelmente ao componente verbal em um po de "intermídia" segundo a caracterização de Dick Higgins: "Uma real interação formal e semân ca entre diferentes linguagens, e não puramente sobreposição acumula va.» Também pode ser destacada sua atuação no redescobrimento da Poesia Sonora, sobretudo na América La na, onde este gênero tem do muito poucos adeptos. Assim como a poesia visual se vale das possibilidades pictóricas ou espaciais das letras e palavras, a poesia sonora ou fônica se vale das possibilidades expressivas

dos sons e ar culações vocais que fazem possível a dimensão sonora da linguagem verbal. A poesía fônica flutua entre a música e a literatura, entre a experimentação fono-verbal e o jogo glossemá co *. Sua origem remonta a do gênero humano e, até a aparição das técnicas de gravação eletrônicas, se refugiou, escrita, na poesia visual, dando nascimento ao que hoje se denomina poesia foné ca. Logo nos anos 50, com a aparição da fita eletromagné ca, a poesia sonora se diversificou notavelmente, em virtude do amplo leque de possibilidades que oferecia o novo meio e, com o advento da tecnologia digital e da mul mídia, essas possibilidades aumentaram. Também é autor de un livro capital sobre poesia experimental contemporânea: POÉTICA E VISUALIDADE (Campinas, SP, Brasil, 1991) que, logo, foi traduzido por Harry Polkinhorn e editado pela Universidade de San Diego, California, USA, en 1994, sob o nome de POETICS AND VISUALITY. Ali, se constata e reafirma o carácter decisivo que teve, na poesia de nossos dias, a aceitação das dis ntas dimensões da linguagem para alcançar finalmente uma concepção "sem barreiras" da Literatura, não só limitada ao "verbo divino" (ou à seman cidade do signo verbal) mas voltada à totalidade da experiência humana, em todas as suas manifestações, sem que a poesia perca sua especificidade frente às demais disciplinas ar s cas. Nota da tradução * Glossemá ca é a teoria da linguagem elaborada pelo lingüista dinamarquês Louis Jelmslev, segundo a qual a língua deve ser estudada com um fim em si mesma, livre de considerações fisiológicas, sociais, literárias, etc.

Ateliê de Arte Centro de Conservação-Restauração de Livros e Documentos Av. Júlio de Cas lhos, 440, Cj. 84 Centro Histórico - Porto Alegre/RS livroearte@terra.com.br restaurolivroearte.blogspot.com.br

Fone: 51 9846-9998 | 51 30 29-4959 Rua Senhor dos Passos, nº235 Sala 1101 Centro, Porto Alegre-RS

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Almoço Disco Bar Segunda a Sábado das 11:30 às 14:30

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Telefones: (51) 3333-3294 | Rua Cabral, 291 Porto Alegre, Bairro Rio Branco, Brazil | Site h p://telasgaudi.blogspot.com/


Apaixonada saquei minha arma minha alma, minha calma, só você não sacou nada.

Tenho ciúmes desse cigarro que você fuma tão distraidamente.

É sempre mais di cil ancorar um

NAVIO NO ESPAÇO Ana Cris na César(1952-1983), poeta carioca ícone da poesias marginal nos anos 70, é a homenageada na FLIP – Festa Literária de Paraty, 2016

Após o lançamento do seu primeiro livro, “A teus pés”, a poeta enfrentou intensa depressão conseguindo suicídio na segunda tenta va. Ela já havia publicado seus poemas, em antologias, jornais literários e livros artesanais junto com seus companheiros da geração 70, entre eles Chacal, que junto com Ana C e outros formaram o grupo «Nuvem Cigana» não eram «poetas marginais» termo cunhado por Heloisa Buarque de Holanda, segundo ele, «lutavam contra o sistema conservador,» seus poemas apresentados oralmente, associava aos «Happenings» e performes ar s cas subversivas dos anos 60 e 70. Nessa edição da FLIK, será lançado o livro “Inconfissões – Fotobiografia de Ana Cris naCesar”, que foi organizado por Eucanaã Ferraz, poeta e consultor de poesia do Ins tuto Moreira Sales. Cris na C, como assinava seus textos, publicou a melhor poesia marginal no es lo pequenos folhetos mimeografados, formando um movimento conhecido como “a nova poesia brasileira”, com estruturas informais inacessíveis ao grande público. A poesia marginal falava da vida do dia a dia, do co diano de pessoas na rua, num período ditatorial, mas numa forte tendência experimental e não formal, mas Cris na C, era in mista e conficional, levando ao leitor essa experiência existencial da poeta. É dela o verso, “Estou cansada de ser homem” numa referencia, de que não queria mais escrever textos, com começo, meio e fim. A obra de Ana Cris na César é ques onada por alguns crí cos quanto a esté ca pop, para Sérgio Alcides, professor e crí co literário que par cipou do úl mo debate na PLIP, sobre Cris na César, ele lançou em Paraty “Armadilha Para Ana Cris na (ed Verso Brasil) coletâneas de ensaios sobre poesia contemporânea. Felipe Fortuna também crí co literário em ar go publicado recentemente, ques ona a indicação de Ana Cris na César, para ele, “é uma poesia di cil com a aparência de fácil» argumenta, «é preciso uma leitura menos reacionária e menos cabeça de vento». Lembra que a poeta encantava pelo aspecto lúdico do suicídio. Essas, segundo o crí co, são as armadilhas que nos leva ao mito sacrificial do ar sta que conduz a uma obra grandiosa. O suicídio não é o único ato esté co da poeta, segundo Fortuna, o problema é quando esse ato vira uma este zação do sofrimento da ar sta. Não há como interpretar uma obra segundo a biografia do autor, para o crí co, o que impressiona na obra de Cris na C é que o ques onamento da possibilidade de a experiência ser re da pela escrita.


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