Senso in comum 28 web

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SENSOiNCOMUM Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo • UFU •Desde 2010• Ano VII • Nº XXVIII • Outubro-Novembro/2015

Estamos seguros na UFU? www.sensoincomum.net

Daniel Pompeu

Crise no HC-UFU

Vice­reitor admite que Hospital de Clínicas passa por momentos difíceis. Administração sinali­ za que a saída pode ser a adesão à Ebserh. Página 9

Dissecando a greve

As tais cantadas

Disque 190

Andando com a inovação tecnológica e empreendedorismo, as startups apre­ sentam considerável crescimento no Brasil. Com pequenos investimentos e muita criatividade, os jovens que se ar­ riscam em um negócio independente multiplicam sua renda e chamam a aten­ ção do mercado não apenas nacional, mas também mundial. O SensoInco­ mum conversou com estudantes que se aventuram nesse modelo. Pág. 3

Lugar de esclarecimento e progres­ so, a universidade ainda conta com casos de assédio e abuso psicológico contra as mulheres. O machismo faz suas vítimas todos os dias das formas mais sutis até as mais violentas. Pág. 11

A greve dos técnicos deste ano, a mais longa já registrada, paralisou a biblioteca, diversos laboratórios e setores adminis­ trativos por quatro meses. Apesar da du­ ração, o acordo de aumento salarial foi fechado em 10,8% e não em 27,5% como havia sido proposto pelo comando do Sintet­UFU. Nossos repórteres ouviram membros da categoria e suas diferentes percepções sobre os desdobramentos da greve e como foi conduzida. Pág. 5

Quando você sofre um assalto, faz o quê? Chama a polícia? E quando a polícia diz que a culpa é sua? Às ve­ zes, os responsáveis por proteger são os mais coniventes com a insegu­ rança. Pág. 11

Pirataria na internet

Lei brasileira prevê punição a quem disponibiliza downloads na internet sem autorização. Porém, segundo espe­ cialista, raramente a lesgislação é cum­ prida. Nessa terra sem lei, como forma de lucro indireto, provedores faturam com publicidade. Brasil é o segundo país com mais downloads em ranking de pirataria e o Popcorn Time está entre as plataformas mais usadas para assis­ tir conteúdo sem pagar. Pág. 10

Ygor Rodrigues

Jovens empreendedores


Dizem que manter um pouco da rivalidade entre times, atletas, gru­ pos é saudável. Mas, e quando essa rivalidade ultrapassa os limites do respeito ao outro e do bom senso? Um cartaz produzido por uma bate­ ria da UFU para as Olimpíadas Uni­ versitárias, que aconteceram em novembro, circulou pelos campi e pelas redes sociais. A frase era: “Eu não gosto da Educa e nem de mus­ culação. Isso é coisa pra maluco. É pra via*o e sapat*o”. Rapidamente, os alunos compartilharam frenetica­ mente o absurdo e começaram a discutir mais uma vez o caráter ho­ mofóbico de diversas entidades es­ portivas e artísticas dentro das universidades. A colocação infeliz presente no cartaz, entretanto, não foi criada ex­ clusivamente para estampá­lo. Ela faz parte do hino da primeira bate­ ria universitária do Brasil, criada em 1969 para animar os jogos. Acontece que a trajetória construí­ da por centenas de jovens não é marcada apenas pelo ritmo harmo­ nioso dos instrumentos. Os diver­ sos termos preconceituosos presentes em seus gritos de guerra e hino reforçam o estereótipo nega­

tivo e a antipatia que algumas enti­ dades ganharam ao longo dos anos por grande parte dos estudantes. No meio do ano, outra polêmica.

Como parte da recepção aos ingres­ santes de um curso, os veteranos pediram que as calouras usassem uma imagem na rede social com os

dizeres: “Cê é burra hein, bixete! Sou da 97 e assumo a função de garçonete da 96 com muito orgu­ lho”. Desabafos e “textões” repu­ diando a ação machista, que incitava a submissão das novatas e fazia analogia a uma posição su­ perior ocupada pelos veteranos, foram rebatidos e justificados pelo famoso “é só uma brincadeira” e “geração mimimi”. Entidades acadêmicas como essa, com um histórico bonito enquanto atlética e bateria, existem aos mon­ tes pelo país e o pior, dentro dos espaços de ensino que deveriam servir para edificar os estudantes não apenas no sentido profissional, mas também social e humano. A chance de esses jovens perpetuarem brincadeiras até então inofensivas é grande, e, passou da hora de tratar os debates sobre as questões de se­ xualidade, gênero e diversidade não como mimimi, e sim como um di­ reito individual que deve ser respei­ tado. Reflexões sobre o tema também merecem atenção dos que estão próximos de atitudes como as do cartaz e dizem não concordar com elas, afinal, ver de camarote o preconceito e se omitir sobre o tema agride tanto quanto exercitá­lo.

O ódio além da vida virtual Lais Vieira Ao longo do tempo, percebe­ mos o quanto hábitos retrógados foram sendo minimizados e dei­ xados de serem praticados pela sociedade brasileira, mas, o que não foi abolido foi a intolerância e o preconceito, que agora se ex­ pandiram também para o meio virtual. Só no ano de 2014, foram recebidas mais de 86 mil denún­ cias de racismo e 4,2 mil de ho­ mofobia na internet. O grande número de casos denunciados torna quase utópica a investiga­ ção das autoridades para cada co­ mentário individual.

Sempre que vejo casos de into­ lerâncias e disseminação de ódio em comentários na web, seja em redes sociais, blogs ou sites, me lembro de uma frase da genial jor­ nalista Eliane Brum, que diz: “Desde que as redes sociais abri­ ram a possibilidade de que cada um expressasse livremente, diga­ mos, o seu ‘eu mais profundo’, a sua ‘verdade mais intrínseca’, des­ cobrimos a extensão da cloaca hu­ mana”. Penso que é isso o que acontece na sociedade brasileira. As pessoas parecem encontrar na internet um meio para expressar o que pensam, quando têm medo ou vergonha de falar na “vida real”. Comentários racistas, homofó­

bicos, machistas, incitações à into­ lerância e ao estupro são exemplos do teor de comentários que se vê e lê no meio virtual. É assustador, intrigante e revoltante. A impunidade a esses casos de disseminação de ódio pela inter­ net também é algo desanimador, por causa de perfis fakes (falsos). Porém, um caso recente de inci­ tação ao crime foi o do ex­candi­ dato a deputado pelo PSDB do Distrito Federal, que gravou um vídeo ameaçando a presidenta Dilma de morte, e o publicou em redes sociais. O fato gerou tanta repercussão e bafafá, que o ato foi denunciado e o advogado foi in­ diciado. Mas, e os casos de pesso­ as comuns, anônimas, que são

ridicularizadas e ameaçadas na internet?! Qual é a proteção e justiça para elas? Se o ódio disseminado já ultra­ passou os limites da internet e che­ gou à vida real, provocando até mesmo morte, o que virá pela frente depois disso? Sinceramente, não sei até onde vai essa disseminação gra­ tuita nas redes sociais e se a justiça brasileira vai ser capaz de punir to­ das as pessoas que se escondem atrás de seus computadores e celu­ lares. Acredito que isso já passou dos limites da normalidade, raciona­ lidade e sensibilidade. Falta compaixão, alteridade, respeito, compreensão e empatia com os outros e também com nós mesmos.


Uma ideia na cabeça e dinheiro no bolso Um negócio inovador, tecnológico e, no geral, comandado por jovens empreendedores que conseguem en­ contrar formas de solucionar proble­ mas com pouco dinheiro e muitos sonhos. Este é o conceito de startup. Apesar do nome não ser ainda tão popular, segundo dados de 2014 da Associação Brasileira de Startups (ABStartups), existem 2,8 mil em­ presas desse tipo mapeadas no Bra­ sil, mas a estimativa é que tenham mais de 10 mil. Só no ano de 2012, esse setor movimentou quase R$ 2 bilhões. Pedro Paulo Silveira, estudante do segundo período do curso de Ci­ ência da Computação da UFU, criou há pouco mais de dois anos a startup Manual Hacker. A ideia era ter um aplicativo que fosse capaz de testar a segurança de sua própria rede de internet, já que ele não encontrava alguma ferramenta que atendesse essa necessidade. Silveira, que na época já fazia um curso técnico de informática, começou a desenvol­ ver o software sem ajuda de nin­ guém. “Juntei notícias de segurança e tecnologia porque eu não queria só mostrar a deficiên­ cia na rede para o usuário, queria mostrar os caminhos para ele re­ solver o problema”, explica. O jovem estudante ressalta que só tomou conhecimento de que sua ideia poderia ser uma startup em ja­ neiro deste ano quando chegou em Uberlândia. “Eu tinha um produto, as

pessoas usavam, baixavam, gosta­ vam, mas eu não sabia o que era. Com um ano de funcionamento tinha mais de 120 mil usuários em 30 paí­ ses diferentes, então não era uma empresa convencional”. O investi­ mento inicial de Pedro foi de R$50,00 e nesse período ele já conse­ guiu multiplicá­lo. O lucro do empreen­ dedor de 20 anos é gerado através dos anúncios e da versão paga do aplicativo. Diretor executivo de startups da Associação das Empresas de Tecno­ logia da Informação de Uberlândia (I9), Bruno Gregório, revela que existe um mercado promissor na re­ gião. “Ao longo dos anos vimos que têm muitas pessoas qualificadas e empreendedoras na área de tecnolo­ gia que possuem o desejo de fazer seu próprio negócio”. Para alimen­

"Nas startups geralmente en­ contramos um negócio com ba­ se tecnológica", diz Bruno Gregório tar ainda mais o empreendedoris­ mo, em abril deste ano a cidade recebeu o I9 Hub, um espaço cria­

Thinkstock

Foto: Gabrieli Mazzola

Ellen Melo

do em parceria com o Sebrae com a intenção de ser um ponto de en­ contro para empreendedores, pes­ quisadores e estudiosos da área de tecnologia da informação. Gregório também já possui uma startup, a Polifrete, um aplicativo no qual as empresas informam qual carga precisa ser transportada e os motoristas de caminhão conseguem visualizar as demandas. Em pouco mais de um ano, o aplicativo tem cerca de 6 mil motoristas e 300 transportadoras cadastradas. Para o diretor executivo, a principal dife­ rença entre uma pequena empresa e uma startup são as perspectivas. “Nas startups geralmente encontra­

mos um negócio com base tecnoló­ gica, que tem um modelo de negócio escalável. Isso quer dizer que você não vai atender só a sua região, você almeja atender o Brasil ou até mundo”, afirma. Márcia Freire, professora da dis­ ciplina de Empreendedorismo da Faculdade de Gestão e Negócio (Fa­ gen) da UFU há cinco anos, declara que abrir uma empresa é uma opção levada em conta pelos estudantes. “Alguns alunos vislumbram a possi­ bilidade de serem empreendedores, mas estes representam cerca de 15% da turma. Em geral, são pessoas que possuem forte desejo de autono­ mia e buscam a realização de um so­ nho mediante um negócio próprio”. Para a coordenadora de startups do Sebrae Minas, Liliane de Carvalho, as startups de sucesso são aquelas que conseguem afetar diretamente a vida das pessoas. “A área da educação pas­ sa por uma verdadeira transição, o setor da saúde infelizmente tem mui­ tas deficiências e a internet está cada vez mais chegando ao nosso dia­dia. É necessário procurar onde estão as bo­ as oportunidades e nesses setores as chances de criar algo inovador são maiores”, explica. A coordenadora também alerta: “Hoje em dia as pes­ soas ainda acham que só ter uma boa ideia já é suficiente, mas não adianta não conseguir executá­la. É preciso ver se há espaço no mercado”.


Projeto reduz efeitos da menopausa Foto: Isabella Rodrigues

Isabella Rodrigues nalizou o projeto em setembro, e o segundo, com 32 voluntárias, acabará em dezembro. Puga ex­ plica que no treinamento a equi­ pe combina a intensidade dos exercícios de acordo com cada mulher. A seleção das partici­ pantes da pesquisa acontece a partir de uma triagem que anali­ sa quem não toma medicamentos para doenças crônicas, já que is­ so pode influenciar os resulta­ dos.

Experiência

Oscilação de humor, insônia e o famoso “calorão”. Esses são os principais sinais de que a mulher está entrando na menopausa, pe­ ríodo em que ela para de mens­ truar e não tem mais vida fértil. Pensando nisso, o projeto “Ativi­ dade Física e Menopausa”, do curso de Educação Física, em parceria com a Nutrição, Fisiote­ rapia e Medicina da UFU, busca reduzir em até 70% os sintomas

da menopausa. As participantes passam por treinamento físico associado à isoflavona, proteína derivada da soja, que age como repositor hormonal natural. O professor e coordenador do pro­ jeto, Guilherme Puga, diz que idealizou a pesquisa sobre o te­ ma com alguns alunos desde 2013, mas só no início de 2015 o projeto entrou em prática. O pri­ meiro grupo de 21 mulheres fi­

A estudante de Educação Físi­ ca Tállita Cristina, faz parte do projeto e conta que está fazendo seu TCC sobre o tema e pensa em ir mais adiante. “Para mim foi uma experiência nova que aca­ bou me trazendo muitas ideias e, quem sabe, até um projeto de mestrado”, declara. Alunos de outros cursos tam­ bém podem colaborar. A Fisiote­ rapia, por exemplo, auxilia no fortalecimento do assoalho pélvi­ co das mulheres, através de exer­ cícios contra a incontinência urinária. Os estudantes de Nu­ trição também participam das análises de alimentação das par­ ticipantes, enquanto coletas de sangue são analisadas pelo Ins­ tituto de Genética e Bioquímica

Pesquisa: teoria e prática alavancam o futuro Giovana Oliveira Uma das grandes oportunida­ des que as instituições de ensino superior proporcionam são as pes­ quisas de desenvolvimento produ­ zidas pelos alunos. A UFU não se difere das demais e é base para pesquisas em todas as áreas de co­ nhecimento. Segundo o Pró Reitor de Pes­ quisa e Pós Graduação da UFU, Marcelo Emílio Beletti, não exis­ tem dados fixos da quantidade de pesquisas que são realizadas na universidade atualmente, já que, constantemente, projetos são con­ cluídos e outros iniciados, mas de

modo geral ele ressalta que “no momento, entre projetos financia­ dos pelo Conselho Nacional de De­ senvolvimento Científico e Tecnológico (Cnpq), pela Fundação de Amparo à Pesquisa do estado de Minas Gerais (Fapemig), projetos sem financiamento ou com financi­ amento da universidade, nós esta­ mos com mais de 1.000”. André Ramos e Jhonas Moura, alunos do curso de Engenharia Mecatrônica da UFU e componen­ tes da Equipe de Desenvolvimento em Robótica Móvel (Edrom) – premiada em competições como a

Competição Robótica da América Latina de 2012 – ressaltam a im­ portância da prática na pesquisa. “A gente aprende de uma maneira diferente do que aprenderíamos em sala de aula, observamos as outras pessoas fazendo e com is­ so adquirimos experiência”, con­ ta Ramos. Além disso, traçam expectativas para o futuro da continuidade das pesquisas: “Na nossa área, pelo menos na Edrom, vamos conseguir manter o nível de conhecimento, nos aprimorar e ensinar aos mais jo­ vens”, afirma Moura.

(Ingeb) da UFU. Alguns acadê­ micos ganham bolsa pela Fape­ mig, outros têm iniciação científica voluntária e há tam­ bém a contribuição de alunos da pós­graduação.

Resultados Segundo Puga, a equipe do projeto já analisou exames e questionários do primeiro grupo de mulheres e observou que, em todas elas, houve melhoras sig­ nificativas. Marcione Alves, 53, declara que, quando entrou na menopausa, sentia calor intenso e acordava muito durante a noi­ te. “[Após o projeto] a disposição melhorou, já não sinto mais tan­ to calor e cansaço e tenho mais ânimo para fazer as coisas”, as­ segura. No início do ano que vem, o projeto será aberto às mulheres hipertensas e diabéti­ cas para ver como elas reagem à isoflavona e ao treinamento. A expectativa agora é de elaborar um projeto de extensão para prestar atendimento permanente. “A intenção é que nos próximos anos a gente consiga abranger tanto a pesquisa quanto a exten­ são e atenda mais mulheres, além de ajudar os acadêmicos a ter ex­ periência para o mercado de tra­ balho”, afirma Puga.

Saiba como iniciar uma pesquisa O aluno pode desenvolver pes­ quisas por meio de programas co­ mo o Jovens Talentos, Programa Institucional de Bolsas de Inicia­ ção Científica (Pibic) e o Programa Institucional de Iniciação Cientí­ fica Voluntária (Pivic), que utili­ zam verbas de origem pública, vindas de instituições como CNPq e Fapemig. Para maiores informações, visite os sites: www.jovenstalentos.capes.gov.br www.propp.ufu.br www.fapemig.br www.cnpq.br


Greve dos técnicos termina sem atingir objetivos Maior greve da história mostrou fragilidade do sindicato e servidores planejam novo movimento Com duração de quatro meses, a greve dos técnicos administrativos deste ano foi a mais longa da histó­ ria. Entre as reivindicações estavam o reajuste salarial de 27,5%, aprimo­ ramento do plano de carreira e a re­ vogação da lei de criação da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH). Apesar de muitos servidores participarem ati­ vamente durante a paralisação, ou­ tros sequer comparecem aos encontros e sentem­se insatisfeitos com o caráter político da greve. Uma servidora, que preferiu não ser identificada, afirma: “eu estava de greve, grevíssima, só aprovei­ tando meu tempo livre; não fre­ quentei as assembleias pois não tenho interesse político. Porque greve é isso, é política”.

"A nossa greve é financiada pelo governo. [...]", diz Vilmar de Faria ­ Vigilante A UFU conta hoje com aproxi­ madamente 5.500 técnicos admi­ nistrativos em seus campi. Desses, 3.800 servidores são filiados ao Sindicato dos Trabalhadores Téc­ nico­Administrativos em Institui­ ções Federais de Ensino Superior de Uberlândia (Sintet­UFU) e aderiram à última greve. Apesar dos números expressivos, menos

de 10% dos técnicos sindicaliza­ dos, cerca de 300, comparecem com regularidade às reuniões deliberativas realizadas e participam dos movimentos. Na assembleia em que se decidiu pela adesão à greve, por ex­ emplo, estiveram presentes 228 pes­ soas. Na última, realizada em 8 de outubro no campus Educação Física da UFU, que pôs fim à pa­ ralisação da categoria, um núme­ ro ainda menor, 120 servidores. Para a técnica Lívia Carina Reis, do Instituto de Física da UFU, que se engajou no movimento e compare­ ceu às reuniões, elas não esclarecem o andamento da paralisação. “Parti­ cipei das assembleias e fui ao sindi­ cato para saber como estavam as negociações, porque as assembleias não dão muita noção”, aponta. Em contrapartida, existem tam­ bém denúncias de servidores que aproveitam o tempo para viajar ou conseguir um “dinheiro extra” – ambas as práticas são ilegais. “O que falta para nós é formação política dessa categoria. Vejo muito mais como uma falta de competência nossa do que fazer­ mos vista grossa”, critica Silnan­ do Ferreira, coordenador geral do Sintet, que afirma ainda que a re­ ponsabilidade pelos atos durante a greve é de cada um. “Na verda­ de a gente escuta que muitos cor­ rem atrás de outras funções pra arrecadar um dinheirinho, mas a gente não pode responder sobre

Foto: Guilherme Gonçalves

Gabrieli Mazzola Hiago de Paula

isso porque recai sobre a necessi­ dade de cada uma dessas pessoas. Nesse sentido nem o sindicato nem a universidade têm o poder, nem tempo de ficar verificando quem fez isso ou aquilo”, afirma.

Denúncias A direção da Universidade rece­ be as denúncias que, muitas vezes, são feitas baseadas em posts nas re­ des sociais. “Se houver uma [de­ núncia] vamos tramitar tudo isso, não vai engavetar. Às vezes, as pes­ soas fazem denúncias muito curtas, muito vazias, mas de qualquer ma­ neira a universidade apura”, defen­ deu Luiz Bertolucci, diretor de provimento, acompanhamento e administração de carreiras da Pró­ Reitoria de Recursos Humanos (PROREH). Caso uma denúncia se­ ja comprovada, é aberto um proces­ so administrativo que dá ao servidor o direito de defesa e, se ne­ cessária, a investigação pode resul­ tar em exoneração do cargo. Sobre a reposição das horas traba­ lhadas, o vigilante Vilmar Antônio de Faria, da Divisão de Vigilância e Se­ gurança Patrimonial (Divig), acredita que os servidores deveriam repor o trabalho e não receber durante o período. “A nossa greve é financiada pelo governo. Portanto, no meu en­ tendimento, temos que perder o ponto. Você ganha para produzir, você não produz, tem que fazer o

quê? Cortar o ponto”, diz. O Senso InComum procurou alguns dos técnicos que, de acordo com denúncias, teriam utilizado o tempo livre de forma indevida. Os contatados pelas redes sociais não se manifestaram sobre o assunto até o fechamento da matéria, já entre os questionados pessoalmente, houve quem respondesse que não gosta­ ria de falar sobre o assunto e quem aceitou falar, desde que mantido o anonimat o.

Resultados da greve O acordo firmado entre a Fe­ deração de Sindicatos de Traba­ lhadores Técnicos­Administrativos em Instituições de Ensino Superi­ or Públicas do Brasil (Fasubra) e o Governo Federal, acatado pelo Sintet, contempla um aumento salarial de 10,8% em dois anos e o deslocamento da data base de ja­ neiro para agosto. Os técnicos ha­ viam rejeitado uma primeira proposta do Ministério do Plane­ jamento, de realizar um reajuste maior, de 27,5%, porém em quatro parcelas. Para Silnando Ferreira, a decisão não foi satisfatória, mas dá tempo ao sindicato para pensar futuras articulaçõs. “Pelo menos nós temos um fôlego para prepa­ rar nossos instrumentos de luta pa­ ra, em 2017 ou 2018, pensarmos de novo em fazer uma greve”, conclui Ferreira acerca da situação.


Reitoria afirma: "seguranç Daniel Pompeu, Mateus Augusto Ferreira e Timoteo Junior

A criminalidade nas universida­ des públicas afeta alunos e servido­ res nessas instituições. Na UFU as ocorrências de tráfico de drogas, tentativa de estupro e roubos intimi­ dam quem passa boa parte do dia nos campi. O debate entre a presen­ ça da Polícia Militar (PM) e outras formas de prevenção é ancorado por ideologias opostas e dados desen­ contrados. Um dos casos preocupantes que ocorreram na UFU foi de uma servi­ dora que preferiu não ser identifica­ da. Ela relata que ficou presa em sua sala com um invasor que pedia abri­ go, pois estava sendo perseguido por traficantes que tinham a intenção de matá­lo. Mesmo após o ocorrido, a servidora não notou diferenças no patrulhamento de segurança. “A gen­ te aqui dentro têm a ilusão de que es­ tá seguro, por ser um campus, estar fechado e ser uma Universidade”, completa. Eduardo Guimarães, vice­ reitor da UFU, afirmou ter conheci­ mento do caso e que, após o ocorrido, a Divisão de Vigilância e Segurança Patrimonial (Divig) tem patrulhado o

local com maior frequência. O vice­reitor também apontou que, atualmente, a comunidade aca­ dêmica dispõe da Vigilância Patri­ monial e de homens da Divig responsáveis pela proteção do mate­ rial humano. Segundo Guimarães, os poucos membros da Divig – cerca de 50 –, não estão preparados para agir em determinados casos. “O número é insuficiente. Se tivesse uma políti­ ca do Estado para que a universida­ de recontratasse seguranças, nós teríamos, provavelmente, cerca de

“Estamos analisando a possibilidade de um convênio com a PM”, afirmou o reitor Elmiro Rezende. 300 profissionais nessa área”, avalia. Foi apurado também pela nossa reportagem o furto a uma servidora no Instituto de Geografia. Procurado pelo jornal, o diretor do Instituto, professor Claudio Antônio Di Mauro, não quis gravar entrevista, e apenas confirmou o ocorrido. O jornal apurou uma série de denúncias que envolvem membros do instituto, mas que não serão publicadas por

Foto: Daniel Pompeu

falta de comprovações oficiais. A PM nos campi Entre os dias 23 de junho e 23 de julho, o Diretório Acadêmico da Fa­ culdade de Engenharia Elétrica (Dafe­ elt) realizou uma pesquisa online com técnicos, professores e alunos sobre a presença da Polícia Militar dentro dos campi. Das 2.400 pessoas que res­ ponderam, entre os votos válidos (2.303), 97,1% aprovam a presença da PM em maior ou menor grau, 52,7% são a favor de um posto policial, 39,4% reivindicam rondas frequentes da PM e sua presença quando for soli­ citada e 5% preferem que os policiais entrem no campus quando forem cha­ mados. Apenas 2,9% dos votos são contrários à PM em qualquer situação. A pesquisa foi feita depois que um aluno foi assaltado por um homem com um facão próximo ao bloco 1E, da Engenharia Elétrica. Embora a pesquisa aponte uma possível unanimidade, diferentes se­ tores da universidade ainda ofere­ cem resistência a um posto policial dentro do campus. O estudante de Engenharia Elétrica, Frederico Vile­ la, um dos responsáveis pela pesqui­ sa, afirma que há um consenso entre os organizadores de que a implanta­ ção de um posto policial não é ade­ quada. “Ter um posto aqui dentro é complicado porque você tem uma juventude que se acha diferente da lá de fora. Ela se acha superior ao resto. Montar um posto policial aqui é ter briga todo dia de policial com aluno”, defende. Para o Diretório Central dos Es­ tudantes (DCE) existem alternativas para a insegurança além da Polícia Militar. “O nosso posicionamento é que a PM não resolve o problema que temos dentro da universidade”, diz a coordenadora de organização do DCE, Gabriela Schwartz. Para o diretório, o campus não está imune aos índices de criminalidade do en­ torno. "Se acontecem crimes do lado de fora, se existe tráfico do lado de fora da universidade, dentro tam­ bém vai ter. A universidade faz parte da sociedade como um todo”, defen­ de. Com relação às medidas paliati­ vas, Gabriela afirma que o DCE tem desenvolvido, em conjunto com a reitoria e alunos da Engenharia da Computação, um aplicativo de celu­ lar para facilitar o registro de ocor­ rências dentro dos campi.

"A PM não resolve o problema que temos dentro da universidade”, diz Gabriela Schwartz, coordenadora do DCE. Apesar dessa indefinição, consti­ tucionalmente, não há nada que im­ peça a entrada da PM nas dependências da universidade. É o que explica o promotor do ministério público, Fábio Guedes Machado: “O campus está integrado na sociedade e no município. Então não existe essa questão de não ser aplicada a lei. Ora, se compete à Polícia Militar, de acor­ do com o artigo 144 da Constituição Federal exercer o policiamento pre­ ventivo, por que não?”


ça na UFU é insuficiente" Segundo o reitor Elmiro Rezende, uma parceria com a PM tem sido es­ tudada há algum tempo. “Nós cons­ truímos propostas e estamos analisando a possibilidade de um convênio bastante amplo com a polí­ cia militar”, informa. O reitor sina­ lizou ainda que o policiamento ostensivo também está previsto no convênio com a Polícia Militar, com data incerta para efetivação. Sobre a possibilidade de um posto da polícia dentro do campus, Rezende afirmou que “até esse momento não foi con­ siderada como essencial, nem por nós e nem pela PM”. Algumas universidades em Minas Gerais já contam com a presença de postos da polícia dentro dos campi, como nos casos de Lavras (Ufla) e Viçosa (UFV). Em Lavras, a reitoria fechou parceria com a PM para cria­ ção de um posto policial comunitário no campus, onde, desde junho de 2011, seis agentes se revezam em du­ plas com o apoio logístico de quatro motos e uma viatura. Na universida­ de de Viçosa, a PM conta com o su­ porte de 200 câmeras de monitoramento e 300 centrais de alarme. Drogas e Criminalidade Entre agosto e outubro de 2015, a Polícia Federal (PF) realizou a cha­ mada “Operação Atalaia”, que mape­ ou o uso e tráfico de drogas dentro da UFU, além de produzir imagens que comprovaram as ocorrências. A investigação identificou, dentre os envolvidos, alguns menores de idade e outras pessoas que não têm qual­ quer vínculo com a instituição. Em entrevista ao SensoIncomum, o delegado da PF em Uberlândia, Car­ los Henrique Cotta D’Ângelo, negou que tenha sido constatada ameaça aos servidores públicos durante a operação e disse que o tráfico na UFU não se configura em gangues, mas sim em um grupo único. O diretor da Faculdade de Enge­ nharia Civil (Feciv), Dogmar Antonio de Souza Junior, e o professor de To­ pografia, Marcio Augusto Reolon Schmidt, são responsáveis por um abaixo­assinado que pede maior se­ gurança dentro da universidade. Sch­ midt afirma que a ideia surgiu após o crescente número de usuários e trafi­ cantes de drogas na porta da Feciv, sendo alguns deles armados, somada aos pedidos de intervenção negados pela Prefeitura Universitária. “No

momento em que a gente se sente acuado, faz a solicitação e não é atendido, nós entendemos que, para os que trabalham no bloco, não dá para esperar”, conta. Entre as medidas a serem tomadas, a reitoria anunciou que vai terceirizar a instalação e monitoramento de câmeras de vigilância na universidade. Com o projeto de terceirização, o número de câmeras instaladas saltará de cerca de 10 para 84, em pontos estratégicos ainda a serem definidos. Segundo o diretor de logística da UFU, Wesley Marques, o projeto base deve demorar mais três meses para ser finalizado e só a partir daí a empresa de vigilância poderá ser licitada. Do outro lado, um dos traficantes que frequenta o Jambolão, principal ponto de venda e consumo de drogas apontado pela PF dentro da UFU, que pediu para não ser identificado,

“A gente faz a solicitação e não é atendido. Entendemos que não dá para esperar”, conta Dogmar Júnior, diretor da Feciv. relata que existe um “acordo" entre os aviões (responsáveis por buscar e entregar a droga para os clientes), que portam e vendem poucas quantidades de entorpecentes, visando manter a Polícia Militar fora do campus. Quem cometer delitos que façam com que a PM seja chamada, como assaltos e roubos, “apanha” dos outros, explica. Ele conta que, apesar de vender drogas, não costuma utilizá­las por medo do vício. “Aconteceu com vários amigos meus, se internaram por causa de droga. Usei maconha algumas vezes, mas nunca gostei”.

Locais com maior índice de ocorrências na UFU, como: assédios moral e psicológico, uso e tráfico de drogas, furtos e ameaças à mão armada.

Arte: Amanda Cristina

Quando se liga a televisão nos principais noticiários do país, o que se vê são crimes hediondos, caça a bandidos e violência. São exibidos programas que dedicam toda a sua grade à cobertura de crimes, perseguição da polícia e prisão de infratores. As cenas flagradas por câmeras de segurança passam dezenas de vezes a fim de despertar insegurança no telespectador. Isso tem seus efeitos. A população se sente cada vez mais amedrontada e esse sentimento se estende também para dentro dos muros das universidades Brasil a fora. Casos de estupro, assaltos, uso e tráfico de drogas e até mesmo homicídios são pautas para a discussão da inserção da Polícia nos Campi Federais. A Universidade de São Paulo (USP) implantou em setembro desse ano um novo modelo de segurança que prevê a atuação da PM no Campus. Essa medida foi adotada após a morte de um estudante durante uma tentativa de assalto no final de agosto. Tal quadro de violência não destoa do visto na UFU, uma vez que ela não é uma bolha imune às mazelas de seu exterior. O que separa o assaltante da comunidade acadêmica são apenas alguns passos. Afinal, se a universidade pertence ao público, a comunidade externa pode e deve ter livre circulação pelas áreas de convívio dos

campi. É por isso que o problema tem que ser tratado também no âmbito da segurança pública, a mesma que trata de qualquer outra área da cidade. Diferentemente da aprovação vista na pesquisa de opinião dos discentes divulgada em reportagem central nesse jornal, 62% dos brasileiros têm medo da polícia, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública e não há garantias de que os programas implantados pela USP, assim como por outras instituições públicas, terão sucesso. O Brasil, hoje, tem uma das polícias que mais mata no mundo, de acordo com relatórios da Anistia Internacional. A USP divulgou em seu site que a iniciativa pretende promover a democratização da PM, propiciando um diálogo entre a Instituição e a força policial. No momento em que a UFU estuda a implantação de medida similar, toda a sua complexidade deve ser explorada pela administração. Há que se levar em conta que colocar um posto policial dentro dos campi não cabe somente à reitoria, Ministério Público e comunidade acadêmica, mas também depende do entendimento estratégico e logístico da PM. Exigir uma base exclusivamente na UFU, sem que essa tenha fundamento estatístico que se justifique, é superestimar o contexto em que vivemos.


Ygor Rodrigues “É uma parte fundamental da nossa identidade. Como vamos ser nomeadas se não podemos ter um nome que nos acolha?”, destacou a aluna do curso de psicologia da UFU, Sofia Carneiro de Sá, mulher trans, após a aprovação do nome so­

"Você é aquilo que seu nome diz", argumenta Pedro Ferreira

cial na instituição. A discente foi a primeira a solicitar o procedimento. Aluno do curso de direito, Pedro Ferreira, homem trans, elucida que a aprovação da resolução é de suma

importância para a permanência da pessoa trans na universidade. Para ele: “você é aquilo que seu nome diz”. Concordando com Pedro, Sofia declara que “seria muito mais an­ gustiante circular na universidade com o nome de registro”, e com a mudança ela se sente existente no espaço acadêmico. O direito de possuir o nome social nos registros universitários foi apro­ vado em 30 de janeiro, no Conselho Universitário (Consun). Para a do­ cente do Instituto de Ciências Soci­ ais, Maria Lúcia Vannuchi, escolher o próprio nome, “condizente com sua identificação de gênero, é um Direito Humano”. Ela ressalta que, apesar dos passos importantes que estão sendo dados na Universidade, ainda há muito que caminhar.

Foto: Pedro Vitor Alves

Nome social: direito garantido na UFU

Para solicitar a mudança, é necessário comparecer à Central de Atendimento ao Aluno. De acordo com o diretor de Administração e Controle Acadêmico (DIRAC), Paulo Resende, o resultado do procedimento leva de 60 a 90 dias. Após a burocracia, é enviado um e­mail para a coordenação do curso, para que os professores possam imprimir outra lista de chamada. Até o momento, oito pessoas solicitaram o requerimento do nome social.

Ajuste fiscal impacta contas da Universidade Laura Fernandes

O governo federal apresentou um déficit orçamentário para 2016 de 30 bilhões de reais e, para tentar re­ verter essa situação, optou por cor­ tar gastos. A solução afetou diretamente as universidades públicas. O corte na verba para o Ministério da Educação foi de 9,4 milhões de reais. Com o contingen­ ciamento de verba, a UFU acabou tendo que conter gastos e remanejar os recursos. Sobre as decisões da universidade para garantir a manu­ tenção diante deste cenário, o pró­ reitor de planejamento, José Fran­ cisco, declara que decidiu eliminar postos de trabalho e rever preços de despesas. “Todos os nossos contra­ tos foram revistos para tentar bus­ car alguma economia de recursos”, diz. Sobre a contratação de profes­ sores, a pró­reitora de recursos hu­ manos, Marlene Marins, afirma: “as vagas de novos professores ainda não foram suspensas. De suspensão, nada oficial”. Os reajustes se esten­ derão pelo próximo ano.


Crise no HC-UFU afeta saúde da região Victor Fernandes O Hospital de Clínicas da UFU (HC­ UFU) está em crise. Em setembro deste ano, foram reduzidos os aten­ dimentos no Pronto Socorro e sus­ pensas cirurgias eletivas e de urgência. Por falta de seringas, lu­ vas, gaze e medicamentos, somente 20% dos pacientes que buscaram o hospital foram atendidos. O local deveria receber mais de 1400 pesso­ as diariamente, realizando quase 2 mil cirurgias por mês. O HC é o úni­ co hospital da região capaz de aten­ der casos de alta complexidade, mesmo assim tem déficit mensal en­ tre R$ 1,5 milhão a R$ 2 milhões e já teve suas portas fechadas em situação parecida no ano de 2013. O diretor­geral do HC­UFU, Dr. Miguel Tannus Jorge, define a situ­ ação como “anormal”. “O HC possui um problema real de recursos. Nas atuais condições do hospital, , nós não conseguimos [atender os paci­ entes]”, explica.

Infografia por Amanda Cristina

"O Hospital de Clínicas está em crise," afirma vice­ reitor.

Foto: Alex Furtado

Em setembro houve duas paralisa­ ções dos médicos residentes do hospi­ tal em protesto pelo estado do HC. Em virtude das restrições no mês de setembro, a motorista de ambu­ lância da cidade de Patrocínio, Va­ nilde Aparecida Melo, disse que teve de voltar sem atendimento com um paciente que havia sido encaminha­ do para o HC­UFU. “Chegando no hospital, soubemos que não estavam atendendo. São quase duas horas e meia de viagem, e isso foi muito des­ gastante para nós, principalmente para o paciente”, pontuou.

município (UAIs) cresceu 55%, se­ gundo dados da Secretaria de Saúde de Uberlândia. Em 2014, a média de consultas no Pronto­Atendimento das UAIs era de 46 mil por mês. Em 2015, o número aumentou para 72 mil, o que elevou o consumo de ma­ teriais, gerando a falta de insumos também na rede municipal. O Sindi­ cato dos Médicos de Minas Gerais (Sinmed) orientou os profissionais a suspenderem atendimentos nos lo­ cais onde faltarem itens básicos e la­ vrar boletim de ocorrência, o que aconteceu nas UAIs do Bairro Planal­ to, Presidente Roosevelt e Martins.

UAIs

Ebserh

A procura de pacientes pelas Uni­ dades de Atendimento Integrado do

A solução para os problemas ad­ ministrativos e de recursos podem

ser a adesão do HC­UFU à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), sinaliza a Reitoria. O vice­ reitor da UFU, Eduardo Nunes Gui­ marães, explicou a situação. “O HC está em crise. A nossa vontade é re­ solver o problema, seja pela Ebserh ou outra solução via Fundação”, diz O hospital só retornou os atendi­ mentos por meio de um aporte de R$2 milhões feito pela Ebserh para a compra de materiais. A verba será viabilizada mensalmente pela em­ presa até a definição do Conselho Universitário sobre a adesão. “Em 2013 éramos contra a entrada ime­ diata. Passados dois anos, nós en­ tendemos que o momento do diálogo precisa ser reconstruído”, finaliza o vice­reitor.


Em terra de ninguém, legislação pouco resolve Bianca Guedes Dentre as inúmeras liberdades que o universo online oferece, está o uso gratuito de serviços anteriormen­ te pagos, como baixar músicas e as­ sistir filmes. Nesse contexto, os usuários de plataformas que ofere­ cem esses recursos de download e streaming não autorizado são alvos de processos. Mas, afinal, o que diz a lei brasileira sobre isso? O professor de Direito na UFU, João Victor Longhi explica que “pro­

priedade intelectual é o ramo do Di­ reito que discute a exclusividade de exploração patrimonial sobre certos bens imateriais”. Ele aponta que, em­ bora os direitos autorais tenham surgi­ do para proteger o autor da obra, acabam defendendo “os exploradores econômicos, como as gravadoras”. No Brasil, a punição, seja crimi­ nal ou civil, normalmente é direcio­ nada a quem disponibiliza o download não autorizado. “Se você tem um uso privado, sem intenção

de lucro, a tendência é de que não haja punição”, diz Longhi. O professor esclarece que, mesmo o usuário não pagando o download, os provedores “utilizam seus dados para vender publicidade. Isso é uma forma de lucro indireto”. Longhi explana que a legislação brasileira passou a proteger mais o provedor do downlo­ ad não autorizado, pois “você só pode responsabilizar o provedor, uma vez que notificado, no site, que aquele conteúdo viola direitos autorais”. O

blog Forúm de Livros Pepper Girl parou de disponibilizar livros gratui­ tamente quando foi denunciado por editoras. “O blogspot trancou nossa conta, então paramos de distribuir. Não houve punições legais, só cance­ laram”, relata a administradora da página. Assim, a página passou a traduzir e publicar gratuitamente apenas livros inéditos no Brasil e ainda não tiveram nenhuma queixa das autoras, que são americanas.

“Nunca ouvi falar de ninguém que foi punido.” ­ AJ

Arte: Natasha Cristina e Bia Yuki

Usuários de downloads não autorizados, estudante da UFU ­ PB ­ e graduando da UNB ­ AJ ­ , declaram saber que não se trata de um serviço claramente legal. “Compreendo que o serviço é ilegal, mas se fossemos pagar por tudo que vemos ilegalmente na internet, a maioria de nós não teria dinheiro sequer para comida”, alega PB. Em relação à legislação, AJ explica: “não faço ideia do que pode acontecer com quem faz uso destes sites, mas imagino que deve existir alguma lei e um tipo de punição. Porém, nunca ouvi falar de ninguém que foi punido”.

Eu sou neguinha? Gabriela Luz A pergunta na música de Caeta­ no Veloso, consagrada na voz de Vanessa da Mata, traz a discussão da identidade racial. Quem são as neguinhas de Caetano e por que não o sabem desde sempre? No ambien­ te universitário, a mulher negra é minoria, e em 2009 representava 9,91% dos estudantes, segundo o Ipea. Na UFU, a Coletiva Bonecas de Pixe discute sobre o tema com quase 100 mulheres negras que di­

Correio videm vivências e estudos, presen­ cialmente ou pelo Facebook. Segundo Mariana Sousa, estu­ dante de Ciências Sociais e uma das fundadoras da Coletiva, o grupo sur­ giu da necessidade de discutir opressões raciais e de gênero. “Além da luta contra o machismo, nós tam­ bém devemos enfrentar o racismo que segue enraizado em nossa socie­ dade devido às heranças históricas, sociais e políticas”, conta. A construção da identidade ne­ gra positiva é um processo longo e, muitas vezes, tardio. A falta de informação da família é um impe­ dimento comum apontado pelo grupo. “Minha família procurava me eximir dessa identidade negra e passar­se pelo moreno, porque é menos duro”, destaca Mariana. O

grupo ressalta que a família não é racista nesse caso, mas reproduto­ ra da opressão.

A construção da identidade negra positiva é um processo longo e, muitas vezes, tardio. Muitas meninas são da primeira geração de universitárias da famí­ lia, e é quase consenso que a uni­ versidade foi o início de uma

análise enfraquecida da identidade negra. Agora, fazem o processo re­ verso: levam para os familiares a consciência crítica que lhes faltava. “Eu discuto com a minha família, vejo tias e minha mãe se empode­ rando. Ela mesma já denuncia o racismo hoje”, declara Pollyanna Fabrini, membro da Coletiva. Professora do curso de Letras e membro do Núcleo de Estudos Afro­Brasileiros (Neab), Maria Cecília de Lima, destaca a impor­ tância da Coletiva ser aberta à co­ munidade externa, pois existe uma cultura em que as mulheres negras devem ocupar “o bairro longe, a cozinha da patroa. Se a gente saísse de lá, talvez fosse um lugar de sofrimento e de não acei­ tação”, avalia.


Disque 190 Mateus Augusto As ruas do meu bairro costumam ser tranquilas nos sábados: pessoas passeando com seus cachorros, uni­ versitários bem vestidos para algu­ ma festa, gente nas calçadas olhando o movimento. E aquele era um sába­ do como todos os outros. Saí para comprar algo para o almoço e, en­ quanto andava na calçada, ouvi o barulho de uma moto se aproximan­ do atrás de mim e logo parou do meu lado. Vão pedir informação, pensei. Ingênuo. ­ Passa o celular! Passa o celular e fica quieto! – Disse o motorista, en­ quanto o homem da garupa descia da moto, com uma arma na mão e apanhava meu celular. Meio dia? Quem assalta a essa hora? Pensei. Não durou mais que três segundos, para que eu perdesse um objeto valioso e, com ele, várias lembranças. Corri de volta para casa, precisava contar para alguém sobre o ocorrido. O que eu faço agora? Disque 190, me recomendaram. Disquei. “No momento todos os atendentes estão ocupados, continue na linha” – disse a gravação no telefone. Se estivesse em apuros, estaria perdido. ­ Mandaremos uma viatura o mais rápido possível – disse a aten­ dente. Quarenta minutos, exatamente,

foi o “mais rápido possível”. Daria tempo de assistir ao primeiro tempo inteiro de uma partida de futebol. Até que finalmente a viatura chegou. ­ Como era o vagabundo? Qual era a cor da camisa? Qual era o mo­ delo da moto? Qual a cor da moto? ­ Não sei dizer, senhor, foi tudo muito rápido. ­ Mas qual a idade deles, mais ou menos? ­ Não sei dizer, estavam de capa­ cete. ­ Vamos te encaminhar para a delegacia, para fazer o boletim de ocorrência – finalizou o policial. Respeito, disciplina e hierarquia eram os valores da instituição, escri­ tos na parede do lugar. Não sabia que hierarquia era um valor, até en­ tão. Trinta minutos para fazer o bo­ letim de ocorrência. Havia mais gente na delegacia, o filho de alguém desaparecera, choro, gritos, deses­ pero. ­ Agora é só aguardar, caso a gen­ te encontre o cara, te ligamos. Vou pedir para alguém te levar para casa – disse o rapaz da delegacia. Minha barriga já roncava. Lem­ brei que, por causa do incidente, não havia almoçado ainda. Até que um cabo da polícia me chamou e disse que me levaria até em casa. Pegar carona de viatura é estranho, as pes­

soas olham como se você estivesse sendo preso. No caminho, o homem de farda que me levava puxou as­ sunto: ­ Mas você sabe o porquê de tan­ tos assaltos que estão acontecendo por aqui? – Perguntou­me o policial. ­ Não sei, o que é? ­ É por causa desses estudantes, ficam andando com celular na mão na rua, isso atrai bandido – respon­ deu. Não entendi, agora a culpa de ter sido assaltado era minha? Pensei. ­ Mas o celular estava no meu bolso, moço – retruquei. ­ Ah, mas tem que ficar esperto, filho. Quando você ver essas motos, uno, golzinho, carro mais simples,

sabe? Já “caça um canto”, porque coisa boa não é. Fiquei pensando como seria se toda vez que eu visse um carro po­ pular na rua, tentasse me esconder. Aliás, o que tem a ver o carro? Que burrice, pensei. Mas dessa vez não respondi nada. Pedi para que me deixasse em um restaurante, minha barriga já gritava de fome. ­ Não levaram sua carteira? – Perguntou o policial. ­ Não, só o celular mesmo. ­ Ainda bem, né? – Finalizou. ­ É, ainda bem. E foi este “ainda bem” a única re­ compensa que puderam me dar neste sábado. Que era um sábado como todos os outros.

O fato das mulheres serem as maiores vítimas desse tipo de abu­ so psicológico nos chama a atenção para o machismo. Elas são obriga­ das a suportar toda a espécie de xingamento e a vontade de que al­ guns homens sentem em controlar seus corpos. Na maioria das vezes, são consideradas culpadas nessas situações, seja por suas roupas “curtas demais” ou pelo batom ver­ melho. Parte considerável das víti­ mas não denuncia esses crimes por receio ou até mesmo devido a um injusto sentimento de vergonha do opressor, deixando com que acei­ tem para si próprias a culpa a qual não têm responsabilidade alguma. Todas essas “cantadas” – da

“princesa” a passada de mão – vi­ olam a intimidade feminina uma vez que o assediador parte do principio que ele pode opinar e ex­ pressar sua “avaliação” sobre o corpo da mulher. Como essa per­ cepção é generalizada, aquela que decide manifestar contra o assédio corre o risco de ser ofendida. As­ sim, essas cantadas funcionam co­ mo uma forma de afirmação de poder para estabelecer uma hie­ rarquia. E se permitirmos que esse assunto se mantenha na espiral do silêncio, mais recorrente isso será. As mulheres, assim como os ho­ mens, devem sim falar sobre isso, e unidas lutarem por mais respeito e igualdade entre os gêneros.

As tais cantadas... Maryna Ajej

Sabe­se que a violência, seja ela física ou verbal, atinge grande parte das mulheres no Brasil. Lamenta­ velmente, tais fatos acontecem até mesmo dentro das universidades, locais de ensino os quais deveriam ser destinados ao crescimento e de­ senvolvimento pessoal, mas acabam sendo espaço para o cultivo dessas agressões. De acordo com o artigo 7º da Lei no 11.340, a violência psi­ cológica é qualquer conduta que cause dano emocional ou prejuízo à saúde mental que tenha como obje­ tivo controlar ações ou degradá­las. Apesar de não deixar marcas físicas evidentes, a violência psicológica contra a mulher é também uma vio­ lação aos direitos humanos.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que a natu­ ralização desse tipo de agressão é um estímulo a uma espiral de vio­ lências. O pior de tudo, é que esse constrangimento ocorre o tempo todo, em plena luz do dia e mes­ mo assim continuamos tratando como se fosse algo normal em nossa cultura. Infelizmente, tais episódios são naturalizados em nossa sociedade, mas não pode­ mos afirmar que é algo normal, uma vez que é repressor. Uma pesquisa da revista Época aponta que mais de 80% das mu­ lheres já mudaram de caminho ou até mesmo desistiram de sair por medo da atitude dos homens.


Perspectivas da segurança Matheus Maia - Ciências Sociais O que é segurança senão um estado de conformidade, paz consigo e com o ambiente no qual se vive? O homem busca de maneira geral se sentir seguro em todas as suas relações, des­ de as mais pessoais, como um relacionamento, até uma de maior perspectiva, como o am­ biente no qual ele frequenta. Recentemente este é um deba­ te que veio à tona, dentro dos mu­ ros da universidade, visto que as pessoas encaram esse espaço co­ mo “uma terra sem leis”, onde não se tem uma segurança de fa­ to. Coloco­me neste posiciona­ mento, pois vivemos um contexto de insegurança, mas a universida­ de não é bem assim. A questão é que as pessoas não reconhecem que aquilo que tantos alegam que ocorre apenas dentro do campus

está presente todos os dias, 24 horas nas margens de nossa soci­ edade. Entretanto, nós como estu­ dantes de privilégio não temos contatos, ou até temos, mas não sofremos com isso. Os muros da universidade não podem ser­ vir como uma segregação social, pelo contrário, ele tem que ser reconhecido pela inclusão da co­ munidade com o meio acadêmi­ co. De fato, temos uma universidade que zela pela segu­ rança meramente patrimonial, mas esta é uma realidade social, zelar pelos patrimônios materiais e se esquecer da vida humana. A liberdade que encontramos dentro da universidade não deve ser encarada como um agente de violência moral ou física, mas in­ felizmente é isso que acontece.

Policia para quem? Karine Rodrigues – Ciências Biológicas

Se a segurança na UFU se refere à Polícia Militar, eu discordo total­ mente dessa segurança. Inclusive tenho medo dela. A PM na UFU, como ela sempre faz, iria favorecer os transeuntes mais ricos, aqueles de pa­ drão eurocêntrico. E os cotistas, negros e a comunidade externa? Esses serão tratados, como apontam diversas pesquisas, como marginais ­ um cara que não devia estar circulando pela UFU (''Um bem público a servi­ ço do Brasil."). A segurança, para ser efetiva, tem de ocorrer aos redores da universidade primeiro. Ela é um espaço que, teoricamente, serve para discutir o caos da sociedade e tentar encontrar soluções. PM na UFU será uma contradição ao intuito real de uma universidade.

Confira outros conteúdos no site: www.sensoincomum.net ‐ Baterias universitarias são acusadas de sexismo nas letras ‐ Trans(ição) ‐ Bullyng na UFU "Eles ameaçam até mesmo de morte" ‐ Creche no Campus?

Fala, Leitor

"Você está num lugar de estudo e não tem segurança. O mínimo que pode ter aqui é a polícia. Acredito que quem não deve não teme." Luis Gustavo Abdalla Engenharia Elétrica "Eu sou a favor da polícia no Rafael Gomes - Design

entorno do campus, não dentro. Porque em volta é muito mais perigoso. (...) Tem mais casos de assaltos na saída da universidade." André Caruso Engenharia Civil "A UFU não é uma bolha e sim um reflexo da sociedade. Se colocar policia aqui não vai adiantar, como não adianta lá fora." Roniere Queiroz Pedagogia "Seria interessante ter o policiamento, mas para isso é necessário algum treinamento para que a policia não trate diferente quem é aluno e quem não é." Lays Braga Letras


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