Senso in comum 27 - mai/jun 2015

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Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo - UFU - ANO 07 - N° 27 - Maio-Junho/2015

Quem disse que é de MENINO? Ou de MENINA? p. 6 e 7

Sexo virtual, que tal? p.4 Sem lenço, sem documento p.9 Xô estresse p.1 0


Opinião Editorial

Enquanto lutamos contra a falta de água, podemos ver que do outro lado do mundo a fartura chegou e foi anunciada, tomando o lugar de matérias sobre a famosa "crise da água". Como símbolo da fartura, o presidente da Nigéria ofereceu uma festa regada a luxo, na qual realizou o casamento do filho. Tudo normal, mas o detalhe curioso é o fato de que o presidente ofereceu aos convidados uma singela lembrança: um iPhone 6, customizado com o nome dos noivos e decorado com muito ouro. Não há problema em fazer uma festa e presentear seus convidados com um iPhone 6; diria até que é ousado. Mas, se voltarmos os nossos pensamentos à Nigéria, vemos que o mesmo jornalismo que anuncia com alegria o casamento, realizado em um famoso Centro Ecumênico, é o mesmo que relata mortes relacionadas à falta de estrutura básica de saúde e alimentação no país. É o mesmo jornalismo que anunciou a premiação daquela polêmica foto – tirada no mesmo continente – em que um abutre esperava apenas a morte de uma criança para, então, se alimentar. O continente, que é noticiado agora com tanta pompa, é aquele que registra o maior índice de mortalidade infantil e no qual dois terços da população estão abaixo do limiar da pobreza. A Nigéria, país cercado de diversidade e riquezas, não usufrui das regalias noticiadas na ocasião do casamento. Pelo contrário, o cenário de guerras, em que milhares de vidas são dizimadas, e o que deveria ser fonte de orgulho e desenvolvimento para o país é exportado e a cor deste dinheiro nem é vista. Por essas e outras razões, pergunta-se: o que seria isso? Falta de preocupação com o país, descaso? Não sabemos ao certo, só se sabe que, enquanto lemos esse texto e lidamos com a nossa própria escassez, em outros cantos do mundo, a festa anda rolando solta e regada a ouro, muito ouro.

___________________________ Monalisa França

n.27 Maio/junho 2015 - senso incomum

E, falando da vida alheia Até onde vai a exposição da intimidade do indiDireito de errar todos têm, já que todo mundo víduo e do “julgamento” da vida alheia na TV? Um errou alguma vez na vida. O que não se deve fazer desses programas em que se apresentam diveré construir a imagem de uma pessoa em cima de sos casos de famílias durante as tardes passa um erro ou situação corriqueira. Lugar de lavar longe no que se refere ao respeito à roupa suja não é na TV - e nem na privacidade alheia. internet – minha gente, é em No programa temático casa. de cada dia, a espetaLevar ao público a cularização do cotiintimidade, o “juldiano entra em gamento” não cena para renvai fazer o der pontos de problema audiência ao melhor ou “debater” o pior. O que cotidiano. incomoda, Naquilo que pode efeé vendido tivamencomo um te, criar programa ainda de entremais amvistas para plitude. O ajudar pesjulgamento soas que enbaseado em frentam diversos costumes antipos de conflitos – tigos, que vem como afirma a prode tempos, por vepaganda – a exibição zes com olhares traCrédito: XXXXXXX acaba se tornando um readicionalistas e machistas, lity vespertino. quer reforçar preconceitos, faO que muitos não pensam, em princízer a manutenção do certo e do errado pio, é que estas discussões servem para divertir de tempos atrás. Mas, “o que é certo pra mim, poas tardes dos espectadores. Como já diziam que de não ser pra você”. É hora de visões diferentes, “pimenta nos olhos dos outros é refresco”, muita de valores coerentes com a nossa realidade, de gente anda se refrescando todas as tardes durandebates rejuvenescedores e, também, de prograte os últimos anos. mas novos.

_____________________________________________________________________________________ Kennedy Rosa

EXPEDIENTE

Reitor: Elmiro Santos Resende / Diretor da Faced: Marcelo Soares Pereira da Silva / Coordenadora do Curso de Jornalismo: Ana Cristina Menegotto Spannenberg / Professores responsáveis: Christiane Pitanga, Ingrid Gomes, Marcelo Marques e Vanessa Matos / Jornalista Responsável: Ingrid Gomes MTB 41 .336 e Vanessa Matos MTB 50.456 / Editores-chefe: Caroline Bufelli e Jhonatas Elyel / Editora de capa: Laura Moreira / Editores de Opinião: Marcelo França e Bruna Saquy (O conteúdo opinativo é de responsabilidade dos articulistas/autores que assinam as colunas) / Editor de Imagem: Bianca Leles / Editor Vida Universitária: Leandro Fernandes / Editor Naturências: Michael Keaton / Editora Foca na UFU: Gabriela Petusk / Editor Pausa para o Café e Diário de Bordo: Rafael Leonel / Editora Esporte e Lazer: Júlia Costa / Editora Devaneios: Luisa Caleffi / Editora EntreOlhares: Amanda Ribeiro / Editor Artístico: Renato Soares / Produção de Arte: Micellyna Lima, Amanda Vieira e Lorena Muntaser / Repórteres: Laura Moreira, Michael Keaton, Bruna Saquy, Júlia Costa, Rafael Leonel, Jhonatas Elyel, Gabriela Petusk, Muntaser Khalil, Amanda Ribeiro / Diagramação: Vinícius Ribeiro, Bruna Pratalli, Maria Clara Fernandes, Carolina Rodrigues, Maria Paula Martins, Caroline Bufelli, Sérgio Dallaglio, Cindy Figueiredo, Mariana Almeida, Érika Abreu, Keneddy Costa, Gabriela Zanca, Geane Amaral, Monalisa França, Thaís Fernandes, Tarcis Duarte, Talita Vital / Finalização: Danielle Buiatti.


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Vida Universitária

Foto: Geane Amaral

Servindo Carinho Auxiliar de cozinha do R.U., Lurdinha conquista todos com seu carisma O sorriso de Lurdinha é também instrumento de trabalho

Importante. É com esta palavra que se define a guerreira deste perfil. Mulher de sorriso largo, que levanta cedo, trabalha e ainda tem disposição para se divertir com a família. Seu nome é Maria de Lourdes da Silva. E, como tantas outras “Marias” que existem, encanta de forma serena. Mãe de quatro filhos, casada e muito bem resolvida, Lurdinha – como é carinhosamente chamada – começou a trabalhar no Restaurante Universitário (RU) há dois anos e meio, como auxiliar de cozinha, e afirma estar feliz com seu trabalho e que inclusive, já tentou desempenhar outras funções: “Acho bom demais, até mexi com outras coisas também, com loja, roupa, mas não adianta porque o que eu gosto mesmo é mexer com comida.” Nascida em Goiânia, estado de Goiás, Lurdinha morava com os pais e suas três irmãs, quando aos sete anos aprendeu a cozinhar e logo aos catorze já era ela quem preparava as refeições em casa. Ela possui vasta experiência no ramo, já traba-

lhou em outros três restaurantes e também já foi merendeira em uma escola. Aos finais de semana combate o cansaço com otimismo e alegria. Lurdinha e sua família arrumam as malas e vão passear: “Quando eu não trabalho, eu viajo, vou lá para o meu pai, na fazenda em Goiás”. Mesmo estando em contato com comida a semana toda, Lurdinha sente prazer no que faz e nos surpreende: “No fim de semana, sábado, domingo e feriado, nas férias também, eu cozinho. Adoro cozinhar”. No tempo em que está em casa, ela revela que seu prato favorito é tipicamente baiano: o vatapá, é um dos mais pedidos pelos familiares, juntamente com o feijão e salada. Tudo somado a uma boa pitada de

amor e alegria. Embora o contato com as pessoas da fila seja rápido, Lurdinha tem vários conhecidos e até amigos que, mesmo longe, lembram dela com carinho. É o caso de uma estudante que concluiu a graduação e continua mantendo contato com ela: “É bom, a gente faz amizades, conhece todo mundo. Quando vai embora a gente sente falta.” Ela conclui que, apesar do cansaço do dia a dia, estar em meio aos clientes do restaurante é gratificante e que o recesso é sempre motivo de tristeza para ela, pois não há a companhia deles: “Eu acho bom demais, nossa, só da gente estar com muita saúde, graças a Deus, poder servir vocês um alimento, uma coisa boa, é pra mim um grande prazer”.

“No fim de semana, sábado, domingo e feriado, nas férias também, eu cozinho. Adoro cozinhar”

____________________________________________________________________________________________________________________________Geane Amaral e Monalisa França


Vida Universitária

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Freud explica

Sexo é assunto entre os jovens, mas nem todos se sentem livres para falar disso

Tabu

rem a produtos que auxiliam na busca pela satisfação sexual. Esses produtos, que há poucos anos possuíam um público mais restrito voltado para casais que buscavam inovar na relação a dois, hoje contam com um crescimento voltado para o sexo virtual, pois as pessoas buscam intensificar o prazer, mesmo que seu parceiro esteja em outra tela. Dentre esses apetrechos, os mais comuns são os óleos aromáticos, vibradores, fantasias, lingeries, chicotes e vários outros que vão além da imaginação. Além de sites,

Pela sociedade ainda apresentar muitos tabus quando o assunto é sexo, algumas pessoas mantêm certa aversão à busca pelo prazer sexual. Isso é um problema, pois como o universitário está condicionado a um ambiente de estresse, desgaste físico e mental, a falta de uma vida sexual ativa pode provocar irritação e instabilidade emocional, como afirma Alemar Quintino, sexólogo. Num ponto oposto à visão do sexólogo, existem diversos jovens que criam grupos de encontros e discussão sobre a preferência em ter relação sexual somente após o casamento. A universitária, aqui chamada de Gilberta, afirma preferir “esperar, porque acho que ainda não estou preparada para esse momento e quero que ele aconteça com uma pessoa com a qual eu quero estar para sempre”. E para completar um triângulo de visões, há jovens que se sentem travados quando esse assunto aparece, mas será que podemos encontrar esses jovens na universidade? Olávio Neto conhece alguns, mas ao questioná-los o porquê do distanciamento sobre o assunto, eles respondem que preferem não falar. “Não ligo de falar sobre (sexo). Sei que cada um

esses produtos são encontrados em Sex Shops. Alguns desses locais também oferecem cursos para noivas e mulheres interessadas em apimentar suas relações. Keli Siqueira, proprietária de uma dessas lojas, conta que o mercado ainda sofre com alguns tabus e acrescenta que alguns clientes preferem, ao fazer suas compras, manterem-se no anonimato.

tem seu tempo, mas acho que elas (pessoas) têm mesmo que ouvir coisas assim”, completa. Gilberta pertenceu a esse grupo de “travados”, porém ela explica: “foram conversas que comecei a ter, depois que entrei na faculdade, que me fizeram perceber que não é algo estrondoso. É algo natural”. Sigmund Freud explica, em alguns de seus livros, que bloqueios quanto ao assunto podem ser produtos de experiências ruins, de autoritarismo ou até frustrações sexuais. "Saber contornar a situação é algo necessário à melhora do indivíduo", afirma Quintino. Ter liberdade sexual é essencial ao ser humano, é necessário “se sentir livre e feliz com seu corpo, sem medo de julgamentos. Livre para poder fazer o que sentir vontade nesse sentido, seja o que for, sexo virtual, real, masturbação, não importa” completa Neto. Mas, como Gilberta também destaca, é necessário o prazer mútuo, nada pode ser forçado.

Ilustração: Michael Kealton

A criação da internet fez com que a noção de limites físicos redirecionasse a convivência pessoal. Nesse e em outros aspectos, o ciberespaço tem tomado conta de parte da vida das pessoas e o sexo não ficou fora disso. Com os aplicativos e sites específicos, fazer sexo virtual está se tornando algo comum e, por vezes, a preferência de algumas pessoas. Olávio Neto, estudante na Universidade Federal de Uberlândia, afirma que já praticou sexo virtualmente diversas vezes e acrescenta que, também, sente prazer sexual no contato com outra pessoa. Segundo o sexólogo Alemar Quintino, “o sexo virtual pode trazer mais prazer do que o físico”, já que há certo imediatismo no prazer, uma vez que ao estar na rede os usuários têm o poder de filtrar suas pesquisas chegando diretamente ao que lhes atrai. Vendo essa nova possibilidade, muitas pessoas recor-

___________________________________________________________________________________________________________________ Michael Kealton e Rafael Leonel


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Naturências

Transgênicos contribuem para a saúde? Biotecnologia desenvolve pesquisa com tabaco para uso terapêutico Com certeza você já ouviu falar deles, seja bem Desmistificando ou mal. Apesar da última opção parecer dominante, será que organismos transgênicos são realmente Todo transgênico é um organismo maléficos? Se a resposta for sim, então porque a geneticamente modificado (OGM), mas nem todo ciência ainda investe nesta área? Como é o caso do OGM pode ser um transgênico. O transgênico curso de Biotecnologia da Universidade Federal de consiste em inserir uma molécula de DNA exógeUberlândia (UFU), que desde 2013 possui um grupo no em um determinado organismo, modificando de pesquisa em biologia molecular de plantas lidera- assim sua cadeia genética. O processo do OGM do pelos professores Rafael Nascimento, Luiz Ricardo consiste em alterar a cadeia genética, sem a presença de uma sequência Goulart e Flávio TetInfográfico: Jhonatas Elyel de genes de outro ser. suo Sassaki. Fonte: Conselho de Informações sobre Biotecnologia Sendo assim, praticamenSegundo Sassaki, te todo organismo é paso principal objetivo sível de ser “misturado”, do projeto é “o deao contrário do que popusenvolvimento de larmente se pensa de que estratégias biotecapenas plantas sofrem tal nológicas para o processo. combate contra as O primeiro produto principais bactérias transgênico comercializacausadoras de dodo, no final da década de enças em culturas de 1970, foi a insulina e dos plantas de interesse anos 1990 pra cá a produagronômico, como a ção agrícola com semenbatata e laranja”. E, tes modificadas disparou, para além disso, o grupo conta com cobrindo, atualmente, uma parceria intermais de metade das áreas nacional da Univerde cultivo no Brasil, sesidade de Davis, gundo dados do IBGE cruCalifórnia, trabalha zados com os da com diferentes maComissão Técnica Nacioneiras de produzir nal de Biossegurança. Isproteínas de uso teso faz com que, desde rapêutico em plan2012, o Brasil ocupe a setas. Nada assustador, gunda posição de maior como pensam os mais céticos em relação ao assunto e, na verdade, produtor de transgênicos, ficando atrás apenas o maior perigo que cerca esse tema é a desinfor- dos EUA. Mas se engana quem acha que eles servem apenas de alimentos. mação. É assim que pensa José Flauzino, estudante do Talvez sua maior aplicabilidade esteja na indússétimo período de Biotecnologia da UFU e aluno de tria farmacêutica, como afirma Flávio Sassaki. Sassaki, que está aprendendo mais sobre esta téc- “Grande parte do uso de transgênicos está na innica em seu curso. “O maior perigo é a desinformadústria farmacêutica. Os organismos geneticamenção”. Além disso, é preciso ter cuidado para não te modificados usados para fins médicos são confundir organismos geneticamente modificados ferramentas muito importantes para a produção de (OGMs) com transgênicos em si.

proteínas como enzimas e anticorpos. Exemplos são inúmeros, como a insulina humana”. Na sequência, o especialista explica que para a comercialização da insulina, desenvolveram-se “bactérias (escherichia coli) cujo genoma foi inserido o gene da insulina humana”.

E não pára por aí

O tabaco transgênico também tem servido de estudo com resultados promissores. O professor explica que “o tabaco é uma planta modelo utilizada amplamente na comunidade científica pela sua facilidade e rapidez na transformação genética, tornando-se uma planta ideal para se estudar e otimizar a produção de diversas proteínas que possam ser utilizadas no combate a pragas e de uso terapêutico...” Por esses e outros motivos o tabaco vem sendo utilizado para combater doenças que vão desde a raiva até o Ebola e a AIDS. No caso do Ebola, que já dizimou milhares de pessoas no continente africano desde o ano passado e ainda não possui uma vacina eficaz, o processo da criação de um medicamento conta com a produção de um soro a partir de anticorpos de pessoas curadas do vírus e recombinados com o genoma da planta. Como diz o professor, chega a ser “irônico que uma planta que gera tantos malefícios na indústria do tabaco pode ser de tão grande utilidade na biotecnologia. O tabaco continuará sendo uma indústria rentável e, com os avanços laboratoriais, essa espécie vem apresentando um papel de destaque na ciência”. Pesquisas como essas, apontam saídas para se romper barreiras na área de genética, derrubando afirmações tidas, até então, como incontestáveis sobre o conhecimento que se tinha do tabaco, trazendo assim “um futuro muito promissor” à planta.

___________________________________________________________________________________________________________________________________________ Jhonatas Elyel


Foca na UFU

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O que você quer ser

Homens e mulheres ainda esbarram nos estereótipos na profissão e são desafiados a lutar contra o preconceito

Desde cedo se diz que a "mãe" fica em casa e o "pai" trabalha. Na prova de História, que as mulheres eram babás e os homens engenheiros. Nas novelas, que as mulheres eram professoras e os homens bons advogados. Mas, se isso é tão normal, em que lugar se encaixam os outros? Como se adaptam Daiane Cristina, Thiago Cardoso, Daniele Traldi e Marcos Martins, quando se olham e não se vêm nessa regra? Sim, é normal escutar parentes dizendo: “Pedagogia... homem faz?”, “Mulher não dá conta de um serviço de engenheiro, não!”, “Não quero que minha filha tenha um professor homem, as mulheres ensinam melhor”. Enquanto isso, a sociedade nos encoraja a escolher entre rosa e azul, entre salto alto e tênis e, por fim, entre os cursos de Moda e Agronomia, por exemplo. O estereótipo das profissões por questão de gênero quase passa despercebido, mas existe há muito tempo. O sociólogo Antonio Carlos Petean esclarece que essa divisão é histórica. As mulheres foram ligadas ao cuidado da criança e, os homens, ao sustento da casa: algo tão comum e natural. "É que em relação ao negro, à mulher e ao preso, exis-

te uma referência dentro da unidade familiar, que sempre coloca algumas categorias sociais em posição inferior, de desvantagem, desrespeito e desprestígio". Dentro dessa questão, existe um abismo entre o que você é e o que as pessoas enxergam de você. Daniele Traldi tem 19 anos e cursa Engenharia Civil. Com o jeito "meigo" e "fofo", além dos longos cabelos ruivos marcantes, é muito difícil para os homens da Engenharia admitirem que ela pode, sim, trabalhar em uma obra. Daniele faz parte de uma turma considerada "equilibrada" quando o assunto é o número de homens e mulheres. São 30 homens e 12 mulheres: mas não se conforme, 12 é, ainda, um número muito pequeno. "É exageradamente grande a quantidade de homens. Eu me sinto uma vencedora ali, eu gosto de ser uma mulher no meio da engenharia”. São aproximadamente 40 alunos homens e Daiane Cristina sentados em uma sala do curso de Sistema da Informação. Nessa área, são poucas as mulheres que tem destaque. Por isso, a estudante de 20 anos tem, como ponto principal de identificação, suas professoras, mesmo que ela não queira seguir a carreira acadêmica. "Tem vezes que eu olho e vejo que eu sou a única mulher. Eu vou fazer alguma coisa e eu sou a única. É meio esquisito mas você vai se acostumando". É comum quando a mulher é limitada a determinados comportamentos. É o conservadorismo quem está falando quando a limitam ao ambiente doméstico, à sala de aula, a trabalhos considerados mais “leves” ou à criação dos filhos. Por outro lado, mesmo que os homens tenham alcançado espaço, credibilidade e força, como aponta a psicóloga Maura Ribeiro Alves, o conservadorismo dá as

qu

Imagem: Bruna Pr

caras aos homens também.

Enfermeiro? Professor? Thiago Cardoso e Marcos Martins são a prova de que o conservadorismo não é só para mulheres. A verdade é que há um estranhamento quando o lado masculino, acostumado a sempre se sobressair, é alvo de julgamentos e pré-conceitos que o transforma em uma minoria.


Foca na UFU

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uando

ratalli e Talita Vital

"Elas olham com curiosidade, ficam ansiosas por algo, esperando que aconteça alguma coisa. Criam uma expectativa sobre você, porque você é o diferente ali e isso incomoda às vezes". Thiago é um dos dez homens que acreditam na possibilidade de fazer a diferença através da Pedagogia. Só que o problema vai além da graduação, pois a oportunidade de estágio também é empecilho na vida desses futuros professores. "Costumam exigir que sejam mulheres. O pessoal costuma pré-julgar,

crescer?

acham que você está no curso com um interesse secundário". Na Enfermagem, não é diferente. O estudante de enfermagem Marcos Martins deixa claro sua indignação quando o assunto é a colocação do termo "enfermeira" − e não "enfermeiro" − ao longo das práticas do curso. O desejo de se tornar um colaborador para que haja uma mudança de pensamento nessa profissão, é suprimido pela ideia social de que a Enfermagem é só para mulheres. "A sociedade consolidou que ser enfermeiro (a) é apenas para mulheres. A maior dificuldade está entre a população e o profissional enfermeiro". A dificuldade se torna visível quando apenas dois homens fazem parte de uma turma de 35 alunas. Em números, essas histórias significam apenas uma parte da situação. Segundo o Senso da Educação Superior de 2012, os estudantes homens do curso de Pedagogia representam apenas 7,75% de alunos matriculados em todo o Brasil. Quanto ao curso de Enfermagem, 15,2% são de alunos homens, reforçando o caso de Marcos Martins. Em Engenharia Civil, de um total de aproximadamente 200 mil matriculados, somente uma média de 55 mil são mulheres. Outro caso discrepante é em relação à presença de mulheres em cursos ligados à tecnologia. A presença feminina nesses cursos representa 10% em todo território brasileiro. O preconceito existe, mas as histórias contadas mostram que tanto mulheres quanto homens ocupam salas e lutam diariamente para, no fim do dia, se olharem no espelho e terem orgulho do que veem. Enfim, coisas de homem? Coisas de mulher? Boneca, bola de futebol, princesa, herói, videogame, maquiagem, suco, cerveja, esmalte ou carrinho. Engenheiros (as), professores (as), advogados (as),

médicos (as) ou arquitetos (as). Afinal, quem disse que gosto tem que ter categoria?

E para além disso

A questão fica ainda mais interessante. Ao assistir a um programa de Ciência e Tecnologia na televisão, os convidados são dois pesquisadores de terno e gravata, que passam ares de credibilidade ao assunto, como o sociólogo Antonio Carlos Petean afirma. Você já parou para pensar por que não se tratam de duas pesquisadoras? A mídia influencia na estereotipação, e isso não é segredo. Ao assistir aos programas na televisão, as crianças adquirem certa ideia do que são as chamadas “coisas de menina” e “coisas de menino”, é o que afirma a psicóloga Maura Ribeiro. “É comum vermos homens em cargos de poder, mulheres como secretárias, faxineiras ou mesmo que não trabalham. Os papeis sociais, e isso inclui os profissionais, são deliberadamente representadas e determinadas pela mídia", completa. Os adultos, por estarem em contato direto com esses meios, quase nunca percebem que isso é um problema. Não se trata de demonizar a mídia, a ideia seria questionar o que ela potencializa porque, afinal, a mídia podem “ajudar” a decidir o que você vai ser quando crescer. ____________________________ Talita Vital e Bruna Pratali


Pausa para o Café

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Educação alternativa, aprendizado prazeroso

A pauta da assembleia semanal era sobre a aquisição de um gato. Um dos aprendizes solicitou esse pedido. Educandos e membros da equipe se reuniram para debater, cada um com seu voto. Foram somados os prós e os contras e o resultado foi o veto à aquisição do animal. Ao invés disso, os alunos poderiam levar seus bichinhos de casa para a Casa da Árvore. A decisão de criar a Casa da Árvore partiu de Luis Gustavo Silveira que juntamente com sua esposa, buscava uma didática que fizesse sentido para toda família. Mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Uberlândia, UFU, já foi professor universitário e antes de entrar na faculdade também estudou em uma escola não convencional que havia sido fundada por seus pais: “A minha escola, lá em Lavras, Gralha Azul, é uma cooperativa. A gente não tinha prova, então eu nunca tinha feito uma prova até o vestibular e minha maior turma tinha 14 alunos”. Tudo o que se refere ao funcionamento da Casa é decidido em assembleia, com todos presentes. A comunidade de aprendizagem é uma escola de educação livre, apesar de ainda não ser assim reconhecida pela legislação brasileira. Segundo Silveira, ela é um espaço de educação que segue a proposta da SudBury Valley School fundada em 1968 nos Estados Unidos que tem como princípio maior a ideia de que todos são capazes de buscar o conhecimento por si próprios. Fugindo dos padrões das escolas convencionais, as que seguem esse modelo dão total liberdade aos aprendizes para escolherem o que querem aprender. Outra diferença do modelo convencional é que o modelo SudBury, assim como a Casa, segundo Silveira não seguem o ensino compulsório: “Tudo que o indivíduo precisa, ele busca. A diferença é que não tem hierarquia no ensino. Aqui não se estabelece que a criança tem que aprender a ler com 7 anos. Ela pode aprender com 11, ela vai aprender quando aquilo for importante para ela”. Foto s

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fundada em Uberlândia em 1990. A Escola da Criança não se trata de um espaço de educação livre, mas se baseia no método educacional construtivista. Esse modelo pressupõe que a aprendizagem não é um processo passivo e que o ensino não é apenas exposição e repetição de conteúdo. É um método que incentiva o aluno a buscar o conhecimento e para isso o ambiente precisa oferecer estímulos, pois é através do contato com outros seres que o aprendizado se constitui. “O diferente lá era que o espaço da escola era gigante, parecia uma fazenda, tinha bichos e, além disso, as salas eram menores. Lá também as carteiras eram em formato de U e o professor no meio” completou Leme. Ele estudou apenas até a oitava série na Escola da Criança, já que ela contempla somente até o ensino fundamental, e fez o ensino médio em uma escola tradicional. Nesse momento sentiu as diferenças do ensino: o volume de provas, as salas maiores e mais cheias, e o ensino voltado para o vestibular foram algumas das dificuldades de adaptação. Na faculdade o estudante descobriu que sua experiência anterior poderia ajudá-lo: “ A faculdade é um ensino completamente diferente de tudo, de qualquer escola, e eu acho que como lá eu tinha que correr atrás, aqui na UFU é bem parecido. Aqui você tem muita liberdade, mas você precisa saber lidar com isso”. Opinião compartilhada pelo membro da Casa que conta que suas experiências anteriores o fizeram mais pró-ativo e responsável na faculdade. As crianças que vivenciam essas experiências são mais independentes e responsáveis com o próprio aprendizado e com o futuro. São pequenas decisões que influenciam escolhas maiores no futuÀ es ro. Os novos formatos de quer da, c riânc Educação para chegar aonde? ensino mostram que para as e scol hem além de conteúdo, fórmulas e o qu e a pren Lucas Paes Leme, que cursa Administração na UFU, também teve a experigramática, há muito mais a der n a c ência de um ensino diferenciado na Escola da Criança – Espaço de Adolescer, asa se aprender. d

a Árv ore __________________________________________________________________________________________________________________________________ Bianca Judice e Luisa Caleffi


Diário de Bordo

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Milhas e milhas distantes Para estudar ou comemorar: – o importante é viver a experiência Após ser aprovado em uma bolsa de cursos no exterior, sobre a qual ficou sabendo através de email repassado pela coordenação do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal de Uberlândia, UFU, o mineiro Arthur Canival Grande, de 23 anos, decidiu que havia chegado a hora de voar um pouco mais alto: viajar sozinho para fora do País. A decisão da viagem ocorreu em junho de 2013 para o curso que seria em janeiro de 2015 – tempo que serviu para um melhor planejamento e preparação dos custos com ajuda da família. Ao chegar na Itália, onde cursaria “Gestão e Liderança InterFoto: Lívia Borges

Foto: Lívia Borges

tade de rever os amigos quando os via em fotos reunidos no Brasil existia, mas o crescimento pessoal, profissional e intelectual que ele obteve com essa experiência são impagáveis. Conhecer uma cultura distinta, sem depender de ninguém para realizar suas atividades diárias, fizeram dele uma pessoa mais madura e reponsável. Diferentemente do Amigos curtem final da tarde no Uruguai tabu criado por aí, Grande disse ter sido muito bem recepcionado, principalmente baixo e a socialização entre os hóspedes. São uma por ser brasileiro, o que o fez conquistar várias boa pedida para os que viajam sozinhos, geralmente com dormitórios compartilhados, bem coamizades que ele levará para toda a vida. Lívia Maria Borges Nogueira, de 21 anos, se jo- mo as áreas de uso comum como cozinha e gou de outra maneira. Estudante de Ciências Soci- lavanderia. Alguns hostels têm, inclusive, ambienais na UFU, ela e mais sete amigos resolveram ir de tes de convivência com bebidas, barmans e música carro até o Uruguai para passar o natal e réveillon – tudo para tornar a viagem muito mais animada, de 2014. A viagem foi, desde o início, uma verda- cheia de novos amigos de vários cantos do mundo deira aventura – eles pararam para dormir em Cu- e ricas lembranças. ritiba no improviso, na casa de uma colega da cidade, e dividiram uma cama em seis pessoas. Entre problemas com dinheiro e com o GPS que não funcionava no País, Lívia e seus amigos vivenciaram dias únicos em Punta Del Leste, Montevidéu e Cabo Polônio.

Hostels, como o da foto, são ótimas opções para viajantes estrangeiros

Novas Vivências

nacional” por três semanas, os dois primeiros choques dele foram o idioma – ele sentia medo e dificuldade de encontrar o caminho de volta quando se perdia – e o clima frio com temperaturas negativas – das quais o nosso País tropical não passa nem perto. Já a alimentação, pelo contrário, não foi um problema. “A comida na Itália é uma maravilha”, conta, alegando que o único empecilho era o preço alto. Para Grande, que resolveu ficar uma semana a mais para passear, indo para Suíça e França, a von-

Experiências como dormir na praia na noite de ano novo, visitar um vilarejo iluminado apenas por um farol e ver pinguins andando por um restaurante são agora páginas da vida desses jovens. Para Lívia, viagens assim são como um casamento. “É preciso respeitar a subjetividade e tempo de cada um”, conta, ao dizer que sua maior lição foi deixar o individualismo de lado para aproveitar a viagem em grupo e se adaptar às culturas diversas. Tanto Grande quanto Lívia ficaram em hostels – acomodações que são caracterizadas pelo preço

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Detalhe da bandeira nacional da Argentina

___________________________________________________________________________________________________________ Bruna Saquy e Júlia Costa


Esporte e Lazer

n.27 Maio/Junho 2015 - senso incomum

Lutando contra o estresse

Esportes se transformam em hobbie para aliviar a tensão do dia a dia Hobbie. Para o dicionário Priberam da Língua Portuguesa, “passatempo favorito que serve de derivativo às ocupações habituais”. Entre eles, cada um tem ao seu gosto. Mas, e quando a atividade física faz parte dessa lista com prioridade? Mais do que isso, uma atividade física que nem todo mundo faz? Juliane Trajano, estudante de direito da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) é praticante de Muay Thai e tem simpatia por lutas. Desde criança adora filmes com mulheres “poderosas”, que lutavam, e ouviu as recusas da mãe quando pedia para iniciar uma aula de judô. Ao concluir o ensino médio e se libertar das amarras do vestibular, não viu empecilho em iniciar as aulas de Muay Thai. “O Sylvester Stallone diz em Rocky Balboa 'Prefiro me arriscar fazendo algo que gosto perdidamente que me sentir perdido por não fazer o que amo', e é isso que eu sinto, amor pela arte marcial. Melhora meu humor, minha disposição, eu fico menos rabugenta. Só alegrias. Melhorou muito a percepção do meu próprio corpo também, a noção do espaço que eu ocupo e equilíbrio mental e físico”, conta.

"Em muitos casos o trabalho e a faculdade são as maiores fontes estressoras e um hobbie pode salvar seu dia" Ariana Oliveira Gonçalves, psicóloga, especialista em estresse pelo Instituto de Psicologia e Controle do Stress, explica que o exercício físico, quando realizado sem interrupção por 30 minutos, leva o corpo a produzir uma substância chamada beta-endorfina, capaz de gerar uma sensação de conforto, bem-estar, prazer e alegria. “Em muitos casos o trabalho e a faculdade são as maiores fontes estressoras e um hobbie pode salvar seu dia devido ao aumento da autoestima, fazendo com que haja um relaxamento”, explica. A psicóloga complementa que a atividade esportiva também pode ter um caráter socializador quando praticada coletivamente.

Foto: Caroline Bufelli

Juliane pratica Muay Thai três vezes por semana

Lilian Santos Cardoso da Costa, advogada e professora universitária, pratica várias atividades físicas, como lutas, trilhas de bicicleta e corridas, incluindo as de montanha. Ela descreve que se “redescobriu” depois das atividades físicas, que hoje influenciam no seu dia a dia, proporcionando maior disposição e fazendo com que ela trabalhe mais animada e durma melhor. A motivação para as práticas esportivas variam de pessoa para pessoa. Algumas, preferem ir à academia sozinhas, já outras, preferem ter companhia, assim como Lilian. Ela relata que esses esportes praticados em grupo melhoram a convivência social e “um vai incentivando o outro e ninguém pratica sozinho”, havendo assim uma troca de experiências, que motiva, diferente de estar “confinado” em uma academia. A advogada ainda destaca que ao praticar esportes, “uma prática vai puxando a outra, criando um ciclo vicioso do bem” e que, para ela, fazer várias atividades físicas e tê-las como hobbie é questão de aproveitar os intervalos diários e se organizar. Ariana frisa que “deve-se ter uma noção clara das limitações de qualquer técnica que se aprenda a usar” para aliviar o estresse. Para a prática de atividade esportiva, por exemplo, é sempre recomendada a instrução de profissionais. Assim, é possível obter todo o benefício da atividade física e usá-la como meio de aliviar o estresse.

__________________Caroline Bufelli e Kennedy Rosa

Para além dos esportes...

A correria universitária é estressante. Nada melhor do que hobbies para acalmar os ânimos e enfrentar as dificuldades do dia a dia. Segundo a psicóloga Ariana Gonçalves, “dedicar-se a um hobbie é como dedicar um tempo para seu próprio benefício, fazendo com que você se desligue dos problemas cotidianos e preencha o dia a dia com mais prazer e leveza, melhorando o humor e aumentando a disposição”. Assim como esportes, atividades manuais podem ajudar física e emocionalmente no autocontrole: trabalhos artesanais, jardinagem, culinária, pinturas em tela, costura, customizações, entre inúmeras outras. O importante é desenvolver algo que lhe proporcione prazer. Neste caso, o prazer é uma “válvula de escape”; um desejo espontâneo que implica na não obrigação; uma fonte de relaxamento. Então, permita-se distrair a mente em um período do dia para “sobreviver” às pressões da faculdade e ter mais entusiasmo para realizar suas atividades cotidianas. ____________________________________________________________________________ Carolina Rodrigues


Devaneios

n.27 Maio/Junho 2015 - senso incomum

Nem tudo é o que parece

ilustraçao: Sérgio Dalláglio

“Ela tem o rosto bonito, mas coitada, é gorda que só”. Tia mas tendências de saias e blusas mostrando a barriga, Cocóta adora repetir essa frase. Mulher de quarenta e tantos vestindo as mais bonitas modelos desse nosso universo. Tia anos, paga escola para a garota, incentiva a seguir o curso Cocóta até comentou sobre um programa que discutia temas que ela quer para seu futuro e todo ano faz festinha de aniver- como celulite, barriga “chapada”, silicone e olheiras. A seu ver, sário. A menina não liga muito para aparência e a tia vive re- era o melhor. clamando do peso da garota, de como ela come muito e de Tia Cocóta certa vez tentou conversar com a garota sobre como as vezes é difícil vê-la “daquele jeito”. como seria difícil para ela arrumar um namorado caso não Tia Cocóta a matriculou na academia: a sobrinha frequen- mudasse seu estilo, seus hábitos alimentares ou nem sequer tou por um único mês e decidiu abandonar. Reclaouvisse seus conselhos. Ouviu da sobrinha que ela mou que todos ficavam a encarando gostaria de ser aceita como ela é, de ser sempre que subia na esteira. Uma reconhecida pelas boas notas que semana depois iniciou a natira, pelos bons modos que tação, mas por conta das tem e pelos valores, sua brincadeiras dos mereal essência. Deixou a ninos da turma semtia a pensar. pre que ela entrava na Talvez a pequena piscina, a menina não garota quisesse foi mais do que duas lembrá-la que os paaulas. drões não revelam Não só isso, tia Coquem somos; padrões cóta também paga as que se alteram ao consultas na nutriciopassar das décadas. nista, no médico enTia Cocóta até me lidocrinologista e assina gou rindo, depois mil revistas de moda. dessa conversa, Mulheres magras e lembrando-se de sua com cabelões estamavó que reclamava pam as páginas com das meninas magras regras sobre como ser da época e como era feio mulher, como conquistar os não ter carne e gordura pelo garotos e principalmente sobre corpo. como ser igual a todo mundo. “Veja, miHoje à noite, fim de ano, encontro com nha querida, está na hora de você seguir alguns tia Cocóta na festa de reveillon. Das expectativas conselhos”. que sempre tenho nos nossos reencontros, ínumeras se resuDepois da última vez que conversei com tia Cocóta, ela ha- mem a sua sobrinha, quase sempre seu primeiro assunto. via até comprado o sinal da TV a cabo, pra ver se assim "a Será que emagreceu? Será que engordou? Enquanto isso, esmenina tomava jeito". Com os novos canais, seria possível as- pero ouvir de minha tia outros assuntos... espera, essa sou eu? sistir a desfiles, programas de moda que mostravam as últi- Alguém sabe quanto é a academia da rua aqui de casa? ________________________________________________________________________________________________________________ Caroline Bufelli


EntreOlhares

n.27 Maio/Junho 2015 - senso incomum

Fotos: Sérgio Dalláglio

Fotos: ÉriKa Abreu

Pra você, o que é ser normal? "Pra mim eu sou a Winnie, mas acho que pra alguém que siga uma linha padronizada eu sou estranha. ”

Winnie Gomes – graduanda em Artes Visuais

Foto: Sérgio Dalláglio

“Um grupo que decidiu o que é ser normal e espera que os outros sigam esse padrão, ajam dessa forma."

“Se um menino grande de barba usar saia vai causar um questionamento na pessoa, então eu uso!” Matheus Amaral - graduando em Ciências Sociais

Hugo Maximiliano – graduando em Letras

Fotos: Sérgio Dalláglio

“Eu não me sinto normal, mas eu pago o preço por isso”. Eduardo Frazão – mestrando em Filosofia

“Ser normal pra mim é ser eu. Eu acho que é tão natural!”

“Às vezes minha mãe fica assim: 'Hugo, você não acha que tá muito? Que tá muito pra tal lugar?', e eu falo: Não mãe, é assim que eu me visto, é assim que eu gosto de me portar”.


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