OLINDA POR OUTROS ÂNGULOS
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A cidade de Olinda, localizada no Estado de Pernambuco, é reconhecida pelos seus carnavais e tradições culturais. Ostenta, inclusive, o título de Patrimônio Cultural da Humanidade, concedido pela Unesco em 1982. É o destino de turistas nacionais e estrangeiros, recebendo, em média, um milhão de visitantes por ano. Eles vêm, conhecem a cidade, sua beleza e história, e seguem com as memórias do local. Mas como é a Olinda do dia-a-dia, dos moradores? Foi com a perspectiva de desvendar o cotidiano da cidade que surgiu esta edição da Átimo. Conhecer Olinda pelos olhos de quem vive nela foi o que motivou cada pauta, cada reportagem. Passamos, então, a descobrir roteiros que não integram o mapa turístico oficial. Encontramos nas comunidades próximas ao Sítio Histórico, histórias reais que encantam e inspiram. Vimos a conversa nas praças e a amizade de bairro se transformarem na matéria “A praça do Amaro Branco é do Povo”. Descobrimos “A tradição das Bodegas” conversando com donos e frequentadores desses pequenos estabelecimentos olindenses. Desvendamos as “Irmandades: o patrimônio escondido nas igrejas de Olinda” e conhecemos a união dos grupos que conseguiram resistir ao tempo. Também entrevistamos o historiador e antropólogo do Museu Regional de Olinda, Luciano Borges, para falar um pouco mais sobre a preservação da cultura popular. Das nossas idas à Olinda em busca desse patrimônio cotidiano, desse patrimônio do povo, nasceu a Átimo – Olinda por outros ângulos, que também traz curiosidades, pequenas histórias e passatempos sobre a cidade. Enfim, um almanaque sobre a Olinda dos moradores. O convite para conhecer este novo mundo está feito, pode entrar. Boa leitura.
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Olinda por outroS ânguloS
O primeiro Farol de Olinda era situado no Fortim de São Francisco, também conhecido como Fortim do Queijo. Sua estrutura era uma torre de ferro forjado com 12,5 metros de altura e sua luz podia ser vista a uma distância de 12 milhas náuticas (aproximadamente 22 quilômetros). O atual Farol de Olinda, um dos cartões-postais da cidade, foi inaugurado no dia 7 de setembro de 1941, agora no Morro do Serapião, no bairro do Amaro Branco. O novo farol é de concreto armado e mede 42,5 metros com 8 pavimentos internos. A altitude da lanterna em relação ao nível do mar é de aproximadamente 132 metros e o seu alcance é de 24 milhas náuticas (em torno de 40 quilômetros).
EXPEDIENTE:
Átimo é a publicação resultante da disciplina de Edição do curso de Comunicação Social – Jornalismo da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Reitoria da UFPE: Anísio Brasileiro Chefia do Departamento de Comunicação Social: Paula Reis Coordenação de Jornalismo: Thiago Soares Professor Orientador: Bruno Nogueira Reportagem: Jaqueline Fraga, Marcos Carvalho, Sarah Pedon, Selassié Andrade Fotografia: Jaqueline Fraga, Marcos Carvalho, Selassié Andrade Ilustrações: Selassié Andrade Projeto Gráfico e Diagramação: Marcos Carvalho
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REIS DIA DE
O ritual costuma atrair muitas pessoas, entre moradores e visitantes, que saem em cortejo pelas ruas de Olinda em direção à Praça do Carmo, onde é realizada a celebração. A cerimônia é acompanhada por grupos de pastoris e o público lança bilhetes com pedidos para serem queimados juntos com a lapinha.
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A Queima da Lapinha é uma tradição que chegou ao Brasil pelos jesuítas lá no século 19 e representa o encerramento do ciclo natalino e o início das festividades de carnaval. Acontece no Dia de Reis (6 de janeiro), quando a imagem do menino Jesus é retirada do presépio e então a lapinha, que é a manjedoura e outros adereços usados para simbolizar o seu nascimento, é queimada.
Na Igreja de Guadalupe, a Queima da Lapinha acontece no dia 3 de fevereiro. Após a Missa de São Braz, onde também é realizada a benção da garganta, os fiéis queimam a manjedoura no pátio da Igreja.
Amparo Flor da lira Sintazul Do aranha Os flexes power Amaro Branco Lenhadores Tesouras Bonsucesso Só lamento Do presidente
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A troça carnavalesca mista mais antiga da chamada Cidade Alta, em Olinda, é a Cariri Olindense. Com sede na Praça Conselheiro Miguel Canuto, bairro de Guadalupe, a troça foi criada em 15 de
fevereiro de 1921. Acompanhados por uma orquestra de frevo, os integrantes saem tradicionalmente no domingo de carnaval, às 4 horas da manhã, para acordar os foliões.
O nome da troça foi dado em homenagem a um antigo mascate oriundo do sertão do Cariri, que andava em um jumento vendendo ervas finas pelas ladeiras de Olinda. O hino da troça faz referência a uma lenda de que o vendedor sequestrava crianças desobedientes. “Lá vem Cariri ali/ Com saco de pegar criança/ Pegando menino e moça/ Pegando tudo o que a vista alcança”. A troça é chamada “mista” porque tanto homens quanto mulheres podem participar, já que antigamente havia restrições neste sentido.
Guadalupe Ceroula Vassourinha Mangue boys Carmo O grande guerreiro Arrastao da cidadania Fazer o que? Mucha lucha Minhocao Vem tirar o queijo Varadouro Hoje a macacheira entra Eu acho é pouco Solteiros e dai? Dos abutres Da corrente olinda
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A praça do Amaro Branco é do povo
Marcos Carvalho
Os versos do poeta Castro Alves “A praça é do povo como o céu é do condor” nunca se aplicaram tão bem quanto em Olinda. No entorno do sitio histórico da Cidade Patrimônio Cultural da Humanidade, são nas praças onde a vida pulsa, onde o convívio acontece, onde se brinca, se ri, se joga, se perde, se ganha. Longe de ser algo do passado, o costume envolve jovens, crianças e adultos. Se o poeta dos escravos exaltou o poder do povo na liberdade das praças, narremos o poder das praças que torna mais alegre a vida do povo. 6
A
principal e talvez única praça do bairro do Amaro Branco não é um dos lugares mais glamorosos de se passar, mas sua calçada ganha vida logo às sete da manhã com o passar dos trabalhadores e das crianças em direção à Escola Sagrado Coração de Jesus, localizada bem numa de suas esquinas. Aos pés do farol de Olinda, o pequeno espaço triangular reservado para o convívio público é o acesso obrigatório para chegar à Travessa Bom Jesus, ao Beco do Pneu, onde todo mês acontece Roda de Coco, ao Beco do Trem, por onde passava o bonde, e de lá pela Travessa do Serapião e da União. No entorno da praça tem de tudo: farmácia, ótica, academia, escola de samba, pizzaria, bar e, é claro, fiteiro e churrasquinho. Tudo convivendo de forma harmoniosa com algumas casas que lutam para permanecer no espaço considerado o mais privilegiado do bairro. No centro da praça, sete bancos e quatro mesas para jogos. Um parquinho para crianças reúne gangorra, escorregador e cadeiras para balanço. Apesar de pequeno, o entorno da praça serve ainda de estacionamento para alguns carros que, não podendo seguir adiante porque os acessos são estreitos, resolvem parar ali e seguir a pé. Mas é à noite que a praça fervilha. Sobretudo nas sextas-feiras, quando acontece o chamado Bingo de Um Real. “Tudo começou com um amigo nosso chamado Portugal”, revela Marta de Moura, doméstica que vive no bairro há 38 anos. “No começo era um grupinho que participava e nós éramos chamadas as bingueiras. Depois foi crescendo e hoje a praça fica cheia”, continua, explicando que o que se ar-
recada com a brincadeira, em torno de trezentos reais por noite, é destinado às troças carnavalescas como “Sindicato da Praça”, “Só vai quem é corno”, “Os nojentos”, ou a times de futebol como o “Perna Murcha”. Os prêmios do bingo são alimentos: açúcar, feijão, macarrão, óleo, ovos, café... Em cada torneio são dez prêmios sorteados. No final do ano a coisa melhora e são sorteados liquidificador, batedeira, ventilador, sanduicheira e cafeteira, por exemplo. “Na minha casa tem isso quase tudo que tirei no bingo, visse!”, frisa Marta, expressando seu contentamento com a brincadeira: “É muito divertido. O povo participa mesmo. É criança, adolescente, até os bêbados da praça”.
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Na minha casa tem isso quase tudo que tirei no bingo, visse! É muito divertido. O povo participa mesmo. É criança, adolescente, até os bêbados da praça. Marta de Moura
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O bingo começa por volta das dez da noite e segue até que se cante a última pedra e sejam arrematados todos os prêmios, o que só acontece à meia noite. A praça vira uma festa. Entre uma pedra e outra um churrasquinho, uma cervejinha, e a vida segue tranquila e com mais sabor. Mas a maior agitação começa a partir do meio dia do domingo. A cada quinze dias um grupo de amigos promove o samba na praça.
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Todo dia tem jogo de dominó. No fim de semana tem um pagode organizado que começa às duas da tarde e vai até as oito da noite. Benon Queiroz
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“Quando não tem nada pra fazer a gente senta na calçada para fazer artesanato e conversar da vida dos outros”, conta Marta sem a menor cerimônia, lembrando que foram destas conversas que nasceu a troça carnavalesca “As Tesouras”: “Um grupo de mulheres da nossa rua se reunia pra conversar, saber do que aconteceu, contar piada, dar risada... Uma vez passou um rapaz e disse: ‘Eita, a tesoura tá afiada’”. Foi ali que surgiu o nome do bloco, que há mais de dez anos desfila pelas ladeiras de Olinda. Adentrando as vielas do Amaro Branco, desembocamos no bairro de Bonsucesso. Aos pés da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos uma praça maior, com campo de futebol, parquinho para crianças, e mais bancos, acolhe os moradores do local, tanto jovens quanto idosos. As crianças rodam de bicicleta pelo entorno da centenária Bica do Rosário e da sede do famoso bloco carnavalesco “O Homem da Meia-noite”.
Mais adiante uma outra pracinha, menor que a do Amaro Branco, mas tão frequentada quanto. Com orgulho e já meio balançado pela lata de pitu que esvaziou com o amigo, Seu Reinaldo Rodrigues, com seus 60 anos, logo apresenta o local: “Essa praça tem o nome do meu avô, Alexandre Rodrigues de Sena”. Em pouco tempo vai chegando mais gente. Seu Benon Queiroz, um aposentado de 75 anos, traz a família pra jogar dominó na praça que, apesar de pequena, vem sendo cuidado pelos moradores. Foram eles que revestiram de cerâmica duas mesas que lá existem para o jogo de cartas ou dominó. Colocaram também um toldo com iluminação para, até nos dias de chuva, não perderem a partida. E falam da praça com orgulho, como sua. “Essa praça aqui foi inaugurada em 1962 e foi destinado o nome do proprietário do Sitio das Quintas, que tinha uma grande família por aqui”, explica Seu Benon, dando também toda programação cultural do local: “Todo dia tem jogo de dominó. No fim de semana tem um pagode organizado que começa às duas da tarde e vai até as oito da noite”. Seu Israel dos Santos, que tomava a Pitu com Seu Romildo, também entra na conversa e resume tudo: “Aqui a praça é do povo”.
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SEM. SANTA
Realizada na sexta-feira que antecede a Semana Santa, a Procissão dos Passos é o principal evento do calendário religioso de Olinda. O percurso representa a reconstituição do caminho de Jesus até o Calvário e é feito com a imagem do Senhor carregando a cruz sobre o ombro esquerdo.
1 molho de bredo verde 2 copos de leite de coco 1 tomate médio 1 cebola média 1 pimentão vermelho 1 pimentão amarelo 1 talo de coentro 1 sachê de tempero pronto para peixe
Modo de preparo
Soltar as folhas de bredo, em seguida escaldar e escorrer a água. Bater no liquidificador 2 copos de leite de coco com as verduras. Após batido, colocar o líquido na panela e as folhas. Deixar ferver por 30 minutos. O bredo é ingrediente indispensável no cardápio de Páscoa dos pernambucanos. A espécie talinun tringulare, vista por alguns como erva daninha, é consumida entre as camadas populares sobretudo nos pratos típicos da Semana Santa, acompanhados de coco e jerimum.
A primeira parada acontece no Passo da Sé, a segunda, no Passo do Amparo e na sequência vêm o Passo dos Quatro Cantos, o Passo da Ribeira e o Passo do Senhor Apresentado ao Povo. A cada passo, o andor é ligeiramente inclinado para frente, fazendo uma pausa para orações.
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Ingredientes
Durante o cortejo, o andor faz cinco paradas em capelas que estão localizadas pelo trajeto, e que são abertas apenas na Quaresma para realizar a procissão. Em cada uma delas é encontrada uma imagem do Senhor dos Passos, representando diferentes momentos da Via Sacra.
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Bredo de Coco
No coração do centro histórico de Olinda fica localizada a Praça da Abolição, mais conhecida como Praça da Preguiça. O nome original foi dado graças a uma estátua em homenagem à abolição da escravatura que se encontra no local. O apelido vem pelo fato de muitos bichos-preguiça andarem pelas árvores da praça até meados da década de 1960. Reza a lenda que toda semana
algum funcionário da prefeitura tinha de ir até o local para retirar alguma preguiça que insistia em ir passear pelos postes da região. O resgate era um acontecimento imperdível para a criançada. Ao lado da Praça existia, até os anos 1980, o Sítio de Seu Reis com criação de animais e plantações, onde os moradores do bairro iam comprar leite como no interior. olinda
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DONA GLORINHA DO COCO O primeiro CD da carreira solo de Dona Glorinha do Coco já está à venda. São mais de vinte canções na voz da mestra mais velha do Amaro Branco.
PRODUÇÃO: YNGLID FRAGOSO E ISA MELO FOTO: EMILIANO DANTAS INCENTIVO: contatos: (81) 8820-8597 9644-4934
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A TRADIÇÃO DAS BODEGAS
Selassié de Andrade
De pequeno estabelecimento familiar e ponto de encontro entre amigos até parada turística, as bodegas em Olinda passaram por mudanças em relação ao século passado e nesse processo muitas não resistiram ao avanço do tempo. As que ficaram ainda mantém viva essa tradição que é uma marca da comunidade. Mas até quando ela permanecerá presente?
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s bodegas são agora, com poucas exceções, locais de baixa demanda, onde a maioria de sua clientela se restringe ao público vizinho. Talvez seja essa característica que as permitiu chegar aos dias de hoje. Existe um afeto entre parte do povo e esses locais, gerando uma identidade e um lugar comum entre pessoas que querem beber e comer alguma coisa em meio a um bom papo. A maioria possui um público pequeno, mas fiel, composto principalmente por homens, que aproveitam o clima de boemia do local e o transforma no principal meio de passar o tempo. Um desses lugares é a Bodega do George, localizada próxima a Bica de São Pedro, no bairro do Varadouro. O local é pequeno, cerca de 3m de frente, porém comprido, com uma parede dividindo a parte de atendimento ao público de outro cômodo. A bodega, na verdade, é uma das divisões de uma casa já não muito grande. O espaço é claramente um local de trabalho e moradia. O proprietário é George Severino da Silva Santos, 35 anos. Ele herdou a bodega de seu pai, Severino Laurentino, falecido há mais de 15 anos. George possui alguns problemas de saúde que dificultam sua fala e audição, mas é o único responsável por manter o estabelecimento funcionando de segunda a sábado, das 12h às 18h. Quem chega lá é recebido pelo Zé das Galinhas, como é conhecido José
Roberto, 49, que frequenta a casa há mais de 20 anos. Extremamente receptivo e falante, se prontifica a chamar o dono da casa. Resistente de início e com respostas curtas, George é auxiliado na conversa por José: “Ele cuida sozinho, mas nunca está sozinho não. A gente está sempre aqui e ele tem algumas irmãs que de vez em quando vem e dormem com ele”, diz o cliente. O foco da Bodega do George são as bebidas e os petiscos, em meio as prateleiras os mais diversos tipos podem ser vistos. Os petiscos são feitos pelo próprio dono que os cita com rapidez “carne de sol, camarão, linguiça de bode”, sempre que perguntado por um amigo/cliente. Sentado à mesa ao lado de José está Mauro Celestino, 68, conhecido como Bau, mais tímido que o amigo. Ele sai quase todo dia do Amaro Branco, bairro vizinho ao Varadouro, para a Bodega do George há cerca de 10 anos. “Só aqui me sinto bem. É tudo irmão”, diz pondo o copo de cerveja na mesa. A movimentação na bodega cresce, mas sem dia ou horário fixo. O bom relacionamento entre os vizinhos é o termômetro do estabelecimento. “O melhor aqui para mim é a vizinhança. Em outros lugares só tem gente desconhecida ou turista. Aqui eu me sinto bem. Eu gosto de olhar para você e você olhar para mim. Da conversa, sabe?”, conta José Roberto empolgado.
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O melhor aqui para mim é a vizinhança. Em outros lugares só tem gente desconhecida ou turista. Aqui eu me sinto bem. Eu gosto de olhar para você e você olhar para mim. Da conversa, sabe?
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José Roberto olinda
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Esse ambiente amistoso e ao mesmo tempo boêmio, também pode ser visto na Bodega de Seu Bento, localizada na Rua da Boa Hora, em frente à Igreja de mesmo nome, no bairro do Varadouro. Uma pequena placa escrita entre as prateleiras que diz: “Proibido chegar bêbado. Sair pode”, reflete um pouco do clima do local. Semelhante à Bodega do George, apenas vizinhos e amigos são encontrados no estabelecimento, bebendo e conversando.
da existência de algum cliente disposto a consumir. Outra característica do local é a inexistência de música ambiente. O único barulho é da conversa e risadas das pessoas ou dos ensaios de maracatu que acontecem com frequência em frente ao estabelecimento, que acaba unindo muita gente da vizinhança. Um dos clientes fiéis da bodega é o senhor Setembrino Pereira, 43, trabalhador autônomo, que toda semana
George Severino, proprietário da Bodega que mantém em funcionamento sozinho (esquerda) e fachada da Bodega do Véio (direita).
Embora a timidez do Seu Bento o tenha o impedido de dar entrevista, os clientes/vizinhos se mostram abertos a conversa, exatamente como fazem durante sua passagem por lá. Diferente de outras, a Bodega do Seu Bento negocia apenas bebida para os adultos, além de pipocas e confeitos para as crianças. Já os aperitivos e outras comidas são os próprios clientes que levam. O ambiente não tem dia para fechar e o horário de encerramento do expediente é bem diverso. Tudo depende 14
vai ao local. “Estou aqui sempre que quero. Trabalho para mim mesmo. Então, trabalho pela manhã e à tarde venho para cá. Só nesta semana vim terça, ontem e hoje”, conta demonstrando satisfação. Tratando-se de uma sexta-feira, ele já garante que estará presente durante todo o final de semana. Na contramão da maioria desses estabelecimentos, a Bodega do Véio, localizada no bairro do Amparo, é uma das mais bem vistas e frequentadas de Olinda. Reconhecidamente um dos
pontos turísticos do centro histórico, ela é visitada pelos mais diferentes públicos nos horários mais diversos. Os produtos comercializados são os mais variados possíveis, de bebidas alcoólicas até alimentos perecíveis. Inaugurada há mais de 30 anos, atualmente a bodega conserva-se aberta as 24 horas do dia. Mesmo sendo mais um local de trabalho familiar pelo período de funcionamento, percebe-se que é diferenciado em relação a
De forma geral, as bodegas, até então, vêm resistindo ao passar das gerações, porém, é evidente que elas vem diminuindo sua importância junto à população. O trabalho unicamente familiar dificulta a sobrevivência da maioria delas. Como apenas pequenos grupos de pessoas chegam a consumir com frequência, os rendimentos gerados são baixos, forçando seus proprietários a procurarem outras formas de trabalho.
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Estou aqui sempre que quero. Trabalho para mim mesmo. Então, trabalho pela manhã e à tarde venho para cá. Só nesta semana vim terça, ontem e hoje.
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Setembrino Pereira
José Roberto e Mauro Celestino, clientes fiéis da Bodega do George, em Olinda.
frequência de público e estrutura. O local não é diferente das pequenas casas coloridas das ladeiras de Olinda, mas é repleto de prateleiras, onde a variedade de produtos encanta quem chega. Todo morador conhece ou já conheceu ao menos um desses estabelecimentos e tem alguma história para contar. Das bodegas mais conhecidas, como é o caso da Bodega do Véio, parada turística da Cidade Alta, até as mais simples, como a Bodega do George, funcionam como ponto de encontro.
É verdade que a sucessão familiar trouxe essa tradição para o presente, mas os interesses da sociedade são diferentes de três décadas atrás. Para que as bodegas possam alcançar as próximas gerações ou ampliar sua base, elas precisam ser readaptadas as novas necessidades. Caso contrário, a tendência é que, como já vem acontecendo, a partir das mortes de seus donos esses locais tenham suas atividades encerradas. O término desses espaços acaba levando consigo parte da cultura popular e da tradição de Olinda.
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2o DIA COCO
De nome curioso, o Coco do Pneu foi fundado por Ivo da Janoca, pai do Mestre Lú do Pneu. A história de como o evento surgiu já apresenta algumas leves variações, porém a mais contada remonta ao ano de 1970, quando o Ivo, pescador, na praia do Janga, apanhou com sua rede de arrastão um pneu de avião. O objeto foi levado para o Amaro Branco para servir de banco para
Vendedor de frutas na rua da Igreja de Santa Tereza, por on de passavam trilho dos Bondes (década de 1930). Fotografia: acervo pessoal de An tônio Silva 16
os pescadores. Lá as pessoas se encontravam para beber, conversar e cantar o coco, e em pouco tempo o hoje chamado Coco do Pneu estava lançado. Atualmente, o pneu que desencadeou o evento não existe mais. No lugar do componente de aeronave, há um desenho em um parede, indicando onde um dia esse simbólico objeto esteve. O Coco do Pneu, ao contrário, é cada vez mais presente na cultura de coco do Amaro Branco e de Olinda, que já alcança mais de 100 anos. Para homenagear esta cultura popular, desde 2009, o data de 20 de junho passou a ser em Olinda o Dia Municipal Do Coco de Roda.
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Hoje organizado pelo Mestre Lú, o Coco do Pneu é um dos eventos de coco, ritmo musical tradicional do nordeste, mais antigos do bairro do Amaro Branco em Olinda. Há 25 anos o grupo reúne integrantes, turistas e amantes da cultura local sempre no dia 29 de junho e é integralmente dedicado a São Pedro, padroeiro dos pescadores.
alio ao trecho onde se loc ra a lida no mar, próxim pa es aj red nd as Fu su o erv em Ac tec / Pescadores xandre Berzin Novo). Fotografia de Ale zava o rio Tapado (Bairro
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SAO PEDRO
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HISTÓRIA DE PESCADOR
Casinhas brancas, pescadores arrumando suas redes, empurrando os barcos, limpando peixes, é o que vem à mente quando se pensa em uma colônia de pescadores. No bairro do Carmo, em Olinda, mais precisamente na Rua do Farol, nº 17, entre tantos pontos turísticos e a praia, está localizada a movimentada Colônia de pescadores de Olinda, a Z4. Embora não exista uma vila com casas iguais, a colônia funciona como uma associação, na qual os pescadores pagam uma pequena taxa para receberem assistência medica e outros benefícios. Hoje, 400 pescadores e marisqueiras estão cadastrados na colônia. O atual presidente é Romildo Ferreira Holanda, 62, que trabalha com a pesca desde os 14 anos de idade. A Z4, como é chamada para diferenciá-la das outras colônias de pescadores da Região Metropolitana do Recife, abrange os bairros do Carmo, Ilha do Maruim, Amaro Branco e Rio Doce, todos localizados em Olinda.
Alem de funcionar como associação, a colônia também tem um espaço para a comercialização dos peixes, mariscos e crustáceos pescados. A movimentação é grande, especialmente próximo à semana santa, quando todos procuram por frutos do mar, que são vendidos por preços bem abaixo da média encontrada nos supermercados. Outra data importante é o dia 29 de junho, dia do pescador e também de São Pedro, talvez o mais famoso deles. Encontrá-los próximos à Colônia não é difícil. Basta uma rápida caminhada pela beira-mar, que logo avistamos dois ou três barcos e alguns pescadores guardando suas redes em um final de tarde. Certamente, a segundafeira é o dia mais provável de achálos, pois é nesse dia que os pescadores costumam voltar depois de uma semana em alto mar em busca do ganha-pão. A existência da colônia no local inspirou o nome de uma casa de shows bem conhecida em Olinda, a Cantina Z4, que já abrigou rodas de ciranda, coco e afoxé.
Chicó: - (...) Foi no dia em que meu pirarucu morreu. João Grilo: - Seu pirarucu? Chicó: - Meu, é modo de dizer, porque, pra falar a verdade, acho que eu é que era dele. Nunca lhe contei isso não? João Grilo: - Não, já ouvi falar de homem que tem peixe, mas de peixe que tem homem, é a primeira vez. Chicó: - Foi quando eu estive no Amazonas. Eu tinha amarrado a corda do arpão em redor do corpo, de modo que estava com os braços sem movimento. Quando ferrei o bicho, ele deu um puxavante maior e eu caí no rio. João Grilo: - O bicho pescou você! Chicó: - Exatamente, João, o bicho me pescou. Para encurtar a história, o pirarucu me arrastou rio acima três dias e três noites. João Grilo: - Três dias e três noites? E você não sentia fome, não, Chicó? Chicó: - Fome não, mas era uma vontade de fumar danada. E o engraçado foi que ele deixou pra morrer bem na entrada de uma vila, de modo que eu pudesse escapar. O enterro foi no outro dia e nunca mais esqueci o que o padre disse, na beira da cova. João Grilo: - E como avistaram você, da vila? Chicó: - Ah, eu levantei um braço e acenei, acenei, até que uma lavadeira me avistou e vieram me soltar. João Grilo: - E você não estava com os braços amarrados, Chicó? Chicó: - João, na hora do aperto, dá-se um jeito a tudo! João Grilo: - Mas que jeito você deu? Chicó: - Não sei, só sei que foi assim! (...). Ariano Suassuna, O Auto da Compadecida, 1955.
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IRMANDADES:
o patrimônio escondido nas igrejas de Olinda Jaqueline Fraga
Integrantes da paisagem de Olinda, as igrejas da cidade histórica trazem consigo um patrimônio às vezes desconhecido. Patrimônio esse que permeia a vida dos moradores dos bairros próximos ao sítio histórico e que para muitos é considerado uma extensão da família: as irmandades.
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undada em 1627, a Irmandade de Nossa Senhora de Guadalupe, localizada no bairro de Guadalupe, na periferia da cidade, é um belo exemplo dessa familiaridade. Isso, desde o momento de sua criação, como demonstra a história relembrada por Maria das Graças Menezes, vicepresidente da Irmandade. “A Irmandade surgiu da devoção de Manoel de Carvalho, devoto de Nossa Senhora de Guadalupe. Ele tinha o terreno e começou a pedir ajuda aos amigos para construir a igreja. Cada um doava um tijolo e eles se reuniam para ajudar nas obras. Aí surgiu a Irmandade, que foi crescendo e construiu a Igreja de Guadalupe”, explica. Aos 21 anos, Graça, como é conhecida no bairro, é uma das responsáveis pela renovação do grupo religioso. Há pouco mais de 10 anos, quando a Irmandade ameaçava desaparecer devido ao afastamento de seus membros, já idosos, e à ausência de membros jovens, o então presidente, Seu Marcos, iniciou a busca por novos fiéis.
Abrindo exceção ao que determinava o estatuto criado no século XVII, que permitia apenas a participação de homens adultos, a Irmandade de Guadalupe aceitou o ingresso de mulheres e crianças. Ao final das missas, o presidente conversava com os fiéis procurando por novos integrantes e, aos poucos, as mulheres de Guadalupe começaram a frequentar a Irmandade, levando junto seus filhos pequenos. A história de Maria das Graças com a instituição começa mais ou menos nessa época mas com um enredo totalmente próprio. “A minha história com a Irmandade é longa, começou quando eu tinha nove anos. Minha mãe me levava para a Igreja e eu sempre achava a irmandade muito bonita, a roupa, a capa. Sempre pedia a ela para entrar”, relembra. Aos 10 anos, após ela mesma pedir ao presidente Marcos, hoje conselheiro, para fazer parte do grupo, Graça entrou para a entidade, considerada por ela e pelos outros membros como uma imensa família. olinda
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A preocupação com o próximo também é um pilar da Irmandade do Senhor Bom Jesus dos Passos de Olinda. Entre as ações praticadas pelos membros, explica o provedor Elísio Rabêlo, estão a visita aos enfermos. Os membros também frequentam a igreja aos domingos e participam de eventos religiosos.
Igreja Nossa Senhora de Guadalupe, sede da Irmandade de Guadalupe fundada em 1627.
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Nosso grupo é composto de crianças, adolescentes, idosos, pessoas com deficiência física e mental. Não temos preconceito e todo mundo se respeita.
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Maria das Graças Menezes
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Reunindo-se sempre nas terças-feiras da segunda semana do mês, a Irmandade de Guadalupe tem, hoje, 32 membros. “Nosso grupo é composto de crianças, adolescentes, idosos, pessoas com deficiência física e mental. Não temos preconceito e todo mundo se respeita”, comenta, com orgulho, Maria das Graças. Durante os encontros, os temas são variados e abrangem não só assuntos religiosos como também do dia a dia de seus integrantes. É comum, inclusive, os moradores do bairro de Guadalupe procurarem a Irmandade pedindo que rezem por suas famílias. Para ajudar à comunidade, o grupo desenvolve diversas ações sociais, entre elas a realização de bingos e rifas e a coleta porta a porta de doações de roupas e alimentos. Ano passado, a Irmandade promoveu doação de brinquedos ao Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (IMIP), entidade filantrópica reconhecida pelo atendimento a crianças carentes. Sobre o projeto, Graça relembra: “O sorriso das crianças foi nosso maior presente”.
Criada em 1772, a entidade surgiu como desdobramento da Irmandade do Senhor Bom Jesus dos Passos do Recife, fundada em 1645 pelos negros, brancos e índios que serviram às tropas brasileiras e expulsaram os holandeses de Pernambuco. “Os militares criaram a procissão em louvor e agradecimento pelo feito”, comenta Rabêlo. As palavras do provedor refletem o objetivo maior da Irmandade, que perdura até hoje: celebrar a Procissão dos Passos, que simboliza o caminho de Jesus ao Calvário. Realizada na sexta-feira que antecede a Semana Santa, a procissão reúne os 60 membros da Irmandade, todos vestidos com a capa roxa grená, e percorre as ruas
Maria das Graças Menezes, vicepresidente da Irmandade de Guadalupe
de Olinda representados os cinco “passos” ou “quedas” no trajeto para a crucificação. Provedor da Irmandade desde 2002, Elísio Rabêlo, 62 anos, sente bastante orgulho da história do grupo. “Eu entrei para a Irmandade dos Passos aos oito anos, minha mãe e meus tios já eram irmãos”, conta. Aos 16, relembra, já era um dos responsáveis por carregar o andor durante a procissão, missão importante e respeitada dentro do grupo. Naquela época, conta Rabêlo, a Irmandade possuía cerca de 20 membros. “Nós começamos a procurar por novos membros. As famílias tradicionais da cidade são importantes para
XVII por escravos do Brasil colonial, sendo responsável pela fundação da primeira igreja de Pernambuco a possuir irmandade composta por negros. No entanto, a continuidade da Irmandade do Rosário está ameaçada, como explica a tesoureira da igreja que também leva o nome da santa, Dona Amparo. “A Irmandade existiu até a época do provedor antigo. Depois que ele faleceu não tem mais grupo”. Os administradores da igreja se reúnem trimestralmente mas pouco falam da irmandade: “Nós conversamos sobre o que a igreja precisa melhorar”, conta Dona Amparo.
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As famílias tradicionais da cidade são importantes para a continuidade da Irmandade dos Passos. Elas sempre incentivam seus filhos a frequentar. Elísio Rabêlo
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Elísio Rabêlo, provedor da Irmandade do Senhor Bom Jesus dos Passos de Olinda.
Fiéis acompanham a Festa de Nossa Senhora de Guadalupe, organizada pela Irmandade.
a continuidade da Irmandade dos Passos. Elas sempre incentivam seus filhos a frequentar”, revela.
O pouco interesse dos moradores pela Irmandade do Rosário mostra o cuidado que as instituições precisam ter para que tal patrimônio não seja perdido. A Irmandade de Guadalupe é um exemplo de preservação dessa cultura, por meio da renovação de seus líderes e da adaptação de seu modelo tradicional. Talvez, esse seja o caminho a ser trilhado pelas demais instituições para que as irmandades permaneçam como patrimônios vivos e cotidianos de Olinda.
Considerado um dos principais eventos do calendário religioso de Olinda, a Procissão dos Passos reúne outras irmandades do município: Bonfim, Guadalupe, Ordem Terceira de São Francisco e Rosário. Essa última, a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de Olinda foi criada no século
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DIA FOLCLORE
A cada pisada com aquele enorme pé, ouvia-se a batida de uma alfaia mais forte que aquelas do maracatu da noite dos tambores silenciosos. Aliás, segundo dizem os mais velhos a noite dos tambores silenciosos surgiu devido ao caminhar noturno da grotesca criatura... se ouvia por todo canto o: Bum!... Tum... Bum... Tum!... Era o velho Pé-de-bombo que saia aterrorizando a população noturna. Certo dia, o Pé-de-bombo saiu com uma vontade de mijar e desceu um pouco mais, longe daquele lugar onde habitava, uma caverna atrás da igreja da Sé. Chegando a parte baixa foi tão grande sua mijada, mas tão grande que o líquido fervilhava e formava um pequeno caminho, que ia abrindo ao
AMO - Associação de Assistência a Meninos e Meninas de Olinda APOINME – Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo AVOIV - Associação Olindense de Incentivo a Vida CEMO – Centro de Educação Musical de Olinda 22
longe, e ia enchendo de uma tal forma que, olhando no horizonte, ele viu formar um rio. O rio enorme passou a dividir Olinda e Recife e passou-se chamar “Beberibe” que significa “A terrível mijada do abominável Pé-de-bombo”. Até hoje ainda quando enche podemos sentir a catinga do mijo da criatura. Dizem também alguns exagerados que, ao correr, o Pé-de-bombo deu origem ao Frevo. A batida do surdo é o caminhar rápido dele. Do mesmo modo foi a ciranda, que foi originada quando ele ficava dando voltas formando um círculo gritando de dor por causa de seu pé enorme. Lia de Itamaracá, ao ver a cena, resolveu aderir e também formou mais um fenômeno turístico cultural para Pernambuco. Até hoje, tem o Bloco do Pé-de-bombo que carrega junto a seu estandarte um boneco gigante com um dos pés bem grandes como se estivesse engessado. E o povo pulando ao lado ia cantando... ele, não sabia se chorava de dor ou se cantava junto... e conforme doía acompanhava com seu passo a batida do surdo do frevo. Adaptação do texto original de Jotacê Cardoso, de Junho de 2009
FACHO – Faculdade de Ciências Humanas de Olinda FLIPORTO – Feira Literária de Olinda FOOCA – Faculdade de Olinda FUNESO - Fundação de Ensino Superior de Olinda MIMO – Mostra Instrumental de Música de Olinda
REPRODUÇÃO
Naquela manhã, cheia de sol, pelas ladeiras de Olinda, as velhinhas param. De repente saem correndo e gritando. O velho Pé-de-Bombo surge lá no topo e dá um urro. Com um de seus pés deformado e enorme, e com o outro do tamanho natural, vem andando irregular...mancando que só a peste!... Desce a ladeira da misericórdia... As velhas gritando, segurando seus vestidos pelas barras...
MUREO - Museu Regional de Olinda SINPMOL – Sindicato dos Professores da Rede Municipal de Olinda SODECA – Sociedade Olindense de Defesa da Cidade Alta VOT – Venerável Ordem Terceira de São Francisco
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OLINDA DE ALMA E CORAÇÃO
DIA POETA
Você já deve ter ouvido falar no filme Sociedade dos Poetas Mortos, estrelado pelo saudoso Robin Williams, mas você sabia que em Olinda existe a Sociedade dos Poetas Vivos? Isso mesmo, um grupo de escritores apaixonados por poesia que se reúne mensalmente para aprimorar as técnicas literárias e apreciar as artes poéticas. DIVULGAÇÃO
A SPVO foi fundada em 1997 e desde aquela época tem participação ativa nos eventos culturais, estando sempre presente em congressos, oficinas literárias e excursões para divulgar as obras de poetas já consagrados e também apresentar novos escritores. Os encontros do grupo acontecem na Biblioteca Pública de Olinda, no bairro do
Eu garanto que Olinda, Tem história e riqueza, É Capital da cultura, Em natura mais beleza, Do mundo é patrimônio, E da História realeza.
Carmo, sempre no primeiro sábado de cada mês. Agora que você já conhece a Sociedade, quer saber um bom dia para parabeniza-los pela iniciativa? O dia do Poeta, 20 de outubro.
OLINDÔMETRO 3) O Palácio de Iemenjá, terreiro fundado pelo conhecido babalorixá, Pai Edu, fica localizado: a) no Largo do Amparo b) no Amaro Branco c) no Alto da Sé d) no Varadouro 4) Quem é o padroeiro da cidade de Olinda? a) Santo Antônio b) São Francisco c) São Salvador do Mundo d) Sagrado Coração de Jesus
Respostas na página 26
2) Segundo crença popular, as águas da Bica de São Pedro surgiam de uma vertente: a) abaixo do altar-mor da Igreja de São Pedro Mártir b) da ladeira da Misericórdia c) do Mosteiro de São Bento d) subterrânea do Alto da Sé
Sua beleza é infinda, Tem mercado da ribeira, As ladeiras de Olinda, Boas para a brincadeira, O farol é monumento, Que tremula em bandeira. Gente sentada em cadeira, Apreciando os turistas, O centro de convenções, Feira até pra culturistas, Madeiras ganhando formas, Nos entalhes dos artistas.
Teste seus conhecimentos a respeito da Cidade Patrimônio Cultural da Humanidade
1) Qual a árvore símbolo de Olinda? a) baobá b) palmeira imperial c) pau-brasil d) coqueiro
(...) Eu acho muito legal, Nossa orla é muito linda, Rico o sitio histórico, Pulmão é de nossa Olinda, Duarte Coelho pereira, O seu grito, ecoa ainda.
(...) Pra brilhar alma e rosto, Ladeira dos quatro cantos, O Jacaré cá tem Praça, Os Conventos somam tantos, E para quem tem devoção Não faltará neles santos. (...) Silvano Lyra (SPVO)
www.poetizante.blogspot.com.br
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patrimônio de todos nós Sarah Pedon
Em 1982, Olinda recebeu, da Unesco, o título de cidade Patrimônio da Humanidade pela importância de suas construções históricas. Entretanto, Olinda não vive apenas de igrejas e casarões antigos. Há também um patrimônio imaterial produzido e reproduzido diariamente através de diferentes manifestações culturais. A cidade histórica abriga patrimônios vivos, como o maracatu Leão Coroado e Selma do Coco. Para falar um pouco sobre cultura e patrimônio, conversamos com o historiador e antropólogo do Museu Regional de Olinda, Luciano Borges. Nessa entrevista, abordamos as discussões em torno da cultura popular e a necessidade de preservá-la, além da Lei do Patrimônio Vivo em Pernambuco, importante para o reconhecimento dessas manifestações culturais. ÁTIMO: Qual a diferença entre cultura tradicional e cultura popular? Luciano Borges: Marilena Chauí diz que a cultura tradicional é a cultura de um povo. Já a cultura popular é a cultura produzida pelo povo. Essa última, seria formada pelas práticas da vida social, uma cultura produzida diariamente. Por outro lado, a tradicional é aquela passada de geração em geração. Ela não é anacrônica e não está “congelada”. Por exemplo, o maracatu Leão Coroado de Olinda é cultura tradicional, mas às vezes ele precisa se adaptar para continuar existindo. Antigamente, o pessoal que tocava as alfaias no maracatu, tocava descalço, hoje, o mestre não pode exigir isso, porque senão ninguém irá querer tocar. 24
ÁTIMO: Quando passa a existir uma preocupação em preservar os saberes das pessoas? Luciano Borges : O ano de 2003 é importante neste sentido, porque a Unesco passa a entender que o importante não é salvaguardar apenas o material, mas preservar um patrimônio imaterial. O acarajé, por exemplo, é importante, mas o mais importante é o “saber fazer” o acarajé. Programas nacionais de salvaguarda no Japão e na França, também são muito importantes para este reconhecimento. O objetivo é de ajudar, sobretudo financeiramente e com políticas que possibilitem às novas gerações o acesso a esses saberes, pa-ra que eles não desapareçam.
ÁTIMO: Foi a partir daí que surgiu a Lei do Patrimônio Vivo em Pernambuco? Luciano Borges: A Lei do Patrimônio Vivo em Pernambuco existe desde 2002, mas entrou em vigor em 2005. O objetivo da Lei é encontrar pessoas e grupos que efetivamente têm produções culturais, mas que têm dificuldades financeiras para repassar esse conhecimento. Ela é importante para referendar esses patrimônios ainda em vida. ÁTIMO: Como acontece a escolha dos candidatos a Patrimônio Vivo de Pernambuco? Luciano Borges: Após a abertura do edital, as pessoas e os grupos se inscrevem. Para isso, precisam entregar uma série de documentos que comprovem a sua produção cultural e outros requisitos necessários, como residir em Pernambuco há pelo menos vinte anos. Em seguida, é divulgada uma lista c om os habilitados para a seleção. Assim, uma comissão da Fundarpe (Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco) elege três candidatos e envia esses nomes para o Conselho de Cultura. O conselho pode acatar ou não. De forma geral, o conselho não tem acompanhado a indicação da comissão e escolhe outros três nomes que estavam na lista inicial.
ÁTIMO: A Lei está obtendo o efeito esperado? Luciano Borges: A eficiência dá Lei depende do “olhar” de cada um. Além disso, ela pode ser considerada uma Lei nova. Há uma eficiência quando ela alcança pessoas que antes não possuíam esse apoio. Por outro lado, deveria haver um monitoramento maior em relação à transmissão desse conhecimento. Por meio da ação do artista ou grupo, eleito patrimônio vivo, pode haver uma movimentação no bairro em que ele está. ÁTIMO: Você acha que existe uma maneira de preservar a cultura do cotidiano? Luciano Borges: Eu creio que a cultura nasce e morre todo dia. Se tiver que acabar, se não encanta mais quem está aqui, porque fazermos como obrigação? Se nós pudermos ajudar de alguma maneira a sua manutenção, ótimo, mas se a própria população, que é a mais interessada, não quiser mais, não tem motivo para continuar. As manifestações culturais que não se adaptam e perdem a capacidade de atrair as pessoas, acabam. Esse é o processo da vida cultural.
“
O importante não é salvaguardar apenas o material, mas preservar um patrimônio imaterial.
”
Luciano Borges
PATRIMÔNIOS VIVOS DE OLINDA
Desde 2005, já foram eleitos 37 patrimônios vivos em todo o Pernambuco. Três deles ainda atuam na cidade de Olinda. Homem da Meia-Noite: Clube Carnavalesco famoso pelo seu boneco gigante, que abre o carnaval à meia-noite do sábado de Zé Pereira. Sua sede está localizada na Estrada do Bom Sucesso.
Maracatu Leão Coroado: fundado por um ex-escravo africano em 1863, o grupo mantém a tradição do maracatu de baque virado até hoje. Apesar de ter sido criado em Recife, localiza-se atualmente no bairro em Águas Compridas, Olinda.
Selma do Coco: vendia tapioca em Olinda e promovia rodas de coco em seu quintal nas horas livres. Estes encontros ganharam fama e fizeram de Selma uma coquista reconhecida. olinda
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CONSCIÊNCIA NEGRA
Amaro Branco Centro Cabocla Jutiaci (Jêje/2004) Centro Oyá Egum (Jêje/1984)
Bonsucesso Centro Luz e Caridade (1940) Centro Raio de Luz (Xangô- 2007 Guadalupe Centro Cabocla Jacira (Jurema/1991) Centro Caboclo Flecheiro (2005) Ilê Axé Oxum Karê (Nagô-Oxum/2009) Ilê Axé Rumpame de Xangô Aganju ( 1948) Olorum Jetiun Axé (Jurema/1991) Monte Casa de Maria Luziara (Umbanda/1960) Ilê de Iemanjá (Candomblé/1982
Você já ouviu falar em Bricelet? São biscoitos conhecidos desde o século XVI, cuja origem é suíça, mas que são feitos logo ali, em Olinda. Na Igreja de Nossa Senhora do Monte, as freiras beneditinas produzem esse biscoito de maneira artesanal. Todos os domingos, após as missas, as irmãs abrem uma lojinha na lateral da igreja para vender os biscoitos.
Além dos turistas e moradores da cidade, vários restaurantes em Olinda 26
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Bairro Novo Centro Caboclo Índio Africano (1988) Centro Vovó Luiza (Nagô/1980)
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Carmo Centro Jupiracy (Jurema/1950) Palácio de Iemanjá (Jurema/1952)
Santa Tereza Associação Ilê Axé Oyá Egum (Jêje/1988) Varadouro Centro Mestra Maria Amélia (1990) Centro Mestre Paulo (Nagô/ 1986) Culto Africano Um Nalêcer (Nagô/1965) Tenda da Cigana Maria Eleonora (1990) Tenda do Caboclo Claridade (Jêje/1989) Terreiro Orixalá Ebolorim (Nagô/1961) Terreiro de Santa Bárbara (Nagô/1970)
e Recife compram os biscoitos para utilizarem em seus pratos, muitas vezes sofisticados. Apesar de a receita ser secreta, sabemos que são feitos à base de farinha de trigo, açúcar, ovos, margarina e raspas de limão.
Na internet, é possível encontrar inúmeras variações da receita, que é bem simples de executar, mas você precisa ter a fôrma adequada para assar esses delicados biscoitos, cujo formato geralmente é quadrado. Ao lado, escolhemos uma das opções para você testar.
Biscoitos Bricelet Ingredientes: 1 xícara de manteiga ¾ de xícara de açúcar mascavo ¾ de xícara de açúcar granulado 1 ovo Raspas de 2 limões 1 xícara pequena de suco de limão 1 taça de licor de kirsch 4 xícaras de farinha de trigo Modo de preparo: 1.Misture a manteiga e o açúcar; 2.Adicione o ovo e os outros ingredientes; 3.Adicione mais suco de limão se necessário; 4.Deixe descansar por algumas horas ou de um dia para o outro; 5.Asse em fôrma especial para Bricelet por 30 segundos.
Respostas do Olindômetro: 1-d;2-a;3-c;4-c
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