JORNAL DE
Ano 17 | N° 04 | OUT. 2016
Artes Plás cas | Cinema | Música | Literatura
R$ 3,00
Porto Alegre | Outubro | 2016 | www.murucieditor.com.br 0 235890 9
"Enquanto seu lobo não vem” Tela de Kaue Nery, exposta na 21ªSalão de Artes Plás cas da Câmara Municipal de Porto Alegre.
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Literatura | Poesia | 02
Poenigma
JORNAL DE
ARTES Artes Plásticas | Artes Cênicas | Cinema | Musica | Literatua
Poesia Visual de César Pereira Jornal de Artes é uma publicação da MURUCI Editor Editor | João Clauveci B. Muruci Design Gráfico/Capa/Diagramação | Mauricio Muruci Email | jornaldeartes@yahoo.com.br Edição Virtual | www.issuu.com/jornaldeartes Facebook |www.facebook.com/jornaldeartes Site|www.murucieditor.com.br CNPJ | 107.715.59-0001/79 - Fone | 51 3276 - 5278 | 51 9874 - 6249
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Por
Cloveci Muruci
de Porto Alegre/RS
César Pereira é um dos nomes de maior importância na poesia social nacional e riograndense. Vanguardista do grupo de poesia concreta, trilhou os caminhos da pesquisa sobre a poé ca na palavra, sobretudo no seu aspecto gráfico e formal. Nesse contexto neomodernista, aparece ao lado de grandes nomes da poesia concreta, como Décio Pignatári, Ferreira Gular, Augusto e Haroldo de Campos, entre outros. É um poeta urbano. Canta o homem que se esgueira na mul dão entre as ruas estreitas das grandes cidades. É autor de Carrocel de Cinzas(1960), Dardos de Ajuste (1974), Porta de Emergência (1989), Caminhos do Fruto (2012) Verso e Reverso (2012). Porém, foi seu poema Poenigma (1965) o precursor da poesia visual. O poeta inquieto foi se inspirar nos "caligramas" de Apollinaire e na poesia concreta, como as "manu pictogramas" de Cummigs. Não nha a proposta de abolir a sintaxe verbal de onde os versos surgem, como slogans, frases e manchetes. Usa também de valores de efeito visual, como desenhos, cores, formas geométricas, gravuras, recortes de jornais, aplicados através de colagem (ready mode), podendo apresentar ou não correlação entre si e com a ideia do poenigma ou de parte deste. O verso tradicional está sujeito a desaparecer pela ação da sociedade de consumo, onde o cinema, a televisão e a internet formatam a mensagem de fácil assimilação por uma sociedade industrial e de massa. Para o poeta, "os homens vem dando preferência ao visual, ao som do que a palavra escrita". Dentro dessa nova perspec va, ele cria a poesia de comunicação visual, impondo o máximo dentro do mínimo. O poeta "cerca a palavra com algo que lhe dê maior vigor e propriedade". A imagem, gravura, desenho ou outro elemento, funcionam como peças autônomas, possuindo ou não relação entre si e ligação com a ideia principal, podendo cada elemento ser um mundo isolado, contendo suas sugestões e verdades, alheios a estrutura do conteúdo e mensagem do "poenigma".
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Capa: «Enquanto seu lobo não vem» Tela de Kaue Nery. Acrílica sobre tela, 80 x 135 cm, 2015.
exposta no 21ªSalão de Artes Plás cas da Câmara Municipal de Porto Alegre
Natural de Taquari/RS, membro da Academia Rio-Grandense de Letras, ganhador de importantes prêmios literários em poesia estadual e nacional.
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Literatura | Poesia
As Propriedades Físicas da
Alma Por
João Antônio Pereira*
de Porto Alegre/RS
Porto Alegre, 21 de junho de 2015 a 20 de maio de 2016 {Encontro por volta das treze e trinta e cinco; despedida por volta das dezessete e cinqüenta e oito.} Outono: Domingo: conversamos durante todo o sol da tarde. Depois, despedimo-nos com as mãos nos bolsos. Entrar em casa foi como encontrar um oásis onde miragens mul plicavam-se sobre o sofá: um pôr-do-sol, uma onda, uma estrada, um avião, uma igreja. Sobre a mesa, uma porção de esperança misturada com sorrisos desdentados. Desabada numa cadeira, a vida: arfante! - “Como consegui chegar até aqui?”. E, nas paredes, o silêncio fazia sombras esquisitas de formas mal definidas – mas bem conhecidas. {Amigos às vinte e quarenta e três, risadas até a meia-noite e onze, sono à uma e sete.} A ro na, às vezes, salva dos sobressaltos: uma bóia para não se afogar no espaço vazio de dentro. {Ônibus às sete e trinta e oito, bater o ponto às oito e trinta em ponto.} Descontados os telefonemas de pessoas com nervos à flor da pele, o dia pode ser percorrido com tranquilidade. Um engarrafamento aqui, outro ali: insights que fazem doer as mãos e as mágoas. Fora disso, dia comum. Viver é fluir. Ir com a correnteza – nada contra nem a favor – tenho febres de esquecimento: nunca mais voltarei a ser. {Reunião às nove e trinta e dois, visita às onze e quatro, bater o ponto às doze em ponto, almoço às doze e dezessete.} Mas gação di cil: engulo cada grão de arroz como quem engole uma frase – com iscas de silêncios nas entrelinhas. Recuso a salada de estrelas, luas, rios, passeios, alface, cebola e tomate. Antes, eu contava as horas pelas demoras; agora, conto-as pelos segundos. O café chega quente como um olhar vazio, um olhar para baixo, para a comida servida ainda esperando por um garfo salvador: “Você tem fome de quê?”.
{Terminar o almoço às doze e quarenta e um, caminhar nove minutos por três sóis e três sombras.} Chega a dar aflição a fumaça do cigarro subindo, desenhando plátanos e andorinhas no céu, e provocando um gosto amargo nos olhos. A luz do sol cai com uma força incomum sobre a calçada. O calor espalha-se com vigor pelo corpo: pela lua cheia pintada no céu como uma aquarela. E eu vou sen ndo um frio que me aquece. {Bater o ponto às treze e trinta em ponto.} O eterno retorno dos atarefados. Tempo é dinheiro. E eu tenho muito pouco dos dois. {Telefonar às quatorze e três, visita às quatorze e trinta e oito, banco às quinze e quarenta e quatro, cartório às dezesseis e trinta e sete, retorno às dezessete e quarenta e cinco.} Não sei qual o melhor retrato da vida: se esta pilha de papel na mesa ou aquela pilha de papel fotográfico na gaveta. Quase sempre esqueço as duas, entre uma e outra risada, à mesa, na memória; entre um e outro brinde por não sei que ou quem: tenho calafrios de esquecimento. E medo de perder para sempre o que não tenho. Acho que meu apego por alguns dias perdidos no tempo deve-se ao outono. Nunca fui muito bom com a leitura das estações. Hoje, porém, leio as ranhuras das folhas que caem das árvores como se eu fosse um vegetal a minha vida toda, como se meus olhos fossem verdes e eu vesse duzentos anos. {Bater o ponto às dezoito em ponto, ônibus às dezoito e vinte e três, chegar em casa às dezenove e trinta e nove.} Reencontro as miragens fora de controle: falam alto, bebem, cantam, dançam, choram, gritam, riem – tenho alucinações com abraços. Deito sobre a grama, na sala. Perto de mim, um canteiro de amores-perfeitos balança suavemente, bafejado por uma brisa morna que acalma e faz dormir. Noite-rede – “imbalança, imbalança, imbalan-çá”. Tenho tremores de saudade. Quem sair primeiro, apaga a luz.
*1º Lugar Contos/ Escritores Nacionais | 14º Prêmio Literário Paulo Setúbal – Tutuí SP
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Atores Carol Abras e João Miguel nas filmagens de "Se Nada Mais der Certo" de José Eduardo Belmonte| Foto: divulgação Análise | Cinema
Se Nada Mais Der Certo Pessoas que buscam saciar a sanidade na saturação dos seus sonhos sangrados pela sociedade Por
Gabriely Santos
de Porto Alegre/RS
De fato, tudo parece tão errado, tão fú l, tão idio zado que as pessoas se tornaram indiferentes as outras e se reduzem a busca cega por mais. Isso as pessoas que tem muito. As outras pessoas só buscam a sobrevivência da forma menos ruim ou arriscada possível. Elas buscam saciar a sanidade na saturação dos seus sonhos sangrados pela sociedade que suga sôfrega o sofrimento de muitos em detrimento da sa sfação dos mesmos poucos. Sempre foi assim. Mas a revolta que resulta em crime, por mais compreensível contextualmente, ela só resolve um problema individual e momentâneo. Se as pessoas conseguissem almejar uma solução permanente pra todos, que começasse, talvez, na priorização do humano em detrimento de todo o resto. Leonardo é um jornalista que vive de freelas e mora com Ângela, sua amiga desempregada, viciada em cocaína, mãe de Lucas. Com eles também mora a empregada Leda. Com as contas todas acumuladas, na noite em que a luz do apartamento é cortada, Leo, depois de tentar escrever a Diogo, o seu colega de faculdade que ‘se deu bem’ na vida, ele sai beber com uns trocados da ces nha da igreja. Numa boate, ele conhece Marcin que é uma menina que se veste de menino e trabalha pra Sibele, uma traves traficante barraqueira. No fim da noite, eles encontram Wilson, um taxista deprimido que tem uma arma. E, em algum momento, entre a quarta e a quinta cerveja, eles filosofam. E Léo conclui que o problema da sociedade são os bancos, os trabalhos que aniquilam a cria vidade das pessoas, o fato de que não existe saída: o homem mata ou morre. Ele não quer mais se vender. Mas não há outra opção. Não há outro caminho. Data de lançamento: 14 de agosto de 2009 (Brasil) Direção: José Eduardo Belmonte Música: Zé Pedro Gollo Roteiro: José Eduardo Belmonte, Luis Carlos Pacca Indicações: Grande Prêmio do Cinema Brasileiro - Melhor Atriz Coadjuvante
Closes, planos sequência em que a câmera parece confusa como os personagens e a situação e então o filme se
desenrola desenfreado como o desespero crescente na espiral destru va da vida daquelas pessoas, como elas chegaram até ali, como se tornaram o que são. Marcin se torna a ponte entre Leo, Wilson e uma nova realidade onde o dinheiro vem mais fácil e com bem menos trabalho: o crime. Eles começam com pequenas coisas. E tudo vai dando certo e, então, de repente, eles tem grana e a atmosfera toda muda, a câmara amplia, as luzes voltam, diminui o ruído, estão todos na praia, são uma família, conseguem se conectar, compreender, conviver. Talvez até amar. Mas isso é o que eles seriam se não es vessem sempre preocupados e pressionados. Talvez o melhor do filme sejam as reflexões de Leo como jus fica va de seus atos: “Qual a lógica do pobre quando ele rouba alguém que tem mais dinheiro que ele? Simplesmente tá querendo algo que ele não tem. Qual a lógica de um rico rouba o pobre se ele já tem? - A gente é educado pra não roubar, mas não é educado pra não ser roubado.” Não se sabe. De fato, tudo parece tão errado, tão fú l, tão idio zado que as pessoas se tornaram indiferentes as outras e se reduzem a busca cega por mais. Isso as pessoas que tem muito. As outras pessoas só buscam a sobrevivência da forma menos ruim ou arriscada possível. Elas buscam saciar a sanidade na saturação dos seus sonhos sangrados pela sociedade que suga sôfrega o sofrimento de muitos em detrimento da sa sfação dos mesmos poucos. Sempre foi assim. Mas a revolta que resulta em crime, por mais compreensível contextualmente, ela só resolve um problema individual e momentâneo. Se as pessoas conseguissem almejar uma solução permanente pra todos, que começasse, talvez, na priorização do humano em detrimento de todo o resto.
Gabriely Santos é jornalista e escritora, autora do livro "Mistura misteriosa de men ras mesmas" a ser publicado em 2016 pela Muruci Editor. A par r de setembro, estará assinando mensalmente uma coluna de análise cinematográfica com o Jornal de Artes. Os textos irão abordar o cinema do ponto de vista do Cinema Arte. Os textos estarão disponíveis tanto na versão impressa do quanto no site do Jornal de Artes.
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«Esse trabalho faz parte da produção de uma sequência de autorretratos produzidos em pintura. Par ndo de imagens encenadas que envolvem uma brincadeira com a representação de contos de fadas, onde interpreto um personagem significa vo que contém uma relação afe va à infância. Esta produção destaca a figura humana que assume outra personalidade e esconde-se entre uma intrigante e su l fantasia. O personagem é inserido em um ambiente branco e estéril que exonera a presença da figura representada, tornando-a ausente realidade. «
KaueNery De São Leopoldo, RS, nascido em 1995, Graduando de Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e selecionado para a 21ªSalão de Artes Plás cas da Câmara Municipal de Porto Alegre
«Enquanto seu lobo não vem» Tela de Kaue Nery. Acrílica sobre tela, 80 x 135 cm, 2015. Exposta no 21ªSalão de Artes Plás cas da Câmara Municipal de Porto Alegre Artes Plás cas | No cia
Aberto o 21º Salão de Artes Plás cas da Câmara Municipal de Poa Manu Raupp conquistou o prêmio principal do evento, que reúne 37 obras de 22 ar stas Por
Claudete Barcellos
de Porto Alegre/RS
Na data em que completou 243 anos, a Câmara Municipal de Porto Alegre abriu seu 21º Salão de Artes Plás cas no dia 6 de setembro, em solenidade no Plenário Ana Terra. Na cerimônia, foram divulgados os seis ar stas premiados, escolhidos entre os 22 selecionados para o evento, que reuniu 37 trabalhos até 7 de outubro. O Salão deste ano prestou uma homenagem aos 80 anos do pintor gaúcho Paulo Porcella, que não pôde comparecer à abertura, mas foi representado por sua filha, Helenice Porcella. Além dela, compuseram a mesa o diretor-geral da Câmara, Roberto Kraid, representando a Presidência da Casa; o secretário municipal de Cultura, Roque Jacoby; e o jurado Jorge Portanova. A porto-alegrense Manu Raupp venceu o Salão, levando o Prêmio Aquisição de R$ 8 mil com um desenho sem tulo elaborado em caneta e grafite sobre papel. Conquistaram os Prêmios de Incen vo à Cria vidade (de R$ 2 mil cada) os ar stas Alexandre De Nadal (arte digital), Bruno Borne (vídeo-arte), Carine Krummenauer (desenho), Fábio Vasconcelos (cerâmica) e Jander Rama (gravura). Nascida em 1987 na capital gaúcha, Manu Raupp é bacharel em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) desde 2010. Lançou o livro de desenhos Ambidestros, pela editora Azulejo Arte Impressa, e expôs os desenhos originais na Galeria Pop-Up Aura, em 2016. Realizou exposições individuais no Studio Clio (Gesto Lúdico, 2015) e no Espaço Cultural 512 (projeto A Arte da Boemia, 2013). Manu par cipou de cole vas no Ins tuto Estadual de Artes Visuais (Ieavi), na galeria Acervo Independente e no 20º Salão da Câmara Municipal, em 2014, quando obteve Menção Honrosa. Sobre o desenho vencedor, com dimensões de 30x91cm, e as outras duas obras da mesma técnica inscritas por ela no 21º Salão, Manu afirma: “O processo cria vo acontece através do diálogo entre desenho e pintura. Os trabalhos são resultados de ações espontâneas que têm como influência os movimentos desprendidos dos desenhos infan s. Os desenhos são compostos por formas livres e lúdicas, através das cores, dos traços e das sobreposições, inspirados na esté ca circense”.
ta: Av. Assis Brasil, Av. Azenha e Av. João Pessoa, arte digital, 2016); Bruno Borne (A1, vídeo-arte, 2015); Carine Krummenauer (três obras sem tulo, desenho em grafite sobre papel, 2015); Fábio Vasconcelos (Orgânico Emersão e Orgânico Profunduras, cerâmica, 2015); Jander Rama (Implante para Pedestres, Homem Modular, Tecnosereia Submarina, gravura, 2016) Demais selecionados: Cris ano Sant’Anna (fotografia), Daiana Schropel (objeto), Eduardo Andrejew (pintura), Kaue Nery (pintura), Lia Freitas (cerâmica), Lorena Steiner (pintura),Magna Sperb (escultura),Maísa Stolz (escultura),Marcelo Bordignon (pintura), Márcia Braga (objeto), Moacir Chotguis (colagem), Natalia Schul (fotografia), Raul Saldanha Pilla (cerâmica), Rita da Rosa (instalação), Thiana Sehn (pintura), Verlu Macke (objeto). Compuseram a Comissão de Seleção e Premiação os ar stas Anete Abarno, Renato Garcia e Jorge Luis Portanova. Eles analisaram os 144 por ólios inscritos, dos quais 30 foram pré-selecionados para concorrer à etapa final de seleção e à premiação, chegando aos 22 ar stas selecionados. Na avaliação dos trabalhos, os jurados levaram em consideração os critérios de originalidade, contemporaneidade e adequação sica e conceitual ao espaço exposi vo. Fizeram parte da Comissão Organizadora do Salão sete servidores efe vos da Câmara: Ana Maria Giro o, Cassiano Cesario da Costa, Cláudia Helena Cunha Inácio, Denise El Havat Pickler, Juliana Maia, Rosana Magali Mar ns de Castro e Simone Vicari Tarasconi. Este ano, o 21º Salão da Câmara prestou homenagem ao legado de Paulo Porcella para as artes visuais. O ar sta de 80 anos não pôde comparecer à solenidade desta terça-feira, mas esteve na Câmara na tarde de segunda (leia matéria da visita) . Nascido em 1936 em Passo Fundo (RS), Porcella chegou a Porto Alegre nos anos 50 para estudar Artes na Ufrgs. É pintor, gravurista e muralista, com trabalhos de grande destaque, como os oito murais in tulados O Caminho – uma visão renovadora dos jesuítas, na Unisinos, em São Leopoldo. Também se dedicou ao desenho, à aquarela e à restauração. Foi professor e diretor do Atelier Livre da Prefeitura. Junto ao Salão, no segundo piso da Câmara, está exposta sua pintura A Virgem de Mercy (2016).
A exposição Os ar stas premiados e demais selecionados para o 21º Salão es veram com seus trabalhos expostos na Câmara (Avenida Loureiro da Silva, 255) com entrada gratuita. O evento foi promovido e patrocinado pela Câmara e contou, nesta edição, com apoio do restaurante Atelier de Massas. Prêmio Aquisição Manu Raupp (sem tulo, desenho em caneta sobre papel, 2016); Prêmios de Incen vo à Cria vidade; Alexandre De Nadal (três obras da série Bã bié
Idealizado pelo ex-vereador, escritor e jornalista Josué Guimarães (1921-1986), o Salão da Câmara foi criado por lei municipal em 1952. Inicialmente aberto apenas aos ar stas gaúchos, funcionou até 1960, sendo rea vado em 1988, quando passou a aceitar a par cipação de candidatos de outros Estados e países. É realizado a cada dois anos, firmando-se como espaço de exibição para a arte contemporânea do Rio Grande do Sul.
FOTOGRAFIA
Título:
AUTORAL
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I
Florência Garcia «Pópi» Ribó
Valizas Uruguay A fotógrafa Florência Garcia «Popi» Ribó, expõe suas fotografias nos varais em Porto Alegre, Montevideu e Buenos Aires. Sua lente retrata paisagens urbanas e campestres compondo cenas entrelaçadas de poesia.
Título:
Recolhendo Cachibaches
Título:
Efêmeros Instantes
Título:
Montevideo Ciudad Vieja Uruguay
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Solução em Impressões Ltda Porto Alegre: (51) 3222 5862 Caxias do sul: (54) 3026 6464 Pelotas: (53) 3027 5202 www.fotophoenix.com.br
Fotografia | Exposição | 09
Santander Cultural reproduz em mostra a vida e a obra de
Simões Lopes Neto Exposição, que inclui uma experiência sensorial na entrada do grande hall, es mula o público a conhecer o mundo do escritor, o tempo da sua existência e o seu legado.
Por
Simões Lopes Neto – onde não chega o olhar prossegue o pensamento é o nome da mostra de artes visuais que o Santander Cultural realiza de 19 de outubro até 18 de dezembro. Com curadoria de Ceres Storchi, o projeto traz uma ampla visão da trajetória do escritor com registros de seu legado cívico, jornalís co, dramatúrgico, literário e pedagógico. Exposição traz um programa exclusivo e inédito de ação educa va com teatro, circo, cinema e seminário. A exposição compreende ainda a família, o universo mí co das Lendas do Sul por onde a obra de Simões transita e o regionalismo dos Contos Gauchescos. Vale destacar que, de maneira inovadora, o autor dá voz ao gaúcho, além de valorizar a história e a tradição do homem do campo e a própria formação do território do Rio Grande do Sul. Ao mesmo tempo em que ultrapassa tradições gaúchas com personagens densos, completos em suas peculiaridades, facilmente iden ficáveis em pessoas do co diano atual de diferentes regiões, o autor mundialmente reconhecido é fiel a uma cultura enraizada no povo do Rio Grande do Sul. Para Marcos Madureira, vice-presidente execu vo de Comunicação, Marke ng, Relações Ins tucionais e Sustentabilidade do Santander, “a obra e a vida do escritor remetem a valores e caracterís cas que o Banco busca transmi r aos visitantes em todas as mostras: inovação, pluralidade e contemporaneidade”. Para Walter Lídio Nunes, presidente da Celulose Riograndense, “promover a vida e a obra de Simões Lopes Neto é muito mais do que exaltar as tradições e a cultura gaúchas, embora estes já fossem mo vo suficiente para prestar-lhe uma homenagem. Simões Lopes Neto desperta nosso sen mento de pertencimento, nossa iden dade, e a convicção de que a nossa terra e a nossa gente ainda têm muito para encantar o mundo”. Já Silvio Bento, gerente de Cultura do Sesc/RS, para a ins tuição “apoiar as manifestações culturais significa promover a interação das comunidades com os fazeres ar s cos e incitar a curiosidade, o conhecimento, e a cultura na sua essencialidade, e as ações alusivas ao Biênio
Mariele Salgado
de Porto Alegre/RS
Simoniano estão atreladas diretamente a esses preceitos”. Simões Lopes Neto – onde não chega o olhar prossegue o pensamento é uma realização do Santander Cultural, Ins tuto Simões Lopes Neto e Sistema Fecomércio-RS/ Sesc, com patrocínio do Santander e CMPC | Celulose Riograndense por meio da Lei Rouanet, e parceria ins tucional do Governo do Estado do Rio Grande do Sul e das prefeituras de Porto Alegre e Pelotas, dentro das comemorações do Biênio Simoneano e Ano Simões Lopes Neto. Projeto e produção da Ato Produção Cultural. Composição narra va apresentada no grande hall e galerias térreas do Santander Cultural está dividida em dois eixos que convergem nas cartografias do próprio Simões e na cartografia do Blau Nunes. Blau é a forte herança deixada pelo escritor, o registro do po humano que desaparecia em um mundo em transformação, na paisagem do pampa e do mundo sulino. O projeto cenográfico insere o público nos odores e sons combinados com projeções que dominam os primeiros momentos da visita, na cidade de origem de Simões, a Pelotas da transição do século XIX ao XX, palco de sua existência. Ao longo desse percurso, aparece um o mundo do escritor e suas traquinagens na Estância da Graça, além de sua vivência do urbano e seu mundo de inúmeras a vidades culturais e diversificados empreendimentos. A rica documentação de diferentes acervos testemunha as diversas a vidades do escritor no âmbito da sociabilidade, do jornalismo, da visão cívica, do conhecimento da ciência, para além do seu talento literário. Sua produção teve, no efeito e ressonância póstuma, o reconhecimento do seu caráter inven vo e humanista. Ilustrações de Edgar Vasques, baseadas em personagens dos Contos e Lendas, foram especialmente desenhadas para a mostra, que traz documentos originais que atestam o reconhecimento e apropriação da produção do escritor pelo mercado editorial, universidades e outras ins tuições culturais. Já as cartografias, genealogias e interações em videowall, são recursos gráficos construídos para entender o espaço e as relações da produção e vida do escritor.
Artes Plás cas | Exposição | 10
“Meus Dias Intensos”: O olhar co diano da ar sta sob múl plas camadas de nta Cada tela como uma janela para a profundeza daquilo que fica depois de tudo, apesar de tudo Por
Marina Costamilan Rombaldi
de Caxias do Sul/RS
O conjunto de telas “Meus Dias Intensos” da ar sta visual Jaque Paule inaugura um novo espaço des nado à cultura em Farroupilha na Serra Gaúcha. O Espaço Kaffe Haus do empreendedores José Luiz Stockmanns e Elise e Dall`Onder Stockmanns, situado no centro da cidade, conjuga cultura e gastronomia. O trabalho escolhido para a abertura foi a série de telas abstratas da ar sta gaúcha Jaque Paule que desponta num pro cuo trabalho em diversas plataformas. O processo cria vo envolvido nesta produção segue um discurso peculiar, quase um grito. Tem início com os registros diários, em forma de pequenos desenhos abstratos, colecionados pela ar sta ao longo dos anos. Memórias de sonhos em traços, linhas, formas e uma infinidade de impactos que mesclam sombras, reflexos, sons e o que mais puder ser capturado por uma mente inquieta como a dela. A obra recente de Jaque nos leva por pequenas “lascas de luz na escuridão, coisas que morrem e nascem nas improváveis circunstâncias dos dias”. Horas cheias de letras, números e palavras, por alguma razão, desprovidas de significado. Isto faz parecer que nada está no centro do fato, como de fato está o olhar da ar sta.
Exposição “Meus Dias Intensos” Ar sta: Jaque Paule Local: Espaço Cultural KAFFE HAUS Rua Tira d e n t e s , 2 2 7 A | Farroupilha . RS Visitação em horário | Entrada Gratuíta Informações : José Luiz Stockmanns e Elise e Dall`Onder Stockmanns (54) - 9902 - 7681 | (54) 99634840 | (54) 34013820 Marina Costamilan Rombaldi | Escritório de Arte e Cria vidade JaquePaule | Caxias do Sul RS | (54) 35382768
Na trajetória da produção cria va nos conta Paule , está uma simbiose, um diálogo entre o inconsciente e pequenas cenas que são guardadas no seu imaginário pessoal. “Para mim são instantes simples, vaporosos nos quais é quase impossível se deter pontualmente, mas que me marcam profundamente, perfazendo um arquivo pessoal de detalhes do passar da minha vida”, define a ar sta. Os registros co dianos em fotografia, daquilo que assalta o seu olhar curioso, faz uma mescla de uma inexorável despreocupação com a beleza e sim com aquilo que simplesmente surge e por vezes atropela nossas emoções diárias, também estão expostos e nos dão o link para desvendar as pinceladas. A ar sta coloca cada tela como “janela para a profundeza daquilo que fica depois de tudo, apesar de tudo”. Convida-nos a vivenciar suas pincelas num movimento frené co onde o olhar, necessariamente, dadas as múl plas camadas de nta e composições estridentes, dança intensamente pelo espaço imaginado e proposto.
Análise | Artes Visuais | 11
A moral dos
Anjos Sem Caráter chegou ao fim
Por
Cloveci Muruci
de Porto Alegre/RS
Desenho “Querida, estou chegando com o jantar”, de Roberta Agos ni, parte integrante da exposição cole va “Iden dade do Desenho” exposta no Paço Municipal em Porto Alegre. Foto: Muruci Editor
O desenho de Roberta Agos ni, com o suges vo tulo “Querida, estou chegando com o jantar”, e integrante da exposição cole va “Iden dade do Desenho”, no Paço Municipal, em Porto Alegre, está exposto a visitação pública entre os meses de outubro e novembro. O traçado em crayon realista, insinua o profano da nova ordem em vigor, que se aproxima e fixa-se nas paredes do viver co diano, obriga olhar o diferente, o estranho, o comportamento condenado pela grande maioria, e execrado na fala do dia a dia. O inicio do século XXI propõe-se promissor. O que virá subs tuir o pós moderno, já agonizando dentro das suas próprias entranhas. Tudo o que virá, parece que nos indicar: nada mais será como antes. E se antes o sensual só era permi do desde que submerso na clandes nidade hipócrita, ou talvez, no tom neutro dos aposentos - ensinada e subjugada - no catecismo das esquinas com torres. A ar sta ousadamente informa sobre o desejos, que a par r desse novo século vai ser assim, rigorosamente explicito, não mais submisso ao interesse de uma moral conduzida pela classe média enferrujada. Diz a ar sta, nas entrelinhas, quanto menos pudor melhor.
A liberação dos costumes, assombraram os puristas nos anos sessenta, com o advento da mini-saia e o maiô de duas peças, Leila Diniz, pode mostrar-se grávida na praia de Ipanema. Foi o começo, mas sempre haverá comportamento ignominioso quando o novo se apresenta sem aviso prévio. Hoje as mulheres saem às ruas, usam máscaras contra militares armados de cassetetes e gás de pimenta, enfrentam balas de borrachas que as segam às vezes. Parece não haver mais medos nos olhares. Essa coragem se insinuava desde o final do século XX. Ao longe se podia ouvir a gritaria: Basta de hipocrisia. Fingiram ignorar a mensagem que vinha em códigos, a moral dos anjos sem caráter esta chegando ao fim. Está decretado a falência do atual estado de coisas, ou a total ausência de sensatez. Ouve-se sussuros indecentes atrás das cor nas das alcovas bem comportadas. O sincero nas relações humanas não está mais em discussão; é uma exigência. O novo conceito já chegou sem dar ouvidos às velhas normas que conduziam prazeres a serviços do obscuran smo dos cleros caducos. O homem que sai das águas, nú, com um feixe de pescados em uma das mãos, na outra uma garrafa de vinho e se oferece ao jantar sem qualquer pudor. Acabou a farça!
Literatura | Poesia | 12
Poemas da Juventude Por
Clauveci Muruci
de Porto Alegre/RS
Os versos de Marcos Fernadez Oliveira Cunha expostos nesse volume, pela primeira vez, traduzem em sua essência, uma determinação demorada no tempo. Ao se saber que os versos foram compostos na juventude, e somente agora se escancaram ao olhar do público, podemos nos perguntar porque de tanto tempo ficaram guardados? Qual mo vo jus ficou a proteção dos versos de amor? Quem pode decifrar tal mistério? Talvez nem o poeta saiba dizer. Mas, tomada a coragem, o que importa é que os versos nos chegam em forma de livro, e se tornam universais, deixando de ser um segredo exclusivo de Marcos Fernandez, para ser de todos nos. A poesia que Fernadez nos apresenta, nesse “Poemas da Juventude”, nos indica a linha român ca na sua função esté ca. Esse poeta usa da metáfora lírica para falar da concepção do mundo, em um arranjo formal livre, ao sondar o interior da matéria poé ca, sugerindo emoções vívidas, com projetos atmosféricos de um sistema metafóricos em boa poesia. A temporariedade visível nesses versos, “águas de março” indicam que essas águas escorrem na sarjeta e sugerem “melancólica balbúrdia” ao trazer vozes de um tempo perdido. Que tempo é esse que nos fala o poeta? Que vozes são essas que escorre nas sarjetas com as águas de março? A metáfora nos indica que houve um tempo; houve “vozes perdidas” houve palavras de amor, “na garupa do passado”. Marcos Fernandez é um poeta que se encarrega de ser lírico. Escorrega versos do seu interior, da sua lógica insensata de escrever e viver os versos da juventude. O poeta nos fala em “águas” , nos fala em “mar” em “sorrisos”, procura poesia que tenha rimas com amor. É um poeta que se expõe em total solidão, como todos os demais poetas. Porém quer sua voz lírica exposta ao desconforto de ser descoberto em sua totalidade, desnudado em sua dor, em sua alegria, talvez, de se revelar poeta.
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Literatura | Conto | 13
Sen dos Por
Gabriely Santos
de Cachoeirinha/RS
O conto «Sen dos» faz parte o livro de estréia da jornalista Gabriely Santos «Mistura Misteriosa de Men as Mesmas», publicado pela Muruci Editor, que terá sessão de autógrafos durante a 62ª Feira do Livro de Porto Alegre, no dia 10 de Novembro, Quinta-feira, as 20h, na praça central de autógrafos. Mais informações podem ser encontradas no site da Muruci Editor [www.murucieditor.com.br], na sessão de autores, livros e na loja virtual
Imagina se um dia a pessoa vesse acabado de voltar de um sonho - um sonho lindo, que nha parecido uma longa viagem e, de repente, ela voltava pra realidade e não era nada daquilo? Tinham se passado cinco anos em que ela estava em apressada apa a. Sem dinheiro, sem trabalho, sem ter nada e nenhuma perspec va. O que ela faria? Quando não consegue mais reter os sonhos na re na, mas outra coisa, uma resina de sono, resistente e rasgante es vesse encobrindo todos os calores táteis da vida. Não sen a mais gosto. Nem cheiro. Os sen dos que a pessoa nunca perde, ainda que muitas nunca desenvolvam o tato. Apenas via e ouvia. E nada comprovava que sua existência não era um eixo bidimensional de filme. Só via e ouvia. Só falava e nada sen a. Tocar também pouco adiantava. Como nha chegado aquele ponto? Sabia que não devia ter usado tantas drogas. Mas isso não nha nada a ver com elas. Será que deveria voltar pra terapia? A terapia serviria pra revirar o cérebro, as memórias - arrombar o subconsciente com palavras e tentar profanar o menos possível desse território profundo e inexplorado. Onde devia estar escondido algum mapa com o seu caminho de volta. O caminho pra saber como é sen r algo palpável, tatear as paredes escuras dos aposentos fechados, cuidar os degraus, assim, sem sen r os pés no chão, qualquer passo no escuro e poderia precipitar um precipício. Dentro ou fora. O nome pelo qual lhe chamam parece familiar aos ouvidos, mas não move nada dentro de seu espírito. Como se a alma fosse um cachorro destreinado aos chamados dos donos, precisava se reeducar pra aprender aquele novo nome. Nessas horas queria ser um gato. E nunca se reduzir a reflexo dos sen mentos jogados em si. E nunca ter que pegar a bola quando alguém jogava. Fosse a bola um "vai trabalhar", "sua vez de lavar os pratos", "preciso de dinheiro emprestado" ou "eu te amo". - Parece que não ouve!- reclama sua mãe. - Tá bom o omelete? Olhou para o ovo ainda quente com pedaços de queijo e cebola misturados com a coisa homogênea, mais ou menos sólida, branca e amarela na sua frente. Colocou uma garfada sem vontade na boca. Mas gando e mascarando o gosto que não sen a: - Está ó mo, mãe. Obrigada. Lembrava como era o gosto e imaginava que estava sen ndo. Era preciso. Era assim que recriava a cada segundo a reação que as pessoas esperavam dela. E submergia na inverdade subje va e suja de sujeito a que seus sen dos nada se sujeita, mas reage como se sujeitasse, logo, se sujeitando. E voltando sempre a zona zero. Men a, ainda assim, o resultado era verdade. Quando a pessoa se engana, ela credita que engana todo mundo, mas se torna o próprio engano. Ou talvez devesse tomar aqueles remédios pra depressão mesmo. Nem o sol parecia quente o suficiente. Não que sen sse frio, na ver dade, as coisas não despertavam as sensações como antes. Quando colocava casaco ou usava um chinelo era por observar os outros assim fazendo. Também as cores eram tão indiferentes que suas combinações de peças no corpo estavam bem estranhas, porque tudo era opaco e oposto a vida. Temia que em um arco íris só veria vários tons pálidos de azul, vermelho e verde. Tinha perdido a intensidade - e, com ela, as combinações de ma zes que tornava as cores infinitas. Tudo era estranho e sem estrelas na estrada estreita em que estava. Era como se ver presa em um filme que nem se gosta - daqueles que não se enleva pelo enredo, um terror dos anos 30. Presa em Gaslight. Presa naquele período de tempo em que a noite morre, mas o sol ainda não nasce e o mundo é preto e branco. As cores do dia ainda não se distribuiram com a luz, isso tudo era dali a pouco. Entre fantasmas projetados e fantoches protegidos. Saiu de casa - aparentemente a mãe nha lhe arrumado um trabalho de empacotadora no mercado. Passar o dia de pé e tentar sorrir algumas vezes não impediu de pensar e pesar obs nadamente as coisas que aconteciam. No sonho era viva. E agora não exis a ninguém pra quem perguntar o que havia acontecido, qual era o denominador comum de todas aquelas a tudes e la tudes aleatórias que tomaram conta de seu des no. A úl ma coisa que se lembrava era dormir no sofá, apá ca e apavorada depois de mais uma reportagem sobre a crise. Crise moral ou mortal? O país certamente não morreria, mas pensava no resultado daquele ócio dos jovens que roíam os ossos da carcaça cheia de ácares e arcaísmos do cansaço dos pais e do país. Aquela amálgama de amarguras e amores amaciados ao sabor do amadorismo da gente. Por que tão susce vel as surpresas dos suspiros suspeitos dos outros? Por que estava tendo aquele sen mento de apego tão apertado e limitante com o próprio quarto, com as suas paredes, a parafernália que preenchia todo o panorama daquele mundo seu, insustentável e insuportável. Passava dias com os processos prontos e programados e nunca progredia porque não mudava de ponto. Agora que não sen a gosto, sen a desgosto. De não poder virar uma cerveja com toda a certeza da onda. Nem que a onda recuasse em maresia no outro dia, que falta fazia! Falta de acreditar que no nível certo de onda todas as outras ondas seriam interceptadas e captadas em uma catarse, canalizadas e cantadas. Ainda que quase nunca acontecesse. Mas era inú l, morrer na vida, não era viver no sonho. E teve que encarar obje va e obs nadamente as coisas que lhe eram negadas. E imaginou o gosto dos morangos, das laranjas, dos bolos, carnes, pães, pizzas e sushis. Tentou encher seu saudosismo de significado. Se esforçou pra recriar mentalmente o efeito que os beijos nham, aquele mistério mis co que misturava tudo. Que amor-tecia. Ou vontade, que fosse, não se pode sempre querer a dissolução, as vezes era só a solução pra desilusão. Não importa, precisava de um acontecimento grande que a despertasse. Maldição de século de excessos, mil figurantes chafurdam em sangue antes da gente sen r raiva, mil transas loucas antes do casal concluir que nem se amava, quantos animais só ganharam proteção depois de entrarem em ex nção e quando isso aconteceria com as pessoas que usavam, de fato, o coração? Agora que elas, cada vez mais, precisavam se esconder. Raça ex nta, entre os rasos, os raros se escondem. Não adiantava nada daquilo. Só podia recriar até acreditar. Até que, um dia, talvez, pegasse a estrada de novo. De onde, um dia, quem sabe, voltasse com a mala cheia de histórias, de como redescobriu tudo, como traz novos olhos. E, então, finalmente, como Chris McCandles depois da saga e pouco antes da morte em Na Natureza Selvagem, soube que os sen dos só faziam sen do compar lhados mesmo. Como Sartre já saturava a gente dizendo: só existe um eu em comparação, conforto e conflito com um você. Do contrário é a gente gritando pro nada, esperando o eco (cego) do ego.
Jaque Paule , autora e Ilustradora de «Os Papeluchos Comedores de Cores». Foto: Acervo pessoal
Literatura | Infan l
“Os Papeluchos Comedores de Cores” Mais recente livro infan l da ar sta plás ca Jaque Paule , publicado pela Muruci Editor, traz novas aventuras dos Seres de Lá, em referência a primeira publicação da autora Os “papeluchos” são monstrinhos devastadores que acabam como as cores dos desenhos das crianças. É para solucionar este problema horrorosamente descolorido que a Fada Cin la vem lá do Reino de Lá. E assim vai se dando a novo conto infan l da autora e ilustradora Jaque Paule . A ar sta Ingressou na literatura infan l com a obra “ O Reino de Lá a Mala de Mirabolar” e desde então não parou com o trabalho no segmento. Vale um mergulho na fantasia dos “seres de lá” e nas ilustrações que mesclam técnicas e es los. Jaque terá sessão de autógrafos do seu mais recente livro durante a 62ª Feira do Livro de Porto Alegre, no dia 06 de Novembro, Domingo, as 20h, na praça central de autógrafos. Mais informações sobre o novo livro da autora e o livro anterior, podem ser encontradas n o s i t e d a M u r u c i E d i t o r [www.murucieditor.com.br], na sessão autores, livros e na loja virtual.
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Pinturas | desenhos | gravuras | esculturas | joias-esculturas | restauros | molduras
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Lançamentos e autores da Muruci Editor em 2016 Sessão de Autógrafos | 62ª Feira do Livro de Porto Alegre
www.murucieditor.com.br
Os Papeluchos Comedores de Cores Autora
Mistura
Misteriosa de Men ras Mesmas
Autora
Gabriely Santos
10 Novembro | 20h Quinta-feira
Jaque Paule
06 Novembro | 20h Domingo
Autor
Marcos Fernandez Oliveira Cunha
11 Novembro | 18h Sexta-feira
A nova
Estrada
Autora
Maria do Carmo Silveira
12 Novembro | 15h
Mudança
de Conceito
Autora
Susi Anéris
15 Novembro | 16h Terça-feira
Sábado Novela
ve ira Susi Anéris
Ca rm o Sil
de Conceitos
Mudança
Maria do Carmo Silveira
A Nova
Estrada
Ma ria do
Susi Anéris