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Ajudar não tem idade para começar
Voluntária de um projeto social relata experiências em uma comunidade quilombola
Em se tratando do andamento do projeto e das conquistas alcançadas, dona Neusa diz que no início houve problemas e desconfianças quanto as metas, mas afirma que tiveram mudanças significativas na vida daquelas pessoas.
Gentileza, uma virtude que se passa de geração para geração
Ela conta que seu interesse pelo trabalho voluntário começou na infância e ainda enfatiza a importância de sua avó na formação de um senso comunitário.
A frase é de dona Neusa Maria Dresch Reckziegel, de 78 anos, voluntária do projeto Vidas em Construção desenvolvido pelas Irmãs do Sagrado Coração de Maria, que é sustentado por meio de doações e busca ajudar grupos sociais de todo o Brasil que estão em situação de vulnerabilidade, desenvolvendo atividades com os moradores locais. Natural de Lajeado, dona Neusa atuou na comunidade chamada Rua 17, localizada entre o bairro Santo Antônio e o Morro 25. Ali vive uma população Quilombola, formada por descendentes de escravizados fugitivos que viviam na região. Por esse motivo, essas pessoas constituem um grupo muito fechado, que pouco se integra com os outros ao seu redor e se mostra desprovida da ação do Estado e das garantias por ele asseguradas.
Em função disso, as Irmãs viram a necessidade de intervir no local, que foi quando Neusa começou o trabalho junto a elas. Um trabalho que só parou com a Covid-19. “Nós começamos o trabalho no ano de 2011. Eram em torno de 15 famílias mais ou menos que a gente atendia ” , relata.
“Eu acho que eu me interessei por trabalho voluntário desde nova, influência da minha avó, que era muito prestativa, onde ela podia ajudar alguém, ela ajudava.
Ela ainda pontua a diferença entre aquele tempo no passado e a atual situação da população local quanto a esse aspecto. “Aquela época era um espírito mais comunitário de ajuda que existia. Ainda existe hoje muito, mas era uma forma diferente das pessoas ajudarem ” , comenta.
Professora formada, dona Neusa recorda que a solidariedade mudou diretamente seu lado profissional, na medida que seus trabalhos favoritos envolviam o bem da comunidade.
A sua trajetória dentro de projetos voluntários surgiu de convites. “Volta e meia vinha um convite, vamos tocar [violão] em tal asilo, vamos ajudar tal pessoa. Então, com isso, a gente começou a se inteirar e gostar de fazer o trabalho [...] depois [veio o convite e] eu fui junto para a vila ” .
A semente do trabalho gera bons frutos
Já trabalhando dentro da comunidade, uma das primeiras ações realizadas pelo grupo foi a de ensinar as mulheres do local a tricotarem, criando uma atividade que as pessoas gostassem, além da possibilidade de vender as peças produzidas.
Mas as conquistas não param por aí. O projeto também conseguiu parcerias com construtoras para a aquisição de duas casas para membros da comunidade, além de um salão coletivo, que era usado para os projetos de costura e eventos sociais, visto que antes não havia qualquer outra construção no local que comportasse isso.
“Nós começamos o trabalho no pátio, atendi elas no pátio, nem mesa tinha direito, nem cadeira pra sentar a gente tinha lá” .
Dona Neusa ainda relata outros casos de famílias que conseguiram sair da Rua 17 e buscaram novas oportunidades. “Nós tínhamos uma menina lá que perdeu muito cedo a mãe e a gente, o projeto, pagou um curso de cabeleireiro pra ela e tudo, comprou todo o material que ela precisava […] Agora essa menina mora lá em Conventos, ela tem um companheiro ” . E destaca também: “Tinha outro casal que morava lá dentro, a companheira dele começou a fazer doces […] Hoje ela foi morar em Arroio do Meio com a família. Ela já arrumou um lugar para trabalhar numa pizzaria ” .
A voluntária, prestes a completar oito décadas de vida, diz que o futuro é incerto sobre o projeto, já que com a chegada da pandemia do Covid-19 ele foi interrompido no ano de 2020. Mas com um sorriso no rosto de quem não perde a esperança, dona Neusa concluí: “Quem sabe, quando as coisas se acalmarem, eu não volte?” .