Real Gazeta do Alto Minho | N.º 15

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Edição do Centro de Estudos Adriano Xavier Cordeiro | n.º 15

Março de 2018

Nesta edição «… Monarquia. Por

• É Rei quem deve, é Presidente quem pode! | p 2

vontade

• Principe Alberto do Mónaco nas suas viagens aos

do

n u n c a

povo,

Açores | p 17

p o r

• O novo papel do Casamento real | p 19

imposição…» Real Gazeta de Viana do Castelo entrevista Eng. Tomás Moreira | p 12

• ISABEL “A Redentora” - os escravos - as camélias | p 22 • É Vianense, é Português! | p 26

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• O dia em que Portugal nasceu | p 30


É REI quem deve, é

PRESIDENTE quem pode! Miguel Villas-Boas

Miguel Villas Boas

Obstaculiza-se, não raras vezes, à concepção de um regímen de

maioria da população, arredada do caciquismo político ou das

Monarquia, a falsa ideia de que um Rei é fruto do privilégio do

camadas sócio-económicas superiores, que vêem o caminho do

nascimento e que, portanto, só um herdeiro presuntivo com a

poder mais acessível, se vê diariamente barrada dos seus

regalia de ADN pode vir a ser Chefe de Estado, enquanto numa

supostos direitos – até dos mais elementares como a saúde, a

república qualquer um pode ser presidente. Ora é uma

alimentação e um tecto, e muitas vezes a vida – quanto mais

percepção errónea, baseada num logro de entendimento e de

serem presidentes da república!

informação a que não será alheia a reescrita ardilosa da história

Teorizar que à maioria é consentido o direito de atingir os

e da doutrina pelos mistagogos do regímen republicano.

privilégios que só são concedidos a uma minoria – uma vez que

Pigarreiam, para colocar a voz, e soltar argumentativamente,

esta é uma democracia do Numerus Clausus, ou uma

naquele ufano de pesporrência de republicano burguês, que se

partidocracia -, é uma idealização que parte do princípio que na

dá a grande ares, que ‘numa república qualquer um pode ser

prática existe igualdade entre todos, quando o exercício do

presidente!’ Ora repare-se, que dizem: ‘- qualquer um pode ser

poder, ao contrário, é inerente a um pequeno grupo que se

presidente!’; mas não dizem: ‘numa república TODOS podem

apropriou dos meios de poder, de coacção ou do domínio

ser presidente!’, que seria a verdadeira igualdade - que fingem

financeiro – ou é financiado por essas corporações, porque é

reclamar - em que todos seriam iguais e, portanto todo e cada

nado do seu colo. É, portanto, UMA UTOPIA!

um dos cidadãos estaria em condições de ser presidente da

Diante da provada tragédia das repúblicas com as suas mais

república e não apenas uns quantos, ou melhor: ‘qualquer um!’

variadas peripécias, a possibilidade da restauração monárquica

Onde pára, pois, a proclamada igualdade?! Sem dúvida que vai a

em vários países coloca-se, essencialmente, no continente

pé, enquanto a equidade vai de carruagem!

europeu, sem dúvida pela acareação entre os diversos modelos

Assim, a ideia de que qualquer um pode ser Presidente da

de Monarquias Europeias e os maus exemplos das repúblicas. A

República, de acordo com o princípio de igualdade entre os

possibilidade de mudança de regime incita, portanto, os Povos à

homens, É UMA FANTASIA!

consideração da bondade do regímen Monárquico.

Trata-se de uma concepção errada teorizada num modo geral

O declínio presente dos regimes republicanos ajuda a

quando a realidade é bem concreta e diversa: é portanto uma

compreender o traço contemporâneo das Monarquias que torna

alegoria geral e abstracta baseada no mito da igualdade, pois

os Países que não as afastaram (à força) os mais evoluídos em

assenta em premissas erradas, uma vez que supõe existir um

todos os aspectos sejam sociais sejam económicos.

nivelamento social que possibilite a subida ao poder a todos

Também, no nosso País, sem melindres incita-se os republicanos

os elementos e camadas sociais da sociedade, quando a 2


e as organizações secretas que implantaram o regime e o

- A política é uma ocupação dos ociosos, uma ciência dos

sustentam, a abandonar a angústia de querer evitar a todo o

ignorantes, uma riqueza dos pobres e uma fidalguia dos plebeus.’

custo o admirável debate plural e democrático: - a república não

Ora, Eça é que é essa!

pode ser um oratório indiscutível, portanto não lhe dêem um valor dogmático, que domina toda a existência democrática,

O câmbio de regime parece ser a única alternativa a esta

como se qualquer outra solução de regímen fosse um assombro

decadência do republicanismo, essencialmente tecnocrático, com

mitológico que se deve espantar e a Monarquia não fosse um

crescimento económico dependente da engenharia financeira e

modelo que até é potencialmente mais democrático.

dominado por camarilhas e sociedades secretas.

Sem dúvida que a Monarquia em Portugal será uma cura radical,

Defender o regresso da Monarquia é também repudiar os vícios

o choque necessário para a desordem do sistema dos últimos

da classe política, pois novas ideias afastarão o bafio das

107 anos, estoutro, sim, ultrapassado, com pressupostos e

concepções positivistas que negam a ordem política, social e

premissas anacrónicos que lançaram a sociedade e o País numa

económica.

condição dramática, onde já ninguém consegue, dentro deste

A Monarquia Constitucional surgiu pela primeira vez na Europa

regime, encontrar o caminho certo.

continental, brevemente, nos primeiros anos após a Revolução

Não existem verdadeiramente ideologias, não passando a

Francesa, mas, foi Hegel que lhe deu uma fundamentação lógica

política de uma simples conciliação de interesses, onde emerge,

concertante com a evolução da teoria política contemporânea e

como consequência nefasta a corrupção. O motor da política

da visão cristã da lei natural: um Monarca constitucional, com

não é o sentido de missão, mas o proveito para quem dela fez

poderes limitados, cuja função é personificar o carácter nacional

profissão – mester nada recomendável para gente de bem! São

e assegurar sempre uma continuidade sempre constitucional. Os

esses que dão nova vida ao pensamento de Miguel Delibes: ‘Para

melhores os presidentes, embora eleitos, são sempre aqueles

aqueles que não têm nada, a política é uma tentação

que podem ser comparados a versões ou sucedâneos do

compreensível, porque é uma forma de viver com grande

Monarca constitucional de Hegel.

facilidade’; ou como Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão

O conceito actual de uma Monarquia Constitucional foi

trouxeram à estampa in “As Farpas”:

desenvolvido no Reino Unido, onde os parlamentos são

‘- E a que se chama política, meu amigo? Tenho-lhe ouvido…

democraticamente eleitos, e o seu líder, o primeiro-ministro

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detém o poder executivo, pois o monarca cedeu o poder e permaneceu apenas com a posição de titular. O Monarca constitucional seguirá o princípio de Montesquieu da separação de poderes. Ao contrário da república sempre imutável pode-se verificar que a Monarquia tem acompanhado sempre os tempos e procurado o melhor modelo adaptado a cada época. O Rei, no cume da estrutura política nacional, será sempre um símbolo vivo do equilíbrio pelo exercício do seu Poder Moderador, mas também emblema do rigor e da honestidade – honeste vivere. Um Rei sempre foi livre e nunca presidiu a um conclave de elites, não é um político que coloca à frente conveniências partidárias ou económico - sociais,

ou

mesmo

obstinações estrangeiras de agenda duvidosa e nefastas aos cidadãos nacionais. Só

um Rei é

independente

e

suprapartidário não se submetendo à ‘tirania’ das campanhas eleitorais e ao açambarcamento de donativos que necessariamente vão condicionar o exercício do seu mandato pela assumpção de clientelas – no sentido romano – que poderão ser durante o mandato verdadeiros companheiros de mutações da comunidade, pois viveu-as: - a conjuntura é a sua!

viagem.

Será sempre um Rei no momento certo! ‘Toda a sequência dos

Também, só um Rei permite uma evolução na chefatura de

Reis durante o decurso de tantos séculos deve ser considerada

Estado fruto da substituição geracional. Como, facilmente, se

como um só homem que subsiste e apreende continuamente’,

verifica a um presidente advém outro da mesma geração e idade

escreveu Blaise Pascal.

próxima - mais apropriada para uma gerontocracia -, mantendo, comummente, ainda que de facções ideológicas diversas, a

Não houve por parte de qualquer presidente uma inovação de

mesma linha de pensamento e acção. Já ao Rei de cujus sucede

tratamento às pessoas, de relacionamento institucional, qualquer

um novel Rei, que até à hora da sucessão foi um Príncipe

novidade

herdeiro, de uma geração diferente, educado no seu tempo e

constitucionais: pois não levava D. Pedro V que visitava os

nas novas concepções que emanam da sociedade. No Reino de

doentes nos hospitais, não por piedade, mas levando-lhes o tão

Portugal quando um Monarca morria, um novo Rei ou Rainha

importante agasalho espiritual, como durante a epidemia de

obrigava-se, automaticamente, ao dever do trono e objectivo

febre tifóide de 1861 o que lhe custou a vida e a dois dos seus

dos Reis: reinar em prol da Nação Portuguesa. Essa ascensão ao

irmãos.

trono era regulamentada primeiro pela lei sucessória do direito

‘Nunca esqueci, um instante sequer, quais são os meus deveres

consuetudinário

Carta

para com a minha Coroa e para com o meu querido País´’,

Constitucional de 1826. É, assim, preparado para Reinar na

declarou El-Rei Dom Carlos I, e assim foi - tanto que morreu ao

altura certa, compreendendo as

serviço da Pátria juntamente com seu filho o Senhor Dom Luís

e

depois

era

determinada

pela

A Rainha D. Amélia

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que

introduzisse

relativamente

aos

Monarcas


Filipe de Bragança, 5.º Príncipe Real de Portugal, 4.º Príncipe da

sondando e interagindo com o Seu Povo, visitava os locais das

Beira e 22.º Duque de Bragança, assassinados aos 44 e aos 20

calamidades naturais, dava o exemplo plantando árvores para

anos, pelos criminosos republicanos da organização terrorista

reflorestar o País onde era necessário – sim os dirigentes

Carbonária e orquestrado pela Coligação maçónico–carbonárico

republicanos não inventaram nada! -, e que, mesmo depois de

-republicana, em 1 de Fevereiro de 1908, no episódio de

deposto pelos bacharéis pífios do Partido Republicano Português

magnicídio que ficou tristemente conhecido na nossa História

e pela organização terrorista Carbonária na golpada anti-

como ‘O Regicídio’.

democrática do 5 de Outubro de 1910, se colocou sempre ao serviço dos Portugueses: com o início da 1.ª Grande Guerra e

‘Ich Dien – Eu Sirvo’, é o lema do Príncipe de Gales, se

Portugal empurrado para o conflito pela república velha, o

quisermos mudar a latitude.

Monarca exilado, em Inglaterra, colocou-se à disposição dos

Assim, aos monarcas foi dado o status de "servidores do povo"

aliados para servir como melhor pudesse. Primeiramente,

para reflectir a nova posição, igualitária. El-Rei Dom Manuel II

apanhou-o a desilusão quando o colocaram como oficial da Cruz

tinha como divisa ‘Depois de Vós, Nós’, premissa de que o Rei

Vermelha Britânica, mas o empenho que mostrou no decorrer

serve primeiro os interesses da Nação: País e Povo.

da guerra, cooperando em conferências e na recolha de fundos,

Veja-se o caso d’El-Rei Dom Manuel II que percorria as ruas

visitando hospitais e mesmo os feridos na frente, foi-Lhe muito gratificante.

Todavia, a

sua solicitude

nem

sempre

foi

reconhecida, e chegou mesmo a referi-lo numa entrevista ao ‘Times’: "A sala de operações do Hospital Português, em Paris, durante a guerra, foi montada por mim. Sabe o que puseram na placa da fundação? ‘De um português de Londres'." El-Rei

Dom

Manuel

II

estabeleceu,

tal-qualmente, o departamento ortopédico do hospital de Sheperds Bush, que por perseverança do Monarca e da Sua bolsa continuou a funcionar até 1925, dando assistência aos estropiados de guerra. Uma prova de reconhecimento dos britânicos para com D. Manuel II de Portugal foi quando o Rei britânico Jorge V – primo do Monarca português pelos laços da Casa de Saxe-Coburgo e Gotha – o colocou, e à Rainha Augusta Vitória, a seu lado na tribuna real durante o Desfile da Vitória, em 1919, em Londres. Um Rei cuida do Seu Povo como um Pai. Uma das diferenças entre um Rei e um Presidente é que o Povo há-de ser sempre o Povo do Rei, e não uma massa de população que serviu o propósito de eleger um político. ‘Rei sem Povo não é Rei, Povo sem Rei não é Povo’, proferiu Dom Luís Álvares de Castro, 2.º Marquês de Cascais, tendo como interlocutor El-Rei Dom João V que na sua magnitude compreendeu o axioma e o pôs em prática. O Reinado de um Monarca é uma missão ao serviço da Nação e, os príncipes eram 5


educados pelos seus doutos preceptores precisamente para isso. Isto posto, um Rei nunca protesta estorvo e/ou embaraço no contacto com o Seu Povo, pois tem arreigado esse trato como sendo algo de natural. Enquanto figura de frente, com um papel preponderante na sociedade, um Rei em Portugal asseguraria a unidade no seio de um país demasiado dividido por querelas políticas, por questiúnculas sociais, pelo individualismo dos políticos eleitos, pelas ‘guerras’ económicas e pela quase falência financeira. A democracia, a economia e a sociedade portuguesas seriam bem mais sólidas se nestes últimos 107 anos um Monarca tivesse reinado. Enquanto os políticos querem escrever ou reescrever a História, um Rei facilmente a Encarna. A política, pela sua natureza dúbia, é uma arena de peleja interminável, e tem esse destino peculiar de ser sobrecarregada por questões, interesses e lobbies partidários e económicos, em que todos fingindo odiar-se cedem-se à vez. Por isso não poucas vezes o bem comum não está suficientemente garantido. O Monarca encara ter um dever para com a Nação, a obrigação de preservar os direitos de cada cidadão do Seu Povo e o bem comum do Reino. Lembremos já as recomendações do moribundo Rei Dom José à futura Rainha Dona Maria I: ‘governar com muita suavidade, paz e justiça, promovendo a felicidade do povo’. Mas essa Presença tem que ser digna e não como fazem certos republicanos: naturalmente, se se pretende que o Chefe de Estado represente o País e, consequentemente, as suas gentes, o Primeiro Cidadão deve ter uma postura que corresponda à dignidade do cargo e às suas funções representativas. Ora aqui é determinante a educação recebida pelo Rei/ Chefe de Estado, que deve ser desde tenra idade preparado para esse cargo representativo. Esse papel que tem de ser exercido com urbanidade, graça, distinção, só pode ser correctamente desempenhado por um Rei, pois o Príncipe herdeiro é instruído, ensinado, lapidado para melhor representar a Nação. A educação do Príncipe Real é orientada da forma que se entende ser a mais adequada ao melhor desempenho do seu futuro Ofício de Rei, de forma a Reinar da forma mais útil e favorável para o País, tendo uma superior consciência dos problemas nacionais, mas também para representar de forma mais apropriada os costumes da Nação, a civilidade do seu Povo e a ter a polidez necessária que evite embaraços diplomáticos e gaffes protocolares. Por muito que existam pessoas competentes nas instituições de Protocolo de Estado, nas repúblicas, nem mesmo um árbitro das elegâncias e mestre-de-cerimónias como Petronius Arbiter poderia moldar em tão curto espaço de tempo um qualquer mais alto representante de uma qualquer república, que não foi educado durante toda a sua vida para exercer tais funções como foi um Rei. Por isso nunca um qualquer presidente de uma qualquer república pode ter o mesmo grau de urbanidade, polimento, delicadeza e savoir-faire que um Rei para quem tudo isso é inato, porque para isso foi preparado toda a Sua vida. De facto, como escreveu o 2.º Conde de Alvellos in “O Berço Exilado do Príncipe da Beira”, 1945. ‘Para bem governar Portugal basta ser – realmente – Bom, porque a Bondade dos Antigos Reis, fez deste Povo, o melhor dos melhores povos do Mundo’. Sim, a expressão ‘o melhor dos melhores povos do Mundo’, também, não foi uma inovação republicana!

Abstract King is the one who owes, King is the one who can! There is a false belief regarding a King as the outcome of privilege by birth, whereas in a Republic, anyone can be president. It is a misconception based on treacherous thoughts and information, to which the ingenious retelling of History is not foreign, because they say that «ANYONE can be president!”, but they don’t say that «in a republic EVERBODY can be President», which would stand for true equality – that they pretend do claim – in which everyone would be equal and therefore each e every citizen would be in condition to become President and not just a few, better yet: «anyone!». As such, the idea that anyone can be President, according to the principle of equality between man, IS A FANTASY, a general and abstract allegory based on the myth of equality, since it assumes the existence of a certain social levelling that enables every element and layer of society to climb to power, when the majority of the population, associated with political recruitment and higher social and economic layers, that view the path to power as more reachable, are obstructed daily from exercising their rights – even the most basic, such as health, food and a roof over their heads, and many times their life -, let alone become President! Key words: king, president, equal, fantasy.

Resumé Le roi est celui qui doit, le roi est celui qui peut! Il y a une fausse croyance au sujet d'un Roi comme résultat du privilège de naissance, alors que dans une République, n'importe qui peut être président. C'est une idée fausse basée sur des pensées et des informations perfides, auxquelles le récit ingénieux de l'Histoire n'est pas étranger, parce qu'ils disent que «N'importe qui peut être président!», Mais ils ne disent pas que «dans une république EVERBODY peut être président» , ce qui représenterait une véritable égalité - prétendent-ils - dans laquelle tout le monde serait égal et donc chaque citoyen serait en état de devenir Président et pas seulement quelquesuns, mieux encore: «n'importe qui!». En tant que tel, l'idée que tout le monde peut être président, selon le principe de l'égalité entre L' Homme, EST UNE FANTAISIE, une allégorie générale et abstraite fondée sur le mythe de l'égalité, puisqu'elle suppose l'existence d'un certain nivellement social qui permet à chaque élément et couche de la société d'accéder au pouvoir, lorsque la majorité de la population, associée à le recrutement politique et les couches sociales et économiques supérieures, qui considèrent que le chemin vers le pouvoir est plus accessible, sont entravés quotidiennement par l'exercice de leurs droits même les plus élémentaires, comme la santé, la nourriture et un toit - et plusieurs fois leur vie - , encore moins devenir président! Mots-clés: roi, president, égalité, fantaisie

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Editorial O homem é bom por natureza. É a sociedade que o corrompe.

Jean-Jacques Rousseau

Portugal está em crise, crise das instituições. Tudo é equacionável e relativo, desde a razão de ser das instituições, à credibilidade das pessoas que as representam, até à própria organização do Estado – a república, que não serve o interesse geral da sociedade portuguesa, antes pelo contrário, desfigura-a. Nesta terceira república, assiste-se ao crescimento de grupos sociais que cada vez mais veem no poder público uma forma de conseguir um bom “tacho” e ao agravamento da separação entre governantes e governados, sentindo estes que aqueles, que deviam ser um exemplo de honestidade, rectidão e transparência total, raramente o são e, ao invés, se aproveitam dos cargos que ocupam e envolvem-se em “negociatas” de que apenas eles e “os amigos” beneficiam, agindo como se estivessem (e muitas vezes assim parece) acima da lei.

Em Portugal, “o sistema partidário” está dependente dos votos, logo, os partidos não combatem “o sistema” nem a corrupção, pois esta luta desagrada às “clientelas” e impede o “fartar vilanagem”. Quando é que vimos um eleito dar conta daquilo que faz enquanto nosso representante? Nunca! Assistimos sim, e cada vez mais, ao aparecimento de alianças contrárias aos interesses da nação, de modo a satisfazer prioritariamente e até exclusivamente os objetivos próprios ou

partidários, resultando no afastamento do ideal de representação e consequente enfraquecimento da própria democracia representativa. As instituições da República de Abril perderam credibilidade política e legitimidade, pois a lei eleitoral, ao invés de permitir eleger deputados independentes e que, efectivamente, representem quem os elegeu, empurra-nos para a eleição de um chefe, que, a seu bel-prazer e para satisfação das clientelas partidárias, escolhe os candidatos, que ninguém conhece…, elegendo-se, indirectamente desta forma, o Primeiro-Ministro. É urgente formar jovens livres e responsáveis, de forma a atingirem um determinado grau de amadurecimento e experiência no tracto da coisa pública, comprometidos e empenhados com colectivo português, na construção de um país mais justo, democrático e defensor da verdadeira “res pública” - a Monarquia. A democracia pluralista só é verdadeiramente eficaz e permanente numa monarquia, porque só a Instituição Real pode consolidar a democracia. Veja-se por exemplo, o que acontece nos países europeus com regimes monárquicos, que ao possibilitarem uma normalidade constitucional, conduzem a uma estabilidade política, que permite criar as condições essenciais para o seu desenvolvimento económico-social. Ao invés, os países com regimes ditos republicanos, são por vezes alvo de algum impasse político, situação esta que pode retardar o progresso económico e social.

José Aníbal Marinho Gomes Presidente da Direcção da Real Associação de Viana do Castelo

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Reais Conversas com… continuam no Centro Cultural da Ponte da Barca.

Câmara Municipal de Ponte da Barca, escolheu para tema da segunda “Reais Conversas com…” Fernão de Magalhães, as

Depois do sucesso alcançado, no dia 27 de Maio de 2017, em

Terras da Nóbrega e outras histórias e convidou os Eng.ºs

Ponte de Lima, com a realização da primeira edição das “Reais

António de Mattos e Silva, António Borges Taveira e José de

Conversas com…”, subordinada ao tema “A Feira de Ponte”,

Mattos e Silva, personalidades que têm participado em diversos

chegou agora a vez da Ponte da Barca, onde no dia 27 de Abril

colóquios sobre o navegador, para nos falarem de Fernão de

às 21h30, no Centro Cultural, terá lugar a segunda edição.

Magalhães e da sua ligação a Ponte da Barca, no dia em que

As “Reais Conversas com…” são encontros informais sobre

passam 497 anos da sua morte.

temas relacionados com a História (e histórias) local e assuntos

A moderação está a cargo da Dr.ª Maria José Gonçalves, Vice-

da actualidade, promovidas pela Real Associação de Viana do

Presidente da Câmara Municipal da Ponte da Barca.

Castelo, que decorrerão em todo o Alto Minho. A Real Associação de Viana do Castelo, em colaboração com a

António Borges Taveira, nasceu em 1955 numa aldeia do concelho de Sabrosa e em 1972 ingressou na Universidade do Porto, no curso de engenharia electrotécnica, tendo mais tarde transitado para a Ėcole Politechnique Federal de Lausanne. Actualmente é administrador duma empresa de Vinho do Porto. Desde sempre se interessou por temas de História da Família, nomeadamente por genealogia e heráldica. Em 1971 começou a consultar a excelente colecção de manuscritos reservados da Biblioteca Pública Municipal do Porto, retirando notas para o que tem sido o “trabalho” de toda a vida - a ligação dos livros medievais de linhagens aos nobiliários quinhentistas e seiscentistas. A partir do ano de 1975 foi frequentando a Torre do Tombo na prossecução do mesmo objectivo. Entre 1981 e 1985 levantou todas as matrículas de ordens da arquidiocese de Braga – registos dos ordinandos entre meados do século XV e finais de XVI – respeitantes ao antigo termo de Vila Real. Para além de participação em variados colóquios e intervenção pública activa no fórum do Geneall – com milhares de entradas próprias – tem escrito sobre variados temas genealógicos/históricos, nomeadamente: - “Os lagares do Pai Calvo” em co-autoria com Flórido de Vasconcelos. Mea Villa – 1988 (2) - pág. 81-88. Actas e separata do Congresso Internacional sobre o Rio Douro; “Fernão de Magalhães de Santa Maria da Sé do Porto”. 2011. Onde se identifica a sua família próxima; - “A Heráldica de Colon e a Carta de Amas de 1493”. 2018. Actas (para publicação) do 1º Congresso Internacional sobre Cristóvão Colombo – Academia da Marinha – 7 a 10 de Março de 2018; “frei Henrique Teles e a Casa de Unhão”. Para publicação. Em que se demonstra, contrariando a tese do prof. Luís Vaz de Sampaio, a sua muito provável filiação em Rui Teles e “Taveira - uma família de Lisboa em Vila Real”. Para publicação. Em que, ao longo de 4 séculos - XIII ao XVI - se estuda a sua evolução nos diversos ramos descendentes.

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António Luís Cansado de Carvalho de Mattos e Silva, nasceu em Lisboa em 1949, Licenciou-se em Engenharia Mecânica (Ramo de Termodinâmica), em 1971, no Instituto Superior Técnico (IST). Foi Quadro Técnico da EDP e da TABAQUEIRA. Foi Vice-Presidente (com funções de Presidente) do Instituto Português de Arquivos (no âmbito da Secretaria de Estado da Cultura) (em 1992). Foi Assistente, no Instituto Superior Técnico, de várias cadeiras do curso de Mecânica (1971-1982) e Bolseiro do Instituto de Alta Cultura, como investigador no Centro de Termodinâmica Aplicada e Mecânica dos Fluidos da Universidade de Lisboa (no IST) (19761978). Genealogista (com vasta obra publicada, nomeadamente o «Anuário da Nobreza de Portugal»); É Director da Associação da Nobreza Histórica de Portugal (desde 2012); Secretário-Geral da Associação da Nobreza Histórica de Portugal (1989-2011); Secretário-Geral do Instituto da Nobreza Portuguesa (desde 2004); Sócio Efectivo do Instituto Português de Heráldica (desde 1980); Sócio da Associação Portuguesa de Genealogia (tendo sido vogal da Direcção desde a sua fundação, em 1986, até 1991); Académico correspondente da Real Academia Matritense de Heráldica y Genealogia; Cavaleiro de Graça e Devoção da Ordem Soberana de Malta (sendo o Consultor Genealógico e Chefe do Protocolo da Assembleia dos Cavaleiros Portugueses desta Ordem); Grã-Cruz da Ordem de Cavalaria do Santo Sepulcro de Jerusalém (tendo sido Secretário do Conselho e Cerimoniário Laico da sua Lugar-Tenência em Portugal); Foi vogal da Comissão de Genealogia do Conselho de Nobreza (19882000); Foi membro da Direcção da Associação Portuguesa das Casas Antigas. Foi co-autor (com seu irmão Eng.º José Mattos e Silva) de vários artigos e livros resultantes da respectiva investigação histórica relacionada com os navegadores Fernão de Magalhães, Cristóvão Colon e Côrte-Reais, nomeadamente artigos publicados no Boletim da Associação Cultural Amigos de Gaia e na Revista de História da Universidade Lusíada e a edição da coletânea “Casos da História” da qual já se encontram publicados os três primeiros volumes. Em colaboração com o seu irmão Eng.º José Mattos e Silva interveio em palestras relacionadas com os resultados da respectiva investigação histórica, na Fundação Maria Ulrich, na Associação Casa Veva de Lima, no Chiado Center, na Sociedade de Geografia de Lisboa, no Centro Nacional de Cultura, no IADE, no Museu do Oriente, na Casa Colombo (Vale do Paraíso, Azambuja), na Academia Portuguesa da História, no Círculo Eça de Queiroz, no Hotel Farol Design (Cascais), no Hotel Altis Belém e no Auditório Armando Lencastre da Ordem dos Engenheiros (Região Sul). É sócio do Turf Club (em Lisboa), da Sociedade Histórica da Independência de Portugal (SHIP); da Associação Cristóvão Colon, sediada na vila alentejana de Cuba, da Sociedade de Geografia de Lisboa e vogal da Comissão de Estudos Côrte-Real, da Sociedade de Geografia de Lisboa.

José Eduardo Cansado de Carvalho de Mattos e Silva, natural de Lisboa, onde nasceu em 1945, é Engenheiro Civil, Instituto Superior Técnico (I.S.T.), desde 1968. Quadro Técnico do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) e das firmas PROFABRIL, TEIXEIRA DUARTE e STAP; Administrador das firmas GAPRES Gabinete de Projectos, Engenharia e Serviços, S.A. e GAPROBRA - Gestão e Promoção de Obras, S.A. (posteriormente designada por GPA, S.A.) e sócio-gerente da firma ENGIMO - Empresa de Gestão Imobiliária, Lda. Professor Adjunto do ISEL – Instituto Superior de Engenharia de Lisboa, de Setembro de 1998 a Janeiro de 2012 e ao abrigo do Programa Erasmus leccionou na Universidade de Turku (Finlândia), em 2007 e, no Instituto Politécnico de Stuttgart (Alemanha), em 2008. Participou e apresentou comunicações em inúmeros congressos nacionais e internacionais, bem como em revistas técnicas portuguesas e estrangeiras. Autor do livro “30 Anos de Engenharia Civil, 1968/1998”, editado por AJE e Autor do livro “Vocabulário para o Projecto Geotécnico”, edição de autor. Foi co-autor (com o seu irmão Eng.º António Mattos e Silva) de vários artigos e livros resultantes da respectiva investigação histórica relacionada com os 10


navegadores Fernão de Magalhães, Cristóvão Colon e Côrte-Reais, nomeadamente no Boletim da Associação Cultural Amigos de Gaia e na Revista de História da Universidade Lusíada. Em colaboração com o seu irmão Eng.º António Mattos e Silva interveio em palestras relacionadas com os resultados da respectiva investigação histórica, na Fundação Maria Ulrich, na Associação Casa Veva de Lima, no Chiado Center, na Sociedade de Geografia de Lisboa, no Centro Nacional de Cultura, no IADE, no Museu do Oriente, na Casa Colombo (Vale do Paraíso, Azambuja), na Academia Portuguesa da História, no Círculo Eça de Queiroz, no Hotel Farol Design (Cascais), no Hotel Altis Belém, no Auditório Armando Lencastre da Ordem dos Engenheiros (Região Sul), na Sede da Região Norte da Ordem dos Engenheiros, na Sociedade Histórica da Independência de Portugal e na Academia de Marinha. Tem artigos publicados no Boletim da Associação Cultural Amigos de Gaia e na Revista de História da Universidade Lusíada e, com o seu irmão, foi responsável pela edição da coletânea “Casos da História” da qual já se encontram publicados os três primeiros volumes. É, desde 2012, sócio da Associação Cristóvão Colon, sediada na vila alentejana de Cuba e sócio da Associação Dr. Manuel Luciano da Silva, sediada na aldeia de Cavião, freguesia de Castelões, Vale de Cambra. É, sócio da Sociedade de Geografia de Lisboa e desde 2013, vogal da Comissão de Estudos Côrte-Real, da Sociedade de Geografia de Lisboa e sócio da Sociedade Histórica da Independência de Portugal (SHIP).

Maria José da Silva Gonçalves nasceu em 1963, em Vila Verde, vive em Ponte da Barca, é casada e mãe de duas filhas. Licenciou-se em Ensino de História e Ciências Sociais em 1987, na Universidade do Minho. Em 2012, na mesma Universidade, concluiu o Mestrado em Ciências da Educação, Área de Especialização em Supervisão Pedagógica na Educação em História e Ciências Sociais. É professora de História na Escola Secundária de Ponte da Barca desde 1989. Desempenhou diversos cargos diretivos nas escolas onde lecionou, destacando-se a Presidência e Vice- Presidência do Conselho Diretivo, a Coordenação do Departamento de Ciências Sociais e Humanas, a Coordenação do Grupo Disciplinar de História, a Coordenação dos Diretores de Turma do Ensino Básico e Secundário, entre outros. Exerceu também cargos políticos como membro da Assembleia Municipal de Ponte da Barca e Vereadora da Câmara Municipal de Ponte da Barca. Presentemente exerce as funções de Vice-Presidente da Câmara Municipal de Ponte da Barca.

“A nau Vitória foi o primeiro navio a dar a volta ao mundo”

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“… só o Rei poderá naturalmente representar o povo português, não tanto na governação ou no exercício do poder do Estado, mas sobretudo num sentido humanizado e personalizado de permanente representação da Nação...”

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RGAM. - Foi sempre Monárquico ou foi algo assimilado?

modernidade…

TAM: Não aprendi a ser monárquico por influência familiar directa nem foi uma revelação súbita.

RGAM. - Como tentam contornar essa resistência? TAM: Defendemos que o caminho para a Monarquia é gradual e tem que ser construído passo a passo; não ocorrerá dum dia para o outro, por exemplo via referendo.

Fui descobrindo e adoptando a monarquia como ideal político já depois do 25 de Abril, a partir de testemunhos de monárquicos com quem convivi. Os primeiros de que me lembro: No Liceu Garcia da Orta o João Almeida Campos; na Universidade o Manuel Martins de Carvalho; quando comecei a trabalhar o Dr. Guilherme Fontes; na vida pública nacional naturalmente o Arqº Ribeiro Telles. Rendo-lhes aqui a homenagem de as suas convicções terem dado frutos.

Não é através da Monarquia que chegaremos a um Rei; é através do Rei que chegaremos à Monarquia. Por isso, a prioridade actual da Causa Real é reforçar a ligação de afectividade entre o povo português e o seu rei - o Rei dos Portugueses. Quando hoje falamos a qualquer português sobre “o nosso Rei”, todos sabem que nos referimos a S.A.R. Dom Duarte que, graças a quarenta anos de permanente e incondicional dedicação, atingiu uma grande notoriedade e uma sincera estima por parte de toda a comunidade nacional, que revê nele as características de isenção, imparcialidade, seriedade e serviço à causa pública que são apanágio da instituição real e a prestigiam.

RGAM. - A Causa Real vai lutando pela Causa da Monarquia e do Rei, mas nesta sociedade formatada pelo regime republicano em (quase) pensamento único, com certeza tem que contornar muitos obstáculos que constituem uma séria dificuldade em fazer passar a mensagem. TAM: O regime republicano condiciona o pensamento dos portugueses através duma permanente propaganda insidiosa que começa logo no ensino básico. Conta para isso com o apoio activo da maioria dos professores, historiadores, políticos e da comunicação social.

Ao aprofundar no povo a ligação sentimental à Casa Real, estamos a criar os fundamentos para que a comunidade nacional entenda que o Duque de Bragança deve ter na organização política da nossa Nação algumas funções de representatividade, que desejamos se vão ampliando com o tempo. Se – ou quando - essas funções passarem a incluir a chefia do Estado, estaremos em Monarquia. Por vontade do povo, nunca por imposição.

Sistematicamente a monarquia é identificada com ditadura e a república é apresentada como sinónimo de democracia. Isto num país que viveu 48 anos de ditadura republicana e numa União Europeia onde várias Monarquias são exemplos de democracia, direitos cívicos, desenvolvimento e TOMÁS A. MOREIRA nasceu no Porto em 1957. Frequentou o Colégio Alemão do Porto até ao 12º ano (“Abitur”), 1975. Licenciatura em Engenharia Electrotécnica (Technische Universität München), 1980. Auditor de Defesa Nacional (IDN-Instituto de Defesa Nacional), 1996. Administrador e sócio de várias empresas industriais nacionais e estrangeiras, desde 1980. Dirigente e quadro internacional Automotive, desde 1993.

da

KIRCHHOFF

Dirigente de várias associações de natureza económica, política, desportiva e cultural. Presidente da AFIA - Associação dos Fabricantes para a Indústria Automóvel, desde 2013. Vice-Presidente da MOBINOV – Associação do Cluster Automóvel, desde 2016. Membro do Conselho Geral da CIP, desde 2013. Cônsul Honorário da Áustria no Norte de Portugal, desde 2016. Casado desde 1984, tem três filhos adultos.

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RGAM. - Por certo, nesse labor de acção política para desenvolver e credibilizar uma alternativa monárquica é deveras importante o projecto, que o Sr. Engenheiro coordena, de inclusão do Duque de Bragança na Lei de Precedências do Protocolo de Estado?

Casa de Bragança continua a representar para Portugal. Posteriormente a petição oficial em papel e na internet recolheu cerca de 8000 assinaturas válidas, número suficiente para a qualquer momento ser proposta à Assembleia da República para debate.

TAM: Um primeiro passo na atribuição de funções de representatividade ao chefe da nossa dinastia histórica passa por os portugueses desejarem e exigirem que, quando o Duque de Bragança é convidado e está presente numa cerimónia oficial, seja tratado com a deferência protocolar correspondente ao que representa.

Desde o Verão passado começámos a apresentar a petição aos partidos políticos e a outras instituições com peso nesta matéria, no sentido de garantirmos uma votação parlamentar maioritária, que compreensivelmente não é automática nem fácil de obter. A instabilidade eleitoral, partidária e governamental nos últimos três meses tem dificultado estes contactos, que serão retomados no início de 2018.

A sua inclusão oficial na Lei de Precedências, além de corresponder à regularização duma prática habitual, seria um reconhecimento formal de que, mesmo em República, a Casa de Bragança é respeitada não só pelo povo mas também pelo Estado.

RGAM. - Qual o modelo de Monarquia que defende para Portugal?

Este reconhecimento oficial do papel emblemático da Chefia da Casa de Bragança teria um sentido político e um significado simbólico muito importantes para a nossa causa.

TAM: Na medida em que me entrevistam na qualidade de Vice -Presidente da Causa Real, devo esclarecer sem margem para dúvidas que a Causa Real e os seus associados defendem uma monarquia constitucional democrática, com separação, balanço e limitação dos poderes das instituições do Estado, incluindo os do Rei.

RGAM. – Em que ponto de situação se encontra a iniciativa do Manifesto para a Revisão da Lei de Precedências do Protocolo de Estado com vista à inclusão de SAR O Duque de Bragança? TAM: O Manifesto foi assinado por mais de cem personalidades de prestígio da nossa sociedade, incluindo muitos republicanos que reconhecem a mais-valia que a 14

O funcionamento exacto dum novo regime monárquico não seria definido pela Causa Real, onde naturalmente convivem várias sensibilidades, mas sim pelo Parlamento que viesse a definir as novas bases constitucionais. O novo regime seria


provavelmente muito próximo das monarquias europeias que todos conhecemos em que o Rei não tem funções executivas.

diminuição do controle dos Estados sobre os seus territórios, o Rei e a Monarquia constituem elementos imprescindíveis e só o Rei poderá naturalmente representar o povo português, não tanto na governação ou no exercício do poder do Estado, mas sobretudo num sentido humanizado e personalizado de permanente representação da Nação”.

Pessoalmente – e sem vincular a Causa Real onde cabem opiniões diversas – na monarquia constitucional e democrática que defendo existiria um chefe de governo eleito directamente por sufrágio universal e não pelo Parlamento (que teria funções predominantemente legislativas e uma composição mais rica e capaz do que o nosso actual). Se quiser, é o modelo dos Estados Unidos da América mas em que o Presidente seria apenas chefe do governo e não chefe do estado, lugar que estaria reservado ao Rei.

RGAM. – Há muitos mitos a desfazer quanto à Monarquia, como pretende a Causa Real afastá-los? TAM: A nossa mensagem deverá centrar-se apenas no Rei e na Monarquia e distanciar-se doutras causas e doutros discursos,

RGAM. - Quais são para si, as vantagens de um regímen de Monarquia face ao modelo republicano?

que contribuem para a confusão dos espíritos e para reforçar os mitos que refere.

TAM: Todos os nossos leitores reconhecerão como vantagens da Monarquia a independência do Rei, a imparcialidade, a preparação para o cargo, a perenidade, a estabilidade constitucional, o prestígio internacional dos Reis, a identificação dos cidadãos com as famílias reais, a estética, o símbolo de unidade, o reforço do sentimento de pertença a uma comunidade.

A Causa Real deseja que os monárquicos seus associados nas suas intervenções públicas que tenham presente que: Primeiro: Independentemente do regime constitucional que vigore, o Rei – reinante ou não - é sempre o chefe hereditário duma Nação e símbolo e garante da sua unidade e perenidade. Pode ter funções no Estado ou não. Segundo: A Monarquia, regime constitucional que defendemos, caracteriza-se pela circunstância de o Rei (chefe

Acrescentaria apenas, citando um documento da Causa Real de 1995, que “com a evolução no sentido duma progressiva 15


natural da Nação) ser também Chefe do Estado.

sexo masculino tem prioridade sobre o feminino.

Terceiro: Já não existem monarquias no sentido etimológico e medieval do termo (“governo de um só”); hoje estão constitucionalmente limitados os direitos e funções do Rei enquanto Chefe de Estado (não pode interferir com a legislação, com a governação ou com a administração da justiça; respeita a separação de poderes e não se sobrepõe à vontade popular soberana).

Aceitando - e não querendo discutir - opiniões diversas, esta é uma tradição que eu respeito e não questiono.

RGAM. – Quer deixar algumas últimas palavras aos leitores da Real Gazeta? TAM: Em Portugal, o legítimo representante da Casa Real é S.A.R. O Senhor Dom Duarte, Duque de Bragança. Se vivêssemos em Monarquia, seria Chefe do Estado e Rei de Portugal.

Quarto: As monarquias europeias demonstram vantagens em relação às repúblicas, razão pela qual os portugueses deveriam optar maioritariamente por um regime monárquico.

Na realidade do regime republicano vigente, não podemos considerá-lo Rei de Portugal, por não ser ele próprio de facto o Chefe do Estado.

Estas devem ser as mensagens centrais e únicas da Causa Real, que não deve tomar partido em questões da governação ou administração pública, em opções políticas ou económicas conjunturais, nem identificar-se com direitas ou esquerdas, tradição ou progressismo, religião ou costumes, nacionalismo ou universalismo, fado ou rock, touradas ou protecções dos animais.

Mas, mesmo com um Presidente da República eleito, defendemos que o Chefe da Casa Real histórica portuguesa continua a ser o Rei dos Portugueses. Citando António Sardinha: “O Rei de Portugal, numa segunda reconquista, a reconquista espiritual, a si mesmo se chamará Rei dos Portugueses.”

RGAM. – Presentemente, quase todas as Monarquias europeias utilizam na linha de sucessão ao trono a primogenitura igual, que se traduz em que o filho mais velho do Monarca, independentemente do sexo, tem prioridade na linha de sucessão, ou seja a sucessão é de primogenitura absoluta; a Causa Real, salvaguardados os direitos adquiridos, também, defende a primogenitura igualitária?

Assim, agradecendo o convite da Gazeta para esta entrevista, a minha mensagem final aos leitores é esta: Que nos habituemos a designar o Duque de Bragança por este título, cheio de sentimentalidade, simbolismo e esperança, de “Rei dos Portugueses”.

TAM: A Causa Real nunca debateu nem tem nenhuma posição oficial quanto a esta questão muito sensível, sobre a qual não tem legitimidade para tomar decisões.

RGAM. – Muito obrigado.

Pessoalmente, por sensibilidade e por razões que seria exaustivo desenvolver, tenho mais simpatia pela regra tradicional em Portugal, segundo a qual no mesmo grau o

Entrevista realizada por Miguel Villas-Boas para a Real Gazeta do Alto Minho da Real Associação de Viana do Castelo

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Príncipe Alberto I do Mónaco nas suas viagens aos Açores Luísa Vasconcelos

Óleo da Caldeira da Graciosa de Luísa Aguiar

Este Príncipe de alma de marinheiro, cientista e oceanógrafo, mais do que feito para reinar, tinha uma grande paixão pelos Açores, seus mares, fauna e flora. Entre 1885 e 1915, desembarcou 14 vezes no arquipélago, como nos é referido no “Público Magazine de 7-7-1991”.

A sua vasta obra conta com 104 volumes, com magníficas ilustrações, 40 dentre estes são dedicados aos Açores. Pela minha condição de Açoriana e, neste caso, mais concretamente de raízes paternas graciosenses e muito ligadas às viagens à Graciosa do Príncipe Alberto I chamou-me particularmente a atenção:

No seu livro «La Carrière d´un Navigateur», que acabei de adquirir em França, fala-nos, nas suas campanhas científicas em que se nota um grande rigor, quer de localização geográfica, quer de caracterização morfológica em todos os seus estudos de oceanografia, batimetria, biologia marítima e terrestre, etc.

“A Graciosa oferece-nos como principal atrativo uma caverna situada no fundo da cratera da sua caldeira a qual 17


guarda uma misteriosa comunicação com as entranhas da terra. Eu visitei esta curiosidade geológica em condições dignas de serem relatadas.”

“Deixa-se a vila a pé, de burro ou num carro de bois, sobe -se sob um sol ardente as vertentes exteriores do vulcão extinto; ultrapassa-se uma abertura regular semelhante aos bordos duma “cuvette”, e desce-se as vertentes interiores guarnecidas de fachadas rochosas em que os pombos selvagens encontram outros retiros;… estamos diante dum declive que dá acesso a uma fenda vertical de cerca de 50 metros… cuidado… o mínimo passo em falso precipita-nos para uma gruta apenas acessível com o auxílio de cordas manobradas pelos guias locais. As cordas são tão velhas e finas que depois da nossa primeira experiência passámos a trazer do navio uma mais grossa.

… Uma corrente de ferro prende esta corda que desce até ao fundo, para servir de apoio às mãos… Então estamos prontos para descer, com uma corda presa na corrente e fixa à cintura… os pés fincados na parede rochosa… Imagem ao lado: Descida à Caldeira da Graciosa, gravura do ilustrador e pintor francês Louis Tinayre, que acompanhava Alberto I Imagem em baixo: gravura do Hirondelle, do mesmo autor

S. A. R. a Senhora D. Isabel de Bragança, na cerimónia do 1.º de Dezembro de 2017 em Lisboa

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O novo papel do Casamento real David Luís de Mendonça Secretário-geral adjunto da JMP

Casamento de D. Duarte Pio e D. Isabel de Herédia

É certo que as monarquias ocidentais se apoiam profundamente na imagem das suas famílias reinantes, de forma a assegurarem a sua popularidade - tem sido assim nos últimos três séculos e nada aparenta que isso venha a mudar. As coroas contemporâneas encontram nos seus representantes A Chave para a manutenção da sua permanência ao trono do seu país.

Quanto mais popular for um monarca e a sua família, em maior segurança estará a Coroa. Tome-se o caso da Dinamarca, a extensíssima descendência do rei Cristiano IX, ou no Reino Unido, a família da rainha Vitória, são exemplos marcantes da viragem importantíssima dos papéis tradicionais das casas reais europeias e dos seus 19


a famosa Sissi da Áustria, é por muitos considerado o maior acontecimento social do século XIX. No século seguinte, em 1956, o ícone de Hollywood, Grace Kelly, revolucionava todas as concessões até então tomadas por garantidas sobre os casamentos reais quando também ela casou com o Príncipe do Mónaco, tornando-se assim Sua Alteza Sereníssima a Princesa do Mónaco. Este casamento entrou para a história como aquele em que pela primeira vez uma rapariga de origens humildes podia sonhar e, de facto, ser uma princesa, com todo o imaginário principesco tornado realidade. Falava-se, na altura, do “casamento do século”. Já em 1986, Carlos e Diana, vão mais longe, quando o Príncipe Carlos de Gales, futuro Rei dos despojos do último grande império do mundo anunciou que casaria com uma rapariga do 'povo' - embora a jovem Diana Spencer fosse, na verdade, filha de um Conde. Juntos e, principalmente, separados, revolucionavam a imagem da família real britânica para o bem e para o mal com mais um “casamento do século”.

Casamento do Príncipe William e Catherine Middleton

papéis na sociedade. O rei Cristiano da Dinamarca era avô, além do rei da Dinamarca, do rei da Grécia, do rei do Reino Unido, do Rei da Noruega e do Czar da Rússia. Por sua vez, a rainha Vitória era avó do mesmo rei do Reino Unido, da Czarina da Rússia, do Imperador da Alemanha e da rainha de Espanha. Este fenómeno fazia parecer que as várias casas europeias se união numa espécie de grande família internacional, que o eram de facto. A imagem de uma rede unida fortaleceu - quase - todos estes países - talvez, com a excepção da Alemanha e da Rússia, cujo destino acabou por ser drasticamente diferente e muito mais trágico em vários aspectos daquele que se esperava que pudessem ter tido se se tivessem mantido as suas Coroas.

Em Portugal, o “casamento do século” foi precisamente o do senhor D. Duarte, Duque de Bragança, com Isabel de Herédia, agora Dona Isabel de Bragança, Duquesa de Bragança, em 1995. Sentiu-se em Portugal esta mesma reacção. À porta da catedral do mosteiro dos Jerónimos, eram milhares aqueles que esperavam de bandeiras erguidas e vivas aos noivos. Foi talvez o

Foi talvez no Reino Unido que nasceu o grande interesse pela vida privada e familiar dos reis e das suas famílias. Os casamentos reais parecem, assim, ser o ponto-alto do interesse popular. O primeiro a fascinar os seus nacionais foi o apaixonante e quase lendário amor da rainha Vitória pelo príncipe Alberto, e daí para a frente, o de Jorge V e Maria de Teck ou talvez, com particular destaque, o do Rei sem coroa, Eduardo VIII que diz-se por amor ter abdicado do trono britânico para casar com Wallis Simpson, a americana duas vezes divorciada, a quem Churchill negou a Coroa do Império. Ainda em 1854, o casamento do futuro imperador José Francisco I do Imperio Austríaco com a princesa Isabel da Baviera, Príncipe Harry e Meghan Markle

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pico da popularidade da família real portuguesa desde a instauração da República, em 1910. Pela primeira vez desde que SAR o senhor Duque de Bragança reclamara para si as reivindicações do seu pai D. Duarte Nuno, que a população portuguesa mostrara pelo Rei dos Portugueses tamanho afecto e lealdade. Lá fora, passados mais de cem anos da morte da rainha Vitoria do Reino Unido, esta nova feição das famílias reais, vivia - e, aliás, vive ainda - o seu auge. “As ideias sobre a realeza tornam-se mais fortes ainda na forma do casamento, porque este é, na cultura moderna, um acto profundamente pessoal” em que, por vez excepcional, todos somos convidados a fazer parte da dinastia e do primeiro dia de um futuro nacional. Uma geração depois de Carlos e Diana era o filho dos Príncipes de Gales que inspirava agora corações e sonhos por todo o mundo, quando anunciava casar-se com Catherine Middleton. Numa verdadeira história de amor, onde os casamentos arranjados há muitos haviam provado não resultar, o príncipe William escolhia para sua mulher e futura rainha do seu povo o seu verdadeiro amor.

A família do Rei Cristiano IX da Dinamarca

O que há especial neste casamento real vindouro, além da popularidade que mais uma vez viverá a família real e, com ela, toda a instituição monárquica e o próprio Reino Unido, é mudança radical de comportamentos de um príncipe que, pela primeira vez na vasta história da realeza britânica. Neste mês de Março, pela primeira vez, um príncipe britânico casará com uma actriz, divorciada, afro-americana, cuja mãe descende de uma família escrava do Estado da Geórgia e, curiosamente, cujo pai descende do rei Eduardo III de Inglaterra - fazendo de Meghan uma parente afastada de Harry.

Na altura, os tablóides de todo o mundo escreviam: «Entre 1382 e 1919 não se realizou um só casamento real na Abadia de Westminster. Desde então, já houve nove. O que nos diz algo surpreendente: nos tempos modernos, os casamentos reais assumiram maior importância na nossa vida nacional do que em qualquer época anterior. Pensa-se que dois mil milhões de pessoas irão assistir ao casamento de Catherine e William. Aquele “pequeno momento na igreja” será o maior sucesso de bilheteira do século XXI, até agora.»

O extraordinário desta pequena curiosidade é que parece que, afinal, não é assim tão pequena. O que devia ser encarado como normal no mundo contemporâneo tem gerado algum furor na comunicação social graças ao papel que a “raça” ainda desempenha na vida social. Optar por ignorar que nos Estados Unidos da América - de onde a futura princesa é original - ainda se sentem de diversas formas os séculos de segregação racial, que surgem desde a época do colonialismo britânico ao apartheid do século passado, seria menosprezar a estranheza de todo um povo que ainda hoje lida com diversas formas de racismo ao ver uma afro-americana viver aquilo que nunca antes se pensou que pudesse.

E ainda, sobre a opinião pública acerca do impacto político do casamento na instituição monárquica britânica: “Se eu fosse republicano, o casamento deixar-me-ia preocupado. Não se trata de uma mera diversão. Vê-lo-ia - e estaria certo em ter esta percepção como um sério desafio aos meus sonhos de mudança. E estaria furioso” e “Seria preciso ser de uma tremenda ignorância para não entender a importância deste casamento na nossa história e no nosso futuro”.

Embora este não seja de facto o primeiro casamento de um príncipe europeu com alguém de descendência africana - o primeiro foi o casamento do príncipe Maximiliano de Liechtenstein com a princesa Ângela de Liechtenstein - esta realidade parecia pouco possível.

Passados sete anos - hoje, em 2018 - a popularidade que o casamento real entre o Príncipe William de Gales e Catherine Middleton trouxe à monarquia no Reino Unido é amplamente incontestável.

Agora, talvez possa fazer parte de todas as crianças, pequenas ou grandes, de qualquer raça ou nação, um dia poder vir a ter uma história principesca de amor, como a de Harry e Meghan.

Assim se anseia pelo novo casamento real do príncipe Harry e Meghan Markle. Talvez à semelhança do casamento do seu irmão ou do seu pai, ou ainda do seu tio, o príncipe Andrew, com Sarah Fergunson, depois Duques de Iorque, o irmão mais novo do futuro rei do Reino Unido terá o seu casamento acompanhado por milhões de pessoas espalhadas pelo globo inteiro.

Espera-se, para o casamento do príncipe Harry de Gales e Meghan Markle mais um momento de apoio maciço nas ruas e vidas de Londres, de todo o Reino Unido e ainda espalhado pelo mundo.

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ISABEL “A Redentora” OS ESCRAVOS – AS CAMÉLIAS "…se a abolição é a causa disto, eu não me arrependo; eu considero valer a pena perder o trono por ela".

Carlos Aguiar Gomes

(Princesa Isabel, a Redentora, Princesa Imperial do Brasil ) A 13 de Maio próximo, a humanidade, toda, deveria celebrar com grande júbilo o acto de extrema coragem da Princesa Isabel, Princesa Herdeira do Brasil, em período da sua 3ª Regência: a assinatura da chamada Lei Aurea (1) , que punha fim à escravatura no seu país. Esse acto de grande humanidade, exemplar, custou o fim da Monarquia neste grande país irmão, o Brasil. Assim o dia 13 de Maio de 1888 deverá constar como um dos grandes feitos humanistas, porque profundamente cristão, da abolição da infâmia da escravatura Obviamente que os grandes capitalistas latifundiários brasileiros se lhe oposurem ferozmente. A Princesa preferiu perder o trono do qual era a herdeira natural a vir a ser Imperatriz de um Império com escravos, seres humanos tornados coisas, objectos de troca e venda, empréstimo e herança. Já não era a primeira vez que Dona Isabel, a Princesa Redentora, como ainda é conhecida no Brasil e muito amada, tomava posições públicas e políticas contra a escravatura. Durante a sua Primeira Regência, em 28 de Setembro de 1871, sancionou a chamada “Lei do Ventre Livre”, pela qual se estipulava que qualquer criança, filha de escravos nunca mais nasceria escrava, mas pessoa livre. Foi a primeira machada num sistema ignobil. E a mesma Princesa acolhia escravos foragidos no seu palácio e os tratava e tinha como homens e mulheres livres. Foi a Princesa Isabel que adoptou a flor de japoneira, levada da Europa (trazida do Japão séculos antes), a camélia branca, como sinal público dos abolocionistas. E

Isabel Princesa Imperial do Brasil

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Lei Ă urea

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Assinatura da Lei Áurea no Paço Imperial

era muito frequente ver a Princesa Isabel, em público e como sinal provocatório do seu empenho abolocionista, trazer como adorno uma camélia branca ou um ramo destas flores. Por isso, e graças a esta bendita e louvável iniciativa , a camélia tornou-se no Brasil, sinal de luta contra a escravatura. Esta luta pelos Direitos Humanos fundamentais custou o trono a Isabel, pois o Pai, o Imperador Dom Pedro II, foi deposto no ano seguinte. Por isso, esta Princesa ainda hoje é muito admirada no Brasil, país onde só regressou em Abril de 1971, 50 anos após a sua morte em França, tendo sido recebidos os seus restos mortais, com os do seu Marido, com todas as honras devidas a Chefes de Estado. Em Maio, dia 13 desse ano de 1971, comemorando o aniversário da Lei Aurea, Isabel e o Conde Eu, seu Marido, foram inumados na Catedral de Petrópolis, onde outros Braganças brasileiros já estavam. Justa homenagem do Governo e povo brasileiro que, ainda que tarde, reconheceu a grande dívida para com estes insígnes Príncipes na defesa e promoção dos Direitos Humanos. A Princesa Isabel, a Redentora, merece, ao aproximar-se o 130 º aniversário da abolição da escravatura no Brasil, que a homenageemos, a recordemos e lhe agradeçamos este gesto humanitário contra uma indignidade: a escravatura. Curvo-me diante desta Princesa. Agradeço-lhe o exemplo e a coragem. Por causa dela, ao assumir a camélia como sinal do 24

Diário Oficial de 14 de Maio de 1888, com a lei 3353, abolindo a escravatura no Brasil


Missa campal celebrada em acção de graças pela Abolição da Escravatura no Brasil, 17 de Maio de 1888

abolocionismo, tornei-me ainda mais admirador das camélias que me lembram sempre esta grande Senhora, neta de um Rei português, Dom Pedro IV, e a luta incessante que travou contra os poderosos escravocratas pela libertação dos escravos e da respectiva abolição de uma das maiores infâmias da humanidade: a escravatura. A Princesa Isabel, infelizmente, continua a ser um modelo a imitar na luta contra outras formas de escravatura que subsistem na nossa sociedade capitalista e amoral. (Nota: Em Portugal continental, o dia 12 de Fevereiro de 1761, dia da abolição da escravatura, também deveria merecer divulgação e celebração e o Sessão do Senado em que se aprovou a Lei Áurea, a 12 de maio de 1888 dia 12 de Dezembro de 1836, Geral, foi a introdução no texto da expressão “desde a data desta lei”, para dia da abolição do tráfico em todo o nosso território imperial, que a mesma entrasse em vigor imediatamente, antes de ser publicada nas também merecem ser lembrados e celebrados). províncias, o que, no mínimo, poderia demorar um mês.

(1) A Lei n.º 3353 de 13 de Maio de 1888, foi aprovada na Câmara Geral (Câmara dos Deputados) com 85 votos a favor e 9 votos contra, e um voto contra no Senado do Império, foi à sanção da regente Dona Isabel, a 13 de Maio. A única alteração do projecto de lei do governo, feita pela Câmara

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É vianense. É Português! Susana Cunha Cerqueira

Relevante, interessante, diferente, esteticamente belo, equilibrado, sensorial, puro, limpo ou errante, (des)construtivista, modernista, minimalista, realista, metafórico, ausente do que é a realidade ou imersa nela, sinuoso nas formas voluptuosas, erótico, desvelando ou mantendo o véu que cobre a pureza da forma de Dulcineia, no segredo da conquista ou no deixar ir da solidão, ou da romaria estonteante, com um qualquer D. Quixote, lutando contra si próprio na (in)definição que o faz viver… (E não é a vida mutação? E rasgo, risco? clarividência? ou ausência de ser?).

Ser vianense é uma prerrogativa que o define, mas também mundano, ausente ou demasiado presente no Porto. Luís Pedro Viana nasceu em Viana do Castelo (como diria Saramago – “a idade que importa!”) e teve aulas de pintura… Na Polysalca – fábrica de plásticos na Rua da Bandeira, vanguardista no tempo, com visão antecipadora dos donos, um deles seu pai e dessedentou em aulas de pintura no Porto ou embriagou-se no prazer das cores, das telas e dos pincéis. E a vida encarregou-se de preservar nele o prazer de pintar e de escrever – muito, pouco ou nada, mas constante no tempo. A vida, a pintura, agarrou-o: fê-lo refém das suas ousadias, das da vida e das dele, permitindo-lhe uma liberdade de viver na construção da obra.

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Risco puro em Cervantes, reto ou incerto noutros, sinuoso ou difuso, com duas cores ou com uma alegria visual de colorido estonteante em que o olhar percorre a tela sem saber onde pousar ou a transparência de dois traços cruzados em linhas de (in)finita imaginação, transportando o olhar para o além da presença e da aparência. Numa ou noutra tela vislumbram-se traços inspiradores de Modigliani, mas é seu o traço que o faz existir.

Ou como em Canção sem história, em que, afinal… São valentes os homens, mas não podem/Ser Senhores e donos das mortalhas. Nos cânticos políticos, religiosos ou militares, De gritos de revolta: às armas, O vento leva as notas Em forma de agonia E deixa os destroços da batalha. São valentes os homens, mas não podem Ser Senhores e donos das mortalhas. Heróis meus, antepassados nobres, Nas lápides reduzidas à pedra fria, Sem nome e sem glória, Quanto mártir da espada Se funda na ínfima razão do vencido; Ou daquele que diz não. São valentes os homens, mas não podem Ser Senhores e donos das mortalhas. Estandarte com Cruz de Cristo, Símbolo afoito ao largo mar… Os navegantes no mundo azul Marcaram o nunca visto Por supremo amor da redenção. São valentes os homens, mas não podem Ser Senhores e donos das mortalhas. Cobiça, traição, também é justo, O poder da ordem derradeira. Vivo o temor que não tenho das batalhas Quanto baste a trombeta anunciar.

E escreve poesia, não a pedido ou a granel, mas quando o ser lhe manda e o Outro, que não ele, o exige, ou fá-lo na modorra do tempo adormecido. Contudo, não vou falar do “Cabo de aço”, tão frio e cruel como o som do metal agudo que corta silêncios, ou de “Viana”.

São valentes os homens, mas não podem Ser Senhores e donos das mortalhas.

Tendências sociais, políticas, estéticas? Apenas as suas, com laivos de uma monarquia constitucional que não se enquadra numa moldura hodierna de aprendizes de feiticeiros políticos – a luta será longa tal como afirma em À sombra dos olmeiros:

Luís Pedro Viana Condado de Moreira 25/5/2008

É vianense, Firmino Moreira da Cunha ou Luís Pedro Viana na alegria de brincar com nomes (palavras que nomeiam e criam a existência do ser) e apelidos que têm significado íntimo e próprio. Talvez gróvio com em A minha história:

No alvor profundo da esperança Sol que projeta a sombra dos olmeiros, Nos verdes campos onde a guerra terminou Encontro a gesta do povo vencedor. A luta será longa Não acabou com os ventos sibilantes, Rasgando o tempo as sílabas cortantes das espadas, Nas lutas perdidas, nas traições, nas vinganças Aparecem ainda os monstros adormecidos. As adormecidas lutas, à sombra dos olmeiros; Podem dar à gesta do povo vencedor Um destino, O maior, o verdadeiro.

Gróvios e Límios, Em território Galético Foram em esquecidos tempos Os meus lóios parentes ancestrais. Oh! As Fadas ou druidas construíram A lenda do rio Lethes E não a esqueci. Agora os doutores de Bolonha, Compostela e Coimbra me dizem Que sou Gróvio. Não renego, nada sei de Viana do Lima,

Luís Pedro Viana (Condado de Moreira) 9/9/2006

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Desta terra, destas gentes e, por sentimento, Sou límio por ter nascido aqui. (Sempre uma voz se levanta!) Alto! Diz minha irmã: podemos ter parentes

Em Grove, do lado de lá! De terra em terra com castelos cercados E batalhas vencidas de Contrasta até Silves Nasceu Portugal. Aqui ao norte com estas fundas raízes Ser Gróvio ou Límio tem nobreza e fidalguia. Se a história pode ser fantasia Eu Moreira de nome, Com Moreira conquistada E senhor de valentia Assim sou de título - Bis-conde, Bis-Conde de Moreira Pela graça de deus e das armas Da minha poesia. 1 de Novembro de 2013 (LPV) (dia de todos os homens santos)

Apresentação feita – ilustração de fim de ano para o Jornal de 2017 “As Artes entre as Letras” (Diretora Nassalete Miranda) , com referência ao património imaterial da UNESCO ; exposições várias: Galeria Vieira Portuense (individual, 2018), Forte S. João Batista da Foz, no Porto, na ARTEMAIO em Viana do Castelo, em coletivas no museu de Viana do Castelo, na Maia, em Vila Nova de Gaia, Vigo (Eixo Atlântico), Oropesa, com inúmeros trabalhos em coleções particulares e publicações de poesia no Jornal de Notícias, na Chiado Editora, nas coletâneas da Galeria Vieira Portuense, na Corpos Editora, na publicação vianense editada pela Vianafestas “A Falar de Viana”, na Fundação Dionísio em Águeda e outros trabalhos. É Luís Pedro Viana. É vianense. É português!

Abstract Luís Pedro Viana (pseudonym of Firmino Moreira da Cunha) was born in Viana do Castelo (20.6.1943). Electrical engineer and administrator, he was always active in his profession, but always in love with the arts. Now, in time of pause, he seeks new interiorities in an active nihilism, creative - painting and poetry. Key words: Luís Pedro Viana Resumé Luís Pedro Viana (pseudonyme de Firmino Moreira da Cunha) est né à Viana do Castelo à Rua Grande nº 20, le 20 juin 1943. Ingénieur et administrateur, il a toujours été actif au niveau profissionel, mais toujours amoureux des arts. Maintenant, en pause, il cherche de nouvelles intériorités dans un nihilisme actif, créatif, dans la peinture et dans la poésie. Mots-clés: Luís Pedro Viana

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5 de Outubro de 1143 O dia em que Portugal nasceu... Devido ao sucesso alcançado com o Concurso Escolar "O PRIMEIRO DE DEZEMBRO DE 1640" que decorreu no ano lectivo 2015/2016, a Real Associação de Viana do Castelo, arrancou no 1 de Março de 2018 com três concursos a nível escolar, previstos no plano de actividades para 2017, destinados aos alunos e professores do ensino básico (1.º, 2.º e 3.º ciclos escolaridade, e ensino secundário do “Distrito de Viana do Castelo”, cujo tema central é “5 DE OUTUBRO DE 1143 – O DIA EM QUE PORTUGAL NASCEU”. Neste sentido, no dia 1 de Março de 2017 a Real Associação de Viana do Castelo arrancou com três concursos a nível escolar, destinados aos alunos do 1.º, 2.º, 3.º Ciclos de Escolaridade e Ensino Secundário, e professores do “Distrito de Viana do Castelo”.

Concurso Para Ti”, podendo os concorrentes optar por trabalhos que poderão revestir a forma de texto (prosa ou poesia), desenho, pintura, escultura ou audiovisual. Também foi dirigido aos professores que leccionam no distrito de Viana do Castelo um concurso para a realização de um trabalho escrito sobre o tema: “Reflexões sobre...- o 5 de Outubro de 1143 – O dia em que Portugal nasceu”, com o máximo de 4 páginas, para incluir num livro a editar pela RAVC. Os trabalhos terão de ser obrigatoriamente originais e inéditos e deverão ser entregues na Biblioteca da Escola, ao cuidado do professor responsável, até ao dia 5 de Outubro de 2018. Os regulamentos completos destes concursos podem ser consultados nos seguintes links:

O tema central é “5 de Outubro de 1143 – O dia em que Portugal nasceu”.

- Viagem no tempo: http://bit.ly/2oPO1sf

Para o 1.º Ciclo o concurso intitula-se “Viagem no Tempo”, precisando apenas os alunos de completar a frase “O dia 5 de Outubro de 1143 foi importante para Portugal porque….”

- Um Concurso para Ti: http://bit.ly/2oPkfUd - Reflexões Sobre...: http://bit.ly/2oW5iza

No 2.º, 3.º ciclos e Secundário, o concurso chama-se “Um

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Assembleia Geral Ordinária da Real Associação de Viana do Castelo Realizou-se no passado dia 24 de Março a Assembleia Geral Ordinária da Real Associação de Viana do Castelo, presidida, por impedimento do seu presidente, pelo Dr. António Pedro Pereira de Lima, com a seguinte ordem de trabalhos: Apreciação e votação do Relatório e Contas; Apreciação e votação do Plano de Actividades e Orçamento e Outros assuntos de interesse para a Associação. O Relatório e Contas de 2017 bem como o Plano de Actividades para 2018 foram aprovados por unanimidade. O Conselho Fiscal propôs à assembleia um voto de louvor pelo “excelente desempenho que a direcção revelou, através das actividades desenvolvidas na prossecução dos objectivos da Real Associação”, voto este que submetido ao plenário foi aprovado por unanimidade. Do Plano de Actividades, destaca-se a dinamização do Centro de Estudos Adriano Xavier Cordeiro, promovendo a realização de iniciativas de carácter formativo, desenvolvendo acções de informação monárquica dirigidas ao público em geral, enquadradas num tema globalizador que, em 2018, é o “5 Cinco de Outubro de 1143”, denominadas:

escrito sobre o tema, com o máximo de 4 páginas, para incluir num livro a editar pela RAVC (o professor do/s aluno/s vencedores do/s concurso/s serão editados). Na Assembleia Geral ficaram aprovadas e calendarizadas as seguintes actividades: Acompanhamento dos alunos premiados nos Concursos “O Primeiro de Dezembro de 1640 – A Restauração da Independência de Portugal”, para o 1.º, 2.º e 3.º Ciclos de escolaridade, que decorreram nas escolas do Alto Minho, no ano lectivo 2015/16.

● Viagem no Tempo… 5 DE OUTUBRO DE 1143 – O DIA EM QUE PORTUGAL NASCEU dirigido aos alunos do 1º ciclo que terão de completar a frase “O dia 5 de Outubro de 1143 foi importante para Portugal porque...”. O primeiro classificado receberá uma conta Poupança Jovem, no valor de 200,00€; o segundo classificado receberá a importância de 100,00€ e terceiro classificado de 50,00€;

Estreitamento de relações com as escolas aderentes e patrocinadores do Concurso: Fundação D. Manuel II; Crédito Agrícola; Deutch Bank; Sociedade Histórica da Independência de Portugal, Minho Fumeiro e outras Instituições Associativas e Empresariais da Região.

● Um concurso para ti: “5 DE OUTUBRO DE 1143 – O DIA EM QUE PORTUGAL NASCEU” – dirigido aos alunos do ensino básico (do 2º e 3º ciclos) e ensino Secundário do distrito de Viana do Castelo para apresentação de trabalhos (individuais ou em grupo) sobre o tema. O primeiro classificado receberá uma conta poupança/educação, no valor de 500,00€; o segundo classificado uma conta poupança no valor de 300,00 € e o terceiro classificado uma conta poupança no valor de 150,00 €;

Organização de workshops e outros eventos a agendar futuramente, na Casa da Terra em Ponte de Lima, em parceria com a empresa Minho Fumeiro – “Ementas Reais”. ● 27 de Abril: Reais conversas com… consiste em encontros informais com personalidades de relevo nacional para lembrar tradições, momentos históricos e a sua relação com a actualidade. Depois do sucesso da iniciativa “A Feira de Ponte”, encontra-se já agendada a próxima actividade, que terá lugar na Ponte da Barca, pelas 21h00m. Reais Conversas com...” Eng.º António Borges

● “Reflexões sobre… O 5 de Outubro de 1143” - dirigido aos professores (preferencialmente de História) que leccionam no distrito de Viana do Castelo pedindo a realização de um trabalho 31


Taveira, Eng.º António de Mattos e Silva e Eng.º José Mattos e Silva, o tema é: “Fernão de Magalhães, as Terras da Nóbrega e outras histórias...”.

como: decoração e ambientação, exposição de armas de guerra e instrumentos de tortura, acampamento militar, animação, música e artes circenses, ceia e cortejo medieval, parque infantil e um mercado medieval com produtos da época, que estarão a cargo da empresa Criseya, com sede em Lamego.

● Maio/Junho: Roteiros pelo Alto-Minho: Consiste em visitas a locais e monumentos históricos do Alto Minho, aberta aos associados e simpatizantes, bastando para tanto uma prévia inscrição. Na sequência do primeiro “Roteiro”: “Circuito Mariano das Terras da Nóbrega”, que teve lugar no dia 7 de Outubro de 2017, nos concelhos da Ponte da Barca e Vila Verde, e que se traduziu num rotundo sucesso, a Real Associação de Viana do Castelo vai continuar com a iniciativa, desta vez no concelho de Monção.

• Conferência sobre a crise de 1383-1385 e a importância do encontro entre D. João I e o Duque de Lencastre para a História de Portugal; ● Setembro – Comemoração do 28.º Aniversário da Real Associação de Viana do Castelo - Iniciativa evocativa do 28.º Aniversário da Real Associação de Viana do Castelo, que se celebra a 7 de Setembro de 2018 (local e programa a definir oportunamente);

● Julho, dia 2 - Evocação do 85.º Aniversário da Morte de El-rei D. Manuel II;

● Novembro, dia 30 – Organização do “Jantar Conjurados” (local e programa a definir oportunamente);

● Julho, dia 6/7: II Torneio de Ténis “Portugal Real 100% Alto Minho” (Maratona Nocturna).

dos

● Novembro/Dezembro - Edição das intervenções no Jantar dos Conjurados 2014, “A Restauração de 1640 e a Independência de Portugal e os seus reflexos em Ponte de Lima” do Dr. José Aníbal Marinho Gomes, “Para uma releitura dos «papéis» justificativos da Restauração”, do Prof. Dr. Pedro Vilas Boas Tavares.

● Julho, dia 7: Arraial Minhoto da Real Associação de Viana do Castelo, local a definir. ● Agosto, dias 10, 11 e 12: 3ª Edição do “Ponte de Mouro Medieval”, Monção. Esta iniciativa, organizada em conjunto com o Município de Monção e a Associação Buraca da Moura, prevê a integração dos seguintes eventos:

Aprovou-se o reforço da dinamização da página da internet e redes sociais ao longo do ano, no intuito de divulgar, promover e defender a instituição real, corporizada na Coroa e nas tradições de Portugal.

• Para além da recriação do encontro histórico entre D. João I e João de Gante, Duque de Lencastre, no lugar de Ponte do Mouro, Freguesia de Barbeita, Concelho de Monção, será montada toda uma cenografia medieval que envolverá diferentes contextos 32


IX Assembleia-Geral ordinária da JMP

No passado sábado, dia 24 de Março, realizou-se na Sede da Junta deFreguesia de Cascais, a IX AssembleiaGeral ordinária da Juventude Monárquica Portuguesa.

para 2018 gerou alguma controvérsia, devido ao modus operando da Direção Nacional, que incentiva e responsabiliza as juventudes locais por grande parte da dinamização do calendário. Este modelo visa proporcionar uma maior liberdade à DN, libertando-a, canalizando esse tempo para uma actividade política mais activa. Foi ainda discutida uma moção encabeçado pela Dra. Maria do Carmo Pinheiro Torres, na qual se via refletida a problemática dos Incêndios do passado ano e uma possível plantação de árvores, em parceira com uma empresa de cariz solidário. Após o encerramento dos trabalhos, seguiu-se Almoço de Confraternização no Restaurante Tasca da Vila.

Os trabalhos iniciaram-se pelas 11:00, com a abertura pela Presidente da Mesa da AssembleiaGe ra l , Dra . Maria do Carmo Pinheiro Torres. Seguiu-se a apresentação, discussão e votação da Acta da VIII Assembleia-Geral, a qual foi aprovada por unanimidade.

Pela tarde debateu-se sobre a temática “O papel dos jovens monárquicos na sociedade”, com a Dra. Teresa Côrte-Real, Jorge Costa Rosa, Manuel Barata de Tovar, Maria do Carmo Pinheiro Torres, com uma participação muito ativa, num discurso aberto e revelando um espírito de cooperação. A JMP agradece a todos os Associados e Amigos por terem participado neste importante momento. Viva o Rei! Viva Portugal!

Posteriormente, a Direção Nacional deu Boas-vindas, na pessoa do secretario-geral, Dr. André Lopes Cardoso. Apresentou ainda o relatório final de Actividades, revelando a diversidade de eventos nos quais a JMP participou activamente, tendo sido aprovado por unanimidade. Quanto ao Relatório final de contas, foi apresentado pelo VicePresidente, Mestre Nuno de Albuquerque Gaspar, de maneira clara e evidente , sendo felicitada a Tesoureira, Dra. Margarida Sarreira Amaro pelo esforço, dedicação e presporiedade que deu à JMP. O parecer do Conselho Fiscal foi positivo, tendo sido aprovado. A Apresentação do Programa de Actividades e Orçamento 33


Reis de Portugal D. Sebastião Nascimento 20 de Janeiro de 1554, Lisboa Morte 4 de Agosto de 1578 (24 anos), Alcácer-Quibir, Marrocos Reinado 11 de Junho de 1557 a 4 de Agosto de 1578 Dinastia Avis Cognome O “Desejado” Títulos, estilos e honrarias “Sua Alteza Real, o Príncipe Herdeiro de Portugal” (20 de Janeiro de 1554 – 11 de Junho de 1557) “Sua Majestade, o Rei” (11 de Junho de 1557 – 4 de Agosto de 1578) O estilo oficial de D. Sebastião como Rei era: “Pela Graça de Deus, Sebastião I, Rei de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, Senhor da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc.” Como Rei de Portugal, foi Grão-Mestre das seguintes Ordens Ordem dos Cavaleiros de Nosso Senhor Jesus Cristo Ordem de São Bento de Avis Antiga, Nobilíssima e Esclarecida Ordem de Sant'Iago da Espada Antiga e Muito Nobre Ordem da Torre e Espada

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Pai D. João Manuel, Príncipe de Portugal (Évora, 3 de Junho de 1537 — Lisboa, 2 de Janeiro de 1554, foi proclamado herdeiro da Coroa. Dezoito dias após da sua morte nasceu D. Sebastião, que sucedeu no trono ao seu avô D. João III Mãe D. Joana da Áustria, infanta espanhola, arquiduquesa de Áustria e Princesa consorte de Portugal (Madrid, 27 de Junho de 1536 — El Escorial, 7 de Setembro de 1573), quarta filha do imperador Carlos V (Carlos I de Espanha) e de D. Isabel de Portugal, irmã de D. João III D. Sebastião em pessoa «de meia estatura, dobrado de membros, o rosto alvo, e córado com algumas sardas, o cabello ruivo, os olhos azues, e pequenos, e testa estreita, a bocca grossa, e mui corada. […] Era colerico, e sem nenhum temor» (Brito, p. 103). «de mediana estatura, branco, e louro, olhos azues, de aspecto magestoso, com admiravel proporçaõ de partes, de espíritos verdadeiramente reaes, porque nada vio de que se admirasse, coraçaõ ousado, e destimido, com tantas forças, que o fizeram temerario [...] tivera huma natural repugnancia ao estado conjugal, o que com sentimento ouviaõ os seus Vassalos», (Sousa, III, pp. 353 e 369)

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POETAS MONÁRQUICOS PORTUGUESES

António Pinheiro Caldas Um poeta monárquico na história honrosa da literatura portuense! Abstract

Résumé

António Pinheiro Caldas Guimarães was born November 12 th 1824 in the parish of Sé in the city of Porto and died on June 16 th 1877 in the parish of Nevogilde, also in the same city. He was the son of Bento Pinheiro Caldas Guimarães and Júlia Cândida Felicidade.

António Pinheiro Caldas Guimarães est né à la paroisse de Sé, à Porto, le 12 novembre 1824. Il est décédé dans la paroisse de Nevogilde, à Porto, le 16 juin 1877. Il était fils de Bento Pinheiro

Merchant, writer and an ultra-romantic poet, he collaborated in magazines, such as “Miscelânea Poética”, “A Grinalda” and, together with Xavier de Novaes, founded the magazine “O Bardo”.

Caldas Guimarães et de Júlia Cândida Felicidade. Marchand, écrivain et poète ultra- romantique, il a collaboré aux magazines “Miscelânea Poética”, “A Grinalda” et, avec Xavier de Novaes, il a fondé la revue “O Bardo”.

His verses in “Poesias” came to light when they were published in book in 1854.

Ses poèmes, Poesias, ont été publiés, la première fois, en 1854.

Key words: writer, poet, ultra-romantic, porto

Mots-clés: écrivain, poète, ultra-romantique, porto

«…Era aquele local, por assim dizer, o nosso templo das musas, o grémio literário dos jovens d’aquela época... E, agora, se alongo a vista, se olho em torno de mim, nem um só encontro de tantos que ali via...». António Pinheiro Caldas

António Pinheiro Caldas, de seu nome completo António Pinheiro Caldas Guimarães, filho de Bento Pinheiro Caldas Guimarães (nascido e baptizado na freguesia de São Salvador de Tagilde, no concelho de Guimarães) e de Júlia Cândida Felicidade (natural da freguesia de São Nicolau, no Porto), nasceu na freguesia da Sé, no Porto, em 12 de Novembro 1824 e foi baptizado aos 21 dias do mesmo mês e ano. António Pinheiro Caldas casou-se na igreja de Nossa Senhora da Assunção, no Porto, em 4 de Maio de 1850, com Cândida Carolina Mourão Caldas, de quem teve as seguintes filhas: Maria, nascida no Porto em 29 de Julho de 1854, e no Porto falecida em 6 de Dezembro de 1856; Júlia, nascida no Porto em 25 de Abril de 1852, e falecida em S. João da Foz no dia 6 de Agosto de 1863; e, Amélia, nascida no Porto em 4 de Abril de 1856, e falecida em S. Roque da Lameira no dia 7 de Junho de 1864. No entanto, sobreviveu-lhe uma quarta filha, de seu nome Cândida Carolina Mourão Caldas,

que nasceu na freguesia de Nossa Senhora da Assunção da Sé (Porto) a 27 de Fevereiro de 1851 e foi baptizada na mesma freguesia a 9 de Março do mesmo ano. Casou-se na freguesia de Santo Ildefonso (Porto) a 22 de Junho de 1872 com Narcizo Martins da Silva Mattos (natural da freguesia de São João Baptista de Areas de Villar, no concelho de Barcelos). Cândida Carolina faleceu na freguesia de Sam Veríssimo de Paranhos (Porto) a 22 de Maio de 1883, com apenas 32 anos de idade. Deixou geração. Segundo Júlio Amorim de Carvalho (trineto do poeta), António Pinheiro Caldas “teve uma existência movimentada, com uma primeira fase de indiscutível prosperidade financeira, sendo o período último da sua vida marcado por inconsoláveis dramas familiares e sérias dificuldades económicas”. Pinheiro Caldas tinha uma loja de fazendas na Rua das Flores, e, por fim, como adiante se verá, proprietário de uma tabacaria, preenchendo as horas de ócio com devaneios poéticos, alcançando alguma notoriedade. Colaborou na Miscelânea Poética, entre 1851 e 1852; em A Grinalda, 1857; e O Bardo, que muitos atribuem, erradamente, apenas a Faustino Xavier Novaes. A comprovar tal imprecisão, tomamos em linha de conta o que António Pinheiro Caldas escreveu em nota a um seu poema de exaltação à referida folha: Lembrei-me um dia de criar no Porto um jornal de poesias. Comuniquei este pensamento ao Sr. F. X. De Novaes, e, aprovando-o ele, ambos nós o levamos a efeito. Dei36


lhe o título de «Bardo» e foi então que compus essa poesia, a qual publiquei no primeiro número do nosso jornal. Colaborámo-lo ambos durante os primeiros doze meses da sua publicação; depois, abandonei-o ao Sr. Novaes, o qual publicou mais dois anos, porém somente debaixo da sua direcção. A propósito deste, por ele designado, “jornal de poesias”, escreveu um belo poema:

campestres, dava para perceber, de certa forma, o que seriam os anos não menos esplendorosos de António Pinheiro Caldas, altura em que casara e publicara a 1.ª edição do seu livro “Poesias” (1854). Pelo facto de sentirmos um profundo apego à personalidade de António Pinheiro Caldas, e porque não bastasse fazer o estudo do seu percurso poético para perceber que a dimensão profética dos poetas d’A Grinalda, a dita geração romântica a que pertenceu e da qual faziam parte Soares de Passos, Faustino Xavier de Novaes, Alexandre Braga, Nogueira Lima, entre outros, encerrava uma misteriosa e enigmática alquimia. Anotações várias, por nós outrora iniciadas, apontam para o destro e febril poetar, arte que fazia estremecer de paixão, ao tempo, meninas sentimentais. No seu estabelecimento de fazendas, à Rua das Flores, António Pinheiro Caldas – segundo quem o conheceu – poetou febrilmente, cantando tudo quanto mais directamente inflamava o seu estro. Depois do aparente sucesso com a 1.ª edição das suas «Poesias», Caldas, abandona os panos, reimprime em luxuosa edição as suas poesias, e parte para Brasil. Em 1869, seguindo o exemplo do seu amigo Faustino Xavier de Novais, embarcou para o Brasil, acompanhado de 8000 exemplares das suas Poesias, para lá os negociar com proveito. Tratava-se da segunda edição (1864) do seu livro de “Poesias”. A importância desta revelação vem-nos pelo facto de sentirmos que este autor se encontrava arredado de antologias e dicionários contemporâneos, aumentando a nossa indignação, a partir do momento em que viemos a constatar a sua proximidade e vivências literárias com Camilo Castelo Branco, Soares de Passos, Faustino Xavier de Novais, Alexandre Braga, Augusto Pereira Soromenho, António Coelho Lousada, Joaquim Simões da Silva Ferraz, entre outros vultos da época. Aquando da sua insistente teimosia de tomar a peugadas de Faustino Xavier de Novais, rumando com os livros até ao Brasil, onde o sinónimo de poesia não era loucura, ele mesmo faz transparecer alguma melancolia, quando escreve: Camilo Castelo Branco isolou-se numa pequena vila da formosa província do Minho; Augusto Pereira Soromenho atravessa, talvez, a estas horas as montanhosas terras da Galiza; António Coelho Lousada há muito que dorme o seu último sono, esquecido, em cova ignorada, no cemitério — o Prado do Repouso; Joaquim Simões da Silva Ferraz fixou a sua residência em Lisboa, aonde há muito tempo vive. E eu... eu daqui a dois ou três meses talvez me perca, errante, nas florestas virgens da América! Que voltas dá o mundo no pequeno espaço de treze anos! Camilo Castelo Branco escreveu, em 15 de Setembro de 1854, a propósito de António Pinheiro Caldas: Verdadeiro poeta é, pois, o sr. Caldas. Para lhe ser devido este título não seria preciso que o espírito, a graça, o sentimento, a correcção, e a intuição do belo porfiassem tanto em formar e colorir as suas poesias... — sendo que António Pinheiro Caldas manifesta a sua gratidão da seguinte forma: É como já disse, esta minha primeira produção poética. A pequena glória que hoje posso ter em fazer versos devo-a, ingenuamente o confesso, ao Sr. Camilo Castelo Branco. Foi este distinto literato, o primeiro romancista português e um dos nossos melhores poetas, quem muitas vezes corrigiu os meus versos, quem sempre me dispensou generosa animação, e quem, por assim dizer, me afoitou a prosseguir na espinhosa vereda que eu trilhava a medo... — escreveu-o pouco antes de embarcar para o Brasil. Pouco tempo se demorou, todavia. Regressou passados dois meses, doente e desiludido pelo frio acolhimento que lhe fizeram, deixando, porém, como lembrança, a já folha volante – As Novas Eras (Pernambuco, 1869). Tal como havia acontecido com seu amigo Faustino Xavier de Novaes – que, depois de viver onze anos no

Altivo surge, com lira em punho, Mimoso BARDO, que se eleva aos céus... Nas brancas asas das canções divinas, Que a mente cria quando pensa em Deus; Em Deus que o génio lhe fadou, na terra, Ardente génio que eterniza heróis; Que exalta os nomes dos que outrora foram Do luso povo luminosos sóis. E o BARDO surge, com a lira em punho, E a mente acesa de um febril ardor... É fogo lento que se torna em chamas, Se meiga virgem lhe sorri de amor. Amor de vate... Que firmeza encerra!... Amor tão puro não se encontra aí Por entre a turba de pensar maldito, Que, sempre insana, só moteja e ri. E o BARDO surge, com lira em punho, Cantando os feitos, que ainda assombro dão, Das bravas gentes dessas eras bravas, Que dormem hoje no solar do chão. E a descrição feita por Júlio Dinis no seu livro “Serões da Província” reproduziria fielmente o estado de concentração no qual o espírito não é distraído pelas percepções e permanece sem vacilar sobre o objecto da sua meditação: – …No Porto trabalhavam com azáfama as modistas, os alfaiates, os sapateiros, as luveiras e os doceiros; enchiam-se a deitar por fora as hospedarias; espanavam-se, como em dia de procissão, as varandas, a cujos pacíficos arachnides se declarava guerra de extermínio; lavavam-se as vidraças, caiavam-se as fachadas, e, graças a esta limpeza geral que se fazia nas casas, os passeios tornavam-se intransitáveis. Ruas e largos eram calçados com uma actividade sem análoga nos fastos do município. As sessões extraordinárias do excelentíssimo corpo camarário não permitiam um momento de repouso aos preocupados edis. (…) Na rua das Flores e à entrada das Hortas erguiam-se arcos triunfais de madeira e lona e de uma arquitectura problemática; no cais da Ribeira construíra-se um pavilhão de duvidosa elegância; no centro da praça de D. Pedro terminava-se um obelisco, diversamente comentado pelos cadeirinhas do passeio do poente, pelos políticos do sul, pelos vigias e empregados municipais do norte, e do lado do nascente pelos grupos de elegantes, e literatos, que então estacionavam nas imediações do Guichard, aquele café que há-de merecer uma menção honrosa na história da literatura portuense, se alguém se lembrar de a escrever um dia... – reproduzindo o Porto dos anos cinquenta, “(re) perspectivando” ao mesmo tempo os vinte anos que mediaram a luta pela liberdade e a época de esplendor dos “bons retiros” 37


Brasil, vendo “correr o tempo sem melhorar a fortuna”, acaba por morrer numa grande depressão moral e material –, a frustração convencê-lo-ia a regressar a Portugal, desiludido e arruinado. É na perspectiva dessa desilusão que, convencido de que a deusa da poesia não o bafejava, abriu uma tabacaria na Rua do Bispo (hoje Rua de D. Pedro), onde se reuniam, circunstancialmente, os literatos da época. Era lá que lamuriavam os seus brados, consagrados às prodigiosas ninfas, levados pela melancolia e pelo alquebramento das suas veias e inspirações proféticas. Com mágoa e dor, António Pinheiro Caldas vê os seus livros amontoados ao canto da loja – a valerem menos que os cigarros de Xabregas –, como que o seu testemunho se permitisse à maldição de “vidas passadas”. O seu amigo Faustino Xavier de Novaes morre em 1869, pouco depois de, na carta que escrevera a Camilo Castelo Branco, datada do Rio de Janeiro, de 23 de Outubro de 1866, se interpretar na personificação do desalento e da angústia, ao retratar-se na “vida cruel” que aí levara. Parece que ambos haviam percorrido o mesmo trilho e abraçado o mesmo “destino”.

Na face, que alteavas, INNOCENTE, Quantas injúrias há, quantas infâmias, Repassadas de horror... E 'amargura para ti — que te apontaram Os íngremes degraus Dum cadafalso negro e ensanguentado... E os troncos dos monarcas decepados... E as terras do exílio... e mil doestos Nos mais subidos graus! De amargura, também, para nós, SENHORA, Que, em lutas fratricidas, Cruzando os duros ferros, cintilantes, Cem batalhas pelejamos sanguinosas, Invocando o teu nome e a liberdade, Hoje, ilusões perdidas... Mas a morte envolveu-te em negro manto... Já RAINHA não és! Do régio Trono te arrojou à campa... Agora, posso eu já sagrar-te um hino, Apontar-te MODELO DE VIRTUDES! Curvando-me a teus pés.

Um facto deveras revelador da sua costela e irreverência monárquica, remete-nos para a ocasião da visita ao Porto de D. Luíz I, durante uma récita de Gala, quando um poeta portuense declamou no palco uns versos molestos para o monarca, e Pinheiro Caldas, indignado, da plateia, levantou-se e improvisou uma longa e vibrante ode que entusiasmou a assistência e lhe deu enorme popularidade. Outro, de não menos importância, liga-o à Rainha D. Maria II, considerada das rainhas mais belas da Europa, que, aquando da sua morte (1853), motivaria a sua inspiração de vate das ninfas do Douro. Com o título “Saudades”, assim recordava ele a imprevista morte da mesma:

Este poema, escrito a 19 de Novembro de 1853, quatro dias após a morte da soberana, vítima do seu décimo primeiro parto, completaria a indulgência dos sentidos, já que anos mais tarde, aquando da 2.ª edição das suas «Poesias» (1864), António Pinheiro Caldas se confessa influenciado pelo reflexo das turbações contínuas da época, em que as paixões excitadas falavam mais alto do que a razão, e que tanto assinalaram o reinado dessa Augusta e infeliz Soberana. Se o fizesse naquela altura, não escreveria assim. António Pinheiro Caldas faleceu na freguesia de Sam Miguel de Nevogilde, concelho de Bouças (Porto), em 15 de Junho de 1877 e foi a sepultar no Cemitério de Agramonte, em Jazigo de Família que mandou erigir na Secção Privativa da Ordem do Carmo, de cuja respeitável Ordem ele e a mulher eram irmãos. No primeiro contacto com a última morada de António Pinheiro Caldas, revelar-se-ia no nosso subconsciente a memória escrita do ilustre jornalista, romancista, crítico e bibliófilo João Grave (18721934), no Diário de Notícias: «Em 1824, com efeito, nasceu neste bom burgo portuense António Pinheiro Caldas. Desde muito novo revelou certas qualidades literárias, que não lhe deram uma estátua nem eternizaram o seu nome nas maravilhosas alegorias dos bronzes enérgicos e dos mármores simbólicos e brunidos, resplandecendo à dourada luz do sol, mas que lhe conquistaram uma vaga aura de celebridade. António Pinheiro Caldas compunha versos no gosto da época. Admirava os árcades, conversava com os silvanos, com as ninfas, com as dríades e, como pastor da poesia, narrava os seus idílios pelas pradarias como as inocentes zagalas de mãos puras e olhos de funda saudade, cantando pelas relvas frescas atrás dos vitelos brancos. Também metia em endecassílabos e em redondilhas sonoras e de ligeiro ritmo as abelhas do Hymeto, os astros e as constelações que nas doces

RAINHA! Eu vi-te, há pouco, entre delírio De cega adoração! Segui-te como a sombra segue o corpo; E, ante a Filha do Herói, ficando mudo, Nessa própria mudez dei-te o mais cândido Amor do coração! E este amor era um hino majestoso, Que o mundo nunca ouviu, Nem tu ouviste do alto do teu Trono! — O canto, que inspirara a MAJESTADE, Abafei-o nos seios da minha alma; Jamais à luz surgiu. Mas hoje, que não podes já pagar-mo, Nem com um riso sequer; Hoje, que afim vergaste a fronte á morte, Hás de ouvi-lo, RAINHA enobrecida, ESPOSA a mais leal, MÃE extremosa, Desgraçada mulher! Ai! Desgraçada, sim, que o teu reinado Foi de amargura e dor! De amargura para ti — que te cuspiram 38


noites de luar as mulheres sentimentais contemplavam em êxtasi, entre suspiros e ansiedades, do alto dos seus balcões. Nos outeiros dos conventos trovava com esplendor e facilidade, pedia audazmente o mote às freiras, batendo as palmas e deixando ondular à aragem a cabeleira longa e revolta. As suas composições líricas deram-lhe entrada nos meios literários e concorreram, talvez, para o tornar suspeito dos burgueses de barba de passa-piolho que, com o seu bom senso, mantiveram sempre uma certa desconfiança pelos vagabundos das letras, estranha gente que se exalava em cânticos à beleza e que andava constantemente pelas ruas ou pelos livros a oferecer beijos às graças femininas e suaves que encontrava no seu caminho. António Pinheiro Caldas, contudo, não vivia inteiramente fora das realidades deste mundo banal. Montara a sua tenda de artista em Castália, onde escutava o murmúrio das límpidas águas correntes; fazia digressões pelos Campos Elísios, nas ramagens que seguiam a música fluente da lira de Orfeu; visitava as Musas do Monte Ida, levando-lhes coroas de flores orvalhadas: – mas, nas horas reveladoras em que o seu espírito acordavam as necessidades grosseiras mas práticas da existência, descia da nuvem de ouro em que viajava pelos espaços livres e luminosos às tristezas terrestres; e, como não era rico e precisava ganhar o seu pão, instalou-se com uma alfaiataria e uma loja de panos. Era sobre o balcão, nos momentos alciónicos de inspiração ardente, que Pinheiro Caldas fazia vibrar as cordas do seu alaúde. O poeta, porém, era um mau homem de negócios. De tanto ascender às regiões siderais nas irisadas, cintilantes asas do génio, de tanto perscrutar os mais subtis sentimentos das almas e os mistérios dos mundos secretos, não compreendia as fúteis coisas terrenas, e por isso mesmo faliu como comerciante, tendo de negociar uma concordata com os credores... Depois da falência como mercador e algibebe, longe de desanimar, continuou as suas divagações e as suas confidências com a poesia e quis novamente tentar a fortuna – porque os bardos já nesta era se não alimentavam de ambrosia nem as deusas propícias trazer-lhe, em ânforas de cristal e prata, o precioso néctar. Estabeleceu-se então com um estanco na Rua do Bispo (mais tarde Rua de S. Pedro e hoje rua Elias Garcia), e depois de haver ensinado o Porto a vestir-se, ensinou-o a fumar. Nicot teve, neste vate, um dos seus mais ilustres colaboradores!

O estanco de Pinheiro Caldas, sumptuosamente montado, era, além duma tabacaria opulenta, uma academia literária, e ali, gorgeavam, noite e dia, entre a fumarada acre e espessa dos charutos, os rouxinóis das referidas balças da Arte. Na Rua do Bispo dir-se-ia correrem constantemente as claras águas da fonte de Hypocrene – e o sussurro dos versos em louvor da beleza das mulheres coroadas de estrelas tinha mais doçura do que o murmúrio das divindades reunidas nas ilhas gregas, à beiras das grutas sagradas, em louvor da perfeição dos mortais que, como Ulisses, à virilidade e à força aliavam a formosura e a subtileza. A tabacaria popularizou mais Pinheiro Caldas do que os versos. Logo que começou a vender os cigarros do Contrato, captou as simpatias difíceis da cidade – essas simpatias que sempre lhe foram tenazmente negadas como burilador de estrofes e joalheiro de rimas, muito embora os seus livros merecessem as honras duma segunda edição; e foi neste momento que na sua vida acidentada ocorreu um facto estranho – o facto que me serve de tema para esta carta. Efectivamente, Pinheiro Caldas, numas eleições municipais, foi escolhido pelo sufrágio para vereador, sendo eleito por uma considerável maioria. Quis, porém, a sua má sorte – essa sorte enigmática que se não cansa de perseguir os que dentro de si trazem um ideal de ternura e perfeição – que da lista vencedora fizessem parte outros homens pertencentes às baixas camadas populares pelo nascimento, mas que o comércio enriquecera, ofertando-lhes, com o ouro, as cobiçadas grandezas de um título nobiliárquico. Notem que Pinheiro Caldas recebera, na mocidade, uma educação notável e cuidada, que era erudito e possuía uma vasta cultura mental, convivendo, por isso, com as famílias fidalgas, com os representantes da nobreza; no entanto, deixara atrás de si, não os reluzentes sulcos dourados de Parsifal, mas uma loja de algibebe, um volume de líricas e um estanco – passado deprimente e inferior com que não podiam transigir os barões recentes e intolerantes, guardando ciumentamente a alvura imaculada dos seus pergaminhos...» Estava feita a retrospectiva do rosário de uma vida. Era ali que também jazia a matéria de seu renomado bisneto, porque ilustre poeta e filósofo José Maria Caldas de Matos Amorim de Carvalho, que nessa Invicta cidade do Douro nasceu a 17 de Janeiro de 1904, e que na cidade-luz de Paris desencarnara a 15 de Abril de 1976. Porfírio Pereira da Silva 39

Nota: A Direcção da Real Associação de Viana do Castelo, com mandato para o triénio 20172019, cumprimenta V. Exas, desejando desde já a continuação de um bom ano de 2018. A Real Associação de Viana do Castelo tem um plano de actividades e orçamento para 2018, aprovado em Assembleia Geral, que inclui diversas iniciativas relacionadas com o 5 de Outubro de 1143 (concursos escolares, etc.) e que se pretende sejam executadas com a participação de todos os associados, simpatizantes e entidades que entendam colaborar, com o intuito de contribuir e ajudar a dinamizar o ideal Monárquico que todos nós abraçamos convictamente. Atendendo à necessidade imperiosa que temos em angariar recursos financeiros necessários ao normal funcionamento da Real Associação, e tendo em conta que uma das competências da Direcção é a cobrança de quotas, eu, em nome da Direcção e na qualidade de Vice-Presidente, venho por este meio solicitar a V. Exas. a regularização da QUOTA DE ASSOCIADO REFERENTE ao ano de 2018, no valor de 20,00 € (vinte euros), preferencialmente por transferência bancária, para:

Titular da Conta: Real Associação de Viana do Castelo Entidade bancária: Caixa de Crédito Agrícola Agência: Ponte de Lima IBAN: PT 50 0045 1427 40026139242 47 Número de conta: 1427 40026139242 SWIFT: CCCMPTPL

Caso seja possível, pede-se o favor de enviarem por e-mail (real.associacao.viana@gmail.com e pedrogiestal@gmail.com) informação da regularização da quota (ex: comprovativo), após o que procederemos de imediato à emissão do recibo de liquidação. Cordiais cumprimentos monárquicas,

e

saudações

Pedro Giestal Vice-Presidente da RAVC


Fernando Pessoa e a Ideia Monárquica É por demais evidente que Fernando Pessoa esperava obter através da sua Monarquia científica a ressurreição de Portugal. À Monarquia ia buscar o espírito de autoridade e a continuidade, e rodeando o monarca das técnicas e de organizações científicas tinha a esperança de libertar os portugueses das dificuldades materiais (que ele, aliás, tão duramente sentia). A técnica, a monarquia de engenheiros, seria como que a arma essencial do poder político. Sob a protecção do manto Real o sábio, o cientista, o investigador, o engenheiro, o economista e o sociólogo estariam em condições óptimas para dirigir a Sociedade. Infelizmente a tecnocracia faliu e mesmo a que se pudesse vir a estabelecer sob o moderador manto régio não escaparia, por certo, a tão desolador resultado. É que hoje está plenamente provado que a natureza do homem é Infinitamente mais rica e que as dificuldades materiais não esgotam, de forma alguma, as limitações humanas. Berdiaeff escreveu algures: «A técnica representa o último amor do homem que está prestes sob a influência desse amor, a modificar a sua própria imagem». Mas hoje está plenamente provado, o que ainda não era tão evidente nos tempos de Fernando Pessoa, que numa tecnocracia, quer monárquica quer republicana, esta última bem mais perigosa e nefasta pois que nela não se exerce o benéfico poder moderador do Rei, que todos os sonhadores, que sejam poetas ou até mesmo Santos, deixam de ter lugar em semelhante Sociedade. Daí que Fernando Pessoa estivesse condenado a ser uma das primeiras vítimas. Hoje estou certo que Fernando Pessoa estaria bem convicto que não merece a pena sacrificar valores estéticos morais e religiosos, para se alcançar um maior bem-estar material. Mas Fernando Pessoa afigurava-se-lhe então, que a única forma de se libertar da «Oligarquia das

Bestas», que tanto o traumatizava, era através da implantação de uma Monarquia científica: mas claro que sonhava com uma Monarquia Tradicional em que os valores religiosos, morais, espiritualistas e humanistas fossem, plenamente, respeitados. Claro que a Monarquia científica com que sonhava era capaz de nos brindar com o Quinto Império, era uma Monarquia de hierarquia funcional de mérito e obedecendo a uma disciplina livremente aceite - hierarquia inteiramente aberta a todas as classes e nunca deixando que o país Ilegal se colocasse de forma abismal em relação ao país real, como com a «Oligarquia das Bestas» sucedia. Mais entendia Fernando Pessoa que a Monarquia era o regime mais propício a que, rapidamente e em força, se tomasse possível proceder à selecção permanente das elites e dos quadros e, precisamente por isso, é que queria uma Monarquia científica. E nessa ingente tarefa as células sociais espontâneas - os municípios, as associações profissionais deveriam ser chamados a desempenhar papel de invulgar relevo. Pois era este um dos pontos que maior preocupação e cuida, dos mereciam a Fernando Pessoa, que se dedicava a laboriosos estudos no sentido de dar base viável à Monarquia com que sonhava. Cheguei a ouvir na época e não sei se correspondia à verdade dos factos, que a Constituição de Sldónio Pais, que implanta o regime presidencialista em Portugal, havia sido gizada por Fernando Pessoa e que mais tarde (isto passava-se em 1932 ou 1933) Fernando Pessoa andava muito atarefado a gizar uma constituição para a sua Monarquia Cientifica. Se tal o fez deve ter sido encontrado na sua Arca sem fundo. ——Eng. F. Peixoto Bourbon in Consciência Nacional, n.º 118, Outubro de 1985, pág. 1 e 2.

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Real Gazeta do Alto Minho

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Real Associação de Viana do Castelo

PERIODICIDADE: Trimestral

DIRECTOR: José Aníbal Marinho Gomes REDACTOR: Porfírio Silva WEB:

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