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‘Isso não é problema meu’: indiferença e conivência
Outro complicador ao enfrentamento do trá co de crianças e adolescentes é a indiferença da maior parte da sociedade ao problema.
“Existem os canais de denúncia para os casos, mas as pessoas se mostram indiferentes, seja por não saberem identi car uma caso de trá co humano, seja por não quererem se envolver ou ainda porque estamos imersos em uma crosta de individualismo, e a sensibilidade somente acontece quando ocorre com alguém muito próximo de nós. Talvez a porta de entrada para a superação disso é trabalharmos a sensibilidade social”, observa Irmã Eurides.
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A conivência com as possíveis situações de tráco também é recorrente. Em agosto do ano passado, a embaixada e consulados dos Estados Unidos no Brasil apresentou o “Relatório sobre o trá co de pessoas 2022 – Brasil”, no qual se aponta que “os tra cantes exploram crianças no trá co sexual ao longo de estradas brasileiras, incluindo a BR-386, BR-116 e BR-285. O turismo sexual infantil permanece sendo um problema, principalmente em áreas de resorts e do litoral; muitos praticantes de turismo sexual infantil são da Europa e dos Estados Unidos”.
Irmã Eurides também destaca que é preciso que o Estado invista na capacitação dos agentes de segurança pública, de assistência social e de saúde para que identi quem situações suspeitas: “Normalmente, as polícias que registram os boletins de desaparecimento estão despreparadas para fazer as indagações e perceber se há indício de trá co de pessoas. É necessário haver, também, um trabalho mais articulado entre as diferentes instituições e maior diálogo destas com a sociedade civil, que está na ponta e pode detectar melhor os casos”.
A religiosa comenta, ainda, que o problema do trá co de crianças e adolescentes não deve ser visto com indiferença pelos católicos: “A Igreja tem que trazer esse enfrentamento como uma pauta de evangelização, uma vez que trata do cuidado e defesa da vida, e na medida que como cristãos não compactuamos com qualquer forma de exploração ou da violação da vida e da dignidade humana. Por isso, é preciso que incentivemos um processo amplo de sensibilização e formação sobre o tema”.
A Comissão Episcopal Pastoral Especial para o Enfrentamento ao Trá co Humano da CNBB produziu a cartilha “Nas trilhas do enfrentamento do trá co de pessoas”, cujo download gratuito pode ser feito em: https://curtlink.com/j1HKe3n
DICAS AOS PAIS: MEDIDAS DE PREVENÇÃO
1) Faça o RG da criança o quanto antes;
2) Ensine seu filho (a) a dizer o próprio nome completo, o dos pais e o telefone de casa;
3) Em locais de grande movimentação – como aeroportos, rodoviárias, shoppings centers e praias – coloque uma pulseira de identificação na criança – com nome e telefone – e não a deixe sozinha;
4) Oriente a criança a não conversar, aceitar doces ou brinquedos, nem ir a qualquer lugar com pessoas desconhecidas;
5) Acompanhe a criança na ida a banheiros públicos;
6) Quando a criança for a festinhas ou outros programas de entretenimento, sempre busque-a no horário marcado (ou avise se for atrasar) ou oriente os anfitriões sobre quem são os únicos adultos responsáveis por acompanhá-la;
7) Em eventos, mostre à criança quem são as pessoas que fazem a segurança ou os responsáveis a quem ela pode pedir ajuda;
8) Sempre dialogue com seu filho (a) e conheça seus amigos;
9) Esteja atento a mudanças repentinas de comportamento da criança e do adolescente;
10) Evite deixar a criança sozinha em casa ou brincando sozinha em locais públicos;
11) Monitore o conteúdo que a criança ou o adolescente acessa ou pesquisa na internet;
12) Oriente seu filho a não aceitar o contato de estranhos nas redes sociais.
DENÚNCIE O TRÁFICO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
Disque 100
Disque 180
App Proteja Brasil
(download gratuito na Apple Store e Google Play)
Envie um e-mail para a Polícia Federal: srtp.cgdihc.dicor@pf.gov.br
UM PANORAMA SOBRE O PROBLEMA
Entre 2018 e 2020, a Polícia Federal resgatou 203 vítimas de tráfico interno e internacional, das quais 32 (15,8% do total) eram crianças e adolescentes;
De janeiro de 2020 a junho de 2021, o Disque 100 recebeu 301 denúncias de casos de tráfico de pessoas. Destes, 50,1% envolviam crianças e adolescentes;
Em 2019 e 2020, a Polícia Rodoviária Federal identificou nas rodovias federais
3.651 pontos vulneráveis à exploração sexual de crianças e adolescentes (uma das principais causas de tráfico humano no Brasil), sendo que deste total, 1.079 estavam no Nordeste; 896, no Sul; 710, Sudeste; 531 no Centro-Oeste; e 435 no Norte.