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Missionários como São Paulo

XX. A população indígena também é numerosa e, no interior da oresta densa, mais perto da fronteira com o Peru, ainda há grupos de indígenas isolados.

Foi notável constatar o imenso trabalho missionário desempenhado naquela região remota do Brasil. Além do trabalho religioso e da organização das comunidades, com suas igrejas bem construídas, houve o implante de escolas, estruturas de saúde e assistência social, que continuam prestando relevantes serviços à população. Uma bela catedral moderna foi edi cada em Cruzeiro do Sul em meados do século XX. É um verdadeiro monumento de fé e cultura, erguido às margens do rio Juruá, para cuja construção o ferro foi importado da Europa e precisou de meses para subir os rios e chegar ao seu destino no fundo da Amazônia. Os incontáveis tijolos do majestoso templo foram fabricados ali mesmo, numa olaria dos missionários. Da mesma indústria da cerâmica também saíram tijolos para pavimentar ruas e edi car casas para o povo.

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O clero autóctone, formado no seminário diocesano local, ainda não é numeroso. Há diversas congregações religiosas femininas atuantes na diocese, dedicadas sobretudo à educação, saúde e assistência social, além do trabalho pastoral na Igreja. Muitos leigos atuam nas diversas pastorais e também na coordenação de comunidades da Igreja. Naquela diocese remota da Amazônia, encontrei as mesmas preocupações com a missão da Igreja que também temos nas metrópoles do Brasil. Há um esforço grande na renovação da catequese, na formação dos leigos, sobretudo em vista de sua presença no mundo, na caridade social, no atendimento aos pobres, dependentes químicos, indígenas e idosos. Infelizmente, também lá existe o problema das drogas e do trá co. Há duas unidades da Fazenda da Esperança: uma masculina e outra feminina.

A população, em sua maioria, é bastante pobre, mas vive dignamente. A alimentação conta com muito peixe e farinha de mandioca local, bem saborosa. A renda da população, em grande parte, vem do serviço público municipal, estadual e federal, de programas sociais, como o Bolsa Família, e de aposentadorias. Nos centros urbanos, sobretudo em Cruzeiro do Sul, o comércio é vivaz e também abastece as populações do interior. Os produtos vindos do centro e sul do Brasil acabam tendo preços bem elevados, até mesmo por causa do frete e do fator de risco com o transporte. A cidade de Cruzeiro do Sul tem conexão aérea com linhas regulares, três vezes por semana, com o resto do Brasil. As localidades do interior são servidas regularmente por pequenos aviões.

Durante minha visita, corria a novena em preparação à festa de São

Sebastião, muito venerado por lá. O povo católico, ainda maioria da população, acorria para os festejos em grande número. Durante a novena, visitei a comunidade de Jordão, um município isolado e só acessível de barco em quatro dias, desde a localidade mais próxima (Tarauacá), ou com um pequeno avião, com uma hora de sobrevoo da oresta praticamente intocada, também a partir de Tarauacá. Jordão estava cheia de gente vinda dos “seringais” – assim chamam as aldeias ribeirinhas. Muitos indígenas saíram de suas reservas e também participaram. Houve mais de 150 batizados durante a novena, a maioria dos quais era de lhos de indígenas. O testemunho da fé do povo simples, verdadeira e lial, era comovente.

Fiquei me perguntando: qual teria sido a motivação tão forte que levou os missionários a abandonar suas terras de origem para se dedicar ao povo do interior ainda muito desa ador da Amazônia? Que força os levou a amar aquele povo e aquele pedaço do Brasil, a ponto de doarem suas vidas inteiramente, sem nada pedirem em troca, querendo também compartilhar a sepultura com o povo? Uma única coisa explica isso: a fé profunda em Deus e o amor ao Evangelho. Como São Paulo, “ zeram-se tudo para todos”, para levar a luz, o fermento e o sal do Evangelho do reino de Deus àquele povo. Não há outra explicação. E o prêmio deles será muito grande!

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