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Carlos Madeira: os vislumbres de cor e forma Agnaldo: os sonhos e a persistência no esporte
Meu amigo Agnaldo Alves Silva é o típico brasileiro multitarefas: atleta, profissional, pai de família e estudante de Educação Física. Ele sonha em viver do esporte e ensinar para as novas gerações o bem que a prática de uma modalidade esportiva pode fazer na vida da pessoa. Como bem diz ele, o esporte nos resgata e pode impedir que muitos jovens se percam no mundo das drogas e da criminalidade.
Roberta Gontijo Teixeira
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Reza a lenda que “quem não conhece a própria história, não é digno da história que tem”. Temos acesso a informações do mundo inteiro em nossas mãos e, às vezes, conhecemos muito pouco do nosso entorno, dos nossos feitos e dos nossos heroicos personagens locais.
João Carlos Madeira é um artista plástico autodidata, atua na área de Artes Plásticas desde os 20 anos. Esse grande artista bom-despachense já realizou trabalhos importantes como o CatálogoAleijadinho.
Carlos participou de exposições nacionais e internacionais em países como França, Alemanha e Finlândia.
As Artes Plásticas, como toda arte, têm papel importante de difundir e representar a cultura de um povo. A maneira de expressar do artista em suas telas é muito peculiar de formas variadas, seja ela no figurativo e no abstrato. Cada um eterniza suas ideias de forma plástica, exemplar, instrutiva, dentre outras manifestações.
Carlos começou a tomar gosto pela arte já na infância. Com uns cinco anos já fazia seus primeiros desenhos. Sem condições de estudar numa escola de Artes, teve de desenvolver sozinho seu método artístico. No início, era apenas desenho e lápis, inspirando-se na figura humana.
Com o passar dos anos, percebeu que poderia ir além do desenho. Passou a pintar OST (óleo sobre tela) e, para desenvolver seu estilo, foram anos de pesquisas e testes. Criou métodos de desenhos, mistura e combinações de cores. Apaixonou-se pelo realismo. Em meio a pinceladas suaves, surgiam os retratos, a maioria para galeria. Teve também o prazer de pintar uma série: homens do campo, seus modos, seus costumes, trabalho e vivência simples que se tornaram imortais em suas telas.
De uns anos para cá, aventurou-se em novas experiências. Foi então que descobriu na acrílica um jeito gostoso de brincar de arte. Sendo assim, com espátulas e cores vibrantes deixou seus fiéis traços se soltarem naturalmente.
E assim, Carlos vai vivendo de arte e pra arte, ensinando e compartilhando todo seu aprendizado e conhecimento com pessoas que se dedicam à arte de pintar. O que Paulo Francis disse sobre Mondrian aplica-se à obra de Carlos Madeira:
“Mondrianquerfechartodos osburacosdapercepçãovisual de maneira frontal e plana, respirandocomsualinhaecor. Terminouemcores,soltasno espaço, as barras desaparecem, chegam à quaseinvisibilidade,vocêestá dentro de um novo universo queelecriou.Algumaspessoas sentem-se instintivamente atraídas por essa reorganizaçãomatemáticado mundo que depois se liberta dequalquerpresilha,comose fosseumsóvislumbredecore formaquetemosdeumtrem ou carro em alta velocidade, ounumalenteforte,quetudo distorce, encontrando a própriaharmonia”.
O Esporte em Bom Despacho, nos últimos anos, vem crescendo muito em todas as modalidades: bike, corrida, luta, natação, dança e outras. Isso é resultado do empenho dos atletas e das servidoras públicas Roberta Neves, Aliny Diana e tantos outros que estão à frente da Secretaria de Esportes do município há alguns anos.
Nem sempre foi assim. Esse boomesportivo deu-se apenas recentemente. Mas, como em todas as áreas, sempre existem os pioneiros. Agnaldo é um deles. Abriu passagem para muitos. Desconhecido pela maioria, mas dono de grandes feitos, ele é um ultramaratonista, vencedor de provas nacionais e internacionais, filho de Bom Despacho e com os dois pezinhos fincados logo ali, no Engenho do Ribeiro.
Agnaldo Alves Silva - filho de Donizete Mendes Alves e Luíza Maria da Silva, neto do Quentão, a quem considera um segundo pai, e bisneto do Sintico - é um atleta incrível, que coleciona patrocínios, títulos, medalhas, troféus e já correu nos lugares mais adversos e inimagináveis, acumulando experiências e vitórias significativas para a nossa cidade.
Nascido em 25/03/1982, ele é irmão da Graziele e do Léo, casado com Lilian Santos Pimentel Silva, com quem tem dois filhos: Marcelo, de 10 anos, e Clarice, de 4. Viveu em Bom Despacho até os 9 anos, quando mudou-se para o Engenho do Ribeiro, onde começou a sua história com o esporte.
Numa corrida de rua, realizada dia 7 de setembro de 1991, com alunos das diversas escolas de Bom Despacho, ele foi sorteado para participar representando sua escola do Engenho do Ribeiro.
À época, do alto dos seus 9 anos, Agnaldo, eufórico com a oportunidade, passou a treinar diariamente. Corria 4 quilômetros todos os dias, da escola até a casa da avó, a fim de se preparar para o grande dia. Chegado o momento, descobriu que o trajeto limitava-se a um simples quarteirão. Não deixou a peteca cair. Participou, representou o Engenho e conquistou o terceiro lugar na competição. Não parou mais. Participou, ainda em Bom Despacho, de uma corrida em comemoração aos 35 anos do Banco do Brasil e, como aqui as corridas de rua eram escassas naqueles idos, foi levado pelo tio Roberto para participar de alguns eventos fora da cidade.
Em 2001, sem condições financeiras para fazer uma faculdade, foi selecionado, através do Tiro de Guerra para, junto com diversos outros alunos Brasil afora, compor os quadros do Exército Brasileiro. Destacado para o 1º Batalhão de Forças Especiais do Exército, viveu por mais de nove anos na cidade do Rio de Janeiro, experienciando as muitas oportunidades que lhe foram apresentadas. Fez curso de Resgate, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, curso de Montanha, curso de Sobrevivência na Selva, em Manaus, chegando, inclusive a fazer parte da tropa de elite de paraquedistas do Rio de Janeiro.
O esporte ele nunca perdeu de vista. Participou de duatlos, triatlos e até descolou um terceiro lugar num pentatlo (cinco modalidades esportivas) que foi realizado entre Marinha, Exército e Aeronáutica.
A corrida sempre foi sua paixão e tanto fez que, após a conquista do 3º lugar no pentatlo, foi aceito na equipe de corredores do Exército. Nessa equipe bateu o recorde dos oito quilômetros em 2007 e, no ano seguinte, bateu seu próprio recorde, que nunca chegou a ser quebrado, já que a equipe de corredores do Exército foi extinta.
Em 2009, Agnaldo deu baixa no Exército como cabo e voltou para Bom Despacho. A partir de então, ele achou aqui novo trabalho, casou e luta para dar vida digna à sua esposa e a seus filhos, mas não desiste de viver do Esporte.
Sua trajetória e os feitos por ele acumulados são incríveis.
Como corredor de rua e de prova de aventura, sempre sonhou em participar de uma ultramaratona, mas não tinha currículo para tal, era necessário cumprir algumas exigências. Foi então que o amigo Marcelo (Mamá), hoje dono da empresa Labcom, em Belo Horizonte, resolveu ajudálo financeiramente, patrocinando-o nas tão sonhadas provas.
Em 2014 ele correu 80 quilômetros na prova La Mission, em Passa Quatro-MG. Em fevereiro de 2015, ainda com a ajuda do amigo Marcelo e da Secretaria Municipal de Esportes de Bom Despacho, fez, novamente, a La Mission, desta vez na Argentina. Com a realização dessas duas provas, já estava apto a inscrever-se na tão sonhada ultramaratona.
Assim, ainda em 2015, fez a sua primeira ultramaratona, que se chamava Ultramaratona dos Anjos, uma prova de 235 quilômetros, ficando na terceira colocação. Em fevereiro de 2016 participou do Ultra Desafio em Passa Quatro, alcançando a 4ª colocação. Em 2016, veio sua segunda Ultramaratona dos Anjos, categoria Survivor, correndo novos 235 quilômetros, já com o patrocínio da companhia francesa Salomon, onde foi campeão.
Agnaldo, meu amigo, brasileiro e persistente, segue vida afora participando e promovendo corridas.
Em 2019 venceu o Ultra Desafia Passa Quatro, 120 quilômetros e o campeonato dessa modalidade, com uma vitória, um segundo e um terceiro lugar. Em 2021, voltou a fazer os 235 quilômetros da Ultramaratona dos Anjos, ficando na segunda posição. Em 2022, com a pandemia assolando todo o País, deixou de ser patrocinado pela Salomon.
Sonhos, ele ainda tem muitos, um deles escalar o Aconcágua. Hoje, cuida da família, treina corredores iniciantes na nossa cidade, estuda Educação Física pela Universidade Federal de Brasília e é o atual presidente da Correbom, Associação de Corredores de Bom Despacho.
Desde 2022, ao reencontrar o amigo do Exército, Henrique, montou uma empresa a qual deu o nome de Redwings Adventure e sonha promover corridas de aventura em toda a região e, porque não, em todo o País. A primeira corrida já vem sendo idealizada e organizada. Ele quer que seja no Engenho do Ribeiro, onde estão suas origens familiares e, onde tudo começou.
Como disse antes, Agnaldo é o típico brasileiro, desses que a gente tem orgulho, que guerreia honesta e bravamente para viver do que ama, para praticar o que acredita e espalhar mundo afora um hábito que faz tão bem: o esporte.
Acho essencial conhecermos e sabermos um pouco da vida e da luta de pessoas como o Agnaldo. Primeiro para apoiarmos, valorizarmos e nos inspirarmos. Segundo porque, como bem diz a frase, “quem não conhece sua história, não é digno da história que tem”. Em nome do Agnaldo aplaudo todos os atletas, brasileiros, mineiros e bom-despachenses, amadores ou profissionais que, mesmo tendo que ter uma profissão paralela, não desistem do sonho de viver do esporte.