Jornal da FENPROF - Maio 2014

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A festa da história do 1º de Maio em BD Págs. 7 a 10

Jornal da FENPROF | Director: Mário Nogueira Mensal | nº 271 | maio 2014 | 0,50 Euros

Uma “saída limpa” para o governo em 25 de maio:

ESPECIAL ELEIÇÕES PARA O PARLAMENTO EUROPEU

FENPROF coloca 3 questões a todas as candidaturas às eleições europeias


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A Europa no país da austeridade, do desemprego e da precariedade MANUEL NOBRE (membro do SN da FENPROF)

sumário 04.

IMPRESSÕES

A democracia arrisca-se a tornar-se uma tecnocracia populista SOFIA CANHA

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esde 1986 que a União Europeia limitações históricas do capitalismo, potencia(UE) é apresentada aos portugueda pelas sucessivas medidas de austeridade ses como a “viragem decisiva” impostas pela “troika” estrangeira (BCE, no caminho da modernidade e FMI, UE) e aceite pela “troika” nacional (PS, do futuro do nosso país. Sempre PSD, CDS). Desde os Pactos e Tratados aos PECS, de BPN’s a PPP’s, da destruição do justificada por parte dos partidos que têm estado no governo e apresentada como aparelho produtivo nacional ao encerramensinónimo da tal modernidade e do desejado to de milhares de empresas, dos roubos progresso próspero, e ai de quem questiodos salários e direitos dos trabalhadores às centenas de milhares de despedimentos, nasse a essência desta UE. da destruição dos serviços públicos e das Hoje é mais difícil para os “prestidigitafunções sociais do estado às privatizações, dores do costume” disfarçar as mutações enfim, de todos os ataques às conquistas e o afastamento da natureza desta Europa em relação às legítimas aspirações dos seus de Abril e ao Portugal democrático – o país membros e o alheamento das condições não está condenado ao desastre. concretas da vida dos povos. Ter-nos-iam Há outros caminhos e são necessárias outras vendido uma ilusão ou estaremos iludidos políticas para a Europa e para o nosso país. com a compra? A realidade Políticas limpas para uma diz-nos que a concentração sociedade limpa de ideolode riqueza é feita por uma gias velhas e bafientas. PoHá outros caminhos minoria e que a de delalíticas que promovam a propidação das conquistas e e são necessárias dução nacional, que visem dos avanços são impostos outras políticas para dignificar quem trabalha e já à imensa maioria, maioria a Europa e para o trabalhou, uma política que que, precisamente, é alvo nosso país. Políticas alivie os impostos dos trada arte do ilusionismo da limpas para uma balhadores e das pequenas classe dominante e da sua sociedade limpa de empresas e taxe os lucros ideologia, que, lentamente, do capital, que defenda as ideologias velhas e vem incutindo nas pessoas o funções sociais do Estado. conformismo, a resignação, bafientas. Uma política que resgate o a desmobilização, a destruipaís da dependência e que ção da identidade nacional, cultural, enfim, devolva aos trabalhadores e ao povo os seus direitos. Uma política que faça a roptura com na dormência da vida dos povos. Em Portugal, os valores do desemprego o tratado orçamental, que afaste a obsessão situam-se nos 17%, sendo a média europeia pelo deficit, que promova a renegociação de 11%, quase um milhão e quinhentos mil da dívida. Em suma, uma política que deixe portugueses estão sem emprego, número qualquer país criar riqueza. só comparável com o período antes do 25 de A União Europeia pode e deve ser factor Abril. A taxa de desemprego entre os jovens de efectiva modernidade e de progresso da com menos de 25 anos situa-se em valores Europa e das nações e não um dogma ou próximos dos 40%, realidade que só por si mais uma ilusão ao serviço de interesses demonstra a dramática situação do nosso contraditórios com as legítimas aspirações país. Situação que também é sentida por dos cidadãos e das suas comunidades. Partinoutros países, como a Irlanda, a Espanha ou do do “velho” para a construção do “novo”, a Grécia com o desemprego a situar-se acima desenvolvendo as forças produtivas de forma dos 27%. Sendo a precariedade a regra na equilibrada e solidária, aproximando os povos, vida dos trabalhadores, e na vida do país: não confundindo modernidade com pobreza, precariedade na Escola Pública, no Serviço exploração ou escravidão. Para alcançar esta modernidade, é necessário e urgente romper Nacional de Saúde, na Segurança Social. com o agrilhoado da ideologia dominante e A pergunta impõe-se: isto é mesmo com as ilusões do costume. Vamos exigir uma Europa moderna e inevitável? Não, não é inevitável. Esta situação tem causolidária, já no próximo dia 25 de Maio, cassas, tem responsáveis e tem beneficiários. tigando quem ilude os trabalhadores. Esses Estamos perante uma crise que revela as não merecem receber a confiança do voto.

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05.

DOSSIER ELEIÇÕES FENPROF coloca três questões aos candidatos às eleições europeias

07.

BD

A história da festa do 1.º de Maio

12.

CGTP-IN

Levar a luta ao voto nas eleições de 25 de maio

13.

OPINIÃO

Reforma do estado ou o ilusionismo das palavras ANTÓNIO AVELÃS

14.

INTERNACIONAL

SNES (França) em Congresso MANUELA MENDONÇA

15.

NACIONAL

Reformados, aposentados e pensionistas firmes na luta! GRAÇA PEDROSA

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É claro que há alternativa para sairmos da situação a que chegámos, que passa por uma profunda alteração de política, o que exige que, já em 25 de maio, votemos e comecemos a construir essa alternativa.

Saída limpa Por ser verdade, há que reafirmar: saída [forçada] foi a de milhares para a emigração; limpa está a bolsa dos portugueses. Quanto ao resto, é treta!

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anúncio de saída limpa do programa da troika, feito por Passos Coelho em 4 de maio, encenando uma postura [e discurso] de aparente dramatismo, foi o pontapé de saída dos partidos do governo para a campanha eleitoral que entra agora no seu auge. Já antes tínhamos assistido a alguns ensaios, como, por exemplo, o anúncio, em 30 de abril, de algumas medidas – para mais tarde e se Deus quiser… – visando atenuar o impacto de outras que estão em vigor. Não é nova esta forma de atuação dos dirigentes dos partidos que governam, bastando, para tanto, recordar o que prometeram antes das legislativas: não mexer nos subsídios, não reduzir os salários, não tocar nas pensões ou mesmo não aumentar os impostos. Não é nova, portanto, esta forma de iludir os portugueses, procurando obter o seu voto. Já tem história e, por ser recente, está bem viva na memória de todos nós. Mal estariam os portugueses se ainda se iludissem com as promessas de Passos Coelho ou Paulo Portas, esquecendo as linhas vermelhas que nunca pisariam, as irrevogáveis decisões de que nunca se arrependeriam ou os compromissos que, juravam, eram para si questão de honra. Também de Nuno Crato, quem já esqueceu compromissos como o de não aumentar o horário de trabalho para as 40 horas, não aplicar a mobilidade especial ou o de desburocratizar a profissão de professor? Com tantos e tão recentes exemplos, por que deveriam os portugueses achar que “desta vez é que falam verdade” em vez de pensarem já lá ir o tempo em que os governantes afirmavam algo como “que se lixem as eleições”? Não basta, porém, não confiar em novas promessas, é preciso, igualmente, não esquecer os compromissos do governo com a troika, na certeza de que esses tem sempre o governo cumprido, normalmente, até, com excesso de zelo. Entre outros aspetos, temos a substituição das tabelas específicas por uma tabela salarial única que não permitirá que os salários voltem a atingir níveis anteriores (antes de 2011, tem repetido o governante); temos a contribuição de sustentabilidade

editorial

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que, substituindo a CES, irá manter o roubo; mais despedimentos na Administração Pública, com particular incidência na Educação, podendo ser sob a capa de rescisão, de mobilidade especial ou despedimento efetivo; o aumento dos descontos para a segurança social, a ADSE e também o aumento do IVA; ou uma reforma do Estado que, segundo o guião agora confirmado, também na Educação passa por privatizar, entregar aos municípios, concessionar a grupos privados e desqualificar a resposta pública. Não estamos perante uma saída limpa, pois é sujo o choque de empobrecimento a que Portugal e os portugueses têm estado sujeitos e que está a deixar um rasto de sujidade que não é fácil de limpar. Como nos têm repetido, a não acontecer nada, as atuais políticas estão para durar. É com isso que o governo se comprometeu na carta de intenções que dirigiu ao FMI e que esconde aos portugueses; por seu turno, o FMI já fez saber que vai por aí andar no próximo quarto de século, mantendo-nos sob vigilância não vamos nós meter o pé em ramo verde, o que significa que, para já, com o “DEO” e, a seguir, com outra coisa qualquer, aí estará para garantir o empobrecimento dos portugueses e forçar a destruição das funções sociais do Estado se, eventualmente, houver hesitações dos governantes. Mesmo em relação ao bacoco discurso da independência que, alegadamente, seria retomada em 17 de maio, é preciso assinalar duas coisas: que o governo pediu a extensão do programa por mais seis semanas para além desse dia 17, passando para depois das eleições o balanço final; que o FMI, não só não recusou, como aproveitou para informar que se dispunha a ficar até 2038. É claro que há alternativa para sairmos da situação a que chegámos, que passa por uma profunda alteração de política, o que exige que, já em 25 de maio, votemos e comecemos a construir essa alternativa. Depois, é necessário que haja quem, com coragem, assuma a renegociação da dívida em todas as suas componentes e não apenas nos prazos e juros. Há montantes que são absolutamente ilegítimos, que decorrem de agiotagem, e essa é matéria que também terá de ser considerada, pois já todos percebemos que estamos perante uma dívida que, a não ser renegociada na sua globalidade, tem um estranho comportamento: quanto mais se paga mais ela aumenta. Isto significa que, se nada fizermos, nada se altera nesta espiral negativa que irá apertando até sufocar.

MÁRIO NOGUEIRA (Secretário-Geral da FENPROF)

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impressões SOFIA CANHA (membro do SN da FENPROF)

A democracia arrisca-se a tornar-se uma tecnocracia populista

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s recentes sondagens à beira das eleições europeias indiciam factos deveras alarmantes para as democracias europeias, pondo em risco tudo o que se construiu nas últimas décadas na Europa, ameaçando não apenas o bem-estar imediato das populações, mas que abalam sobretudo os princípios (igualdade, tolerância, respeito pela diversidade, fraternidade, etc) que sustentaram o desenvolvimento humano e social deste lado do mundo. Refiro-me à perspetiva de ser criado um bloco parlamentar de partidos xenófobos e populistas nestas próximas eleições europeias com expressão considerável. Preocupa-me que a veia fascizante de alguns nos arraste, sem que consciência ou responsabilidade tenhamos, para um novo paradigma de organização social e política na Europa, que cria cada vez mais desigualdades, assimetrias e injustiças. Por isso, nunca é demais recordar e comemorar o momento histórico que derrubou o fascismo em Portugal e avivar a memória dos valores que a democracia permitiu: liberdade, igualdade de direitos, solidariedade, pluralidade de pensamento, participação cívica. Numa altura em que as políticas educativas, de cariz cada vez mais

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ultraliberal, ameaçam os valores de abril, sobretudo no que respeita à escola pública e à igualdade de oportunidades, somos todos convocados a refletir e a lutar pela manutenção e reforço desses valores. Vejo ainda a Europa ser ameaçada pela ação dos tecnocratas, que no seu discurso populista de rigor, de eficiência e de mérito nos quer convencer que o caminho é só um e que o desenvolvimento só se constrói em concorrência constante, em paralelo com o individualismo exacerbado e com atropelos às liberdades e garantias dos Estados de Direito. E a verdade é que esse discurso parece fazer eco em muitos cidadãos e em diversos países da Europa, que fazem ascender democraticamente aos lugares de decisão política, partidos e pessoas que defendem a manutenção de hierarquias e desigualdades sociais, sobretudo se servirem para a competição nas economias de mercado. Mais grave ainda é que o discurso também se dirige às classes etárias mais baixas, a quem se procura incutir esses padrões individualistas, classistas e competitivos para bem dos que acumulam privilégios. É, de facto, preciso mudar de pensamento; é urgente mudar de políticas!.


DOSSIER ELEIÇÕES

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FENPROF coloca três questões aos candidatos às eleições europeias Partilhando as preocupações do CSEE (Comité Sindical Europeu de Educação), a FENPROF dirigiu-se às candidaturas às eleições europeias de 25 de maio, pretendendo que, estas, clarifiquem a sua posição relativamente a três questões que considera da maior relevância para a garantia do direito à Educação e para a valorização da Escola Pública, como garante da sua democratização. No prazo estabelecido, recebemos as respostas dos seguintes partidos, sendo de notar que a coligação dos partidos do governo (PSD/CDS-PP) não respondeu:

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INVESTIMENTO NA EDUCAÇÃO:

PRIVATIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO:

Sendo o investimento na educação e na ciência uma responsabilidade do Estado, que percentagem mínima do PIB deve reverter para essas áreas?

Em que condições pode o ensino privado ser financiado com dinheiros públicos?

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O investimento na Educação tem vindo a ser subtraído desde 2009, sendo que em 2012 tivemos um investimento de apenas 4% em Educação (e em 2013 situou-se abaixo dos 4%, segundo a CNE) e na Ciência era de 0,4%, nesse mesmo ano. Neste sentido, Portugal deverá, gradualmente, aproximar-se das médias europeias que na Educação deverá procurar chegar aos 7% em Educação e na Ciência deverá, também gradualmente, chegar aos 3%. Tudo isto dependerá da evolução do país e da sua economia e das políticas europeias nos próximos 5 anos. Particularmente na Ciência, onde o desinvestimento foi brutal, devemos impedir a fuga de cérebros do país e garantir o funcionamento e financiamento dos diversos centros de investigação numa relação europeia e transeuropeia de partilha e criação de conhecimento. Apenas nos casos em que a rede escolar pública seja insuficiente. Nestes casos, o Estado deve, através de contratos de associação transparentes e devidamente justificados, financiar o ensino privado. No atual Orçamento de Estado (2014) o Ensino Particular e Cooperativo (EPC) viu as suas verbas (do Estado) aumentadas em cerca de 2 milhões de euros e a Escola Pública e a Ciência, por sua vez, assistiram a um desinvestimento cada vez maior. Entendemos que as verbas devem ser canalisadas para a Escola Pública, a única que garante a igualdade de acesso a todos os

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alunos, de forma a proporcionar uma efetiva igualdade de sucesso a todos, através de uma educação verdadeiramente inclusiva e equitativa. Isto implica repensar o currículo do ponto de vista formal e admitir a validação de competências através da educação não formal. Defendemos a ideia de inovação pedagógica que não passa pela mera introdução das TIC nas escolas, mas de uma inovação que se assume como mudança das práticas pedagógicas. Num momento em que a educação pública encontra-se num impasse, com cortes financeiros e orçamentos diminuídos, fica por definir claramente o que pretende o nosso país num contexto europeu em termos de políticas educativas. Defendemos um maior investimento na formação e na educação, enquanto pilares do conhecimento e da cultura e uma real inclusão de todos os actores sociais na definição deste bem comum: a educação. Isso exige, por outro lado, apoio europeu às políticas sociais, nomeadamente nos segmentos educativos académicos, profissionais e formativos. O espírito que rege o projecto socialista é uma educação que garanta a formação reflexiva e crítica dos cidadãos. Por outro lado, isto implica uma efectiva autonomia das escolas, o reforço e a articulação entre as entidades locais e as escolas, uma forte intervenção precoce como forma de garantir a equidade e o sucesso educativos e a revisão dos currículos tendo em conta a formação integral dos alunos. Insistimos, particularmente, numa séria e verdadeira discussão sobre a educação profissional. Neste sentido defendemos: • Uma clara aposta nos cursos pós-

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3 CONDIÇÕES DE ENSINO E DE APRENDIZAGEM:

Que medidas concretas devem ser implementadas para melhorar as condições de trabalho nas escolas?

-secundários com certificação profissional e académica. • A promoção das políticas da educação profissional escolar numa relação directa com as empresas. • O fomento e validação de aprendizagens em contextos não formais de educação. • Supervisão contínua das práticas pedagógicas com vista ao melhoramento não só do desempenho do professor como das aprendizagem dos alunos, numa lógica de formação contínua. • Revisão dos modelos de gestão e de avaliação das escolas. • Apoio às famílias e políticas de inclusão escolares e sociais. • Definição de uma política solidária europeia que financie projectos de qualificação e de certificação de competências e de combate ao abandono escolar, resultado da desorçamentação das políticas de austeridade. Acrescentamos medidas mais específicas, nomeadamente: • Reorganização dos alunos por turma; • Reforço das equipas educativas multidisciplinares; • Desburocratização de processos e procedimentos administrativos e pedagógicos; • Criação de ambientes de aprendizagem (formais e não formais) que promovam de uma aprendizagem colaborativa, quer para os docentes, quer para os alunos; • Reforço da qualidade da Formação Contínua de Docentes, centrada nas necessidades das escolas e em permanente articulação com os Centros de Formação reconhecidos pelo Conselho Científico-Pedagógico da Formação Contínua e com as instituições do Ensino Superior, no âmbito da Formação de Professores;

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• Repensar a carga horária dos alunos (os tempos de permanência na escola), sobretudo no Pré-escolar e no 1º Ciclo do Ensino Básico e as orientações curriculares; • Estimular a criação de “Centros Educativos Comunitários”, através dos quais as instituições educativas possam criar sinergias com as entidades e recursos locais, numa perspetiva de dentro para fora (da escola para o seu exterior). • Contemplar especificamente a educação para a igualdade (quer na linguagem usada como também na promoção de projetos escolares que trabalhem esta matéria).

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O Ensino é um bem público, corresponde a uma necessidade de qualificação geradora de maiores níveis de desenvolvimento e bem-estar social. E, por isso, o Estado enquanto garante da prossecução desses fins e do direito básico à Educação, é responsável pela sua existência, não se resignando a que ela possa também ser – como já o é – uma área de negócio, em que os saberes e os diplomas se compram e vendem num “mercado da educação”. O Estado não pode adoptar a atitude dos que a encaram como benefício privado, privilégio de quem a ela acede ou, simplesmente, pode comprar. De acordo com a Constituição da República Portuguesa (CRP), compete ao Estado estabelecer progressivamente a gratuitidade de todos os graus de ensino, assegurando deste modo o acesso do povo à cultura e ao conhecimento, condição fundamental para a existência de uma democracia consciente e consequente. Em Portugal as políticas de financiamento para a Educação têm vindo a afastar-se da garantia constitucional de um ensino tendencialmente gratuito. Não só se estrangula financeiramente o funcionamento das escolas – com particulares reflexos na instabilidade do corpo docente, na degradação das condições materiais e humanas e na degradação da qualidade de ensino e aprendizagem – como se transfere, para os estudantes e suas famílias, parte significativa dos custos do funcionamento do sistema de ensino. Sem prejuízo de outras formas de financiamento, o funcionamento das escolas públicas deve depender, essencialmente, de financiamento público proveniente do Orçamento de Estado. A existência de propinas de qualquer tipo de taxas ou de emolumentos será sempre uma tributação dupla imposta às famílias, pelo que deverão ser abolidas. A CDU defende que, sustentado em programas plurianuais, se defina, para cada

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ano, o montante a inscrever no OE, de modo a que seja garantido o acesso à Educação e ao conhecimento para todos, através de uma Escola Pública gratuita, de qualidade e para todos e de uma Acção Social Escolar que corrija as assimetrias económico-sociais existentes e promova a igualdade de oportunidades. Relativamente à Ciência De acordo com os números oficiais, em Portugal o investimento é de 1,5% do PIB, o que está longe de corresponder ao investimento real. Metade deste valor provém das empresas que como se sabe não investem este dinheiro. O facto de aparecer contabilizado nas empresas um valor (cerca de metade dos 1,5% do PIB), isso não significa um investimento real, porque, em grande medida, resulta de uma operação contabilística criada para aceder aos incentivos fiscais, com os quais são amplamente beneficiadas. Em nossa opinião o investimento deve aproximar-se da média europeia (2,1% do PIB), o que obriga, para já, a um crescimento significativo do investimento público.

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Para a CDU, o ensino privado só deve ser financiado num quadro em que a Escola Pública não tenha condições para responder à obrigação constitucional do Estado, de garantir o acesso das nossas crianças e jovens à Educação. Em Portugal, ao mesmo tempo que maltratam a Escola Pública, os últimos governos do país têm vindo a aumentar os privilégios e os subsídios que concedem aos colégios privados, chegando ao ponto de desrespeitarem o quadro legal vigente sobre apoios a conceder aos colégios, designadamente sob a forma de celebração de contratos de associação. São diversos os exemplos em que os apoios atribuídos aos colégios, alguns ilegais, contribuem directamente para o esvaziamento de escolas públicas, situando-se na região centro os casos mais graves, nomeadamente quando numa parte muito significativa dos concelhos onde estes estão instalados, a Escola Pública tem capacidade de resposta para incorporar as turmas que são transferidas do público para o privado.

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Dezasseis medidas fundamentais para melhorar as condições de ensino e aprendizagem: 1 - Desenvolvimento de uma política educativa que assuma a Educação como valor estratégico fundamental para o desenvolvimento do país e para o reforço da identidade nacional, com prioridade para um efectivo combate ao abandono escolar e ao insucesso escolar e educativo e à exclusão social e escolar; 2 - Investimento numa Escola Pública de Qualidade, com gratuitidade de todo o ensino público como prioridade estratégica; 3 - Expansão da rede pública de estabe-

lecimentos de educação e ensino, a generalização da oferta pública e a consequente adequação da rede escolar de forma a assegurar a concretização do direito à educação, independentemente de iniciativas de entidades particulares ou cooperativas; 4 - Aprovação de uma Lei sobre financiamento da educação Pré-escolar e dos Ensinos Básico e Secundário que clarifique responsáveis e responsabilidades e garanta o normal funcionamento das escolas públicas financiadas, essencialmente, por verbas consagradas em Orçamento do Estado; 5 - Incremento do apoio social escolar em todos os níveis de escolaridade com crescimento considerável das capitações para atribuição dos respectivos apoios e dos montantes limite previsto para as diversas áreas; 6 - Expansão do sistema público de educação pré-escolar, articulado com a rede escolar do 1º ciclo, dando cumprimento à obrigação que a Constituição impõe ao Estado, garantindo a frequência universal, gratuita e obrigatória no ano que anteceda o ingresso das crianças no ensino básico, bem como as condições para a universalidade da frequência a partir dos 3 anos; 7 - Gratuitidade dos manuais escolares no ensino obrigatório; 8 - Desenvolvimento da resposta pública às necessidades de educação especial numa perspectiva de escola inclusiva, com incidência na formação especializada dos professores e outros técnicos, bem como à sua colocação nas escolas; 9 - Revisão dos currículos escolares, fazendo-os corresponder às necessidades do desenvolvimento actual da sociedade e da formação integral dos estudantes, sendo respeitado o princípio da igual dignificação das diversas vias do ensino secundário; 10 - Aprovação de novos modelos de avaliação dos alunos, assentes em princípios de avaliação contínua, incompatíveis com a existência de exames decisivos e determinantes na selecção; 11 - Valorização e dignificação das carreiras docentes e aprovação de carreiras específicas para outros técnicos de educação, através de processos negociais a desenvolver com as respectivas organizações sindicais e a resolução de incongruências legislativas ao nível das habilitações; 12 - Dotação das escolas de pessoal docente, administrativo e técnico auxiliar de acção educativa em número suficiente e com formação adequada, para garantir o seu bom funcionamento; 13 - Estabelecimento de um novo e mais justo regime de acesso ao ensino superior e rápida expansão do ensino superior público, com a abolição dos numerus clausus; 14 - Revogação da lei de financiamento do ensino superior e a aprovação de novas regras, mais justas, contidas num novo diploma legal. Níveis de financiamento que


Cor: Tiago Madeira 2014

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DIVULGAÇÃO HOMENAGEM

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HOMENAGEM

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devem ser os adequados de forma a garantir um ensino e uma investigação de qualidade e que se afirmem autónomas do poder político e independentes do poder económico; 15 - Defender e aperfeiçoar a autonomia do ensino superior público consagrada na CRP, assim como uma gestão democrática e transparente das instituições; 16 - Promoção do ensino do português no estrangeiro, designadamente no quadro da valorização e reforço do ensino da língua, da cultura, e da história junto das crianças e dos jovens de famílias emigrantes.

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No curto prazo, Portugal deverá atingir a média europeia de 6% do PIB para a Educação e desenvolver o investimento público em Ciência para atingir os objetivos 2020 com um mínimo de 3% do PIB. Implica isto que se reponham as dotações cortadas desde 2011: mil milhões no ensino básico e secundário, 350 milhões no ensino superior e 100 milhões no sistema científico nacional. O financiamento público de escolas privadas só é aceitável numa lógica de complementaridade, ou seja, em zonas onde a oferta pública não esteja garantida. O atual governo inverteu este princípio constitucional, introduzindo uma alegada concorrência e permitindo o financiamento de escolas privadas onde a oferta pública não só estava garantida como foi diminuída de forma a garantir a sustentabilidade de negócios privados. Este assalto ao orçamento do Estado retira meios à Escola Pública e aprofunda desigualdades sociais. Adequação dos meios das escolas e estabilidade da carreira docente. É impossível melhorar as condições de ensino sem garantir o número de professores adequado, diminuindo urgentemente o número de alunos por turma, garantindo a vinculação dos professores às suas escolas e alunos de forma a estabilizar as práticas e a cultura escolar.

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O investimento na educação e na ciência é um dos factores fundamentais para garantir o progresso do país e o bem-estar dos seus cidadãos. Na última década

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e meia, desde a adesão de Portugal ao euro, esse investimento sofreu uma drástica redução e iniciou-se um processo de sistemática destruição da educação pública e dos mecanismos de apoio ao desenvolvimento científico e tecnológico. Hoje, Portugal será já talvez o país da Europa, e um dos países do mundo, em que o Estado menos investe na educação e na ciência, em percentagem do Produto Interno Bruto. Para além de comprometer qualquer possibilidade de desenvolvimento económico e social, a degradação acentuada que ocorreu nestes domínios põe em causa a própria sobrevivência do país como nação soberana e independente. No entender da candidatura do PCTP/MRPP, o investimento do Estado em educação e ciência nunca deveria ser inferior a 10% do PIB, ou seja, sensivelmente o dobro do que é actualmente.

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Para a candidatura do PCTP/MRPP, os únicos casos em que é admissível o financiamento de instituições de ensino privado com dinheiros públicos são aqueles em que tais instituições não tenham fins lucrativos e desempenhem um papel supletivo relativamente à rede de estabelecimentos públicos. Opomo-nos assim frontalmente à ideia de que a educação de massas pode ser convertida numa actividade empresarial capitalista e, por maioria de razão, ao financiamento público de empresas educativas ou à alienação da escola pública a interesses económicos privados.

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No entender da candidatura do PCTP/ MRPP, as medidas mais urgentes que devem ser aplicadas nas escolas com o objectivo de melhorar as condições de trabalho de alunos, professores e funcionários são as seguintes: • Derrube do governo de traição nacional PSD/CDS e constituição de um governo democrático e patriótico; • Saída do euro, reposição do escudo e repúdio da dívida pública; • Aumento do financiamento estatal da educação pública para um valor mínimo de 7% do PIB; • Revogação imediata de toda a legislação na área da educação aprovada desde a governação da dupla Sócrates/Maria de Lurdes Rodrigues até hoje, com reposição provisória de toda a legislação então existente, salvaguardadas as necessárias adaptações; • Constituição de uma comissão de reforma do sistema educativo, integrando professores, educadores e sindicatos, universidades e centros de investigação, associações de pais e associações de estudantes, entre outras; • Integração nos quadros de todos os professores com pelo menos três anos de serviço efectivo prestado; • Reposicionamento na carreira de todos os professores, tendo como base a legislação

existente em 2006 e o número de anos de serviço dos novos professores integrados na carreira.

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Uma vez que o OE de 2014 , no que toca a Educação são cerca de 7,8mm€, cerca de 4,7% do PIB, e notório que e insuficiente para a educação de qualidade e alargada que todo o cidadão pretende. Pensamos que o mínimo satisfatório seria de 6,5% do PIB, com o financiamento que o governo paga ao ensino privado utilizados na educação pública. A educação e um direito do cidadania e um dever do Estado. O ensino público visa o lucro. Quer isto dizer que o o financiamento apenas e só se justifica quando as populações não tem um serviço de educação pública a sua disposição no território de residência e o privado vem suprir essa falta. Equipamentos de infra-estruturas, melhoria de tecnologias (tecnologias de informação, bibliotecas e outros equipamentos que assegurem actividades extracurriculares necessárias ao crescimento saudável do cidadão -música e desporto, por exemplo. Turmas de 20 alunos que possibilitem o contacto e directo e o acompanhamento constante do trabalho do aluno.

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Tendo em consideração que Portugal continua a apresentar das mais altas taxas de analfabetismo da UE e durante décadas apresentou atrasos a nível da investigação científica, a percentagem mínima do PIB em investimento na Educação e Ciência, na actual conjuntura, deveria ser no mínimo de 7% (pelo menos 5% para a Educação e 2% para a Ciência). Poderíamos obter esses recursos financeiros fazendo uma auditoria à dívida, confiscando as riquezas de quem roubou e endividou o País e fazendo a suspensão do pagamento desta dívida injusta (que só em juros anuais perfazem 8 mil milhões de euros). Com um significativo investimento na Educação e Ciência o nosso país poderia aproveitar os muitos recursos biológicos, minerais e energéticos que possui, criando muitos milhares de postos de trabalho sustentáveis.

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O ensino privado deve ser apenas financiado em situações excepcionais e de uma forma temporária. Apenas em situações ou zonas onde a rede pública não existe e mesmo assim apenas até que a rede pública de escolas abranja todo o território nacional. O Estado não deve continuar a apoiar estes grupos privados com milhões de euros (só em 2013 foram cerca de 35 milhões de euros) sobretudo quando retira investimento na Escola Pública. Infelizmente nos últimos anos a Escola Pública tem sido alvo de vastos e profundos ataques. Dessa forma seria necessário muitas acções para melhorar as condições de trabalho nas escolas no entanto

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indicaremos apenas 7 medidas concretas possíveis e importantes nesse sentido: 1) diminuição do número de alunos por turma, proporcionando um melhor processo de ensino-aprendizagem, mais emprego docente e diminuindo a sobrecarga dos professores que estão nas escolas; 2) reposição das disciplinas extintas em resultado das últimas revisões curriculares, incluindo a reposição do par pedagógico na disciplina de EVT; 3) mais professores de Educação Especial, técnicos, psicólogos e funcionários nas escolas, para apoio nomeadamente aos alunos com necessidades educativas especiais; 4) devolução da democracia às Escolas,

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Levar a luta ao voto nas eleições para o Parlamento Europeu

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s próximas eleições de dia 25 de Maio para o Parlamento Europeu são um importante momento para que os trabalhadores possam afirmar a vontade de uma profunda ruptura com a política de direita e abrir caminho a uma real alternativa de esquerda e soberana na vida nacional e no rumo da União Europeia. Tem sido particularmente importante a resistência e luta dos trabalhadores em Portugal e na Europa. De forma determinada e persistente, sucedem-se múltiplas e poderosas mobilizações, em defesa dos seus direitos e conquistas laborais e sociais, pugnando por políticas alternativas que assegurem o fim da exploração, da pobreza, das desigualdades, da injustiça social e que garantam um novo rumo de desenvolvimento económico e social para os trabalhadores e povos em cada país e na UE. Esta é, uma luta que importa prosseguir e intensificar em Portugal e na Europa, juntando forças e vontades na convergência de posições pela defesa dos direitos dos trabalhadores, dos jovens, dos reformados, dos desempregados, dos imigrantes, da igualdade entre mulheres e homens, das questões ambientais e do combate contra o belicismo. É esta luta que no nosso país temos de levar até ao voto, fazendo das próximas eleições para o Parlamento Europeu um momento para mostrar o cartão vermelho aos que, lá como cá, estão comprometidos com a governação económica e o tratado orçamental, com a política que inferniza a nossa vida e hipoteca o desenvolvimento do país.

JORNAL DA FENPROF | MAIO 2014

Votar em 25 de Maio por uma ruptura com a politica de empobrecimento e exploração em Portugal e na UE, será o mais seguro contributo para derrotar o governo PSD/CDS, e um momento de reafirmação popular de exigência de eleições legislativas antecipadas, para assegurar a devolução dos salários e direitos roubados, para exigir a imediata renegociação da dívida pública, nos seus montantes, prazos e juros, rejeitando a sua parte ilegítima. As eleições de 25 de Maio constituem uma importante oportunidade para dar expressão eleitoral à necessidade de defender os interesses nacionais, de combater a integração capitalista europeia, de utilizar todos os meios e possibilidades a favor do progresso e do bem-estar dos portugueses e para lutar contra a politica neoliberal e as imposições supranacionais que promovem a austeridade, a exploração e o empobrecimento e são factores de graves limitações à democracia e à vontade soberana do povo. Um novo rumo para Portugal e para a Europa é possível, com o incremento das lutas dos trabalhadores e dos povos. Todos os que aspiram a uma vida melhor têm a possibilidade, com o seu voto, em 25 de Maio de 2014, de contribuir para uma outra Europa, de Estados soberanos e iguais em direitos, com desenvolvimento sustentado, de trabalho com direitos e justiça social e para um Portugal desenvolvido e soberano que retome os valores de Abril. Do Manifesto da CGTP-IN “Levar a luta ao voto nas eleições para o Parlamento Europeu. Por um Portugal com futuro! Por uma Europa dos trabalhadores e dos povos!”, 15 de abril de 2014.

repondo um órgão colegial na direcção, eleito por quem está nas escolas (Professores, funcionários), declinando a figura/poder unilateral do director; 5) vinculação dos professores contratados, no estrito cumprimento da Lei, tendo como base o tempo de serviço efetivo, com contagem integral do mesmo, conferido pelos contratos celebrados com o Ministério da Educação e Ciência; 6) uma remodelação dos concursos/ofertas de escola que prima pela transparência e imponha a graduação docente como premissa fundamental de colocação/selecção; 7) todo o serviço com alunos deve ser considerado lectivo (apoios, clubes, projectos, direcção de turma, etc.).

Mário Nogueira

Portugal não é uma colónia do FMI

“(…) Nos dias em que troika voltou a ocupar fisicamente edifícios públicos portugueses, ouviram-se inaceitáveis e antidemocráticos ataques ao Tribunal Constitucional; pressões e os mais diversos recados sobre os partidos políticos; ataques nunca vistos à contratação coletiva e a insistência na redução dos salários e das pensões; o anúncio de uma nova vaga de despedimentos da Administração Pública, de imediato sob a capa de rescisões amigáveis, preparando-se, para muito breve, o vendaval da mobilidade especial que arrastará milhares para a antecâmara do desemprego. “O que irá acontecer com o que o governo aprovou são continuados e cada vez mais profundos ataques a direitos fundamentais do povo português, fazendo tábua rasa da nossa Constituição e procurando transformar Portugal em colónia do FMI(…)” Da intervenção de Mário Nogueira, Secretário Geral da FENPROF e membro do Executivo da CGTP-IN, no 1.º de Maio, em Coimbra


OPINIÃO

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Reforma do estado ou o ilusionismo das palavras

ANTÓNIO AVELÃS (membro do SN da FENPROF)

Uma das armas do governo PSD/CDS para tentar iludir os portugueses é o evitar termos que tenham conotações negativas, “embrulhando” os seus projetos de terrorismo social numa linguagem mais doce.

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ortes nos salários e pensões passaram a ser “ajustamento”, liberdade para despedir mascara-se de“flexibilidade laboral” e um imposto obrigatório sobre as pensões passa a chamar-se “contribuição extraordinária de solidariedade.” Esta mesma técnica é tentada com a chamada “Reforma do Estado” de cujo projeto Paulo Portas se diz autor. Reformar o Estado deveria ser uma normalidade: mudam-se circunstâncias, alteram-se contextos e economias – seria portanto normal que se adaptasse o aparelho de Estado a essas mudanças. Só que o que o governo chama “Reforma do Estado” nada tem a ver com esta “normalidade”. O que Coelho/Portas se propõem é reduzir ao mínimo as funções do Estado – sejam as funções sociais, seja a intervenção do Estado na economia. Chamam “reforma” ao que em boa verdade se deveria chamar de “destruição”. Para estes arautos do mais desumano neoliberalismo, é necessário que o Estado “se afaste” de tudo aquilo que possa dar interesse ou lucro à iniciativa privada capitalista. Sob a capa diáfana da “reforma do Estado” pretende-se criar e alargar o espaço para a intervenção do privado na segurança social, aliás um primeiro passo para a sua total privatização no futuro. Reformar o serviço nacional de saúde, impor-se-ia se fosse para melhorar o atendimento nos hospitais e centros de saúde, para alargar a rede de

saúde dos serviços primários ou paliativos… Mas nada disso está “em cima da mesa”: o que se pretende – mesmo que para isso se degrade a prestação dos serviços públicos de saúde – é alargar o espaço de intervenção de clínicas e hospitais privados. Falemos da Educação Uma “reforma do Estado na Educação” ao serviço das populações seria bem vinda se tivesse como objetivo um combate efetivo ao abandono e insucesso escolares. Se ampliasse e melhorasse o apoio às crianças com deficiências. Se possibilitasse o funcionamento de laboratórios de modo a melhorar a formação científica nas escolas básicas e secundárias. Se reforçasse o investimento feito nos últimos anos (antes deste governo) no desenvolvimento da investigação científica. Se combatesse o abandono de milhares de estudantes universitários e do politécnico sem dinheiro para continuarem os seus estudos. Ora o que este governo propõe é exatamente o inverso: o seu objetivo é alargar a influência dos colégios privados – que, aliás, se prepara para financiar com dinheiros públicos. Ao pôr fim aos condicionamentos que vigoraram para a construção de colégios privados, a quem garante “sustento”, Portas e Passos mais não querem que desqualificar a escola pública. Na sua mistificação vocabular, fundamentam este ataque à escola pública – e portanto à maioria dos cidadãos – no princípio da liberdade de aprender e ensinar! O governo chama “reforma da Educação” à consagração da divisão entre escolas para ricos e escolas para pobres, integrando nestas últimas a proliferação de escolas “vocacionais” e “empresariais”, repondo no fundo a divisão entre “liceus” e escolas técnicas e comerciais com que as elites económicas se protegeram durante a ditadura salazarista. Esta luta pelo “desvelar” do real sentido das palavras, de modo a que elas não escondam mas exponham a crueza das intenções, é uma das vertentes da luta ideológica contra

O que Coelho/Portas se propõem é reduzir ao mínimo as funções do Estado – sejam as funções sociais, seja a intervenção do Estado na economia. Chamam “reforma” ao que em boa verdade se deveria chamar de “destruição”. Para estes arautos do mais desumano neoliberalismo, é necessário que o Estado “se afaste” de tudo aquilo que possa dar interesse ou lucro à iniciativa privada capitalista.

os projetos deste governo de direita. Uma “reforma da Educação” seria bem vinda. Mas a destruição da Escola Pública de Qualidade para Todos que este governo pretende levar a cabo, disfarçada sob o epíteto de reforma, tem de ser denunciada e firmemente combatida. Sob a capa da chamada “reforma do Estado” o governo esconde o seu o projeto totalitário da destruição dos valores que Abril projetou e, com heróica dificuldade, tem vindo a construir.

JORNAL DA FENPROF | MAIO 2014


14 HOMENAGEM INTERNACIONAL

SNES em Congresso O SNES (Syndicat national des enseignements de second degré) realizou no início de abril, em Marselha, mais um congresso. Sendo um sindicato muito (comb)ativo, o SNES realiza congressos com a duração de uma semana todos os dois anos. MANUELA MENDONÇA (Membro do SN da FENPROF)

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omo é hábito, as delegações estrangeiras presentes no congresso juntaram-se numa reunião de trabalho para partilharem experiências e debateram perspectivas de ação comum. Nessas reuniões, é escolhido um porta-voz que apresenta ao congresso uma síntese do que foi discutido. Este ano, coube à FENPROF essa apresentação, que aqui se reproduz (mais informação em http://www. snes.edu/L-International-a-l-honneur-au.html). Caros colegas, caros camaradas, caros amigos do SNES, Em nome dos convidados internacionais presentes no vosso congresso – Reino Unido, Alemanha, Grécia, Japão, Congo, Tunísia, Itália, Hungria, Turquia, Brasil, Palestina, Marrocos, Espanha e Portugal – e como porta-voz de todos, dou-vos conta do debate e da informação que ontem trocámos sobre a situação nos diferentes países. A discussão foi muito rica e detalhada, mas falarei apenas das principais linhas de força. Em primeiro lugar, no que diz respeito ao... • Investimento na educação: Assiste-se a uma redução sistemática dos recursos financeiros destinados à educação pública. O único ponto positivo é o caso do Brasil, onde o Parlamento acaba de aprovar

JORNAL DA FENPROF | MAIO 2014

uma lei que prevê um investimento de 10% do PIB na educação ao longo da próxima década. A reivindicação dos sindicatos brasileiros é, agora, que seja reservado à educação pública, esperando uma melhoria significativa da educação no país. Em relação à... • Privatização: Na maioria dos países, os cortes orçamentais são acompanhados de medidas que visam o desenvolvimento do ensino privada ou a privatização do ensino público (no Reino Unido, por exemplo, um grande número de estabelecimentos de ensino é gerido por empresas privadas que aproveitam para reduzir os salários dos professores redução que pode chegar a £ 9.000 por ano). Em termos da... • Instabilidade das políticas educativas Sempre que os governos mu dam, impõem novas reformas sem avaliar seriamente o quadro legislativo em vigor nem envolver os professores nas mudanças implementadas. Em Espanha, por exemplo, o governo de direita acabou de impor uma reforma fortemente contestada pelos sindicatos, que, entre outras coisas (como o aumento do número de horas em sala de aula e do número de alunos por turma), torna obrigatória

a religião, cuja classificação passa a contar para a média do secundário. Gostaria de mencionar agora... • O direito à educação para todos. Um pouco por todo o mundo, são as crianças dos grupos sociais mais vulneráveis​​ ou em situação de deficiência as primeiras vítimas destas políticas. No Congo, a educação não é gratuita, 70% da população é pobre, e 5 milhões de crianças não estão na escola. No Japão, apesar da pobreza das famílias, os pais são obrigados a participar no financiamento da educação. E na Europa também, nomeadamente nos países do Sul, a pobreza e a exclusão social têm aumentado dramaticamente. O acesso à universidade, em Espanha, em Itália ou em Portugal, torna-se cada vez mais difícil devido à supressão de bolsas e do elevado valor das propinas. Milhões de jovens são privados do direito ao ensino superior, mesmo quando os níveis de frequência ainda estão longe da média da UE. Outro problema comum é... • O estatuto e as condições de trabalho dos professores, que estão sujeitos a ataques sobre os seus postos de trabalho e o sentido da sua profissão. Por um lado, há uma tendência para a desprofissionalização. Dois exemplos: - No Reino Unido e em Marrocos, deixou de ser exigida qualificação para alguém se tornar professor! - Na Hungria, isso toma uma outra forma: a recente reforma mudou profundamente o sistema educativo, centralizando-o, o que limitou a liberdade acadêmica dos professores, que até deixaram de poder escolher os manuais! Por outro lado, degradam-se as condições de exercício da profissão. As políticas educativas seguidas nestes últimos anos têm agravado os factores de stress na profissão: • Turmas demasiado grandes (em Marrocos, há até 40 alunos por turma, no Congo ainda mais), o que, entre outras coisas, agrava a indisciplina; • Horários de trabalho sobrecarregados (no Japão, por exemplo, o sindicato realizou um inquérito que mostrou que cada professor é forçado a trabalhar mais 90 horas suplementares por mês! • Reforço dos poderes dos directores das escolas, por exemplo na Turquia • Competição entre escolas e professores. A estes factores, juntam-se por vezes casos de violência por parte de alunos/ pais para com os professores, como na Tunísia, onde o ministério não intervém nestas situações. Por todas estas razões, a profissão de professor torna-se cada vez mais difícil. As condições de aposentação dos professores deviam atender a isso, mas a idade da reforma aumentou em muitos países – para os 66 anos (por exemplo, em Portugal) e para os


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67 anos (casos da Grécia, Itália e Espanha). No Congo, não há mesmo pensão de reforma para os professores! Além disso, para tornar o sistema educativo mais barato, em muitos países tem havido uma redução significativa de postos de trabalho na educação pública, 140.000 em Itália entre 2008 e 2011! A situação é particularmente grave nos países do sul da Europa, devido às medidas de austeridade impostas pela Troika. Há milhares de professores precários sem qualquer perspectiva de integração na carreira e até mesmo professores dos quadros em vias de serem despedidos, como na Grécia e em Portugal! Cada vez há mais pessoas qualificadas a deixar esses países. Além disso, na maioria dos países os salários dos professores estão congelados (como em França e em Itália) ou foram reduzidos, casos da Grécia, Portugal e Espanha. Em muitos países, os salários dos professores são muito baixos, como na Turquia, na Tunísia ou em Marrocos, e no Congo o salário médio é de 50€... E agora, uma questão recorrente... • O diálogo social e os direitos sindicais Na maioria dos países representados, constata-se que não há um verdadeiro

diálogo social. Como dizia uma colega, estamos diante de um “monólogo social”, ou, como acrescentava outro, um “monólogo anti-social”! Além da falta de negociação, em vários países o direito à greve não está garantido, como no Japão, na Hungria, na Palestina, na Alemanha para os funcionários públicos. No Brasil, a proibição de greves não impede os nossos colegas de a fazerem, às vezes durante 60 dias, como aconteceu recentemente! Em conclusão, no geral, no que diz respeito aos problemas de que falámos ontem, podemos dizer que um pouco por todo o lado são as mesmas políticas neoliberais que são aplicadas para promover as leis do mercado em detrimento dos princípios da justiça social e da solidariedade, para desqualificar os serviços públicos e para atacar os direitos dos trabalhadores e as organizações que os representam. Neste contexto, de regressão civilizacional, os sindicatos da Educação têm levado a cabo lutas importantes: • greves e manifestações; • campanhas em defesa da educação inclusiva ( na Alemanha e em Portugal, por exemplo ). • iniciativas integradas na campanha

da Internacional da educação “Unidos pela educação”, envolvendo diferentes atores (professores, alunos, pais, sindicatos, sociedade civil), em defesa do direito à educação para todos e de um maior investimento na educação pública. A coligação que promove acções em Espanha é um bom exemplo de participação e acção comum. Finalmente, no grupo, reafirmámos a necessidade de uma resposta sindical forte e coordenada a nível europeu e mundial. Porque num contexto em que as políticas são cada vez mais concertadas a nível supranacional, o movimento sindical também tem de globalizar as suas respostas. Agradecemos-vos por nos terem convidado para o vosso congresso, dando-nos a oportunidade de debater os nossos problemas e desafios comuns. Juntos seremos mais fortes para lutar: • Pela dignificação da profissão docente; • Pela valorização da escola pública gratuita e de qualidade para todos; • Pelo reconhecimento dos sindicatos como pilares de uma sociedade democrática; • Pela promoção de uma educação para a paz, os direitos humanos e a democracia. Sabemos que o SNES estará connosco neste combate. Bom congresso e obrigada a todos!

Nacional

Reformados, aposentados e pensionistas firmes na luta! GRAÇA PEDROSA (Departamento de Professores Aposentados da FENPROF)

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bril e Maio meses de festa e de luta de todos os trabalhadores no activo mas também meses de festa e de luta de todos os trabalhadores reformados, aposentados e pensionistas. A par das comemorações dos 40 anos do 25 de Abril e comemoração do 1.º de Maio que teve forte participação dos trabalhadores reformados, aposentados e pensionistas, ressaltamos duas grandes iniciativas, as Marchas de Indignação e Protesto promovidas pelo MURPI, a 12 de Abril, e o II Encontro Nacional de Aposentados da Administração Pública, organizado pela Frente Comum de Sindicatos da Administração Pública, a 7 de Maio, em Lisboa. As Marchas de Indignação e Protesto realizadas em Coimbra, Covilhã, Faro, Guimarães, Lisboa e Porto trouxeram para a rua milhares de reformados, aposentados e pensionistas que gritaram bem alto a sua indignação contra as pensões de miséria, os

roubos nas pensões, a destruição dos direitos sociais, o aumento dos impostos e do custo de vida, a política ruinosa dos Governos PS, PSD e CDS que, escudados na Troika (UE/FMI/BCE), têm (des)governado o País sobrepondo os interesses do capital aos interesses do povo português. Exigiram, também, que o MURPI seja reconhecido Parceiro Social e aprovaram uma resolução cujo teor se encontra no site da FENPROF. No II Encontro Nacional de Aposentados da Administração Pública estiveram dirigentes e activistas dos diversos Sindicatos da Frente Comum que apresentaram preocupações e exigências dos aposentados que representam. Eugénio Rosa fez uma excelente exposição sobre as medidas que o Governo tem tomado e se propõe tomar contra os aposentados, expressas no Documento de Estratégia Orçamental (DEO). Terminado o

debate da tarde foi aprovada uma resolução com as grandes reivindicações dos aposentados (ver site da FENPROF) e, de seguida os participantes no Encontro organizaram-se em cordão humano e caminharam até ao Ministério das Finanças onde uma delegação entregou a Resolução. Nestas iniciativas reafirmou-se a importância da continuação da luta, para que em 25 de Maio, dia de eleições para o Parlamento Europeu, todos utilizemos o voto para mostrar, ao Governo e aos partidos comprometidos com a política da Troika, a nossa discordância. Queremos a mudança de política por um Portugal soberano, mais justo e solidário para com todas as gerações.

JORNAL DA FENPROF | MAIO 2014


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FENPROF • Rua Fialho de Almeida, 3 1070-128 LISBOA

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VO, SO ÇA!

E T N E M E IU T N E M Á J M E U Q PARA O CONSEGUIR O QUE ELES DIZIAM EM VÉSPERAS DE ELEIÇÕES

ram! Não mexer nos subsídios… Mas mexe ! Não cor tar salários… Mas cor taram m! Não tocar nas pensões… Mas tocara Não aumentar impostos…

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a grumadas maus m (Sués);

OJE, RAS CER HÃ.

A Ç N A FI N O C E D TO O V E C E R NÃO ME

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Mas aumentaram! Não provocar desemprego… Mas provocaram! ios Que os cor tes impostos eram transitór ma e só durariam até ao final do progra

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da troika…

MAS AFINAL, PELO QUE AGORA DIZEM…

s a termi… Embora o programa esteja preste bo (e só no nar, só admitem repor 20% do rou ndo 80% do próximo ano, acrescentam!), mante o aos 20% que foi roubado. Mesmo em relaçã ra o ano, a de corte que dizem repor apenas pa , aumento contrapartida é novo aumento do IVA ça Social, dos descontos para a CGA e Seguran e nova aumento do desconto para a ADSE o Públivaga de desemprego na Administraçã forte ca que, como já anunciaram, terá um de impacto na Educação (encerramento escolas, mais horários zero, mobilidade especial …)

FEDERAÇÃO NACIONAL DOS PROFESSORES


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