senso
comum
Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo UFU ano 8 • 36ª edição outubro/novembro de 2017 distribuição gratuita
Sob pressão, universitários recorrem ao doping mental
página 6
cotidiano
esportes
políticas
Denúncias de assédio moral ainda terminam em impunidade página 4
Trabalho, dedicação e suor na preparação para as Olimpíadas página 8
Conheça iniciativas de apoio à mulher em Uberlândia e na UFU página 10
DA REDAÇÃO OPINIÃO//
EDITORIAL//
Quanta hipocrisia...
O alto custo
MARIA CAROLINA F. MASCHIO Trabalhos, provas e notas são só a ponta do iceberg que assola os graduandos, que desenvolvem crises de ansiedade, depressão e transtornos emocionais. Os efeitos não se limitam aos muros da universidade. A famosa frase “quem está dentro quer sair, quem está fora quer entrar” é realidade nesse período entre os vestibulares e a conclusão do curso. A nossa realidade chega, através do famoso “telefone sem fio”, aos estudantes de Ensino Médio e o medo da prova do vestibular se transfere para o “monstro” da universidade. A pressão vem de todos os lados. Professores exigem grandes demandas de tarefas em um curto período; a família não admite uma falha se-
quer e, o pior dos inimigos, nós mesmos. A busca incessante por ser cada vez melhor é um sonho árduo de ser alcançado, que muitas vezes custa mais do que noites de sono. Entupir o organismo de cafeína e energético para render além do habitual não tem surtido mais tanto efeito. A vida acadêmica tem forçado os estudantes a procurarem métodos mais agressivos, que afetam a saúde física e mental. Quantos de nós não temos um amigo que sofre de depressão? Quantos de nós não conhecemos alguém que cometeu suicídio? Lamentavelmente, isso é uma realidade com consequências graves, que caminha a passos largos em direção aos estudantes.
O tema da pluralidade e da diversidade no ensino superior tem ganhado espaço atualmente. O despertar da criticidade, a busca pela indagação, o apoio à reflexão e a saída da superficialidade do senso comum fazem parte dos discursos que soam pelos quatro cantos da universidade. Tudo muito bonito, na teoria. Sim, na teoria. Não é à toa que são divulgados tantos debates, reuniões, rodas de conversa, seminários e palestras convidando os estudantes a pensar, na tentativa de suprir o que não é discutido em sala de aula. Todos os dias fica evidente a falta de empatia e respeito: se alguém expõe um pensamento dife-
rente do meu, eu simplesmente ignoro ou posso argumentar para desmerecê-lo. Posso ser tolerante de fato ou fazer como a maioria: seguir na hipocrisia. E o que é ser tolerante de fato? É parar. Parar para ouvir de verdade, parar de apresentar minhas razões no intuito de alimentar meu ego. É entender que somos diferentes, mas que é possível haver unidade na heterogeneidade. É respeitar a opinião e posição do outro mesmo quando ele se ausentar. Muitos falam, mas poucos ouvem. Onde estão a pluralidade e a diversidade? Talvez no sonho. Na lenda. Talvez. A livre expressão ficou cativa das opiniões alheias.
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CAROLINA F. CUNHA
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JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA (UFU) Reitor Valder Steffen Jr - Diretor da Faced Rafael Duarte Oliveira Venâncio - Coordenador do Curso de Jornalismo Gerson de Souza - Professores Responsáveis Felipe Saldanha, Ivanise de Andrade, Vanessa Matos, Vinicius de Souza - MTB Jornalista responsável: Vanessa Matos 50.456 - Revisão: Ivanise de Andrade - Editoras-Chefe Bárbara Sta. O. Fernandes, Raphaela Augusta - Editores Camila Carneiro, Eloisa Rocha, Giovanna Tedeschi, Juliana Tobias, Melissa Ribeiro, Richard Militão, Rosângela Gomes Daniel, Vinícius Ribeiro e Zilá Carvalho - Montagem fotográfica de capa Thaís Degani Angerami Repórteres Ana Júlia Gotardelo, Ana Laura Marques, Ana Luiza Costa, Anatália Cruz, Bianca Felix, Caio Roberto, Carolina Cunha, Cassiana Batista, Daniel Gonzaga, David Douglas, Gabriela Bonatto, Guilherme Dezopa, Gustavo Ribeiro, Isabela Cardoso, Jhonatas Silva, João Pedro Rabelo, Juliano Damas Júnior, Karen Kristine Muniz, Luciano Vieira Jr., Marco Túlio Silva, Maria Carolina Maschio, Mariana Oliveira, Mariana Solis, Pedro Vítor Rodrigues, Thaís Angerami, Wendell Arai - Tiragem 2000 exemplares Impressão Imprensa Universitária - Gráfica UFU sensoincomumufu@gmail.com www.sensoincomum.net
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COTIDIANO
Secundaristas encontram novas possibilidades de cursos e atividades universitárias Vem Pra UFU mobiliza centenas de universitários e auxilia alunos do Ensino Médio a escolherem a futura profissão CAIO ROBERTO E GUSTAVO RIBEIRO O Vem Pra UFU, evento promovido pela Universidade Federal de Uberlândia anualmente, ocorreu no campus Santa Mônica nos dias 26 e 27 de outubro. O objetivo do evento é auxiliar os secundaristas na escolha de sua graduação através de estandes organizados pelos universitários. Segundo a Diretoria de Comunicação da instituição, mais de 3 mil visitantes passaram pela universidade, sendo a maior parte estudantes do Ensino Médio. Durante o evento, a comunidade externa pôde conhecer a grade horária, as oportunidades oferecidas pelo mercado de trabalho e as atividades realizadas pelos cursos técnicos e de graduação. Além disso o bloco 3Q, ocorreram apresentações musicais, coreografias de cheerleaders e performances dos cursos de Dança e Teatro. Cairo Gabriel, aluno do 3º ano do Ensino Médio na Escola Estadual Messias Pedreiro, compareceu pelo segundo ano consecutivo. “Eu tinha vários cursos em mente, só que eu não tinha a certeza de nenhum deles. Aí eu participei do Vem Pra UFU em 2016, fui aos estandes dos cursos que cogitava, participei de um júri simulado e fui embora com a certeza de que queria Direito”, disse o secundarista. Quem também participou do evento foi a estudante do 4º período de Engenharia Civil, Débora Franco, integrante do Programa de Educação Tutorial (PET) de seu curso. O programa é uma das possibilidades de atividade extraclasse disponibilizadas pela UFU. Segundo ela, “é uma experiência inesquecível de vivência, amizade, trabalho em grupo, companheirismo, aprendizado e, principalmente, de responsabilidade”. Nele, os estudantes aprendem conteúdos que complementam a graduação de forma mais prática e dinâmica. O aprendizado ocorre por meio de palestras, minicursos, mesas redondas, entre outras atividades. Franco conta também que, juntamente ao diretório acadêmico e a empresa júnior da Engenharia Civil, o PET do curso realizou atividades para os visitantes do evento. O público conheceu alguns dos projetos arquitetônicos e estruturais desenvolvidos, e também pontes construídas pe-
los integrantes do programa. Além desses, foram mostrados materiais de construção civil, fotos e vídeos de atividades, e aparelhos do laboratório, como o teodolito, um aparelho medidor de topografia. Participei de um júri simulado e fui embora com a certeza de que queria Direito” (Cairo Gabriel) O Vem pra UFU também mostra que a faculdade vai muito além da sala de aula, com estandes de Centros e Diretórios Acadêmicos (CAs e DAs), atléticas e baterias universitárias. Paulo Costa, que cursa o 4º período de Biomedicina e é integrante do DA Louis Pasteur, conta que “a importância de um Diretório Acadêmico vai desde a luta no movimento estudantil até a própria orga-
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nização de eventos que promovem o crescimento intelectual, científico, cultural e crítico do estudante dentro da Universidade”. Os estudantes foram apresentados, entre outras, à Atlética Monetária e à Bateria Mercenária, compostas pelos cursos de Administração, Ciências Contábeis, Economia, Gestão da Informação e Relações Internacionais. Nos corredores do 3Q, enquanto os alunos visitavam as exposições, alguns dos integrantes da bateria criavam a trilha sonora do ambiente. Caixas, tamborins e chocalhos animaram os visitantes, enquanto integrantes da atlética falavam sobre as modalidades das competições, a história e as conquistas que a associação obteve ao longo do tempo. O estudante do 4º período de Ciências Contábeis, Pedro Bronhara, além de ser integrante da Mercenária, luta judô e pratica natação pela Monetária. “A importância de mostrar as atividades extraclasse é deixar exposto que, apesar da correria da vida acadêmica, podemos desfrutar de atividades musicais, esportivas e administrativas, que fogem um pouco da realidade de estudos e conseguem trazer descontração”, finaliza.
ALUNOS DO CURSO DE LETRAS RECEPCIONAM OS VISITANTES NO BLOCO 3Q · FOTO: GUSTAVO RIBEIRO
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COTIDIANO
Estudantes relatam casos de assédio moral na UFU; situação permanece invisível Violência psicológica em sala de aula é o que mais acontece, segundo as vítimas ANA JÚLIA GOTARDELO E CAROLINA FERNANDES CUNHA “No meu terceiro semestre, após a entrega de um trabalho, uma professora entrou em contato solicitando uma reunião com alguns outros docentes do Instituto. Insinuava que eu o havia pago ou que outra pessoa o teria feito por mim. Segundo ela, a qualidade deste trabalho estava inferior em relação aos que eu havia entregado anteriormente - e a impressão era diferente”. O depoimento é do estudante de História da UFU, Gabriel*, que trabalhava e estudava para auxiliar a pagar o tratamento de saúde de seu pai na época e, por isso, havia entregado outros trabalhos da disciplina com menor qualidade. A professora o acusou de ter pago por aquele trabalho. Apesar do constrangimento, ele não encaminhou nenhuma denúncia: “Me senti muito envergonhado naquele momento. Faltei por algumas semanas e depois voltei a frequentar o curso meio que escondido para me esquivar dos olhares”. O assédio moral é prática mais comum do que
se imagina, inclusive na universidade. De acordo com uma das pesquisadoras sobre o tema, a psicóloga e psicanalista Marie-France Hirigoyen, em seu livro “Assédio Moral: A violência perversa no cotidiano”, o ato pode ser caracterizado como séries de atitudes com o fim provocar sentimentos de inferioridade e de constrangimento no outro. A discente Lúcia Bueno, integrante do coletivo UFU Sem Assédio, afirma com convicção: “Muita gente acha que dentro dos muros da universidade todo mundo está tranquilo, mas aqui é só mais um espaço da sociedade. Não é por estar aqui que a pessoa vai deixar de assediar, de violentar, de nada disso”. Rafaella*, ex-aluna de Letras da UFU, relata situação ocorrida em 2014 com um professor do curso: “Ele não só desrespeitava a opinião de meninas, como desrespeitava as pessoas sentadas no fundo da sala. Eu sei que professores ainda têm essa visão de que quem senta no fundo da
sala não ‘está ali para nada’… Mas tem gente que senta por opção, porque não gosta de ficar na frente. Quem do fundo levantasse a mão para falar, ele não permitia; dava falta sem necessidade, sem a pessoa ter faltado”. De acordo com a estudante, não houve nenhum tipo de denúncia ao docente porque “os alunos do diretório acadêmico gostavam muito do professor”. Além disso, ela relata que na universidade federal muitas denúncias não são feitas porque os professores são concursados, o que aumenta a probabilidade da impunidade.
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Não é por estar aqui [na UFU] que a pessoa vai deixar de assediar, de violentar, de nada disso. (Lúcia Bueno)
O ASSÉDIO MORAL É UMA AÇÃO CHEIA DE NUANCES E, POR ISSO, PERIGOSA. A VÍTIMA PODE NEM COMPREENDER QUE O ESTÁ SOFRENDO · FOTO E MONTAGEM FOTOGRÁFICA: CAROLINA FERNANDES CUNHA
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DENÚNCIAS Dentro da UFU, alguns coletivos fundados por estudantes se manifestam contra o assédio. O UFU Sem Assédio, que reúne representantes de vários diretórios acadêmicos da universidade, a Acolhidas Ouvidoria e o coletivo Todas por Ela atendem vítimas, focando principalmente casos de violência contra a mulher. Apesar da prevenção ao assédio e à discriminação, explicitados no 1º artigo do Código de Ética da UFU, estabelecido pela Comissão de Ética (Comep), a prática ainda ocorre na comunidade acadêmica. O canal oficial de acolhimento de denúncias de assédio da universidade é a Ouvidoria Geral, que pode ser contatada através do email ouvidoria@reito.ufu.br ou telefone (34) 3239-4074. *Nome fictício para preservar a identidade da fonte.
POLÍTICAS
Coletivos atendem mulheres vítimas de violência Elas contam com apoio jurídico e psicológico por meio de ações conjuntas de ONGs e grupos da UFU ANA LUIZA COSTA E CASSIANA BATISTA
GRUPO "UFU SEM ASSÉDIO" PLANEJA AÇÕES PARA OLIMPÍADAS UNIVERSITÁRIAS · FOTO: CASSIANA BATISTA.
A cada sete minutos, um caso de violência é denunciado no Brasil, de acordo com a Central de Atendimento à Mulher (180). Mais de dois milhões de estudantes brasileiras já sofreram alguma violência de gênero na universidade, conforme pesquisa do instituto Avon. Na UFU, projetos como Acolhidas, Todas por Ela e UFU Sem Assédio, em parceria com a Organização SOS Mulher e Família, fazem parte da rede de atendimento de Uberlândia. Somente o Todas por Ela atendeu cerca de 100 mulheres que sofreram algum tipo de violência no último ano. “À medida que as vítimas vão se sentindo incomodadas e começam a lançar questões em relação às atitudes, tendem a se organizar para buscar algum serviço”, explica Cláudia Cruz, psicóloga do SOS Mulher e Família e diretora do Conselho Municipal dos Direitos das Mulheres. A maioria dos beneficiados pela ONG são mulheres, mas os atendimentos também contemplam homens e crianças que vivenciaram acontecimentos violentos. SERVIÇOS OFERECIDOS Segundo a psicóloga, os profissionais que atuam no acolhimento às vítimas de violência têm percebido que, em outras épocas, a expectativa
das mulheres ao procurar por ajuda era de receber atendimento de profissionais do Direito. Hoje em dia, por outro lado, a demanda é maior por atendimentos psicológicos, uma vez que as situações de violência causam instabilidade emocional. “Há um incômodo muito grande, mas a pessoa precisa se organizar emocionalmente para buscar alguma providência jurídica”, declara Cláudia Cruz. O atendimento psicológico, que dura no mínimo seis meses, não tem prazo para terminar e depende de cada caso. Em muitas relações sociais, explica Cláudia Cruz, a violência é naturalizada. Por isso, a psicologia age sob a perspectiva de reposicionar a mulher em relação a seu papel nos relacionamentos. Os processos jurídicos recebidos pelos serviços de acolhimento são encaminhados para o Escritório de Assessoria Jurídica Popular (Esajup) da UFU. Mais especificamente para as advogadas e estudantes que integram o Todas Por Ela, que atua gratuitamente em diversas áreas do Direito Penal, recebendo casos que se enquadram em determinados perfis sociais e econômicos. “O que nós oferecemos é a oportunidade de as vítimas serem ouvidas pelo juiz de maneira mais humanizada e empática, o que acredito ser o diferencial, ainda mais por sermos todas mulheres”, pontua uma das idealizadoras do projeto, Amanda Gondim. CONHEÇA OS COLETIVOS De acordo com a integrante do UFU Sem Assédio, a estudante de Relações Internacionais Lúcia Bueno, o grupo busca estar por dentro dos movimentos estudantis da universidade e tem contato com os diretórios, centros acadêmicos e com o Diretório Central dos Estudantes (DCE-UFU). O grupo surgiu em setembro de 2017 por iniciativa de estudantes, com a proposta de atender e apoiar mulheres que sofrem com as diferentes formas de violência dentro da universidade, encaminhandoas para outros órgãos. A ouvidoria Acolhidas, projeto de extensão de alunas do Direito, foi criado em 2015 após uma tentativa de estupro em um dos blocos da UFU. Conta com a participação de uma advogada voluntária, uma professora e acadêmicas, que bus-
cam parcerias para atendimentos psicológicos e, além disso, realizam encontros para fins de conscientização e divulgação, como o “Quarta Acolhida”, em que acontecem debates em torno da temática feminista. Alice Dias, integrante do Acolhidas, ressalta que os encaminhamentos propostos às vítimas, seja psicológico ou jurídico, dependem de como elas escolhem agir. Segundo Fabiola Alves Gomes, representante da Divisão de Saúde (Disau), as alunas da UFU que sofrem algum tipo de violência e procuram o setor psicológico da UFU para atendimento são encaminhadas para outros projetos de acolhimento. Fabíola Gomes pontua que a falta de um serviço específico se deve à carência de profissionais que consigam atender a grande demanda de estudantes.
TIPOS DE VIOLÊNCIA Sâo exemplos comuns de violência contra a mulher, o assédio sexual, a violência psicológica, lesão corporal, estupro e violência moral. Assédio sexual: Aproximação indesejada de caráter sexual e inclui atos, insinuações verbalizações, contato físico forçado. Cantadas e piadas de cunho sexual que expõem e envergonham a vítima também são formas de assédio. Violência psicológica: Pressão, chantagem emocional, ciúme excessivo, ameaças, xingamentos, constrangimento, monitoramento e isolamento. Lesão corporal: Inclui qualquer ato de agressão física. Violência moral: Atinge a honra e imagem da mulher. Inclui calúnia, difamação, injúria e divulgação de fotos e vídeos sem autorização que mostrem a mulher em situação íntima, constrangedora ou degradante. Fonte: Portal Brasil
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ESPECIAL
Alunos usam Ritalina como suporte aos estudos A droga estimula a concentração dos usuários, mas apresenta riscos à saúde POR JOÃO PEDRO RABELO E THAÍS ANGERAMI O doping mental transformou-se em algo comum entre alunos da UFU. Com o objetivo de potencializar o desempenho nos estudos e melhorar os resultados na faculdade, muitos recorrem a medicamentos que possibilitam maior concentração e energia. O cloridrato de metilfenidato, mais conhecido pelo nome comercial de Ritalina, é tido como a principal salvação para os seus adeptos nos momentos de desespero e necessidade durante o semestre letivo. O medicamento é uma anfetamina usada no tratamento de doenças como o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e narcolepsia (distúrbio do sono). Ele
age no cérebro estimulando a produção de neurotransmissores como dopamina e noradrenalina, responsáveis pela disposição e pelo foco. Possui um efeito momentâneo de cerca de quatro horas e não torna o usuário mais inteligente: apenas aumenta a sua capacidade de atenção. O farmacêutico Wesley de Souza Nunes relatou ao Senso (In)Comum que, somente no mês de outubro, 34 pedidos do medicamento foram registrados no local em que trabalha, uma drogaria próxima ao Campus Santa Mônica da UFU. Ele conta que muitos tentam comprar a droga sem prescrição médica, o que é proibido. Entre os casos em que há a prescrição, Nunes afirma que alguns clien-
SÓ NO MÊS DE OUTUBRO, 34 PEDIDOS DE RITALINA FORAM FEITOS NA FARMÁCIA MAIS PRÓXIMA DA UFU · FOTO: JOÃO PEDRO RABELO
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tes se arriscam a pedir uma quantidade do medicamento maior do que a indicada pelo médico. De acordo com dados da pesquisa do Instituto de Medicina Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), publicada em 2014, o consumo de Ritalina no Brasil aumentou em 775% em dez anos. No intervalo de 2003 a 2012, o volume da droga disponível no mercado brasileiro passou de 94 kg para 875 kg. A produção nacional também cresceu consideravelmente, saltando de 122 kg para 578 kg, uma alta de 373%. Alex*, 23, estudante recém-formado do curso de Engenharia Civil da UFU, relatou ter usado Ritalina durante toda a sua vida acadêmica por meio da automedicação. “Já conhecia o medicamento antes, mas comecei a usá-lo na faculdade, em um momento específico de muita pressão. Precisava estudar ininterruptamente por um longo período. Foi quando utilizei pela primeira vez”, expôs. “Na época das provas, quando precisava virar noites estudando, utilizava uma dose mais concentrada do remédio, chamado Ritalina LA, que tem maior tempo de duração [em torno de 6 a 8 horas]. Para as noites normais de estudo, utilizava dose convencional, de 10 mg”. O engenheiro obtinha os comprimidos com pacientes portadores de TDAH, que lhe doavam as pílulas excedentes. “Hoje sou enge-
nheiro e boto fé que só consegui me formar em cinco anos, fazendo tudo o que fiz, por conta dela: a Ritalina”. Já Milena*, 20, cursa Administração na UFU, possui hiperatividade e toma o remédio sob supervisão médica. “Os sintomas apareceram no cursinho e atrapalhavam meu rendimento. Comecei tomando o medicamento por conta própria, mas depois procurei um psiquiatra e ele me prescreveu. Hoje, faço o uso do remédio apenas nas situações em que preciso de mais concentração”, explica. Tanto o engenheiro quanto a estudante contam terem sofrido efeitos colaterais consideráveis em algum momento durante a utilização do medicamento. Entre os sintomas relatados estão esgotamento do raciocínio e desgaste psicológico após a ação da droga, aumento da pressão ocular, perda de apetite e peso, insônia e irritabilidade. “A ressaca é péssima quando acaba o efeito, principalmente depois de estimular muito o pensamento após uma prova extensa”, completa Alex. O psicólogo Felipe Lins Claudino, especialista em terapia cognitiva comportamental, bastante utilizada no acompanhamento de estudantes universitários, questiona os riscos que um estudante sem transtornos pode correr com o uso da Ritalina, que causa dependência química. “Os efeitos colaterais para quem utiliza sem prescrição podem
ESPECIAL
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Hoje sou engenheiro e boto fé que só consegui me formar em cinco anos, fazendo tudo o que fiz, por conta dela: a Ritalina (Alex*)
levar a quadros irreversíveis no futuro. Fica o questionamento se vale a pena arriscar a vida dessa forma”. Como qualquer outro remédio, ela possui contraindicações: pode acentuar sintomas de ansiedade e depressão, comuns entre estudantes, por exemplo. Já a psiquiatra Daniela Peres de Souza, que tem experiência no atendimento de jovens que fazem o uso de medicamentos psiquiátricos, aponta os riscos que a droga provoca quando utilizada sem recomendação médica: “Em doses inadequadas pode causar intoxicação, levando a hipertensão, tremores, taquicardia, delirium [distúrbio que causa a confusão mental] e comportamento violento. Casos de morte em decorrência da overdose de Ritalina já foram relatados”. O estudante Paulo*, 18, do curso de Agronomia da UFU, consegue suas pílulas de uma forma diferente da relatada pelos outros entrevistados. “Tenho um irmão que possui déficit de atenção e, em virtude disso, há mais ou menos dois anos comecei a utilizar o medicamento por conta própria”, revelou. “Passadas algumas semanas, fui ao mesmo neurologista que atende meu irmão e recebi seu aval, desde que tomasse todos os cuidados necessários, como não fazer a ingestão com bebidas alcoólicas ou não fazer o uso contínuo do remédio, já que não possuo qualquer tipo de transtorno”. Em contrapartida, quando questionada sobre a indicação do fármaco, a médica Daniela Souza é enfática: não indicaria a Ritalina para aqueles que já têm a capacidade de atenção e concentração em
condições normais. Segundo a especialista, antes de prescrever a droga, é necessário que o paciente passe por uma bateria de exames para que seja feita a avaliação do caso e previsão das contraindicações da substância. Tanto o psicólogo quanto a psiquiatra concordam ao afirmar que a Ritalina não deve ser utilizada em situações que não caracterizam distúrbios, uma vez que há outras alternativas para obter a concentração desejada nos estudos. “Ao fazer uso do medicamento, o indivíduo só vai conseguir ficar mais desperto e com mais disposição física, algo que poderia conseguir sem a medicação, apenas buscando bons hábitos”, destacou a psiquiatra. Suas recomendações são uma boa noite de sono, já que nele a memória é consolidada; a prática de atividades físicas, que melhora oxigenação cerebral; uma boa alimentação, que dá o combustível que o cérebro precisa para funcionar; e o planejamento dos estudos, para otimizar o tempo. Claudino complementa que a busca pela Ritalina caracteriza uma insegurança do aluno frente aos estudos. “Muitas vezes, o problema não é concentração, mas a falta de autoestima e confiança. A partir daí, surge a ansiedade que gera a dificuldade de se concentrar e focar”. Por isso, indica a psicoterapia como uma medida alternativa àqueles que desejam ter mais foco e, consequentemente, melhores resultados acadêmicos. *Os nomes citados são fictícios, a fim de preservar a identidade dos entrevistados.
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ESPORTES
Às vésperas da Olimpíada UFU, Atléticas investem na preparação das equipes Alunos se dedicam durante o ano inteiro e agora intensificam treinos em busca do sucesso na competição MARIANA OLIVEIRA Mais um fim de ano se aproxima e, com ele, novas expectativas para a Olimpíada Universitária UFU. Nos fins de semana entre os dias 10 de novembro e 10 de dezembro, as Associações Atléticas Acadêmicas (AAA) dos campi de Uberlândia, Monte Carmelo, Ituiutaba e Patos de Minas buscam a vitória em 13 modalidades. As disputas ocorrem no Centro Esportivo Universitário, localizado no campus Educação Física, e no SESI Gravatás, que recebe o Atletismo. Mas, para aguentar essa maratona de provas, os atletas precisam de muita dedicação e preparo. A AAA Engenharia, atual campeã do quadro geral das Olimpíadas, construiu uma fórmula eficiente nos últimos anos. Além do primeiro lugar no campeonato de 2016, a atlética saiu das quadras vitoriosa em outras dezesseis ocasiões. Maria Paula Virgilio Damis, diretora de esportes da associação, destaca o treinamento constante durante todo o ano. Os dois únicos trabalhos extras durante essa época do ano são as seletivas para a formação dos times com treinos mais pesados e preparatórios. Buscando manter os membros focados, a Atlética
NOVAS ASSOCIAÇÕES BUSCAM SE CONSOLIDAR E APOIAR SEUS ATLETAS · FOTO: MARIANA OLIVEIRA
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realiza eventos todas as semanas. Caso semelhante é o da AAA Monetária que, no ano passado, conquistou a medalha dourada em duas modalidades: handebol masculino e natação feminina, garantindo a segunda colocação geral. Vinícius Pereira, diretor de esportes da Atlética, atribui o resultado à preparação. “Antes da Olimpíada, os times fazem seletivas, intensificam treinos, fazem mais amistosos e, com isso, entram em ritmo de jogos mais cedo”, afirma. Carolinna Moraes Guimarães, que é atleta do vôlei, basquete e handebol, conta que neste ano a gestão resolveu inovar e ampliou o compromisso com os atletas. “Todos da gestão são padrinhos ou madrinhas de algum time. Eles têm que ajudar no que precisar: material, atletas, diálogo”, afirma. Com apenas dois anos e meio de existência e duas participações nas Olimpíadas, mas já demonstrando constância e solidez, a AAA Exatas saltou de 17º a 7º lugar no quadro geral e ganhou o prêmio “Destaque” na competição. Segundo Matheus Antônio Araújo, presidente da atlética, o investimento é a tônica da gestão, que não mede esforços para que os times alcancem um bom desempenho. “Quando não conseguimos marcar um horário para treino na Educa, marcamos em uma quadra de fora”, afirma. Além disso, contratam técnicos para todas as modalidades coletivas e materiais de qualidade para os treinos. FORMAÇÃO DAS NOVAS ATLÉTICAS Porém, atléticas consolidadas não são as únicas a concorrerem nas competições. Há também espaço para as novatas que participam pela primeira vez das Olimpíadas, caso da AAA. Humanas e a AAA. Agrárias. A primeira é uma união das antigas AAA Ágora, formada pelos cursos de Filosofia e Letras; AAA FACED, da Faculdade de Educação; AAA do H, com Ciências Sociais, Geografia, Gestão da Saúde Ambiental e História; e o curso de Tradução que, até a então, não fazia parte de nenhuma atlética. A segunda, por sua vez, integra a AAA MVZ, dos cursos Medicina Veterinária e Zootecnia com a AAA Agronomia. Danilo Alves, diretor de esportes e atleta do futsal da AAA Humanas, acredita que o peso dos
TREINO CONSTANTE NA PRÉ TEMPORADA É ESTRATÉGINA UNÂNIME ENTRE AS ATLÉTICAS · FOTO: MARIANA OLIVEIRA
jogos para as recém-chegadas seja muito maior. “Estamos treinando os times desde abril e maio e, nesse período pré-jogos, estamos intensificando. O desempenho nessa Olimpíada é que vai nos dar a ideia de como está nosso trabalho”, pondera. Rodrigo do Prado Zago, atleta da Humanas que joga basquete e futebol de campo, conta que, apesar das dificuldades iniciais, a associação ajuda em tudo que pode, dependendo da situação financeira do atleta e da quantidade de modalidades em que ele se inscreve. Já a AAA Agrárias trabalha de outra maneira. Laya Kannan, presidente desta Atlética, explica que os membros pagam a filiação. “Com esse dinheiro, nós pagamos os técnicos, materiais esportivos, inscrições em campeonatos etc”. Assim como a Humanas, eles também se preocupam com a situação financeira dos atletas. Ela afirma que até hoje ninguém deixou de participar por falta de dinheiro, pois existe suporte. Apesar da competição ser concentrada na segunda metade do ano, a preparação é constante. “Os treinos da Agrárias acontecem durante todo ano, temos no mínimo um treino de cada modalidade por semana”, conta Laya.
ESPORTES
Cheerleading ganha adeptos na UFU Em cinco anos, surgiram 15 equipes de praticantes do esporte MARCO TÚLIO SILVA O cheerleading, ou traduzido para o português “animadores de torcida”, existe há mais de um século. Mas somente agora o esporte vem ganhando popularidade no Brasil, principalmente no âmbito universitário. A primeira equipe de cheerleaders na UFU, a Sexylions, foi criada em 2012. O time, que defende a atlética da Engenharia, também foi pioneiro no estado de Minas Gerais, abrindo as portas para o esporte no âmbito acadêmico. De lá para cá, surgiram 14 novas equipes como Arlekings (Artes), Panthers (Humanas), La Loba (Direito) e Magnatas (Monetária). O primeiro torneio de cheerleading na UFU aconteceu em 2016. O evento gratuito lotou a Arena Sabiazinho. Depois disso, a competição ganhou grande destaque dentro da universidade e foi um dos atrativos para a popularização do esporte. A modalidade não angariou apenas atletas, mas também espectadores. Paulo Otávio Goulart, aluno do 6° período em Engenharia Ambiental, considera o cheerleading um esporte como qualquer outro e sabe da necessidade de treinamento
e dedicação para um bom desempenho nas apresentações. “Por misturar movimentos de ginástica e música, o cheerleading é um excelente esporte para ser assistido”, opina. Para Heloir Cristiano Schwaickardt, capitão da Panthers, equipe mais recente da modalidade na UFU, nem todos pensam como Goulart. “As pessoas não conhecem o que é o cheers”, afirma. “Elas só começam a entender direito o esporte quando explicamos que se trata de uma modalidade como outra qualquer, com as mesmas exigências de esforço físico, concentração e compromisso”. Ainda segundo o líder da equipe, esse é um dos motivos que dificultaram a criação do time. "Mas a situação melhorou desde que o esporte começou na UFU", relembra. Interessado pelo esporte há dois anos e cheerleader há um, Schwaickardt acredita existir uma sensação de pertencimento à equipe e que os integrantes se tornam quase uma família pelo tempo que treinam juntos. “Há uma cumplicidade necessária para a prática do esporte”, completa.
PARA ATLETAS E ESPECTADORES, MODALIDADE EXIGE TANTO QUANTO OUTROS ESPORTES · FOTO: MARCO TÚLIO SILVA
Campo society é fechado para reformas Negligência deixa campo de futebol do Centro Esportivo do Santa Mônica um ano sem manutenção GUILHERME DEZOPA E JULIANO DAMAS Desde a inauguração, em março de 2016, o campo de futebol society do Centro Esportivo do campus Santa Mônica não recebia manutenção, que deve ser feita a cada dois meses. Por isso, o campo foi interditado em agosto para reforma do gramado. O Centro Esportivo custou R$ 3 milhões, porém a UFU não mantém contrato com uma empresa de manutenção, o que exige abertura de licitação para qualquer tipo de reparo. A interrupção foi notificada pela Divisão de Esporte e Lazer Universitário (Diesu) no dia 9 de agosto de 2017 e só dois meses depois, no dia 9 de outubro, a Divisão informou que a reforma estava concluída e que as atividades no local estavam liberadas. Segundo Adilson Henrique de Souza, coordenador da Diesu, o gramado sintético necessita de manutenção de dois em dois meses para prolon-
gar a vida útil do material e ter um campo em condições para utilização. “A interrupção das atividades foi necessária por falta desse serviço de manutenção”, explica. Souza ainda afirma que a reforma foi “barata e simples”, e constituiu apenas de reposição de granulado de borracha, escovação e colagem de placas do gramado. “Foi um serviço simples de manutenção no valor de R$ 1 mil reais”, completa o coordenador. “A demora ocorreu devido ao orçamento”, enfatizou Luiz Fernando Vilarinho Guimarães, técnico esportivo da Diesu, dizendo que a UFU, além de não arcar com as manutenções, ainda relutou ao liberar a quantia para a reforma de urgência. Souza completa explicando que “não há nenhum contrato em vigor que contemple o serviço de manutenção.” O tempo em que o campo ficou fechado para
reforma motivou muita reclamação entre os estudantes usuários do espaço. Segundo Igor Amorim, estudante de Economia, a reforma foi mal planejada. “As obras poderiam ocorrer nas férias ou no final do ano. Foram dois meses de interdição, o que dificultou muito as opções de prática esportiva dentro do campus”, disse, criticando a reforma. Para ele, não houve tantas melhorias que justificassem o tempo em que ficou parado. Erick Borges, treinador da equipe de futebol society da universidade, relata que em junho foi disputado na UFU o Campeonato Universitário Brasileiro de Futebol Society, mas acredita que os jogos não agravaram o estado do campo. “A reforma já estava planejada, então, a competição não influenciou em nada nesse sentido. Desconheço se houve reclamações sobre o campo”, diz.
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EXPERIMENTOS
Crises psicológicas afetam vida na universidade Alunos sofrem com transtornos mentais como ansiedade e depressão; tratamento pode ser indicado quando há mudanças no comportamento ANATÁLIA AMORIM Fatores como a pressão por cumprir prazos, competição entre colegas, relações abusivas entre professores e alunos, dificuldades financeiras e de adaptação, e problemas pessoais, podem tornar a graduação um período conturbado para muitos estudantes. Em 2014, o Centro de Estudos, Pesquisas e Projeto Econômico-Sociais (Cepes) realizou um perfil do graduando da UFU. De acordo com a pesquisa, 70% dos estudantes haviam vivenciado algum tipo de dificuldade emocional que influenciou em seu rendimento acadêmico nos 12 meses anteriores à aplicação do questionário. O sentimento de ansiedade foi a principal queixa apontada. Para a estudante de Engenharia Biomédica da UFU, Paula Assunção, diagnosticada recentemente com depressão, a graduação intensifica os sintomas da doença. “Me sinto inferior e incapaz, existe uma disputa muito grande na sala de aula e isso se acentua ainda mais devido à pressão imposta pelos professores”, conta Paula. “A situação se reflete em outras áreas da minha vida. Não tenho ânimo, nem vontade para sair, e quando o faço é sempre com a preocupação de que devia estar estudando”. Para a psiquiatra Daniela Peres, conciliar a vida pessoal com a tarefa de cursar a faculdade nem sempre é simples. De acordo com a médica, por se tratar de uma população extremamente diversa, muitos podem ser os transtornos e sintomas. Entretanto, um bom parâmetro de alerta para identificar adoecimento é a mudança de humor e comportamento, alterações no sono, no apetite, na socialização e até mesmo no desempenho acadêmico. “Uma avaliação médica ou psicológica deverá ser procurada quando a própria pessoa não se sente bem consigo mesma e não consegue lidar com os eventos estressantes de sua vida. Porém, muitas vezes os familiares e amigos percebem essa dificuldade antes mesmo que o próprio indivíduo”, explica. Na UFU, o setor responsável pelo atendimento psicológico dos alunos é a Divisão de Saúde (Disau), vinculada à Pró-reitoria de Assistência Estudantil (Proal) e localizada no bloco 3E do campus Santa Mônica. De acordo com Daniela Ramos, psicóloga da Divisão, desde 2015, cerca de 200 estudantes procuraram o local para orien-
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A UNIVERSIDADE PODE CRIAR OU INTENSIFICAR SINTOMAS DE DOENÇAS PSICOLÓGICAS · FOTO: ANATÁLIA AMORIM
tação em saúde mental (atendimento em uma sessão) e/ou acolhimento psicológico (atendimento em quatro sessões). Atualmente, o serviço é preferencialmente dirigido aos alunos que recebem bolsa da Divisão de Assistência e Orientação Social (Diase). Isso ocorre porque o setor conta apenas com uma pequena verba do Programa Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes). “Atendemos os estudantes de graduação da UFU, prioritariamente os em vulnerabilidade socioeconômica”, informa Ramos. “São atendimentos breves, com o objetivo de encaminhamento à rede de saúde mental para aqueles casos que demandam tratamento psicológico ou atendimento em longo prazo”. Na visão de Nilson Berenchtein Netto, professor e psicólogo do Instituto de Psicologia (IPUFU), a universidade deve buscar manter as condições para que os alunos possam ter uma boa saúde mental. “Um exemplo é a questão das bolsas: ninguém consegue prestar atenção na aula sabendo que no fim do mês não terá dinheiro para pagar o aluguel” , exemplifica. Recentemente, um evento sobre a temática foi
realizado. A “Semana da vida e setembro amarelo” foi criada pela Proal, em parceria com o Diretório Central dos Estudantes (DCE). De acordo com Laura Matos, estudante do curso de Pedagogia e mentora da ação, o objetivo foi levar informação e conscientização sobre a importância dos cuidados com a saúde mental como forma de prevenção do suicídio e da depressão, problemas que se tornam tão frequentes entre universitários. Para a estudante, a instituição não tem feito muito por seus alunos. “A universidade deveria ser um lugar mais aberto a debates sobre o assunto", pontua a estudante. SERVIÇO O Instituto de Psicologia da UFU também busca oferecer atendimento aos estudantes, que podem entrar em contato através dos telefones 3225-8503 e 3225-8508 ou pessoalmente (na rua Maranhão, Campus Umuarama da UFU). Já o Hospital de Clínicas e o Ambulatório de Psiquiatria, ambos localizados no campus Umuarama, atendem aos estudantes mediante encaminhamento feito pela Disau.
ANOTA AÍ
O que você precisa saber sobre o vegetarianismo Entenda os benefícios do vegetarianismo para a saúde e as precauções que devem ser tomadas para manter a alimentação saudável GABRIELA BONATTO
ALIMENTOS DE ORIGEM VEGETAL FAZEM BEM PARA A · FOTO: ELOISA ROCHA SAÚDE
A ideia básica por trás da dieta vegetariana é eliminar carnes e adaptar o estilo de vida. A nutricionista Beatriz Coimbra Romano, 24, responsável técnica pelo Laboratório de Análise e Tecnologia dos Alimentos da UNAERP (Universidade de Ribeirão Preto), explica que a escolha de uma dieta vegetariana é motivada na maioria das vezes por questões éticas, reflexo do aumento da consciência ambiental da população. “A dieta vegetariana pode ser muito positiva para a saúde, auxiliando o controle da diabetes, trazendo benefícios cardiovasculares e consequente perda de peso pela mudança nos hábitos alimentares”, conta a nutricionista. Quem escolhe
seguir o movimento costuma ter o cardápio rico em frutas, legumes, grãos, nozes e sementes. A inclusão de lacticínios e ovos depende do tipo de dieta que a pessoa opta por seguir. Iana Perea, 20, cursa Relações Internacionais na UFU e procura seguir uma dieta vegetariana estrita. Segundo a estudante, quando se pratica o vegetarianismo de verdade, com variedade de alimentos, obtém-se uma alimentação saudável equilibrada e rica em nutrientes. A estudante conta com o auxílio de uma nutricionista e ressalta que o acompanhamento médico é vital, pelo menos nos primeiros meses de adaptação, para que não haja falta de nutrientes. Segundo ela, é necessário acompanhamento profissional para garantir uma alimentação saudável e sem déficit nutricional. Na dieta vegetariana, os nutrientes que exigem mais atenção são o ferro, cálcio, ômega 3, mas em especial a vitamina B12, encontrada principalmente em carnes, ovos, leite e seus derivados, já que não existem alimentos de origem vegetal que contenham a vitamina. “A deficiência de vitamina B12 pode acarretar em diversos perigos para a saúde, afetando principalmente o sistema nervoso, causando redução de memória e concentração, formigamento dos membros inferiores e, em casos muito avançados, o coma”, alerta Beatriz Romano. Para descobrir se a vitamina está em falta no organismo, é preciso consultar um profissional e fazer exame de sangue para saber se a reposição é necessária, pois as mudanças alimentares devem ser adapta-
das de acordo com as condições fisiológicas do indivíduo. Segundo a nutricionista, para adotar o estilo de vida vegetariano, independentemente da vertente escolhida, é necessário ter informações. Não se pode fazer uma mudança abrupta, ela deve ser gradual seguindo orientações de um médico ou nutricionista. ASPECTOS POSITIVOS A nutricionista ressalta que a dieta vegetariana, em comparação a uma dieta não vegetariana, apresenta quantidade calórica consideravelmente menor, justamente por não incluir o grupo de proteínas de origem animal que contam com um pouco mais de gordura. O regime é rico em alimentos de origem vegetal (fibras naturais, vitaminas e antioxidantes), que ajudam a prevenir doenças. “Por optar em não consumir carnes, os vegetarianos, em geral, têm uma alimentação extremamente variada. O importante é saber o que se quer e estar seguro disso. Os benefícios virão logo”, afirma. Para Iana Perea, difícil não é parar de comer carne, mas aprender a substituir as refeições. “O primeiro passo para se tornar vegetariano é se informar sobre o assunto e principalmente ter coragem e determinação”. Por fim, a nutricionista ressalta que “a principal importância da alimentação é o prazer ao se alimentar, é você nutrir o seu corpo de substâncias que ele precisa para manter a saúde e ao mesmo tempo você se sentir bem”.
VERTENTES DO VEGETARIANISMO
O grau de restrição de ingestão de determinados alimentos é o que classifica o regime adotado pelo indivíduo OVO-LACTO-VEGETARIANO: Exclui da alimentação todo tipo de carne (vermelha e branca). É permitido leite e ovos. LACTO-VEGETARIANO: O leite está incluido e se elimina ovo, carnes e derivados.
OVO-VEGETARIANO: O ovo está incluido e se elimina leite, carnes e derivados. VEGETARIANISMO RESTRITO: Não se consome nenhum alimento de origem animal, como mel, ovos, carne, leite e seus derivados.
Fonte: Beatriz Romano. Texto: Gabriela Bonatto. Arte: Ana Laura Marques, Bárbara Fernandes e Eloísa Rocha.
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DIVERSIDADE
O que dizem os números sobre as mulheres atletas nas Olimpíadas UFU Atletas defendem a representatividade feminina no esporte e relatam os entraves de serem mulheres nas Olimpíadas UFU MARIANA SOLIS Ao longo de oito anos, Bárbara competiu em mais de sete modalidades na Olimpíada UFU. Maria Gabriela, mais conhecida como Magabi, vivenciou seis edições, cinco como esportista e uma como técnica do time de voleibol feminino. Além das medalhas e do amor pelo esporte, elas compartilham também o que é ser uma atleta mulher no maior evento esportivo da Universidade Federal de Uberlândia. Maria Gabriela Faria Silveira, 28, é mestranda em Engenharia Civil e competiu nas Olimpíadas UFU pela primeira vez em 2007, quando fazia a graduação. Bárbara Gama, 27, competiu em quatro Olimpíadas durante a graduação em Educação Física e três pela Engenharia, durante o doutorado. Elas acompanharam o crescimento das atléticas e dos times femininos na UFU: em 2009, ambas competiam por suas equipes e faziam parte das 383 mulheres inscritas naquela edição. Em 2016, este número passou para 991.
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O esporte nas universidades brasileiras é incentivado com a realização de eventos, financiamento e espaço para treinos. Entretanto, em 2009, as mulheres ainda representavam cerca de 30% dos atletas inscritos nas Olimpíadas da UFU. Sete anos depois, elas totalizaram quase 40% dos inscritos. Porém, apesar de pequena, esta diferença representa um aumento de mais de 250% da participação feminina. Adilson Henrique de Souza, coordenador da Divisão de Esporte e Lazer Universitário (Diesu), entende que o apoio dos dirigentes das atléticas tem motivado a participação das universitárias nas Olimpíadas. “Eles procuram uma pessoa no perfil daquela modalidade e a convidam. Isso favorece a participação delas e contribui para quebrar esses paradigmas e preconceitos”, esclarece. Bárbara e Magabi concordam que a presença das torcidas é desigual nos jogos femininos e
Fonte: Diesu (UFU) - 2009 a 2016 • Ilustração: Rafael Gomes
masculinos. “A diferença é claríssima. Na verdade, os jogos dos times masculinos têm muito mais adesão da torcida do que os das equipes femininas de maneira geral, principalmente nas coletivas”, revela Bárbara. Segundo Maria Gabriela, os jogos marcados muito cedo ou após o almoço são reservados para as modalidades femininas. “Os horários mais quentes da quadra são os femininos. Não sei se é intencional essa posição, mas acontece, muita coisa que já virou hábito e ninguém pára pra pensar nisso”, relata. Além disso, todas as modalidades são separadas por gênero, inclusive as intelectuais, como os e-games e o xadrez. Assim como muitas atletas, elas também defendem a representatividade feminina. “Para mim é extremamente importante que as mulheres não só participem das Olimpíadas, mas que se coloquem em lugar de igualdade e não aceitem menos por serem mulheres”, defende Bárbara.