COM CHEIRO DE TERRA MOLHADA 101 RAZÕES PARA AMAR O PIAUÍ - PARTE 1 Em 140 caracteres – ou mais – internautas manifestam em redes sociais as inúmeras razões para se amar tanto este Estado. MAMÃE BOTE O MEU! Sushi, bombons de cachaça, pizza de carne de carneiro... Natacha Maranhão te deixa com água na boca ao apresentar os novos sabores da culinária piauiense em uma matéria de encher o prato!
DO CHÃO DE TERRA PARA OS PALCOS DO MUNDO Carlos Lustosa Filho seguiu os passos da bailarina Maria Janaína Barros do Nascimento, 14 anos, e seu salto para os palcos do mundo.
DO PIAUÍ PARA O MUNDO Adler Murad, Hudson Melo, Bernardo Aurélio, Jimmy Charles, Mirton de Paula, Quaresma e Bayá. Rafael Campos apresenta os nomes que estão dando um novo fôlego à cena cultural piauiense. NOVO ARTESANATO DO PIAUÍ Da argila ao batuque da cabaça, Isabel Cardoso e Clarissa Poty desenham a nova estética do artesanato made in Piauí. VIXE Rômulo Maia reforça, através de artigo cheio de humor, o lado bom de ser piauiense.
Fenelon Rocha escreveu
O Piauí é assim: um mundão de coisas. Coisas de encher os olhos. Afagar a alma. Aquecer o coração. Coisas que não se encontra em parte alguma. Um tanto delas está aqui, nesta publicação que festeja o Dia do Piauí – ou melhor, o Mês do Piauí. E, mais que tudo, que festeja o talento da nossa gente e as preciosidades do nosso estado. São coisas que mostram um tantinho assim do montão de motivos pra gente amar essa terra tão querida. E sair por aí, o peito estufado e o coração ardendo de orgulho.
Um bocado desse orgulho está logo na abertura, com a primeira das três partes dos 101 MOTIVOS PARA AMAR O PIAUÍ. São manifestações colhidas nas redes sociais, onde cada um disse o que quis. Há tanto amor declarado que nem cabe aqui. Neste primeiro número, dedicado à cultura, tem muito mais. Tem um pouco de passado... E um montão de presente, que já é um pedaço do futuro. Tem gente que faz música moderna com pedaços de tradição, tem gente que renova a tradição com retalhos do amanhã. Tem gente que pinta com a tinta da transgressão e quem sobe os palcos
com as roupas da ousadia. Tem gente que cozinha novidade com o tempero da vovó. Em cada matéria, um pedaço desta terra querida. Porque esta é nossa intenção: mostrar fragmentos que formam nossa rica cultura e nossa firme identidade. Fragmentos com som, sabor e cor. E que nos remetem aos sentimentos que nos envolvem e nos fazem mais e mais piauienses. Esta publicação não é só pra ser lida. É pra ser sentida. Como quem aspira o cheiro de terra molhada pelas primeiras chuvas.
“A facilidade do nosso povo de evoluir para a unidade na diversidade.” @lilianmartins40 “O Piauiês. Tem 'corra már' linda?” @danuseda
doar e de ajudar os outros. A solidariedade para mim é a cara do Piauí” @iracemaportela “Terra de sonhadores como o muso Lucas Cel
de transformar até a mais trágica das histórias em algo que vale a pena ver e viver”. Vanessa Sousa “Eu amo a Serra da Capivara, porq
das inscrições rupestres. Piauí, passado, presente, futuro... sempre!” Maia Veloso “Tem a baixa da égua. Lá, no centro da cidade. É uma
“O respeito pelo próximo e pelas diversas crenças que co-existem nesse Estado; as lendas hipercriativas, criatividade musical, a conjugaç
“Tem humor! Nosso povo é alegre, conta história, piada... inventa e reinventa. É terra da Sarah Menezes, a terceira judoca no ranking mun
“Para amar o Piauí basta tomar a água dos rios Parnaíba e Poti, comer manga, bacuri, pequi, tomar cajuína e sembereba de buriti” Walkí
“Validuaté Alegria Girar com sua música e apresentação super teatral, que é a coisa mais linda. Hudson Melo e Bayá com sua arte superc
Natacha Maranhão “Terra de Da Costa e Silva, H.Dobal, terra da Chapada do Corisco, da Serra das Confusões, da Capivara, único luga
ainda conquisto e ainda acredito e ainda aposto...” Roraima “Andar nos lugares e sempre encontrar conhecidos, sair por aí e nunca se s
um povo com vários sotaques. Quem mora em Teresina fala totalmente diferente de quem mora em São Raimundo Nonato.” Rômulo Mai
baixo. O calor! As praias maravilhosas.” Janaina Sousa Loureiro Passos “Essa gente maravilhosa, que a cada dia expressa superação
bravamente a “quintura” do “B-R-O Bró”, atende a gente com um “diga, meu bem” e ainda tem ânimo para agradecer quando está “bonito
um prato na mesa, sem cerimônias.” Caroline Oliveira “Porque no Piauí me sinto em casa, é onde vivi as maiores aventuras e é onde de
céu azul e vento frio!” @domviana “Depois que a gente sai do nosso Piauí réi e vem passar uns tempos fora... A gente percebe o quanto
céu é mais estrelado à noite e nosso dia mais iluminado todos os dias. Porque eu to aqui, mas meu coração réipiauiense tá tomando sol n
do mundo...” Tiago Arrais “Se o pão tá caro, nem damos pela falta, comemos rosca, bejú, cuscuz, bolo frito, grolado de puba e pense nu
tivessem trocado o pão por cuscuz,tinha alimentado o dobro de gente.” Marcinda “Porque é o único lugar do mundo onde poderia ter na
pleno b-r-o-bró.” @larissagomez “Porque aqui eu posso usar o verbo coisar pra qualquer coisa” Jônatas Freitas “No Piauí nasci, tive u
com o melhor conhecimento que tento adquirir nos lugares por onde passo.” Elizeu Neto “O gosto do suco de cajá do seu Abraão, o doce
antiago “Eu amo o Piauí pela pessoas exigentes e pela religiosidade” @Irakerly Acho maravilhosa a capacidade que o piauiense tem de se
lebridade, o eterno divo da websfera brasileira” @lucasfamapop “Um dos grandes motivos para amar o Piauí, é nossa gente que tem o poder
que colocou o Piauí na pauta de turismo científico e internacional e ainda nos transporta para a magia e sabedoria de povos antigos, através
a região antiga e que tem histórias para contar. Tem escola de samba, Sambão, e muita gente bacana!” Thamirys Viana
ção de um novo verbo em todos os tempos: eu fresco, tu fresca, ela fresca, nós frescamos, vós frescais, eles frescam” Tamires Coelho
ndial.” Samia Menezes “Aqui, todo mundo é filho do seu menino e da dona menina, que a gente conhece desde pequeninho.” Andreia Sousa
íria Barros de Ibiapina Fortes “Eu amo o Piauí pela sua música, pela riqueza que tem com os cantores da terra” Rejane Moraes
contemporâneas e que não ficam para trás de nenhum artista com visibilidade nacional.” Geórgia Rodrigues “O Piauí é lugar de encontros!”
ar do Brasil que tem opala.” Gina Silva “Um amor que encontrei aqui e que me fez acreditar e apostar em tudo que hoje eu conquistei e
sentir sozinho! Aqui o povo é acolhedor, e onde quer que você esteja, sempre vai ter alguém disposto a lhe ajudar! “ Júnior Rabêlo “Somos
ia ”A simpatia e facilidade das pessoas em conversar com as outras. Os pés de manga gigantescos, onde geralmente mora um boteco em
o e ousadia.” José Osmando de Araújo Ah, 'mermã'!Num tem como não amar o Piauí não, “num tem?”. O lugar onde o povo suporta
o pra chover” Jadson Osório “Nesta terrinha você pode ir visitar à casa dos amigos sem avisar e na hora das refeições, que será mais
eixei conservadas as melhores amizades.” Cassandra Campos “As manhãs de maio a junho do Piauí são as mais bonitas do Brasil:
o nosso jeito de falar é agradável aos ouvidos, o quanto nossas cidades são aconchegantes, o quanto nossa capital é linda, o quanto nosso
na beira do Parnaíba, rio abaixo, rio arriba. Amo mesmo!” Maurício Sousa “Porque temos o humorista João Cláudio Moreno que é o melhor
um negócio que enche o bucho. É comer de manhã cedo e só sentir fome depois de meio dia. Acho que aquele milagre da Bíblia, se
ascido o trágico gênio Torquato Neto - pronome pessoal intransferível!” EdwarUFPI “A alegria do piauiense por causa d um chuvisco em
uma infância maravilhosa, estudei num dos melhores colégios do Brasil. No Piauí descobri a medicina e pro Piauí um dia voltarei,
e de bacuri da Batalha, a linguiça de José de Freitas, a pêta de Barra”. Anucha Melo Bittencourt
Natacha Maranhão escreveu
MAMÃE, BOTE O MEU! MAS COM NOVIDADE, POR FAVOR. CENA 1 A carne de boi é aberta em mantas, salgada e colocada pra secar à sombra, para não esturricar no sol inclemente. Depois de desidratar, mas ainda um pouco úmida para manter o sabor e a maciez, está pronta a carne de sol. É hora de escolher um pedaço bem bonito e preparar uma Maria-Isabel, uma paçoca, uma carne de sol grelhada com manteiga da terra, para comer acompanhada de uma macaxeira quentinha.
CENA 2 O filé de carneiro está temperado com alho, sal e pimenta do reino, as costeletas têm um toque de coentro e pimenta de cheiro. O filé será grelhado e servido com baião de dois molhadinho, com bastante queijo coalho picado e nata, para ficar cremoso. Costeletas de carneiro ou bode serão cozidas até ficarem bem macias, depois vão receber um banho de leite de coco e uma chuvinha de cheiro verde picado. Aí estarão prontas para acompanhar um arroz branco puxado no alho, fumegante.
CENA 3 Uma pescada amarela fresca e linda clama por azeite de oliva, cebola, pimentões coloridos, cheiro verde, batata e cenoura, tudo junto numa panela grande para fazer um caldo perfumado e delicioso. A carne tenra do peixe cozinha em fogo baixo para não se desmanchar, enquanto um pouco do caldo é retirado e levado para outra panela para fazer um pirão mole.
A comida feita com os ingredientes típicos do Piauí faz parte da memória afetiva de quem nasceu e se criou por aqui, de quem veio e ficou, de quem só vem a passeio. Mas de repente, a carne de sol virou pizza, a pescada amarela virou sushi. E o jerimum virou farofa, o filé tomou uma dose de Mangueira, deixou sobrar um pouco no copo e a cachaça foi parar dentro de um bombom de chocolate. Foi só os ingredientes caírem nas mãos de cozinheiros ousados, que não têm
medo de experimentar, e surgiram novos pratos com sabor de Piauí, mas um quê de moderno, de surpreendente, sem perder a identidade.
sushi nipopiauiense
O sushiman Hideki Kozuma, do restaurante Gengibre, nunca teve medo de fazer experiências na cozinha. Durante uma temporada na Barrinha, povoado que fica depois de Barra Grande, no litoral do Piauí, começou a testar os peixes e mariscos locais em sushis, sashimis e tempurás com pegada bem piauiense. “Nosso litoral é muito rico. Os mariscos 'fazem lama' na praia e quase ninguém consome. Nesse período que passei na Barrinha comecei a testar os sabores, a criar combinações e foi dando certo”, conta. Dentre os sabores do mar do Piauí que ganharam um toque oriental estão as ostras, tariobas, siris, sururus. Kozuma cita o sushi de ostra com flor do sal e limão como uma de suas criações mais ousadas, ao lado do tempurá feito com a lagostinha que abunda no pequeno e rico litoral daqui. Além dos mariscos, os peixes (de mar e de rio) também entraram na onda nipopiauiense de Hideki, que prepara sushis com tucunaré, pescada amarela e robalo.
Foi o desejo de comer uma pizza diferente e de usar velhos conhecidos das cozinhas piauienses em novas receitas que fez o restaurateur e empresário Gunnar Campos incluir no cardápio do Ateliê do Chef a carne de sol, o filé de carneiro, a rapadura, o queijo de coalho, a macaxeira e até o doce de caju, tudo devidamente transformado em pizza, claro! A Candieiro, com mussarela, filé de carneiro, creme de macaxeira com requeijão e cebola; Do Campos, com mussarela, carne de sol, molho bechamel, requeijão, banana e azeitona preta e Sertão, com mussarela, rapadura, queijo de coalho e caju em calda são as pizzas mais piauienses do Ateliê. Mas Gunnar quer mais e avisa que anda com vontade de fazer uma pizza com creme de pequi. “Acho que ficaria muito boa”, diz.
massa, molho, mussarela e rapadura
embriagando as carnes
Nascido no Maranhão, curtido no Rio de Janeiro e há 10 anos em Teresina, o chef Ariston Barbosa, do bar Água de Chocalho, é apaixonado pela comida do Piauí. A variedade de ingredientes é sua fonte de inspiração na hora de criar pratos novos, com sabor inusitado. Nas mãos de Ariston, o jerimum vira farofa, feita com manteiga da terra, para acompanhar filé de carneiro. “Dos pratos que faço atualmente, gosto muito do pernil de carneiro desossado com ervas comuns no Piauí. Uso cebolinha, coentro e coentro de caboclo, uma variedade mais rústica, que era muito comum aqui no Piauí há muitos anos mas hoje quase não se usa mais. Conheci essa erva e agora faço questão de cultivar para usar nos meus pratos. É perfeita com carneiro”, diz o chef, que também usa cachaça Mangueira para embriagar cubos de contrafilé e fazer um prato com sabor único.
Liduína Guedes não é cozinheira profissional, é uma turismóloga com coração gourmet. Mas viaja mesmo é quando resolve criar uma receita nova, para deleite dos amigos e de quem mais provar. Fã da cachaça Mangueira, ela revela que sempre quis uma receita usando a bebida, mas algo que ficasse marcado na memória. “Um dia resolvi fazer um bombom recheado de cachaça. Usei a Mangueira pura e ficou muito forte, todo mundo que provou achou fortíssimo”, conta, às gargalhadas. Então começou a fazer testes, chegou a ir até Minas Gerais, onde são produzidas algumas das melhores cachaças do Brasil, para ver como fazer um bombom “quente”. “Lá vi bombons com cachaça pura, outros com o mesmo fondant que eu fiz...mas não era ainda o que eu queria. Então fiz um caramelo e acrescentei a Mangueira, aí cheguei no sabor que estava buscando, suave mas marcante”, lembra. Depois do bombom perfeito, Liduína ensaia fazer um brigadeiro de Mangueira. Alguém duvida?
docinho quente
Carlos Lustosa Filho escreveu
DO CHÃO DE TERRA PARA OS PALCOS DO MUNDO As piruetas na ponta do pé são passos gigantes na vida da jovem bailarina Mara Janaína Barros do Nascimento. Aos 14 anos, completados no último dia 2 de fevereiro, a simples e simpática garota é a maior promessa do balé já surgida no Piauí. A jovem, filha de um agricultor e uma cozinheira, alça voos altos em direção ao exterior e é um exemplo de que dedicação somada ao incentivo conseguem transformar vidas. Os primeiros “pliés” e “pas de basque” de Mara começaram improvisados em um palco bastante incomum: o
chão de terra batida do sítio da avó Maria Moreira, onde até hoje a família mora, na estrada do povoado Santa Teresa, em Teresina. “Eu tinha três anos quando vi o balé na televisão. Desde então ficava tentando imitar no quintal”, relembra. Entretanto, foi apenas aos sete anos que, com muito esforço, a família conseguiu matricular a pequena dançarina na Escola de Dança do Piauí
#Determinação Mara mostrou habilidade para a dança desde cedo, mas precisava melhorar a técnica. “A Mara sempre teve um físico que se destacava”, descreve Helly Batista Junior, diretor artístico da escola de dança que leva o nome do pai, e que ajudou na preparação da bailarina. Com a habilidade acima da média, não demorou muito para que ela começasse a competir em festivais. Logo na primeira competição, em Fortaleza, no ano passado, Mara ficou em 1° lugar. O mesmo resultado se repetiu na Bahia e em São Paulo. E foi na capital paulista que a jovem conseguiu a vaga para participar do Youth America Grand Prix (YAGP), em Nova Iorque. Após competir nos Estados Unidos ela ganhou três bolsas: do Harold Conservatory, na Flórida (EUA); Academie de Danse Princesse Grace, em Mônaco, e da filial americana da escola russa Kirov Ballet, em Washington D. C. (EUA), que foi escolhida, por ter metodologia semelhante à qual Mara já está acostumada. “Não tenho medo de ir. Vai ser difícil no começo, mas acho que vou conseguir. Quero viver essa oportunidade única e sinto muito orgulho de representar minha escola, minha cidade, meu Estado”, diz Mara, confiante.
Lenir Argento, no centro da capital piauiense. Em 2008, Mara chamou a atenção de dois grandes nomes da dança no Brasil: Toshie Kobayashi e Ricardo Scheir, que vieram de fora para ministrar um curso em Teresina, e também do renomado professor Helly Batista, de tradicional escola da capital, que lhe deu não só uma bolsa de estudos, mas também auxílio no transporte e alimentação. Foi nesse instante que a garota do interior começou a ser lapidada e se transformar em um prodígio da dança. E o pioneirismo de Mara não é só no Piauí, não. Ela é a primeira brasileira a conseguir uma bolsa integral na Kirov Academy of Ballet em Washington, Estados Unidos, única filial da famosa escola de balé russa. A bailarina embarcou no dia 20 de setembro e já está na cidade americana, onde irá concluir seus estudos escolares ao mesmo tempo em que se formará em dança. Daí pra frente, o futuro reservará os grandes palcos do mundo para os pés da piauiense que iniciaram em meia ponta no terreiro da casa da família, na zona rural de Teresina.
Rafael Campos escreveu
DO PIAUÍ PARA O MUNDO
Quem olha de fora para a arte do Piauí sempre espera encontrar uma identificação imediata com os estereótipos que perseguem o estado. A surrada temática da fome, os sabores diferentes que temperam os alimentos, mesmo o tão famoso calor se torna, para quem desconhece o que é feito atualmente, uma expectativa, até mesmo uma esperança vã na busca por uma identificação do que as obras querem passar. Porém, estereótipos limitam. E a arte contemporânea desperta tudo, menos limitações. “Não acredito que é preciso estar em um grande centro para desenvolver um trabalho artístico de qualidade. Penso que o papel do artista é conectar seu trabalho com o mundo”, afirma
Hudson Carvalho de Melo. Aos 25 anos, ele faz parte dessa geração de prodígios piauienses que percebem o lugar que nasceram como o despertar do que produzem, não o fim. E, nessa mistura, conseguem demonstrar o quanto são sim influenciados por esse sol forte, por esses gostos diferentes, mas não somente por eles. Eles são do Piauí para o mundo e deles para o piauiense. O fôlego articulador que também caracteriza a arte contemporânea faz com que exista uma maior união entre essa nova safra. Até porque eles estão nas ruas, mantendo um contato com o público, tentando, de várias formas, varrer qualquer vestígio elitista que a arte aparente ter. São obras que vão além das
telas, se mostram em camisetas, pinturas de locais públicos, músicas que misturam versos e imagens, até mesmo bons filhos que tornam à casa, como no caso do músico e publicitário Mirton de Paula, que retornou de São Paulo e criou a revista Terezona. “O caso de desenvolver a revista em Teresina foi uma forma de dizer: Chega de reclamar e vamos fazer.” E é isso que vem acontecendo. Gente que não se abala mais com modelos pré-estabelecidos, gente que procura se unir, gente que faz do seu lugar de nascimento uma bandeira para criar e desmistificar as ideias, sem nunca pensar que esse local os restringe. A arte do Piauí é do piauiense e de quem mais quiser experimentá-la.
#URBANO NOME: HUDSON CARVALHO DE MELO IDADE: 25 ANOS NATURALIDADE: TERESINA MINHA ARTE É: PERCEPÇÃO E RESIGNIFICAÇÃO A ARTE DO PIAUÍ É: CALOR E INTENSIDADE NA WEB: HTTP://CARGOCOLLECTIVE.COM/HUDSONMELO/ HTTP://WWW.FLICKR.COM/PHOTOS/HEADSINIC
Se você passeia normalmente por Teresina, é provável que já tenha se deparado com as obras de Hudson Carvalho Melo. Nada de vernissages, exposições fechadas para poucas pessoas ou museus. Apesar de merecer todos esses ambientes, a “tela” do artista é a cidade inteira, em um amálgama de influências que só o que está fora é capaz de oferecer. “Tudo que preciso para expor encontro nas ruas. Por isso ela é minha principal referência”, afirma. Também conhecido como Magão, Hudson depende muito do público em suas criações. Por elas ficarem espalhadas nos espaços em que as pessoas vão passar durante suas tarefas rotineiras, elas acabam sendo primordiais para que o processo criativo exista. “Gosto quando arte se mostra viva, quando tem movimento e quando movimenta o que crio.” Mesmo assim, ele conta, ainda é comum ouvir perguntas do tipo “Você é daqui mesmo?”, algo que, ao mesmo tempo, denota uma maior aceitação do trabalho por parte das pessoas, mas também de certa desconfiança de que aquilo é mesmo produzido por alguém da terra. Mas isso parece acontecer cada vez menos. Hudson entende o crescimento do estado como uma mola que impulsiona todos os aspectos ao redor, inclusive a percepção do público em relação à arte. Dessa forma, o seu campo de trabalho, a rua, também ganha novos vieses, dando mais gás para que seu trabalho se mantenha firme. “Quando o estado cresce, novas propostas de arte aparecem, assim como nos grandes centros do mundo”, completa.
#SONORIDADE NOME: JOSÉ QUARESMA CAMPOS FILHO IDADE: 28 NATURALIDADE: UNIÃO MINHA ARTE É: PARTE DO QUE VIVO, DO QUE SOU, DO LUGAR ONDE MORO E DO CAMINHO QUE FAÇO. A ARTE DO PIAUÍ É: UMA RIQUEZA QUE O BRASIL TEM E POUCOS SABEM. NA WEB: HTTP://WWW.VALIDUATE.BLOGSPOT.COM/
Quando canta no Piauí, José Quaresma nem precisa se esforçar muito. São tantos fãs cativos da Validuaté, banda da qual é vocalista, que não seria difícil ter um show inteiro somente das vozes do público. Porém, o momento agora é de esperar que outras vozes também possam entoar o que a, hoje, mais famosa banda do estado tem a cantar. Apresentações em São Paulo e clipes na MTV Brasil demonstram que os rapazes querem viver da arte, mesmo que isso possa ir contra a crença de muita gente. “Não procuramos fazer uma música que se diga do Piauí. Procuramos nos expressar de modo mais universal, onde cabem também os traços típicos de quem vive aqui. Estamos preocupados em fazer boa música, que seja compreendida e apreciada por qualquer pessoa do Brasil”, garante Quaresma. Ao mesmo tempo, contudo, eles não deixam de divulgar as próprias origens, o que só ajuda a diminuir os preconceitos quanto ao que é produzido aqui, por quem é de outros estados. Quaresma conta que, normalmente, a expectativa gerada por um músico piauiense acaba se resumindo ao forró. “Ao descobrirem que a música do Piauí é tão rica quanto a de qualquer outro estado brasileiro, as pessoas se desarmam de preconceitos e aceitam nossa música de coração aberto”.
#INTEGRAÇÃO NOME: MIRTON DE PAULA IDADE: 39 NATURALIDADE: TERESINA MINHA ARTE É: MÚSICA A ARTE DO PIAUÍ É: MUTANTE NA WEB: WWW.TEREZONA.COM.BR
FAÇA VOCÊ MESMO, pensou Mirton de Paula quando regressou à terra filha do sol do Equador. De posse de conhecimento e da certeza que essa ideologia punk poderia ser aplicada no Piauí, o músico e publicitário começou a gerar a TEREZONA, uma revista digital que, como ele mesmo diz na apresentação, veio para destruir “coisas” (para reconstruir), não “pessoas”. “Ter contato com várias culturas só ajudou no surgimento da TEREZONA. A proposta foi transformar Teresina numa zona mundial, onde eu possa ver e ser visto, sem muita referência umbilical e muita explicação”, resume Mirton. Ao destacar essa possibilidade de se reconhecer naquela arte, mesmo sem preocupação com um referencial de cidade, o publicitário tenta tornar a produção não só mais universal, como também mais próxima do público. “Considero tudo que tenha uma proposta instigante como arte, principalmente a que foge aos padrões já conhecidos de festivais e premiações.” A TEREZONA, que é colaborativa, demonstra as possibilidades de interação entre quem cria, que são oferecidas pelas facilidades de comunicação. Além disso, ao ser disponibilizada completa na internet, permite que artistas de outros locais possam manter contato com os que produzem aqui. “O piauiense está mais que preparado para ter esse encontro com a arte. Acho que o público não só recebeu bem, como compreendeu a necessidade de inserção do estado em um contexto mundial. Quando pensei em uma revista digital e aberta, foi nisso que eu foquei: acesse, conheça, se veja e contribua.”
#RENOVAÇÃO NOME: ADLER FERNANDES CRUZ MURAD IDADE: 25 NATURALIDADE: TERESINA MINHA ARTE É: UM REMIX A ARTE DO PIAUÍ É: QUENTE E UNIVERSAL NA WEB: WWW.FLICKR.COM/AFMURAD
O universo artístico de Adler Murad nasceu da arte de rua, da cultura popular e até mesmo da sua carreira no jornalismo. O jovem de 25 anos, que já participou de coletivos de arte, fez performances e instalações, hoje, com a pintura, experimenta o seu lado criador, em um processo que mistura sua experiência com o mundo exterior e suas lembranças do lugar onde nasceu. “É impossível negar que os laços afetivos com a minha terra interferiram no meu trabalho. Hoje, identifico com mais clareza imagens vindas da minha infância; a presença do cordel na casa do meu avô, os festejos, o mobiliário e alguns signos da terra, sendo participativos visualmente nas formas que compõem a minha linguagem.” Para Adler, mesmo que o foco atual seja a pintura, todas as formas de expressão se reconhecem e se comunicam em seu trabalho, atualizando significados. “Uma obra nunca é a mesma quando você a coloca no mundo, pois está suscetível a diversas leituras. Se alguém vê algo novo ali, aquele trabalho já não será o mesmo.” Essa visão, contudo, não significa um menor esforço em criar algo que contenha o sentimento do artista. Tanto que o próprio Adler aponta as faladas dificuldades e preconceitos que permeiam a arte do Piauí como um fator que impulsiona a criatividade. “Acho que ficar 'fora-do-eixo' dos centros de produção de arte possibilitou aos artistas do norte/nordeste trabalhos mais bem preparados para dialogarem com as correntes contemporâneas da multiculturalidade”, explica.
#PÚBLICO NOME: JIMMY CHARLES DA SILVA GOMES IDADE: 34 NATURALIDADE: TERESINA MINHA ARTE É:TEATRO, MÚSICA, CINEMA, QUADRINHO, POESIA...PALCO. A ARTE DO PIAUÍ É: TRABALHO, TALENTO E PERSISTÊNCIA.
Assistir Jimmy Charles arrancar risadas da plateia enquanto vai pelo palco dá impressão de que ele ainda é um garoto. Mas, quem disse que a idade da certidão de nascimento precisa ser levada a sério? Atuando com o Grupo Cultural APICE, ele se renova com o público e com o riso que vem dele. “O palhaço não existe sem plateia. Então, sempre penso nela quando concebo, escrevo ou monto algo. Sempre me coloco como público durante o processo criativo.” Além desse foco em quem está sentado no teatro, Jimmy também acredita que é impossível contar uma história sem que ela carregue todas as idiossincrasias de nascer no Piauí. “Isso influi demais no que produzo, principalmente porque carregamos uma responsabilidade crítica e até de metalinguagem por causa das dificuldades que enfrentamos aqui.” Para ele, ao atuar de forma humorística com o que é problemático no estado, o teatro ajuda as futuras gerações a superar esses percalços e não repetir erros. “No meu trabalho incluo compromisso social porque acredito que o riso acompanhado de crítica sócio-política agrega muito mais valor ao trabalho”, garante. Mas não há pessimismo. Jimmy também está no barco dos que crêem que a melhor condição econômica do país reflete na arte e que isso tem mudado a forma com que todos encaram o trabalho que ele desenvolve. “O que enxergo agora é esse momento de autoconhecimento da arte piauiense que só a tornará mais forte e maior com o passar do tempo”.
#DELICADEZA NOME: MAYARA CAVALCANTE, A BAYÁ. NATURALIDADE: TERESINA IDADE: 25 MINHA ARTE É: IMAGINATIVA A ARTE DO PIAUÍ É: FÉRTIL, MAS POUCO EXPLORADA NA WEB: HTTP://WWW.DOMITILLA.COM.BR/
O traço é delicado. A figura tem textura, forma e volume precisos. Com caneta tinteiro, ela desenha à mão o movimento ao seu redor. Música, livros, pessoas, sentimentos. Tudo ganha sentido sobre o papel. “O mundo me inspira o tempo inteiro, aí invento mundos”, diz a psicóloga que nunca estudou Arte. “Sou artista por danação”, explica. Mayara Cavalcante, a Bayá, desenha desde criança, sempre deixando a imaginação comandar o movimento. “Gosto de experimentar. A minha arte é uma espécie de válvula de escape da imaginação, mergulho no meu imaginário e vou transformando o que encontro lá em rabiscos, rabiscos em planta, planta em bicho, bicho em gente”. O que era uma brincadeira de criança ganhou corpo e o hobby se transformou em ofício. “Tenho um site onde publico alguns desenhos e estou começando a comercializar. Tudo está acontecendo agora. Participação em exposições, convites para trabalhos de ilustração. O reconhecimento vem junto com o fazer com carinho, a insistência e o continuar buscando seu caminho no mundo”. Fonte e influência para sua inspiração, o Piauí é referência para a artista. “O Piauí me influencia no que eu sou, uma piauiense apaixonada por arte e com os olhos em todo canto do mundo. Ninguém que está fora vai enxergar nossa arte se não nos mostrarmos. Os artistas daqui precisam acreditar mais no seu trabalho e entrar em contato de igual pra igual com o resto do mundo, mundo que está aí a um clique de nós”.
#LEGADO NOME: BERNARDO AURÉLIO DE OLIVEIRA IDADE: 29 NATURALIDADE: PIRIPIRI MINHA ARTE É: FAZER QUADRINHOS A ARTE DO PIAUÍ É: IGUAL NA SUA DIFERENÇA A TODAS AS OUTRAS ARTES DO MUNDO NA WEB: HTTP://NUCLEODEQUADRINHOSPI.BLOGSPOT.COM/
O nariz, os olhos, um gesto, o jeito. Os filhos podem herdar dos pais não só o DNA físico mas também cultural. O desenhista e produtor cultural piripiriense Bernardo Aurélio é um exemplo disso. Ele herdou do pai, Simplício Oliveira, o gosto pelos quadrinhos e desde criança cultua os gibis e as graphic novels. “Meu pai gostava de ler Tarzan, Cavaleiro Solitário, Zorro e sempre nos presenteava com quadrinhos. Tínhamos mais quadrinhos do que qualquer outro brinquedo ou instrumentos musicais. Tenho dois irmãos mais velhos que também desenham. De certa forma, eles foram minha inspiração”, descreve Bernardo, que – por acaso ou não – é formado em História pela Universidade Estadual do Piauí. A inspiração ganhou ares de profissão. Na Quinta Capa Quadrinhos, livraria que Bernardo criou e mantém em Teresina, os gibis de super heróis consagrados, como Batman e Homem Aranha, e os mangás japoneses dividem espaço nas prateleiras com quadrinhos sobre a Batalha do Jenipapo e o Cabeça de Cuia, histórias e lendas piauienses contadas através do traço ágil de jovens quadrinistas. A descoberta de novos talentos é incentivada através da Feira HQ, mostra competitiva promovida pelo Núcleo de Quadrinhos do Piauí e que já ultrapassa sua décima edição. Além de incentivar, Bernardo também produz. Desenvolvido por ele, em parceria com o irmão Caio Oliveira, o livro “Foices e Facões – A Batalha do Jenipapo” resume um importante capítulo da história do Piauí em 200 páginas de quadrinhos. O material tem sido distribuído em escolas e bibliotecas públicas. “Queremos tirar esse estigma de que quadrinhos se resumem a super heróis e estórias infantis. Podemos usar a linguagem do HQ para falar sobre qualquer tema, inclusive a nossa história”, afirma.
Isabel Cardoso escreveu
Os santeiros cravaram seus nomes na história do Piauí. Quando se fala em artesanato é impossível descartar os talentos dos mestres Dezinho, Expedito, Cornélio, dentre muitos outros. A arte santeira piauiense já virou documentário, ganhou livro e conquistou o mundo com exposições em vários países. É um trabalho feito por gente simples e de muita sensibilidade. Os mestres da escultura formaram discípulos que garantem a continuidade da tradição. Em Teresina, o Mestre Dim, que teve Dezinho como professor, comanda a Oficina Chico Barros há 18 anos. Pela escola já passaram mais de 300 pessoas. Do grupo, surgiram talentos e profissionais que vivem somente da arte, como é o caso André Vitor, que começou em 2003 e hoje, casado e com dois filhos, tem o orgulho de ser artesão. “Vendo tudo o que faço para turistas e lojistas”, afirma. Peças feitas pelos alunos de mestre Dim também estão em exposição permanente no Museu Folclórico do Rio de Janeiro e ganham espaço em feiras pelo país.
Atendendo as exigências de mercado, mas com muita criatividade, os artesãos trilham pela cultura regional, fazem santos, recriam as figuras típicas do Piauí, como o vaqueiro, em versão esculpida e pintada na madeira. Os cenários do sertão e da caatinga também ganham espaço entre as várias temáticas, que abrangem até mesmo os escudos dos times de futebol mais populares. Na oficina, em casa ou na palhoça do artesão Dim, na Central de Artesanato Mestre Dezinho, a arte reúne no mesmo espaço Adriano Rodrigues, escultor deste os 13 anos, com especialidade em arte santeira; Francisco Carlos, o Grande, mestre em escultura e entalhe e que se realiza fazendo cultura regional, paisagens e anjos. No mesmo local, Sérgio Lustosa retrata a fauna e a flora em madeira. Todos são artistas, professores e têm um objetivo comum: gerar renda com o artesanato, sem perder o compromisso com a arte. Para Dim, esta é a grande lição deixada pelos antigos mestres: trabalhar com honestidade e compromisso com a arte e com o público.
A cabaça que transporta a água dos vaqueiros em suas longas travessias pelo sertão piauiense ganha outra utilidade através das mãos de Arnaldo Pacovan. Teresinense criado no Poti Velho, Arnaldo encontrou em elementos marcantes da cultura do Piauí a matéria prima para a criação de instrumentos musicais autênticos. Com uma linha de produção totalmente artesanal, ele acredita ter criado a primeira cuíca de cabaça do mundo. O couro de bode, a madeira de sapucaia e as tradicionais cerâmicas do Poti Velho também são utilizados na composição de instrumentos de corda e percussão.
A sonoridade original que sai dos tambores, tamborins e berimbaus criados por Arnaldo ganha eco nas músicas do Conjunto Roque Moreira, banda que se notabilizou pela mistura do barulho das guitarras com sons e referências tipicamente piauienses. Percursionista da banda, Arnaldo trabalha para montar instrumentos que atendam às necessidades de cada nova composição. “Não gosto do som padronizado do instrumento industrial. Quando sou eu que crio, posso moldar o produto de acordo com a minha necessidade”, afirma.
#Autêntico Os sons inventados por Arnaldo estão presentes nas músicas do novo disco do Conjunto Roque Moreira, intitulado “Tô saindo pra dançar”, que está em fase de finalização. A sonoridade da banda chamou a atenção de pesquisadores de uma universidade canadense, que têm mantido contato com os piauienses pela internet. Maestros e músicos também procuram o percursionista na busca por instrumentos exclusivos. Para Arnaldo, não há nenhum grande segredo para o sucesso de suas criações. “Eu sigo o som. Está tudo na intuição”, resume.
Clarissa Poty escreveu
Clarissa Poty escreveu
“Dividimos em até 4x sem juros no cartão de crédito”. O anúncio está nas paredes da loja que o artesão Antonio Carlos de Oliveira mantém no Pólo Ceramista do Poti Velho, em Teresina, e sinaliza a transformação que vem ocorrendo no lugar. Quando Antonio Carlos começou no artesanato, há 22 anos, foi treinado para fabricar jarros e filtros. “Era o forte dessa região. Os clientes só vinham até aqui em busca de produtos utilitários,
jarros para plantas e filtros para a cozinha”, relembra. Compras só eram possíveis com pagamento em dinheiro. O Poti era um bairro isolado. Aos 36 anos, Antonio faz parte da geração que ajudou a mudar a realidade do Poti Velho. Em vez de simples jarros, hoje seu ateliê produz peças decorativas requisitadas por arquitetos e designers de diferentes estados do Brasil. O trabalho com o barro foi aprimorado, com a inclusão de
novas técnicas, tintas, materiais e dos conhecimentos adquiridos em um intercâmbio na Itália. O atendimento ao cliente ficou mais profissional, com a diversificação das opções de pagamento e de transporte dos produtos. O novo modelo de negócio possibilitou a compra da casa própria, do carro da família e garante o sustento de outros três funcionários. E o ateliê de Antonio não é uma ilha isolada no Poti Velho. Já são 27 unidades instaladas pelo bairro, que empregam mais de 100 pessoas e ajudam a diversificar a produção do Polo, segundo números do Sebrae-PI Com a autoridade de seus mais de 60 anos, seu Verdugue, um dos artesãos mais antigos do Poti Velho e padrasto de Antonio, credita à nova geração integrada por seu enteado a transformação na rotina produtiva do bairro. “Isso aqui mudou demais. Fui eu que ensinei muita coisa para os meus enteados, mas hoje, sou eu quem está aprendendo com eles”, afirma Verdugue, que até hoje trabalha em um espaço de chão batido, teto improvisado, que serve ao mesmo tempo como ateliê e loja. “Faço um artesanato natural. Mas também fui aprimorando minhas técnicas e aprendendo com os novos artesãos que surgiram”, diz. No ateliê de Verdugue ainda não há espaço para o cartão de crédito. “Cartão por aqui ainda não deu certo. Mas sempre que preciso conto com uma forcinha do meu enteado”, diz.
R么mulo Maia escreveu