Senso 33_fev-mar/17

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SENSOINCOMUM

Foto: Natália Spolaor

Jornal-laboratório do curso de Jornalismo - UFU - Desde 2010 - Ano 7 - Nº 33 - Fevereiro - Março/2017

Avanços marcam os dez anos da UFU Pontal p. 6 e 7

INfluência

INclusiva

INstruída

INsight

DCE admite falhas na Calourada e explica impasses na realização do evento p. 3

Acolhidas atende mulheres vítimas de assédio; UFU afirma não haver denúncias p. 5

Alunos da graduação lecionam em cursinho preparatório para o Enem p. 9

Museu do Instituto de História da UFU preserva acervo cultural de MG e Uberlândia p. 11


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n. 33 - Fev-Mar/2017 - Senso Incomum

EXPEDIENTE Jornal‐laboratório do curso de Jornalismo da Universida‐ de Federal de Uberlândia (UFU). Reitor: Valder Steffen / Diretor da FACED: Robson Luiz de França / Coordenador do Curso de Jornalismo: Ger‐ son de Sousa / Professores res‐ ponsáveis: Felipe Saldanha, Ivanise de Andrade, Mirna Tonus, Vinícius Dorne, Vini‐ cius de Souza / Jornalista res‐ ponsável: Mirna Tonus (MTb 22610) / Editores‐chefe: Sa‐ mantha Loren e Pedro Henri‐ que / Editores de capa: Iury Machado, Mariana Marques, Pedro Henrique, Samantha Loren/ Editores de Arte: Gus‐ tavo Medrado, Isadora Ruiz, Lívia Ramos, Mariana Mar‐ ques, Rodrigo de Azevedo/ Editores de editorias: Ana Eli‐ za Cerqueira, Ana Luisa No‐ gueira, Bruna Lie Kasama, Clarice Bernardes, Daniel Gonzaga, Elaíny Carmona, Gabriela Tostes, Halyson Vi‐ eira, Heloir Schwaickardt, Isabela Silveira, João Júnior, Josielle Soares, Juliana Evan‐ gelista, Lucas Daniel Silva, Nadja Nobre, Nasser Pena, Natália Spolaor, Vinícius Pas‐ sos, Wando Moreira / Edito‐ res de Mídias Digitais: João Júnior, Halyson Vieira e Viní‐ cius Passos/ Diagramadores: Ana Eliza Cerqueira, Ana Luisa Nogueira, Bruna Lie, Clarice Bernardes, Gabriela Tostes, Heloir Schwaickardt, Isabela Silveira, João Júnior, Juliana Evangelista, Nasser Pena, Natália Spolaor, Sa‐ mantha Loren, Thiago Cre‐ paldi / Revisão: Ivanise de Andrade (DRT/MS 097) e Vinicius Dorne (MTb/PR 0011121) / Finalização: Ricardo F. Carvalho / Tira‐ gem: 2.000 exemplares / Im‐ pressão: Imprensa Univer‐ sitária ‐ Gráfica UFU / sensoincomumufu@gmail.com/ www.sensoincomum.net

INflamada

Editorial

IN termitente O que começou como um pro‐ jeto de jornal‐laboratório se tor‐ nou uma forma de inserção na história da UFU. Durante o pro‐ cesso de construção do Senso In‐ comum, vivenciamos o dia a dia de alunos e professores. Ouvimos relatos, denúncias e buscamos transmitir as informações de for‐ ma humanizada. Depois de conhecer todos os campi, procuramos retratar as si‐ tuações de cada um de maneira a

abranger, pela primeira vez na história do jornal, a Universidade como um todo. Nesta edição, destacamos o Campus Pontal, em Ituiutaba, re‐ tratando seu avanço e importân‐ cia, bem como os desafios enfrentados. Apesar de ser o mais antigo, a unidade passa por difi‐ culdades, como atrasos em obras, falta de equipamentos e proble‐ mas de conexão à Internet. Além disso, o jornal contém notícias

sobre projetos e temas importan‐ tes dos outros campi da UFU. Com a finalização desse pro‐ cesso, fazemos um balanço do que o Senso Incomum proporcio‐ nou a nós, futuros jornalistas. Ex‐ perimentamos as etapas da construção do jornal e nos apro‐ ximamos de pessoas e de suas his‐ tórias. Assim, seguimos no ciclo de aprendizado e experiências, es‐ perando que essa trajetória seja intermitente.

Opinião

Uma rosa sem jardim Bruna Lie Sempre fui encantada pelas histórias de princesas. Pode ser um tanto clichê, mas já quis ser uma delas e, se pudesse, ainda gostaria. Por estimar tanto esse universo, acabei descobrindo que essas versões encantadoras não são as originais, e que as orginais são muito assustadoras. Ainda assim, acredito que é sempre bom um toque de encan‐ to e poesia. A história da Bela e a Fera tem um elemento interes‐ sante: uma rosa encantada den‐ tro de uma pequena redoma de vidro. O conto diz que, assim que todas as pétalas caírem, a

Charge

Fera irá morrer e que a maldição só será quebrada se encontrar o verdadeiro amor. Percebi que é assim que me sinto na UFU, como essa rosa: encantada, morrendo a cada dia e presa. O encanto vem dos aprendizados, de momentos raros de interação com o mesmo grupo e da possibilidade de me conectar com novas pessoas, pois não gos‐ to de solidão. A morte lenta vem do cansaço das batalhas silencio‐ sas e diárias, e morrer assim é uma das piores maneiras, porque é horrível estar em uma multidão e sentir‐se sozinha. Quem já não se sentiu assim? Fraco e destruído, sozinho nes‐

sa legião de desconhecidos que não quer conhecer você. Sem afe‐ tividade nos cantos, salas, con‐ versas. As rosas continuam solitárias e só nomeadas ao serem criticadas. No labirinto espinho‐ so que habita o interior das pes‐ soas, sempre tão complexo, a saída dificilmente se torna uma possibilidade. Assim, presa nessa barreira in‐ quebrável, nessa redoma que me separa do mundo, só há o “eu”. Como a rosa, há o encanto e os espinhos. Não sei, porém, quem colocou a redoma de vidro sobre mim e não sei como quebrar essa maldição, mas aceito ajuda de quem tiver a resposta.


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Situação da Calourada 2017 continua incerta UFU enfrenta problemas para realização de eventos e atual DCE segue sem soluções Aline Carrijo e Camila Romão A Calourada da UFU é um evento acadêmico e cultural tra‐ dicional na recepção dos ingres‐ santes a cada semestre. Entre as atividades oferecidas, estão ro‐ das de conversa, debates, pales‐ tras, minicursos e shows musi‐ cais. No entanto, desde 2015, a instituição se depara com pro‐ blemas relacionados à obtenção de alvarás da Prefeitura de Uberlândia para realização dos shows, devido a uma ação civil pública movida pelo Ministério Público Federal (MPF) que diz respeito ao uso de bebidas al‐ cóolicas, poluição sonora e eventuais excessos. Assim, nos últimos anos, os organizadores da Calourada têm enfrentado dificuldades pa‐ ra sua realização, situação que se estende a outros eventos cul‐ turais e de lazer, como apresen‐ tações artísticas promovidas por diferentes segmentos da univer‐ sidade. O orçamento destinado à Ca‐ lourada é de, em média, R$ 80 mil por ano. Dessa quantia, R$ 60 mil são destinados ao Dire‐ tório Central dos Estudantes (DCE) da UFU em Uberlândia, Patos de Minas e Monte Carme‐ lo, e o restante ao DCE do Campus Pontal, em Ituiutaba, que é independente. Para a rea‐ lização do evento, os contratos são feitos pelos organizadores membros do DCE e a Universi‐ dade custeia essas despesas, de acordo com a previsão orça‐ mentária.

Falhas na organização Em 2016, o DCE em Uber‐ lândia enfrentou problemas com a Prefeitura e o MPF. No pri‐ meiro semestre do ano, uma das noites de shows foi cancelada devido a falta de alvará. Como forma de resistência, o movi‐ mento estudantil, composto por diretórios e centros acadêmicos, organizou o que chamou de “Proibidão”. O estudante de Direito e co‐

Foto: Aline Carrijo

Marcelo Lima, diretor geral do DCE, explica atual situação da Calourada ordenador geral do DCE Mar‐ celo Lima relata que, por diversas vezes, tentou uma ne‐ gociação com o MPF, mas, de‐ vido à exigência de infra‐ estrutura, segurança, socorris‐ tas e direito de descanso da vi‐ zinhança, a realização do evento se tornou inviável e bu‐ rocrática. O ex‐diretor de Assuntos Es‐ tudantis, na Pró‐Reitoria de Extensão, Cultura e Assuntos Estudantis (Proex), Leonardo Barbosa, auxiliou na organiza‐ ção do evento em 2016 e lem‐ bra que a recepção dos alunos tem sido prioridade da Institui‐ ção, pois diz respeito à maneira com que a Universidade lida com o espaço físico e questões políticas e sociais importantes. Barbosa ressalta que, algu‐ mas vezes, o movimento estu‐ dantil não tem o conhecimento de organização necessário para promover um evento como esse. “Isso traz um certo desgaste pa‐ ra a Instituição e para a própria Pró‐Reitoria, e nos faz adminis‐ trar contratos de valor elevado em curtos espaços de tempo”, afirma.

O coordenador do DCE se queixa da falha de comunicação entre o Diretório e a Pró‐Reito‐ ria e comenta que isso também teria prejudicado a realização do evento, já que desconhecia o fato de que os contratos para a segunda edição tinham sido cancelados. “Não tiro, de forma alguma, a nossa responsabilida‐ de e acho importante pedir des‐ culpas a todos os estudantes. É fundamental reconhecer os er‐ ros para que não se repitam”, lamenta.

Perspectivas A situação para o primeiro semestre de 2017 ainda é inde‐ terminada, pois depende das eleições para a próxima gestão do DCE, adiada devido à greve. Diante disso, a pró‐reitora Elai‐ ne Calderari, da recém‐criada Pró‐Reitoria de Assistência Es‐ tudantil (Proae), afirma estar empenhada para que a Caloura‐ da continue acontecendo para recepcionar os alunos e que pla‐ neja a reformulação da Comis‐ são Permanente de Recepção de Ingressantes.

Acho importante pedir desculpas a todos os estudantes Marcelo Lima


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INfluência

Desafios marcam nova administração da Proae Pró-Reitoria de Assistência Estudantil atua na política de permanência dos universitários Nasser Pena e Samantha Loren

Hoje, a assistência estudantil tem espaço nas decisões orçamentárias da Universidade Leonardo Barbosa

No início de 2017, uma nova gestão administrativa da Pró‐ Reitoria de Assistência Estudantil (Proae) tomou posse na UFU já com alguns desafios. De acordo com a pró‐reitora Elaine Caldera‐ ri, uma das primeiras ações de sua gestão será a busca pela aprova‐ ção, nos conselhos da UFU, de uma metodologia institucional a fim de padronizar todas as formas de seleção dos estudantes por meio de análise socioeconômica. “Essa mudança pode ser útil para a concessão das bolsas da Proae e de outros programas da universi‐ dade na busca pela igualdade dos processos de seleção dessa nature‐ za”, explica. Além disso, há outros obstácu‐ los a serem enfrentados pela nova equipe, como o atraso recorrente em algumas bolsas oferecidas, o que tem acarretado transtornos na vida dos estudantes. “Recebo bolsa moradia e alimentação. To‐ do mês, atrasam, sem contar que os juros da imobiliária, a bolsa não cobre”, relata o estudante de Relações Internacionais Kaio La‐ cerda. Segundo Calderari, um dos motivos é a demora na abertura do orçamento da União. “Quan‐ do entramos, não existia recurso.

Foto: Nasser Pena

Pró-reitora Elaine Calderari diz que pasta está aberta ao diálogo com os alunos O governo abriu o orçamento en‐ tre os dias 15 e 17 de janeiro e, depois disso, começamos a dar entrada no processo”, diz.

Histórico A pasta responsável pela as‐ sistência ao estudante da UFU ganhou o status de Pró‐Reitoria em 2016. Antes, estava alocada na Pró‐Reitoria de Extensão, Cultura e Assuntos Estudantis (Proex). A Proae é o novo órgão administrativo que busca garan‐ tir melhores condições de per‐ manência dos estudantes na Universidade, com a oferta de

auxílios como bolsas moradia, transporte, alimentação, assis‐ tência psicopedagógica e práti‐ cas esportivas. O ex‐pró‐reitor da pasta, Le‐ onardo Barbosa, expõe que, mesmo sendo um órgão admi‐ nistrativo recém‐criado, a Pro‐ ae significa um avanço para o desenvolvimento de uma políti‐ ca para os estudantes da Uni‐ versidade. “Hoje, a assistência estudantil tem espaço nos con‐ selhos superiores, nas decisões orçamentárias da Universidade e passa a ser um elemento de se‐ leção das ações empreendidas na UFU”, salienta.

UFU propõe Plano de Logística Sustentável Iniciativa prevê ampliação da reciclagem e eficácia na gestão de água e energia Bruna Lie Ações pontuais de preservação do meio ambiente têm sido desen‐ volvidas na UFU desde quando foi aprovada a resolução nº 26/2012 do Conselho Universitário (Con‐ sun), que determina pontos a se‐ rem adotados em relação à preservação do meio ambiente. Passados quatro anos da publica‐ ção, a Diretoria de Sustentabilida‐ de (Dirsu) constituiu a Comissão Institucional de Gestão e Educa‐ ção Ambiental (Cigea), que criará um Plano de Logística Sustentável (PLS) para a Universidade.

O especialista em Sustentabili‐ dade e professor do Instituto de Geografia Cláudio di Mauro res‐ salta que a UFU precisa evoluir muito para atingir um nível ideal de gestão sustentável. “Não esta‐ mos falando somente da questão ambiental. A sustentabilidade é um termo que abrange até mesmo a gestão de pessoas”, comenta. Segundo o diretor de Sustentabi‐ lidade Nelson Barbosa, atualmente, a Universidade faz uma gestão ade‐ quada de resíduos, inclusive daque‐ les considerados perigosos. “Des‐ tinamos corretamente 100% dos resíduos gerados, mas existem pon‐

tos a serem melhorados, como a ampliação da reciclagem e melhor gestão de água e energia. O PLS contempla justamente esses e ou‐ tros pontos”, explica. De acordo com a direção da Dirsu, o objetivo agora é inserir a UFU na Agenda Ambiental da Administração Pública (A3P), programa do Ministério do Meio Ambiente para enfrentamento das graves questões ambientais. Bar‐ bosa destaca que a proposta é de‐ senvolver uma política de sustentabilidade satisfatória, mes‐ mo com dificuldades de recursos e falta de pessoal.


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Ouvidoria criada por estudantes de Direito registra casos de assédio dentro da UFU Universidade afirma não haver denúncias, enquanto Acolhidas atende estudantes Camila Romão e Jhyenne Gomes As variadas relações humanas e suas particularidades por vezes di‐ ficultam a percepção de compor‐ tamentos abusivos. No convívio entre professores e estudantes, o reconhecimento e a denúncia de assédio costumam ser ainda mais difíceis. Casos assim podem ser denunciados na Ouvidoria Geral da UFU, de forma anônima ou não. Enquanto o órgão nega a existência de qualquer denúncia, a Ouvidoria Acolhidas, criada por estudantes do curso de Direito, re‐ lata haver dezenas delas, feitas por mulheres que sofreram violência de gênero. O suporte jurídico oferecido pela Acolhidas é feito por meio de processo administrativo e de acor‐ do com as normas da Universida‐ de. As punições se aplicam nesse âmbito. Segundo a estudante de Direito e estagiária do Acolhidas Brenda Ferregutti, existe um acor‐ do com a Delegacia da Mulher e o Ministério Público Federal (MPF) para que casos que demandam processos civis e penais sejam en‐ caminhados em nome da Acolhi‐ das, preservando a identidade da vítima e poupando‐a de constran‐ gimentos. “Estamos trabalhando para tentar minimizar os danos”, afirma Ferregutti.

A professora de Direito Penal da UFU e uma das coordenadoras do projeto, Beatriz Corrêa Ca‐ margo, explica que algumas atitu‐ des como o “fiu fiu” na rua, tocar outra pessoa de forma não con‐ sentida, falar coisas indesejadas no ambiente de trabalho, mostrar imagens pornográficas e comentá‐ rios de cunho sexual sobre apa‐ rência não constam como crimes de assédio sexual no Código Pe‐ nal. No entanto, no artigo 216, está previsto que se valer de uma situação hierárquica para cons‐ tranger uma pessoa ou obter algu‐ ma vantagem sexual é crime. Apesar disso, por medo ou falta de informação de como agir frente às diversas agressões, muitos ca‐ sos nunca são denunciados.

Casos de assédio A aluna de Relações Internacio‐ nais T. K.* relata o caso de assé‐ dio que sofreu em sala de aula em 2016. “O professor entrava na sa‐ la e ficava olhando a minha per‐ na. Eu mudava de lugar, mas não adiantava. Eu me perguntava se era só comigo, se era coisa da mi‐ nha cabeça”, relembra. Ao ser constatado que outras alunas também haviam sido assediadas por esse mesmo professor, o caso chegou até o Diretório Acadêmico

do curso e a denúncia foi levada ao colegiado, resultando no afas‐ tamento temporário do docente. “Muitas pessoas me olharam tor‐ to, como se o motivo fosse ridícu‐ lo”, desabafa a estudante. Outro caso ocorreu na Facul‐ dade de Direito da UFU (Fadir). No período de conclusão do está‐ gio probatório, um docente foi acusado de assédio por várias es‐ tudantes. Durante o processo de avaliação, algumas declarações foram assinadas por elas e, mes‐ mo assim, as denúncias não foram consideradas. O caso foi encami‐ nhado para a Comissão Perma‐ nente de Sindicância e Inquérito Administrativo (Copsia) da UFU e foi aplicada apenas uma pena de advertência para o docente. A es‐ tudante que sofreu o assédio nesse caso se negou a falar com o Senso Incomum. Ela não vive mais em Uberlândia e desistiu do curso. O coordenador da Copsia, Adailton Borges de Oliveira, pon‐ dera que o baixo índice de regis‐ tro de casos está relacionado à falta de conhecimento e temor. “Em casos de assédio sexual, per‐ cebemos que as meninas ficam muito constrangidas porque o as‐ sediador está ali perto e elas não têm amparo”, completa. *Iniciais para preservar a identidade da fonte.

Foto: Nasser Pena

Foto:Thiago Crepaldi

Integrantes da Ouvidoria Acolhidas em reunião para análise de casos e planejamento de ações na Universidade

Outros projetos Acolhidas é uma ouvido‐ ria composta apenas por mulheres. Os plantões são realizados toda quarta‐fei‐ ra, das 17 às 18 horas. Existe ainda, em Uber‐ lândia, o projeto “Todas por Ela” que, em parceria com a ONG SOS Mulher, combate a violência de gê‐ nero e oferece assessoria ju‐ rídica gratuita a mulheres de baixa renda. Seu horário de funcionamento é das 14 às 17 horas, às terças e quintas‐feiras. Os serviços estão dispo‐ níveis no Campus Santa Mônica, bloco 5V. Contato Acolhidas: aco‐ lhidasouvidoria@gmail.com Contato projeto “Todas por Ela”: (34) 3291‐6358.


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IN capa

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CAMINHOS DA UF

O mais antigo campus avançado apresenta bons resu

Ana Luiza Figueiredo e Heloir Schwaickardt

Desde que a UFU chegou aqui, os avanços foram evidentes Eduardo Henrique de Freitas

Com mais de 2.200 estudantes, a UFU em Ituiutaba, MG, com‐ pletou dez anos de criação em 2016, com abertura de cursos que buscavam atender a carência de profissionais da cidade. Consi‐ derado o primeiro e maior cam‐ pus avançado da Universidade, o Pontal abriga a Faculdade de Ci‐ ências Integradas do Pontal (Fa‐ cip) e enfrenta dificuldade com obras e gestão, mesmo apresen‐ tando bons resultados. Como o local ainda não está totalmente construído, são alugados espaços na Universidade Estadual de Mi‐ nas Gerais (UEMG) e uma ala no prédio da Faculdade Triângulo Mineiro (FTM). Segundo a res‐ ponsável pela Prefeitura de Cam‐ pus, Biliane Conceição dos San‐ tos, a previsão para o término de novos blocos é junho de 2018. De acordo com as etapas do Plano Diretor Físico, as constru‐ ções de curto prazo, como CT‐In‐ fra, laboratórios de ensino, audi‐ tório, sala de professores e com‐ plexo esportivo, já deveriam estar prontas, pois a conclusão estava prevista para 2014‐2015. Entre‐ tanto, devido à falta de verba, so‐ mente alguns prédios como o Restaurante Universitário (RU) e a Biblioteca foram entregues. Ainda está programada uma se‐ gunda etapa entre 2015 e 2021, quando se esperam obras de aces‐ so, estacionamentos, reservatório de água, praças e centro de con‐ vivência. Na terceira etapa do Plano (2021‐2024), serão feitas obras de calçadas, ciclovia, can‐ teiros, ruas e portarias. O estudante de Química Iago Ferreira Espir destaca que, desde que ingressou na Universidade, houve muitas mudanças no cam‐ pus como um todo. “Quando en‐ trei, não existia RU, nem aca‐ demia. Agora, tem. Antes, só ti‐ nha um bloco com laboratórios e o CT‐Infra. Neste momento, es‐

Com 11 cursos e mais de 2200 estudantes, a UFU Pontal continua em expansão tão construindo um com salas de aula e os laboratórios do meu curso. Passei a graduação toda tendo aulas lá na UEMG e, ago‐ ra, não vou poder usar esses la‐ boratórios novos, pois já estou terminando minha última disci‐ plina experimental”, lamenta.

Gestão O Campus Pontal é de respon‐ sabilidade da administração cen‐ tral da Universidade, em Uber‐ lândia. No entanto, o diretor pro tempore Raul Fernando Cuevas explica que cabe à direção da Fa‐ cip lidar com os problemas coti‐ dianos do local. “O conserto de equipamentos, algumas vezes, é demorado, não temos o número necessário de servidores técnicos. O transporte de estudantes, pro‐ fessores e servidores para a sede central é caro e desgastante. E te‐ mos problemas com o wifi”. Por outro lado, Cuevas ressalta que existe uma cooperação geral da comunidade para superar os obs‐ táculos e a Facip desenvolver a missão atribuída a ela. A UFU em Ituiutaba tem, em uma única faculdade, os cursos de Física, Química, Matemática,

Ciências Biológicas, História, Pe‐ dagogia, Geografia, Administra‐ ção, Ciências Contábeis, En‐ genharia de Produção e Serviço Social. Existe, ainda, a proposta de implementação do curso de Medicina em 2018. De acordo com Cuevas, a co‐ munidade interna entende que es‐ se modelo de gestão integrada é difícil de gerenciar. Por essa ra‐ zão, em 2016, uma comissão propôs a reorganização da Facul‐ dade em três unidades nas quais os cursos seriam alocados confor‐ me a área. O diretor ressalta que essa proposta foi amplamente discutida pela comunidade da Fa‐ cip e aprovada no conselho da unidade. Atualmente, o processo segue em andamento na adminis‐ tração central. A partir de um balanço da quantidade de pessoas que preci‐ sam utilizar cotidianamente os espaços do campus, o diretor ad‐ mite que a estrutura da Facip não atende todas as necessidades da comunidade acadêmica de modo satisfatório. “Esta unidade está crescendo. A cada dia, surgem novas solicitações. Os cursos de graduação aspiram por seus pro‐ gramas de pós‐graduação, por


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FU EM ITUIUTABA

ultados, mas segue com problemas em obras e gestão

nhamento”, detalha. A UFU mantém, ainda, um contrato com o Ituiutaba Clube para os estu‐ dantes interessados em práticas esportivas.

Histórico

e contribui há mais de uma década para o crescimento de Ituiutaba e região Programas de Ensino Tutorial (PET), entre outros. Isso impacta na demanda por mais salas, labo‐ ratórios, secretarias ”, explica. Por outro lado, a responsável pela Prefeitura de Campus, Bilia‐ ne dos Santos, afirma que a es‐ trutura física atende a todos de forma satisfatória porque a quantidade de salas de aula, la‐ boratórios e auditórios é sufici‐ ente para que as atividades ocorram normalmente. “A de‐ manda por espaço é contínua, o que faz parte do crescimento na‐ tural da unidade. Com a finali‐ zação dos novos blocos, acre‐ ditamos que grande parte dos problemas será solucionada”, enfatiza.

Intercampi Como Ituiutaba se localiza a, aproximadamente, 140 quilôme‐ tros de Uberlândia, a Prefeitura Universitária oferece o transporte Intercampi para o campus sede da UFU a todos os estudantes, professores e técnicos administra‐ tivos que realizam atividades aca‐ dêmicas no Pontal. Há também um Intercampi interno, para atender aos estudantes que assis‐

tem a aulas em locais diferentes na cidade. A estudante de Ciências Bioló‐ gicas Lara Nascimento Zanato relata que faz aulas práticas em um dos prédios alugados e que tem problemas com o horário do transporte. “Dependemos do In‐ tercampi para ir até essas aulas, embora, muitas vezes, os horári‐ os não coincidam”, explica. Segundo Biliane dos Santos, as reclamações não chegaram até a Prefeitura de Campus. “Se existir algum problema, os coordenado‐ res dos cursos afetados devem formalizar e, se necessário, os ho‐ rários serão ampliados. Deve es‐ tar ocorrendo falta de comu‐ nicação entre os alunos e suas co‐ ordenações e dessas com a Prefei‐ tura”, justifica. Além de aulas e laboratórios, a Universidade também oferece aos estudantes atividades de esporte e lazer. A responsável pela Pró‐ Reitoria de Assistência Estudantil (Proae) no Campus Pontal, Po‐ lyana Matumoto, afirma que Ituiutaba tem a melhor academia universitária entre todos os cam‐ pi. “O espaço é climatizado, com bons aparelhos e um educador fí‐ sico à disposição para acompa‐

A UFU Pontal foi idealizada em 2005 a partir da demanda pe‐ la expansão da Universidade e por ensino superior público de qualidade na cidade de Ituiutaba. Em 2006, a gestão municipal fez a doação de um terreno de 500 mil metros quadrados para que o campus fosse construído. Naque‐ le mesmo ano, iniciaram‐se as contratações de técnicos adminis‐ trativos e docentes para os pri‐ meiros cursos implantados. No entanto, as primeiras tur‐ mas iniciaram em 2007 em espa‐ ços alugados da FTM, na antiga Fundação Educacional de Ituiuta‐ ba (Feit), atual UEMG, e no Co‐ légio Raio de Sol. Desde então, muitas mudanças ocorreram de‐ vido, principalmente, à imple‐ mentação do Plano Diretor Físico do campus em 2009. Em 2010, foram criados os cursos de Enge‐ nharia de Produção e Serviço So‐ cial e, somente a partir de 2012, as aulas começaram a ser minis‐ tradas no atual Campus Pontal. Formado em História na UFU Ituiutaba e atualmente mestran‐ do em Educação, Eduardo Hen‐ rique de Freitas ressalta que a Universidade é importante para a cidade, onde mora há nove anos. “Desde que a UFU chegou aqui, os avanços foram eviden‐ tes. Quando o campus foi para seu próprio espaço, a cidade cresceu, além do número de ha‐ bitantes aumentar devido à ofer‐ ta de novos cursos superiores gratuitos e de qualidade. Fui pri‐ vilegiado em estudar numa uni‐ versidade federal que acolhe muito bem e que conta com um corpo docente de respeito. Sem dúvidas, o Campus Pontal mu‐ dou e vem mudando a vida de muitas pessoas”, conta Freitas.

Com a finalização dos novos blocos, acreditamos que grande parte dos problemas serão solucionados Biliane dos Santos


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Horta auxilia na promoção da saúde mental Programa de Educação Tutorial desenvolve iniciativa há mais de 15 anos Juliana Izabel Evangelista Situada no Campus Glória e cul‐ tivada há mais de 15 anos, a Horta Terapêutica é um projeto de exten‐ são resultante da parceria entre Pre‐ feitura Municipal de Uberlândia e a UFU. O objetivo é promover expe‐ riências profissionais para os alunos do Programa de Educação Tutorial (PET) Agronomia e auxiliar no tra‐ tamento psicoterapêutico dos aten‐ didos pelo Centro de Convivência e Cultura da Saúde Mental. Semanalmente, os acadêmicos de Agronomia se unem aos partici‐ pantes do Centro de Convivência e às profissionais de Psicologia e Serviço Social do Centro de Aten‐ ção Psicossocial (Caps) para plan‐ tar, acompanhar o crescimento e realizar a colheita das hortaliças, que são distribuídas entre os aten‐ didos. O membro do PET Marcos Na‐ kamura explica que todo o material é fornecido pela UFU e que, para ele, o projeto dá um retorno tanto profissional quanto humano. “Não é só um projeto de extensão, ultra‐

Foto: Juliana Evangelista

As hortaliças cultivadas no projeto são distribuídas entre seus participantes passa isso. Envolve companheiris‐ mo e carinho”, ressalta. Para o coordenador do PET, Reginaldo Camargo, os resultados da ação se estendem para além do ensino aca‐ dêmico. “É um ato de amor e cari‐ dade, realidade que a Universidade não ensina”, afirma. A assistente social do Centro de Convivência, Maria Lúcia Saab, aponta que a atividade contribui para a melhora da saúde mental dos mais de 15 participantes, pois,

ao cultivar afeto pela horta, os atendidos aprendem a lidar com si‐ tuações diárias e com as pessoas. “Sempre fazemos metáforas das fa‐ ses da plantação com o crescimento deles”, completa. Gedeon Alves recebe tratamento no Caps e participa do projeto des‐ de 2016. “Fazemos novas amiza‐ des, levamos alimento pra casa e cuidamos do corpo e da mente. Al‐ guns colegas já até se arriscaram a começar uma em casa”, relata.

INnatura UFU realiza projetos de agroecologia Comunidade acadêmica e produtores rurais lutam por justiça socioambiental Ana Eliza Barreiro

Venha conhecer! A feira de produtos or‐ gânicos é realizada todos os sábados no Centro de Convivência da UFU Santa Mônica. O horário de funciona‐ mento é das 8 às 11 horas.

A agroecologia surgiu para re‐ pensar a relação entre o homem e o meio ambiente. Na UFU, grupos de estudo e projetos com a comu‐ nidade de pequenos agricultores da região buscam soluções nesse senti‐ do. Os núcleos apoiam a agricultu‐ ra familiar, com o auxílio aos trabalhadores de baixa renda inte‐ ressados na transição agroecológi‐ ca ou agroflorestal. De acordo com a coordenadora do Núcleo Agroecológico do Cer‐ rado Mineiro (Nacem) de Monte Carmelo, Adriane Silva, a propos‐ ta de interação das atividades agrí‐ colas com a proteção ao equilíbrio

natural é importante no ensino das Ciências Agrárias. “O estudo da agroecologia é elementar para mo‐ dificar o olhar sobre a agronomia tradicional”, explica. Em Uberlândia, uma parceria en‐ tre associações rurais e o Centro de Incubação de Empreendimentos Po‐ pulares Solidários (Cieps) resultou na criação de uma feira agroecológica semanal. A coordenadora do Núcleo de Estudos Agroecológicos (NEA), Cristiane Betanho, relata que as ações incluem trabalho de formação dos agricultores para a prática da agroecologia, e conta com o apoio de docentes e estudantes. O aluno de Geografia e colabo‐ rador do projeto Breno Melo Faria

ressalta que as preocupações com a natureza e com a comunidade de‐ vem caminhar juntas. “A agroeco‐ logia é pensar o modo de trabalho, dando significado para a qualidade de vida. Por isso, buscamos esti‐ mular a emancipação e empodera‐ mento dos participantes”, destaca. Para o trabalhador rural em transição agroecológica e militante do Movimento Libertário Sem Ter‐ ra (MLST) José Rubens da Concei‐ ção, a reflexão sobre os impactos ambientais é uma continuidade da batalha pela justiça socioambiental que modificou o olhar dele sobre o trabalho no campo. “Temos um resgate da terra como vida, não co‐ mo bem capital”, diz.


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Cursinho atende estudantes de baixa renda Graduandos da UFU ministram aulas gratuitas de preparação para o Enem Clarice Bernardes e Pedro Henrique O cursinho Ações Formativas Integradas (Afin) da UFU Monte Carmelo oferta, desde 2012, aulas gratuitas para estudantes e egressos do Ensino Médio da rede pública e alunos bolsistas integrais da rede particular de ensino. A atividade tem o apoio da Pró‐Reitoria de Ex‐ tensão, Cultura e Assuntos Estu‐ dantis (Proex), que visa unificar os cursinhos oferecidos pela UFU em um projeto de extensão que possa ser similar em todas as unidades, já que abrange os campi de Monte Carmelo, Uberlândia, Patos de Mi‐ nas e Ituiutaba. Segundo a coordenadora do projeto, Ana Carolina Siquieroli, o objetivo é ajudar estudantes que almejam o ensino superior, mas que não têm condições financeiras de pagar por um curso preparató‐ rio. “Os cursinhos existentes são particulares e não atendem a po‐ pulação mais humilde”, afirma. As disciplinas são ministradas pelos graduandos dos cursos ofere‐ cidos no campus, com a supervisão dos docentes da Universidade. A es‐ colha dos acadêmicos ocorre por meio de edital, que prevê avaliação didática e análise de currículo. São formadas duas turmas, uma desti‐ nada aos alunos do terceiro ano e egressos, e outra aos alunos dos pri‐ meiro e segundo anos do Ensino Médio. O discente do curso de Geografia Wilson Araújo, que ministra aulas no cursinho, explica que as aulas são preparadas de acordo com os requisitos da grade curricular do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). “Quando uma disciplina é encerrada, os professores realizam um simulado, abordando questões que já foram cobradas nos vestibu‐ lares anteriores e colocando em prática o que aprenderam”, explica.

Ingresso Afin As aulas acontecem na unidade Centro da UFU em Monte Carme‐ lo e em cada edição seleciona 80 alunos por meio de edital. Para se

Foto: Milton Santos/UFU

Alunos do cursinho Ações Formativas Integradas se preparam para o Enem 2017 candidatar, os interessados preci‐ sam preencher um questionário socioeconômico e levar cópias do histórico escolar, CPF, identidade e do comprovante de endereço, além de uma declaração, se for bolsista em escola particular. A escolha dos alunos considera, preferencialmente, as informações do questionário socioeconômico, priorizando candidatos de baixa renda. Quando há evasão, são chamados os interessados da lista de espera. De acordo com Siquieroli, a maioria dos alunos do cursinho é da cidade, mas há também a pre‐ sença de estudantes de outros mu‐ nicípios da região, como Abadia dos Dourados, Coromandel e Ro‐ maria, que contam com o trans‐ porte oferecido pelas prefeituras de origem. A estudante do segundo ano do Ensino Médio Lorhanny Rabelo, que reside em Coromandel, MG, pretende cursar Odontologia na UFU e afirma que só foi possível comparecer às aulas em Monte Carmelo por meio do apoio da Prefeitura de sua cidade. A secun‐ darista começou a frequentar as aulas em fevereiro de 2017 e pre‐

tende continuar quando chegar ao terceiro ano. “O cursinho está sendo importante porque propor‐ ciona novos aprendizados que contribuirão na realização do Enem e, ainda, facilita no proces‐ so de aprendizagem da grade cur‐ ricular do Ensino Médio”, diz. A graduanda do curso de Enge‐ nharia de Agrimensura e Carto‐ gráfica do Campus de Monte Carmelo Laura Moura frequentou o cursinho Afin de abril a novem‐ bro de 2016, quando estava no terceiro ano do Ensino Médio. A estudante, que foi aprovada na UFU no ano seguinte, afirma que não teria condições de pagar um cursinho particular para entrar em uma universidade. Moura diz ter conhecido a Afin por meio de amigos da es‐ cola em que estudava e que ter participado do projeto contri‐ buiu para o seu melhor desem‐ penho na realização do Enem. “O cursinho foi fundamental para a minha aprovação e tenho o desejo de ser professora dele. Isso seria uma realização para mim, já que o cursinho con‐ tribuiu para meu ingresso na Universidade”, conta.

Atividade chega a Patos de Minas A UFU inaugurou, em agosto de 2016, o cursinho Afin no Campus de Patos de Minas, última cidade a receber a iniciativa. O pro‐ grama conta com dez pro‐ fessores, todos alunos dos cursos de graduação da Universidade, e ocupa uma sala do antigo prédio da Prefeitura da cidade. Atualmente, são minis‐ tradas dez disciplinas para os 75 alunos matriculados. Para a coordenadora do preparatório, Sabrina Nu‐ nes, as vagas disponíveis ainda estão longe do ideal. “A cidade e região têm uma demanda muito mai‐ or, visto que recebemos mais de 250 inscrições no semestre inicial”, ressalta.


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IN struída

Cotistas enfrentam dificuldades na UFU Políticas de permanência estudantil ainda são insuficientes frente à demanda institucional Ana Luísa Nogueira e Halyson Vieira

Destino dos recursos O recurso do Pnaes uti‐ lizado pela Proae no geren‐ ciamento de bolsas foi de R$ 22 milhões em 2015. Desse total, R$ 12 milhões foram destinados ao paga‐ mento de bolsas e aproxi‐ madamente R$ 10 milhões utilizados em bolsas de ali‐ mentação do Restaurante Universitário, além de cus‐ teio de atividades de espor‐ te e lazer. No entanto, esse montante não é suficiente para atender as 12 mil so‐ licitações de auxílio feitas por estudantes da UFU.

A Lei de Cotas, nº 12.711, san‐ cionada pelo governo federal em agosto de 2012, garante que as Instituições Federais de Ensino Su‐ perior (Ifes) destinem metade das vagas das universidades para pes‐ soas oriundas de escolas públicas e que atendam aos critérios de faixa de renda e se autodeclarem pretos, pardos ou indígenas. Apesar de o acesso ter sido ampliado e de exis‐ tir assistência aos estudantes cotis‐ tas, as políticas de permanência não conseguem atender a todos os alunos que precisam do auxílio. Na UFU, as bolsas de assistência são gerenciadas pela Pró‐Reitoria de Assistência Estudantil (Proae), que disponibiliza recursos de auxí‐

lio‐moradia, alimentação, trans‐ porte, acessibilidade, creche e a bolsa Proae de formação. A estu‐ dante de Psicologia e cotista Ana Cláudia Mateus defende a impor‐ tância desses benefícios. “Eu não conseguiria me manter na Univer‐ sidade sem essas políticas”, afirma. Além das bolsas, outros projetos como o PET‐Conexões buscam auxiliar a permanência desses estu‐ dantes. Segundo a tutora do pro‐ grama, Adriana Omena, o auxílio ainda é insuficiente. “As bolsas ajudam, mas permanência com qualidade não vem sendo discuti‐ da”, argumenta. Atualmente, a UFU sofre com a evasão de alunos e com a forma de destinação de verbas feita por meio do Programa Nacional de Assis‐

tência Estudantil (Pnaes). No intui‐ to de captar mais recursos e atender a demanda, está em deba‐ te, no Fórum Nacional de Pró‐Rei‐ tores de Assuntos Comunitários e Estudantis (Fonaprace), a remode‐ lação do repasse orçamentário. A ideia é que os recursos sejam distri‐ buídos proporcionalmente ao nú‐ mero de ingressantes, em vez do total de formandos da universida‐ de, como é feito hoje em dia. Se‐ gundo o pró‐reitor de Graduação, Armindo Quillici, o índice de eva‐ são da instituição gira em torno dos 40% e a assistência estudantil não atinge ainda todas as camadas que precisam do benefício. “O ob‐ jetivo da atual gestão é reduzir a evasão para no máximo 20%”, in‐ forma.

INsight Intervenções artísticas inquietam alunos Prática gera debates e reflexões, mas muitas vezes é incompreendida pelo público Halyson Vieira e Iury Machado

Gabriel Rangel, a proposta pode restringir o público. “Quem real‐ mente se quer atingir não dá muita importância, mas qualquer forma de arte é válida”, analisa. O estudante de Sistemas de In‐ formação Diego Silva diz acreditar que a raiz do problema é cultural, pois, ao longo da vida, as pessoas são pouco expostas a esse tipo de arte. “Isso prejudica a compreen‐ são dos temas abordados”, com‐ plementa. O atual diretor do Ocupa Tea‐

tro, Waquilla Correia, explica que o planejamento das intervenções é fei‐ to coletivamente: “Primeiro, a gente se reúne e decide sobre o que falar. Depois do processo de criação e concepção do espetáculo, pensamos para qual público ele se aproxima mais e quais espaços percorrerá”. Em algumas ações, a restrição por faixa etária pode ajudar a selecionar o público e apimentar as perfor‐ mances com cenas de nudismo, se‐ xo, morte ou uso de drogas, por exemplo.

Alunos de diversos cursos da UFU, principalmente ligados às ar‐ tes, organizam coletivos para reali‐ zação de intervenções artísticas nos campi com foco em temas como corpo, mulher, diversidade de gê‐ nero, acesso à educação e outros que, muitas vezes, causam incômo‐ do nos espectadores. De acordo a professora do curso de Dança da UFU Juliana Bom‐ Tempo, “as narrativas que podem ser construídas ali não correspon‐ dem àquele lugar”. A docente ex‐ plica que o propósito é convocar as pessoas para atribuir um sentido à situação que estão experimentando, sem passar uma mensagem pronta. Bom‐Tempo destaca que o diálo‐ go com a comunidade externa ain‐ da é escasso e a interpretação dos propósitos nem sempre é clara. “As imagens e os signos estão prontos no mundo e a tarefa de reinterpre‐ tá‐los frente a uma performance é Foto: Halyson Vieira incômoda para as pessoas”, reflete. Para o aluno de Ciências Sociais Críticas relacionadas ao corpo são recorrentes e intrigam espectadores


IN sight

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Centro de pesquisa guarda memória da cidade Discos de vinil e jornais antigos compõem o acervo sobre a história de Uberlândia Clarice Bernardes e Natália Spolaor Coleções fotográficas, disco‐ gráficas, jornais da cidade de Uberlândia e do país, mapoteca, videoteca, filmoteca e uma exten‐ sa bibliografia de apoio voltada para os estudos do campo da História compõem o acervo do Centro de Documentação e Pes‐ quisa em História (CDHIS), ór‐ gão do Instituto de História da UFU. O local é coordenado pela professora Maria Elizabeth Ri‐ beiro Carneiro e conta com o apoio financeiro de editais de agências de fomento. A técnica do Centro Aline Guerra informa que o acervo conta com 30 coleções, com do‐ cumentos relativos a Uberlândia e, também, a Minas Gerais, e aju‐ da a resgatar o início da história do município. “É possível encon‐ trar arquivos das principais cons‐ truções, bairros antigos, pessoas influentes e da Universidade”, afirma. Além disso, o acervo con‐ ta com os primeiros exemplares de alguns jornais como o Jornal de Uberlândia, o Cruzeiro, a Fo‐ lha de S. Paulo e o Correio de Uberlândia, que encerrou suas atividades em 2016. Os arquivos de antigos mora‐ dores da cidade contam com do‐ cumentos que misturam infor‐ mações da vida privada e pública de tais personagens. É possível encontrar correspondências, car‐ tas, anotações, documentos di‐ versos, que trazem informações de como era a realidade da cida‐ de de Uberlândia nos anos 1980. Arquivos de processos criminais ocorridos em Uberlândia também podem ser acessados no local.

Acervo musical O Museu de Imagem e Som in‐ tegra o Centro e conta com cole‐ ção doada em 1987 pelas antigas emissoras de rádio locais, como Educadora e Difusora, bem como 20 mil discos de vinil de diversos compositores e cantores de suces‐ so do país do período de 1930 a 1980. Além disso, existem discos de

Foto: Natália Spolaor

Edição antiga do Jornal de Uberlândia é restaurada pela equipe do CDHIS jingles de propagandas que circu‐ lavam nas rádios, músicas infan‐ tis e poesias. Guerra conta que o centro possui uma vitrola doada, que é utilizada durante as visita‐ ções para que o público possa apreciar as melodias que há mui‐ to tempo já não são ouvidas. O arquivo histórico do CDHIS tem como objetivo a sistematiza‐ ção e a preservação das doações recebidas, além de produzir e ge‐ rar pesquisas, promover palestras e cursos, realizar exposição de documentos e, fundamentalmen‐ te, atender o público pesquisador interno e externo à Universidade. “O Centro recebe diversos do‐ cumentos, que são avaliados por uma comissão organizadora que determina se devem compor as coleções. A maior preocupação que a coordenação do local tem é de expandir e preencher as lacu‐ nas presentes nas histórias das coletâneas que se encontram dis‐ poníveis no local”, explica a téc‐ nica Aline Guerra.

Seleção e preservação Os arquivos recebidos passam pelo processo de seleção para se‐ rem catalogados. Os que com‐ põem o acervo e estão em condições precárias são submeti‐

dos ao processo de restauração, realizado pelo responsável do se‐ tor, Velso Carlos de Souza. Em entrevista veiculada pela TV Uni‐ versitária, Souza explica que o primeiro passo na restauração é a higienização do documento. De‐ pois, ocorre o reparo por meio da utilização de papel japonês, cola neutra à base de água e, para con‐ cluir o trabalho, usa‐se uma espá‐ tula. Ao final do processo, o documento é arquivado e, a cada seis meses, passa por manutenção. Para organizar o acervo, o CDHIS conta com o apoio de es‐ tagiários remunerados e voluntá‐ rios, universitários da UFU e estudantes do Ensino Médio, que realizam a manutenção do espaço de pesquisa. Junto ao Centro de Documen‐ tação funcionam, também, o Nú‐ cleo de Estudos de Gênero e Pesquisa sobre a Mulher (Ne‐ guem), responsável pelas revistas científicas Caderno Feminino e Gênero em Pesquisa, e o Labora‐ tório de Ensino e Aprendizagem em História (LEAH), que realiza o trabalho de ampliar o acervo com produções acadêmicas e do‐ cumentos relativos ao ensino de História, atividades de extensão, além da publicação da revista Cadernos de História.

Mais informações • O Centro de Documenta‐ ção e Pesquisa em História fica no bloco 1Q, no Cam‐ pus Santa Mônica da UFU. Funciona de segunda a sex‐ ta‐feira, das 7 às 17 horas. • As visitas são guiadas por funcionários do local, que apresentam os espaços e coleções disponíveis.


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Educação que transforma Elaíny Carmona e Iury Machado

Eu preciso do estudante e da escola, tanto quanto a escola precisa de mim

Michele Silva

Durante a ocupação do Cam‐ pus Pontal da UFU, em Ituiutaba, MG, uma das militantes chama atenção pela sua história. A mu‐ lher de corpo esguio, olhar firme e rosto marcado pelo peso da idade, fala abertamente sobre o que viveu. Michele Silva Santos, 39, natural de Brasília, DF, per‐ correu muitas horas de estrada e atravessou parte do Brasil em busca de uma nova vida. Mudou‐ se para a Paraíba para fugir das drogas, voltou a estudar e con‐ cluiu o Ensino Médio por meio do programa de Ensino de Jovens e Adultos (EJA). Conta que estu‐ dou sozinha para o Exame Naci‐ onal do Ensino Médio (Enem) e que seu irmão fez com que usasse a nota para ir a qualquer lugar do país, exceto para a sua cidade natal. Em 2016, Michele conquistou uma vaga em Pedagogia na UFU e conta ter sofrido no início dessa trajetória, devido à falta de con‐ dições para se sustentar na nova cidade. Atualmente, no segundo período do curso e membro do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid), a aluna considera o projeto de su‐ ma importância para sua forma‐ ção. “A ação faz parte do âmbito escolar e é uma via de mão dupla.

Eu, na minha formação, preciso do estudante e da escola, tanto quanto a escola precisa de mim”, afirma. Bolsista do Pibid Gestão, pro‐ jeto que tem o intuito de conhe‐ cer a documentação da escola e auxiliar na busca de soluções pa‐ ra problemas enfrentados pelos professores, Michele sentia forte necessidade de ter contato direto com os alunos e, com um sorriso no rosto, conta que começou a conversar com eles e auxiliá‐los quando necessário. “Tinha uma estudante que xingava muito a professora, que devolvia com castigo, e eu via a criança piorar a cada dia. Então, comecei a con‐ versar com essa menina e ela gos‐ tou muito de mim. Falei que não podia dar muita coisa, mas que, se ela parasse de xingar, eu daria um brilho pra ela no Dia das Cri‐ anças. Pensa o tanto que essa me‐ nina melhorou dentro da sala de aula”, relata. Ao comentar sobre o trabalho, os olhos brilham e deixam trans‐ parecer o amor pela profissão que escolheu. “O projeto funcio‐ na dentro de uma sala analisando documentos. A atividade que fa‐ ço é individual e minhas colegas até me questionaram, porque não é nossa função, mas eu faço por‐ que eu quero, porque gosto”, acrescenta.

IN termitente Varal Poste uma foto no Instagram ou Facebook com #varaldosenso e participe !

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Saiba mais!

Para ficar ainda mais por den‐ tro, o conteúdo continua no mundo virtual.

Foto: Elaíny Carmona Foto: Elaíny Carmona

Durante ocupação do Campus Pontal, Michele Silva relembra sua trajetória

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