JA Magazine | Agosto 2011

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MAGAZINE PARTE INTEGRANTE DA EDIÇÃO N.º 2840 DE 1 DE SETEMBRO DE 2011 DO JORNAL DO ALGARVE E NÃO PODE SER VENDIDO SEPARADAMENTE

João Porfírio

Banho Santo



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Exposição "Arte Submersa" prolonga-se até 25 de setembro

Museu de Portimão sugere experiência no fundo do mar

A exposição "Arte Submersa", uma mostra com cerca de 200 esculturas moldadas à mão, que simulam objetos retirados do fundo do mar, foi prolongada até 25 de setembro devido ao grande interesse que tem suscitado no Museu de Portimão

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ace ao sucesso obtido, o Museu de Portimão decidiu prolongar a temporada da exposição "Arte Submersa" até 25 de setembro, visando proporcionar a um maior número de visitantes a oportunidade de verem as duas centenas de peças moldadas à mão pelo suíço Sylvain Bongard e pintadas com uma mistura de vidrados naturais. Na escolha das esculturas, o artista centrou-se em objetos do quotidiano, desde os mais modernos até aos que já caíram em desuso, ampliados e esculpidos como se tivessem saído do fundo do mar, ao mesmo tempo que sugerem formas fantasiosas.

A ação do mar e a passagem do tempo são os elementos inspiradores desta mostra de Sylvain Bongard, radicado no Algarve há cerca de 40 anos, e em que objetos simples do nosso dia a dia adquirem uma segunda vida, outras formas, cores e texturas, sugerindo um regresso ao fundo do mar. Por outro lado, encontra-se patente até 11 de setembro a exposição "O Fantástico Mundo das Formas e Seres Marinhos", relativa ao programa de Férias de Verão no Museu de Portimão, dirigido a jovens entre os sete e os 12 anos. A mostra resultou de oficina educativa para

ocupação dos tempos livres das crianças, com um conjunto de atividades pedagógicas de caráter lúdico relacionadas com a envolvente marítima de Portimão.

Museu convida a conhecer património local Mas as atrações do Museu de Portimão não se ficam por aqui. Distinguido com o Prémio Conselho da Europa e situado numa antiga fábrica de conservas, este espaço convida a conhecer o património histórico, etnográfico

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e industrial de Portimão, através da exposição permanente "Portimão - Território e Identidade". Esta é uma mostra onde se apresentam os principais momentos da sociedade local a nível histórico, geográfico e natural, ao mesmo tempo que são evocados os muitos cruzamentos de povos e culturas que passaram pela região. A partir desta quinta-feira, dia 1 de setembro, o Museu de Portimão abre as portas à terça-feira das 14h30 às 18h00, e de quarta-feira a domingo das 10h00 às 18h00. N.C.



Videversus: 20 anos de rock & roll

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Nasceram em 1991, em Vila Real de Santo António, mas continuam a ter mais sucesso em Espanha do que no nosso país. Em setembro entram em estúdio para gravar um disco onde irão recrear temas de rock & roll e de doo-wop das décadas de 1950 e 1960. O disco será lançado no país vizinho e irá nascer pela mão de uma editora espanhola

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orria o ano de 1991 quando um grupo de cinco amigos decide formar, em Vila Real de Santo António, a banda Videversus. No mesmo ano, Tó Palermo, atualmente o único sobrevivente da formação inicial, é convidado para integrar o projeto como vocalista. Passados 20 anos, e depois de muitas entradas e saídas, a banda mantém-se no ativo e com um objetivo: divulgar o rock & roll entre as gerações mais novas. “Começámos com algumas atuações em bares, onde cantávamos alguns originais, mas principalmente covers de outras bandas, e numa altura em que praticamente não havia grupos em Vila Real de Santo António”, recorda Tó Palermo, que acabou por assumir a liderança do grupo em 1995, após a desistência da maioria dos membros da formação inicial. “Sempre fui muito persistente”, assevera, ao mesmo tempo que recorda ter comprado o primeiro disco, um dos “Beatles”, com a apenas de 10 anos, o qual acabaria por o levar a descobrir, desde muito cedo, outros grandes nomes da música. “Com esse disco dos Beatles apaixonei-me pela música anglo-saxónica e, aos poucos, fui descobrindo nomes como Elvis Presley, Chuck Berry, Jerry Lee Lewis e todos os que formam o vasto leque de mitos do rock & roll e que, de certa forma, acabaram por ser a razão de ser dos Videversus”, conta Tó Palermo. Apesar de possuírem alguns temas originais, os espetáculos dos Videversus têm como base covers, precisamente, daqueles grandes mitos da música.

Passar a mensagem às gerações mais novas “Gostamos de passar a mensagem do rock & roll às gerações mais novas e temos notado que muita gente jovem começa a creditar que vale a pena ouvir este tipo de música. É muito aliciante ver miúdos com 15, 16 ou 17 anos, que já nasceram noutra geração e a ouvir outro tipo de música, virem ter connosco, dizer que gostaram e a dar-nos ânimo para continuar”, conta o vocalista dos Videversus, recordando que “o rock & roll foi o responsável pela explosão musical que se viveu nas últimas décadas e faz parte da História”. Outra das particularidades dos Videversus é a quantidade de músicos que já passou pela banda ao longo destes 20 anos. E foram muitos. “Costumo dizer que o grupo Videversus é uma escola de músicos e também uma família. E como em qualquer família, as pessoas cres-

Os Videversus espalham a “mensagem” do rock & roll há duas décadas

cem e saem para procurar uma vida melhor”, considera Tó Palermo, ao mesmo tempo que recorda alguns deles. “O Hugo Rosa foi um dos primeiros bateristas desta segunda fase e agora está de volta. O Marco Reis, atual guitarrista dos Klepht chegou aos Videversus com 15 anos e esteve sete anos connosco. Tivemos um teclista espanhol, o Manu, que foi a alma do grupo e quem nos ajudou a alargar ainda mais o nosso repertório. O Nélson Ramiro, da banda Uns & Outros, também fez parte dos Videversus...”, lembra Tó Palermo.

a Nádia Catarro e a Cláudia Gaspar. Apesar de serem algarvios, os Videversus têm tido mais sucesso em Espanha do que na região que os viu nascer. À exceção dos escassos espetáculos no concelho de Vila Real de Santo António, como aconteceu, por exemplo, na festa de passagem de ano de Monte Gordo e como vai acontecer esta semana nas festas da sede do município, a maioria das atuações tem lugar na Andaluzia e na Extremadura espanhola, onde a banda costuma integrar os cartazes de festas de várias localidades e de encontros de rock & roll e de rockabilly.

Sucesso em Espanha

Disco na forja

Atualmente, e além de Tó Palermo (voz), a banda é constituída por Fernando Evaristo (baixo), há 11 anos no grupo, André Ramos (guitarra), que está há oito anos nos Videversus, aos quais se juntaram recentemente Ângelo Viegas (teclas) e Hugo Rosa (bateria), que representam dois regressos. Este ano, a banda decidiu aumentar o número de elementos e acrescentou as vozes de três raparigas: a Raquel Gonçalves,

“Tanto aqui como noutros concelhos, as pessoas deveriam olhar mais para o que têm na sua terra,. E não falo só por nós. Há muitos miúdos que estão a começar a aparecer com bandas e que têm bastante qualidade. Mas continua-se a apostar muito nos grandes nomes, que cobram muito dinheiro...”, lamenta Tó Palermo, frisando que os espanhóis “gostam de rock & roll e identificam-se com a banda”.

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Aliás, este sucesso no país vizinho é também a explicação para o facto de os Videversus se estarem a preparar para gravar o seu primeiro disco em Espanha e através de uma editora daquele país. A banda vai entrar em estúdio no final do mês de setembro para começar a gravar um trabalho que será baseado em covers de bandas de doo-wop das décadas de 50 e 60 do século passado. “O vocalista da banda espanhola de doo-wop The Dreamers vai ser o produtor e vai ajudar a dar ao nosso som características diferentes daquilo que é normal ouvir por aqui. Por isso é que acrescentámos este ano as vozes femininas ao grupo”, explica Tó Palermo, adiantando que a maior parte do disco “será composta por recreações de músicas dos anos 50 e 60, de bandas que foram ficando um pouco esquecidas, mas com sonoridades do século XXI” . A outra parte do disco deverá incluir os referidos temas originais dos Videversus, também cantados em inglês. Domingos Viegas


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Manta Rota continua a reviver o “banho santo” A

localidade da Manta Rota, no concelho de Vila Real de Santo António (VRSA), voltou a reviver a tradição do “banho santo”, realizado anualmente no dia 29 de agosto, por ocasião das Festas de São João da Degola. Noutro tempos, este era o dia em que as gentes oriundas da serra algarvia se deslocavam até à praia, acompanhadas dos seus animais de carga, para “dar banho”. Para não deixar morrer a tradição, a associação A Manta, em colaboração com a Câmara de VRSA, Junta de Freguesia de Vila Nova de Cacela e outras entidades, continua a fazer a recriação histórica do evento, em pleno areal. Aí, é também efetuado o tradicional piquenique, atraindo centenas de curiosos que, todos os anos, são surpreendidos pela encenação. Recorde-se que o nome destas festas (São João da Degola) assinalam a data em que, segundo a tradição, São João Batista foi degolado. Foto-reportagem de Joel Romeira

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Espetáculo de rua animou tradicional Festa do Banho 29

As "bestas" andaram à solta em Lagos

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espetáculo de rua "Bestiário" trouxe muita animação visual à cidade de Lagos, no passado dia 29 de agosto, juntando milhares de pessoas na Praça do Infante e Avenida dos Descobrimentos. Com a assinatura do programa Allgarve, este espetáculo de rua foi o ponto alto da tradicional Festa do Banho 29 em Lagos. A praça e avenida da cidade foram invadidas por animais mitológicos que representavam os quatro elementos (fogo, ar, terra e água), enquanto a banda sonora e os efeitos especiais personalizados com pirotecnia, fogo real, efeitos de água, fumo e bolhas completaram a atmosfera do "Bestiário". A Festa do Banho 29 transformou-se há muito numa manifestação de caráter popular e é um dos principais eventos culturais do município de Lagos.

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Mais de 1500 peças em exposição dão a conhecer história do "instrumento do povo"

Primeira Casa do Acordeão do país nasce em Paderne

Instrumento com grande tradição musical no Algarve, o acordeão tem agora uma Casa Museu em Paderne, no concelho de Albufeira. Trata-se do primeiro espaço deste género existente em Portugal, que pretende valorizar este instrumento representativo da cultura popular. A Casa Museu do Acordeão apresenta mais de 1500 peças, entre acordeões, fotografias, cartazes e vestuário

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ra o centro das atenções nas festas e bailes no passado, mas ao longo dos anos foi perdendo o lugar de destaque, sobretudo junto dos mais jovens. Ainda assim, muitos algarvios - desde os mais novos aos menos novos - teimam em não deixar morrer esta tradição e optam por aprender este instrumento. E alguns até se tornam campeões nacionais e mundiais...! Ao mesmo tempo, um pouco por toda a região continuam a organizar-se festivais, festas, concursos e bailaricos ao som do acordeão, muitas vezes sem mais nenhum acompanhamento musical. Este instrumento musical secular ganha agora um novo fôlego, com a inauguração, no passado dia 20 de agosto, da Casa Museu do Acordeão, na freguesia de Paderne, concelho de Albufeira. O espaço, que foi inaugurado pela autarquia no âmbito das comemorações do Dia do Município, situa-se ao lado da Sociedade Musical e Recreio Popular e tem como principal objetivo dar a conhecer a história deste típico instrumento da região algarvia. Nesta Casa Museu do Acordeão, os visitantes podem encontrar mais de 1500 peças em exposição, entre acordeões, registos sonoros, troféus, fotografias, cartazes, quadros e vestuário, tornando-se assim na primeira "casa do acordeão" existente no país. "Estou orgulhoso, enquanto autarca, por assistir à concretização deste projeto que envolveu bastante esforço, dedicação e voluntariado. Paderne acaba de ganhar mais uma estrutura cultural que vem valorizar a freguesia e o concelho, criando complementaridade ao sol e à praia", referiu o presidente da câmara, Desidério Silva, durante a cerimónia de inauguração.

Divulgar a história e importância do acordeão Segundo o autarca, a ideia passa também por "divulgar a história e importância do acordeão, estimulando a afirmação de novos músicos e dando a conhecer aos mais jovens este legado cultural". Para o diretor da Casa Museu, Francisco Sabóia, este é o concretizar de uma antiga aspiração. "Ao longo dos anos, fui colecionando objetos diversos, que hoje aqui se encontram expostos em homenagem a todas as pessoas

História do acordeão A origem do acordeão está ligada à China através de um instrumento chamado "Cheng", que era uma espécie de órgão portátil tocado pelo sopro da boca. No entanto, o acordeão tal como o conhecemos hoje em dia é um instrumento com 150 anos de história, que chegou à região algarvia nos finais do século XIX. Muitas vezes chamado de concertina pelos algarvios, o acordeão é, juntamente com os "ferrinhos", um dos instrumentos característicos e tradicionais da região do Algarve. E não havia bailarico do campo onde não fosse animado pelo acordeão.

Funcionamento

ligadas a esta arte", disse. Francisco Sabóia é o grande mentor deste projeto que pretende valorizar o acordeão. A paixão e o fascínio deste homem pelo acordeão foram os responsáveis pela aquisição e recolha de milhares de peças relacionadas com este instrumento, que irá ficar para sempre ligado à história da música algarvia. "O Algarve produziu grandes nomes e artistas do acordeão. É um instrumento muito ligado às raízes culturais do concelho", salientou. José Ferreiro (pai), José Ferreiro Jr., Eugénia Lima, Hilda Maria, Natércia, Isolinda Granjo e João Barra Bexiga são alguns dos grandes mestres do acordeão, que foram verdadeiras estrelas em Portugal, a partir da década de

30. Muitos ainda se lembram deles e, quem não lhes conhece o nome, conhece certamente músicas como a "Alma Algarvia", de José Ferreiro (pai), que jamais conseguirão desligar da região e gentes do Algarve. Mais recentemente, outro acordeonista da região, o jovem João Frade, conquistou o título de campeão mundial, mostrando que os sons do acordeão estão ainda longe de acabar. Presente na inauguração esteve também o secretário de Estado adjunto do primeiroministro, Carlos Moedas, que enalteceu a importância da Casa Museu, "enquanto um símbolo da cultura portuguesa, valorizando um instrumento popular por excelência que preserva a tradição musical da região".

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O som do acordeão é criado forçando o ar do fole por entre duas palhetas que produzem um som mais grave ou agudo, dependendo da distância entre elas. O ar é proveniente do fole que é aberto ou fechado com o auxílio do braço esquerdo. O acordeão possui ainda um teclado que é tocado com a mão direita. É basicamente um teclado igual ao de um piano comum, teclado este que é colocado na vertical com as notas mais graves para cima e as mais agudas para baixo. O som é emitido quando se pressiona uma tecla, que faz com que uma alavanca suba e que liberte um buraco ligado ao fole que permite que o ar passe pelas palhetas emitindo assim o seu som. Temos ainda os "baixos" que são botões tocados com a mão esquerda, que pretendem exercer a função de um "baixo", tocando notas e acordes, no ritmo determinado pela música. O acordeão tornou-se assim um instrumento de grande sucesso em todo o mundo, sendo considerado um instrumento versátil, maneável, com um grande brilhantismo fónico. O problema é mesmo o preço e o peso. Um acordeão pode custar à volta de cinco mil euros e pode pesar cerca de 12 quilos!


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Dias Medievais de Castro Marim marcam a diferença

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alar em Dias Medievais é falar em Castro Marim. O evento, que se realiza anualmente desde há 14 anos naquela localidade do sotavento algarvio, foi um dos primeiros do género a ser criado em Portugal e é já uma referência ao nível da animação cultural e das festas históricas do sul do país. Os Dias Medievais começaram por decorrer apenas no castelo, mas o sucesso fez com que o evento fosse alargado às principais artérias da vila, ao forte de S.Sebastião e, pela primeira vez este ano, ao Revelim de Santo António. Este ano, a festa voltou a durar quatro dias e quatro noites (terminou no último domingo) e a contar com a presença de mais de 50 mil visitantes, muitos dos quais espanhóis. É que ninguém quis perder pitada de um evento que continua a marcar a diferença através da presença de vários grupos especializados neste tipo de animação. Além dos grupos nacionais, esta 14.ª edição contou a com a presença de muitos outros, provenientes de diversos países, entre os quais França, Itália, Espanha, Marrocos e Egito, entre outros. Foto-reportagem de Joel Romeira

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10 Fernando Proença

LITERATURA INCLUSA

Número vinte e dois Um – Não tenho andado a trabalhar num segmento de mercado que me devia ser caro: o de pensar os novos tempos da indústria musical. Ultimamente tenho-me debruçado (vou evitar o trocadilho, gasto: não convém debruçar-me muito por que posso cair, etc.) no entanto sobre os problemas inerentes à pirataria de ficheiros na internet, prática que hoje segue em velocidade de cruzeiro. A consequência mais próxima desta arte popular, do pequeno mas continuado roubo, tem sido o decréscimo vertiginoso da venda de cd´s. Por tudo o que escrevi atrás não restam hoje aos músicos muito mais que acompanhar o ar dos tempos, apontando as baterias antiaéreas para a venda na internet – lembrovos que os Radiohead, venderam músicas de um seu disco à melhor oferta – e para o efeito, pague por um disco e leve uma camisola, um isqueiro, duas aguarelas do vocalista da banda autografadas pela sua avó que anda em cadeira de rodas e já agora também o disco. Além destas hipóteses, existe igualmente uma saída que tem sido levada muito a sério: o de se ganhar dinheiro nos concertos. Um dia hão-de fazer um estudo dos padrões de consumo da música, descobrindo que a grande invasão nos festivais de verão em Portugal é uma consequência directa da malta não gastar dinheiro em discos. Poupa nos cd´s para gastar nos festivais, em entradas, cerveja e ganza. Não se sintam ofendidos: eu sei que só uma parte muito residual da assistência dos festivais de Verão usa droga. Agora por festivais de Verão, já vos apresentei o meu estimado amigo o pai natal? O quê, não acreditam no pai natal ou

Música I Cinema não acreditam que o pai natal é meu amigo? Então lembrei-me que esta estrutura de ganhos e perdas tem vindo a alterar a oferta. Por exemplo: não sei qual é a vida de Bob Dylan. Se investiu onde devia, se lhe sobra dinheiro no fim do mês para pôr algum de parte, que o sistema de protecção de saúde americano tem mais buracos que a defesa do Benfica. Certo é que o vi, há cinco - seis anos atrás em Vilar de Mouros se a memória não me falha e digo-vos amigos meus que não gostei do que assisti. Fiquei com a ideia que não era pêra doce, manter-se de pé. E que cantava como se tivesse a fazer o maior frete do mundo, cantava. Cinquenta anos a repetir muito do que escreveu… O que quero demonstrar é que um dia, toda a gente boa que não há-de ter força para concertos de hora e meia e está quilhada. Já para não falar em Joni Mitchell, que gravou alguns dos discos mais importantes da música popular, ao mesmo tempo que era sumamente reactiva a tocá-los ao vivo, condicionada que estava à produção de estúdio. Fazia mal? Os seus discos eram assumidamente produto da sua voz vista como um meio (meio, meio, como quem diz) entre a técnica e a sua genialidade. E era essa unidade que contava. No fim vou ver músicos que se vão arrastar pelos palcos, por com as pensões de alimentos não se brinca. Se calhar o problema das reformas não se passa só connosco. Dois - Um dos grandes problemas com que tenho me defrontado nesta época balnear é a falta de espaço crónica para esticar as pernas na praia. A banhos na ilha do farol do cabo de Sta. Maria e utilizador de uma dos lugares que tem sofrido maior erosão, tenho sentido algumas dificuldades em conseguir arranjar lugar para a toalha, principalmente com maré cheia, ou próximo disso. Não tem este pequeno apontamento nenhum intuito de fazer um relato completo e exaustivo da minha estada na dita ilha (os meus amigos gostariam, mas isto não é só pedir…), mas enforma um pequeno apontamento, sobre o que podem ou não fazer em situação semelhante, resultante da minha experiência: numa praia cheia de gente não procurem áreas relativamente grandes livres de banhistas. Por estar relativamente livre há-de ser procurada pelos maiores

inimigos da calma no Verão, a saber: adultos jogadores de raquete e toda a gente que tem em seu poder uma bola. Dá para futebol, voleibol e para nos cair em cima. Se o vento sopra, por exemplo de oeste, convém ficarmos o mais longe possível da família que nos couber, exactamente a oeste. Se nunca descobriram porquê, esperem até que eles sacudam a areia da toalha. Se a família vizinha incorporar crianças ou cães, deve-se também aumentar a distância de segurança. Os elementos em causa costumam correr, começando por fazê-lo á volta das suas toalhas, para, passados breves minutos, passarem a correr à roda das nossas. E não é preciso nenhum estudo internacional para se saber que correr na praia levanta areia. Também não vale a pena escolher a vizinhança pelo que trazem para ler. Os homens habitualmente lêem a “Bola” ou o “Record”, as mulheres a “Lux” e todos se deleitam com a “Hola”. Servem também aqueles livros sobre casos da vida e paixões assolapadas. Têm capas que parecem latas de bolos antigas. Caso perguntem aos mais instruídos, porque não passam dali, vão dizer-lhes que se estão em férias devem ler qualquer coisa que seja leve, o que faz parecer que durante o resto do ano os seus hábitos não descem abaixo dos manuais de física quântica. Se ouvirem falar francês na sombrinha ao lado não caiam na asneira de pensar que aquilo é malta de fora. São emigrantes, que têm a mania que passam por franceses. Não passam; a cara, o volume da voz e as maneiras não deixam enganar. Se encontrarem uma família, incluindo miúdos cheios de insufláveis (este ano usam-se crocodilos e aviões), podem aterrar ao pé deles. Aquela malta vai passar o dia na água. Sobem a terra só para construir pistas para jogar às caricas. Tenham o resto de umas boas férias. Neste ou no próximo ano. LIKKE LI – “WOUNDED RHYMES” – CD – WARNER – 2011 – O disco Não vos vou mentir, já me bastam os dois pontos que escrevi acima. Whounded Rhymes não vai ser o melhor disco de 2011, não terá um lugar cativo na história da música pop. Mas os melhores discos, os que apontam novos caminhos; rupturas, novas viagens, nem sempre são

os que ouvimos mais. Os nossos corações e cabeças regem-se habitualmente por outros padrões: sinais próprios, musicas que nos transformam secretamente; que nos fazem mudar o nosso norte (musicalmente falando que já não acredito no pai natal). Existem discos médios que redefinem os parâmetros segundo os quais passamos a acreditar que o mundo do som também se constrói de outras formas que não pensáva-mos possível. Se posso assumir essa ideia o segundo disco de Likke Li, pode ser uma deles. Aqui trata-se de puro pop. Letras sobre a dor de corno (como diz a autora: a dor de um amor não correspondido pode ser muito criadora) que transmitem força, exactamente contrário do que se pensaria. Melodias bem acabadas, que se pegam, como um calor reconfortante que nos embala (a produção é de Bjorn Yttling dos Peter Bjorn and John e isso para quem os conhece diz quase tudo). Os arranjos são muito orgânicos e como é normal nos tempos que correm sem se ligarem excessivamente a uma época ou uma tendência. E é - a sua grande virtude - um daqueles disco que, felizmente, nos lembram outros, não copiando nenhum. Hoje, enquanto escrevo este artigo e ouvindo mais uma vez todos os temas, fico com a sensação que descortino por detrás da voz da sueca que viveu em Portugal, os Mammas and Papas. Mesmo que a música não tenha nada a ver. Nem as vozes. Nem as letras. Apenas uma agradável sensação.

Apontamento de Cinema A Poeira do Tempo "Um realizador americano de ascendência grega, está a realizar um filme que conta a sua história e a dos seus pais. Um conto que se desenrola em Itália, Alemanha, Rússia, Cazaquistão, Candá e E.U.A. Uma história que é, ao mesmo tempo, uma grande viagem por acontecimentos dos últimos cinquenta anos que marcaram o século XX. As personagens no filme movimentam-se como num sonho e a poeira do tempo confunde as memórias. As memórias que “A” procura e que acaba por viver no presente." O amor de uma mulher, através do tempo, dado com muito realismo e talento.

Realização: Theo Angelopoulos Com: Willem Dafoe, Bruno Ganz, Michel Piccoli, entre outros. Distribuição: Atalanta Filmes.

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