Senso in comum 25 - jan/fev 2015

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adeus UFU p. 6­7 Empreendedorismo + Brigadeiro = Liberdade financeira p. 3 Violões, flautas e silhuetas p. 8 Divagações literárias do cotidiano p.

Ilustração: Sérgio Dalláglio e Érika Abreu

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JORNAL - LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO - UFU - ANO 07 - Nº 25 - Jan/Fev - 201 5

Só resta dizer


Opinião Editorial

Existem sérios problemas com o jornalismo de celebridades. E isso já se faz presente na expressão que muitos enchem o peito e dizem de boca cheia: “jornalismo de celebridades!”. Mas que jornalismo é esse? E quem são essas celebridades? Os sites, as revistas e os programas de TV que se propõem a fazer esse tipo de trabalho praticam um verdadeiro merchandising da vida alheia. Criam, estereotipam, reproduzem e vendem pedaços de histórias de vida daqueles que aparecem ou apareceram na mídia, por mérito ou por “forçação de barra”. Privilegiando os pontos positivos, os fatos e futilidades são reproduzidos de maneira isolada do contexto social e cultural que o originou. O resultado é claramente bajulador, enaltecedor, propagandista, comercial e superficial. Não são as genuínas celebridades que prevalecem nesse rol. O escopo de famosos anônimos produzidos por 14 edições do BBB, pelas quatro disputas do Miss Bumbum Brasil e pela variedade de mulheres frutas que uma salada mista pode proporcionar, parece ser muito maior e relevante do que os verdadeiros produtores de arte, trabalhadores que têm a fama como consequência, e não como obsessão de vida. O pior é que esse setor da mídia insiste em acender holofotes a quem não tem o que oferecer. Espetacularizam simples fatos cotidianos que não possuem o mínimo indício de utilidade pública. As manchetes comprovam: “De óculos, irmã de Neymar sorri”; “Adriana Bombom compra sutiã salmão”; “Bruno Gagliasso é flagrado de boné na praia”; “‘Adorei a ducha íntima’, diz Nana Gouvêa sobre os presentes do marido”. Que jornalismo é esse que na TV assume publicamente, nas palavras do lendário expoente do ramo, Nelson Rubens, que “aumenta mas não inventa”? Que jornalismo é esse que não se preocupa em lidar melhor com os fatos, apenas reproduzindo o que chega à redação? Infelizmente, o jornalismo de celebridades parece ter perdido o endereço das celebridades e onde mora o bom jornalismo, isso nunca constou em sua agenda. Na internet, blogs como “Te dou um dado?” e “Morri de sunga branca” ganham destaque com suas tiradas inteligentes e o tom despojado com que criticam o que é produzido pelos meios de comunicação que se dedicam a esse trabalho. São milhares de seguidores que se divertem e garantem o sucesso dessas páginas, que já viraram uma febre na rede. Reconhecimento merecido! Obrigado a esses blogs por entender como humor, e somente humor, o que muitos ainda insistem em entender como jornalismo. ________________________________________ Tarcis Duarte

n.25 Jan/Fev 2015 - senso incomum

Deu zebra na Geração Z! Ter um irmão uma década mais novo que

filtramos a oratória descabida ou os ter-

eu me dá a oportunidade de avaliar com cer-

mos de baixo calão quando protegidos pe-

ta autoridade a geração de crianças nascidas

la tela do computador. Idiotas porque cada

nesses últimos dez anos. Em minhas obser-

vez mais perdemos a infância para dar-

vações, sirvo-me daquela famosa citação de

mos lugar a um planeta de mini-adultos,

Albert Einstein: “eu temo o dia em que a tec-

que cultuam a própria imagem em troca

nologia ultrapasse nossa interação humana,

de curtidas. Idiotas porque estamos per-

e o mundo terá uma geração de idiotas”.

dendo a noção do tempo precioso que

Com certeza, o físico está se revirando no tú-

passamos com quem amamos a troco de

mulo

um mundo governado por horários de en-

com

a

nossa

dependência

de

smartphones e tablets – mas Einstein entraria em estado de choque se constatasse que nem mesmo as crianças estão a salvo disso.

trada e saída do WhatsApp. Hoje as crianças não são mais ensinadas a brincar com outras, mas sim com

Meu irmão não contava mais que sete

uma máquina, que não pode lhes dar amor

anos quando foi convidado para o aniversário

ou amizade. Não se sabe brincar porque

de uma coleguinha de sala, ao qual o acom-

ninguém desce para o play. Não obstante,

panhei. Constatei, com assombro, que cada

são crianças inteligentes como jamais se

criança sentada no sofá estava agarrada a

viu – sabem comandos e atalhos de tablets,

um tablet ou celular. Não havia a correria, gri-

celulares e computadores de cor, e não raro

taria tipicamente pueril; nem mesmo brin-

vê-se bebês de dois anos que conseguem

quedos espalhados pela sala. Aquilo parecia

desbloquear a tela do iPhone da mãe.

mais uma audiência do que uma festa infantil

Mas o preço que estamos pagando pela

– e o silêncio só era quebrado pelos ruídos

inteligência dos pequenos é a retração so-

eletrônicos de cada joguinho.

cial deles. É a ausência do diálogo, com pais

Será que já chegamos à geração de idi-

ou amigos. É o abandono das brincadeiras

otas? Penso que sim. Idiotas porque deixa-

barulhentas para mergulhar num domínio

mos de aprender com seres humanos para

silencioso de adultos, com boas ou más in-

consultar quase que exclusivamente má-

tenções, nunca se sabe. É, enfim, o advento

quinas. Idiotas porque perdemos a desen-

da geração de idiotas temida por Einstein –

voltura quando rodeados de pessoas de

sendo os idiotas aqueles que não aprende-

carne e osso, mas ao mesmo tempo não

ram a lidar com seus próprios semelhantes.

_____________________________________________________Cindy Figueiredo Freitas

EXPEDIENTE

Reitor: Elmiro Santos Resende / Diretor da Faced: Marcelo Soares Pereira da Silva / Coordenadora do Curso de Jornalismo:

Ana Cristina Menegotto Spannenberg / Professores responsáveis: Christiane Pitanga, Ingrid Gomes, Marcelo Marques e Vanessa Matos / Jornalistas Responsáveis: Ingrid Gomes MTB 41.336, Vanessa Matos MTB 50.456 / Editora-chefe: Carolina Rodrigues / Editores finalistas: Maria Clara Vieira e Cindy Freitas / Editora de capa: Érika Abreu / Editores de Opinião: Kennedy Rosa, Geane Amaral e Maria Paula Martins / Editor de Imagem: Sérgio Dalláglio / Editora Vida Universitária: Monalisa França / Editora Naturências: Mariely Dalmônica / Editora Foca na UFU: Thaís Fernandes / Editora Pausa para o Café: Caroline Bufelli / Editora Diário de Bordo: Gabriela Zanca / Editor Esporte e Lazer: Tarcis Duarte / Editora Devaneios: Talita Vital / Editora EntreOlhares: Bruna Pratali / Editora Artística: Mariana Almeida / Produção de Arte: Érika Abreu, Kennedy Rosa, Sérgio Dallágio e Talita Vital / Repórteres: Bruna Pratali, Carolina Rodrigues, Caroline Bufelli, Cindy Freitas, Érika Abreu, Gabriela Zanca, Geane Amaral, Kennedy Rosa, Maria Clara Vieira, Maria Paula Martins, Mariana Almeida, Mariely Dalmônica, Monalisa França, Sérgio Dalláglio, Talita Vital, Tarcis Duarte, Thaís Fernandes / Diagramação: Amanda Ribeiro, Bianca Judice, Bruna Saquy, Gabriela Petusk, Isabel Gonçalves, Jhonatas Elyel, Júlia Costa, Laura Moreira, Leandro Fernandes, Luisa Caleffi, Marcelo França, Marina Pagliari, Michael Kealton, Muntaser Khalil, Rafael Leonel, Renato Pinheiro / Finalização: Danielle Buiatti.


Vida Universitária

n.25 Jan/Fev 2015 - senso incomum

Vai um brigadeiro aí?

Foto: Maria Paula Martins

Conseguir um emprego com um bom salário durante a faculdade é uma tarefa difícil, para não dizer impossível. A melhor oportunidade de meio período disponível no mercado para pessoas sem formação acadêmica é um estágio. O desafio é maior quando o curso em

Receita vegana O brigadeiro é um doce delicioso e tipicamente brasileiro. Mas você sabia que além do tradicional, há também outras versões mais atuais? Não?! Então, a seguir vale a dica de uma receita vegana do famoso brigadeiro, que não leva nenhum ingrediente de origem animal. Essa prática pode trazer benefícios, pois segundo a nutricionista Luciana Oliveira Minussi, os ingredientes que compõem o brigadeiro vegano não contém gordura saturada, presente na maioria dos alimentos de origem animal. Então, mãos à obra! De acordo com a nutricionista há inúmeras variações, mas você pode substituir os ingredientes do brigadeiro tradicional por ingredientes como o leite condensado vegano que leva leite de soja, além de utilizar margarina que seja de origem vegetal, somente. E por fim utilize o cacau em pó puro, nada de achocolatados. Misture todos os ingredientes, leve ao fogo baixo e mexa até desgrudar. Mas aí vem a dúvida quanto ao sabor. Sobre isso, a nutricionista garante que é uma delícia, vale experimentar a culinária vegana. Bom apetite! __________________________________ Geane Amaral

questão é integral. O Senso Incomum conversou com um jovem capixaba, que encontrou no empreendedorismo a solu-

Samuel vende todos os doces em uma hora e meia, na hora do almoço no R.U.

ção para este problema e está faturando mais do que muitos da mesma faixa

frequentadores do R.U. se acostumaram com

etária com um trabalho formal.

minha presença diária por lá, e depois de

Samuel Scarparo, 25, que não sabia sequer como era a receita de brigadeiro, hoje paga o próprio

mais de sete meses de venda já tenho alguns clientes fixos”, comemora.

aluguel com o que ganha vendendo o doce. O es-

Quando perguntamos se ele em algum mo-

tudante de música, sempre soube que, para reali-

mento sentia vergonha de ter que se virar para

zar o sonho de se tornar músico, ele precisaria

conseguir seu ganha-pão, Scarparo foi bem claro.

superar a dificuldade de se manter financeiramente

Disse sentir-se orgulhoso de suas conquistas e

longe de casa. Para tanto, o jovem precisou se

principalmente da atual estabilidade financeira.

aventurar por novos caminhos e experiências.

Hoje, ele fatura de 500 a 600 reais por mês e ainda

Perseverança e atitude fazem parte da personalidade de Scarparo. Ele resolveu levar a sério a

brinca: “Dá pra pagar o meu aluguel e ainda sobra dinheiro pra uma cervejinha!”.

sugestão de uma amiga de fazer brigadeiros em

Na hora da venda, a forma de abordagem do

busca de uma renda extra. Começou pesquisando

aspirante à música é objetiva, sem insistência. “Vai

a receita e resolveu pôr em prática. No primeiro dia,

um brigadeiro aí, moço(a)?” – simples assim! Mui-

levou trinta brigadeiros para a Universidade Federal

tas vezes ele nem mesmo oferece, apenas fica ali

de Uberlândia, UFU. Após uma série de abordagens

parado na saída do restaurante esperando sua cli-

tímidas e frustrantes, ele teve a ideia de tentar

entela passar. E, às vezes, param para bater um pa-

vender na saída do Restaurante Universitário

po. “É um trabalho que, além de me trazer renda,

(R.U.). E não é que funcionou? Em apenas meia

traz também uma enorme satisfação”.

hora os trinta brigadeiros tinham evaporado!

O empenho diário do jovem Scarparo serve de

Atualmente Scarparo traz cerca de 60 docinhos

inspiração para muitos que querem mudar, mas não

por dia, que são preparados na véspera e, feliz-

sabem por onde começar. Agora não vale mais dar

mente, não sobra nenhum para contar história. “Os

a desculpa de que não está sobrando tempo! _________________________ Maria Paula e Tarcis Duarte


Vida Universitária

n.25 Jan/Fev 2015 - senso incomum

Vida universitária sem plágio Imagem: Kennedy Rosa

“PLÁGIO, foi o que veio escrito em vermelho e no meio da cópia do meu trabalho quando o professor me entregou. Fiquei sem entender o que era aquilo, mas sabia que não era uma coisa boa (...)”, diz M. S., estudante da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Quando se ouve falar de plágio, na maioria das vezes é sobre músicas, filmes e obras literárias. Entretanto, no meio acadêmico situações como a de M.S. são mais comuns do que se pensa. O não conhecimento prévio das normas técnicas de autoria e citação, assim como a ausência de instruções metodológicas de pesquisa no início dos cursos, são fatores não intencionais, que podem levar o universitário à prática do plágio. O plágio, de acordo com o advogado e professor de Direito Civil e Autoral da Universidade Federal da Bahia, Rodrigo Moraes, existe desde quando o ser humano se entende como criador intelectual, e suas obras literárias e conhecimentos são apropriados indevidamente. Hoje a situação é mais frequente, principalmen-

GUIA ANTI-PLÁGIO • Citação direta de um texto: quando o autor faz parte do texto. Deve vir acompanhada do sobrenome do autor e entre parênteses, o ano de publicação e a página na qual se encontra a citação; quando o autor não faz parte do texto, depois da citação, entre parênteses, vem em caixa alta o sobrenome do autor, vírgula, o ano de publicação e a página da citação; Ex: Werner Jaeger (1986, p. 75) afirma “a crença [...]”. Ex: “As culturas [...] dão o sentido da vida.” (BROCKELMAN, 2001, p. 51). • Citação Indireta de um texto: quando o autor faz parte do texto. Deve vir o sobrenome do autor e o

te por causa da facilitação de informações pela internet. Com a disponibilidade de diversos livros, artigos e publicações acadêmicas ficou mais fácil o acesso e a possibilidade de cópia dos mesmos. A advogada e professora de Direito da Escola Superior de Administração, Marketing e Comunicação (ESAMC), Marlúcia César Rodrigues, explica que, “a prática de plágio se torna constante com o avanço da internet, por quererem facilidades e soluções rápidas para os problemas que lhes são propostos”. São vários tipos de plágio que se tem conhecimento, desde a simples cópia de frases até a cópia completa do trabalho sem dar os devidos créditos aos autores. No artigo "Universidade em Tempos de Plágio", de Bruno Garschagen para o site Observatório da Imprensa, publicado em 2006, o autor cita o professor Estácio de Sá, que define três tipos de plágio, sendo eles: o plágio integral, que é a transcrição sem citação da fonte de um texto completo; o parcial, que é a cópia de algumas frases ou parágrafos de diversas fontes diferentes; e o plágio conceitual, que é a apropriação de teorias e/ou conceitos como se fossem do plagiador. O que muitos não sabem é que o plágio é um crime previsto em lei, no artigo 184 do Código Penal, podendo ter pena de reclusão de 02 a 04 anos. Marlúcia afirma que “o autor também deveria ser comunicado, para que o plagiador seja ano de publicação. Quando o autor não faz parte do texto, no final da citação deve-se colocar entre parênteses o sobrenome do autor em caixa alta, vírgula e o ano de publicação. Ex: Freud (1974) define a dualidade [...]. Ex: Apesar de toda tecnologia [...] crianças e jovens (FRANTZ, 2005).

• Regras de autoria: Se for uma pessoa, deve vir o sobrenome em caixa alta, vírgula e o restante do nome do autor. Se forem duas ou três pessoas, o processo é o mesmo para cada pessoa, porém em ordem alfabética e os sobrenomes separados por ponto e vírgula. Para quatro ou mais pessoas, coloca-se o primeiro nome em ordem alfabética, seguindo as regras de uma pessoa e “et al”.

processado civilmente e pague danos morais e/ou materiais ao autor da obra plagiada”. Além de crime, o plágio perpassa questões éticas, pois o plagiador toma para si algo que não é seu. O sociólogo da UFU Edilson José Graciolli descreve que o plágio “é uma forma de burlar a ética profissional [...], congela o pensamento porque ele reproduz algo já feito, não faz avançar o conhecimento e é uma apropriação indevida de algo já estabelecido”. Casos de plágio intencionais e não intencionais, como o de M.S., entrelaçam questões informacionais, culturais e éticas da sociedade. Marlúcia acredita que, enquanto docente, seu papel seria “esclarecer aos discentes quanto às consequências sociais e individuais da prática do plágio, orientar os alunos quanto ao seu papel como pesquisadores e da preservação da originalidade da obra intelectual”. Ao constatar infrações, as punições são definidas de acordo com os regulamentos das instituições de ensino ou faculdades.

Imagem: Kennedy Rosa

Ex: ANTISERI, Dario; REALE, Giovanni. História filosofia . 2. Ed. São Paulo: Paulinas, 1990, 3.v.

da

Ex: GONZAGA, João et al. • Citação de citação: usa-se o termo "apud" entre as regras para citação. Ex: De acordo com Santos (2000 apud JUNG 2004, p. 191) redigir consiste [...]. • Referências Bibliográficas: AUTOR(ES). Título : subtítulo. n. ed. Local de publicação: Editora, ano de publicação. número total de páginas.

Nossa referência

ISKANDAR, Jamil Ibrahim. Normas da ABNT: comentadas para trabalhos científicos. 3.ed. Curitiba: Juruá, 2008. 100 p.

__________________________________________________________________________________________________________________________________ Kennedy Rosa e Talita Vital


n.25 Jan/Fev 2015 - senso incomum

Naturências Foto: Carolina Rodrigues

E agora,

José?

O cerrado

acabou?

Se o desmatamento continuar, o bioma desaparecerá em 30 anos

A relação homem-natureza mudou o cenário do país. Conservar a biodiversidade é importante para cerrado na região do Triângulo Mineiro. Paula Arruda manter a cultura natural das espécies do cerrado, e, Fernandes, em artigo à Observatorium, Revista também, social das pessoas que estão, direta ou Eletrônica de Geografia da Universidade Federal de indiretamente, ao seu redor. Uberlândia (UFU), cita um estudo, de 2008, que destaca as regiões de Uberlândia, Uberaba, Preservação Patrocínio e Araxá como uma das áreas de maior degradação do ambiente natural. Apenas recentemente o bioma tem conquistado O Ministério do Meio Ambiente, que tem a destaque com políticas públicas de conservação, como o missão de proteger, recuperar e valorizar os Programa Cerrado Sustentável, instituído por Marina recursos naturais, mostra, em Silva, enquanto ainda era site, que “o desmatamento no ministra, em 2003. Além de cerrado ocorre de modo projetos de institutos e intenso em função da organizações não agricultura, da pecuária e da governamentais, como o demanda por carvão vegetal trabalho realizado pelo Instituto para a indústria siderúrgica”. Chico Mendes de Conservação De acordo com a doutora da Biodiversidade, a Agência do Instituto de Geografia da jornalística Envolverde, a ONG UFU, Ângela Maria Soares, WWF - Brasil, e outros. dados do Instituto Estadual Algumas organizações de Florestas (IEF) apontam ambientalistas do Triângulo que “em Minas Gerais Mineiro são a Organização existem cerca de 8% do para a Proteção Ambiental – cerrado e no Triângulo OPA! –, que atua em Mineiro esse percentual pode Uberlândia, desde 2003, com chegar a 5%”. O bioma está ações de preservação do Curicaca resiste ao desmatamento sendo substituído “para o cerrado; o Programa de cultivo de commodities como a soja, o milho, a Conservação Mamíferos do Cerrado, que cana-de-açúcar”, entre outros. desenvolve pesquisas no Triângulo; a ONG Angá, Ângela menciona o professor do Departamento de Associação para a Gestão Socioambiental do Zoologia, do Instituto de Ciências Biológicas da Triângulo Mineiro; entre outras. Universidade de Brasília (UnB), Jader Marinho Filho, que Segundo a WWF, para evitar a extinção deste pontua o perigo do bioma desaparecer em 30 anos. bioma é necessário, além de políticas públicas de Sem o cerrado, o mundo perde um ambiente rico de conservação, incentivar a “participação da fauna e flora, e uma das fontes de água essencial para o sociedade nas ações ambientais”. Foto: Carolina Rodrigues

De acordo com a World Wide Fund for Nature (WWF - Brasil) – organização internacional voltada para conservação ambiental – o cerrado, também conhecido como “Caixa d’água do Brasil”, é o segundo maior bioma do Brasil, “ocupando um quarto do território brasileiro”; incluindo a região do Triângulo Mineiro. Aparentemente, o ambiente não possui um ecossistema exuberante, como a Amazônia, e, por isso não recebe a devida atenção. “Importante fonte de água e palco de belezas naturais e culturas incomparáveis, o cerrado é reconhecido como a região com savanas mais rica em vida no planeta. Todavia, já perdeu metade da vegetação original”, afirma a organização.

Preservar a “Caixa d’água do Brasil” significa salvar um valioso patrimônio ambiental e cultural

______________________________________________________________________________________ Carolina Rodrigues


Foca na UFU

n.25 Jan/Fev 2015 - senso incomum

Tchau­Tchau

Problema da evasão extrapola dados pon A evasão estudantil no ambiente universitário, mui-

tante”, afirma Marisa. Outra causa que contribui para a

tas vezes, é vista apenas pelo prisma estatístico, es-

crescente desistência é a dificuldade de assimilação do

quecendo

para

conteúdo dentro de um curso acadêmico pelos alunos

compreender as razões que levam um calouro a se tor-

que chegam à universidade. Muitas vezes, por defasa-

nar um aluno evadido, num curto período. Por isso a

gem no processo de aprendizagem, o aluno acumula ma-

evasão deve ser analisada num contexto mais amplo.

térias com dependência e se complica em seu

fator

humano,

essencial

Sobre este cenário o relatório oficial da Universi-

Conter os dados Como política para tentar diminuir os problemas enfrentados pelos alunos, e evitar o número de evasões, a pró-reitoria de graduação oferece programas, como é o caso das monitorias para solucionar as dúvidas e diminuir as dificuldades dos alunos. No entanto o pro-

dade Federal de Uberlândia (UFU), de 2014, sobre

grama não está focado nos períodos de maior

vagas ociosas dos cursos, aponta aqueles com

reprovação. “Pretende-se dirigir para essas áreas de

maior números de alunos evadidos, se por trans-

reprovação, mas como temos uma quantidade muito

ferência, jubilamento ou simples saída.

pequena de bolsas, fazer isso significa retirar de ou-

O curso de Sistemas de Informação atingiu o maior

tros cursos ou outras disciplinas que talvez não

número, com 26 alunos na lista de evasão; Ciências da

tenham necessariamente reprovação (...)

Computação, com 17, ocupa o segundo lugar. Para ex-

mas que é importante até para pre-

plicar esse relatório, a professora doutora Marisa

vení-la.” A ideia ainda, segundo

Lomônaco, pró-reitora de graduação da UFU, analisa

Marisa, é articular esse projeto de

que a evasão tem diversos fatores. Segundo Marisa, as

modo que os pós-graduandos

cotas sociais para estudantes que recebem até um sa-

possam ajudar os alunos.

lário mínimo e meio modificaram o perfil do aluno, co-

A aluna Thatyane Maioloi é

mo também sua entrada a partir de um crescimento no

um exemplo de estudante que

número de ingressantes.

vivenciou a evasão. Deixou o cur-

O Sistema de Seleção Unificada (Sisu) altera a rela-

so de Biotecnologia para ingressar

ção do aluno com a escolha de curso, a partir do mo-

em Medicina. O foco na Medicina desesti-

mento que ele pode controlar por meio de sua

mulou a estudante a continuar no curso de

pontuação para onde direcionará sua decisão de ma-

Biotecnologia.

trícula. Existe um maior número de chamadas, refletindo a desistência de alunos que acabam de se

De calouro a evadido

matricular e, ainda sem iniciar o curso, partem para ou-

Os alunos do Programa em Educação Tu-

tra opção de carreira ou instituição. Essa questão mu-

torial (PET), do curso de Economia da UFU,

da a análise dos números da evasão, já que o aluno

elaboraram um projeto iniciado no segundo

não chegou de fato a estudar na instituição.

semestre de 2012 e concluído em 2014,

cidade também pode pesar para que o número de evasão seja maior, pois mudar de cidade é caro. “O Sisu também tem essa característica de buscar estudantes de outra região do país, estudantes de uma região dis-

Ilustração: Sérgio Dalláglio

A questão do custeio para permanência do aluno na

que teve como objetivo encontrar os motivos dos 25 alunos, dos 40 matriculados no primeiro período do curso saírem até o terceiro semestre. Gilberto Oliveira Boaretto, es-

Ilustração: Sérgio Dalláglio

do

desempenho, conforme afirma a pró-reitora.


Foca na UFU

n.25 Jan/Fev 2015 - senso incomum Ilustração: Sérgio Dalláglio

u UFU

ntuais de motivação e interesse dos alunos tudante de Economia e integrante do grupo que realizou o projeto, explica que havia uma “premissa” de que os altos índices de reprovação, logo no início do curso de Economia, levariam aos altos índices de reprovação no final dos quatro anos. Segundo Boaretto, as principais situações analisadas como causa que influenciam a evasão estão ligadas à qualidade do Ensino Médio, à reprovação nas disciplinas da graduação e à relação com os professores do curso universitário.

Dentre

estes

fatores,

foi

apontado que as dificuldades de interação com os professores estrangeiros, e com cálculos matemáticos, esta oriunda do colegial, geram número elevado de reprovações e influenciam diretamente na desistência do curso. No projeto foram apontadas também possibilidades de intervenção: "Nós pensamos, por exemplo, em uma integração do PET de Economia com o PET de Matemática, visando um reforço direto

E para além disso... Falar sobre alunos que abandonam seus

de SI, nos disse que apesar do pensamento fre-

com esses alunos que demandarem

cursos, independente de seus motivos, soa

quente em desistência, o mercado em tecnologia

auxílio logo nos períodos iniciais",

pessimista. Assim, surge a procura por aque-

está escasso em profissionais. Aí surge o estímulo

les que apesar dos pensamentos de sair de

em continuar em Sistemas de Informação, mesmo

Apesar de ver a turma diminuir ao

seu curso, continuam. Com a ajuda das redes

que os problemas sejam latentes.

longo da graduação, a motivação dos que

sociais, tentamos encontrar esses persona-

“O que motivava a desistência (...) são as al-

ficam não se perde com o número de eva-

gens. E encontramos vários que tentaram gri-

tas taxas de reprovação como, por exemplo, 15%

didos, pois, de acordo com o estudante, as

tar seus desesperos entre continuar ou sair,

da turma ser aprovada e o restante reprovado”. O

entre persistir ou desistir.

aluno Diego Henrique Rodrigues, também do

explica Boaretto.

ofertas de emprego no mercado de trabalho não refletem a realidade de evasão do curso

Não sem querer, esses encontros se deram no

curso de Sistemas de Informação, continua em

de Economia. Além disso, encontrar turma

curso de Sistemas de Informação (SI), o número

seu curso por já ter concluído grande parte

para dividir as festas de formatura não faz

um em evasão na UFU. Inúmeros foram os que

deste. Assim como Justino, Rodrigues também

parte dos problemas consequentes das

quiseram conversar sobre o problema da evasão e,

relata que os altos níveis de reprovação são os

no meio de tantos, Renan Justino, aluno do curso

culpados pelo grande número de saídas.

evasões.

________________________________________________________________________________ Caroline Bufelli e Gabriela Junqueira


Pausa para o Café

n.25 Jan/Fev 2015 - senso incomum

Ilustração: Érika Abreu

Quando eu

crescer... quero

ser um violão! “Eu gosto de bundas grandes e não posso mentir!”, já cantava o rapper americano Sir Mix-a-Lot em meados dos anos 90. Ali emergia um movimento que prezava pelo corpo curvilíneo e avantajado. Vê-se atualmente que a visão do “corpo perfeito” mudou. O cenário cultural, que propõe

Baixo, mas sem golpe baixo

padrões de comportamento, contribuiu para a “desestigmatização” das pessoas com sobrepeso. A estudante de Jornalismo da Faculdade Anísio Teixeira, Ana Carolina Macêdo, 20 anos, afirma que apoia a discussão sobre o tema. “Acho que as músicas estão servindo para as mulheres que têm um corpo mais curvilíneo se sentirem mais confiantes”. Hoje, a violência verbal no cenário da música parece ignorada. É difícil afirmar se as referências musicais de qualidade foram afrouxadas ou se o público acostumou-se a letras ofensivas. O fato é que as próprias mulheres contribuem para a valorização do corpo avantajado, a exemplo de cantoras femininas que ofendem com palavrões as mulheres mais magras em suas canções. Ana Carolina acrescenta: “Infelizmente existe uma 'gordofobia' muito forte […], seria muito bom se as pessoas se aceitassem como elas realmente são, e não se importassem tanto com o corpo alheio”. Já a produtora cultural Adriana Lemos, afirma que a tendência do ser humano é buscar o reconhecimento de si próprio. “A cultura individualista, típica da geração selfie, consiste na promoção da própria imagem a qualquer custo. A indústria da música é apenas um reflexo do que se passa na mentalidade das pessoas hoje em dia”.

Num sábado, escutei a seguinte música na rádio,

nobre, que não requer diminuir outra pessoa ou grupo.

que ficou na minha cabeça por uns três dias: All

A premissa da música não é ruim, pelo contrário; a

About That Bass, de Meghan Trainor. Por cima,

ideia é mostrar que a beleza existe independente do

entendi que o repetitivo refrão referia-se à

tipo físico. Mas usar o termo “magrelas vadias” para

despropositada comparação de um baixo com uma

isso é, no mínimo, um golpe baixo.

flauta. E é claro que eu estava errada.

Mas a letra ainda fica mais constrangedora na

Mais tarde, ouvindo atentamente a música e

linha: “She says boys like a little more booty to hold

assistindo ao clipe “cor-de-rosa”, percebi que sua

at night” (“Ela diz que garotos gostam de um pouco

jovem cantora, que de longe não exibe um corpo

mais de bunda para pegar à noite”), supostamente

tamanho 36, canta com essas palavras: “I’m bringing

dita pela mãe da cantora! É uma ideia demasiado

booty back, go ahead and tell them skinny bitches hi”

limitada: por que todo homem tem que gostar de

(“Estou trazendo as bundas de volta, vá em frente e

curvas? Se cada ser humano é peculiar em sua

diga oi às magrelas vadias”). Nem a linha “cada

essência, por que essa preferência tem de ser

centímetro de você é perfeito, da cabeça aos pés”

unânime, se nem mesmo todo homem se sente

salvou a música para mim. A moça perde toda a razão

sexualmente atraído por mulheres?

quando se refere às magras como “skinny bitches”. Pergunto: por que é errado chamar o gordo de

Ofender alguém não o torna superior. Não se deve despir um santo para vestir outro; assim, não

elefante e aceitável chamar o magro de varapau, por

adianta

exemplo? Não seria isso hipocrisia? Se Trainor fosse

enquanto se recrimina abertamente a magreza.

magra

muito

Trainor ainda é jovem, de apenas 21 anos, mas sua

provavelmente já teria sido criticada a ponto de ter que

postura na canção é simplista mesmo para sua

tirar o clipe do ar. Mas já que é o contrário, é aceitável?

idade. Qualquer adulto que precisa denegrir o corpo

e

menosprezasse

os

gordos,

Fazer uma garota jovem sentir-se bem com a sua aparência, independente de qual seja, é uma causa

querer

desestigmatizar

o

sobrepeso

de outrem para sentir-se bem com o próprio apenas está demonstrando sua imaturidade.

___________________________________________________________________________________________________________________________ Cindy Freitas e Maria Clara Vieira


Diário de Bordo

n.25 Jan/Fev 2015 - senso incomum

op u iv es

pra Bogotá,

Arq

Vamos embora

so al

muambar, muambei Fotos, lugares novos, pessoas diferentes e experiências incomuns. Viagens nos permitem experimentar sensações que só quem pega as malas e bota o pé na estrada consegue vivenciar. Se a fama das tão queridas viagens já é boa por si só, imagine quando um “pro exterior” vem de brinde. Claro que na realidade de universitário que sofre pra ter dinheiro e tempo não é lá tão fácil conseguir viajar ao léu. Assim, uma alternativa é investir em intercâmbios que podem ser facilitados pela universidade. Gabriella Lenza, estudante de Relações Internacionais da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), passou quatro meses em Bogotá, na Colômbia, e contou sobre diversos pontos positivos que essa experiência contribuiu para sua formação pessoal e profissional. Ela viajou através da AIESEC Uberlândia, em parceria com o governo de Bogotá, quando soube que haviam vagas para um intercâmbio voluntário. Para isso, ela teve apenas de realizar uma entrevista em inglês via Skype com um membro da AIESEC Colômbia, para que fosse decidido se ela estaria apta a ocupar a vaga. Quando foi aprovada, sua viagem já estava agendada.

Intercâmbios possibilitam investir no conhecimento cultural, para além dos estudos delínguas. Thais Schmidt é diretora de projetos na AIESEC e conheceu a organização antes mesmo de ingressar na universidade. Seu interesse foi tanto, que ao se mudar para Uberlândia, após um mês de adaptação, ela já se integrou à equipe. Thais conta que a organização é bastante conhecida pelo intercâmbio voltado para o trabalho voluntário. Muitas vezes, os universitários procuram a organização sem sequer saber que

há a disponibilidade para a realização de um intercâmbio profissional, que para ser realizado são necessários mais requisitos, como linguagem mais avançada e também experiência profissional; a viagem depende da experiência que o jovem está buscando. Em 2014, os três países para os quais houve mais procuras em Uberlândia, foram: Hungria, Peru e Colômbia. América do Sul Para Gabriella Lenza, um dos pontos positivos de viajar para a Colômbia foi ter aprendido o espanhol. Na Colômbia, ela lecionou Inglês para crianças e garante que a experiência foi uma oportunidade de desenvolver habilidades que não acreditava possuir, como paciência; além de adquirir maior responsabilidade e maturidade. “Muitas foram as mudanças em minhas ideias e visões sobre o mundo. Adquiri um senso de responsabilidade que vai além da entrega de trabalhos na data certa, passei a ter a consciência de que outras pessoas podem necessitar da minha manifestação de compromisso e, por isso, não posso lhes faltar”, conta Gabriella. É claro que apesar de tudo ser tão interessante e enriquecedor, há dificuldades a serem enfrentadas. “Minha maior dificuldade foi ficar longe das pessoas que amo e dos lugares que gosto e estava acostumada a ir. Viver em uma cidade tão grande foi bastante difícil no começo, tinha medo de violência e assaltos, além da dificuldade de me comunicar em outra língua. Nas primeiras semanas houve desentendimentos na hora de compras, locomoção e algo do tipo”, descreve. N ão é simples abandonar o conforto de ca sa para enfrentar uma outra realidade, com lín-

Gabriella conheceu a Colômbia e realizou trabalho voluntário lecionando inglês para crianças

gua e cultura diferentes. A dica que Gabriella dá para quem pretende passar por essa experiência é, principalmente, ter uma mente aberta: “Decidir partir para um intercâmbio sem estar preparado pode ser um pouco doloroso, portanto, é necessário, ao ingressar nessa experiência, permitir que a mente esteja receptiva às mudanças”. A cultura da Colômbia não difere muito do Brasil. Gabriella afirma que sentiu mais falta da comida brasileira, mas se encantou por quase todo o resto, como a beleza do país, as festas e o povo colombiano. “Um intercâmbio traz culturas novas, conhecimento de mundo, independência, choque cultural e, tudo isso em conjunto, desenvolve as potencialidades do jovem, que já sai preparado para muitas situações que pode vir a presenciar em sua carreira profissional”, afirma Thais. Este mundo é cheio de inúmeras coisas novas para se descobrir, com oportunidades que devem ser agarradas. Colocando os prós e contras na balança, é inegável o quanto vale a pena vivenciar essa experiência que encherá sua bagagem cultural para sempre e lhe levará a acumular histórias memoráveis.

___________________ Érika Abreu e Thaís Fernandes


Esporte e Lazer

n.25 Jan/Fev 2015 - senso incomum

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Arte ou esporte?

Paixão!

______________________________________ Mariana Almeida e Monalisa França

Ilustração: Érika Abreu

A mistura de boas doses de esporte e arte pode resultar em várias práticas, como a yoga, o teatro, a dança e as ginásticas artística e rítmica, que são conhecidas no Brasil por serem esportes olímpicos em que, geralmente, brasileiros e brasileiras se destacam, em grupo ou individualmente. Mas o que é, de fato, essa mistura entre arte e esporte? O que motiva os praticantes a escolherem, se dedicarem e continuarem traçando esse caminho artístico dentro de um campo tão amplo como o esportivo? A resposta é apenas uma: paixão. É o que conta com orgulho Jéssica Kamilla Gonçalves Machado, aluna do 2º período do curso de Dança da Universidade Federal de Uberlândia (UFU): “A paixão nos move, quando fazemos algo carregado de paixão, isso é notado, se fixa em nossa história e de quem contempla o que fazemos”. Ela se mostra satisfeita e realizada com o que faz, e diz que “se você ama aquilo que faz, vai defender com todas as suas forças, vai fazer com que nasça, cresça e crie raízes na sociedade.” Jéssica, que começou a dançar com 9 anos de idade conta ainda que apesar de seus pais, a princípio, não concordarem com sua escolha, não se imaginou seguindo outra profissão: “É o que amo, o que fiz toda minha infância, é o que me move, o que mais posso fazer?”. Por falar em amores ao meio artístico, a apaixonada atriz Yaska Antunes, que também é professora do curso de Teatro da UFU, enxerga que “há algumas modalidades desportivas que se comunicam com certos princípios da obra de arte: a plasticidade e elegância requeridas na ginástica rítmica.” Mesmo em meio a tanta paixão e beleza, somadas às dificuldades técnicas que os esportes artísticos exigem, quem entende do assunto afirma que a área ainda é pouco valorizada no Brasil. “Esportes artísticos ainda precisam de maior divulgação, fomento e capacitação profissional para que num futuro próximo assim como ocorre em outros países, tenhamos maiores condições e formação de público que, de fato, saiba apreciar tais práticas corporais”, afirma Rita de Cassia Fernandes, professora de disciplinas ligadas a dança e ginástica da Faculdade de Educação Física e Fisioterapia da UFU. Para Yaska, “é preciso que estejamos conectados com o momento presente, aberto aos desafios do mundo que a cada segundo te interpela: é preciso estar num estado de atenção e prontidão para que a resposta a estes desafios sejam autênticos e conscientes e esta consciência começa naquilo de mais concreto que temos: nosso corpo físico.”

“Algumas modalidades desportivas se comunicam com certos princípios da obra de arte”, declara Yaska Antunes.

BOM SABER Existem 22 Federações Nacionais de Ginástica, dentre elas uma mineira, com o clube em Uberaba, o Centro Municipal de Educação Avançada CEMEA Boa Vista. O site da Confederação, com novidades fresquinhas sobre as diversas modalidades de ginástica praticadas no Brasil, é o www.cbginastica.com.br. A UFU oferece oficinas gratuitas de Teatro todo semestre, que fazem parte do projeto de extensão COMUFU. Novas vagas e horários são abertos a cada semestre letivo da Universidade.


Devaneios

n.25 Jan/Fev 2015 - senso incomum

Talvez a vida seja um pombo mira sua cabeça e atira o que restou de sua digestão alimentar. É muita sorte mesmo. Ainda desconheço os fatos que favorecem o acontecimento desse fenômeno. Mero acaso? Shampoo cheiroso e atraente ao olfato das aves? Medir um metro e setenta e seis? Não sei. O fato é que consegui ser alvo de merda de pombo duas

Ilustração: Érika Abreu

Gosto de comparar a vida com um pombo que defeca em sua cabeça quando você menos espera. Assim mesmo, sem muito planejamento ou pudor. Às vezes você dá a sorte de ter um banheiro por perto pra limpar e às vezes é preciso andar pelas ruas com o cabelo melecado por algumas horas, mas nada que impeça de seguir o caminho. Ninguém está isento do que pode acontecer. Muitos costumam dizer que quando um pombo defeca em sua cabeça é sorte. É a maldita (ou bendita, talvez) mania do ser humano de arrumar justificativas positivas pra tudo que acontece. O paquera esnobou? É porque está muito a fim. O emprego dos sonhos na cidade dos sonhos não deu certo? Liga não, não era pra ser. Botou defeito naquele vestido maravilhoso que você comprou? Tá morrendo de inveja. Um pombo cagou na sua cabeça? Vish, sorte demais! Imagine você, andando tranquilamente pela rua, e por descuido ou providência divina brota um pombo do além que

vezes em um intervalo de vinte dias. Em uma delas precisei andar dez minutos com os óculos embaçados e em outra dei a sorte de ter um banheiro por perto. E nele, inclusive, havia uma dessas pessoas aleatórias que surgem do nada na vida da gente me dizendo que era sorte. Soltei uma gargalhada. “Mais fácil ser o mesmo pombo da outra vez que me persegue e não vai muito com a minha cara” - pensei. Saí do banheiro tentando olhar tudo como uma simples situação corriqueira, afinal, era uma simples situação corriqueira, oras! Mas no fundo, preferi encarar como o universo me enviando energias positivas em forma de cocô. Essas coisas não devem acontecer tão por acaso assim. Percebi que havia sido capturada pela maldita (ou bendita, talvez) mania do ser humano de arrumar justificativas positivas pra tudo que acontece. Érika Abreu

Para onde você está olhando?

Acordar. Tomar café da manhã. Vestir uma roupa bacana e pegar a mochila. Estudar, trabalhar e conversar. Internet. Carregar o celular, já estamos na metade do dia. Ir à academia. Internet. Fazer compras. Encontrar os amigos. Voltar para casa. Mais internet. Carregar o celular. Dormir. E tudo começa de novo. Eis aí a rotina atual, urbana e tecnológica, que de tanto querer ser diferente, exclusiva, acaba se homogeneizando pelos entremeios egoístas e velozes de um mundo globalizado. Mas em um repente nos desligamos, desconectamos; voltamos a notar que temos uma visão periférica, e que existem histórias a nossa volta, cujas características e necessidades vão além, muito além, da rotina antes descrita. Em uma manhã consumista de domingo, saio à procura de um banco, pois havia bem a minha frente uma feira livre cheia de variedades gastronômicas

e possibilidades de compras. E, como alguém que procura algo, foram várias as vezes que transitei por aqueles quarteirões. Tantas vezes e, ainda assim, só pude me sensibilizar para o mundo a minha volta nos instantes finais que ali estava. Eram cinco pessoas, dois adultos e três crianças. Todos com roupas bem sujas e gastas, com olhares que se voltavam para a rua, a sarjeta, e não para os nossos olhos. Ficavam em volta da praça, em frente à feira, esperando que a missa da Igreja Nossa Senhora Aparecida acabasse para que alguém, talvez, Ilustração: Érika Abreu lhes pagasse um pastel. Afinal, era o que todos estavam comendo por ali. Eu, e alguns amigos fomos ao encontro deles e entregamos alguns bolos e doces que tínhamos conosco, mas não bastava apenas isso. Conversamos. Conversamos. Era disso que eles mais precisavam.

Um encontro como este, que possui na mesma medida a intensidade e a rapidez em seu desenrolar, se resume no olhar. Para quem está inserido no centro do mundo globalizado que temos, o olhar é sinônimo de foco, de objetivo: é estabelecer meios e contatos que possibilitem saber o que se passa em qualquer lugar do mundo, sem desgrudar do smartphone. Olhar para quem está à margem deste mesmo mundo é ver tudo de baixo para cima, no ângulo contrapicado da vida, é o reflexo de um processo que torna as pessoas e os problemas mais próximos de nós invisíveis. E nesse jogo de olhares, ampliar a visão nos leva à periferia. À periferia esquecida de pessoas que, ao terminar uma conversa de não mais de dez minutos em uma praça em frente a uma feira, dão um abraço e dizem "vocês são firmeza, gostei de vocês". E é nesse jogo de olhares que encontramos histórias que não foram contadas, oportunidades que não foram oferecidas e dignidades que foram esquecidas. Gabriela Junqueira Zanca


EntreOlhares

n.25 Jan/Fev 2015 - senso incomum

Os outros não têm nome Nós somos os proscritos da terra Degenerados de todos os tempos Expulsos pelo pai Excomungados pelo padre Nós somos a ovelha perdida Ken Foto:

nedy

Ro sa

Somos homens e mulheres Presos em correntes pela cor de pele Cobertos de pedra em esquinas Por amar outros homens e mulheres

Foto :B

ru n a

P ra t a

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E ninguém nos ama porque não somos belos Não se vê ouro em nosso busto Somos os pobres deserdados do paraíso Expulsos do Éden antes de Eva Mas nós somos muitos andando em conjunto Com a voz forte que ecoa pelo espaço Nós somos todos Nós somos tudo Carne e osso feitos de aço

Foto: C

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José Renato Resende Estudante do curso de Direito e participante do grupo de teatro Artimanha

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Foto: Monalisa França

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