#11 UBERABA /
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ASSE ESTE •P J
PALCO VITROLA AGENDA BAÚ BAMBOLÊ
PERFIL
NAL ADIAN T OR
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CHOROCULTURA
Vinte Anos de Brasilidade
Editorial
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rocura-se: alguém que tenha tesão por cultura. Sem melindres, sem medo, sem vergonha, alguém que empreste corpo e alma para ela, sem pudor, sem recalque. Gente disposta a sujar as mãos, pintar os braços, suar a cara, queimar de sol. Com urgência, para ontem. Convenhamos, não há mais espaço e tempo para faltar vontade. Chegamos a certa altura do espetáculo que é necessário entrar em cena ou fechar as cortinas. Já sabemos que o público existe e está à espreita de ações culturais de qualidade. Que sejamos menos melindrosos ao dialogar com os agentes culturais de nossa cidade. A consciência de coletividade precisa aflorar, urgente. A plateia, seja ela uma multidão ou uma pessoa, deve ser respeitada e defendida, assim como cada olhar cuidadoso sobre nossa cultura deve ser valorizado. Nesse processo, a coragem é bem-vinda. Sem ela, nem o Jornal Cultural MUH!, nem nenhum outro projeto com proposta pensada um pouquinho além do comum, sobreviverá. Isso é sim um pedido de ajuda, um passo antes de começar a pensar que talvez não vá funcionar. Aos que ainda defendem algum brado de cultura em Uberaba, que se apresentem e tomem seu lugar na cena. Toda pluralidade é bem-vinda e respeitada, desde que seja acompanhada de muita vontade de acontecer.
Jornalista responsável Ana Márcia de Lima MTB 12.724 – MG | Direção de redação Bruno Assis Direção de arte Law Cosci | Edição e coordenação de conteúdo Natália Escobar Diagramação Jefferson Genari | Projeto gráfico Mari Comunicação
Fotografia Guilherme de Sene | Apoio Livraria Alternativa Cultural Uberaba/MG .
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Fechamento desta edição: 6/4/2014
| Impressão Gráfica 3Pinti | Tiragem Mil
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jornalmuh@gmail.com
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Literal
O Fantasma do Ed. Regina Madrugada sinistra, densa neblina O choro de moça me foi acordar O pranto tão triste da voz feminina Levantei inquieto e a fui procurar
meu choro é eterno e nessas ruínas Sofro saudades dos tempos de lá.. Neste prédio nasci. Meu nome: Regina Era grande hotel que meu pai foi criar Aqui fui feliz como ninguém imagina... Por isso sozinha, choro hoje, eu cá...
Acendi com o fósforo a lamparina Sombras, névoas e moça a chorar Por que choras, voz de menina? Saibas que eu tos posso ajudar!
Foram tempos de ouro, glórias divinas Mais de 100 quartos para se hospedar Porcelanato e prata tão fartas e finas... Por isso hoje, choro as misérias de cá...
Cruzei Leopoldino, virei a esquina E fui escutando o choro aumentar Madrugada gelada ardia a retina Saibas menina, tos vou encontrar
O hotel de meu pai hoje está em ruínas Vidraçaria quebrada e gesso a mofar Por isso chorar, hoje é minha sina De saudade dos tempos que não hão de voltar”.
Frente a um prédio, antigas ruínas Encontrei a moça estando a chorar Não era moça com’outras meninas Era alma tristonha pairando no ar
Nesse momento o sol, no horizonte se inclina... A imagem da moça foi sumindo no ar O fantasma da moça chamada Regina Dos tempos do café e do boi guzerá
“Sou eu, uma, lembrança, de Minas escute senhor, tos vou lhe contar
- João Fernandes
Roda Gigante Oi. Imagina, pode sentar. Amanda, e o seu? Venho sempre com minhas amigas. Assim você me deixa sem graça. Meu Facebook? Chame no chat. Oi. Temos gostos em comum. Também gosto de Almodóvar. Esse é o link para baixar o disco que te falei, do Marcelo Camelo. Aquele barzinho? Hoje? Pode ser. Oi, demorei? Um daiquiri, por favor. Você tem olhos bonitos. Estou sozinha esse final de semana, poderíamos beber algo em minha casa. Sim, são meus pais na foto. Venha conhecer meu quarto. Tenho certeza, me beija. Não para. Goza fora. Lindo. Dorme comigo. Quer uma omelete? Vem cá novamente, podemos tomar um vinho. Oi, boa noite. Esse disco que vou colocar é lindo. Essa é a melhor noite da minha vida. Mais! Mais! Não para! Vou gozar. Te amo. Já são dois meses, amor. Não atende minhas ligações. Você anda estranho. Amor? Amor? Vamos fale! Sabia, sabia, nunca gostei dela. Não me toca. Saia daqui. Te odeio. Amiga, estou arrasada. Não quero nunca mais uma relação. Barzinho é uma boa. Tequila, por favor. Um brinde à vida de solteira! Adoro essa música. Oi, Imagina, pode sentar. Amanda, e o seu? Zé Alfredo Ciabotti nasceu em Uberaba. Publicou “Doses da vida” (2010), “Histórias invisíveis” (2011) e “Instantes quaisquer” (2012) ambos de forma independente. Texto retirado de “Instantes quaisquer”. O livro encontra-se à venda na Alternativa Cultural, ou diretamente com o autor. Contato: zeciabotti@gmail.com
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Baú
URBANIZAÇÃO DE UBERABA: DISTOPIAS
Praça Rui Barbosa, 1916. Ao fundo é possível perceber os casarões, reflexo de opulência e prosperidade.
Desde fins do século XIX, Uberaba vem firmando seu papel de cidade polo do Brasil Central; conquistas como a instalação da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro (1889), Jornal Lavoura e Comércio (1899), inauguração da energia elétrica (1905) e o início das exposições de gado bovino (1906) – um dos motores econômicos da cidade – evidenciam ainda mais tal premissa, alçando Uberaba à categoria de capital do Brasil Central. Tal evidência alcançada – em especial no campo político - é somada também a um discurso de auto-afirmação da cidade como tal, sendo que este se manifesta nas mais variadas formas. E uma das mais expressivas, com certeza, é a arquitetura. Desde o início do século 4
podemos observar a imponência de suas construções, em especial as que se localizavam na parte central, sempre alinhadas com as tendências da capital à época, Rio de Janeiro. Dessa forma, os típicos casarões coloniais, remanescentes do período de formação do município vão dando espaço às edificações em arquitetura moderna, destacando-se em especial por suas ricas ornamentações.
terceira maior economia do estado de Minas Gerais, graças ao primeiro processo de modernização advindo do comércio e das comunicações, é evidente a formação de uma privilegiada elite econômica; ou seja, embora haja um processo modernizador e higienizador, esse desenvolvimento se restringiu à determinadas áreas e camadas sociais da cidade, mais especificamente a região central.
Assim, podemos notar, através das suas construções ao longo desse período, não só um desejo de se firmar como uma urbe moderna e desenvolvida, mas também, de ser referência para as demais cidades da região.
Ainda com inúmeros problemas infraestruturais (energia elétrica, pavimentação, saneamento) e sociais (aumento da violência e mendicância), essa imagem tão presente ficou a margem da realidade propagada.
Entretanto apesar do município de Uberaba nas primeiras décadas do século XX integrar-se como a Muh! • #11 • 2014
- Anna Li - Pesquisadora e Professora da Rede Municipal de Ensino #8 • 2013
Vitrola
O ROQUEIRO E O CARA DE CAMISA FLORIDA Tempos atrás (nem tanto tempo assim), estava fumando um cigarrinho, tranquilo, na área de fumantes de uma casa noturna em Uberaba (MG), quando fui apresentado, muito a contragosto, a um roqueiro de Franca (SP). A pessoa que me apresentou fez questão de frisar que eu era um “roqueiro das antigas” e o cara se sentiu na obrigação de demonstrar sua indignação contra a sociedade e a favor de uma cena unida.
que o que era necessário e voltar pra escuridão era respeito entre as várias reconfortante da parte cenas. interna da casa noturna, disse pro sujeito: Cara, Ouvi que o engano era eu me visto diferente dos meu, e que, se eu tinha outros para ser notado, pra certeza, que deveria provar mostrar ao mundo que não o que dizia. Fácil essa, gosto ou quero ser igual, aproveitando a camiseta se você não gosta que te do Metálica (ou Megadeth, olhem, faça o seguinte: não me lembro bem) que o vista-se igual! sujeito vestia, falei pra ele imaginar um festival com - Guilherme Diamantino duas bandas de trash, duas Roqueiro, discotecador, de punk rock 77 e duas de vocalista da banda DCV, pop rock. Sua reação não produtor e proprietário da foi outra senão em dizer: Sapólio Rádio Produções punk tudo bem, mas pop Quem me conhece sabe rock, isso não… que, apesar de paciente, não sou nada tolerante. Calmamente lhe disse Sou a favor de argumentos que se ele quer excluir inteligentes, não circulares. alguém do jogo, não pode Entretanto, não acreditei lutar por união, mas deve que essa conversa seria respeitar quem toca/ouve/ interessante. Ouvi-lo seria faz músicas que não são do no mínimo respeitoso, seu próprio gosto. então ok. O assunto mudou, o cara Dizia o cara que “temos adentrou numa senda que unir a cena, que a união pior…. Me disse que traria a força necessária Uberaba era uma terra cuja ao Rock e que, quando sociedade o olhava diferente isso acontecesse, todos só porque ele se vestia de se beneficiariam”. Eu lhe preto, era cabeludo, usava disse que não, que ele pulseiras de tachinhas (e eu estava enganado, que união de camisa florida…) e que de cena não existe no Rock, esse tipo de atitude não era por ser um estilo (musical aceitável. ou comportamental) com muita variedade em si, e Antes de dar as costas
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Palco
O TEATRO RESISTENTE E O TEATRO DE RESISTÊNCIA Resistir significa não ceder ao choque de outro corpo. Opor força à força, defender-se: resistir aos ataques do inimigo. Conservar-se firme, não sucumbir, não ceder. Essa é a representação básica do Teatro, que vem durante os séculos resistindo ao descrédito, às novas tecnologias, à alienação.
outrora. Mas lutando para dar continuidade à história teatral de Uberaba que, para muitos, morreu em meados de 1980. E, ainda lutando contra o preconceito com a classe, a desvalorização, a falta de políticas culturais. Esse Teatro de Resistência que ressurge é prova viva de que o Teatro
Viajando no panorama mundial, o que vemos é o resistir de uma das mais belas formas de comunhão entre os seres vivos. É um espaço de sinergia, troca, doação onde todos saem ganhando. Em Uberaba não é diferente, o Teatro Resistente veio de encontro a artistas que batalham dia após dia pela arte. Esse teatro onde o ator empresta seu corpo, sua voz, seus sentimentos para uma personagem, faz de grupos e atores independentes na cidade a insurgência do Teatro de Resistência. Hoje, não lutando mais contra a ditadura de 6
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resiste. E unidos pela Arte os atores uberabenses tomam o palco, invadem as ruas, mostram a cara, resgatando o teatro, que por muitas vezes é colocado às sombras. Unidos, atores seguem contando uma nova história do cenário teatral uberabense. Em resistência.
-Luana Rodrigues Atriz e produtora cultural
BambolÊ
VAI ACABAR... ISTO É O QUE DIZEM AS “MÁS LÍNGUAS” Ao entrar numa livraria e transitar pelos corredores com prateleiras enormes, e ter a sua retina fixa naquela preciosidade que as compõe... Impossível pensar que o papel vai acabar. Ali você se encanta a cada olhar que dispensa a um livro! E a cada dia que passa, todos podem presenciar atitudes que levam por água abaixo esta teoria. Muitos, mas muitos mesmo, não “sabem” ler na tela de um computador, mas precisam de um livro, jornal ou revista nas mãos para que esta leitura seja prazerosa . E vamos combinar... Até mesmo um flyer... Digital não tem graça. Tem que ter na mão. Sentir... Bom, mas o que me faz cada vez mais acreditar no papel, é o advento “vamos publicar... Afinal, fez sucesso no blog ou facebook.” Explico com três grandes exemplos. Manual Prático de Bons Modos em Livrarias - Lilian Dorea Este livro que hoje é um grande sucesso nas livrarias, surgiu devido a um blog homônimo, criado em 2011 pela livreira Lilian Dorea. Contando
experiências em atendimentos em livrarias, ela disparava no blog histórias hilárias. Para o sucesso editorial foi um pulo. E aí vai a dica. Para quem é frequentador, assíduo, ou não, de uma livraria, não deixe de comprar este manual para que não se torne um protagonista deste livro.
Eu me chamo Antônio Pedro Gabriel Assim como no exemplo anterior, “Eu me chamo Antônio” veio das telas do computador, é uma página no facebook criada por Pedro Gabriel em 2012. Desaguou nas páginas de um livro. Veja só!!! Sucesso editorial. O personagem é frequentador assíduo de bares, despeja comentários sobre a vida em desenhos e frases escritas em guardanapos, com grandes Muh! • #11 • 2014
doses de irreverência e poesia. Entre a tela de um computador e folhear este livro, fico com a segunda opção. Armandinho Zero Alexandre Beck
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Este autor de Florianópolis começou a desenhar quando criança. Mas foi através do blog http://tirasbeck.blogspot. com.br/, que seu trabalho ficou conhecido e... reconhecido!!! Armandinho é um menininho lindo, sapeca, inteligente e engraçado. São tirinhas com extremo humor e inteligência, que vale a pena conferir. Mais um exemplo que saiu das telas do computador, pra fazer sucesso na sua prateleira, leitor. Ah!!! E além dos livros “Armandinho Zero” e “Armandinho Um”, Beck publica suas tiras em dois jornais catarinenses. Tudo papel... E aí, ainda acha que é o fim do papel? Não !? Então pega aquele pedaço de papel e vá (que tal na Alternativa Cultural?) comprar seu exemplar. Afinal, só pra te lembrar... Como diria Arnaldo Antunes: “Dinheiro é um pedaço de papel.”
- Pituca Ferreira 7
Chorocultura:
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A MEMÓRIA DO CHORINHO EM UBERABA
Reportagem
Ana Márcia de Lima Fotografia
Guilherme de Sene
A música do Chorocultura é do tipo que nos faz pensar como o professor doutor na UEL (Universidade Estadual de Londrina), André Azevedo da Fonseca, que, em 2002, enquanto aluno de Jornalismo da Uniube, escreveu no Jornal Revelação: “dificilmente temos coragem de confessar que o chorinho é a coisa mais certa e mais gostosa para acender uma lâmpada em nossa ofuscada grupo representa a cidade autoconsciência”. de Uberaba, rendendo elogios, vindos de pessoas No mês de abril é simples ou entendedores comemorado o Dia de música. Nacional do Choro, no dia 23. Em Uberaba, prestes a “Levamos a bandeira completar 20 anos, o grupo do Choro, mas tocamos Chorocultura é motivo samba, bolero, valsa... para comemorar a data. enfim, música brasileira, O grupo é formado hoje de boa qualidade”, resume por: Álvaro Walter (sax Fausto Reis. O grupo tem tenor), Reynaldo de Vitto um CD gravado com 20 (violão de sete cordas), faixas. É um misto de Fausto Reis (cavaquinho), composições próprias, José Gilberto Silva - com regravações de “Gibinha” (bandolim), mestres como Pixinguinha, Osmar Baroni (pandeiro) e Waldir Azevedo e Jacob a cantora Irene Daprile. O do Bandolim. #8 • 2013
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Tudo começou em 1994, quando, inspirado pela biografia de Noel Rosa, Osmar Baroni chamou Reynaldo de Vitto e decidiram fazer homenagem ao sambista. Juntaram outros amigos, e fizeram uma apresentação no Cine Teatro Vera Cruz. 99
“Gibinha” no bandolim, e, depois que Pernambuco do Pandeiro se afastou, Baroni assumiu o instrumento. Ainda sem nome, o grupo passou a fazer apresentações em festas, aniversários, reuniões particulares, e sempre eram apontados como representantes da Cultura brasileira. De tanto ouvir a palavra, juntaram com “Choro” e o nome ficou sendo Chorocultura.
O grupo original contava, além de Baroni, com Reynaldo no violão 7 cordas, Fausto no cavaquinho, Maestro Paulinho Constâncio na clarineta, “Pernambuco do Pandeiro” e Jarbas Curi. Como consequência da apresentação, os músicos ouviram pedidos para que continuassem. Mas alguns, como Jarbas Curi, e Paulinho Constâncio, não podiam continuar, então entraram Álvaro Walter no sax, e Gilberto Silva, conhecido como 10
De início apenas instrumental, sentiu-se falta de um cantor. Geraldo Barão foi convidado. Falecido recentemente, permaneceu por muitos anos como cantor, e, depois que foi para Curitiba (PR), a cantora Irene Daprile foi convidada, e permanece até hoje. Sua entrada no grupo se deu quando, em uma noite em que assistia a uma apresentação no bar Arquimedes, ela, já cantora conhecida em São Paulo, cidade em que morou com o marido antes de voltar a Uberaba, acompanhou Barão e o grupo cantando a música “Flor Amorosa”. Muh! • #11 • 2014
Apesar da música não ser o ganha-pão oficial dos integrantes do Chorocultura, inclusive alguns tem outras profissões, como Gibinha, conhecido dentista, todos levam o grupo de maneira séria e responsável. A isso, Fausto atribui o sucesso do grupo. Para se ter uma ideia desse sucesso, o Chorocultura tem show agendado já para o ano de 2015. Recentemente, a Fundação Cultural colocou dentro do calendário o Dia da Seresta, na Concha Acústica, toda segunda terça-feira do mês. É uma oportunidade que o público uberabense tem de ver seus shows. Além do Chorocultura, outros grupos se intercalam na seresta.
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Um grupo formado por bons músicos só podia mesmo dar certo. Muitos começaram cedo na música, como Gibinha, que começou a estudar aos 8 anos, tocando cavaquinho e violão, ficou sem tocar por 30 anos, e depois voltou, mudando para o bandolim. Álvaro Walter na mesma idade tocava trompa, e aos 14 anos passou para o sax. Fausto Reis também começou cedo, com 10 anos, sempre no cavaquinho . Todos se referem a si mesmos como uma família, e são, acima de tudo, amigos. Gibinha mostra o tempo que estão juntos ao lembrar, entre risos, de Fausto, o mais jovem do grupo: “Hoje o Fausto é dois palmos mais alto do que eu, mas quando o conheci, ele batia um pouco acima da minha cintura, quer dizer, o conheço há muito tempo, desde que ele era menino”, conta, com uma expressão feliz.
até para as crianças. Osmar Baroni relembra um fato que marcou a trajetória do grupo, acontecido há cerca de 10 anos: “Certa vez o pai de uma jovem que iria fazer 15 anos nos procurou porque queria dar de presente uma serenata para a debutante. Eu fiquei meio desconfiado, ‘será que vai agradar mesmo?’, mas o pai da garota então contou que falava muito de serenata para a filha, mas não conseguia explicar em palavras, queria mostrar. O dia chegou e foi emocionante. A menina chorou ao abrir sua janela” – conta Baroni, com brilho no olhar.
os seis integrantes do Chorocultura. Eles se reúnem para tocar a música por amor, alegria de estarem juntos e poder proporcionar aos ouvintes bons momentos. Cabe a nós, ouvintes, reconhecer e parabenizar o Chorocultura pelos seus quase 20 anos de sucesso, e torcer para que continuem por muito tempo ainda encantando corações com o som do violão, sax, cavaquinho, O Choro é para todas pandeiro e bandolim em as idades. Para os mais É esse brilho no olhar total harmonia, despertando velhos, para os jovens, e que vemos em todos toda nossa brasilidade. #8 • 2013
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OpiniÃo
A CHAVE DO NOVO MUNDO Victor Hugo certa vez falou que não há nada mais poderoso do que uma ideia cujo tempo chegou. O homem habita o planeta Terra há 200 mil anos e agora vivemos uma era na qual nunca houve tamanha possibilidade de interação. Um mundo de possibilidades está aberto à geração Z, que aliada à tecnologia são os verdadeiros agentes de mudança. No Brasil são 11,6 milhões dos chamados nativos digitais, conhecidos como a geração do final da década de 90 até o ano de 2010 que nasceu sob o advento da internet e do boom tecnológico.
educação e foi o primeiro país do mundo a equipar todas as escolas primárias e secundárias do país com Internet de banda larga. Com esta infra-estrutura, o país também foi pioneiro em desenvolver livros didáticos digitais. O país das cinzas da Guerra da Coreia, que apresentava níveis sociais e econômicos comparáveis aos países mais pobres da Ásia, milagrosamente se transformou num país rico e altamente desenvolvido na atualidade. As circunstâncias
Jovens, dentro de movimentos estudantis, historicamente sempre estiveram alinhados a grandes lutas. Em 1960 um movimento estudantil levou à renúncia do presidente da Coréia do Sul, Syngman Rhee, abrindo espaço para uma rápida democratização que culminou no chamado Milagre do rio Han. Em duas décadas houve um acelerado crescimento econômico. O país investiu maciçamente em 12
estão a nosso favor, no século que a geração Z tem em mãos o poder de mudança. O grande desafio dessa geração, no entanto, é ter ciência do atual cenário político, social e econômico para ter legitimidade para mudar. Idealistas estão espalhados pelo mundo e o uso das tecnologias e das redes sociais veio para uní-los. Alfred Nobel, ao inventar a dinamite, tinha intenção de facilitar os trabalhos de grandes construções tais como túneis e canais. Infelizmente, a finalidade do explosivo foi desvirtuado, sendo usado em guerras, mortes e destruição. O nível tecnológico que chegamos neste começo de século deve ser usado a favor da humanidade, uma vez que veio para selar a união com a geração Z. Todos têm a oportunidade de ser a mudança, usar a gestão da mudança e criar a gestão da mudança para vencer resistências declaradas ou veladas nas transformações globais.
- Lara Guimarães Muh! • #11 • 2014
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Agenda
Festival de Jazz chega à Uberaba com 13 dias de programaçà o O Festival Internacional de Jazz e Música Instrumental de Uberaba, o Festival Cerrado Jazz, está em sua segunda edição em 2014. De 30 de abril a 12 de maio, em locais diferentes, várias atrações de expressão do Jazz e da música instrumental no Brasil fazem shows. São esperadas oito mil pessoas. Com produção de Lívia Ferolla e Ricardo Moraes, o Festival Cerrado Jazz começa na quarta-feira, dia 30, com apresentação do músico Victor Biglione, na Concha Acústica. Além dele, mais de 20 artistas também fazem shows na cidade. Até o fechamento deste jornal, ainda existia a possibilidade de mais lugares e artistas entrarem para o Festival. Confira a programação completa e, para mais informações, acesse http://www.cerradojazz.com.br. 30 de abril Victor Biglione 20h - Concha Acústica 1º de maio Zaca Maretzky, Pedro Amuí, Gringo e Cajú 21h30 - Esquina do Didi 2 de maio Groove Express 17h - Parque Fernando Costa Paulo Gazela Blues Band 20h - Centro de Cultura José Maria Barra 3 de maio Groove Express 17h - Parque Fernando Costa Pó de Café Quarteto com Rubinho Antunes 20h - TEU Carlos Valeriano, Zeca Maretzky, Eduardo Coelho e Kelvi Balbino 21h - TEU Jam Session 22h - Esquina do Didi
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4 de maio Túlio Araújo 11h - Concha Acústica Pó de Café Quarteto com Rubinho Antunes 12h - Concha Acústica Groove Express 17h - Parque Fernando Costa 5 de maio Groove Express 17h - Parque Fernando Costa Tulio Araújo 21h - Archimedes 6 de maio Groove Express 17h - Parque Fernando Costa Raphel P.H 21h - Esquina do Didi 7 de maio Groove Express 17h - Parque Fernando Costa 8 de maio Groove Express 17h - Parque Fernando Costa Muh! • #11 • 2014
Edson Junior Quarteto 19h30 - TEU Samba em seis 20h30 -TEU 9 de maio Groove Express 17h - Parque Fernando Costa TriUnity 21h - José Maria Barra 10 de maio Djalma Lima 20h30 - TEU Bob Wyatt, Eduardo Machado e Zé Emílio 22h - Bistrô do Sesi 11 de maio Alex Reis Quarteto 11h - Concha Acústica 12 de maio Alex Reis Trio 21h - Archimedes
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+ Cultural + Divertida
ACONTECE NA LIVRARIA ALTERNATIVA CULTURAL
Maracanã Coral Infantil
Rua Major Eustáquio, 500 Centro – Uberaba/MG (34) 3333-6824 alternativacultural.com.br
Coordenação das musicistas Rosana Caetano e Cristina Arruda.Ensaios aos sábados, das 9h às 10h30. Público-alvo: Crianças de 8 a 13. Interessados em participar podem agendar entrevistas pelo telefone (34) 3333 6824.
Olhares Digitais
Mais uma turma do percurso de fotografia digital com o professor Fabiano Oliveira. Mas corram: são apenas oito vagas. Esperamos vocês! Leitura de I Ching
Conversas Terapêuticas O livro das Mutações é um antiquíssimo O encontro é gratuito, l i v r o - o r á c u l o sempre às segundas- (muito utilizado feiras, das 19h às 20h30. por Carl Jung) que clareia dúvidas, Tradições Nórdicas - abre caminhos e Runas de Odin: estabelece rotas em harmonia com a natureza Um oráculo para o seu profunda em nós e no a u t o c o n h e c i m e n t o , Todo. Por Laura Louise com Denis Magnus. Richardson. Agende seu Aos sábados, das horário! 9h às 12h. R$45,00 Duração da leitura: A Alternativa Cultural aproximadamente 1h. É funciona de segunda a necessário agendamento sexta das 10h às 19h e aos prévio. sábados das 9h às 13h.
Acompanhe a agenda cultural de Uberaba na página do MUH! 14
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Contraponto
Sarau MUH! Todas as edições do Jornal MUH! são lançadas em um evento, hoje chamado de Sarau MUH!. Costuma ser no primeiro ou segundo sábado do mês, durante a manhã, começando por volta de 10h30 e indo até às 13h, com entrada franca, na Livraria Alternativa Cultural. É sempre um encontro descontraído, uma celebração à arte. Procuramos fazer homenagens à personalidade que estampa a capa da vez. Artistas, músicos, profissionais ou amantes da música, preenchem o ambiente de som, e o microfone fica aberto a recados, declamações de poemas, qualquer comunicação. Junto com música e literatura, tudo pode acontecer: um varal literário, uma exposição de fotos, ou pinturas, telas, ilustrações. Acontecem apresentações de teatro, dança. Isso tudo enquanto os visitantes da livraria estão ali com seus amigos, folheando o jornal, bebericando um café ou mesmo uma cerveja gelada. Nós, da equipe do MUH!, agradecemos aos amigos, parceiros e convidados, que todo mês nos ajudam a fazer essa festa.
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OpniÃo
A VIOLÊNCIA QUE NOS CONSOME São tristes os dias atuais. A violência parece ter deixado o confortável status de notícia, de algo que acontece em algum lugar bem longe de mim, para assumir seu posto de realidade crua e desagradável, como aquele chá de boldo amassado com água gelada que tomamos nas manhãs de ressaca. Mas antes fosse um copo de boldo, amargo, mas que alivia. A violência chega nos gritos dos vizinhos espancados, nos conhecidos assassinados, nos filhos de olhos vagos, imersos no vício no roubo, no furto, no assalto que nos violenta. E de tanto sofrermos a violência, estamos nos contaminando com ela. Gritamos nosso ódio e nossa vontade de esganar tudo: o vizinho funkeiro, o cachorro que fez xixi no portão, o garoto de aba reta no shopping, o bandidinho, o político, o policial, a presidente. Até a nós mesmos queremos matar, espancar, tacar na parede, jogar do alto da ponte. Não adianta bater, espancar, fazer a tal justiça com as próprias mãos. Não vai resolver o problema. Só vai nivelar o tal “homem de bem” com o criminoso. Serão Muh! • #11 • 2014
então dois criminosos onde antes apenas um. A sensação que tenho é que o povo é induzido a lutar contra o próprio povo. Como um câncer onde as células crescem e se devoram. O epidemiologista americano Gary Slutkin afirma que a violência é uma doença contagiosa e que o erro está no diagnóstico que temos feito dela. O erro está em tentar tratar a violência, atacando seus efeitos, ao invés de se combater suas causas. O tratamento ideal, assim como o tratamento de uma tuberculose é lento e exige persistência. Mas na nossa urgência ainda não conseguimos aceitar nossa participação nesse tratamento longo e que exige mais de nós do que um simples comentário no Facebook. Afinal é tão mais fácil vociferar e acusar aqueles que estão mais doentes do que nós. Os menores infratores são os leprosos do nosso tempo. Estamos todos doentes. Não sei quanto a vocês, mas eu quero me curar, antes que essa epidemia de violência me transforme em estatística. - Jessica de Paula
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Ilustra
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Guerreira da Mata Nascida no interior das Minas Gerais No cantinho serrado do glorioso cerrado Em suas matas percorri, busquei, explorei Firmei raízes onde me encontrei De pedra em pedra sigo saltitando Nos galhos secos tortuosos me retorço Com as águas correntes cristalinas me desabo Mas após o fogo devastador sempre renasço Caminhei na calmaria de campos limpos Sentindo a matinal brisa refrescante Sou guiada pela flor sutil de velhos tempos Pelo entoo doce do pássaro cantarolante Cerrado meu amado Me traz fé, me traz afago Vem da terra sua força ascendente Me ensina a ser forte, resistente
Natália da Costa Carneiro
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