um quase-retrato de uma infânc ia roubada
um quase-retrato de uma infância roubada
Rubervam Du Nascimento | Sérgio Carvalho
Rubervam Du Nascimento | Sérgio Carvalho
um quase-retrato de uma infância roubada
Rubervam Du Nascimento | SĂŠrgio Carvalho
Reivindico a infância de todas as crianças e lhes dou o direito de brincar
Meu avô era representante comercial, daqueles que andavam a cavalo pelo interior, vendendo para quitandeiros, bodegueiros, atacadistas, e por aí adiante. Morávamos em uma vila de vinte casas. Meu avô, meu pai, todos remediados em uma classe média baixa pouco acima da linha de pobreza. Recordo-me que parte do dia estudava em uma escola pública e noutra brincava com os outros meninos da vila. Adorava quando meu avô chegava de viagem com caixas vazias de madeira com o que construía carrinhos de mão. Alguns pregos, uma tampa de lata de leite em pó, um martelo, e pronto. Assim vivi durante anos, com pouco dinheiro, mas com muita liberdade e com o que de mais precioso existia: a minha infância. Ocupar crianças com responsabilidades de adultos se não só lhes retira a infância, mas as torna crescidas problemáticas, porque perdido o elo indispensável à maturidade. Não me escuso de admitir as lesões decorrentes do trabalho precoce, das mortes precoces em decorrência desse trabalho. Mas, sobretudo, olho para mim mesmo e me vejo profundamente transtornado se perdida fosse a minha infância. A falta de tempo para brincar, e simplesmente brincar, o distanciamento das famílias não pode ter outro resultado exceto o impacto negativo sobre a personalidade infantil. Crianças empobrecidas
da sociedade eternamente, obrigadas ou aliciadas ao trabalho antes da estação própria dos trabalhadores. Herdeiras da falta de qualificação, do analfabetismo, das deficiências físicas que bem poderiam surgir mais tarde. Fui um filho pobre, mas naquele tempo essa situação não me impôs o trabalho. De alguma forma essa tragédia já deveria estar erradicada, e que não mais se dependesse do trabalho infantil para reforçar o poder de compras das famílias, quando não o fazem forçadas a trabalharem de graça. Reivindico a infância de todas as crianças e lhes dou o direito de brincar. Dou a cada adulto salário suficiente para que o sustento das famílias não mais dependa do trabalho infantil. Reinvento se preciso for a vila de casas pobres em que vivi e reparto o meu carrinho de madeira e lata velha. Criança tem que ter tempo para ser criança.
CLAUDIO SOARES PIRES Presidente do Tribunal Regional do Trabalho do Ceará
A função social de cada um
Até a década de 1980 havia praticamente um consenso na sociedade brasileira em torno do entendimento do trabalho como um fator positivo para crianças que, dada a sua situação econômica e social, viviam em condições de pobreza, de exclusão e de risco social.
à criança e ao adolescente, de modo que todo o sistema nacional deve garantir a satisfação das necessidades das pessoas até os 18 anos. A mudança de cultura, agregada à promulgação de leis protetivas, levou a uma redução elevada do trabalho infantil.
Tanto a elite como as classes mais pobres compartilhavam plenamente essa forma de justificar o trabalho infantil. A partir da década de 1990, o tema do trabalho infantil passou a ocupar lugar de destaque na agenda nacional. Gradualmente tomou forma uma crise de paradigma a respeito do trabalho infantil, fortemente caracterizada por uma valorização da educação. A própria mídia passou a tratar o tema de maneira mais crítica. Pesquisadores dedicaram-se ao tema, gerando uma reflexão teórica e histórica de maior qualidade, que se tornou uma base fundamental para a própria formulação de políticas públicas.
A inspeção do trabalho prima pelo afastamento das crianças e adolescentes de situação de trabalho irregular – desde 2001 já afastou quase 100 mil crianças e adolescentes da situação irregular de trabalho infantil – bem como pelo acionamento da rede de proteção à criança e ao adolescente e pela inclusão desses em programas de transferência de renda. Entretanto, apenas retirar sob ação fiscal criança e adolescente do trabalho é, em muitos casos, medida pouco efetiva para erradicar o trabalho infantil, uma vez que os motivos que levaram esses indivíduos a buscar uma ocupação ainda subsistirão.
Este livro lança um mais olhar sobre o trabalho infantil, e um olhar diferenciado, importante para toda a sociedade. A Constituição Federal de 1988 se refere à criança como prioridade absoluta, sendo sua proteção dever da família, da sociedade e do Estado. Neste momento, foi adotada a doutrina da proteção integral
Cada ator social tem a sua função e cada ação – como a publicação deste livro – contribui para o objetivo de conseguirmos Trabalho Decente no Brasil.
Vera Albuquerque Secretária de Inspeção do Trabalho - MTE
Em busca da erradicação do trabalho infantil
A sensibilidade do olhar de Sérgio Carvalho, juntamente com a poesia de Rubervam Du Nascimento, nos revela a cruel realidade de muitas crianças do nosso país, que tiveram a infância roubada e os sonhos anulados por uma vida trabalhista precoce. Afastados da escola, do lazer e da família, estas crianças são vítimas da exploração que acontece, muitas vezes, bem diante dos nossos olhos. Neste trabalho de imensurável valor artístico e social, os autores coletaram em suas andanças imagens fidedignas deste abuso, fazendo-nos refletir sobre o nosso papel de cidadãos capazes de transformar e de dizer um basta a essa triste situação. Ressalto com orgulho a atuação da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego no Ceará, que, através dos nossos auditores fiscais, vem tratando do assunto de maneira repressiva, resgatando os menores explorados, facilitando-lhes o acesso à escola e tomando as medidas legais cabíveis contra os exploradores do trabalho infantil. No entanto, sabemos que não é só o combate a tal situação que a modificará totalmente. Por isso a fiscalização também tem atuado de forma preventiva, pois esta é indubitavelmente a melhor maneira para a consecução de nosso objetivo. Realizam-se ações que buscam conscientizar os empregadores e, principalmente, a família das
crianças e adolescentes, para que estejam todos atentos aos malefícios e às consequências irreversíveis do trabalho precoce. Este livro é com certeza uma forma brilhante de disseminar esta ideia. Através da exposição deste trabalho será alcançado um universo de pessoas capazes de ajudar nesta missão, seja com uma denúncia, seja com uma palavra de conscientização, seja com um gesto de amor a uma destas crianças. Todos nós temos o dever de atuar na busca da erradicação do trabalho infantil em nosso país. Afinal, pular uma etapa da vida é atropelá-la por inteiro.
Júlio Brizzi Neto Superintendente Regional do Trabalho e Emprego no Ceará
Um olhar além
Ver as fotos de Sérgio Carvalho e ler os poemas de Rubervam Du Nascimento é confirmar que o olhar dos Auditores Fiscais do Trabalho vai além da aplicação da letra fria da lei e transcende os formulários de autos de infração. As imagens capturam, principalmente, momentos de dor, desalento, conformidade. Em meio à pobreza, à falta de perspectivas, ao cansaço, instantes de infância. O que deveria ser regra passa a ser exceção. O contato com essa realidade vem do exercício da Fiscalização do Trabalho, em locais onde tudo se vê, com espanto. Não se pode, nunca, perder a capacidade de se indignar diante de situações que não são normais, que violam direitos fundamentais, como o de ter infância, de vivenciar um período que influencia toda a vida, tomada por lembranças. As marcas que todos devemos carregar dessa época são os pequenos prazeres, as travessuras inocentes, o aconchego do colo materno e as descobertas maravilhosas que as aventuras infantis proporcionam. Se, ao contrário, o corpo sofre, o trabalho substitui a brincadeira e o estudo, a madrugada interrompe o sono, o peso torna-se insuportável, o futuro está com-
prometido para sempre. É para mudar este ciclo que os Auditores Fiscais do Trabalho atuam, para quebrar uma cadeia perversa e transformar o porvir em esperança, para garantir o direito de ser criança, protegida, resguardada, preparada para o trabalho, sim, no futuro, no tempo certo. Os pequenos lavradores, pescadores, baleiros, catadores de lixo, feirantes, trabalhadores em casas de farinha e matadouros retratados neste livro, em preto e branco como a realidade que vivenciam, têm os mesmos sonhos dos meninos que empinam pipa, pulam no rio, empurram o carrinho ou jogam futebol. Somos responsáveis por permiti-los viver o sonho. Temos os instrumentos e a sensibilidade. A coragem, não pode faltar.
Rosângela Rassy Presidente do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho
FÁBRICA DE MATAR CRIANÇA 2 uma entre
nem velas nem
cinco
rezas nem
crianças
uma folha
morre
de jornal
de fome
cobre corpo
enquanto
da criança
escrevo
que acaba
este poema
de morrer
por isso
de frio
a imagem
sob o viaduto
da palavra
pedaço
nesta
velho de nada
folha
envolve
de papel
corpo
carrega
da criança
dentes na voz
que não chegou a ver qualquer luz no fim do túnel
3
4
após o sol
qual a idade
de abril
que impede
desafogar
crianças inventarem
a casa
brinquedos
do espelho
de madeira e lata
dágua
qual a idade
onde todos
dos brinquedos
dormem
atirados
a pergunta é
em qualquer parte
quem se
da casa
habilita
após as crianças
a enterrar
partirem
a miséria
com o silêncio
deixada
na bagagem
pelos pais
qual a idade
na gaveta
que empurra
da cômoda
as crianças pra disputa de sono velho com marretas e martelos a idade da pedra a idade da pedra
NÃO É OFICIO DE CRIANÇA MATAR O TEMPO
só adultos matam devagar o tempo enquanto jogam cartas marcadas sob árvores secas na porta das casas
SOBRE A MORTE PROIBIDA DO MENINO
Notícia perturba página do jornal
lençol que envolve alma do menino atropelado pelo vento noturno tem marcas de pus e de esperma nas dobras
aviso sem tradução na pele de pano Property-not for sale
sobra de tecido importado do fabricante de brinquedo que mata substitui roupa de sono da alma do menino
jornal não suporta mais suas notícias
de onde fios de fibra dos fardos de feno dos celeiros do leste de onde fios dos lençóis
FIOS
de fogo que enrolam pele do sono das crianças do norte de onde a certeza de que nada diferente fia os sonhos das crianças daqui
2
3
a criança sente medo do homem de branco
por que portões de ferro
que esconde a morte
se fecham
no bolso sujo de sangue
se gente bem vestida está lá dentro
a criança sente medo do herói de brinquedo
com mil segredos
que o homem arrasta
guardados
pelo palácio assombrado
nos bolsos dos ternos por que pedradas acertam
a criança não esquece o rosto cadavérico
olhos de quem
do homem de pijama
sabe que há
na fotografia do móvel apodrecido do quarto
escuro atrás do muro protegido por cerca de fogo cego
portões se fecham para esconder pus do corpo de ilustres fregueses que escorre pelas pernas de meninas bêbadas
Entre a dureza austera dos prédios E o largo sorriso das vidraças o menino descobre o silêncio
na memória consentida de um livro exposto às letras de barro BALDIO 2
e às rachaduras das palavras
o menino se debruça na janela busca a manhã que tenta se esconder nas paredes dos prédios
vê o tempo brincando com as horas que inicia o dia em sua cabeça e terminam no colo da tarde
vê o ofício dos terrenos baldios
o menino junta os espelhos
às voltas com cacos de vidro
prega restos de flandres nos ombros
de um jarro que nunca aceitou flores
alcança pingos dágua do telhado
vê a cor amassada dos papéis
vê lágrimas se transformarem em chuva
aos pulos pela calçada
e o anuncio numa placa
até ser devorada pela boca da noite
o dia amanhecerá mais claro
vê a cara dura de sono
o menino impede que a noite se alastre
embrulhada em folhas de jornais
com lâminas de sombras
tentando fugir do frio
nas páginas do livro
vê os pedaços das asas do pássaro
traz de novo à paisagem
preso aos sapatos de borracha
a visão menos austera do prédio
dos carros entregues à ferrugem
e a graça inicial das janelas
aqui é pedra lá é ouro aqui é água lá é sal aqui é papel lá é folha aqui é lápis lá é pena aqui é fogo lá é cor aqui é faca lá é faísca aqui é rua lá é terreiro aqui é esgoto lá é rio
DISCURSO DO MENINO NEGRO
aqui é plástico lá é flor aqui é areia lá é estrela aqui é cerca lá é viagem aqui é sono lá é sopro aqui é risco lá é chuva aqui é casca lá é pele aqui é barro lá é corpo aqui é verbo lá é mistério aqui é palavra lá é silêncio
2
3
mas tudo aqui e lá é pedra tudo pedra tudo
o que me leva ao lixo público
aqui e lá é mar de areia tudo
a não ser o ofício do dia
aqui e lá é ferida tudo ferida tudo
desarrumado sobre a mesa de papel
mas tudo aqui e lá é barro sem sopro
será a única forma de entender
aqui e lá tudo é dor por tudo e nada
o disfarce da noite sem brilho
aqui e lá é tudo corte tudo corte em tudo
que o dia carrega na pasta de serviço
mas tudo aqui e lá é casa e rua tudo
será a única forma de entender
aqui e lá é beco tudo beco escuro tudo
brincadeira dos meninos
aqui e lá é tudo paisagem em preto e branco
com a dor das coisas jogadas no monturo
tudo telhado por onde caem chuvas secas
talvez a única forma de entender
por conta do sacrifício das palavras
porque o lixo público
que não renascem nas páginas
não serve à beleza do meu outro ofício
LENDO OS DIAS DE ELISE BLACKELL
o que mastigam os meninos que andam pela praça acompanhados das sombras de homens raivosos sopa de bolbo de tulipa roubada de um jarro pedras cobertas de líquenes em tonéis de lixo botão de corno solto do chifre de luas distraídas urtiga de folha assustada com a indelicadeza de quem caminha entre jardins
LENDO AS NOITES DE M COUTO
2 qual a cor da fome
Quem protege estes meninos
e da sede
Feitos de chuva que não veio?
que os cacos
te respondo poeta
de prato
com os riscos no papel
repartem
molhados de tempo e suor
com os copos vazios do dia
a chuva que não veio virá depois que o susto do sol
qual a cor da sede
se acalmar por estas terras
que a noite bebe
a chuva virá depois
para satisfazer
com suas facas acesas
desejo
para abrir as folhas velhas
da lua abandonada pelo sol
virá para substituir pele do chão que não suporta peso
cor da fome
das estações
e da sede é vermelha
que não prestam
cor da ira
para receber água do céu
que a palavra leva à oficina de brilho pra conserto
3 quando morreu
quando morreu
o menino estava tão
o menino estava tão
magro
magro
tão magro que
tão magro que
a mãe pediu
a mãe teve receio
que não o enterrasse
de derramar lágrimas
debaixo do chão
sobre o corpo
que deitasse o filho
transformado
na água
em barco de papel
queria que o filho
4
depois de morto
trabalha menino trabalha
virasse peixe
o horizonte à sua frente
não um verme
vive a serviço do dia
desses que ajuda a terra
sem o ofício do sol
a comer a carne
as distâncias escurecem
do defunto
as cores do tempo se perdem
depois que a alma vai para o inferno
o destino do menino não deixou mais que osso aos seus dias cansados
BERÇÁRIO
Os pássaros de asas de fogo ao deixarem os ninhos se transformam em crianças de sal
Os pássaros de asas de fogo nascem de um lago de enxofre que cozinha suas águas
Os pássaros de asas de fogo libertam crianças vestidas de sol das águas duras do lago
Os pássaros de asas de fogo ao trazerem do céu facas da chuva reiniciam suas mágicas
Rubervam Du Nascimento, nasceu na Ilha de São Luis do Maranhão, vive e trabalha em Teresina. Formado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal do Piauí. É Auditor Fiscal do Trabalho. Compõe a Editora de Literatura da Revista Pulsar. Publicou colunas e artigos literários em revistas e jornais. É verbete da Enciclopédia de Literatura Brasileira de Afrânio Coutinho e J. Galante de Sousa. Presidiu a União Brasileira de Escritores do Piauí – UBE/PI. Participou de coletâneas de poesias e contos nas décadas de 70 e 80. Livros individuais editados: A profissão dos Peixes, 2ª edição, revista e diminuída – Editora Códice/DF(1983); Marco-Lusbel desce ao inferno, 1º lugar -Concurso Nacional de Poesia da Editora Blocos/RJ(1997); Os Cavalos de Dom Ruffato, Prêmio Literário “Cidade do Recife”, categoria poesia 2004 – Fundação de Cultura do Recife/PE(2005); Espólio, VI Prêmio Literário Livraria Asabeça 2007 – Categoria Poesia- Editora Scortecci/SP-1ª edição (2008) e 2ª edição (2011).
Sérgio Carvalho (1969), piauiense, começou a fotografar em meados da década de 90. Desde o inicio desenvolve a fotografia como expressão artística documental. Realizou diversas exposições, com participação em salões de arte e festivais de fotografia. Livros publicados: Docas do Mucuripe(2010), em co-autoria com o fotógrafo Paulo Gutemberg, Retrato Escravo(2010), em co-autoria com o fotógrafo João Roberto Ripper, publicação indicada como um dos melhores livros de 2010 pelo Internacional Photobook Festival 2011(Kassel, Alemanha) e Barbearia do Tempo(2011). Ainda em 2011 realizou a exposição A Carne Nossa de Todos os Dias”, em co-autoria com o fotógrafo peruano Carlos Gibaja. Foi contemplado com Edital das Artes da FUNCET/Fortaleza(2006), com o Premio Chico Albuquerque de Fotografia, da Secretaria de Cultura do Ceará, em 2009, e com o Edital Premio de Fotografia, da Secretaria de Cultura de Fortaleza - SECULTFOR(2010). É membro-fundador e ex-diretor do IFOTO – Instituto da Fotografia, em Fortaleza/CE.
Projeto editorial Local Foto Coordenação Editorial José Wagner Sérgio Carvalho Fotografias Sérgio Carvalho Poesias Rubervam Du Nascimento Textos Claudio Soares Pires Vera Albuquerque Júlio Brizzi Neto Rosângela Rassy Edição de Imagem Celso Oliveira Tiago Santana Sérgio Carvalho José Wagner Projeto gráfico José Wagner Cordenação Gráfica José Wagner
© Copyrigth 2012 Sérgio Carvalho © Copyrigth 2012 Rubervam Du Nascimento © Copyrigth 2012 Local Foto Todos os direitos reservados. É Proibida a reprodução desta obra ou parte dela, por qualquer meio ou forma, seja ela eletrônica ou mecânica, fotocópia, gravação ou outro meio de reprodução, sem a permissão expressa dos autores.
Revisão de Texto Orlando Nunes Tradução Cristiane H. de Figueredo Tratamento de Imagem Elton Gomes
Local Foto Av. Barão de Studart, 1045 60.120-000 Fortaleza-CE Brasil Tel.: (85) 3461.1294 local@localfoto.com.br www.localfoto.com.br
Agradecimentos Claudio Soares Pires, Vera Albuquerque, Julio Brizzi, Francisco Ibiapina, Papito Oliveira, Rosangela Rassy, Rosa Jorge, Hugo Moreira, Paula Mazullo, Francisco Luis Lima, Soraya Lima, IanĂŞ Cavalcante, Rubenita Sousa, Milton Gondim, JosĂŠ Wagner, Tiago Santana, Celso Oliveira, Carlos Gibaja, Paulo Gutemberg, Elton Gomes, Juliano Nascimento.
sometimes a child A partial portrait of a stolen childhood
I claim the childhood of all children and
society´s workers. These children can only
give them the right of playing.
inherit the lack of qualifications, the physical inabilities which could beat them later on
My grandfather was a sales representative
and the illiteracy for their future lives. I was
from those who rode their horses to the
a poor son, but fortunately, by that time, the
countryside selling goods to greengrocers
lack of money did not forced me to work
and wholesalers. We used to live in a village
earlier. The child labor must not reinforce
house. The whole village had twenty houses.
the families ‘purchasing power. Most of the
My grandfather, my father and all those who
time, these children are forced to work for
belonged to a lower middle class, just a little
free. This tragedy must have been wiped
above the poverty line, used to live there. I
out long enough. I claim the childhood of
can remember that I used to go to a State
all those children and give them the right to
school part time and I used to play with the
play. I offer each adult a decent wage to raise
village boys in another school. I loved when
their families so that they would not depend
my grandfather used to get home from his
on the child labor anymore. I reinvent if it is
trips with empty wooden boxes which were
necessary the village of poor houses where I
turned into wheelbarrows by us. Some nails,
lived and share my old wooden wheelbarrow
a lid of powdered milk can, and a hammer
and the old can. A child must have time to be
would be all. I lived this way for long years. I
a child.
had a little money, but I had freedom on the most precious time of my life: my childhood.
CLAUDIO SOARES PIRES
Charging children with adult responsibilities
President of Regional Labor Court of Ceará
not only deprives them from their childhood but also makes them troubled grown-ups just because they lose the link to get mature.
The social role of every one.
I do not refuse to admit the early wounds and deaths due to child labor. However, I
There was a consensus in the Brazilian society
look at myself and I could deeply feel upset
about working as a positive factor for children
if I had my childhood lost. The lack of time
who had little economic and social condition
just to play around, the distance between
living in a poverty way with social risk and
families cannot cause any different impact
exclusion in the 1980´s.
but the negative one on children personality.
Either the upper class or the lower class fully
Impoverished
compulsorily
shared this idea to justify the child labor.
forced to work earlier than the right time by
However, from the 1990´s, this matter was
children
are
stood out in the national agenda. And a
in Brazil.
paradigmatic crisis on child labor concept involved gradually the society. It came strongly
Vera Albuquerque
based on the importance of education for
Secretary of Labor Inspection - MTE
children. The media itself, started to deal with this issue more critically. Researchers dedicated to this matter, motivating a better reflection on theory and history which became essential
Searching the eradication of child labor.
to develop public policies. This book launches
Sérgio Carvalhos´s sensitive look along with
a different new look on child labor which is
Rubervam Du Nascimento´s poetry reveals
relevant for the whole society.
the cruel reality of many children in our
The Federal Constitution of 1988 considers
country who had their childhood stolen and
a child as absolute priority whose protection
dreams destroyed by an earlier working life.
must be a duty of families, society and the
Distant from school, family and leisure time,
State. At the present, it has been adopted
these children are victims of exploitation that
full protection principle to children and
happens before our eyes.
adolescents. In this way, the national system
This work has immeasurable artist and social
must have the needs guaranteed for people
value. The authors collected some photos to
up to their eighteen years old.
show this abusive work and make us reflect
The cultural change along with the enactment
on our role as capable citizens to make the
of protective laws led a great reduction of
world a better place as well as capable to put
child labor.
an end on this situation.
The inspection of this kind of irregular job
I proudly focus the action of the Regional
aims to keep children and adolescents away
Management of Work and Employment of
from it as well as the application of protective
Ceará along with labors inspectors have been
laws to children and adolescent and inclusion
seriously dealing with this issue, rescuing the
in social income transfer programmes. Since
exploited under ages. Besides, it makes easier
2001 almost 100 thousand children and
the access to school through the application
adolescents have already been removed from
of legal measures against the exploiters of
the child labor. However, follow-up inspection
child labor.
only is not enough once the reasons that led
However, we know that not only the fight
these people to look for a job still remain in
against this situation that can make it
their lives.
completely different. For this reason, the
Each individual has his own responsibility and
supervision and control has also helped to
each action taken – as the publication of this
prevent this kind of work which is undoubtedly
book – contributes to establish a decent work
the best way to reach our goal. Actions are
taken to make employers and families aware
right to live the childhood which influences
of all irreversibly harmful consequences
the individual for the rest of his/her life. We
caused by early work.
must have good memories from this period
This book is surely a brilliant way to spread this
based on small pleasures, innocent tricks,
idea. This work aims to reach a great number
mothering and magnificent discoveries child
of people who are capable to help with our
adventures offered by this time of life.
objective. It can either be possible making a
On the other hand, when abusive working
complaint to the authorities or spreading a
is substituted by the playing with toys and
conscious word to the other or a gesture of
studies, the body suffers, the night breaks the
love to one of these children.
sleep, the burden becomes unbearable and
We all have to try to eradicate the child labor
the future is harmed forever.
in our country. After all, skip a phase in our
In order to change this situation the labor
lives is like killing it completely.
inspectors work. This way, this bad chain can be broken and turned into hope to
Júlio Brizzi Neto
assure children of their basic rights and to be
Superintendent of Regional Labor and Work
protected and prepared to a future working
of Ceará.
life at the right time. The
little
landsman,
fisherman,
refuse
collectors, greengrocers and Flour House´s and slaughterhouse little workers are presented in A look beyond child labor.
this book, in black and white photos which show their realities. These children have the
Seeing Sérgio Carvalho´s photos and reading
same dreams as any other children do as the
Rubervam
ones who fly kites, jump into the rivers, push
Du
Nascimento´s
poetries
is
confirming that these labor inspectors´ look
wheelbarrows and play soccer.
go beyond the application of the law and
We are responsible for letting them live their
surpass the infraction reports.
dreams. We have the tools and sensibility, so
The
images
show,
moments
of
pain,
that we may have courage to act.
discouragement and resignation. The scenario takes place in the poverty which marks the
Rosângela Rassy
lack of perspectives, the tiredness in some
President
moments in the childhood.
Inspectors - SINAIT
The contact with this reality comes from the inspection of this work in places where everything we see impresses us because of the disrespect to the fundamental rights like the
of
National
Union
of
Labor
Ficha Catalográfica Bibliotecária: Aparecida Porto CRB-3/770 __________________________________________________________________________ Nascimento, Rubervam Du;
N244v
Às vezes, criança: um quase-retrato de uma infãncia roubada / Rubervam Du Nascimento, Sérgio Carvalho - Fortaleza: Local Foto, 2012. 51p. : il. 1. Fotografia -Trabalho Infantil - Brasil
2. Fotografia
I. Título.
CDU 77(813.3) __________________________________________________________________________ Índice para catálogo sistemático: 1. Fotografia -Trabalho Infantil - Brasil 77(813.3) 2. Fotografia – Brasil 77(813.3)
ISBN 978856246407-2
um quase-retrato de uma infânc ia roubada
um quase-retrato de uma infância roubada
Rubervam Du Nascimento | Sérgio Carvalho
Rubervam Du Nascimento | Sérgio Carvalho