NĂşmero Nove Outubro 2012 Gratuito Bicycle Film Festival'12 Lisboa
NÚMERO NOVE – OUTUBRO DE 2012 Ficha Técnica: Director: Bráulio Amado (BA) ba@jornalpedal.com Director Adjunto: Luís Gregório (LG) lg@jornalpedal.com Editor: João Pinheiro (JP) jp@jornalpedal.com Redacção: Ricardo Sobral (RS) rs@jornalpedal.com, João Bentes (JB) jb@jornalpedal.com, Duar te Nuno (DN) dn@jornalpedal.com Colaboraram nesta edição: Fotografia: Ryan Zimmerman Ilustração: Luis Gregório, Carlos Gaspar, Ricardo Figueira, Gonçalo Baptista, Sofia Morais Textos: Inês Nepomuceno, Joana Pestana, Ana Fernandes, Sebastião Braga, Rolha Cycling Club Banda Desenhada: Rick Smith Revisão: Babelia Traduções babelia.pt Design e Direcção de Ar te: Estúdio HHH Comunicação: Helena César hc@jornalpedal.com Depar tamento Comercial e-mail: info@jornalpedal.com tlm: 915044437/933514506 Distribuição: Algar ve: Bike Postal, Markko Bike Messenger. Por to: Roda Livre. Lisboa: Camisola Amarela JORNAL PEDAL é uma marca registada / Morada: Praça Gonçalo Trancoso 2 – 2 esq, 1700-220 Lisboa Tel: 933514506/915044437 e-mail: info@jornalpedal.com web: facebook.com/JornalPedal / jornalpedal.com / twitter.com/JornalPedal Impressão: Empresa Gráfica Funchalense S.A. funchalense.pt | email: geral@egf.com. pt Tel. 219677450 Fax 219677459 Tiragem: 5.000 exemplares Depósito Legal: 340117/12 O JORNAL PEDAL faz par te da Cooperativa POST postcoop.org Jornal Pedal é uma publicação gratuita que não pode ser vendida.
Este mês faz um ano que o Bráulio Amado, o Luís Gregório e o Filipe Gil mandaram imprimir quatro páginas de jornal numa pequena gráfica em Inglaterra e limitado a 100 cópias. A capa, uma foto pela Sara Gomes, fazia o spread e um pequeno manifesto a contra-capa. Acima de tudo havia uma intenção, mas demorou ainda uns meses a criar um esboço daquilo que temos hoje, já com o João Pinheiro a bordo. A estrutura tem-se mantido mais ou menos a mesma e ainda não passámos das 16 páginas por edição. O cruzamento dos vários assuntos que nos interessam faz desta aventura um projecto que para nós faz sentido. Este é o nono episódio deste trajecto onde vamos procurando o nosso espaço, tal como na nossa vida ciclável, e a família Pedal vai crescendo enquanto o primeiro ano de Jornal Pedal como o conhecemos hoje se aproxima. Obrigado a todos que ajudam este projecto a crescer.
Pedal Eventos, pedaladas para todos Para esta fase de castanhas em Outubro-Novembro, o Pedal vai andar embrenhado por diversos eventos. O Campeonato Nacional Brompton serviu de tacada inicial, alimentando a vontade competitiva dos bromptoneiros. O objectivo era cumprir um circuito de 10,8 Km numa dobrável marca Brompton para um torneio em que saiu vitorioso o ciclista olímpico David Rosa e Ana Santos, valendo-lhes uma ida a Londres para participar na competição internacional. Houve batidos a pedal e malta de ciclar aos montes para os lados de Belém. Seguindo a sede de ganhar e também contando com o carimbo do Pedal, tomará lugar um super torneio de bike sprints organizado em colaboração com a Cooperativa Post no stand da Federação Portuguesa de Ciclismo durante o Festival Bike no dia 20. Parece que há prémios gigantes, é anotar tudo em www.uvp-fpc.pt. Miradouros, aqueles lugares destinados à actividade de ver por cima, vão servir de buraco de costura num passeio que junta os miradouros de Santarém. Há-de ser no dia 21 e por cada inscrição a Federação Portuguesa de Ciclismo doa um euro à Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão com Deficiência Mental de Santarém. Há quem diga que é o maior de sempre, o mais importante, revolucionário, e é em Santarém, o Festival Bike, uma festa que une marcas, iniciativas e todo um pacote de pessoas interessadas na ciclo-actividade, e o “carimbo Pedal” também estará presente. Fitas, película, cinema, artes e música, tudo à mistura no festival de celebração da bicicleta, o Bicycle Film Festival que este ano conta com a mãozinha do Jornal Pedal, é ver tudo nas páginas do meio deste jornal. O Pedal também está em festa com a Matilha, ciclo tripulação e RodaGira, a ciclo loja do Chiado. Vai acontecer ali no Ateneu Comercial de Lisboa, a 26 de Outubro, é estar à porta desde o dia anterior e não perder por nada! Agarra-te a este pedal! JB
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Montras Desafinadas Sábado ou qualquer outro dia mais liberto, por necessidade ou vontade, salta-se ao selim para visitar lugares de vender coisas para bicicletas. O roteiro agora é maior, está a crescer entre inaugurações e felicitações, novidades do Oriente, coisas bonitas e até a partilha de um sonho ciclável. Há sorrisos à iniciativa, gabam-se os produtos recentes, sejam eles de pendurar em paredes ou de compor a bicicleta. Estes lugares espalhados mais para Norte ou para Sul de Portugal, são até pretexto de reunião, de dizer um "olá tudo bem", talvez até de referir uma ou outra peripécia semanal, comentar umas novidades. Estar ali é cultural, é ir para ver e estar, trocar palavras e fazer parte da cumplicidade pedaleira. As peças são desejadas, há vontade de levar o que se vê, está ali. Revira-se o objecto com cuidado em busca de valores, necessários à aquisição. A frustração leva à pergunta necessária: "olhe, desculpe, quanto custa?" seguido, de um "obrigado e desculpe lá". Desculpe lá nada, é cortesia não merecida. A busca continua, acontece que não há apenas um ou outro em que não se encontra a resposta imediata, há mais outros tantos, e a frustração é exponencial quando a resposta é "teremos de ver, não consigo dizer-lhe, se quiser ir à Internet…". Ora bolas, mas então não é isto um lugar de vender coisas de bicicleta? Entenda-se, trocar redondas metálicas por objectos desejados de levar para casa? Assistir à vontade de ter em que depois todos sorriem? Ser bonito e desejável não chega, há que ser um lugar a sério, com respostas. Será que não deu para aprender nada com a antiga Ciclone de Lisboa? JB
o c hão qu É e está torto, senhor automobilista
número ncias do aumento do Uma das consequê rem-se nas cidades é torna de ciclistas a circular tros. ou de conversa para os ele s próprios tema mundo, do s Estamos nas boca Sim, conseguimos! nhos tra es r se Deixámos de por diversas razõe s. o. nã Ou . ito os no trâns para nos entranharm os nos s temas mais debatid do um é Porque esse últimos tempos. acota eram um alvo de ch Se antes os ciclistas o se guro de m a ser um depósit fácil, agora come ça ticas mais em discursos e prá ódios e até invejas verdadeiros s os, mais ou meno ou menos inflamad o em vigor. çã oiados na legisla e mais ou menos ap servação ob ra me e é fruto de Tudo o que se se gu e vale enquanto tal. m logo tros? À cabe ça surge De que falam os ou de de mo a obrigatorie da temas polémicos co uma, a ist ex e qu re mp se circular nas ciclovias rma be direita possível da de circular o mais à ito. ns trâ ito das regras de e, claro, pelo respe da. tra Es da o as no Códig Todas elas consagrad las pe ito pe res o país onde É curioso como num das o çã fun em o ad te relativiz leis é constantemen tas umento legal seja tan circunstâncias, o arg aplicáer faz de ta tra se do veze s invocado quan arente s re que isso traga ap mp se e s tro ou s -lo ao o. benefícios ao própri todos em ra, estamos quase let à Se levarmos a lei em cima am ion ilistas que estac falta. Dos automob das a for lam cu as que cir do passeio aos ciclist que da ain , nte ge ta e toda es ciclovias. O que un ço. Mas so, é a luta pelo espa sem consciência dis rto que ce parte s pelo todo? De será justo tomar as culpas no cartório. há quem não tenha justifica a prevaricação não um É fácil afirmar que õe s pe jo ve e Errado, porqu a outra, certo? Não. paço es o do an no alcatrão qu forçados a circular ado up oc te en lm ga do está ile que lhe s foi de stina nta po de ras ho há bém ou é insuficiente – tam
nos passeios. Por outro lado, é difícil para um automobilista compreender a facilidade com que os ciclistas avançam nos sinais vermelhos. Resumidamente, o ciclista, quando o faz, está a agir com a mesma facilidade com que os peões atravessam a estrada depois de avaliarem os riscos: “se é possível verificar que não vem ninguém, é seguro avançar”. A facilidade para o ciclista está nas características do veículo que conduz que, ao contrário de um carro, granjeia-lhe maior visibilidade e percepção do que se passa em seu redor. Em que medida é importante que os automobilistas saibam o quão fácil é para os ciclistas avançarem nos semáforos? Apenas na medida em que isso pode deixá-los tentados a experimentar usar a bicicleta em vez do carro, porque em nada irá beneficiar a segurança de quem circula com quatro rodas, embora talvez lhes atenue a angústia de ver os outros fazerem o que para eles seria um risco desmesurado. Neste particular, o automobilista queixa-se como o cão que deixa a caravana passar. As ciclovias existentes tendem a alimentar conflitos entre peões e ciclistas. A razão é simples. O espaço, mais uma vez, foi retirado aos primeiros para dar aos segundos. Por outro lado, obrigar o ciclista a circular na ciclovia é tão justo como obrigar o trânsito automóvel a circular nas auto-estradas sempre que exista uma. O Governo certamente beneficiaria de uma tal medida, agora que os automobilistas fogem para as estradas nacionais para não terem de pagar o absurdo que lhes cobram. Ao mesmo tempo que se constroem ciclovias, vemos pessoas a pintar bicicletas nas vias BUS. Não encostadas à direita, como a Câmara Municipal de Lisboa fez na Avenida da Liberdade, mas ao centro e logo abaixo das
letras BUS. Reclamam o espaço e com a berm não se cont a, porque q entam uerem ter o direito de evitá-la sem pre que rep risco à sua re sentar um circulação. Os motivos piso em mau sã o vários: estado, carr os estaciona demasiado dos, vias estreitas par a ultrapassa A circulação gens. à direita é um a re gra fund nosso sistem adora do a. A circulaç ão junto à b coisa. A ultr erma é outra apassagem fa z-se pela e se o ciclis esquerda ta não está tã o junto da b o automob erma como ilista desejar ia, para sua diga-se, isso co modidade é um proble ma. Senho dê o benefíc r automobili io da dúvid sta, a. Se o cicl berma, talv ista não es ez seja mes tá na m o o chão que E tal como está torto. há quem na da fique a d também há ever às re g quem ponh ras, a em causa, a se gurança aqui e ali, dos re stante s. Fa tenta equilib zer ra zias a rar em dua quem se s rodas é um viola o princ a coisa feia ípio da prud e ência, tamb no Código ém consag da Estrada, ra do que diz num que os cond dos seus ar utore s devem tig os “abster-se de quaisque da prática r actos que se jam suscep prejudicar o tíveis de exercício d a condução Note -se que com se guran condutore s ça”. somos todo e o re speito s, o bom se pela vida al nso heia têm que Independen prevale cer. temente do s transtorn criam na es os e raivas trada. que se O conflito la tente entre au tomobilistas parece esta e ciclistas r a agudizar -se, talvez doenças so sintoma de ciais, mas ce muitas rtamente o aumento de re sultado d bicicletas na o s es que esta te tradas. Tud ndência nã o indica o vai mudar é melhor re tão ce do, p definir já as or isso prioridades de espaços na atribuiçã de circulaç o ão nas cidad pre cisamos es. Todos de um espaç o vital, todo mais espaç s queremos o. No final, essa será se decisão po mpre uma lítica.
texto: Ricardo Sobral ilustração: Sofia Morais (cargocollective.com/sofiamorais)
Um rapaz que já não anda bem (uma história possivelmente falsa) Franclino é o tipo de indivíduo que é tão viciado em andar de bicicleta, como as suas conversas que caem sempre para a bicicleta. O tema só muda quando o Glorioso joga. Às vezes chega a ser uma seca. Estou a ser simpático. O culpado desta situação, se se pode dizer assim, foi o avô que o ensinou a andar de bicicleta. Desde que largou as rodinhas, nunca mais largou o pedal. “Nunca” é uma forma de dizer pois numa ou noutra situação, que para aqui não interessa, ele não utiliza a bicicleta. A 25 de Março de 2012 decidiu dar a volta a Portugal de bicicleta. Não a Volta a Portugal em Bicicleta, a volta a Portugal de bicicleta. A ideia era percorrer Portugal, por estrada, o mais junto à raia terrestre e marítima. Começou na terra dele, Nazaré, e foi em direcção a Viana do Castelo, onde ficou em casa da Tia Ermelinda. Bem, não vou descrever os pormenores todos, mas posso adiantar que já em Monte Fino, ficou uma semana a descansar em casa de um amigo colorido de longa data. Passaram doze dias de viagem. Parou. No café do Marinho, estava à espera da minha namorada e aparece-me aquele artolas. Pasmado tive de lhe fazer a pergunta que se adequava. - Então, já acabaste a volta? Ou vais para uma segunda? - e sorrio. - Sabes - diz ofegante - Tira os pés de cima da cadeira para me sentar. - e é aqui que começa o interesse da história, talvez falsa. Mal o Franclino sai da bicicleta as forças das pernas vão-se embora. Pelo menos era o que dava a entender, mas como ele andou mais de 2000 quilómetros ainda devia ter força para sair da bicicleta até à cadeira. Estou a falar de dois metros. Mesmo a tempo! - Isabel, vem cá ver o que se passa com Franclino. todos os mirones da esplanada se tinham levantado e a empregada antipática, afinal, até mostrou ter coração quando lhe trouxe um copo de água. - Franclino, o que é que sentes? - inquire a minha namorada. - Eu sinto as minhas pernas mas quando assento o pé no chão fico sem força. Parece que me dá um choque. A Isabel passa os dedos perto do calcanhar e o parar da palpação indica que ela já sabe a resposta. - O que tu tens é bicicletismo. - todos os olhos apontam para Isabel, será que ela está a brincar? Ela não gosta muito de brincar e não se deve brincar. - Bicicletismo? - pergunta a antipática. - É uma atrofia no retináculo dos flexores. - toda a gente continua com os olhos na minha namorada. - É um nervo que atrofia em alguns ciclistas, depois de fazerem muitos quilómetros. Não há tratamento. - Então o que é que eu posso fazer? - Podes andar a pé mas ficas com um andar estranho. De bicicleta podes andar o que quiseres porque pior não fica. Realmente a Isabel tinha razão, ele andava meio estranho. Parecia que coxeava, parecia que tinha um grão-de-bico no pé, parecia muita coisa mas não consigo explicar nem imitar como ele anda. Mas anda, ou seja, pedala mais do que nunca. • Duarte Nuno
Mudar de Bina “Dá-me as asas - Trrim! Trrim!” Alexandre O’Neill Os gestos, as voltas que damos, os jeitos como as pequenas hesitações, são o impulso da ilusão de uma expressão necessária em que cada um à sua maneira é coxo. Assim me dizia uma comadre lá da terra, onde não volto faz sete anos, até que não compreendi mais se foi o acontecimento que veio confirmar a posição e ideia dela, ou se foi esta que por sua vez influenciou o sucedido. Durante muito tempo era a bicicleta o meu meio de transporte, mesmo à chuva punha-me a dar ao pedal, para chegar até onde queria. Enclausurado numa cidade grande que, como outras deste século urbano, vê o campo afastar-se aos confins dos seus limites postos estupidamente longínquos, aquela máquina, vinda à luz da mentalidade industrial, dava-me a única liberdade. Dos rodopios do pedal, a dar a dar, asas para voar. É que lá em Alvito, têm-se os campos ao lado dos passos, e a única cousa que prende as bicicletas à sombra é o descanso. Quando ma roubaram vagueei pela cidade de Londres sem propósito. Chovia, não me importava. Foi o peso daquele choque caminhando, até que parei no meio da rua. Os transeuntes passavam, iam passando. E eu, perplexo, olhava fixamente uma figura no chão da estrada, que me seduzia com um desígnio interior pouco claro. Foi quando, sem dar por ela, me deitei ali no chão em cima do sinal da ciclovia e, como se pedalasse ainda a minha “bina”, dei aos pés e aos joelhos na carreira vazia, à chuva. Ora a nostalgia virou uma volúpia qualquer que me levava, meio em transe pelas ruas fora e o meu corpo deixava de estar deitado, para permanecer erguido num salto, um pé seguindo outro no pedalar o costume, como seriam os antigos se já tivessem a bicicleta? Até que lá me despertou e me fez sorrir, esse habitual, ‘Trrim! Trrim!’: havia que deixar passar. António Cuba, Londres 07.08.2009 • Texto: Sebastião Braga • Ilustração Carlos Gaspar (carlos-gaspar.blogspot.pt)
O Corvo de Louro Os corvos são pássaros negros misteriosos, necrófagos que sobrevoaram em tempos a paisagem lisboeta. O pássaro que há em Vicente foi uma personagem criada por Luís Louro para uma banda desenhada portuguesa dos anos noventa, um super-herói que percorre uma Alfama em bicicleta.
Entrevista a Vicente
Um herói em bicicleta em exclusivo para o Jornal Pedal Quando eras pequeno lembras-te de andares muito de bicicleta? Não, quando era puto lembro-me é de levar pancada da malta do bairro. A bicicleta apareceu mais tarde, numa fase adulta em que decidi enfrentar o mundo. A tua transformação em Corvo foi difícil? Bastante. Foi um momento da minha vida em que se fez luz e que disse basta à minha vida desgraçada e resolvi lutar a favor dos oprimidos como eu que apanhavam pancada em miúdos. Penso ter sido um dos primeiros rapazes a ser violado por uma mulher. Em que te inspiras-te para o teu disfarce? Era prático para pedalar? O fato surge de umas tralhas que tinha lá para casa completado com umas compras que fiz na Feira da Ladra em Lisboa. Protege-me do frio e protege a minha identidade. Era bastante prático para pedalar, as calças eram largas o suficiente e com uma pequena dobra podia dispensar a tradicional mola que está sempre a cair. Desta forma não se prendia na corrente o que é importante.
Luís Louro interessou-se pelo desenho desde miúdo e lembra-se de se iniciar na BD desenhando “por cima” de Lucky Luke e Astérix, copiando as vinhetas mas alterando as caras dos personagens. “Não havia a BD que está hoje disponível, havia a revista Tim Tim com vários autores belgas e depois havia o Lucky Luke e Astérix” conta-nos Louro que, influenciado pelos clássicos, vem a desenvolver a partir dos quinze um crescente interesse e desenvolvimento da sua própria BD. A sua juventude divide-se entre Lisboa e Sesimbra e é nesta segunda cidade que mantém a presença da bicicleta. Diz-nos Louro: “o meu pai ofereceu-me uma Vilar roda vinte e quatro, era vermelha e branca, foi a primeira que tive e a bicicleta que foi mais tarde utilizada no Corvo. Depois tive uma roda vinte e oito de corrida.” Na Cotovia, junto a Sesimbra, a bicicleta era o essencial meio de transporte para ir ter com os amigos, sem ela ficava restringido ao bairro. A relação com o objecto ciclo-mecânico nunca foi transportada para a capital excepto na BD do Corvo. Depois de três volumes do Corvo e outros tantos álbums de BD, Luís Louro é agora mais fotógrafo do que bedêista, “a fotografia sempre esteve presente como hobby e aos poucos foi ocupando o espaço da BD e agora é a minha actividade principal”. Para além disso, diz-nos Louro: “ Passou a existir um vazio, uma falta de motivação para sentar ao estirador que surge apenas de tempos a tempos.” A BD ocupa um lugar na memória de madrugadas de Louro agarrado ao aerógrafo e a cortar máscaras para as vinhetas. Quando nasceu O Corvo, o autor contava já com uma carreira considerável sobretudo em colaboração com António (Tozé) Simões, seu argumentista no “Jim del Mónaco”, entre outros. O Herói em bicicleta, Corvo e Robim, surgem por brincadeira, “eu e o António Simões estávamos a desenvolver um volume para a ASA, parte da colecção Histórias de Lisboa, entretanto ele ficou sem disponibilidade e eu decidi avançar com uma peça a solo”, refere Louro e acrescenta: “queria fazer algo que se relacionasse com a cidade de Lisboa, peguei num dos seus símbolos, o corvo e pareceu-me que a cidade estava a precisar de um anti-herói que fosse capaz de copiar outros para ser um.” O Vicente, nome da personagem obcecada pela leitura de banda desenhada e que cabe no super-herói de Alfama, aparece por ser costume do português arcaico chamar Vicente aos corvos. Para completar o Corvo,
aparece Robim, o seu companheiro, e para Louro “ Robim surge como a exploração do ridículo, a construção de um anti-herói que para além de se mover pelos telhados aguçados e disformes de Alfama, usa uma bicicleta que acaba por ir sempre ao ombro”. Na construção da história, o Corvo aproveita-se até das tiradas da BD que Vicente lê, aparecem quase cópias de Batman e Tim Tim, tudo com o propósito de forçar um Vicente a Corvo e uma Vilar vinte e quatro a Robim no bairro de Alfama. “A bicicleta dava-me um trabalhão, recortar aquilo. Cada vez que chegava a uma vinheta com bicicleta metia as mãos à cabeça”, diz-nos Luís Louro acerca do trabalho de ilustração no Corvo. Para além disso, como todo o herói este tem um fato, um disfarce que usa à noite nas suas operações, conta-nos Louro: “ O fato é pensado para proteger do frio da noite e a sua identidade, acompanha no fundo, o ridículo da personagem, uma base humana, coberta por um garruço negro de fato de mergulho na cabeça que continua até ao abdómen, óculos de mergulho, calças à Almeida (varredor de lixo) a rematar com uns mocassins e umas meias riscadas.” O facto de o cenário tratar sobretudo de Alfama está também ligado ao objectivo de todo o enredo se ligar à capital, para além da admiração de Louro por este bairro típico. Diz-nos ainda: “ Não cheguei a andar pelos telhados do bairro, andei a pé e fotografei muitas ruas e largos que ao serem revelados apresentavam ângulos exagerados, o que resolvi transportar também para o desenho no livro.” Neste projecto, encontrava-se a solo, a mesma pessoa no lugar de ilustrador e argumentista, diz Luís :” Foi feito a medo, tentei aproveitar o processo que desenvolvi nos trabalhos com o António Simões em que durante a construção de um álbum trabalhávamos intensamente juntos, penetrando aqui e ali nas tarefas de um e de outro para contar uma história.” O resultado é um Vicente que conta com uma infância perturbada e que mais tarde se transforma num Corvo –anti-herói que anda pelo telhados em Alfama com uma bicicleta vermelha a impor justiça. Se lhe perguntarmos se é possível que o Corvo exista entre nós responde : “ Embora o Corvo tenha um sentido de justiça muito próprio, espero não passar em Lisboa e ver um tipo num telhado com uma bicicleta às costas”. • Texto: João Bentes • Imagens retiradas de O Corvo, edições ASA 1996
Nas tuas acções nocturnas, era fácil pedalar pelos telhados de Alfama? Na maior parte das vezes sim, embora o Robim seja um pouco preguiçoso acabando por ser eu a ter a tarefa de o levar. Nas descidas é ele que toma conta da acção, eu limito-me a apanhar boleia. Como descreverias Robim? É robusto, rijo e resistente. Tem cor vermelha que é essencial pela ligação muito antiga, que já vem do meu pai, ao futebol do clube dos encarnados. O Robim teve algum furo? Não, que me lembre nunca. De qualquer forma adquiri mais recentemente uma bolsa que conta com um KIT de reparação, de forma que estou precavido. Como é que foi ser super-herói em Alfama e em Lisboa? Foi difícil, complicado, uma construção lenta para impor presença e respeito. O resultado é que nos dias de hoje esse respeito e até o medo foi conquistado, daí a minha calma e recato actual. E se surgisse um Corvo II, também em Lisboa? Teria que lidar com a situação, provavelmente pôr o Corvo II no seu lugar uma vez que Lisboa não é suficientemente grande para dois super-heróis. Teria de repor a justiça.
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BFF12/LISBOA 1 - 3 NOVEMBRO
Festival de Cinema em Bicicleta Brendt Barbur é o nome, Bicycle Film Festival a ciclo magia que espalhou por 36 cidades do mundo. O cinema em bicicleta está de novo em Lisboa com quilómetros de filme para os lados de Benfica e super festas distribuídas pela cidade.
“É uma coisa que acontece e dá vontade de estar lá sempre a sentir aquilo” Sérgio Rodrigues, espectador.
O BFF é um festival que engloba também música e artes. Já passaram pelo festival" Blonde Redhead, John Spencer Blues Explosion, Dan Deacon, No Age, Deerhunter.
O Festival já esteve em AMESTERDÃO, Atenas, Austin, Barcenona, Boston, Chicago, Copenhaga, Denver, Lisboa, Londres, Los Angels, Memphis, Miami, Milão, Milwakee, Minneapolis, Montreal, Munique, Nova Iorque, Paris, Portland, Sacramento, Salt Lake, San Diego, São Francisco, Santa Barbara, São Paulo, Seattle, Seoul, Sidney, Taipei, Tallinn, TÓQUIO, Toronto, Viena e Washington DC.
foto: Fabio Teixeira
Aeolian Ride a inaugurar a Moda Lisboa, no Mercado da Ribeira
LX ALLEY CAT 2009
foto: Fabio Teixeira
DR
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este momento, Brendt encontra-se em Milão, numa inauguração de uma galeria de arte. Como é que tudo começou? Responde-nos: “O princípio foi na Califórnia, quando tinha quatro ou cinco anos de idade e andava de Schwinn”, mudou depois para a BMX e nunca largou a coisa de duas rodas que o acompanhou desde a Califórnia até Nova Iorque. A ligação à bicicleta nunca se perdeu, o cinema sempre esteve presente e foi Breaking Away que fez a charneira para um interesse ainda mais dedicado. Refere Brendt: “Tinha um amigo no liceu que também gostava de cinema e com quem via filmes, por acaso ele trabalha para a Disney agora, depois comecei o BFF”. Entre uma coisa e outra, ajudou amigos a concretizar projectos de vídeo, trabalhou em publicidade e em projectos artísticos no geral. Em Nova Iorque, no ano dois mil, enquanto andava na sua bicicleta, foi atingido por um autocarro, “Doeu. Não foi assim tão mau, estive em recuperação durante 6 meses e queria fazer alguma coisa positiva de uma experiência obviamente horrível.” Essa coisa era um festival de cinema que servisse para celebrar o uso da bicicleta e Jonas Mekas, o reconhecido realizador americano que na altura tinha cerca de oitenta anos de idade deu uma mãozinha a Brendt, assim como amigos que tinha no Anthology Film Archives de Nova Iorque. A acrescer, tinha raízes fortes no mundo artístico e desde o princípio a ideia de um festival de cinema em bicicleta como um evento cultural acima de tudo. Para Brendt Barbur: “ o Bicycle Film Festival foi criado com esta ideia de que se
fosse um evento ciclável do género dos que têm uma agenda ambiental não teria o sucesso que poderia ter. Tem mais a ver com uma atitude cultural que engloba arte.” O primeiro BFF foi em Nova Iorque, em 2001, “o festival esgotou, nem queríamos acreditar, veio imensa gente” diz Brendt. Em 2001 a Internet não era o que é hoje, o evento espalhou-se pela boca americana e “a malta de São Francisco” queria reproduzir o evento lá. Começa assim a digressão BFF, primeiro por diversas cidades americanas e mais tarde partem para a internacionalização. Entram por Londres onde esgotaram o festival, depois Tóquio onde aconteceu o mesmo e outras 34 se seguiram. A multiplicação por diversas cidades do mundo foi inevitável, Lisboa inclusive. Para Brendt: “Lisboa é uma cidade extraordinária, acho que é mesmo uma das cidades mais bonitas do mundo. Já lá estive duas vezes, uma delas para o BFF. Gostaria de voltar um dia.” O responsável pela vinda do festival para Lisboa, Sandro Araújo, conta que foi “ enquanto procurava inspiração para promover culturalmente o uso da bicicleta” que ficou a conhecer o BFF, através da Internet. “O meu primeiro festival foi em Milão, em 2008, com frio, neve e carris de eléctrico por todo o lado. E, contudo, imensa gente de todas as idades a pedalar de um lado para o outro”. Sandro é produtor do BFF Lisboa desde o seu início. “Olhando para trás com alguma distância, é evidente que houve uma mistura de sorte, perseverança, loucura e, o mais importante, um empenhado grupo de amigos a apoiar os esforços para pôr de pé um evento com escassos meios”. O festival tem ganho novos públicos de ano para ano, com diferentes sensibilidades
e ligações à cultura urbana da bicicleta, tornando-se num grande acontecimento que “acaba por servir como ponto de encontro e etapa para outras experiências, ideias e projectos que entretanto surgem de forma natural”. Comparando Lisboa com os festivais de outras cidades, “há uma diferença significativa, embora compreensível”, diz Sandro, que esteve também presente nas edições de Nova Iorque e Paris. Em 2011 entrou pela primeira vez uma curta-metragem portuguesa no circuito internacional – “O Risco” de José Pedro Gomes – que “inaugurou um novo estilo cinematográfico, o "cycle-gore". Estamos a fazer história”. Sandro elege ainda “Ski Boys”, de Benny Zenga, que será exibido este ano em Lisboa, como uma das melhores curtas de sempre do BFF. Para além dos filmes, e em relação aos eventos da edição deste ano, “aguardo com muita expectativa o Torneio de Bike Polo "November Sun", será uma oportunidade ímpar para ver competição a este nível no nosso país. Mas a "LX Alleycat", que este ano é organizada com a Matilha Cycle Crew, também será imperdível”. E quais os sonhos e ambições para o futuro do BFF Lisboa? “Se é possível sonhar nos tempos que correm, gostaria de ter o Chris Hoy para participar nos Bikesprints, o David Byrne para partilhar as suas experiências entre amigos, o Jorgen Leth para apresentar e falar sobre o "Sunday In Hell", e os Blonde Redhead para um filmeconcerto. Ok, estamos a delirar”. Este festival vai muito para lá do cinema, aponta Brendt: “no primeiro ano que fomos a Lisboa, por exemplo, tivemos um BFF que reunia ciclistas de todo o país e arredores.
TORNEIO BIKE POLO NOVEMBER SUN
"Free Your FIxed Gear" para o BFF11 (Globe Roll, personalizada por PANTONIO e fotografada por Francisco Vanzeller)
PÚBLICO BFF LX 2011
sala BFF LX 2011
A intenção nunca foi ter um festival de ciclistas.” Assim, o director encontrou na música e na arte uma forma de tornar o festival mais transversal, não apenas dedicado à ciclo--cultura cinematográfica. “Temos tido a sorte de ter tido bandas espantosas a participarem no festival, uma das mais consistentes é Blonde Readhead” diz-nos Brendt e adiciona: “Claro que houve também filmes estupendos ao longo dos anos, este ano Line of Sight tem sido um dos filmes mais populares e é bastante bom.” Para além destes o programa do festival conta sempre com um pacote de curtas-metragens que para Brendt “tem sempre piada e é super divertido”. Onze anos de festival espalhado pelo mundo levaram o fundador a diferentes experiências e histórias de algibeira, conta-nos: “ Há tantas coisas que aconteceram nos festivais. Estou sempre no momento e em movimento. Tenho O Festival foi uma forte tendência para me fundado por lembrar das coisas negativas. Brendt Barbur em 2001 depois Ouve uma vez que fui atacado, deste ter sido na rua, mesmo em frente da atropelado por entrada para o cinema e ninguém um autocarro se apercebeu” (risos). Tudo não enquanto andava na sua bicicleta passou do simples facto de Brendt em Nova Iorque. se achar responsável por dizer algo a uns tipos que andavam a
partir janelas de carros mesmo ali em frente à entrada do cinema. Um simples “parem” bastou para lhe carregarem em cima de tal forma que teve que seguir até ao hospital local. Conta ainda Brendt:” A parte mais engraçada é que estavam imensas pessoas por perto, espectadores do festival que utilizaram a situação para fazer fotografias e postar na Internet…pouco depois colegas meus do liceu, alguns dos quais com quem já não falava há imenso tempo, reconheciam-me e enviavam mensagens a perguntar se estava bem. Foi há cinco anos atrás.” Entre risos, salta-lhe: “Há uma outra história” e continua com entusiasmo: “quando fui a Lisboa, não vi nenhum ciclista pela cidade excepto no BFF e houve pessoas dos carros a atirarem-me coisas.” (risos) Enquanto ciclou pelas ruas da capital portuguesa, houve condutores a reclamarem com Brendt. Como este não entendia, respondia com um “olá”, o que levou a objectos atirados na sua direcção. Remata Brendt: "Isso foi mesmo divertido, não me entendiam. A minha mensagem é continuem a ciclar, não liguem a mais nada e aproveitem as pedaladas.” Brendt Barbur está bastante entusiasmado com o facto de a digressão ter sempre cidades-estreia do festival, aponta Beirute como um destino desejável e se imaginarmos o BFF no futuro, enquadrado no ano de 2025, Brendt começa por dizer, entre risos, que não se vê como o responsável e acrescenta: “Vejo que o festival tem um outro significado porque ao longo dos anos as grandes cidades tiveram um crescimento de população utilizadora da bicicleta.” Haja BFF! • João Bentes, Ricardo Sobral
Um torneio internacional de bike polo é gostar de bicicletas e de todo este mundo que as envolve, integrá-lo no BFF ou vice-versa, é um movimento mais do que simbólico. O bike polo é mais do que uma modalidade desportiva, é antes uma comunidade internacional. Em cada núcleo de cidades diferentes e países diferentes encaixam-se jogos em horários de um quotidiano acelerado, às vezes mais do que uma vez por semana. Enquanto internacionalmente as equipas que se vão formando juntam-se em vários pontos do Globo para campeonatos e torneios com uma frequência enérgica. Esta comunidade joga entre si mensalmente em torneios dispersos por vários países, sendo que o mais perto de uma formalidade desportiva é disputada no Europeu e Mundial de bike polo, uma vez por ano, claro. De resto, e sempre, esta comunidade move-se pela paixão e prazer que cada jogo representa e todo o ambiente que se vive em cada torneio. Não é por acaso que cada jogador é responsável pelas suas despesas, são momentos auto geridos e resultado do suor de cada um. Isto não é amadorismo, mas sim a escolha de um desporto que vive da sua vertente humana e das características inerentes às relações interpessoais. Este é o segundo torneio internacional a ocorrer em Portugal. O primeiro, parte do West Jam (que aliou um torneio de bike polo e uma competição de fixed gear freestyle) em 2011 contou com 14 equipas de vários países (Inglaterra, Irlanda, Espanha, Itália, Bélgica, Suíça e Portugal). Durante os dias 2 e 3 de Novembro disputam-se umas quantas dezenas destes jogos de dez minutos entre equipas de três elementos. A arena é o ringue cedido pela Junta de Freguesia de Benfica. November Sun é o nome deste torneio que espera acolher a comunidade polista com um sol ou bom tempo tardio, na esperança de se esquivar das gotas da chuva. Os jogos são disputados ao lado do auditório onde vão ser projectados os filmes do BFF e qualquer semelhança entre algumas das personagens dos filmes e os protagonistas deste torneiro, não é pura coincidência. São todos fruto deste prazer de estar em cima de uma bicicleta, e neste caso com um taco (ou mallet) na mão. Ringue Anónio Livramento, Avenida Gomes Pereira N.º 17, Benfica.
Texto: João Pinheiro Ilustração: Ricardo Figueira (ricardo.stuka@gmail.com)
Auditório Carlos Paredes Av. Gomes Pereira 17, Lisboa
Programação 1 NOV 14:00 STREET PARTY Largo do Intendente, Lisboa 15:00 LX ALLEYCAT
2 NOV 10:00 – 20:00 NOVEMBER SUN 19:30 Sessão de Abertura BIKE STORIES Sessão de curtas para pedalar rapidamente, cinesprints. Histórias de “estava eu mais a minha bicicleta e câmara de filmar” para abrir o festival.
22:00 LINE OF SIGHT
EUA 2012 | 16mm & HD 60min. Realizador: Benny Zenga Durante mais de uma década, Lucas Brunelle viajou pelo globo para filmar alleycat races, corridas de estafetas de bicicleta a alta velocidade pelas ruas das maiores metrópoles mundiais, usando câmaras acopladas ao seu capacete. LINE OF SIGHT reúne 60 minutos das melhores imagens captadas por Lucas Brunelle.
23:00 Festa BFF Av. Gomes Pereira, 11 Armazém 13
3 NOV 10:00 – 20:00 NOVEMBER SUN 18:00 BIKES, BREAD AND WINE: L’EROICA
Itália 2011 | HD 41 min. Realizador: Morgan Bertacca “A prova italiana de bicicletas antigas de corrida é uma clássica. Pedalando por estradas de gravilha com bicicletas dos anos 80, camisolas de lã e alimentados a vinho e comida italiana refinada, a gloriosa corrida L'Eroica capta a essência da época dourada do ciclismo.” The Guardian
Mais informações em bicyclefilmfestival.com ou contactando lisboa@bicyclefilmfestival.com
O filme acompanha as grandes glórias do passado e alguns entusiastas mais novos, numa excelente captação desta corrida e paisagens mágicas.
19:30 URBAN BIKE SHORTS Sessão de curtas sobre a cultura urbana da bicicleta, abrangendo histórias de diferentes cidades do mundo. Os filmes abordam a cultura dos estafetas de bicicleta, fixed gear, BMX, entre outros temas relevantes.
22:00 RAS TAILTEANN MEN OF THE RAS Irlanda 2011 | HD 52min. Realizador: Sean O Cualain Filme documentário que conta a história de uma
das mais importantes instituições desportivas da Irlanda: a corrida The Rás Tailteann. Iniciada em 1953, o seu objectivo passava por simbolizar as aspirações nacionalistas dos seus organizadores e promover a cultura irlandesa num período de acesa divisão política e desportiva. Hoje, The Rás é um dos grandes eventos do ciclismo onde figuram anualmente várias equipas internacionais. A história tumultuosa desta prova oferece ainda uma visão paralela única sobre a evolução cultural e política da Irlanda nos finais do século XX – um panorama revelador desde os anos 50 aos dias de hoje. Na Irlanda, como veremos, a linha que separa o desporto da política é muito ténue.
00:00 MIDNIGHT RIDE Percurso de bicicleta em grupo desde Benfica até ao local da festa BFF 00:30 Festa BFF com BIKE SPRINTS
GALHARDETE TAXISTA Texto: João Bentes Entrevistas: Inês Nepomuceno e Joana Pestana Ilustração: Luís Gregório
As vias de uma cidade são ocupadas por inúmeras criaturas que se arrastam pelas composições de habitação, jardins e museus que compõem a urbe. Pontos de partida, lugares de passagem e destino. Existem até seres que se dedicam ao transporte de pessoas entre zonas da cidade, grandes conhecedores dos trajectos das localidades e atalhos entre os mesmos. Poderão até ser considerados uma equipa pelo jogo de cores usado no equipamento das suas viaturas, mais, serão até uma classe com galhardete de condutor de táxi e jogam no mesmo campo que os ciclo guiadores. Puxámos pelo Jornal, enfiámos no bolso de trás e pedimos à equipa do Porto que abordasse o assunto de bandeira branca em punho. Eis o resultado.
Sr. BALTAZAR, 49 anos O que lhe parece de haver ciclistas a andar pela cidade? Acho normal, evita a poluição. Já pensou em mudar para um táxi-bicicleta? Nem pensar. Pela minha saúde, não poderia.
Sr. RUI, 48 anos O que acha de circularem ciclistas nas cidades? Acho positivo e negativo, depende do ponto de vista. Negativo porque andam ora pelos passeios, ora pela estrada e não sabem andar na estrada. E os ciclistas não respeitam os outros condutores, não sabem andar em fila indiana. Agora é positivo em termos ambientais. Atrapalha-lhe o negócio? Não, acho que não. São meios de transporte distintos, não atrapalha. E se o fizessem trabalhar num táxi-bicicleta? Não, não. Isso não. Se de repente as pessoas deixassem de andar de táxi para andar de bicicleta, o que faria? Mudava de profissão. Não seio o quê mas nunca para a bicicleta, está claro. Qual seria a sua reacção se lhe aparecesse um ciclista à frente a "pisar ovos"? Tentava ultrapassar. Se fosse numa rua apertada, aguentava.
não é um animal. Os cavalos é que puxam charretes não são os homens. E se de repente as pessoas deixassem de andar de táxi para andar de bicicleta? Tinha que acabar com as bicicletas. Meu Deus do céu nem pense nisso. O que faria se desse com um pedaleiro a andar devagar a sua frente? Tinha de aceitar. É a pedal, tudo depende da força que o ciclista tem. Não chateava o homem.
Sr. CARLOS CORREIA, 36 anos Que lhe parece dos indivíduos que fazem a cidade de bicicleta? É um meio alternativo para a mobilidade e nos dias de hoje torna-se vantajoso. O combustível é caro e o trânsito é caótico. Para além disso é saudável. É mau para a sua profissão? Não, não é por aí. Nas grandes cidades ainda não se nota uma grande adesão. Já teve alguma situação curiosa com um utilizador de bicicleta? M: Na minha profissão, não. Já tive um ciclista que estava distraído e foi contra o meu carro particular. Coitado, estava mesmo sem atenção. E se o mudassem para um táxi-bicicleta? Era difícil, como levava? Era engraçado, já viu o esforço físico para puxar as pessoas? Talvez se o Porto fosse plano.
Se lhe pedissem para meter a bicicleta no táxi para levar a uma determinada morada, qual seria a sua resposta? Se coubesse na bagageira levava, é a minha obrigação.
O que faria se os clientes optassem por ir de bicicleta e deixassem de andar de táxi? Tínhamos de mudar de profissão, passava para hotelaria ou restauração, por exemplo. As pessoas, sempre a pedalar, teriam de se alimentar mais, ia ser bom negócio.
SR. MANUEL SILVA, 56 anos
O que se faz quando se apanha à frente um homem a pedais lento? Já me aconteceu várias vezes. Tento ter calma. Quando estão distraídos tudo bem. Agora quando não se arrumam propositadamente, fico chateado, é claro. Não apito porque trabalho à noite. Fico chateado, que remédio, não se pode passar por cima, não é?
Parece-lhe bem andarem ciclistas pelo Porto? Sim, é benéfico para a cidade e para as pessoas em geral. Faz parte da ginástica que devemos fazer. Prejudica o negócio? Não, nada, absolutamente. Já teve algum episódio caricato com um ciclista urbano? já tive sim. Comigo próprio. Tenho bicicleta e caí na ponte. Os portugueses viram-me e ninguém me pôs a mão, só os estrangeiros. Se foi grave? Oh menina, caí, ainda me aleijei num joelho. Foi nas férias sabe, faço as praias ali de Gaia à noite, só ando por lazer e em situação de férias, claro. Já pensou em mudar para um táxi a pedais? Não, nem é de pensar. É mais uma coisa para incomodar a cabeça. Não tem lógica, não acha? Se estivéssemos na China... Agora, não estamos. Isso é errado, um homem
Caso lhe pedissem para levar uma bicicleta no táxi até um local, o que faria? Levava, e já levei. Normal e eléctrica.
Entrevista
Steve Nishimoto Texto: Ana Fernandes Fotos: Ryan Zimmerman
Steve “ Nish” Nishimoto é designer e artista em Nova Iorque. Numa cidade tão agitada como esta, Nish está bem inserido tanto na cena artística como na cena urbana das bicicletas ou no skate. Tem trabalhos para empresas como Associates in Science, Zoo York, Uniqlo, Nike e entre outras, e também já viajou com Mash, o infame grupo de São Francisco, pela Europa ou Japão, como detém uma invejável colecção de bicicletas bastante eclética. Ao longo desta entrevista vamos percebendo como estes dois mundos se relacionam e como Nish vive as suas paixões.
Conta aos nossos leitores um pouco daquilo que fazes e quem és. Um breve resumo. De onde vens e porque vieste para Nova Iorque. Pertenço à quarta geração de uma família de origem Japonesa-Americana, nascido e criado em Chicago. Vim para nova Iorque em 2002. A minha vida estava bastante complicada em Chicago e até me roubaram o carro. Nesse momento decidi tentar arranjar trabalho em Nova Iorque. Criei um website e enviei emails para três empresas onde gostaria muito de trabalhar e acabei por conseguir emprego na Associates in Science, uma pequena loja de design situada em TriBeCa. Depois, o meu carro acabou por ser encontrado. Então, decidi vendê-lo e mudei-me para cá só com um saco de roupa. O teu trabalho assenta principalmente no design gráfico e já trabalhaste com empresas como a Shut, Ftc, Vans, Nike SB, Converse, A New York Thing, e muitas mais. Esse mundo da sub-cultura do skate influencia o teu trabalho? Como é que descreves as tuas obras e qual é agora a tua fonte de inspiração? Apaixonei-me pelo skate quando ainda era um miúdo – por isso dei-lhe muito tempo e dedicação. Ainda continuo a andar de skate e sinto-me muito orgulhoso e agradecido por trabalhar com todos os meus clientes. Não diria que existe uma ligação directa entre o skate e as minhas obras porque recebo muitas mais influências para além do skate. Para mim a arte sempre representou o desejo de criar algo novo, num determinado momento, analisando a criação e obtendo algum tipo de satisfação com o resultado obtido. A inspiração chega-me através de um grande número de pessoas, locais e coisas. Por exemplo, há pouco tempo a reacção de um vizinho a um trabalho deu-me vontade de tentar uma coisa nova – o que não seria certamente a sua intenção. Tenho trabalhado em quadros que andam sempre à volta do mesmo tamanho (3' x 3'), e que exploram estilos e conceitos diferentes. Um dos conceitos assenta na subtracção da comunicação. Outro conceito baseia-se apenas na exploração de espaços e de cor através de linhas. Gosto de variar e de experimentar coisas novas para ver se funciona. Quem (para além de mim, ah!) tem sido uma grande influência na tua vida e no teu trabalho? (Risos) Sim, já passámos por várias coisas juntos. Quando penso nisso, noto que me retiraste muitas vezes da minha zona de conforto – levando-me a conhecer muitas pessoas diferentes. Aprendi que é uma excelente atitude e sempre encorajadora – e tu colocas sempre essa postura em prática. O crescimento da minha família também exerceu uma grande influência no meu trabalho. A minha namorada, Lauren Kovin, tem muito bom gosto e inclinase sempre para o lado mais vanguardista. É engraçado vê-la entusiasmada e inspirada com um livro na Dashwood, por exemplo. É uma pessoa muito dedicada ao seu trabalho e está sempre a criar coisas novas. Como é que te envolveste na cena das bicicletas em Nova Iorque? E como é que acabaste por ir ao Japão com a famosa equipa Mash e porque foste a pedalar de Londres a Paris para te encontrares com o Lance Armstrong? Desde o início que a cena fixed gear urbana me atraiu. Na altura, muitos skaters estavam a entrar na cena como um novo hobby – ao aprenderem e aperfeiçoarem o uso destas bicicletas era uma forma de testarem a sua capacidade física, bem como de melhorar melhorarem a agilidade, e também pelo gosto da velocidade. Era uma coisa diferente, nova, entusiasmante, que valia a pena. Foi o Mike Hernandez, um skater profissional, da velha guarda, aqui de Nova Iorque e actualmente bombeiro nesta cidade, que me convidou para ir com eles ao Japão. Houve um pequeno grupo de pessoas daqui que se juntou à equipa Mash que estava a estrear o seu vídeo em Tóquio, Osaka e Quioto. Foi uma experiência inesquecível. Tirei mais de 4000 fotografias para tentar documentar a experiência. A viagem de Londres até Paris – acho que foi a mesma coisa – foi também um convite do Mike Hernandez. À última hora ele não podia ir. Na altura, tínhamos o nosso pequeno grupo de Nova Iorque – composto pelo
Massan Fluker, Kyle Demmers (grande responsável pela organização), e o Ryan Giese. Eu não sabia muito bem em que moldes as coisas iam acontecer, só sabia que íamos realizar o trajecto entre Londres e Paris em três dias, e a maioria a pedalar em bicicletas de pista. Acho que no primeiro dia percorremos uns extenuantes 140 quilómetros numa corrida contra o tempo para apanharmos o último ferry (uma forma bastante agradável de terminar os 140km!). Tivemos um dia de descanso pelo meio e depois fizemos um total de 218 quilómetros, no terceiro dia, para chegarmos até à Torre Eiffel em Paris. Percorrer 218 quilómetros num só dia foi algo que nenhum dos experientes ciclistas (eramos uns 10) provenientes de vários países tinha realizado anteriormente, por isso foi um feito partilhado entre todos. A nossa viagem terminou com o Tour De France e no evento de arte onde o Lance Armstrong era o tema principal. O Tom Sachs estava presente com a sua bicicleta Tequilla e serviu shots aos presentes, animando ainda mais o evento. Quais são os teus projectos para o futuro? De uma forma geral, estou a tentar adoptar uma alimentação mais saudável, trabalhar em projectos que me dão prazer, e ter um papel activo em tudo o que for possível. No que se refere ao design, acabei há pouco tempo um logótipo que vai ser utilizado num campo de golfe de luxo. Ajudei o Leo Fitzpatrick a conceber um livro com a OHWOW onde se incluem artistas como Joe Bradley, Dan Colen, o próprio Leo, Ray Johnson, Hanna Liden, Nate Lowman, Adam McEwen, Josh Smith, e Dash Snow. Neste momento também estou a trabalhar em vários logótipos para amigos, para o Justin Miller da DFA, por exemplo, e a desenvolver a imagem de uma nova marca de skates fora de Nova Iorque. De vez em quando, também ajudo a aNYthing em diversas tarefas de design. Para além disso, vou trabalhar em novos quadros e talvez faça uma exposição. Também estou a pensar em fazer um livro. Tens quantas bicicletas? Tenho vindo a juntar algumas com o passar do tempo. O mais incrível é que as consegui todas (por um preço bastante simpático) através de negócios com pessoas que se estavam a desfazer de quadros antigos, etc. Tenho a minha velha bicicleta de BMX – uma Haro Group 1a topo de gama de competição de 91 que comprei em saldo, em 92. Uma Klein de estrada em alumínio dos anos 90 que a minha irmã comprou numa loja de penhores por $500. Alguns quadros pursuit caricatos – uma belíssima Daccordi com tubagens inclinadas e uma Giordana com a clássica pintura fluorescente. Uma velha Cinelli Olympic pista, em vermelho Ferrari. Uma Mash Cinelli de pista. Uma clássica Cannondale de 1992 de pista. E a minha bicicleta de estrada em carbono, uma Kuota Kom (vinda de um showroom da Sram, também conseguida por um excelente preço, com um agradecimento especial ao Geoff Przekop). 7. E usas todas as bicicletas? Neste momento diria que utilizo as três bicicletas que tenho em casa, as restantes estão guardadas. Uma bicicleta para todos os dias, dos anos 40, completa com cesto para prender o cadeado e para as tarefas diárias, uma bicicleta de pista para recados rápidos e para dar umas voltas no Central Park e uma bicicleta de estrada para passeios mais longos ou para mais voltas no Central Park. 8. Como é andar de bicicleta em Nova Iorque em comparação com outras cidades onde já estiveste? De uma forma geral, Nova Iorque é uma cidade de trânsito mais denso sempre com muita acção a saltar de todos os lados.
A maioria das vezes o trânsito é tão denso que não é possível ir à velocidade que gostaríamos. Isso justifica bastante porque gosto de pedalar no Central Park. Geralmente, o local está fechado ao trânsito por isso podes concentrar-te mais na tua condução do queem vez de estares preocupado com semáforos ou em serpentear os peões, os carros e os buracos na estrada, etc. Existem as novas ciclovias, que provocam muita controvérsia, e que foram instaladas nos últimos anos. Trabalhei com a comissão de Alternativas de Transporte de Nova Iorque na realização do logótipo que lançou a campanha para encorajar as pessoas a utilizar utilizarem a bicicleta e a tomarem consciência das regras de condução. Recentemente, fiz um trabalho semelhante, de criação de logótipo, para um grupo de incentivo à utilização da bicicleta, denominado "Bikemore", que representa a cidade de Baltimore. Qual é a música que melhor te identifica ou a música que te serviu de inspiração ao longo dos anos (ou então apenas aquela música favorita que ouves mais agora)? Uff, não posso escolher apenas uma. Existe uma mistura muito especial de várias coisas que acontecem se ouvires Bill Evans assim que entras no Central Park de bicicleta num dia de sol… sugiro que experimentes. Se pudesses ir para um sítio qualquer na tua bicicleta, qual seria o destino e com quem (a pessoa pode estar viva ou morta)? Bem, perdi o meu primo Clinton Miceli num acidente de bicicleta em 2008. Era uma pessoa extremamente inteligente e talentosa que se deslocava de bicicleta para o trabalho durante a "semana de bicicleta para o trabalho." Foi abalroado por um SUV que o atirou para o sentido contrário do trânsito. Morreu muito jovem, com apenas 22 anos de idade e também era designer gráfico como eu. Se pudesse gostava muito de ir pedalar com ele, num sítio qualquer, isso não é o mais importante.
A nossa viagem terminou com o Tour De France e no evento de arte onde o Lance Armstrong era o tema principal.
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Vi-te na manifestação, estavas a mandar vir com um bófia e quando o estrilho rebentou foste buscar a tua bike e deste o baza. Meti o punho no ar e tu riste-te. Olhaste novamente para trás e eu acenei. Devias ter voltado. Carlos, Lisboa. carlospraca@gmail.com Eu: Bianchi preta, fixed, brakeless. T-shirt de Crass e calças de ganga. Tu: Bike Specialized, capacete preto, top vermelho. Meteste conversa e pedalaste antes de eu te perguntar pelo nome. Trindade, Aveiro. trindadedosacores@gmail.com Vi-te na faculdade de arquitectura a tentares subir para cima de uma bike. Ando lá há 3 anos e nunca te tinha visto. Parecias meio desajeitada, se precisares de algumas dicas podemos ir beber um café. Gaspar, Porto gasparfantasma@gmail.com Estavas na RodaGira, mas acho que não trabalhas lá. Vi-te a sair com uma bike castanha, single-speed, mas não vi a marca. Eu era a rapariga que furou o pneu, tu sorriste antes de sair. Cátia Verde, Lisboa VerdeCatiaSG@hotmail.com A festa já ia longa e tu já tinhas bebido umas valentes cervejas. Não sei se és do clube, mas caso aquela conversa e abraço tenham significado alguma coisa, gostava de beber uma cerveja contigo. Eu: Cabelo curto, camisa amarela, bigode e mosca. Tu: Cabelo curto, Barba, pólo Fred Perry. João Carlos misterbear@hotmail.com
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Rolha Cycling Club texto: Rolha Cycling Club ilustração: Gonçalo Baptista (facebook.com/goncalo.baptista.100)
A rolha pendurada na parte de trás do selim remonta aos anos 20 e 30 do passado século. Viviam-se as décadas de ouro das corridas de pista, conhecidas como six-dayraces. Estas provas praticadas nos Estados unidos da América e também em alguns países da Europa, como na Inglaterra e na França, eram mais do que meros eventos desportivos. Tratavam-se de acontecimentos sociais bastante populares que enchiam belíssimos velódromos. A arquitectura do ferro já bastante difundida na época, permitia criar estruturas esbeltas com grandes vãos, oferecendo uma visão geral desafogada de todo o espaço. As pistas eram construídas em madeira e desenhadas com uma inclinação entusiasmante. A madeira do pavimento dava um odor característico ao espaço. Os velódromos da época eram locais míticos, por serem o palco de grandes corridas que coroavam os melhores corredores. Os velódromos eram frequentados pela sociedade, que jantava, bebia e fumava enquanto assistia à prova. Para além das bancadas, existiam mesas, que eram dispostas ao pé da pista permitindo aos espectadores ter contacto directo com a acção. Era assim possível que os espectadores oferecessem dinheiro aos assistentes de pista para aumentarem o ritmo das corridas. As corridas de estafetas eram formadas por equipas de dois ciclistas que pedalavam à vez, sem interrupções, durante seis animados dias. Uma das presenças habituais nos velódromos eram as femmes fatales, que se deliciavam com taças de champanhe enquanto apreciavam os vigorosos e atraentes ciclistas a pedalarem em bicicletas velozes com cromados brilhantes. No final de cada corrida era prática corrente oferecerem as rolhas das garrafas de champanhe ao seu ciclista preferido. Orgulhosos das suas vitórias dentro e fora das pistas os ciclistas passaram a ostentar as rolhas, pendurando estes troféus no selim. O significado da rolha ficou assim associado ao gás da bebida, quem tem rolha, ainda tem gás, energia e força para mais uma volta para mais um sprint. Para além da simbologia ligada aos bons momentos de um ciclista, as rolhas também são usadas com fins meramente utilitários para fechar as extremidades dos guiadores ou para tapar a coroa inferior da forqueta de direcção evitando a sujidade e entrada de humidade. O Rolha Cycling Club escolheu a rolha para seu símbolo por esta estar ligada à vontade de pedalar sempre mais, mas também por os seus membros apreciarem o líquido que a rolha encerra. O Rolha tem pedalado com alegria e boa disposição, marcando presença nas ruas das cidades nas suas deslocações quotidianas, bem como nas estradas nos seus passeios nos tempos de lazer.