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cantinas uniformizadas direitos iguais instagram e saúde sonho carnavalesco
JORNAL‐LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO UFU ANO 04 Nº 18 ‐ OUTUBRO ‐ NOVEMBRO/2013
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segurança é tiro no pé?
armada
2 opinião
senso
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EDITORIAL
Renovações
Nova estação. Semestre novo. A renovação faz parte da vida e faz bem, ajuda a chacoalhar os comodismos e se lançar ao desconhecido. É preciso mudar sempre e, mesmo quando não buscamos a mudança, ela nos encontra e nos move, ainda que sem querer. A única certeza dessa vida é a inconstância das situações, das coisas. O jornal Senso (in)comum vive um momento de mudanças. Entrando em seu quarto ano de existência, passará, a partir da próxima edição, por mais uma renovação gráfica e
editorial. Um novo grupo de alunos assumirá a produção do periódico com o desafio de repensar, renovar e melhorar o veículo pensado para discutir as inquietações dos estudantes da Universidade Federal de Uberlândia. Para além disso, o grupo de professores que supervisiona a produção também será parcialmente renovado, trazendo novos olhares e a oportunidade de mais aprendizados e crescimento. Nesse momento, queremos renovar com você, nosso leitor, o compro-
misso de discutir abertamente os assuntos do seu interesse, dentro e fora dos muros da UFU. É preciso lembrar que estamos abertos a ouvir sua opinião, receber suas sugestões e, até mesmo, sua colaboração, com textos, imagens e vídeos. Na sua versão impressa bimestralmente ou no nosso blog, contamos com sua ajuda para retratar do melhor modo possível a diversidade e heterogeneidade dos estudantes da UFU. Para abrir o debate, essa edição discute de modo mais aprofundado a
necessidade de vigilantes armados para fazer a segurança interna dos campi da UFU. Temos consciência de que esse é um tema polêmico, mas queremos ouvir sua opinião. Por isso, convidamos você a visitar nosso blog (http://www.sensoincomumufu.blogspot.com.br/), responder à enquete e deixar sua opinião nos comentários. Aproveite também para comentar as outras matérias e conhecer mais sobre nosso trabalho e ocupar esse espaço que é seu. Boa leitura! Boas reflexões!
VOZES
Para um reacionário
Expediente
Isley Borges
“Carlos, um amigo muito próximo, me disse que lá em Manaus o Restaurante Universitário é a céu aberto.” “Filhinho, mamãe teve que sair para a reunião da escola. Tem comida na geladeira.” Veio para comer. Viu a fila e desistiu.
Café em Pó Açúcar Óleo ou banha Manteiga Frutas/Banana / Maçã.”
Minha avó dizia: “Passarinho que come pedra, sabe o cu que tem.” Picadinho com ervilha, filé de peixe à escabeche, galinhada, escondidinho de carne seca, bife de panela, assado de soja com cenoura, tomate recheado, lasanha, esse é o cardápio da próxima semana.
“Aproximadamente 925 milhões de pessoas no mundo não comem o suficiente para serem consideradas saudáveis. Isso significa que uma em cada sete pessoas no planeta vai para a “Procuro gordinhas entre 18 e 24 cama com fome todas as noites” (Fonanos para sexo casual.” te: Food and Agriculture Organization ofthe united nations – FAO – 2012). O povo oprimido. “O Isley, que tá nessas parada aí de O povo desnutrido. política, disse que fizeram um ple- “A fome é o número um na lista dos O povo que paga o pato, mas não biscito pros estudantes escolherem 10 maiores riscos para a saúde. Ela pode comê-lo. uma solução rápida pras filas do res- mata mais pessoas anualmente do O povo que só quer comida, porque taurante. Deu convênio com a gale- que AIDS, malária e tuberculose jun- nem isso tem. ra dos restaurantes próximos”. tas” (Fonte: UNAIDS, Relatório Glo- E a burguesia, mimada e aflita, bal de 2010, OMS, Fome no mundo questiona se comemos comida ou “Miojo tem vários sabores: cama- e Estatística Pobreza, 2011). lavagem. rão, carne, galinha caipira.”
FOTO: Isley Borges
“Papai dizia que escrever na parede é falta de educação. Assim como não jogar lixo no lixo”. 5kg de arroz 2 Kg de feijão 3 hambúrguer Perdigão. “Uma cesta básica pequena: Carne Leite Feijão Arroz Farinha Batata Tomate Pão Francês ou de Forma
O jornal-laboratório Senso (in)Comum é produzido por discentes, docentes e técnicos do curso de Comunicação Social – habilitação em Jornalismo da Universidade Federal de Uberlândia, como projeto de graduação e atividade curricular. instituição
Reitor: Elmiro Santos Resende Diretor da FACED: Marcelo Soares Pereira da Silva Coordenador do curso de Jornalismo: Gerson de Souza equipe
Editora-chefe: Ana Spannenberg (MTb 9453) Reportagem, redação e edição: Emílio Lins de Sá Vieira, Laura Máximo e Marcos Vinícius Reis Arte e Diagramação: Danielle Buiatti colaboração
Reportagem e redação: Gabriel Rodrigues e Paula Nascimento Opinião: Isley Borges Fotografia: Emílio de Sá, Felipe Flores, Laura Máximo e Marcos Vinícius Reis Arte da capa: Isley Borges Tiragem: 2000 exemplares Impressão: Imprensa Universit./Gráfica UFU E-mail: sensoincomumufu@gmail.com Blog: sensoincomumufu.blogspot.com Twitter: @_sensoincomum Telefone: (34) 3239-4163
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atualidades
VIDA NO CAMPUS
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Alunos questionam falta de concorrência entre cantinas Aumento de preços abusivos e repentinos também incomoda discentes Emílio de Sá e Marcos Vinícius Reis Repórteres
Para o almoço e o jantar na UFU, o estudante comum pode recorrer ao Restaurante Universitário (RU) e conseguir uma refeição com um custo baixo. Mas entre essas refeições, nos intervalos e horários livres, o aluno normalmente recorre às cantinas instaladas dentro do campus. E aí entram alguns questionamentos sobre o tema: os preços normalmente praticados pelas cantinas são justos? Como funciona o processo de instalação das lanchonetes na universidade? Os alunos estão satisfeitos com a variedade e a concorrência que existe? Sobre a questão da abertura das cantinas na universidade, Emerson Luis Oliveira gerente da Divisão de Elaboração de Projetos e Acompanhamento de Contratos (DIEPC), da Prefeitura Universitária explica alguns pontos do assunto. “A gente inicia esse processo com um projeto básico, falando o que pode ser comercializado, os horários de funcionamento, questão de energia, água, como vão ser efetuados esses pagamentos, questão de manutenção,
benfeitorias. Tudo isso entra no projeto básico”, explica. Ainda segundo Emerson, “a empresa que ofertar o maior valor de concessão é que assume o local. Ela entra com toda manutenção necessária, adaptações, tudo. E no contrato já tem uma cláusula que reza que toda benfeitoria feita no imóvel já fica para a União”, complementa. Para alguns estudantes, essa concorrência idealizada na teoria não é bem percebida na realidade. O estudante de Engenharia Elétrica Fernando Beletti vê pouca diferença entre as cantinas da UFU. “Não existe concorrência”, afirma diretamente o aluno. Além do problema citado, Beletti também reclama de aumentos abusivos no preço dos alimentos. “Foi de 2,50 pra 3,50 o bolo. O tamanho não mudou, nem fornecedor, muito menos ingrediente. Foi tão aleatório que até a mulher do caixa debochou”, reclama o discente. Ainda sobre a concorrência, a estudante de Filosofia Maria Vilela diz também perceber pouca diferença de preços. “Tem quatro cantinas na UFU que vendem os mesmos produtos pelo
FOTO: Marcos Vinícius Reis
A fila é grande em uma das poucas cantinas que aceita cartão no campus Santa Mônica
mesmo valor”, afirma a discente. Vilela também reclama de aumento de preços repentinos. Além disso, a universitária critica o fato da maioria das cantinas não aceitarem cartões de crédito. “Eu uso cartão, mas como apenas duas cantinas utilizam essa forma de pagamento, às vezes tenho que me deslocar do bloco em que tenho aula”, explica. Outra aluna que não se sente completamente satisfeita com o serviço das canA pouca variação dos valores de suco de laranja nas cantinas ajudam a tinas é Márcia Silva, do curso entender o problema de Geografia. Segundo ela, os preços deveriam ser mais razoáveis. “Eu considero os valores dos salgados na UFU altos, devido ao fato de ter como consumidor principal os universitários. Não vejo muita opção dos sabores de salgados. Acredito que os valores tinham que ser mais acessíveis”,
Uniformização
opina a discente. Sobre a questão da concorrência, o gerente da DIEPC explica que a universidade não pode interferir no assunto. “Concorrência é sempre sadia, não é? Até mesmo pra questões de valores, de preços. Mas a administração não tem como intervir”, explica. Sobre os aumentos abusivos, Emerson afirma que a cantina deve praticar preços razoáveis para os alimentos. “A UFU só intervêm quando extrapola muito. Porque no contrato não fala o preço que ela tem que cobrar. No contrato fala que ela tem que praticar preços de mercado. Quando sai muito fora do normal, aí a UFU intervêm”, justifica.
Cantina institucional Emerson gerente da DIEPC explica que na universidade já existiu uma cantina institucional, há muitos anos, mas que hoje não é mais possível ter este tipo de estabelecimento. “Há 25 anos já teve. Hoje a UFU não pode ter lucro, nada que vise lucro. Em função disso é que se terceirizou”, contextualiza o funcionário. Sobre o assunto, a estudante Maria Vilela crê que uma cantina institucional não seria interessante. “Não acho que a instituição deveria se preocupar com isso, a terceirização não é o problema”, argumenta.
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INCLUSÃO
Projeto da UFU defende os direitos de travestis e transexuais Com destaque nacional, o “Em cima do Salto” deu origem à Triângulo Trans FOTO: Emílio de Sá
funciona no Ambulatório Amélio Marques, no Hospital das Clínicas, surgiu em setembro de 2007, após um incidente registrado com uma das travestis. “Na casa onde ela morava, colocaram água sanitária no delineador dessa travesti e ela ficou com o olho muito infeccionado”, conta Flávia Teixeira. Foi então que ela percebeu que não bastava o foco na prevenção de DSTs, também era necessário que existissem cuidados de saúde para esse público específico. O projeto “Educando pelos pares” promoveu um jogo entre as travestis participantes e a Atlética da Psicologia “O Ambulatório coO primeiro objetivo do programa meça com uma perspectiva de trabaPaula Nascimento e Gabriel Rodrigues foi tratar da questão da educação e lhar atenção básica da saúde, mas a Repórteres saúde em grupos de discussão, com o realidade aponta outro caminho e as O programa “Em Cima do Salto: intuito de informar e também ouvir as travestis fazem outro percurso imporEducação, Saúde e Cidadania”, coor- travestis. Mais tarde, esses grupos de tante de busca pela assistência, pelo denado pela médica Flávia Bonsucesso diálogo se tornaram um projeto autô- pronto-atendimento, nos apontando Teixeira, tem como objetivo informar nomo, chamado “Conhecer para outras demandas”, afirma a coordenae atender a população de travestis e (trans)formar: educando pelos pares”, dora do programa. Além dessas novas transexuais de Uberlândia e região. O coordenado pelo professor Emerson demandas, também surgiram transexuprograma, que atualmente possui 20 Rasera. Gabryela Rodrigues, uma das ais com o desejo da cirurgia de transbolsistas de diferentes graduações da participantes dos grupos de discussão genitalização, o que levou o UFU, está dividido em cinco projetos: afirma que os debates promovidos fo- ambulatório a começar, em 2008, a re“Conhecer para (trans)formar: edu- ram muito importantes para que ela alizar o acompanhamento dessas pescando pelos pares”, “Há vida nas calça- soubesse lidar com as situações de pre- soas, mas não a cirurgia; os pacientes das”; “Ambulatório Saúde das conceito. eram direcionados para Goiânia. Travestis e Transexuais”, “Eu existo” e, Junto com o “Educando pelos paProvavelmente, no próximo ano a recentemente, “Adesão”. res”, surgiu o “Há vida nas calçadas”, cirurgia de transgenitalização já será A coordenadora conta que o pro- que tem como objetivo levar aos pon- realizada no Hospital de Clínicas. grama surgiu em novembro de 2006, tos de trabalhos das travestis insumos, “Com o processo e a construção de fruto de um projeto de pesquisa que preservativos, além de identificar as si- outras alianças e o próprio reconheciela coordenou. A proposta era que o tuações de violência e também convi- mento do trabalho, outros profissiogrupo investigasse como as travestis dá-las para os grupos de discussão. nais somaram a nossa equipe e nós pensavam a prevenção para as doenças Laura Moukachar, estudante de Medi- temos, hoje, uma equipe capacitada já sexualmente transmissíveis (DST), em cina e bolsista do programa, afirma para a realização da cirurgia”, relata a especial a AIDS. Quando os alunos que o projeto é importante pois acom- médica. partiram para o campo, perceberam panha as travestis, além de informar O programa “Em cima do salto” que elas tinham um desconhecimento sobre a existência do Ambulatório de possui, ainda, dois outros projetos que grande sobre a questão, apesar de as Saúde das Travestis e Transexuais e da complementam os demais. O projeto DSTs fazerem parte do seu cotidiano. existência de grupos de diálogo. “Eu existo”, visa dar conta das quesAlém disso, as pesquisas também mostões jurídicas das travestis, como das traram que havia uma dificuldade das Cuidados específicos mudanças de nome. Já o “Adesão”, travestis em ter acesso aos serviços de oferece tratamento e acompanhamensaúde. O atendimento direcionado, que to dos casos de AIDS.
Manutenção A Triângulo Trans – Associação das Travestis e Transexuais do Triângulo Mineiro formou-se devido às ações educativas do programa. A associação objetiva incentivar a formação política e cultural dos associados e, até hoje, quem financia as passagens e os encontros nacionais e regionais dos quais a Triângulo Trans participa, é o “Em Cima do Salto”. Flávia Teixeira afirma que o programa é muito fácil de gestar, pois “a gente tem uma equipe muito boa, os bolsistas já estão conosco há um tempo e os que entram, ingressam e assumem as responsabilidades dentro dele conosco”. O “Em cima do salto” é financiado pelo Programa de Extensão Universitária (PROEXT), que fornece desde as bolsas para os graduandos participantes, até o financiamento da ida das travestis e transexuais aos encontros e congressos nacionais a regionais. Para 2014, a coordenadora explica que não haverá mais o recurso do PROEXT. Em busca de recursos, a coordenação já fez um encaminhamento para o Departamento de DST/AIDS do Ministério da Saúde, para que este apoie as ações do programa, uma vez que o “Em Cima do Salto” tem notoriedade nacional.
Conheça o programa O Ambulatório Amélio Marques fica no Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia e, atualmente, funciona às segundas-feiras, das 17h00 às 21h00 e oferece atendimento nas áreas médica, psicológica e odontológica. Para mais informações, acesse o blog do programa: www.programaemcimadosalto.blogspot.com.br. Ou entre em contato pelo telefone (34) 3218-2470 e pelo e-mail: programaemcimadosalto@gmail.com
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MEMÓRIA
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Cantoras da era de ouro do rádio são homenageadas na UFU
Mostra realizada pelo CDHIS promove a audição de discos e apresenta documentos históricos FOTO: Marcos Vinícius Reis
Vitrola doada ao acervo do CDHIS é utilizada para audição das cantoras da 'era de ouro' Marcos Vinícius Reis Repórter
O Centro de Documentação Histórica (CDHIS) do Instituto de História da UFU está realizando a exposição “Vozes Femininas: O CDHIS e a 'era de ouro do rádio' (1930-1960)”. Os participantes da mostra podem conferir documentos
históricos sobre cantoras brasileiras de meados do século passado, além de terem a oportunidade de ouvir algumas das canções que marcaram o período. Todo o material faz parte do acervo do órgão. A exibição foi inaugurada no mês de agosto e seguirá aberta ao público até o final de novembro. Jean Luiz Neves, coordenador do
CDHIS, conta que a idealização da mostra surgiu em uma reunião com a equipe do centro. “Propôs-se uma exposição para homenagear os 90 anos do rádio no Brasil. A partir disso, pensamos em tratar dos grandes destaques da história desse meio: as cantoras.” Segundo Neves, o vasto acervo do CDHIS inclui nomes como Carmen Miranda e Aracy de Almeida, além de periódicos (especialmente a Revista Cruzeiro) com imagens e reportagens sobre as cantoras do período contemplado pela mostra. Os participantes da exibição poderão ver – e ouvir – de perto esses materiais. Aline Guerra, integrante da comissão organizadora da exposição, ressalta que ela foi elaborada para a sociedade em geral, e não apenas para o público acadêmico: “nossa intenção foi buscar um tema atrativo não só a quem realiza pesquisas no CDHIS ou é da UFU, mas a todos os que se interessarem”. Guerra comenta que a expectativa é que pessoas de diferentes espaços e faixas etárias compareçam à mostra. “Já temos escolas com visitas agendadas.
Mas esperamos que haja, também, um público diferente, como um jovem acompanhado de seus pais ou de seus avós. Por isso, divulgamos a exposição na televisão, no rádio e na internet”, diz.
Visitas e Agendamentos A exposição “Vozes Femininas: o CDHIS e a 'era de ouro do rádio' (1930-1960)” possui entrada gratuita. Ela é aberta ao público de segunda a sexta-feira, das 8h30 às 11h e das 13h30 às 20h, no Centro de Documentação Histórica do Instituto de História, localizado no Bloco 1Qdo campus Santa Mônica da UFU. Aqueles que desejarem participar de uma visita guiada em grupo podem realizar o agendamento por meio do email cdhis@ufu.br ou dos telefones (34) 3239-4236 e (34)3239-4501.
Desistências na graduação chegam a 20,9% Falta de identificação com curso escolhido é principal motivo para evasão no ensino superior Priscila Costa Repórter
Segundo dados do INEP, a evasão nos cursos de graduação no Brasil, em 2009, foi de 20,9%, universo que representa 896.455 alunos. Na UFU, a taxa de abandono de curso chega a mais de 15% dos alunos. As desistências podem ocorrer por motivos financeiros e familiares, porém estudos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) evidenciam que uma das principais causas é a falta de identificação com o curso escolhido. O psicólogo Charlie Camilo acredita que a maioria dos alunos que abandonam seus cursos fazem isso por
serem imaturos no momento da escolha da graduação ou durante o decorrer do curso. “Neste último caso, a imaturidade se evidencia pela falta de paciência em aguardar a vivência prática que o curso escolhido oferece”, opina. Na faixa etária entre 15 e 20 anos a pessoa ainda não tem a experiência de vida necessária para fazer uma escolha tão importante. E a solução para o problema de não identificação pode ser desistir e começar outro curso, ou então terminar e se formar mesmo assim. É o caso de Letícia Morais, aluna de Engenharia Elétrica da UFU, que está na segunda graduação após três períodos de Engenharia
Biomédica. “Quando prestei vestibular, passei para os dois cursos, porém fiz a escolha errada, durante a graduação percebi que não gostava, decidi largar e prestar novamente. Não me arrependo”. Já Claudia Regina, diretora de marketing, afirma que se identifica muito com a profissão, contudo sua área de formação é Jornalismo. Ela percebeu que não gostava do curso, porém decidiu se formar, pois tinha necessidade do diploma para sustentar seus dois filhos. “Não foi uma escolha fácil e, apesar de não atuar na minha área de formação, o Jornalismo me ajudou muito, me possibilitou conhecer técnicas que auxiliam no
meu dia a dia profissional”, relata. Para resolver este dilema, Camilo indica aos alunos que esperem até, pelo menos, o quarto período para tomar a decisão pela desistência, afinal os primeiros anos dos cursos superiores, em geral, apresentam disciplinas teóricas. Caso o aluno, após passar pela experiência prática ofertada pelo curso, ainda não se identifique, então o psicólogo indica o trancamento da graduação. Desta forma, a pessoa tem a opção de retornar ao primeiro curso escolhido ou tentar novamente uma segunda graduação, só que desta vez com mais base para uma escolha consciente.
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Precisamos
Armamento da vigilância da UF
Emílio de Sá
Em uma universidade pública federal, lugar de conhecimento e reflexão, Nos Estados Unidos da América, o o assunto também não passa despercedebate sobre a questão das armas é bido. A vigilância patrimonial da UFU mais polêmico e controverso do que é armada. E este fato levanta debates e nunca. Tragédias não tão distantes no questionamentos na comunidade unitempo efervesceram a sociedade civil versitária. Alguns crêem que esse modo país ao redor do tema e o presiden- delo não seja o ideal, outros já te Barack Obama se posicionou a favor acreditam ser necessária a presença de de uma mudança na legislação sobre a vigilantes armados. questão. No Brasil, já tivemos até um Não existe uma lei ou determinação referendo em 2005 consultando a po- nacional que fale sobre o assunto. Capulação sobre a comercialização de ar- da universidade tem a liberdade de esmamentos. Não é um tema simples. E colher a melhor forma de vigiar seus está longe de ser. campi. Muitas instituições preferem adoFOTO: Emílio de Sá tar a segurança desarmada, algumas adotam a vigilância com armamento e outras preferem mesclar vigilante s com armas e sem armas. É uma questão de escolha particular das administrações. Para o estudante de economia Benito Salomão, o armamento dos vigilantes da universidade é essencial para a segurança. “Os vigilantes devem portar armas para proteger as pessoas que trabalham A vigilância na UFU é apenas patrimonial e utiliza armamento dentro do Repórter
campus, bem como os estudantes. Além de preservar o patrimônio público e privado dentro da universidade”, defende o discente. Na opinião de Salomão, a dinâmica social e a insegurança da cidade de Uberlândia exigem uma segurança armada na UFU. Sobre o tema, o estudante vai mais além e afirma que “um trabalho integrado com a nossa polícia militar pode ser de grande efeito dentro do campus”. Já a estudante de Relações Internacionais Poliana Garcia acredita que o despreparo dos vigilantes aliado ao armamento não seja o modelo ideal. “O que se nota é um despreparo por parte dos vigilantes e, com isso, o armamento dos vigilantes se configura mais danoso à comunidade acadêmica como um todo”, opina a discente. Garcia frisa que, em seu ponto de vista, a preparação dos seguranças seria uma alternativa mais eficaz do que o simples armamento. “A vigilância feita com um corpo de vigilantes preparados se mostra muito mais eficaz do que o porte de armas de fogo, que na verdade acabam intimidando e repreendendo as pessoas dentro dos campi”, reitera.
está atendendo bem devido à grande violência que está tendo na cidade. E a universidade é um segmento da cidade. Então, pra esse tipo de situação, pra essa violência toda, esse modelo ainda é um dos melhores”, opina. Apesar de seu posicionamento, Diniz não descarta a abertura de um debate com a comunidade universitária sobre o assunto. “Não está descartada, também, uma discussão com todo segmento da universidade sobre esse tema. O nosso setor de vigilância está aberto a entrar em qualquer discussão com técnico, professor, aluno pra fazer uma vigilância em comum acordo com todos, que agrade a todos e que seja eficiente”, explica o funcionário. O coordenador da Diretoria de Assuntos Estudantis (DIRES), Leonardo Barbosa, mostra outro aspecto da questão. Segundo ele, as armas das vigilâncias estão sendo visadas pelos criminosos da cidade. “A PM de Uberlândia tem tido muito sucesso em desarmar o crime e isso pressiona para que eles comecem a buscar outras fontes de arma. E a vigilância armada, não só na UFU, tem sido um alvo constante da pressão dos criminosos. Eles roubam as armas dos nossos vigilantes. Então, nós estamos Posicionamentos da administração virando uma fonte de fornecimento de arma pro crime. Isso não é adequaPara o gestor da Divisão de Vigilân- do, não é o ideal”, aponta o coordenacia (DIVIG) da UFU, João Delfino Di- dor. niz, o modelo de vigilância armada agrada devido às circunstâncias. “Hoje esse modelo de segurança armada
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s de armas?
FU traz opiniões divergentes
FOTO: Emílio de Sá
cendo. Aí é aonde se necessita terceirizar a parte de segurança pra dar conta do serviço que exige”, explica. O coordenador de Assuntos Estudantis (DIRES), Leonardo Barbosa, explica que o motivo da contratação desses serviços particulares dentro da universidade não é de hoje. “Isso vem desde o final do governo FHC quando alguns cargos foram colocados em extinção. Por exemplo, o cargo de vigilante, o cargo de cozinheiro, o cargo de almoxarife. Quando o governo põe um cargo em extinção nós não podemos mais fazer concurso para eles”, contextualiza.
Comportamento da vigilância
Gerente da DIVIG afirma que debate sobre o modelo de segurança deve exisitir
Ainda sobre a questão das armas, Barbosa afirma que existe debate na administração. “Nós herdamos essa segurança armada, e hoje a gestão atual tem discutido a possibilidade de desarmamos a vigilância ou colocarmos uma vigilância mista”, explica, mas reitera que não há nenhum posicionamento definido por enquanto. Perguntado sobre as consequências de uma possível mudança no modelo de segurança, o coordenador da DIRES explica que ”toda tomada de decisão dentro de uma gestão implica em risco. Toda escolha polí-
tica tem ônus e tem bônus. Tudo isso depende do modelo de universidade que nós queremos”.
Terceirização A vigilância da UFU passou, há alguns anos, por um processo de terceirização. E essa é outro ponto que também gera questionamentos. Segundo o gestor da Divisão de Vigilância (DIVIG) da UFU, João Delfino Diniz, a terceirização foi a solução encontrada para atender a expansão que a universidade sofreu ao decorrer do tempo. “Com o tempo vai se defasando o quadro e a universidade vai cres-
Sobre o comportamento e desempenho dos vigilantes, as opiniões também divergem. A estudante de R.I., Poliana Garcia, acredita que o treina-
mento que os vigilantes da UFU recebem é fraco e isso se reflete nas atitudes dos vigilantes. Acho que os vigilantes estão mal preparados e mal orientados para exercerem suas funções. Já o aluno de economia Benito Salomão vê de outra forma. “Pelo menos no campus Santa Monica, onde conheço o trabalho dos vigilantes, me parece bastante profissional”, opina. Ainda sobre a preparação dos vigilantes dentro da UFU, Barbosa, coordenador da DIRES, aponta que o preparo dos funcionários deve ser diferenciado para lidar com o ambiente universitário. “(os seguranças) precisam de uma preparação especial para lidar com o público universitário, isso não é um banco, isso não é uma empresa. Tem uma dinâmica especial, por isso precisa de uma atenção especial”, afirma.
Alguns incidentes envolvendo armas e vigilantes da UFU No dia 11 de setembro deste ano, um dos seguranças terceirizados que fazia vigilância no Campus Glória, em Uberlândia, foi baleado e morto após tentar conter dois homens armados em uma tentativa de assalto. A informação foi divulgada nos meios de comunicação da cidade. (http://g1.globo.com/minas-gerais/triangulo-m ineiro/noticia/2013/09/morreseguranca-baleado-em-area-daufu-em-uberlandia.html) No dia 16 de Agosto deste ano um segurança da UFU teve sua arma roubada durante o expediente dentro da universidade. A notícia circulou em portais da cida-
de (http://www.correiodeuberlandia.com.br/cidade-e-regiao/vigilant e-da-ufu-tem-arma-rouba-duranteexpediente-nesta-sexta-feira/) No dia 4 de Setembro deste ano uma estudante de Ciências Sociais foi presa por pichar paredes internas da biblioteca. Segundo testemunhas, a aluna tentou retirar a arma de um segurança ao ser imobilizada. No dia 17 de Abril de 2012 um vigilante da UFU atirou com sua arma para o alto com o objetivo de tentar controlar uma confusão em uma manifestação de movimentos sociais sem-terra em frente à Reitoria.
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COTIDIANO
A internet e a balança Como sites, blogs e perfis nas redes sociais contribuem para mudanças no estilo de vida dos seus leitores
Karla Fonseca, Mariana Goulart e Natália Nascimento Repórteres
#projetoverão, #projetocarolbuffara, #projetoavidainteira, #projetolalanoleto... São tantos projetos e tantas hashtags que circulam pela internet propagando uma vida saudável e “magra”, que é de deixar qualquer um preocupado com as suas formas. A moda fitness realmente invadiu as redes sociais e não param de surgir adeptos desse novo estilo de vida. Foi em 2012, com o crescimento do número de usuários do Instagram, que essas iniciativas começaram a ter um papel significante e inspirador na vida de muitos. É comum ver fotos, vídeos, depoimentos, textos e comentários a respeito dessa "onda de saúde". Os que passaram pela experiência e atingiram seus objetivos querem inspirar mais pessoas, enquanto aqueles que ainda estão nessa busca, lêem as dicas e encontram forças nesses “vitoriosos”. A blogueira goiana, Lalá Noleto, 28 anos, debutou nas redes sociais com um blog de moda. Enquanto morou em sua cidade natal, foi bailarina, mantinha uma vida saudável e estava satisfeita com o seu corpo. Aos 20 anos, mudou para São Paulo, a fim de se dedicar totalmente aos assuntos do blog e viu sua rotina alterar e seu peso aumentar. Engordou sete quilos, chegando aos 64 em se-
tembro de 2011. Foi quando criou o Projeto Sabrina - uma referência à apresentadora Sabrina Sato - para entrar em forma. A blogueira adotou uma dieta livre de alimentos industrializados, como refrigerantes e congelados, e retomou a rotina de exercícios, com treinos de musculação e aulas de hidroginástica de segunda a sexta. Toda essa mudança pode ser acompanhada pelos leitores/seguidores de Lalá. Com 175.342 seguidores no Instagram, a empresária e blogueira carioca, Carol Buffara é outra entusiasta da divulgação da vida saudável nas redes sociais. Dona de um corpo escultural, Carol dá dicas de alimentação, esportes, tratamentos estéticos e, embora não seja uma “exgordinha”, incentiva as pessoas a deixarem de lado hábitos não saudáveis e adotarem uma rotina mais equilibrada. A empresária também criou uma hashtag, a #projetocarolbuffara. Os usuários que seguem Carol no Instagram postam fotos de suas rotinas de exercícios com esses dizeres. Diariamente, a blogueira escolhe quatro dessas fotos para fazer uma espécie de mural, parabenizando os perfis inspiradores. Embora os exemplos acima indiquem uma nova tendência de busca por uma vida saudável, os dados da pesquisa Vigitel de 2012 (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Do-
enças Crônicas por Inquérito Telefônico), divulgada em agosto desse ano, apontam que no Brasil, 51% da população têm excesso de peso. Esta é a primeira vez que o índice de sobrepeso atinge mais da metade da população brasileira. Diante desse cenário, ficam algumas dúvidas: será que esses blogs realmente representam o que é necessário fazer para levar uma vida saudável? Será que é correto seguir à risca dicas e dietas formuladas para outras pessoas?
Hábitos saudáveis Para a nutricionista Alessandra Carneiro, acompanhar o conteúdo dos blogs é válido, mas ela alerta para os riscos de se inspirar em determinadas pessoas sem fazer o acompanhamento correto. “Os pacientes muitas vezes chegam ao consultório com o seguinte comentário: 'quero ficar igual a esta atriz da Globo'”, diz. Ela reforça ainda que as pessoas precisam entender que a nutrição anda de mãos dadas com a atividade física. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que todas as pessoas acima de 18 anos façam algum tipo de atividade física, como caminhar, dançar ou andar de bicicleta por 30 minutos, ao menos cinco vezes na semana. No entanto, a pesquisa da Vigitel apontou que apenas 47,6% das pessoas entre 18 e 24 anos se exerci-
tam regularmente. Conforme aumenta a idade essa porcentagem diminui, sendo que, a partir dos 65 anos, esse número cai para 23,6%. O personal trainer Kenny Luka observa que, apesar dessa baixa adesão aos exercícios, muitas pessoas acabam se rendendo às atividades. "A maioria vem [para as academias] com o intuito de ‘projeto verão’ e quando conhecem o trabalho e começam a perceber os resultados e os benefícios acabam ficando para a vida inteira”. Aliada à falta de exercícios está a má alimentação, que contribui intensivamente para a piora dos dados apontados na pesquisa. Os altos números na balança do brasileiro estão diretamente ligados, por exemplo, à constante ingestão de carnes gordurosas, ao consumo de frituras e alimentos artificiais e a mania de beber refrigerante mais de cinco vezes por semana. Alessandra ressalta que é preciso fazer uma reeducação alimentar e uma reflexão sobre esses costumes. "Vejo, por um lado, pessoas conscientes de que precisam melhorar seus hábitos e que isso irá refletir em qualidade de vida. Mas vejo também uma grande concentração de deficiências alimentares nos jovens e sabemos que isso irá repercutir no futuro". E a mudança que começa pela boca é a mais difícil, porque livrar-se dos doces e fast-foods parece ser uma tarefa impossível.
cultura e lazer
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Mas não para as blogueiras fitness. Recentemente Lalá postou a receita de um creme de avelã "protéico e funcional", a solução para "matar a vontade de comer doce sem furar a dieta". Carol, que também compartilhou a receita do doce em seu site, vai além. Ela conta com a participação do chef Marcelo Facini, que ensina receitas saudáveis e gostosas, o que para muitos pode parecer impossível. Mas a nutricionista alerta que a falta de certos nutrientes durante as refeições pode causar deficiências alimentares, provocar estímulos hormonais errados e gerar uma propensão ao desenvolvimento de patologias no futuro. "Muitos pacientes chegam ao consultório com restrições de carboidratos ou picos de glicemia, fatores extremamente perigosos ao organismo. Por esse motivo é importante um acompanhamento de médicos e nutricionistas na vida das pessoas, principalmente aquelas que querem emagrecer e fazer dietas", explica. E quando o assunto é o acompanhamento de profissionais, sejam eles médicos, nutricionistas ou educadores físicos, as blogueiras não ficam para trás. Carol fala constantemente sobre as idas à nutricionista e sobre os trabalhos que faz com o personal trainer e repassa aos leitores orientações que recebe dos especialistas. A nutricionista da Lalá ainda produz conteúdos para o blog. A proximidade com os profissio-
nais agrada os leitores. Comentários como "Lalá, adoro seus posts saúde! Dá vontade de sair correndo do trabalho e ir fazer um cházinho, uma salada colorida e ir correr no parque!", reforçam o interesse.
A vida como ela é A divulgação dos resultados da malhação e da dieta, as fotos na academia e as dicas de receita postadas pelas blogueiras fizeram com que muitas pessoas buscassem alternativas para melhorar os hábitos. Mas não só “seguindo” vivem os leitores. Muitos passaram a ser eles mesmos produtores de conteúdos, ainda que em menor escala. A jornalista Pâmella Luz, de 25 anos, é um exemplo. De leitora, ela se tornou produtora de conteúdo. No ano passado, ela levou um susto: estava pesando 95kg. "Eu estava muito acima do peso, cheguei a um estágio em que me olhar no espelho não era mais legal. Eu já havia tentado várias dietas, mas ou não davam resultado, ou eu não me esforçava o quanto deveria, então decidi que era hora de mudar", conta. E as mudanças começaram na alimentação. Em março, quando estava pesando 94,5kg, deu início à dieta Dukan e suspendeu por completo o consumo de doces e carboidratos. Em setembro ela já havia perdido 20kg. As modificações no cardápio foram seguidas à risca, embora sem acompanha-
mento médico. Contudo, a jornalista faz exames periodicamente para se certificar de que está tudo certo. Através do Instagram e do Facebook, ela compartilha os resultados do novo estilo de vida. "Registrar as evoluções é muito importante para manter o foco. É uma forma de levantar o ego porque é sempre bom escutar as pessoas falando que você está indo bem né?", afirma. A meta é chegar aos 70kg. Por isso, ela mantém a dieta, faz pilates e continua acompanhando as novidades publicadas na rede. "É legal ver que tem gente que consegue e aí você percebe que pode conseguir também", diz.
Balança comercial favorável A busca por um estilo de vida leve, aliado a uma alimentação balanceada é regra para quem quer perder peso. Mas tem gente que está ganhando com isso. O mercado de alimentos naturais, orgânicos e de suplementos está mais em alta do que nunca. Exemplo disso são as receitas compartilhadas pelas blogueiras, que geralmente levam ingredientes encontrados apenas em lojas especializadas. Isso fez com que empresários visassem um novo espaço para os negócios. A empresária uberlandense, Virgínia Félix, está há mais de três décadas no ramo. Em agosto de 1982 sua mãe, Raquel, abriu uma loja de produtos naturais. Segundo a comerciante, a mãe
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sempre gostou de utilizar esses produtos, mas na época era difícil encontrar lugares em Uberlândia que vendessem esses alimentos. Por conta disso ela decidiu abrir a loja. Atualmente, o estabelecimento vende mais de quatro mil variedades de produtos. O movimento na loja tem crescido e, de acordo com Virgínia, os clientes sabem o que estão comprando. “Hoje em dia as pessoas estão mais informadas, têm mais consciência alimentar. Sabem exatamente o que querem e quais produtos são melhores”, conta. Roberto Scotton, proprietário de outra loja de produtos naturais criada em Uberlândia em 1998, apostou no futuro. Ele decidiu abrir o comércio porque já tinha um pouco de conhecimento sobre a área e acreditava em um desenvolvimento em longo prazo. Para ele, as informações sobre os alimentos naturais compartilhadas na rede são válidas, mas fica o alerta: "É preciso se informar bem, procurar as verdadeiras informações do produto e suas indicações e não se deixar levar somente pelo comercial". Questionada sobre o custo para conseguir manter na mesa somente produtos naturais e integrais, Virgínia explica: “Os produtos são um pouco mais caros, mas os benefícios são maiores. A pessoa faz uma economia em relação à saúde. Se ela se alimentar bem, raramente vai precisar gastar dinheiro com médicos e remédios”.
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ENTREVISTA
Sonho carnavalesco Laura Máximo Repórter
Já ouviu falar no Monobloco, né? E, aposto, já mexeu pelo menos o pezinho ao som das músicas do grupo de percussão. Pois é, um projeto percussivo semelhante à iniciativa carioca foi iniciado recentemente em Uberlândia: o Udibloco. Eduardo Tullio, líder do grupo e professor do curso de Música da UFU, fala para o Senso (in)comum sobre as raízes do projeto e as inclinações pessoais que o fizeram alimentar esse sonho carnavalesco. O carioca mora há 11 anos em Uberlândia, se apaixonou pela cidade e “foi ficando” por aqui. Terminando seu projeto de doutorado, mora longe dos batuques do Rio de Janeiro, mas carrega no coração e na sola do pé a paixão pelo cavaco, o pandeiro, o atabaque e o tamborim.
do o dia inteiro. Assim que me formei, vim aqui, fiz a prova do instituto e comecei a dar aula. A ideia do Udibloco surgiu no projeto “O samba mandou me chamar”, na antiga gestão do Lu [di Laurentz] na DICULT. A gente tava ensaiando samba, tipo o Monobloco, quando nem era tão famoso, e aí nos chamaram pra tocar no “Samba” e, depois, tocamos também no Arte na Praça. Foi muito bom e sempre perguntavam “e aí quando vão retomar aquele grupo?”. Chamei os meus melhores alunos e deu certo. O Jack [Will] , que é famoso pra caramba, toca caixa, o Diego toca surdo. Só que, na verdade, estou indo pra Portugal terminar meu doutorado e vou ter que dar um intervalinho.
Senso (in) comum: Qual é o repertório de vocês? A gente toca samba-enredo, faz sambafunk, Jorge Ben, músicas que fazem bastante sucesso. Eu curto essa coisa do povo dançar e cantar junto. Por mais que eu tenha vontade de tocar outras músicas mais das antigas que gosto e conheço, na hora do show, prefiro fazer o que sei que todo mundo vai dançar. Faço uns funks cariocas porque gosto, eu não escuto funk em casa, mas toco porque gosto de ver o pessoal dançando. O povo anima. Senso (in) comum: Como adaptar um repertório como esse a uma cidade de raízes rurais e sertanejas como Uberlândia? Aqui em Uberlândia tem bastante coisa de samba, tem sertanejo também mas o samba é presente. Tem vários grupos que tocam em barzinhos, só faltam eventos grandes. Uma cidade do tamanho de Uberlândia tinha que ter mais samba, rock, tinha que ser mais aberta. A cultura é rica, mas Uberlândia ainda não entrou no circuito de grandes artistas. Talvez com o Teatro Municipal novo melhore, mas falta ter uma rotina de shows. A infraestrutura daqui é muito fraca, não tem equipes de som boas, isso dificulta também.
Senso(in) comum: Por que você escolheu a percussão? Escolhi virar percussionista com 18 anos e fazer faculdade de música. Eu tocava bateria, toquei com um monte de gente, até com Seu Jorge, antes dele ficar famoso, e fui fazer faculdade de música mais ligado à percussão erudita, de orquestra e sinfônica: bumbo, prato, marimba, xilofone. Mas, como carioca, o samba sempre foi a raiz. Quando morava no Rio, não ia muito pro samba. Fui fazer minha graduação em percussão no Rio Grande do Sul, em Santa Maria, deu um mês lá só escutava música gaúcha, fiquei doido. Aí comprei um CD da Beth Carvalho e ficava escutan- Senso (in) comum: Como é o cli-
FOTO: Arquivo pessoal Eduardo Tullio
“Por mais que as pessoas cur tam rock ou ser tanejo, quando o samba toca é do brasileiro a vontade de dançar” O carioca Eduardo Tullio criou o UdiBloco com sambas que fazem dançar
ma carnavalesco de Uberlândia? O público é receptivo? Na época do carnaval é bacana. Já fui jurado de carnaval umas quatro vezes aqui, já vi um pouco das escolas de samba e tem público. E samba é terapia, tocar músicas de sucesso é super legal o público é sempre receptivo. A gente toca Chico Buarque, Seu Jorge, Jorge Ben, Martinho da Vila, faz uns funks e algumas coisas que são só batucada mesmo, só percussão. Samba todo mundo gosta, né? Por mais que as pessoas curtam rock ou sertanejo, quando o samba toca é do brasileiro a vontade de dançar, de tentar sambar um pouquinho. Senso (in) comum: Quem são suas inspirações, seus artistas preferidos? Gosto muito de pagode e samba de verdade, de raiz. Arlindo Cruz, Zeca Pagodinho, Exaltassamba e Revelação. E essa pegada mais sambafunk, Jorge Ben, Seu Jorge, com quem toquei. E de fora eu gosto das bandas de soul music, de Earth, Wind and Fire, anos 70, música dançante, música negra, sou de discoteca.
Senso (in) comum: O Udibloco tem a proposta de trabalhar com algumas músicas autorais? Algumas coisas percussivas, no último show eu fiz uma pecinha de pandeiro, a gente bolou uma introdução, fizemos uma pequena parte só instrumental. Agora com voz e letra, não. O Jack tem uma música dele, “Samba que dá na cabeça de preto”, que é legal. Ter o Jack no grupo é ótimo, é uma das pessoas mais queridas da cidade, um artista completo. Senso (in) comum: Quais são os próximos projetos do Udibloco? A ideia é, quando eu voltar em janeiro, que é verão, remontar o grupo e fazer shows. A gente gosta de se misturar com o povo, de descer, tocar com a plateia. Não tem aquele show programado, a gente vai pelo clima. Prefiro tocar com o bar lotado de graça, do que tocar num lugar com dez pessoas que o cachê seja cinquenta reais. A gente não tá preocupado com o dinheiro, a gente quer voltar pra casa realizado, pensando que o show foi bom, que a galera dançou, elogiou.
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Kveikur
O que você acha engraçado?
Marcos Vinícius Reis
Emílio Lins
Imagine-se dentro de um barco feito de incertezas. Etéreo, flutua acima da linha do horizonte. O casco não toca o oceano. Tampouco se aproxima das nuvens: está lá, em seu caminho do meio, cerceado pelas oposições de sua jornada enigmática. A obra musical da banda Sigur Rós poderia possuir muitos planos de fundo como esse, delicadamente contidos (ou sugeridos) em toques, conceitos, imagens e videoclipes abstratos. Seus sons, frequentemente marcados pelo minimalismo, parecem ter absorvido algo dos vulcões e das geleiras da Islândia, terra natal do grupo: tanto exprimem grandiosidade quanto seduzem para uma contemplação intimista. “Kveikur” (Pavio) é o sétimo trabalho de estúdio do Sigur Rós. Lançada em junho deste ano, a obra dá continuidade à rica sonoridade – usualmente classificada como pós-rock – de seus predecessores. Mas, ao contrário de persistir em composições brandas, extravasa canções sombrias. Manifesta-se, no álbum, uma agressividade nunca antes explorada pelo grupo. Tanto que os trinta segundos iniciais de "Brennistein" (Enxofre), primeira faixa do disco, são suficientes para que o ouvinte mais familiarizado com a banda perceba imergir em experiências musicais inteiramente novas. Distorcidos e pesados, os sons que se desvelam contrastam com a atmosfera rarefeita (quase silenciosa) de "Valtari" (2012), álbum anterior do grupo. A estranha e bela "Ekki Múkk" (Nenhum Som) do penúltimo é, por sinal, diametralmente oposta a tudo o que se
pode encontrar em "Kveikur". As nove faixas do novo disco causam algum desconforto em uma primeira audição. Os ruídos constantes que permeiam as músicas dão a impressão de que algo está fora do lugar. Em pouco tempo, entretanto, consagra-se uma construção sonora impecavelmente apurada. Destaca-se a intensidade emocional de "Stormur" (Tempestade) e da faixa-título. A primeira é a que mais se aproxima das produções anteriores da banda. A segunda é a que mais se aprofunda na proposta conceitual do último trabalho. Apesar da densidade, “Kveikur” também brinca com luzes. “Hrafntinna” (Obsidiana), certamente uma das canções mais belas já feitas pelo Sigur Rós, move o ouvinte em uma progressão musical inspiradora, incitando sensações positivas mesmo em meio à sua ambientação obscura. "Bláprádur" (Fio Fino), por sua vez, transita entre introspecção quieta e extroversão dançante. A sinfonia sombria de "Kveikur" provoca inquietação e fascínio. O último disco do Sigur Rós é, com efeito, uma das obras mais singulares e interessantes na trajetória artística do grupo islandês. A ruptura com as sonoridades tranquilas ou ensolaradas de outros discos se revelou, enfim, uma agradável surpresa. Nem todos terão disposição para ouvir o álbum do início ao fim, considerando o incompreensível islandês, as duras batidas e o distanciamento a um apelo comercial. Mas aqueles que ousarem se aventurar além destas fronteiras serão deliciosamente recompensados. Divulgação
Divulgação
O que te faz rir? Até que ponto pode ir uma piada? Existe preconceito no humor? Difíceis perguntas com respostas complexas. No documentário “O Riso dos Outros” vários humoristas, jornalistas, representantes de movimentos sociais e críticos são entrevistados com o intuito de analisar os limites (ou a ausência deles) em uma
piada. Uma produção com uma temática bastante atual, aprofundada na questão e com muitas personalidades expondo suas análises e comentários. Um debate tratado de uma forma muito interessante e atraente. O filme pode ser encontrado de forma completa e gratuita no Youtube pelo link http://goo.gl/vnYHP2
Suspense reflexivo Laura Máximo Divulgação
Ganhador de vários prêmios, dentre eles dois Oscar e quatro premiações no Festival de Cannes, Pedro Almodóvar nos surpreende ao se renovar mais uma vez na sua última produção: “A pele que habito”. O filme é um suspense com um toque artístico em sua composição. O enredo gira em torno do médico Robert Ledgard, vivido por Antônio Banderas, e sua obsessão por criar em laboratório uma pele humana com capacidade de regeneração. Grande parte do filme se passa na casa de Ledgard e a construção da produção é feita, em grande parte, por flashbacks. Os personagens centrais da história, que moram na mansão, são o médico, sua governanta e uma mulher misteriosa que vive presa em um dos quartos. No decorrer da narrativa descobrimos até que ponto esse cientista é capaz de chegar em nome da sua pesquisa e influenciado por experiências pessoais. A mais nova produção de Almodóvar traz consigo uma história que, por si só, é impressionante, mesmo para observadores menos aprofundados na obra do diretor. Esse é
um filme diferente do que se está habituado a esperar do espanhol. Nada de humor e nem tantas lágrimas, se trata mesmo de um suspense, que une terror a ficção científica. É nos detalhes que o diretor se esconde, é no enredo que aborda conflitos sexuais, traição e solidão e que percebemos o toque comum a todas as obras de Almodóvar. A grande influência das cores na narrativa também dão o tom. Pinturas de famosos artistas como Tarcila do Amaral no fundo dos cenários são perceptíveis e dialogam plasticamente com o filme. O investimento em close-ups e a rápida movimentação das câmeras contribuem para a perfeição artística do filme, tornando “A pele que habito” um suspense reflexivo e repleto de beleza.
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Créditos: Emilio de Sá
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