Consciência J O RN A C U R S OL - L A B O R AT Ó E J O RN RI O D O U FU • D F E VE R AN O 0 4 • AL I S M O N E I RO - M A R Ç Oº/220 01 4
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SUS: realidade da
saúde pública em Uberlândia
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Álcool e universidade: uma íntima relação
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Carnaval visto pelos
mais diversos JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO UFU ANO 05 Nº 1 9 - JANEIRO-FEVEREIRO/201 4 ângulos Fotos : A n
a n da Din
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Crônica
Ode a nordestinidade
Maysa Vilela Praias paradisíacas, destino perfeito para as férias e o melhor, aqui mesmo no Brasil. Este é o nordeste. Pode parecer propaganda de agência de viagem, mas é o que vêm à mente de algumas pessoas quando se pensa nessa região do país. Conhecido pela beleza natural e força no turismo o nordeste é, ainda hoje, reduzido por muitos a isso. Desde sempre tenho contato com a região e mais, com os nordestinos. Filha de pai pernambucano, não conheço apenas as tais “praias paradisíacas”, mas boa parte dos estados e alguns de seus filhos. Que o destino de viagem de férias da minha família sempre foi Pernambuco, não é de se estranhar, já que grande parte dos familiares ainda mora no estado e os que não moram também voltam, gerando, quase que anualmente, uma reunião familiar marcada por reencontros. São mais de 2000 quilômetros do interior de São Paulo a Jupi, pequena cidade do agreste pernambucano onde vive minha avó. Durante essas viagens, pude conhecer mais do que o lindo litoral nordestino. Tive contato com muitas pessoas – familiares ou não – e pude perceber e amar o jeito delas. De humor e simpatia inigualáveis, posso dizer que sempre fui bem recebida por um nordestino. Com menos de cinco minutos de conversa já sabia de quase toda a vida e a mim já tinha sido oferecido, com bom coração, praticamente tudo o que havia dentro de seus armários alimentícios. Entre tapioca, cuscuz e o melhor sotaque do Brasil, a meu ver, a conversa é sempre descontraída, mesmo com a brabeza característica de muitos deles. De cultura peculiar, os nordestinos se diferenciam em vários aspectos de paulistas, catarinenses ou cariocas. E essa diferenciação, quando não aceita, gera preconceito e discriminação. Todo mundo já ouviu a velha história de um nordestino que decide buscar uma vida melhor no sudeste do país e, quando chega, é recebido como ser inferior. “Negros imundos”, “burros”, “que passam fome”, “tem que usar câmara de gás pra matar esse povo”. Esses foram alguns dos xingamentos emitidos pela gaúcha de 1 8 anos, Sophia Fernandes, em sua conta do Twitter em 2011 . Fato que, ao ser considerado xenofobia, gerou processos judiciais e esteve na mídia na época. Escrachado ou omitido, o preconceito é real. Tão real que ao refletir sobre alguns acontecimentos passados, lembrei de um no ano de 2005, quando na novela Senhora do Destino, o drama de Maria do Carmo, uma nordestina que saía de sua terra em busca de melhores condições em São Paulo, era contado. Ao chegar, Maria foi recebida por alguns com xingamentos como “anta nordestina”. Na época, estava na quinta série e um menino da minha sala insistia em me chamar assim, pois sabia que meu pai era nordestino. A existência de estereótipos a respeito das regiões do país e de seu povo é clara e inevitável. Contudo, ao serem perdurados, eles limitam tais regiões e transformam-se facilmente em discriminação. A riqueza maior dos nordestinos é a diversidade cultural, os tantos artistas que gerou, os ritos que propaga, enfim, a sua essência. E, claro, o paraíso natural que ela abriga, porque ninguém é de ferro! »
Ombudsman
O bom jornalismo, por vezes, é a poesia do cotidiano. Noutras, é a tal “chatice”/indagação. Jornalista deve ser um pouco poeta e um pouco chato. Mas acima de tudo, humano, e deixar o próprio texto humanizar. Isso é feeling! Em tempos de barbárie midiática, isso é senso INcomum. Ainda que com variações de profundidade, eis um jornal provocativo, cal-
Xiii! Erramos! Expediente
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Editorial
Vantagens de ser chato
Anna Vitória Rocha Ninguém quer ser o chato da mesa de bar que fala sobre racismo entre um gole de cerveja e uma piada infeliz. Ninguém quer ser responsável pelo constrangimento de dizer para aquela amiga que aquilo não é amor, é machismo. Ninguém quer ser aquele que acaba com a festa ou provoca uma briga por defender uma minoria historicamente oprimida. Contudo, coisas ruins acontecem quando a gente se omite. É só uma piada até alguém morrer de levar porrada por amar uma pessoa parecida demais com ela. É só uma cantada, mas as mulheres temem andar na rua sozinhas com medo de estupro. É falta de louça para lavar reparar que em uma novela com mais de trinta personagens não existe nenhum negro, mas o que temos é um crime histórico ocorrido há menos de 1 50 anos. Mesmo assim, os chatos são aqueles que lembram o que existe de pior por trás de cada piada, discurso ou gesto aparentemente inofensivo. Talvez eles incomodem pois lançam luz sobre o que existe de pior dentro de nós, o que preferimos esconder ou que nem sabemos que está lá. Isso não significa que sejamos todos racistas, machistas e homofóbicos, mas produtos de uma sociedade que por séculos sustenta arquétipos nocivos e nos inculca preconceitos que, se não forem revistos e combatidos, podem matar alguém. E esse é o problema com a opressão: pode ser exagero aos olhos dos outros, mas existem pessoas morrendo diariamente por causa dela. Por isso, é urgente que ela seja desconstruída. Tudo é normal até alguém apontar o dedo e ver um problema, até alguém incomodar quem está sentado e fazer com que essa pessoa pense: é normal mesmo ou me acostumei com o absurdo? Martin Luther King disse que o silêncio dos bons era muito pior do que o barulho dos maus, e isso vem de um cara chato que sonhava com a igualdade diante de uma sociedade que achava normal um negro ceder lugar a um branco no ônibus. Graças a ele e a tantos outros chatos, hoje olhamos para esse passado e sentimos vergonha, mas podemos contar essa história no pretérito. Tudo graças aos chatos, e que bom que eles existem. »
cado no cotidiano. Dos excrementos de pombos à fila do hospital. Do Instagram ao Teatro Municipal. Jornalismo que não fala de saúde pública, mas a vive, e narra. Que não se deslumbra com modismos, mas adentra nesse universo para questionar. O design clean coroa o bom trabalho, sem muitos balangandãs. (Brunner Macedo, jornalista)
Aquelas fotos lindas da capa da edição 1 9, que atribuímos a Ananda Dinato, na verdade são de Felipe Flores. Fica nosso pedido de desculpas!
Reitor: Elmiro Santos Resende / Diretor da FACED: Marcelo Soares Pereira da Silva / Coordenadora do curso de Jornalismo: Ana Cristina Menegotto Spannenberg / Professores responsáveis: Christiane Pitanga, Ingrid Gomes, Marcelo Marques e Mirna Tonus Editores-chefe: Leonardo Hamawaki e Paula Nascimento / Editores de capa: Giovana Matusita e José Elias Mendes / Editoras de páginas especiais: Flahana Pfeifer e Marina Colli / Editores de fotografia e arte: Felipe Flores e Rinaldo Morais/
Editores de opinião: Amanda Silva e Gabriel Rodrigues / Editorialista: Anna Vitória Rocha / Revisores: Ingrid Gomes e José Elias Mendes / Finalização: Danielle Buiatti Atualidades // Editores: Anna Vitória Rocha, Francine Naves, Giovana Santos e Maysa Vilela / Subeditora: Lorena Martins Ciência & Tecnologia // Editores: Leidiane Campos e Nivaldo Nascimento / Subeditora: Laís Farago Cultura, esporte e lazer // Editores: Guilherme Fragosso e Nayara Ferreira / Subeditor: José Pedro Bezerra
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Vivência na UAI Pampulha sinaliza descrédito da população devido à precaridade dos hospitais, mau atendimento e demora demasiada para ser atendido
Ananda Dinato Quarta de manhã. Descubro que terei que enfrentar um hospital. Isso logo me fez perder o sono. Buscando a alternativa mais rápida, o que é difícil em qualquer hospital hoje em dia, optei pela Unidade de Atendimento Integrado (UAI) que fica perto de casa. Aula perdida e lá vou eu de encontro ao temido pronto atendimento. Cheguei. Rapidamente me chamaram para triagem. Pensei: vai ser rápido. Doce ilusão. Os minutos vão se passando, gente chegando. E nada. As pessoas vão perdendo a paciência. Em um breve papo com quem está ao lado, pra fazer o tempo passar mais depressa, vou descobrindo que tudo aquilo que eu tinha escutado era verdade. E vi de perto o que milhares de brasileiros enfrentam todos os dias. Sobre a pesquisa do SUS em Uberlândia, vejo que o índice de Desenvolvimento do SUS (IDSUS) está em 5,32. Uma nota menor que a média nacional, calculada em 5,47. A nota leva em consideração o perfil socioeconômico e a estrutura da cidade. Uberlândia aparece no primeiro grupo, das cidades mais ricas e com as estruturas mais complexas do país. Dando uma volta pelo UAI Pampulha, resolvi ouvir da boca de quem estava ali, esperando por uma consulta. Não há quem não concorde com a precariedade dos hospitais. Lucinéia Marques, de 34 anos, já estava completando suas duas e longas horas de espera. Ela conta que houve vezes em que esperou por quatro horas, outras foi mandada de volta para casa pois o pronto atendimento nada podia fazer. “Eu acho que eles estão investindo em coisas supérfluas, entende? Se você não tem saúde você não faz nada. Nem todo mundo tem condições de pagar um convênio. É uma questão de humanidade da parte deles. Eu acho uma falta de humanidade.” E Lucinéia ainda completa “A gente sabe que o Brasil tem condição. Tanto é que estão investindo na copa. É bom a copa? É ótimo, mas se tem condição pra isso, eu acho que a saúde é mais importante”. E além da demora, também existe a má qualidade de alguns atendimentos. “Tem médicos que atendem bem, outros nem te olham.” E as histórias vão se repetindo. “Hoje, o povo está visando só o ganhar. Não estão visando mais a sociedade, não estão vendo a humanidade. Falta profissional interessado em atender a população”, ressalta Pauliana Ferreira, 35 anos, que chegou do UAI São Jorge por não conseguir ser atendida. “Nós somos tratados como porcos, como cachorros. Nós somos um país rico, só que o governo não sabe aproveitar a riqueza que temos. Quantos médicos de fora trouxeram pra cá? Muitos estão indo embora. Por quê? Não tem um salário digno, não tem um tratamento digno, e os coitados que precisam, sofrem!” desabafa Maria Socorro, de 52 anos que estava há uma hora e meia aguardando. Em três dias de experiência tive breve noção do que a maioria da população sofre todos os dias na procura por atendimento médico público. Ouvi desabafos, senti o sofrimento alheio, e presenciei o descaso na área da saúde. “Nós vivemos num Brasil de mentira. Nós vivemos num Brasil de incompetência do governo. Nós não temos governo, não temos prefeitos, não temos ninguém”, finaliza Maria Socorro. »
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A Moradia Estudantil acomodará 1 52 estudantes. O restante dos alunos em vulnerabilidade socioeconômica continua recebendo o valor do auxílio moradia de R$ 300
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ILUSTRAÇÃO: Érika Abreu
Casa vazia
Nayara Ferreira A Moradia Estudantil da UFU foi inaugurada em 29 de novembro de 201 2. Não é uma casa muito engraçada: tem teto e chão, sala de estar, cozinha, dois banheiros, três quartos, áreas de estudo e serviço e capacidade para acomodar seis estudantes. São 26 apartamentos de 88m² que custaram ao todo R$ 9,5 milhões. Segundo a Diretoria de Assuntos Estudantis (DIRES), a partir da metade de abril de 201 4 fará a ocupação definitiva do local que não foi feita antes por problema de acessibilidade. Dois dos 26 apartamentos são destinados a estudantes com necessidades especiais, mas os corredores estreitos impediam a mobilidade de cadeirantes. No primeiro semestre de 201 4, haverá uma seleção entre os ingressantes organizada pela Divisão de Assistência ao Estudante (DIASE), para ocupar a Moradia. A escolha de 1 52 estudantes entre aqueles que recebem a bolsa moradia é inviável. Muitos possuem contratos de
locação e outros preferem receber o auxílio. Apesar de preferir a bolsa, o estudante de Geografia, Waldison França, se queixa do valor atual (R$300): “Ela também precisa ser bolsa refeição aos fins de semana e feriados, bolsa xerox e bolsa lanche para quando a fila do RU não te permite almoçar lá.” Segundo Leonardo Barbosa e Silva, diretor de Assuntos Estudantis, há o desejo de se aumentar o valor do auxílio para R$ 400, que é impedido pelo orçamento reduzido. Não se pode ignorar que por trás de cada tijolo levantado há a concretização de um sonho e o resultado de uma bandeira há muito defendida pelo movimento estudantil. Diego Henrique Moreira, Coordenador de Assuntos Estudantis do Diretório Central de Estudantes (DCE) reconhece a importância da conquista. “A bolsa é muito importante, mas a Moradia é um bem físico, material e não vai sofrer uma especulação imobiliária”. »
Centro Pop atende moradores de rua Lara Lacerda
O Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (CENTRO POP) foi inaugurado em fevereiro em Uberlândia será referência de atendimento aos serviços e programas sociais da Secretaria de Desenvolvimento Social e Trabalho. Rosana Ribeiro, coordenadora do Centro, conta que desde a inauguração atende em média 40 pessoas por dia. Elas podem tomar banho, lavar sua roupa e recebem um kit com calça, camiseta, chinelo e moletom. A unidade oferece três refeições diárias, além do atendimento psicossocial. Ao fim do dia, os moradores de rua são encaminhados para as casas de apoio para que possam passar a noite. De acordo com a coordenadora, em parceria com o Programa Nacional de acesso ao Ensino Técnico e Em-
prego, o centro oferece A psicóloga Celiany Alves propostas de emprego para complementa que o trabalho aqueles que têm condições é feito em conjunto. “O atende trabalhar. “O atendimento dimento não é aquele psicopsicossocial filtra. Não adilógico tradicional de terapia, anta você pegar um pedreiro nosso trabalho aqui é social, e colocá-lo para assumir queremos que as pessoas uma função que passam por que não tem aqui estejam aptidão só aptas a sair da porque precisa situação de rua”. de emprego. Carlos Roberto Ele não vai fiPereira vive nas car lá. Assim ruas de Ubercomo aqueles lândia há quase que ainda não dois anos, quando Gabriela Santos estão aptos abordado sobre as psicologicamente para o tra- expectativas do atendimento balho” afirma Rosana. no centro disse que espera Gabriela Santos, assismelhora das condições hutente social, explica como é manas e sociais dos morafeito o primeiro contato no dores de rua. Diz também atendimento psicossocial. que quer trabalhar e entrar “Eles trazem um histórico de em um programa do governo vivência de rua e familiar e a que proporcione uma moraprimeira coisa que a gente dia digna. “Hoje fui a uma precisa fazer é escutar, para cooperativa e a tarde vou a entender as necessidades uma empresa que está oferde cada um e aí sim fazer tando emprego, tudo com a nossas intervenções”. ajuda deles” descreve. »
"A gente precisa escutar, para entender as necessidades"
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Intimidade entre universitários e álcool O consumo de álcool é uma prática natural seja para inserção num grupo, para agradar ou para se soltar nas festas
Paula Nascimento Ana (*) passou para Administração aos 1 7 anos. Ela não bebia e, devido às “brincadeiras” de seus veteranos no grupo de integração entre eles e os calouros, chegou a pensar em desistir do curso antes mesmo do início. Não o fez. Na primeira festa que rolou, ela já havia dito que não bebia, mas lhe disseram “que isso não era desculpa”. Sua sorte foi que um dos veteranos deu a dica para ela só por na boca e cuspir em seguida. Foi a primeira vez que bebeu – e, como primeira dose, ela provou da pinga Pedra 90. No mesmo dia, um de seus colegas que estava na festa sofreu p.t. (perda total) no semáforo. Christielly Fernandes, estudante de Engenharia Elétrica, foi levada para um bar com seus colegas e veteranos, no seu trote. No bar, bebeu quem queria, mas depois os calouros foram levados para uma praça onde os veteranos praticamente os obrigaram a beber. Christielly conta que viraram todo tipo de pinga em suas bocas e que “era isso ou ir embora”. Coibida pelos veteranos, pontua que se sentiu na obrigação de beber, “nem que fosse só um pouco pra que eles ficassem satisfeitos”. Assim como Ana, a aluna de engenharia também viu um de seus colegas passar mal. A estudante de Relações Internacionais, Laihara Araújo, começou a beber na faculdade. No seu trote, ela e seus colegas já tiveram que beber pinga. Ela descreve que ninguém era obrigado, mas que ela não seria a do contra. Explica que começou a beber mais na faculdade porque, normalmente, nas festas de integração a bebida é sempre o tema central. Warwick Kerr, que estuda Economia, também acha que as bebidas são sempre os temas centrais das festas, “Uma volta pelo 3Q e a gente confirma isso”. Mecachaça, Habeas Ceva, Dopasmina, Cachaça Carai V: game pesado, Alcoólatras Agrônomos, Tequilada, Desarqtoberfest, MIBebeda são apenas os nomes de algumas das festas universitárias. Segundo o Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA) os universitários compõem o grupo que mais consome bebidas alcoólicas. A faixa etária mais consumidora de álcool é a de 1 8 a 24 anos, e quando se trata de universitários nessa faixa de idade, observa-se que estes consomem ainda mais que os outros jovens. Na UFU, não seria diferente. O
consumo de álcool e outras drogas faz parte do cotidiano dos campi, afirma Leonardo Barbosa e Silva, diretor de Assuntos Estudantis, todavia, só agora a instituição criou a Comissão Sobre Álcool e Outras Drogas (CAD), que tem como função a formulação de uma política institucional sobre esse consumo. O diretor alega que a formulação da CAD só se deu nesse momento devido ao aumento da cobrança interna e externa em relação a uma posição da Universidade sobre
Ela afirma que não sabe exatamente porque começou a beber na faculdade, mas acredita que a faculdade e o início do consumo de bebidas alcoólicas tem tudo a ver, é como um “ritual de passagem”. Para ela, muitos dos melhores momentos que viveu nos seus dois anos de faculdade são frutos do consumo de bebidas alcoólicas. Laihara acredita » que a bebida tem seus lados bons e é uma integrante enraizada das experiências que se vive na faculdade, e se
Cerveja é uma das bebidas mais comuns nas festas universitárias o assunto. A CAD é formada por vinte integrantes, que vão desde profissionais da área da saúde a membros do Movimento Estudantil. A pluralidade da Comissão tem como objetivo “evitar o achismo e o preconceito”, conforme Silva, “pois não é objetivo da instituição tratar o tema pela abordagem da violência ou de uma pré-concepção aceita do que são as drogas e o espaço universitário”. Enquanto reflexo da sociedade, o consumo de álcool dentro da universidade é algo naturalizado – Laihara acha que a bebida é algo natural dentro da faculdade, e mais, a estudante acredita que não beber acaba causando exclusão dos grupos e das rodas de amigos. “Então, por que não beber? Por que não utilizar a bebida pra ficar mais alegre nas festas? Pra fazer amizades mais fácil?”, interroga.
essas experiências serão boas ou ruins, depende da moderação. (*) O nome do entrevistado foi alterado para mantê-lo no anonimato.
FOTO: Felipe Flores
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ARTE : Cam ila Pi ch ec
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Depen digi
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o amor nos tempos do smartphone
Reflexões sobre uma gera
Gabriel Zuccolotto
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(*) O nome do entrevistado foi alterado para mantê-lo no anomato.
Ao chegar ao restaurante, quase que de imediato, uma das perguntas mais ouvidas pelos garçons ecoou novamente no estabelecimento: “Qual é a senha do Wi-fi?”. Com semblante sério o funcionário logo respondeu: “Converse entre vocês”. Assustado com a resposta, ele ficou apático com a ideia “genial” do restaurante. Esse episódio aconteceu com Matheus Fernandes, estudante de publicidade, e dependente digital. Para influenciar os clientes a interagirem mais entre si e se desligarem um pouco da rede, alguns estabelecimentos vêm criando métodos que, de alguma maneira, fazem os usuários pensarem a respeito de uma possível dependência. Fernandes carrega a bateria do celular durante toda a noite para não ter possibilidade de ficar sem o celular, nunca esqueceu o aparelho e sente necessidade de ter acesso a alguns aplicativos e jogos várias vezes ao dia. “Vejo como um vício sim, e me acho ridículo por isso”. Dentre os Apps que mais acessa estão o jogo Flappy Bird, e as redes sociais Whatsapp, Twitter, Facebook e Instagram. Apesar de entender os pais quando eles reclamam sobre o uso, Fernandes não considera seu caso extremo. “Eu sei a hora que está beirando o ridículo. Quando você deixa de olhar para a pessoa e ter uma conversa com ela para ficar encarando o celular, isso é o extremo”. O aumento do uso de smartphones com acesso a internet tem sido significativo, e estima-se que a dependência digital já afeta cerca de 1 0% dos brasileiros. Os mais atingidos são os jovens. Para a psicóloga Mariana de Oliveira essa dependência pode cauFOTO: Felipe
Nova febre entre os solteiros e descompromissados, o Tinder, ganha popularidade e é um dos aplicativos mais baixados em smartphones. No Brasil os downloads do app crescem de 5 a 1 0% e o país é o quinto no ranking mundial de uso. Para u sar o apl i cati vo basta en trar com a conta d o Facebook e i n seri r o perfi l q u e procu ra: sexo, i d ad e e a q u e d i stân ci a l i m i te a pessoa pod e estar d e você. A parti r d aí com eçam a aparecer fotos d as pessoas q u e estão próxi m as, m ostrand o d u as opções: u m X (‘ n ão g ostei ’ ) e u m coração (‘ g ostei ’ ). Se a cu rti ção é recíproca o app abre u m a j an el a para con versa pri vad a. João (*) é estudante da UFU, conversa em média com três meninas por semana e tenta combinar encontros com algumas delas em festas na cidade. O estudante conta a história do resultado de um desses papos através do Tinder. “Cheguei do CC era uma e meia da manhã, e estava conversando com uma menina que tinha conhecido no Tinder há uns três dias. Falei que gostaria que ela estivesse aqui, então ela disse que estava saindo de uma balada em Uberaba e que viria pra cá. Às quatro da manhã ela chegou, ficamos juntos até as sete e depois ela voltou, pois tinha que trabalhar no dia seguinte”. É cada vez mais frequente o uso do aplicativo por jovens que buscam encontros casuais, sem pretensão de criar vínculo afetivo com o outro. A psicóloga Mariana Oliveira fala um pouco sobre o desinteresse das pessoas em se envolver em relações afetivas. “Muitos vivem relações passageiras, nas quais preferem não se envolver. A soci ed ad e con tri bu i para i sso, j á q u e vivem os n u m a época d e con su m o, on d e os m ateri ai s se torn am d escartávei s e às vezes i sso pod e ser tran sferi d o até para as rel ações»pessoai s”.
ndênci ital
idade ou
ação altamente conectada Maysa Vilela sar sintomas como ansiedade, quando há dificuldade em lidar com a falta do aparelho, e impotência, por só conseguir fazer algo estando com o celular. “O contato direto com o outro também pode ser prejudicado. O indivíduo passa a se sentir só, desampara do”. O Brasil tem 76 milhões de usuários no facebook e mais da metade acessa do celular, segundo estatísticas da empresa. Buscando um modo de vida mais real, Danielle Martins, estudan te de Ciências Biológicas, foge dos números e optou por não uti lizar essas tecnologias. Desde que ganhou seu primeiro celular, ela quase não trocou de apa relho. “Acredito que as redes sociais man têm as pessoas prisioneiras de algo que não é vital”. Danielle revela que, apesar de considerar que tais tecnologias podem ser importan tes quando bem utilizadas, a vontade de estar sem pre interagindo por meio delas gera uma busca inconsciente por con sumos desnecessári os, além de demandar tempo e energias que poderiam ser direcionados em prol do au toconhecimento e de ações efetivas pelo ou tro. Na ótica do Sociólogo e Coordenador do curso de Ciências Sociais da UFU, Edilson Graciolli, as redes sociais, que consomem grande parte do tempo dos “viciados digitais”, possuem enorme potencial na velocidade de divulgação de qualquer assunto, mas padecem de uma efemeridade estrutural e costumam ter aprofundamento mínimo de conteúdo. Graciolli acredita ainda que as redes, como qualquer atividade humana, são portadoras de ambivalências, e não devem ser demonizadas. “Elas têm grande poder de intervenção, inclusive político”. »
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Entrevista: Gabriel Rodrigues Refletir sobre as novas tecnologias e as transformações do cotidiano é fundamental para entender a relação humana com as novas mídias sociais. Para isso, convidamos o professor Edilson Graciolli, sociólogo e coordenador do curso de Ciências Sociais da UFU, para debater conosco a temática.
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Meio Ambiente
Riscos invisíveis dentro e fora da UFU Guilherme Fragosso
Habitual no Brasil, produtos considerados perigosos, como lâmpadas fluorescentes com mercúrio e baterias, possuem o destino final inadequado. Além de prejudicarem o meio ambiente quando despejados em lixo comum, estes e outros materiais presentes no cotidiano, como o amianto, podem causar danos à saúde. Na Universidade Federal de Uberlândia (UFU) essa situação não é diferente. Em 2009, foram encontradas cerca de 35 mil lâmpadas fluorescentes pós-consumo armazenadas de maneira irregular no campus Santa Mônica e que poderiam causar impacto ao meio ambiente por causa do mercúrio. Em outra ocasião, a UFU trocou as telhas de doze blocos por novas que também continham amianto, considerado cancerígeno. Algumas das antigas foram quebradas e liberaram a fibra do material, expondo os operários e, até mesmo, os universitári-
os.
O amianto é proibido por lei no estado de São Paulo. Mas não é o que ocorre em Minas Gerais. Para o professor do curso de Engenharia Química, Mauro Marques Burjaili, a UFU deveria dar o exemplo. “Há produtos alternativos para o amianto, com custo equivalente, e que não agridem o meio ambiente. O mundo se virou em achar soluções”. No entanto, Mauro as telhas e caixas d’água com a fibra ainda possuem significativo mercado no Brasil.Para a também professora de Engenharia Química, Márcia Gonçalves Coelho, este consumo é alto no país pelo desconhecimento da população. “Talvez não saibam tanto, falta de informação”. Para Burjaili, medidas como a criação de lixeiras de coletas
seletivas ou a destinação correta de lâmpadas não são suficientes. É preciso provocar as mudanças de maneira natural, pela comunicação, sensibilização. “Com a educação e a gestão ambiental, você evita geração de resíduos, não só os perigosos, mas como também não perigosos e cria nas pessoas um nível de conscientização”, explica o professor. A Política Ambiental, pensada iniciBurjaili almente com a ajuda do professor, está em vigor desde dezembro de 201 2. No documento, a UFU se compromete a agir em prol da prevenção da poluição e da conservação e restauração do meio ambiente. Resta saber se esta política conseguirá sensibilizar e criar uma educação ambiental na vida universitária. »
"Com a educação e a gestão ambiental, você evita geração de resíduo”
Pombos na cidade: uma questão de saúde pública Marina Colli O desmatamento, a falta de arborização e de existência de reservas naturais fazem com que aves que perderam seu habitat natural migrem para ambientes urbanos. Por esse motivo, as cidades enfrentam o problema da superpopulação de pombos. Dentro da UFU, por exemplo, quem circula pelos campi se depara com a realidade dos pombos. O significativo número de aves faz com que os espaços públicos estejam sempre sujos. Mas esse não é o maior problema. Quando secos e pisoteados, os dejetos dos pombos transformam-se em pó. A inalação leva os microorganismos nele presentes para o sistema respiratório, desenvolvendo-se no pulmão ou em outras regiões, como olhos e sistema urinário. Assim, as fezes da ave podem causar doenças como a toxoplasmose, a histoplasmose, a clamidiose e a criptococose, cujos principais sintomas são, respectivamente, perda da visão, tosse, conjuntivite e secreção genital e tosse com expectoração. O médico Cláudio Souza de Paula, afirma que o tratamento deve ser feito “através do uso de antimicroorganismos específicos – antibióticos ou antifúngicos”. Ele diz que o contágio é impedido “evitando o contato com a urina e as fezes dos pombos”. Segundo a idealizadora da Política Ambiental da UFU e professora do curso de Engenharia Química, Márcia Coelho, o pó em que as fezes dos pombos são transformadas “é considerado resíduo perigoso patogênico”. A solução para reduzir os problemas causados por ele é, além da limpeza regular dos ambientes, a retirada da patogenicidade, que é a capacidade do microorganismo de causar danos ao seu hospedeiro. O artigo terceiro da Política assegura o envolvimento da
FOTO: Marina Colli
Pombos são comuns na paisagem da Universidade Federal de Uberlândia Universidade com a prevenção da poluição e com a conservação e restauração do meio ambiente. Em um trecho, a UFU se compromete com a “melhoria contínua do seu desempenho ambiental, para o desenvolvimento sustentável, em todos os seus espaços de atuação”. Mauro Burjaili, também professor do curso de Engenharia Química e outro idealizador da Política afirma que “a questão ambiental tem que estar introjetada na administração superior”. Para ele, a conscientização ambiental “é uma questão de sensibilização” por parte de todas as áreas de conhecimento. »
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Resgatando a memória do carnaval Feriado comemorado em Uberlândia é alvo de críticas por ter modificado características tradicionais Giovana Matusita
ção social de homens e mulheres negros em Uberlândia”, acredita que pensar o carnaval de Uberlândia pela segregação entre brancos e negros, ricos e pobres não explica o verdadeiro contexto. “Penso que seria um lugar para a ação política de homens e mulheres negros, demonstrando a potencialidade de ação e intervenção social desses atores sociais”. Hoje é comum ouvir entre os moradores da cidade, de diferentes classes econômicas, que Uberlândia não possui uma festa característica que comemore o carnaval. Segundo Fernanda, isso ocorre devido à desvalorização social, já que o governo tem a intenção de transformar o evento popular em um acontecimento comercial. “Especialmente nas últimas décadas, a realização do carnaval é protagonizada por parcelas de negros da cidade. A negociação da verba subvencionada pela prefeitura ao evento pode ser pensada como modos de luta desses sujeitos, pois eles não aceitam que suas práticas culturais sejam folclorizadas para fins turísticos e econômicos, conforme interesse manifesto por segmentos de empresários e políticos locais”, explica a especialista. Para a antiga frequentadora da folia, Dona Hilda Boaventura, o feriado carnavalesco perdeu a tradição depois das mudanças no objetivo do público em participar da comemoração. “Antigamente o pessoal ia para o carnaval para se satisfazer e se divertir com respeito. Hoje em dia virou bagunça”. Ela ainda defende que todos devem passar por essa experiência, mas de forma consciente, sem vandalismo e com muito entusiasmo.»
Carnaval nada tradicional Lorena Martins Há quem diga que o ano no Brasil só começa depois do carnaval. No entanto, nem todos os jovens se misturam na farra que toma conta das avenidas. Hoje, há outros programas alternativos para quem quer fugir do alvoroço das grandes cidades. Um exemplo é o Retiro de Participantes do retiro em contato com a natureza Carnaval, que acontece na Fauma mata para colocar em prática a avenzenda Retiro do Campo. No acampamento tura de acampar? Com esse argumento, de meditação, os participantes têm contato Daniel Silva, estudante de Gestão Ambiencom a natureza a partir de diversas atividatal da UFU e alguns amigos, resolveram se des. Vânia Vilela, organizadora do evento, reunir durante o carnaval em um apartaafirma que o retiro é para “aqueles que oumento, para se refugiarem da folia. A ideia vem o chamado interno para estarem em foi um acampamento dentro de casa, “o um lugar puro e energético”. mais legal é juntar os amigos e fazer algo E quem disse que é preciso adentrar diferente”. »
FOTO: Instituto SEVA
Envolvidos por músicas folclóricas, polcas, valsas e, até mesmo, trechos de ópera, os foliões uberlandenses saíram nas ruas da cidade para comemorar o primeiro carnaval em 1 907, com o cordão chefiado pelo Capitão Henrique de Castro. O autor do livro “História do Carnaval de Uberlândia”, Antônio Pereira da Silva, relembra que as concentrações carnavalescas eram na Avenida Afonso Pena, onde os festeiros saíam em carros sem capotas jogando confetes e serpentinas no desfile conhecido como “corso”. Uma verdadeira farra em que a alegria predominava. Em 1 936 os negros formam o primeiro rancho carnavalesco organizado, “Os Tenentes Negros”, comandado por Devanir Santos. “Eles entravam pelo meio da avenida. Na frente ficavam os balizas, depois era o carro alegórico, bem simples, e no final vinham as ‘tenentinhas’ dançando. O povo acompanhava logo atrás”, conta Silva. Na mesma época, surge também o Uberlândia Clube, iniciando uma fase em que o carnaval começava a ganhar outra característica. A entrada no clube era permitida apenas para associados, ou seja, membros da elite. O autor do livro diz que a festa no salão foi inaugurada com luxo e elegância, “as senhoras foram de vestido longo e os senhores de smoking. Teve até orquestra internacional”, comenta. Silva lembra que a primeira participação de mulatos na folia foi criticada pela imprensa da época. Apesar disso, Fernanda Santos, Mestre em História e autora da dissertação “Movimento negro, congada e carnaval: atua-
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Cena inline no Teatro Municipal
Anna Vitória Rocha ra para os atletas da cidade. A história é a mesma para a maioria das pessoas: os Skatistas e patinadores uberlandenses podem contar patins que eram o brinquedo favorito na infância foram redescobertos anos depois, e hoje a patinação é, além de hoje, além da arena do Teatro, com a pista da Praça Sérgio Pacheco, o Núcleo Poliesportivo do bairro Jardim América, lazer, uma atividade física que une toda a família. Muitos a arena do Sabiazinho e o Parque do Sabiá. praticantes usam o espaço da arena do Teatro Municipal de Uberlândia para o esporte sobre rodas. Das redes para as rampas Segundo Cristiano Melazzo, que anda O grupo Sabia InLine está no Fade skate desde os sete anos, e cebook desde 201 2 para reunir também pratica patinação, o patinadores locais e inlocal foi escolhido por centivar a prática do esser o melhor ambiporte. Na rede social é cha ente da cidade FO TO : An na Vitória Ro possível encontrar para as atividaoutros grupos e pádes: o piso é ginas que agreliso e plano, e gam a cena inline a área é amda cidade, como pla. Hoje, aos o Teatro Radical 41 anos, ele e o Udia Roller mantém um Night. trailer no lugar, Não é necesonde vende sário fazer parte de água, açaí e lanum grupo específico che para o pessoal. para se integrar na tribo O Teatro Municipal dos patinadores ou skatisda cidade foi inaugurado tas do teatro. Jairo Santiago, há menos de um ano, mas 28, Douglas Alves, 22, e Nayara Teatro é cenário para patinadores, skatistas e ciclistas sua arena é ponto de enconDadona, 27, se conheceram na tro desses esportistas há pelo menos cinco. “Skaarena e hoje patinam sempre que possível. “Quando não tista é um bicho bem lerdo, não pode ver um pico novo que estou trabalhando, estou aqui”, conta Santiago, que patinava na já toma conta”, explica Melazzo, presidente do Uberlândia adolescência e há oito meses redescobriu o esporte. O recepciRadical Clube (URC), que há 1 5 anos reúne skatistas, pationista de hotel diz que para começar a patinar basta querer, nadores e ciclistas. O objetivo principal é conseguir estrutu- e que o grupo sempre está disposto a ajudar iniciantes. »
Futebol
Título do Uberlândia faz 30 anos Victor Albergaria
Uberlândia Esporte Clube celebra a conquista da Taça de Prata. Dentre as comemorações programadas, está o lançamento de um livro.
Em 1 º de abril de 1 984, o Uberlândia Esporte Clube (UEC) conquistava o título mais importante da história do futebol mineiro do interior. Com o empate de 0x0 com o Remo, em Belém do Pará, o Verdão levantou o caneco da Taça de Prata (hoje equivalente à Série B do Campeonato Brasileiro). A equipe da cidade foi beneficiada pela vitória por um a zero em casa ocorrida uma semana antes, com um gol do centro-avante Vivinho. O jornalista Odival Ferreira, que cobriu a campanha do UEC no campeonato pela antiga rádio Uberlândia, afirma que a torcida se fez presente durante a trajetória: “os jogos mais distantes, como o de Belém, eram os que tinham menos torcedores do time. Mas nos jogos em cidades mais
próximos, o Verdão era maioria”. Um dos campeões em campo, Zecão serviu ao periquito como segundo zagueiro titular. Ele endossa o coro daqueles que não concordam com os que dizem que a conquista foi pura sorte. “Eu não concordo, porque o Uberlândia já veio fazendo uma base sólida desde 1 980. Havia uma série de jogadores mais novos que se juntaram aos jogadores experientes, que sempre ia bem nos campeonatos regionais e nacionais”.
Passo-a-passo
Todos os momentos da jornada que culminou na conquista do título irão para um livro, escrito pelo professor do curso de Jornalismo da UFU, Rafael Venâncio, e por seu
aluno Lucas Martin. Ele afirma que, dentre outros motivos, decidiu fazer o livro por considerar aquele esquadrão de 1 984 um timaço. “Aquele time possuía jogadores que vieram a ser vitoriosos com grandes times futuramente. Ele só não avançou para a fase final da série A de 84 porque estava no grupo do vice-campeão daquele ano (o Vasco) e do campeão do ano seguinte (o Coritiba)”. Por fim, o professor conta que com o livro pretende deixar essa história marcada para toda a população apaixonada por futebol. “Vem ocorrendo, nos últimos anos, um boom de livros sobre a história dos grandes times. Com esse trabalho, poderemos deixar melhor guardadas as histórias sobre aquele título”. »
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Resenhas
Tudo mais, pura rotina Flahana Pfeifer
O cinema nacional começou 201 4 com um clima mais teen. Lançado em janeiro deste ano, "Confissões de Adolescente" até que surpreendeu a mim e meus amigos na faixa das duas décadas de existência nas costas e que apostavam em algo completamente mirim a la "Malhação". Como os assuntos que permeiam o universo dos jovens são sempre atenuados para a televisão e a classificação do filme era de apenas 1 2 anos, esperávamos algo que fosse suave demais. Não foi ruim, mas poderia ter sido melhor. "Confissões de Adolescente" surgiu inicialmente como peça teatral, escrita por Maria Mariana e que logo ganhou potencial
para tornar-se um seriado de grande sucesso na década de 90, através da adaptação de Daniel Filho. Com tema de abertura "Sina" de Djavan, a série exibida pela TV Cultura entre 1 994 e 1 996, chega aos cinemas contando mais uma vez com a direção de Daniel Filho e agora ao lado de Cris D'amato, em versão atualizada com o século XXI e dilemas presentes na fase entre a infância e a vida adulta. A história gira em torno das quatro irmãs Carina (Clara Tiezzi), Alice (Malu Rodrigues), Bianca (Isabella Camero) e Tina (Sophia Abrahão) que possuem idades diferentes, retratando as diversas fases da vida adolescente. As garotas são criadas pelo pai Paulo (Cássio Gabus Mendes), que mostra seu lado protetor em uma tentativa desesperada e cômica de criar e educar quatro filhas. O filme perde pontos ao tratar temas tidos como tabus presentes na sociedade, ridicularizando alguns e desmanchando outros ao longo da trama, como se tivessem esquecido de dar desfecho para aquilo. Um exemplo foi o namoro secreto de Bianca com outra garota - que sequer apareceu no filme que deveria ter sido mais explorado pela direção e roteiro, mas ao invés disso teve o relacionamento homossexual desfocado pelo namoro hétero e a perda da virgindade de Alice. Além disso, em duas cenas onde o sexo oral é mencionado, a fala dos personagens soou de maneira machista ao tratar do mesmo como um ato promíscuo feito apenas por mulheres. Apesar de ter perdido a oportunidade de tratar assuntos relevantes para o cenário atual, o filme conta com um bom elenco que consegue transmitir as urgências e confissões da vida adolescente, através de questionamentos, conflitos e situações que circundam a fase marcada pelo coração, desejo e»sina.
O lusco-fusco do cotidiano Gabriel Rodrigues
SILVA encerra os trabalhos do álbum “Claridão” com single divulgado no último 07 de janeiro. Considerado uma das novas promessas da MPB, o artista tem influência da música clássica, do pop e do indie. Com letras bem trabalhadas e ligeiramente curtas, as composições têm apelo estético visual, com um toque de experimentalismo, explorando um instrumento a cada canção, utilizando variações de batidas eletrônicas. Cícero, Phill Veras, Thiago Pethit e Mahmundi também são artistas utilizados como referência na nova safra de artistas nacionais. O cantor britânico James Blake também assemelha-se a SILVA, com sua forma leve e experimental de fazer música, atribuindo às canções um clima minimalista e intimista. Surgindo inicialmente nos circuitos alternativos, hoje assina contrato com a ASAP, selo derivado da gravadora Som Livre. Com 1 2 faixas, a estreia do cantor Lúcio da Silva Souza foi lançada em outubro de 201 2. “201 2”, por sinal, é o nome da primeira faixa do trabalho e é conduzida a partir do tão comentado fim do mundo baseado no calendário maia. “Veja só o lusco-fusco, eu reparo/ É o fim do mundo e o que sei/ É que eu não sinto mais medo”, repete no seu refrão, já mostrando o tom que permeará o clima do álbum: sob a luz crepuscular, banhando a atmosfera com o laranja do entardecer admirável – como um descanso e reflexão sobre o dia que começa a recolher-se. “1 2 de maio” e “A Visita” também mantêm a marca de serem mais pop em comparação ao restante do texto, convid-
ando ao ouvinte arriscar alguns passos de dança. “Cansei”, por sua vez, é a sexta faixa e um dos principais destaques do artista capixaba. “Cansei dos mesmos rostos/ Dessa repetição/ Me deixa ser o centro/ Da sua distração”: o compositor canta como se fosse uma conversa ao pé do ouvido, uma confissão sobre o tédio do cotidiano frente ao arder de uma paixão. Assim como na faixa-título e em “Falando Sério”, SILVA musicaliza a vontade de se aventurar em frente a repetição do dia-a-dia. Utilizando de uma composição FOTO: Divulgação mais poética, as canções “Ventania” e “Posso” são maiores destaques pela beleza estilística da letra. Lembram poemas musicados, valorizando o arranjo de palavras. “Não quis o frio de só te ver/ Agasalho é ter você”. No clipe que contou com a participação da atriz Maria Flor, “Moletom” é a penúltima faixa da compilação e sua mensagem diz respeito ao carinho e afeto que aquece uma relação. “Mais Cedo”, por sua vez, trata da ruptura como algo inesperado, “hoje anoiteceu mais cedo”. O último single lançado, “Imergir” é umas das melhores gravações do CD e encerra o ciclo do primeiro disco com um ar saudosista, caloroso e ao mesmo tempo melancólico, como se ainda pudesse render além do já apresentado, o que de fato pode. “Navios dizem recomeço/ Do mar ninguém chegou ao fim/ Eu vou deixar seu nome imergir” é a ponte da canção que também é uma excelente ponte para o próximo álbum, que já foi nomeado “Vista Pro Mar” e chega ao público em março deste ano.»
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FOTOS: Sent. horário - Cleizer Feroli, Amir Zahed e Fernanda Tiné
Fotografia Mobile
Feroli
FOTO: Amir Zahed
FOTO: Amir Zahed
FOTO: Amir Zahed
FOTO: Cleizer Feroli
FOTO: Cleizer
Felipe Flores Com a popularidade do aplicativo Instagram e da produção de celulares com câmeras em alta resolução, surgiu uma nova modalidade de fotografia: a mobile. São milhares de feeds criativos que retratam paisagens, arquiteturas, retratos, dentre muitos outros temas. Em meio a essa popularidade surgem pessoas falando que isso é um problema à fotografia tradicional e há aqueles que acham que isso é algo positivo e apenas acrescenta ao meio. Para Amir Zahed – fotógrafo que reside em Washington – “ Instagram é a melhor coisa que já aconteceu para celulares”. Ele pensa que para o público geral isso é mais do que bom. “Queremos fotos, e as queremos nesse instante! E nós estamos olhando essas fotos através dos nossos dispositivos, logo uma SLR de 21 megapixels não é necessária”. Para ele a fotografia mobile e a tradicional podem coexistir. Zahed tem trabalhos realizados para a dupla Macklemore e Ryan Lewis e outros publicados em alguns sites, além de campanha publicada na Dlist Magazine. Cleizer Feroli, de Uberlândia, fotografa há um ano e afirma que fez uma conta no Instagram pela curiosidade de ser um novo aplicativo. Apesar de tirar algumas fotos com o celular, utiliza sua Canon T3 na maior parte do tempo e tem pretensão de crescer profissionalmente dentro do mercado fotográfico. Ainda assim, ele acha a fotografia mobile positiva: “Acredito que o pessoal que fotografa como freelancer e consegue tirar uma grana através do Instagram não atrapalha, de certa forma, a carreira dos profissionais”, mas Feroli ressalta que muitos menosprezam o trabalho de um fotógrafo quando o mesmo faz uso do aplicativo. De certo modo o pensamento sobre a fotografia mobile parece mais positivo do que negativo. Fernanda Tiné – fotógrafa no coletivo Got U e na empresa Diverte – se considera mobile, porém faz uso de maneira pessoal. Ela não vê problema na fotografia mobile: “Acho que fotografia é arte e quanto mais acessível a arte é, melhor”. »
FOTO: Fernanda Tiné
FOTO: Fernanda Tiné
FOTO: Fernanda Tiné