SEN SOiN COMU M Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo • UFU •Desde 2010• Ano VII • Nº XXIX • Dezembro/2015-Janeiro/2016
"Querido agressor, basta!" www.sensoincomum.net
Campus Glória é a solução?
Próreitoria aposta na mudança de alguns cursos para lá até o primeiro semestre de 2016. Por outro lado, diretores de Institutos acreditam que as condições não são adequadas. Página 3
UFU contra o câncer de mama
Mariane Schmidt
Pesquisa genética analisa o anticorpo que ajuda na identificação da doença e tem potencial para evitar sua multiplicação. Outro projeto dos cursos de Nutrição, Odontologia, Psicologia e Farmácia oferece, gratuitamente, apoio especializado a pacientes. Página 5
Hospital Veterinário é gratuito?
Atendimento do HVU, feito por alunos da Medicina Veterinária é pago. A maior parte do sustento do hospital é obtida através da cobrança de consultas e procedimentos, diferente do que acontece no Hospital de Clínicas, por exemplo. Página 10
OPINIÃO
Manda nudes? A troca de fotos íntimas tornouse hábito nas redes sociais. Mas, até onde vai o limite entre o público e o privado? O que acontece quando essas fotos vazam na rede? Página 11
Em tempos de intolerância sexual, política e de gênero, tem gente que fiscaliza até a transa alheia. Avante, bixas! Nossos corpos e amor são livres. Página 2
Gabriela Guimarães
Me beija, Feliciano!
Editorial Não se trata de caminhar pelas ruas à noite sozinha, ou estar em locais ditos “perigosos”. Não é ques tão de usar uma roupa julgada “pro vocativa” ou de não ter feito o jantar para o marido. Não, definitivamente não. Não se justifica violência – seja ela psicológica, física ou de qualquer outra natureza – utilizando esses ar gumentos. O que eles fazem é tentar reverter a situação, culpando a ví tima. Mas, espera um pouco. Em que momento a vítima passa a ser a culpada, nesse raciocínio nada lógico? Bom, na verdade, a expli cação para isso está em séculos de história construída com um pen samento machista. Tanto o dote que a família da
noiva pagava à do noivo em casa mentos, séculos atrás, quanto uma mulher ser agredida, em 2015, são atitudes machistas. Mas exis te uma diferença importante: o tempo. Sim, o tempo passou para os automóveis que se sofistica ram, para os meios de comunica ção que se reinventaram com a tecnologia e para muitas outras questões, mas, paradoxalmente, parece não ter passado tanto quando o assunto é machismo. É verdade que muito se con quistou com o passar dos anos. Houve uma época em que as mu lheres não eram consideradas inte ligentes o suficiente para votar em eleições de seu país, por exemplo.
Hoje elas votam, mas ainda não são tantas quanto os homens em cargos políticos. Hoje, muitas mulheres podem optar por cuidar do lar inte gralmente ou trabalhar fora de ca sa. Por outro lado, muitas ainda são perguntadas sobre o tamanho da sua roupa quando sofreram um as sédio ou se o marido ou namorado estava bêbado quando a agrediu. Se o homem se acha no direito de bater em uma mulher, agredir com humilhações e ofensas ou con trolar suas atitudes é porque ainda vivemos em um mundo onde ser mulher é motivo para ser diminuí da. Traduzindo, isso é machismo. Se uma mulher ser espancada ain da é, para alguns, “coisa de relacio
namento porque todo casal tem brigas”, é urgente que se entenda que falar que está errado não é in vadir privacidade, é denunciar um crime que, além de consequências físicas e psicológicas, pode, no auge do seu horror, matar. A agressão está extremamente relacionada ao pensamento ma chista presente na cultura da soci edade. Discorda? Bom, se fosse reconhecido por todos que um ho mem não tem o direito de agredir uma mulher, ou seja, se o machis mo não existisse, gerando esse tipo de violência, seria possível e ne cessário que a capa do jornal es tampasse uma matéria abordando esse assunto? Certamente não.
Me beija, Feliciano! Daniel Pompeu Casamento gay é um assunto que tem gerado muita polêmica, e de forma recorrente. Nos EUA, esse ano, a escrivã Kim Davis tornouse um estandarte para os contrários ao matrimônio homoafetivo. Contrari ando a decisão da suprema corte, Davis decidiu não realizar casamen tos de pessoas do mesmo sexo com base em suas convicções religi osas. No Brasil, pela enésima vez, al guma comissão na câmara aprovou algum projeto que define a família tradicional (mamãe, papai e filhi nhos) como única válida perante a lei. Zzzzz, que preguiça. É nesse mo mento que a gente se sente voltando três casas no jogo da vida. É cansativo pra caramba ligar a TV depois de um longo dia e assistir à Felicianos e derivações bradarem os mesmos mantras conservadores de sempre. “Família é a base da soci edade!”, “Adão e Eva…”, “Só homem e mulher podem gerar filho!”. Pra quem é ativo na militância LGBT,
imagino que a canseira seja ainda mais devastadora. Imagine você, le var "lâmpadada" na cara, ter a maior dificuldade, no caso dos trans, de adequar seu nome a seu gênero ou ser xingado de termos homofóbicos enquanto vai ao trabalho só porque usou aquela roupa mais pintosa. Aí chega em casa, liga a televisão, e contempla a cara de algum pastor desconhecido, chamando você de aberração. Ora, não somos nós, bi xas, sapatonas e trans finíssimas que suamos todo dia pra pagar os gene rosos salários de gente como o Bol sonaro? O mundo exige uma paciência de Jó de quem é diferente. Principal mente dos diferentes que ousam querer ser um pouco mais iguais. Onde já se viu o homossexual, que também é cidadão, querer o reco nhecimento da sua união perante o Estado? Alguns dos mais moderados dizem que fornicação é permitida dentro de quatro paredes, mas a equidade de direitos já é um pouco demais. Por essa ótica, os gays se re
Ilustração: Itamar Salles
sumem a um grupo que exerce o la zer sexual, e quando terminam, tem que quase compulsoriamente torna remse héteros para ter plenos direi tos dentro da sociedade. Já pensou: durante o ato sexual, sou gay, bi
chérrima, mas depois do orgasmo volto às ruas como um macho hete rossexual renovado e tenho meus direitos devolvidos. Nunca houve um gozo tão conivente com o con servadorismo.
Expediente: Reitor: Elmiro Santos Resende / Diretor da FACED: Marcelo Soares Pereira da Silva / Coordenador do curso de Jornalismo: Gerson de Sousa / Professores responsáveis: Ana Spannenberg, Christiane Pitanga, Marcelo Marques e Vanessa Matos / Jornalistas responsáveis: Ana Spannenberg MTB 9453 e Vanessa Matos MTB 50.456 / Editoras de Capa: Leticia Brito e Maryna Ajej / Editores de Imagem: Gabrieli Mazzola e Ygor Rodrigues / Editora de Opinião: Isabella Rodrigues (o conteúdo opinativo é de responsabilidade dos articulistas/autores que assinam as colunas)/ Editores de Ciência e Tecnologia: Bruno Prado e Mateus Augusto; Subeditores: Bianca Guedes e Victor Fernandes / Editoras de Universidade: Ellen Melo e Paola Buiatti; SubEditoras: Giovana Oliveira e Michelli Rosa / Editores de Região: Matheus Xavier e Pedro Vitor Alves; Subeditoras: Leticia Brito e Maryna Ajej / Editores de Cultura: Hiago de Paula e Josielle Ingrid; Subeditores: Ana Augusta Ribeiro e Rodrigo Castro / Editores do Senso Aberto: Adrivania Santos, Amanda Cristina e Isabella Rodrigues / Editores da Plataforma Digital: Amanda Cristina e Renato Taioba; Subeditoras: Adrivania Santos e Isabella Rodrigues/ Finalização: Danielle Buiatti
Marcela Salvador O espaço físico da UFU passou por ampliações a partir de 2008, após adesão ao Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expan são das Universidades Públicas (Reuni).Em 2007, a UFU elaborou um Plano de Expansão para o perío do de 2008 a 2012, com o objetivo de ampliar as vagas nos cursos já existentes e a quantidade de gradua ções oferecidas, totalizando 1.350 novas vagas a cada ano. Para isso, construíramse novos prédios, in clusive o campus Glória. Entretanto, ainda há demandas neste aspecto e sem um consenso sobre quando po de acontecer a transferência de al guns cursos para o campus Glória. Neste sentido, a falta de capacidade física da universidade é um ponto que continua sem solução. A expansão resultou em um pro blema de espaço físico na universi dade. Segundo o gerente da Divisão de Elaboração de Projetos Básicos,
Foto: Milton Santos
Campus Glória vai resolver a falta de espaço?
Emerson Luis de Oliveira, “a procu ra por salas de aulas é grande. Mes mo depois que a PróReitoria de Graduação (Prograd) as distribui para os cursos de acordo com a gra de horária, há muitas modifica ções”. O gerente revela também que é preciso mais auditórios e salas
para professores. Para o Próreitor de Planejamen to, José Francisco Ribeiro, muitas demandas serão atendidas com o deslocamento de alguns cursos para o campus Glória, no próximo semes tre em 2016. Em princípio, serão transferidos para o novo espaço da
UFU os cursos do Instituto de Ciên cias Agrárias (ICIAG) e a Faculda de de Medicina Veterinária (FAMEV), porque há “uma pressão muito grande por espaço no Cam pus Umuarama”. Contudo, os di retores de ambos os institutos acreditam que não haverá condi ções adequadas até o início de 2016. Questionado sobre a transferên cia de alguma graduação do campus Santa Mônica, o Próreitor diz que a maior possibilidade de mudança é a Engenharia Aeronáutica. No en tanto, ele explica que “existem si tuações a serem vencidas, desde restaurante, alimentação, trans porte e segurança”. O presidente da comissão para ocupar o Glória, Wilson Akira Shimizu, assegura que a limpeza e o transporte para interligar os três campi da universidade es tão garantidos. Hoje, o campus Glória possui dois prédios praticamente prontos e outra construção quase finalizada.
Restaurante Universitário: primeira fase da Congrad rejeita avaliação expansão começa em dezembro de 2015 substitutiva
Nadja Nobre As grandes filas que os estudantes enfrentam para utilizar o Restaurante Universitário (RU), especialmente no campus Santa Mônica, não são nenhuma novidade. Após reivindicações da comunidade acadêmica, da Diretoria de Assuntos Estudantis (DIRES) e do Diretório Central dos Estudantes (DCE), um projeto de ampliação do atual restaurante foi aprovado. O Diretor de Infraestrutura da UFU, Antônio Carlos dos Santos, ex plicou que a reforma passará por dois momentos: “A ampliação do RU vai gerar o deslocamento dos usuári os para outro espaço no período de realização das obras e, por isso, há necessidade de um refeitório provi sório. A palavra provisório é no sen tindo de ocupação e não de má qualidade”. O restaurante temporá rio ficará entre os blocos H e I do campus Santa Mônica. O diretor
Ilustração: Ana Beatriz Lima
Daniel Pompeu
prevê que as obras serão iniciadas em dezembro de 2015 e finalizadas no primeiro semestre de 2016. Contudo, o diretor da DIRES, Leonardo Barboza, acredita que não será possível colocar um fim às fi
las. “Existe a tendência de que os es tudantes que não faziam suas refeições por conta do longo tempo de espera voltem a frequentar o RU. Então, é provável que no restaurante provisório ainda tenhamos fila”.
A reunião do dia 13 de novembro de 2015 com o Conselho de Graduação (CONGRAD) não aceitou, por 32 votos contra e 22 a favor, a proposta do Diretório Central dos Estudantes (DCE) de incluir a prova substitutiva no calendário acadêmico da UFU. A maioria dos coordenadores de graduação presentes foi contrária ao posicionamento e optou por não continuar a discussão. Em nota, o Diretório Central dos Estudantes repudiou a ação dos professores que "decidiram não dis cutir a proposta que normatiza a realização de avaliação substitutiva". Dentre os argumentos levantados pelo DCE, destacase o ponto de vista de que o projeto negado ajuda ria a sanar o grande número de eva são dentro da universidade.
UFU Offline: quedas na rede sem fio Alex Furtado O acesso à internet sem fio no campus Santa Mônica da UFU foi implantado em 2010 e, desde então, a insatisfação quanto à instabilida de do wifi tem sido frequente. Casos esporádicos como o ocorrido no dia 13 de novembro, quando alunos, professores e servidores ficaram cerca de quatro horas sem conexão, fazem com que o descontentamento em relação à lentidão e quedas de sinal seja potencializado. O coordenador da Divisão de Redes do Centro de Tecnologia da Informação (CTI), Alisson Oliveira Chaves, afirma que o processo de conexão wifi é mais complicado do que parece. Ao acessar um site como o Google, o dispositivo se conecta aos pontos de acesso, segue pa ra as controladoras de rede sem fio, passa pelos servidores e firewalls e che ga às portas de internet. “Quando sai da nossa porta, a Universidade é conec tada à Rede Nacional de Pesquisas, a RNP. Utilizamos os serviços de internet deles e a partir desse momento, nós não temos garantia nenhuma da funcionali
dade da conexão”, afirma Chaves. A aluna do curso de Biotecnologia Larissa Resende, que normalmente acessa a rede para preencher relató rios de pesquisa online, em sites co mo o do CNPq, reclama da qualidade da conexão. “É difícil pegar sinal e às vezes você está fazendo alguma coisa, a internet cai e você perde tudo”, acrescenta. Técnicaadministrativa do curso de Ciências Contábeis, Larissa Cam pos necessita da internet para aces sar alguns sistemas, além do email institucional, principal forma de contato com alunos e professores. “Nós utilizamos a rede cabeada, mas nossos estagiários se conectam pelo wifi. Muitas vezes eles ficam sem in ternet e nós trabalhamos normal mente. O wifi dá mais problemas". Sobre a demora na conexão e queda no sinal apontados pela reportagem, Alisson Chaves afirma que estes são decorrentes de problemas na rede da RNP. O responsável pelo CTI, no entanto, admite que são casos pontuais. “Quando a gente criou o projeto de
Foto: Alex Furtado
uma rede sem fio na UFU, a ideia sempre foi cobrir o campus inteiro, mas sabemos que existem muitas difi culdades nas partes técnica e política”, pondera. Além da própria topografia, a estrutura física tem de estar apta a comportar a estrutura da rede. Os blocos mais antigos da UFU aumentaram drasticamente a de manda desde quando foram proje tados. No bloco 1A, por exemplo, havia uma previsão inicial de 200 pontos de conexão, e hoje opera com mais de 400. “Conseguir outra sala para a alocação de novos equi pamentos e a construção de uma nova estrutura de rede depende da capacidade dos diretores dos depar tamentos e institutos em disponibi lizar recursos para estes investimentos”. O estudante do curso de Ciências da Computação da UFU, Luiz Otávio Dias, aponta um outro problema, o qual acredita ser o principal responsável pe la instabilidade da internet na UFU: os roteadores antigos. Para ele, é preciso reavaliar a estrutura na Universidade, deixando a rede mais harmônica e ho mogênea. “A qualidade dos roteadores varia muito entre os blocos", opina.
Velocidade da internet Segundo Chaves, o tipo de website acessado e o volume de dados movi mentados, no momento, também não interferem na qualidade ou velocidade das conexões. “A demanda de banda para nós não é um problema, pois te
mos um link de internet bem acima do que é a necessidade da Universidade. Antigamente passávamos por muitos apertos, já tivemos um link de 155Mb que hoje é de 1Gb por segun do e estamos chegando numa utili zação de 600Mb/segundo, ou seja, ainda temos 40% da capacidade pa ra ser usada”, conta.
"É preciso reavaliar a estrutura na Universidade, deixando a rede mais harmônica e homogênea", opina Dias. Ainda que o maior tráfego de dados seja demandado por redes sociais, principalmente o facebook, o CTI bus ca priorizar determinados serviços que não podem parar. “Normalmente pri orizamos páginas do governo e sites utilizados pelo setor de compras, por que se há um problema de conexão no meio de uma licitação, isso pode gerar um prejuízo financeiro grande para a Universidade”, acrescenta Chaves.
Anticorpo FabC4 é esperança contra o câncer PESQUISA DA UFU AUXILIA NA PREVENÇÃO E TRATAMENTO DA DOENÇA
Lais Vieira Mariana Capicotto O câncer de mama é o segundo tipo de câncer que mais acomete mulheres em todo o mundo, responsável por cer ca de 25% de novos casos a cada ano, segundo dados divulgados pelo Institu to Nacional de Câncer José Alencar Go mes da Silva (Inca). Apesar de ser mais comum entre mulheres, a patologia também atinge o sexo masculino, fato pouco divulgado, pois entre os 14.388 casos de 2013 no país, 181 eram pacien tes homens. A doença contabiliza cerca de 520 mil mortes por ano no mundo. Em agosto de 2015, um projeto de pesquisa genética desenvolvido na UFU recebeu o prêmio “Octavio Frias de Oli veira de Inovação Tecnológica em On cologia”, promovido pelo Instituto do Câncer do Estado de São Paulo. O estu do é coordenado pela Doutora em Ge nética e Bioquímica e professora do curso de Biotecnologia de Patos de Mi nas pela UFU, Thaise Gonçalves de Araújo e sua equipe. “Trabalho com [o tema] câncer desde minha graduação e sempre foi meu objetivo de vida me tor nar uma pesquisadora na área de saú de. A ciência é fruto de amadurecimento e minha caminhada árdua de trabalho culminou com um importante reconhecimento”, afirma Thaise.
FabC4 tem o po tencial de induzir um mecanismo capaz de frear a multiplicação das células tumorais. A pesquisa analisa uma parte do an ticorpo FabC4 que, ao ser manipulado, além de diagnosticar o câncer de mama auxilia seu tratamento. “Esse é um tipo de anticorpo que se encontra em 70% das mulheres que têm o tumor, exclu sivo da mama, por isso pode ser um bom alvo para a terapêutica”, explica
Foto: Arquivo pessoal
Luiz Ricardo Goulart, professor e pes quisador das áreas de Microbiologia Médica e Patologia Molecular da UFU. “Quando testamos esse anticorpo vi mos que ele conseguia diferenciar as pacientes que tinham câncer daquelas que tinham doenças benignas. No gru po de pacientes com câncer vimos que ele identificava as que tinham tumores de grau três ou triplos negativos, para os quais só tem um tipo de tratamento, quimio e radioterapia”, explica Thaise. Até o momento, são dez anos de pes quisa com coprodução de quatro outros pesquisadores: um oncologista do Hos pital de Barretos, uma professora da Faculdade de Medicina da UFU, um pesquisador do AC Camargo Câncer Center e um Pósdoutor em Patologia Molecular Médica. “A produção levou cerca de três anos. Os ensaios posterio res foram de validação e confirmação de seu potencial clínico”, acrescenta. Além disso, o FabC4 é um anticorpo monoclonal, que tem o potencial de in duzir um mecanismo capaz de frear a multiplicação das células tumorais. So bre o futuro da pesquisa e sua aplicação e teste, Thaise afirma que a intenção é tor nar o anticorpo uma molécula terapêuti ca promissora. “Estamos em testes em culturas celulares e, em breve, iniciare mos os estudos em animais”, conclui. Para que pesquisas deste tipo sejam realizadas, o governo federal oferece o suporte financeiro inicial, porém a grande dificuldade é manter as pesqui sas. “O anticorpo é aplicável, o próprio
Como não houve autorização por ques tões de ética, não foi possível entrevistar pacientes atendidas pelo projeto. “O mais importante para a mulher é fazer o
governo reconhece que é o melhor tra balho brasileiro, mas não tem dinheiro para dar continuidade. Aí entra a in dústria, para financiar e dar o acaba mento”, completa Goulart. Suporte às pacientes Com o objetivo de propiciar o bem estar aos pacientes que estão enfrentan do a quimioterapia, o projeto de pesqui sa “Abordagem multiprofissional do paciente com câncer de mama: gerenci amento da terapia medicamentosa, atenção nutricional e qualidade de vida no sistema único de saúde”, oferece gra tuitamente apoio e atendimento profis sional especializado. “Nosso principal objetivo é prestar assistência multidisci plinar individualizada, humanizada e sistematizada às mulheres com câncer de mama em quimioterapia”, explica Anna Cláudia Yokoyama dos Anjos, do cente do curso de Enfermagem da UFU e coordenadora do projeto de extensão. São oferecidas consultas de enferma gem ambulatoriais nas quais as mulhe res em tratamento de câncer de mama e que necessitam realizar a quimioterapia são acompanhadas durante todo o trata mento, o que busca prevenir e identificar reações adversas e, assim, melhorar a qualidade de vida das pacientes. Estão envolvidas no projeto as áreas de nutri ção, odontologia, psicologia e farmácia. As consultas e atendimentos são realiza dos pelos residentes do Programa de Atenção Multiprofissional em Oncologia.
“O anticorpo é aplicável, o gover no reconhece que é o melhor traba lho brasileiro, mas não tem dinheiro para dar conti nuidade." diagnóstico precoce, quanto mais pre coce melhor pra ela, porque ela tem mais chances de ter uma sobrevida, e não só sobrevida, mas cura”, sintetiza Goulart.
Não, elas não gostam de apanhar. M "Eu tenho consciência de que ele não me ama, se amasse não fa ria isso. Mas a forma como ele nos manipula e fala 'eu dou tudo para vocês' faz todo mundo acreditar que ele realmente ama". Esse é o relato de Maria*, vítima de violên cia doméstica junto com sua mãe e sua avó, mas elas nunca denun ciaram o agressor, que é seu avô. A Lei Maria da Penha criou mecanismos para coibir a violên cia contra a mulher, seja ela psi cológica, física, patrimonial, sexual ou moral. Ela determina a criação de juizados de violência doméstica e familiar e oferece me didas protetivas. O advogado atu ante na área criminalista, Jacir Figueiredo, explica que, com a lei, é possível que o agressor não se aproxime da vítima, fixando um limite mínimo de distância, além da restrição ao porte de armas, dentre outras ações.
Acipreste, delegada desde 2008 na Delegacia Especializada no Atendi mento à Mulher (Deam) de Uber lândia, essa situação é comum, já que muitas vítimas têm medo do agressor por saberem que ele não vai ficar preso para sempre. Além disso, "não é raro a mulher pagar a fiança do agressor, é muito co mum", conta a delegada. Rafael Barbosa Silva, psicólogo da ONG SOS Mulher e Família instituição que atende pessoas com problemas de violência con jugal e intrafamiliar explica que cada caso é um caso, mas, em ge ral, "tem mulher que cede porque [o agressor] é o pai dos filhos, por valores religiosos, dificuldade fi nanceira, entre outras razões". Outro aspecto que ele destaca é a vergonha da repercussão que o caso pode ter na família e na soci edade, além da represália que a mulher pode sofrer.
Foto: Arquivo ONG SOS Mulher e Família
Medo e aparências Mesmo com a lei, muitas mu lheres ainda agem como Maria. Segundo Juliana Santos Machado
quero uma medida de prevenção. Quero que ele viva a vida dele, mas longe de mim. Tenho medo que ele volte porque me amea çou”, conta.
"Ele tenta justificar o que faz, dizendo que nunca falta nada em casa, classificando o sustento econômico como amor” Maria Maria, que foi citada no come ço da matéria, relata que ela, sua mãe e sua avó sofrem, principal mente, violência patrimonial. “O meu avô controla a vida financeira delas, fazendo, inclusive, ameaças. Ele tenta justificar o que faz di zendo que nunca falta nada em casa, classificando o sustento econômico como amor”, conta a garota. Para ela, há algo além da dependência financeira que leva sua mãe e sua avó a continuarem nessa situação, sem denunciálo: “É por acreditarem que somos uma família, que nos amamos in condicionalmente e precisamos nos manter unidos e ‘felizes’”.
Helena*, que sofreu violência física pelo seu companheiro, afir ma não querer que ele seja preso, pois tem receio do que ele pode fazer quando sair da prisão. “Eu
Arrependimento O advogado Figueiredo conta que uma mulher o procurou, pois seu marido estava preso porque a agrediu depois de ingerir bebida alcoólica. No entanto, o advogado disse que a vítima não queria que ele ficasse preso. “Segundo ela, o marido preso era pior que solto, uma vez que estava faltando até alimentos em casa”. A delegada explica que, pela lei, na delegacia não é possível reali zar a denúncia, instaurar um inquérito e depois querer retirar a acusação. Ela diz que isso só pode ser feito na audiência espe cífica no Fórum, ou seja, somente na hora que o caso for julgado é que a mulher pode fazer esse pe dido de retratação. Para Juliana, isso também con tribui para que as vítimas fiquem em dúvida se vão ou não pedir pa ra abrir inquérito, já que não é tão fácil “voltar atrás”. Como conta a delegada, “é muito comum as mu lheres procurarem aqui [a Deam] e pedirem para 'dar um susto' no agressor, chamando ele para con versar, e não denunciar”. Culpa De acordo com Suyane Rodri gues, coordenadora da ONG SOS Mulher e Família, muitas mulhe res violentadas tentam arrumar justificativas para terem passado por isso. “Ela sabe que não é cor reto apanhar da pessoa que esco lheu para ser seu companheiro, mas, às vezes, é uma questão emocional que quer justificar
Daniel Pompeu
Marcela Salvador Pissolato Letícia Pereira de Brito
Mas por que nem todas denunciam? aquilo”. A coordenadora conta que as vítimas se sentem culpadas pelo que sofreram por não terem pas sado a roupa do companheiro, te rem provocado, saído com roupa curta ou têlo xingado, por exemplo. Para Suyane, essas justificati vas passam por valores morais e culturais, como o machismo e se xismo, inscritos na sociedade. O psicólogo da ONG explica que muitas mulheres suportam esse sofrimento “por amar o agressor”, mesmo sofrendo violência. Maria relata que sua avó é cul pabilizada pelo seu avô por tudo: “Ele a desqualifica sempre [...] me sinto extremamente triste por che gar em casa e ter que ver meu avô chamar ela de 'puta', corrigir até o jeito que ela segura a faca”.
“Ela sabe que não é correto apanhar da pessoa que escolheu para ser seu companheiro..." Suyane Rodrigues Gerações familiares “Eu presencio violências desde criança. Eu me escondia atrás do sofá porque não queria ver, só ou via”, conta Maria. Ela entende que essa situação prejudica o seu psi cológico. “Por tantas vezes meu avô violentar e eu perdoar. Por ele se fazer presente, em todos os sen tidos, e ser família, mas violentar, eu posso compreender que quem
me violenta me ama. Sou forte alvo de relacionamentos abusivos”, analisa. Maria conta que percebeu isso com a ajuda de sua psicóloga. Luiza* também relata casos de violência praticados por seu avô e que acabaram se perpetuando por algumas gerações da família. “Meu avô apanhou muito quando era cri ança. [...] Depois começou a beber e fumar muito. E, quando casou e teve filhos, batia neles.” Para ela, quando se presencia esse tipo de comportamento du rante muito tempo, podese co meçar a acreditar que aquilo é normal. Foi o que aconteceu com suas tias e com a avó. “Elas des contavam no meu pai toda a raiva delas. Minha mãe fala que elas controlavam muito a vida dele e que minha avó vivia o chamando de inútil”, conta. Ela afirma que é estranho ver como, na sua famí lia, as vítimas acabaram se tor nando agressores. De acordo com o psicólogo da ONG, muitas ve zes, a agressão se estende aos fi lhos, de forma indireta ou direta, já que a criança pode presenciar essa violência. Denúncias e atendimentos Helena conta que somente na segunda vez em que foi violentada procurou ajuda. Segundo ela, na primeira vez, achou que seria algo momentâneo, mas as agressões verbais foram se tornando mais constantes. “Uma vez ele tentou me enforcar. Agora, agrediu mi nha filha também, minha mãe ver balmente e eu, fisicamente [...]. Aí eu vi que não dava mais para aguentar”, relata. A delegada Juliana explica que são minoria as mulheres que vão à delegacia na primeira vez em que são agredidas: “Na maioria dos casos, elas já vêm com uma queixa de agressivida de, mesmo que seja moral ou verbal. E muitas não entendem que isso também é uma violên cia. Algumas falam que ‘só era
Foto: Marcela Pissolato
ameaçada’, como se isso não fosse crime”. Para abrir o inquérito, é preciso estar com o boletim de ocorrência. Já na ONG SOS Mulher e Famí lia, de acordo com Suyane, o aten dimento realizado é de oferecer um lugar em que a vítima possa ser es cutada em sua globalidade, sem ser julgada, inclusive pelo olhar, o que as vezes acontece em outros. Ela também explica que lá não há ex
pectativa de que a história dela re sulte em algum procedimento na hora. "Quando ela vai até a dele gacia, é esperado que vá represen tar uma queixa. Aqui, a vítima vem para ser ouvida e ninguém vai co brar nada dela. Ela vem para que, junto com os profissionais, tente achar uma solução para aquilo que está vivendo, mesmo que não seja uma solução imediata", explica a coordenadora da ONG.
Como Buscar Ajuda Na ONG: Primeiro, é preciso entrar em contato por telefone e agen dar um atendimento com a assistente social. A vítima só vai para contar sua história e, a partir disso, é pensado como ela pode ser ajudada. Telefone: 32157862 Endereço: Rua Feliciano de Morais, nº 62 – bairro Aparecida. Na Delegacia: Ao ser agredida, é preciso acionar a Polícia Militar pelo 190. Caso o agressor ainda esteja no local, será preso em flagrante e conduzido à delegacia de plantão. Se não, a vítima terá que fazer um boletim de ocorrência e depois ir à Delegacia da Mulher para abrir inquérito. Se a violência for física, é pedido que se faça exame de corpo de delito. Telefone: 32313756 Endereço: Avenida Nicomedes Alves dos Santos, nº 728 – bairro Lídice * Os nomes das entrevistadas foram alterados para preservar sua identidade.
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Circuito cultural em Uberlândia Uberlândia recebe todos os anos milhares de estudantes de vários lugares do país. O que
poucos deles conhecem é a vasta e rica história da Capital da Lo gística perpetuada até hoje pelos
seus museus, teatros e centros históricos. O SensoIncomum preparou um roteiro com infor
mações sobre os principais pon tos de cultura da cidade. Aproveite!
Projetos culturais aumentam verba da Dicult
É bom ou ruim? Ana Augusta Ribeiro
Cultura da UFU. Devido à crise econômica que o país vive, metade do valor foi cortado. A Próreitora da PROEX, Dalva Maria de Oliveira, justifica a ne cessidade da ampliação do alcan ce cultural universitário. “As atividades culturais são também
Foto: Gabriela Guimarães
A Diretoria de Cultura da UFU (Dicult) submeteu, em editais de 2014, dois projetos ao Ministério da Educação (MEC) e ao Ministério da Cultura (MINC), com execução para 2015 e 2016. O “Circuito Universitá rio Cultural” e o “Corredor Cultural” têm o objetivo de promover, respec tivamente, a cultura em todos os campi da UFU e além da instituição. Com esses recursos, além do seu or çamento fixo, a Dicult conta hoje com quase R$ 550 mil para desen volver suas atividades, 10% a mais que o valor do ano passado. Até 2014 o custeio da programa ção da Dicult era cedido pela Pró Reitoria de Extensão, Cultura e As suntos Estudantis (PROEX), cerca de R$ 500 mil. Ainda em 2015, a Di retoria de Cultura teve sua fonte de renda alterada. Passou a receber o mesmo valor da Pró Reitoria de Pla nejamento e Extensão (PROPLAD). Desta vez, não se tratava de um re passe, mas de uma verba específica à
Foto: Gabriela Guimarães
Laura Fernandes
fundamentais para os processos formativos dos estudantes”, de fende. O diretor da Dicult, Luiz Carlos de Laurentiz, submeteu o projeto “Cir cuito Universitário Cultural: Por mais cultura nos campi da UFU”. Através da proposta, conseguiu R$ 300 mil, que também sofreram con tingenciamento, de 10%. A avaliação dos resultados deste programa será feita no final de 2015.
Além dos muros Outra conquista é o projeto “Cor redor Cultural”, oriundo da Pró Rei toria de Cultura da região sudeste e atendido pelo MINC. A proposta conta com R$ 400 mil e atende 17 universidades do sudeste, contem plando os estados do Espírito Santo, Minas Gerais, São Paulo e Rio de Ja neiro. O intuito é fazer com que ati vidades e produtos artísticos produzidos nas universidades circu lem além delas, uma espécie de in tercâmbio cultural das produções a fim de impactar diretamente, tanto as universidades quanto as cidades. Neste projeto, duas das apresen tações já realizadas pela Dicult este ano foram: “Palavra e Arte” (Uni campi), ocorrido no Museu Univer sitário de Arte (MUNA) e o “Curso de produção cultural”, desenvolvido no auditório 3Q. A expectativa é de que, tanto para o Circuito quanto pa ra o Corredor, sejam abertos editais em 2016 para que estudantes pos sam participar. Ainda não há previ são de dia/mês.
Privilégio. Direito ou vantagem? Proposital? Uma simples pesquisa nos traz as definições: “isenção, benefício”, “bem ou coisa a que poucos têm acesso, concessão a um pequeno grupo de pessoas”. Os privilégios banais passam despercebidos; os aceitamos porque estão na lei (10.048 de 08/11/2000). Idosos e gestantes com preferência em filas e espaço no ônibus lotado são quase obviedades sociais, questão de bom senso. E quando alguém diz que o garoto branco, heterossexual e rico é privilegiado? É provável que quem o afirmar receberá protestos do tipo “você não conhece minha história”. Ter um privilégio pela história que se tem e por ser como é não quer dizer que seja uma pessoa ruim ou que tenha premeditado a condição em que se encontra. Mas sim, a pele branca, a heterossexualidade e a alta classe social podem indicar privilégios. No Brasil, a cada dois minutos, cinco mulheres são violentamente agredidas; a cada duas horas, uma mulher é morta; 25 homossexuais sofrem violência por dia; 77% dos jovens assassinados são negros (menos de 8% dos casos chegam a julgamento); sete em cada dez casas que recebem o Bolsa Famí lia são chefiadas por negros. Não se preocupar com as contas que precisam ser pagas. Ser homem numa sociedade ma chista. Ser heterossexual numa sociedade homofóbica. Ser bran co numa sociedade racista. Nun ca ter sofrido preconceito, de qualquer tipo. Privilégios. E não há nada de vergonhoso em ad mitir as regalias que possui. No entanto, lutar pelo direito de ser heterossexual ou defender que isso não é privilégio simples mente não faz sentido. Seja ho nesto com sua inteligência e aceite que, em algum âmbito, você pode ser favorecido. Só porque é garoto, branco, heterossexual e rico não quer di zer que ele seja preconceituoso, arrogante e preguiçoso. Abrace mos nossas condições e não ig noremos as diferentes realidades que nos cercam.
Hospital Veterinário cobra por atendimentos Lais Vieira O Hospital Veterinário Univer sitário (HVU) da UFU, situado no campus Umuarama, atende diari amente de 50 a 80 animais de grande e pequeno porte em suas instalações. O atendimento, que é feito pelos estudantes do curso de Medicina Veterinária e supervisi onado pelos docentes, oferece consultas, procedimentos cirúrgi cos, exames e internações. Porém, nenhum desses procedimentos é oferecido gratuitamente à comu nidade. Cada consulta tem o valor de R$ 80,00, a ultrassonografia custa R$ 100,00 e procedimentos cirúrgicos em animais de grande porte a partir de R$ 150,00. Fundado no ano de 1976, o HVU visa prestar apoio às ativi dades desenvolvidas na Facul dade de Medicina Veterinária (FAMEV) e servir a comunidade local e regional. A administra ção financeira é feita pela Fun dação de Desenvolvimento Agropecuário (FUNDAP), que cobra uma taxa de 10% ao mês. Além dela, são destinados ainda 12% da receita mensal ao Fundo Institucional da UFU, o que equivale a cerca de R$ 15 mil. “A UFU cobra essa taxa por ela autorizar o funcionário dela a trabalhar. Mas, o que ela faz com esses 12%? Ela investe em edital para melhoria da gradua
Foto: Alex Furtado
Consultas no HVU são cobradas para manutenção dos serviços. ção e pesquisa”, explica o chefe de gabinete, José Antônio Galo. Para a nutricionista Sirlete
Garcia, dona de cães e gatos aten didos no HVU, o valor cobrado pelo hospital é alto, mas satisfa
Evasão cresce 94% em quatro anos
nas consequências de suas escolhas”. Luigi Santos, por exemplo, cursou Sistemas da Informação até o quinto período e tomou a decisão de sair do curso, mas encontrou dificuldades. “Foi complicado largar a universida de naquele momento, eu fiz a inscri ção para o novo vestibular sem contar para minha mãe", lembra. Tendo em vista os recursos que
Najda Nobre Somente no ano de 2014, a UFU registrou 2.765 evasões, um aumento de 94% em comparação aos núme ros de 2010. Para saber mais desse cenário, o jornal Senso InComum realizou uma pesquisa com 80 estu dantes do campus Santa Mônica. Com os questionários aplicados, con tatouse que 22% dos alunos não fa zem o curso de sua primeira opção. Uma das fases mais importantes na vida do estudante é a escolha da profis
tório. “Acho que poderia ser me tade do preço, considerando que é um Hospital Escola e que deve ria ser diferente das outras clíni cas veterinárias da cidade.” Contudo, a nutricionista afirma que a vantagem do HVU é que todos os procedimentos são rea lizados lá e “sempre há várias opiniões de professores, de vete rinários, alunos e isso ajuda na discussão do caso”. De acordo com o diretor exe cutivo do HVU, Amado da Silva Nunes Júnior, o atendimento no hospital não é gratuito porque o governo federal não tem uma política semelhante ao SUS, no caso de animais. O hospital tem que se sustentar com base nas arrecadações que recebe em parte do governo, em parte pela FUNDAP e a grande maioria pe las consultas e procedimentos cobrados. Há situações em que o atendimento é feito de forma gratuita para pessoas que não possuem condições financeiras de pagar. “Em casos assim, o dono do animal passa pela te souraria, depois na administra ção e, quando chega à direção executiva do hospital, é realizada uma espécie de entrevista, em que geralmente pedese o Cartão Cidadão, que é o documento fornecido pelo governo para quem tem baixa renda”, explica Silva.
são investidos na formação dos alunos, a UFU tem tomado medi
são. A psicóloga Sirlei Giannini, especi alista na área de orientação vocacional, cita fatores que influenciam na escolha
profissional. “O adolescente está defi nindo sua identidade e pode ter dificul dades de visualizar o futuro e pensar
das para entender este cenário e con ter o número de evasão dos cursos. Uma dessas ações é o Programa Ins titucional da Graduação Assistida (PROSSIGA), elaborado pela Pró Reitoria de Graduação (PROGRAD) e Diretoria de Ensino (DIREN).
“Nudes”: o limite entre o público e o privado Mateus Augusto Ferreira Elas sempre existiram. Desde que o mundo digital tomou conta de nossas vidas, trocar fotos íntimas por meio de redes sociais com seus parceiros (ou não), tornouse um hábito comum. Ganhou até um ape lido: nude. E vários bordões, como o famoso “manda nudes” que virou um meme famoso na internet. A fe bre dos “nudes” deve muito ao sur gimento do Snapchat, aplicativo que permite enviar fotos que só podem ser visualizadas uma vez e por al guns segundos – uma verdadeira fá brica de nudes. No Brasil, o tema atingiu os tren ding topics do Twitter há um tempo atrás, pela hashtag #PorqueTodos PedemNudes. Fato que pode ser ex plicado pela recente divulgação de fotos íntimas do ator Stênio Garcia (prova de que essa tendência não é exclusiva dos mais jovens) na inter net. Este episódio nos leva a uma discussão que é mais antiga que os próprios “nudes”: o limite entre o público e privado na Internet. O fato é que o ato de trocar fotos íntimas é uma prática particular entre duas pessoas, não diz respeito a mais nin guém. Mas, infelizmente, é recor
rente o vazamento de tais fotos, causando constrangimento para os envolvidos, ou até problemas no tra balho, escola e família, devido à su perexposição da pessoa. Pode ser por hackers que aces sam seus conteúdos em rede, ou mesmo descuido de quem envia pa ra a pessoa errada. Porém o mais re corrente e preocupante é o chamado “revenge porn”, (pornografia de vin gança, em português). O termo se refere à divulgação fotos íntimas de parceiros, antigos ou atuais, como forma de vingança por algum desen tendimento no relacionamento. Além da violência à integridade moral da pessoa que tem suas fotos divulgadas por parte do culpado pe lo vazamento, há outro tipo de hos tilização que é sintomática de nossa sociedade conservadora: culpar a ví tima por um ato de má fé. Ou seja, a culpa das fotos divulgadas passa a ser da pessoa que as tirou e não de quem divulgou, que deveria zelar pela confiança e privacidade de seu parceiro. “Se não queria ser exposta, não deveria ter tirado a foto” – é o que se costuma ouvir sobre o assunto. Fra se tão ignorante como “se não qui sesse ser estuprada, não sairia com
Ilustração: Itamar Salles
essas roupas na rua”. Enquanto tal visão retrógrada é disseminada na sociedade, o verdadeiro culpado continua ileso na situação. E a cada vez que sai impune, encoraja vários outros a cometerem o mesmo ato, pois sabe que a culpa não recairá so
bre si. Talvez seja hora de nossa so ciedade tirar o foco da hostilização da vítima e reconhecer o verdadeiro culpado. Assim, esse tipo de violên cia passará a não ser tão recorrente como é. E quem sabe, dessa forma, receberemos mais nudes.
Me acorde quando setembro acabar Renato Taioba
Ilustração: Bryant Arnold 11 de setembro. 10 anos de ida de. Às 9h eu tinha acabado de acordar e permanecia sonolento. Levei falta na escola e bronca da mãe. Michael Jackson também se
atrasou para o seu compromisso: uma reunião no World Trade Center. Na quarta série você co meça a se desesperar com a mate mática e não se importa muito com os problemas dos outros. Se eles estiverem do outro lado do mundo então… Eu só conhecia Nova York pelos filmes da Sessão da Tarde. Neve, as luzes da deco ração do Natal, a Estátua da Li berdade, os armários dos alunos nas escolas… De repente, a cidade virou um cartãopostal do medo, coberta por uma nuvem de fuma ça negra. De ficção a documentá rio em menos de uma hora. Em geografia, aprendiase o continente de cada país. Se o Bra sil e os EUA estavam na América, por que os aviões não caíram aqui? Por que os aviões bateram naqueles prédios? Por que as pes soas não saíram de lá? Por que as torres eram gêmeas? Por que pa raram o Dragon Ball na metade? Por que falavam tanto em terro
ristas? Era um total de 2.996 "por quês". Rapidamente aprendi onde ficava o Iraque no mapa. O capí tulo do livro que tratava sobre as guerras foi antecipado. Falavam que uma guerra contra um tal de Bin Laden iria começar. Um tal de Bush não gostava muito dele. Fiquei apavorado. Tinha medo de
Sua mensagem de paz e esperança foi um Boeing 757 dentro do Con gresso americano. perder a minha mãe nessa guerra aí. Setembro e outro avião colide contra Nova York. Dessa vez, o dia é 24. Papa Francisco aterrisa em solo protestante. Incômodo
velado, não por parte do pontífi ce. Sua mensagem de paz e espe rança foi um Boeing 757 dentro do Congresso americano. Sem escolha, eles tiveram que se le vantar com o impacto. O mês da primavera, no hemisfério sul, ainda é o mês mais outono para as vítimas que não morreram, no hemisfério norte. Sua passagem pelo Memorial do World Trade Center é um feixe de luz branca. Agora estudamos sociologia e an tropologia. Rebuscamse as pala vras e ainda me sinto uma criança impotente, como Michael Jackson. No café da manhã, o gosto do croissant foi amargado pelo ódio. Pardon, meu paladar infantil aprecia a doce liberdade. Já fui católico apostólico obriga do romano. Hoje tenho fé em quem acredita no amor, na pri mavera de setembro, na luta dos latinos, nos sonhos dos refugia dos, nos diálogos de reconcilia ção, no velório das guerras.
Evasão na UFU? Fala, Leitor!
Yuri Barreto Gestão da Informação
“Eu coloco um pouco da culpa na faculdade e outra em mim. A gente idealiza o curso, achando que vai entrar e fazer só o que a gente gosta, mas não é bem assim.” Tales Abdalla Arquitetura e Urbanismo
“ Estou no quinto período de direito e pensei em desistir no começo do ano, afinal tive que sair do ensino médio muito nova e já escolher o que queria”. Natália Santos Direito
“Eu prestei por influência do meu pai e meus irmãos que já haviam feito Administração. Entrei no curso meio sem saber o que eu queria. As aulas foram acontecendo e fui me interessando mais. Cheguei ao ponto de querer abrir uma empresa no curso. Mas a partir disso vi que não era ADM que eu queria fazer porque gostava mais da parte de produção, que envolvia arte. Hoje penso em mudar pras artes porque é onde eu me encontraria.”
Ilustração: Itamar Salles
“ Estou na UFU desde 2010, entrei primeiro no curso de Sistemas de Informação, fiz três anos e meio e vi que não tava mais afim. Os professores não incentivavam o aprendizado. Então prestei vestibular e fui para uma área que eu já trabalho a muito tempo, a Gestão de Informação. Hoje me sinto melhor, bem mais que no SI. Não sei se formo no tempo hábil, mas vou continuar.”
Gustavo Gomes Administração
“Desde pequeno sempre gostei bastante de história. O tempo passou e acabei perdendo um pouco o foco e comecei a me interessar pelos meus direitos e deveres, então decidi que faria direito. Prestei o Enem e acabei não querendo me arriscar, portanto acabei optando por Ciências Contábeis por influência de amigos e família. Depois de um tempo percebi que de fato não estava feliz no curso e que deveria correr atrás do que eu queria: o direito. Agora vou fazer a prova de transferência interna da universidade para enfim fazer o que gosto.”
“Eu entrei pelo vestibular sem saber o que queria e acabei descobrindo um curso que eu não sabia direito o que era. Mas não vou mudar, tô gostando demais.” Vitor Hugo Alves Gestão da Informação
“O maior motivo é o curso ser integral. Não pode trabalhar, não pode fazer outra coisa.” Lucas Sarvas, mestrando em Administração
Matheus Medrado Ciências Contábeis
P or Lara Rodrigues, estudante de Letras Eu sempre fui excepcionalmen te ansiosa e sempre quis que a vi
da acontecesse depressa. Assim, aos dez anos tive uma crise pesso al, pois eu já tinha uma idade de dois números e não tinha produ zido absolutamente nada relevan te para a vida. Desse modo, me impus uma meta: aquele ano eu teria que decidir o que faria para o resto da vida, profissionalmen te, e o que eu seria, em termos pessoais. Então comecei a refletir sobre o que eu sabia e o que eu gostava de fazer. Eu não sabia fa zer nada. Mas tinha uma paixão intensa pela literatura. E tinha aquelas professoras do ensino fundamental que nos iludem di zendo que somos bons nas coisas, e que me fez acreditar que eu era uma escritora nata. Acreditei. Nesse período decidi que cursaria Letras. Decidi mais. Como a edu cação não é o melhor lugar para se ganhar dinheiro, eu viveria so zinha, sem família e sem filhos,
para poder gozar da minha liber dade literária. Aos dezessete, meus pensamentos não haviam mudado. Mesmo assim, no mo mento decisivo de marcar no ENEM a minha opção de curso,
"O fato é: a socie dade atual obriga que ultrapasse mos a vida." meu coração bateu forte. Todas as piadas e discriminações que as pessoas faziam por conta da mi nha escolha vieram à tona. Ques tionei. Tive medo. Mas enfrentei o momento e hoje estou terminan do a faculdade e revivendo os 17 (que no meu caso aconteceu aos 10), pois estou me formando e já
Gomespara - Design pensando numRafael projeto o mestrado. Vou passar? Se sim, vou conseguir bolsa? Se não, co mo vou sobreviver? Vou conse guir dar aulas e estudar ao mesmo tempo? Vou ter que tra balhar no shopping, enquanto não consigo uma designação? O fato é: a sociedade atual obriga que ultrapassemos a vida. Tudo é feito sob pressão. Não existe es colha: há imposição. Talvez eu gostasse de biomedicina e não le tras, mas não me deram tempo para decidir. Não perca a oportu nidade, me disseram, “aproveite que está nova”. Aproveitar o que, exatamente? Aos dez eu lia Dic kens. Aos dezessete eu tinha que saber matemática para passar num curso de letras. Aos vinte, choro porque não li a obra com pleta de Blanchot. Amanhã terei cinquenta e não estarei livre, por que estarei lendo alguma coisa para descobrir em que parte da vida parei de sentir o sol.
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