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Usineiros exigem de Lula privilégios da Era Bolsonaro
from Edição 1205
Sobreviventes da escravidão querem regalias de bancos, da Justiça e imposto zero
ODILON RIOS
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Especial para o EXTRA
Os usineiros de Alagoas já se recuperaram do dueto choradeira & golpismo em torno de Jair Bolsonaro (PL) e iniciaram as tratativas para cobranças e pressões junto ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Para isso, usaram o ex-governador Teotonio Vilela Filho, um dos herdeiros da Usina Seresta, e o senador Fernando Farias (Grupo Carlos Lyra) como pontes para alcançar o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), o senador Renan Calheiros (MDB) e o ministro dos Transportes, Renan Filho, chegando a gabinetes próximos do presidente da República.
Após garantirem mais privilégios em Alagoas, quase isentos de pagar ICMS, é a vez de seguir insistindo em obter as mesmas regalias junto aos cofres federais.
Oficialmente, eles disseram que as reuniões com os membros mais importantes da bancada federal alagoana “trataram de pautas importantes para o desenvolvimento não apenas do setor sucroalcooleiro, mas do Estado como um todo. Tanto que a expectativa é de que, em breve, o ministro Renan Filho nos trará boas novas”.
Eles anteciparam o anúncio, que seria de Renan Filho, de ações no Ministério dos Transportes “que, quando executadas, prometem beneficiar muito o Nordeste, em especial a região sul de Alagoas”, de acordo com a assessoria do périplo açucareiro.
Os usineiros defendem o ultraliberalismo – a regulação única e exclusiva do mercado pelo mercado, sem interferência estatal, modelo bastante semelhante aos tempos da escravidão – mas valendo para fora dos muros de suas fábricas. Para os interesses caseiros, eles exigem dos bancos públicos (e não os privados) linhas de crédito a juros bem mais competitivos que os do mercado; que instituições federais, como a
Universidade Federal de Alagoas (Ufal), continuem bancando pesquisas com dinheiro público para o desenvolvimento de uma cana-de -açúcar mais resistente a pragas e maior volume de produção nos canaviais; e, claro, que os corredores da Justiça estejam escancarados para as suas demandas.
Neles estão ações em trâmite há anos, levantando supostas responsabilidades do governo federal por perdas financeiras do setor.
Um destes litígios ficou famoso. O setor nacional cobrava uma indenização de R$ 72 bilhões por danos entre 1986 e 1997, alegando que a fixação de preços da cana-de -açúcar neste período ficou abaixo do custo de produção.
A briga chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que deu ganho de causa à União há dois anos, argumentando que não houve prejuízos e sim lucros do setor.
É uma queda de braço que está longe do fim e deve desaguar no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Ano passado, a Segunda Turma da Corte condenou a União a indenizar uma usina, o que pode gerar efeito dominó, ou seja, chegando às outras fábricas pelo país.
Até 1989 existia o Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA), que atuava junto ao Estado. Ele foi fundamental para que áreas arenosas ou inclinadas fossem artificialmente rentáveis em Alagoas, mesmo que anos depois fossem arruinadas pelo plantio sem descanso da terra, agrotóxico usado sem controle e queimadas da palha da cana para colheita. É comum que em algumas antigas áreas de plantação de cana o solo esteja tão pobre de nutrientes que outras culturas, como plantação de caju, manga, graviola sejam inviabilizadas, mesmo com adubação e uso do esterco animal.
A área plantada da cana recuou, mas as terras foram ou são usadas para a criação de gado, sem a mudança agrária com a agricultura familiar “com suas plantações diversificadas”. Sem apoio estatal, a modernização da estrutura fundiária e do sistema de produção na zona da mata continuam sendo um sonho.
Por isso, em Alagoas os usineiros estão à vontade nos privilégios. Estudo da professora de Economia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) Luciana Caetano mostra que, neste ano, Alagoas deixará de receber R$ 1,5 bilhão das usinas e grandes supermercados, pouco mais de R$ 240 milhões apenas dos usineiros.
Enquanto isso, segundo o IBGE, 51,7% da população alagoana vivia em situação de pobreza em 2021. Ou 1,7 milhão de pessoas. Dentro destes números, 523 mil (15,6%) estavam em condições ainda piores: na extrema pobreza, ganhando menos de R$ 168 por mês. É o maior percentual desde 2012, quando o instituto começou a série histórica. Em 2020, eram 43,9% dos alagoanos na pobreza e 11,8% extremamente pobres.
Por sua vez, os usineiros sobreviveram a todas as tempestades na economia nacional e local. Foram fundamentais na eleição de Divaldo Suruagy em 1995 e jamais quiseram dividir o ônus nos tempos de uma Alagoas falida e funcionários públicos cometendo suicídio sem salários e sem crédito na praça.
O presente de regalias repete o passado. E não é uma farsa. É tragédia.
Os ovos de ouro
Em pleno Carnaval o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, parece não estar nem um pouco preocupado com o avanço do MDB em alguns municípios do interior. Talvez ache que este não é o momento, mas, por trás disso tudo, uma estratégia.
Outro reforço
Além de Maceió, Arthur Lira também investe pesado com obras e atuações políticas na Prefeitura de Arapiraca, o segundo maior colégio eleitoral. Somente esses dois redutos, certamente cobririam todo o prejuízo, se é que tem, nas prefeituras que aderiram recentemente ao MDB. Mas ele quer mais e tudo ao seu tempo, diz um amigo que confidenciou à coluna.
Não é número
Para alguns aliados do presidente da Câmara dos Deputados, a questão não é a quantidade, mas de qualidade e outro município com grande reduto eleitoral é Rio Largo, onde ele teve grande votação nas últimas eleições e tem como seu aliado o prefeito Gilberto Gonçalves.
Pé de ouvido
Neste Carnaval, certamente a residência de Arthur Lira na Barra de São Miguel será muito visitada, inclusive por aqueles que, convenientemente, se filiaram ao MDB. Questão de oportunidade e de atenções especiais para os municípios, mas, nas eleições, é outra história.
Reforço
Davi Davino, Jó Pereira e possivelmente Galba Neto, presidente da Câmara de Vereadores, estarão juntos nas próximas eleições e quem sabe, também em 2026. Isso tem deixado preocupações no Palácio República dos Palmares, que luta por baixo dos panos para conseguir a Prefeitura de Maceió.
Novas composições
Embora o quadro político esteja definido com as família Calheiros de um lado e de Arthur Lira do outro, já há quem aposte que nas próximas eleições poderá ocorrer alguma composição que possa vir a favorecer os dois grupos. Não se briga quando estão ganhando, revela um assessor palaciano.
Lira tem concentrado seu poder de fogo na Prefeitura de Maceió com a aliança com o prefeito JHC, que por certo tentará a reeleição no próximo ano. Como a capital é naturalmente a maior concentração de votos no estado, o presidente da Câmara dos Deputados, como sempre, sabe o que está fazendo.
Sem consenso
Se depender de parte da população, as modificações no trânsito na orla marítima de Maceió não serão implementadas. Muitos motoristas acham que a implantação de uma mão única vai infernizar o tráfego na parte baixa da capital, que já é muito complicado.
Convocação
O governador Paulo Dantas vai cumprir o acordo de permitir que suplentes assumam o mandato na Assembleia Legislativa e com isso já prepara uma minirreforma política. Dantas tem o objetivo de proteger seus aliados, o que representa muito em termos de composições visando as próximas eleições.
Não é bem assim
Por Alagoas
A presidência da Câmara dos Deputados e a liderança da maioria no Senado Federal, através de Arthur Lira e Renan Calheiros, são duas forças que podem, se trabalharem sem ressentimentos, trazer muitos benefícios para o estado.
Surpreendendo
O governador Paulo Dantas tem surpreendido neste início de governo com ações que afastam qualquer possibilidade de crise financeira. A antecipação do pagamento dos salários de fevereiro para que o servidor estadual possa brincar o Carnaval sem dificuldades e o anúncio de que todos os policiais, tanto do Corpo de Bombeiros como da Polícia Militar, serão convocados de uma só vez.
Inclusão
O concurso para delegado de polícia vai contemplar pessoas negras, indígenas e quilombolas, de acordo com novo edital que será divulgado nos próximos dias. Com essa nova alteração, as inscrições foram temporariamente adiadas, mas serão publicadas depois de um ajuste a ser feito pela Procuradoria Geral do Estado.
O montante de prefeitos que está migrando para o MDB não representa, de fato, porteira fechada, como dizem os especialistas no assunto. Em todo município a disputa é acirrada com situação de um lado e oposição de outro. Assim, os votos são divididos.
Agitação
Arapiraca passa por um momento de extrema encrenca política com o funcionamento da Comissão Parlamentar de Inquérito da Câmara de Vereadores, que apura supostas irregularidades no pagamento sem licitação de empresas da coleta do lixo.
Mais político
Para quem conhece os bastidores políticos de Arapiraca, sabe que a motivação é mais política do que técnica, mas os vereadores da oposição dizem exatamente o contrário.
A caminho
O prefeito JHC deve divulgar nos próximos dias sua reforma no secretariado anunciando nomes como Davi Davino e Jó Pereira na sua nova equipe. São as alianças com vistas a sua candidatura à reeleição no próximo ano.