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São Paulo: apóstolo e
FERNANDO GERONAZZO ESPECIAL PARA O SÃO PAULO
As principais fontes para conhecer a história do apóstolo São Paulo, cuja conversão a Igreja celebra na quarta-feira, 25, são os textos do Novo Testamento, como o livro dos Atos dos Apóstolos e suas próprias cartas. Há, ainda, outros relatos históricos da época, que ajudam a conhecer um pouco da sua personalidade e do contexto em que ele viveu.
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O que se sabe é que Saulo nasceu entre os anos 5 e 10 da era cristã, na cidade de Tarso, na Cilícia Oriental. Judeu da diáspora, isto é, do grupo que morava fora de Israel, falava grego, apesar de ter um nome de origem latina, e possuía cidadania romana. Na adolescência, Saulo deixou Tarso e se mudou para Jerusalém para ser educado pelo mestre Gamaliel, segundo as mais rígidas normas do farisaísmo.
Perseguidor
No m dos estudos, retornou a Tarso, onde alternava os trabalhos na sinagoga e na fabricação de tendas. Alguns anos depois, quando retornou a Jerusalém, viu a popularização do movimento dos seguidores de Jesus de Nazaré, o qual considerava uma ameaça à identidade e tradição judaicas, tornando-o um perseguidor do Cristianismo. Chegou, inclusive, a testemunhar, sem objeção, o apedrejamento de Santo Estêvão, primeiro mártir cristão.
O Sacerdote austríaco Josef Holzner, que dedicou boa parte de sua vida à pesquisa da vida de São Paulo, destaca não haver evidências de que Saulo tenha conhecido Jesus pessoalmente, tanto que o próprio apóstolo não faz alusão alguma a qualquer encontro com o Mestre. Em seu livro “Paulo de Tarso”, considerada a mais completa biogra a do Apóstolo dos Gentios, o biógrafo ressalta que “um homem com o seu temperamento apaixonado” como Paulo “não teria podido se manter neutro” caso tivesse contato pessoal com Cristo: “ou se teria oposto frontalmente a Jesus, ou se teria tornado seu discípulo”.
Convers O
Os textos bíblicos contam que, certa vez, quando estava a caminho de Damasco, na Síria, para perseguir cristãos, teve uma experiência mística, sendo envolvido por uma grande luz que o cegou e o fez cair por terra. Então, ele ouviu uma voz que identi cou como sendo do próprio Cristo, que lhe indaga: “Saulo, por que me persegues?”.
Essa mesma voz o ordena a ir ao encontro de Ananias, em Damasco, que o batiza e lhe impõe as mãos, e imediatamente recupera a visão. Assim, ele se converte ao Cristianismo e passa a adotar o seu nome romano, Paulo. Em se- guida, Paulo retirou-se para a região da Arábia por aproximadamente três anos.
Ao falar da conversão de Saulo, Josef Holzner ressalta que a maneira como se deu esta transformação é e continuará a ser um mistério. No entanto, enfatiza que Saulo renasce igual a si mesmo, com as mesmas qualidades que sempre possuíra. As características e energias de sua personalidade, antes utilizadas para perseguir e destruir, após o encontro com Cristo, são empregadas para “amparar, fertilizar e abençoar a humanidade”.
“Nenhuma psicologia poderá explicar completamente como se efetuou a demolição e a nova edi cação do mundo religioso de Saulo; nesses dias, o apóstolo teve de submeter-se a um processo de reeducação em que o orgulho humano se despedaçou e o metal nobre se acrisolou, para com ele se forjar um ‘vaso de eleição’”, explica o biógrafo.
Ap Stolo
Ao retornar da Arábia, Paulo iniciou publicamente a sua vida apostó- lica, marcada por inúmeras viagens missionárias. A primeira teve como destino Antioquia, onde, acompanhado de Barnabé, iniciou a missão entre os gentios. Na costa síria, atravessaram a ilha de Chipre, de Salamina a Pafos; de lá, chegaram à costa do sul de Anatólia, hoje Turquia, passando por Atalía, Perge de Pan lia, Antioquia de Psidia, Icônio, Listra e Derbe, desde onde regressaram ao ponto de partida.
Depois disso, Paulo, dessa vez com Silas, realizou sua segunda viagem missionária. (cf. At 15,36 – 18,22). Após percorrer a Síria e a Cilícia, voltou a ver a cidade de Listra, onde tomou consigo Timóteo, e fez com que se circuncidasse. Atravessou a Anatólia central e chegou à cidade de Trôade, na costa norte do Mar Egeu. Entre outras cidades, foi para a Macedônia, Acaia, Filipos, Atenas e Corinto.
Na terceira viagem (cf. At 18,23 – 21,16), Paulo partiu de Antioquia para Éfeso, de onde escreveu as Cartas aos Tessalonicenses e aos Corín- tios. Após voltar a atravessar a Macedônia, desceu de novo à Grécia, onde provavelmente escreveu a Carta aos Romanos.
Pris O
Voltou a passar pela Macedônia, chegou de barco a Trôade e, depois, passando pelas ilhas de Mitilene, Quíos, Samos, chegou a Mileto. O destino seguinte foi Tiro e Cesareia Marítima, até chegar a Jerusalém, onde foi acusado de haver pregado contra a Lei, além de ter introduzido no templo alguns judeus de origem grega que foram confundidos com pagãos. Após um período na prisão, Paulo, por ser cidadão romano, havia apelado ao imperador, sendo enviado para ser julgado em Roma.
Na viagem a Roma, passou pelas ilhas mediterrâneas de Creta e de Malta, Siracusa, Regio de Calábria e Pozzuoli. Em Roma, cou em prisão domiciliar, de onde continuava a anunciar o Evangelho.
Até o ano de 62, Paulo escreveu as seguintes epístolas: 1ª e 2ª aos Tessalonicenses, aos Gálatas, aos Filipenses, aos Coríntios, aos Romanos, a Filêmon, aos Colossenses, aos Efésios, 1ª e 2ª a Timóteo. Alguns biblistas atribuíram a autoria da Carta aos Hebreus também a Paulo. Porém, os estudos atuais não con rmam esse dado.
Mart Rio
São Paulo foi martirizado em Roma entre os anos 67 e 68. Após o incêndio na capital do império, em 64, cuja responsabilidade recaiu sobre os cristãos, o apóstolo foi preso e levado para os arredores de Roma. Após ser condenado à morte por Nero, morreu decapitado. Seu corpo foi sepultado fora dos muros da cidade de Roma, onde foi erguida a Basílica a ele dedicada.
A identi cação com a cruz de Cristo é uma característica forte da vida de São Paulo. Tanto que ele a rma: “Estou pregado à cruz de Cristo. Eu vivo, mas já não sou eu: é Cristo que vive em mim” (Gl 2,19-20).
Não é possível dizer com exatidão quanto tempo foi necessário para que Paulo alcançasse um profundo conhecimento de Cristo. Mas, por meio de seus textos, é perceptível que, com o passar dos anos, a ideia que ele tinha de Cristo se tornou mais profunda, até atingir a plenitude de visão própria do homem maduro (cf. Ef 4,14), tendo como meta a con guração com Cristo (cf. Gl 4,19).
A inscrição gravada em um dos altares da Basílica de São Paulo Fora dos Muros resume com as próprias palavras de Paulo a natureza e o segredo do Apóstolo dos Gentios: “Para mim, o viver é Cristo e o morrer é lucro” (Fl 1,21).