260119 pais da felicidade

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Mauro Sampaio

O PAÍS DA FELICIDADE

A primeira vez no Velho Mundo, em lua de mel, resultou no Guia Turisticamente Incompleto da Europa. Guia na sutileza da palavra, da mesma forma aproveitada em texto e fotografia neste O país da felicidade. A nova versão, ambientada em Praga, Viena e Lisboa, introduz uma reflexão sobre a busca da felicidade motivada na certeza de um iraniano residente na capital da Áustria de que o Brasil é o melhor lugar do mundo. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Todo país tem sua história para contar. Na República Tcheca, liberdade. Na Áustria, nenhum reino é pleno. Em Portugal, navegar para descobrir o desconhecido. A felicidade vem a caminho, apátrida, transpondo obstáculos para alcançar, segundo o desejo inquieto de Fernando Pessoa, “a realidade dos nossos sonhos”.

O PAÍS DA FELICIDADE

Mauro Sampaio

Outro Guia Turisticamente Incompleto da Europa

República Tcheca

-

Áustria

-

Portugal



Mauro Sampaio

O PAÍS DA FELICIDADE Outro Guia Turisticamente Incompleto da Europa

República Tcheca

-

Áustria

-

Portugal


Copyrigth © Mauro Sampaio. Copyrigth © desta edição Local Foto

É proibida a reprodução desta obra ou parte dela, por qualquer meio ou forma, seja ela eletrônica ou mecânica, fotocópia, gravação ou outro meio de reprodução, sem permissão expressa do autor. Projeto editorial: Local Foto Coordenação: José Wagner Edição: Sérgio Carvalho, Mauro Sampaio e José Wagner Primeira revisão: Thaís Sousa Diniz e Carina Villela de Andrade Monteiro Revisão final: Márcia Robertha Barbosa de Sousa Projeto gráfico: José Wagner Fotografias e textos: Mauro Sampaio Impressão: gráfica LCR Ficha Catalográfica Bibliotecária: Aparecida Porto CRB-3/770 ______________________________________________________________________________ S192g

Sampaio, Mauro. Guia turisticamente incompleto da Europa: uma lua-de-mel / Mauro Sampaio. - Fortaleza : Local Foto, 2013. 86p. 1. Literatura brasileira - contos

I. Título.

CDU 869.0(81)-34 ______________________________________________________________________________ ISBN 978 85 62464 10 2

Contatos: Mauro Sampaio

mauroadrianosampaio@gmail.com

Editora Local Foto

Fortaleza, Ce Brasil local@localfoto.com.br www.localfoto.com.br


Mauro Sampaio

O PAÍS DA FELICIDADE Outro Guia Turisticamente Incompleto da Europa

República Tcheca

-

Áustria

-

Portugal



Viajar? Para viajar basta existir. A vida é o que fazemos dela. As viagens são os viajantes. O que vemos, não é o que vemos, senão o que somos. Fernando Pessoa



Índice

Procura-se a felicidade .............................09 E você, fala tcheco? ..................................15 Um tcheco na cabine ...............................23 Kebab para Sissi ......................................31 Alpes .....................................................39 Em bom português ..................................45 Levar desvantagem ..................................53 Dobré odpoledne ....................................55 Para onde vamos .....................................59 O país da felicidade ..................................63


Não vejo impossibilidades na vida (Rudolf Krautschneider, o lenhador que decidiu construir embarcações e navegar mesmo natural de um país sem vista para o mar, a República Tcheca)

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Procura-se a felicidade

Um ano depois de ter conhecido Roma, Veneza, Munique e Paris em lua de mel com Márcia Robertha, voltamos à Europa na companhia de Thaís e Maurício. Turismo em família, que cresceu em Lisboa, juntando-se a nós minha mãe, Anatália, minhas irmãs Fernanda e Mariângela e as minhas sobrinhas Laís e Marcela. Novamente, estadas curtas e intensivas. Dez dias em Praga, Viena e, retornando ao Brasil, na capital lusitana. Se na primeira travessia do Atlântico fui forçado a enfrentar o medo de passar mais de seis horas totalmente sem chão (queria desistir para sempre do Velho Mundo), a presença de Maurício, uma criança de seis anos, deu-me calafrios. E se ele adoecesse no clima invernal, não se adaptasse ao roteiro adulto ou, pior dos mundos, ficasse perdido? Tudo bem que o bom da vida seja arriscar, mas não colocar em risco um filho. Medo exagerado, cuidados redobrados. Nenhuma desgraça aconteceu, e Maurício surpreendeu. Aproveitou o frio (pena que não nevou), gostou de tudo o que viu e só escapou da nossa segurança por breves segundos em Lisboa. Enquanto o grupo decidia o caminho a tomar parado na calçada, prosseguiu até a esquina como se estivesse senhor de si.

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Thaís se emocionou em Viena. Sonho realizado de conhecer o palácio onde Sissi da Áustria e Hungria era infeliz no amor celebrado com o primo de negócios imperiais, Francisco José I. Pode-se ter um palácio e um reino, e só. “Perambulo solitária sobre a Terra há tempo, alienada da vida e do prazer; não tenho e nunca tive alma que me entendesse”, confessou ao diário. A Sissi que virou personagem de cinema dramático consegue se acertar no casamento e tem um final feliz. O Museu da Sissi cai na real e expõe, com iluminação fúnebre, o vestido que a imperatriz usava quando um anarquista matou-a em 1898. A Europa dos impérios iria decair no século nascente. O viúvo, para se vingar de outro assassinato na família, invade a Sérvia e deflagra a Primeira Guerra Mundial no dia 28 de julho de 1914. Praga pertenceu a esse Império Austro-Húngaro, depois se firmou como a capital da Tchecoslováquia, entre 1918 e 1992. De 1948 até a fragmentação da União Soviética, em 1991, esteve escondida no Leste Europeu por trás da cortina de ferro comunista. Conquistou, enfim, o status de capital democrática da República Tcheca. O comunismo também foi parar no museu, mas a Declaração de Praga, elaborada pelo Senado tcheco no dia 3 de junho de 2008, queria ver o regime no banco dos réus, responsabilizado, junto com o nazismo, “pelo extermínio e deportação de nações inteiras e de grandes grupos populacionais no século 20”. Franz Kafka dizia que as pessoas são suas histórias. Os países (e cidades), igualmente. Os anos do escritor tcheco no Império Austro-Húngaro foram

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marcados pela conturbada relação com o pai, a insatisfação com o trabalho, a saúde debilitada (morreu de insuficiência cardíaca aos 41 anos; havia contraído a tuberculose) e paixões mal resolvidas. Ainda que a vida lhe fosse tão indócil, considerava atingível a “felicidade plena” crendo no “indestrutível que há dentro de nós”. Faltava-lhe tirar as grades de dentro de si. Kafkiano. Praga homenageia-o. Do mesmo modo que Lisboa das grandes navegações se orgulha de Fernando Pessoa. No “Livro do Desassossego”, o semi-heterônimo Bernardo Soares lamenta: Pedi tão pouco à vida e esse mesmo pouco a vida me negou... Escrevo, triste, no meu quarto quieto, sozinho como sempre tenho sido, sozinho como sempre serei. Onde estará a felicidade? Em todos os lugares? Em qualquer um, porque é mérito individual? Uma imperatriz e escritores e seus personagens aflitos de países (e cidades) que superam traumas e dão aos visitantes o melhor da sua felicidade. Um iraniano em Viena sonha mudar para o Brasil, porque está certo de que somente se realizará nos trópicos. Procura-se o país da felicidade.

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Felicidades aos artistas de rua de todo o mundo



A República Tcheca é o 39º país mais feliz na lista de 156 constantes no World Happiness Report (Relatório sobre a Felicidade Mundial) de 2013 da Organização das Nações Unidas (ONU)

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E você, fala tcheco?

Praga tem muito a oferecer em monumentos, música e gastronomia. Há quem a veja mais excitante e bela que Roma e Paris. O capitalismo transformou o comunismo num suvenir e seus restos em peças do KGB Museum (KGB era o serviço de inteligência e espionagem soviético). A adesão à União Europeia em 2004 distanciou a República Tcheca da influência militar e econômica da Rússia. A milenar cidade se revelou ao mundo, tal como o escritor Franz Kafka, nascido no ano de 1883, quando Praga pertencia ao Império Austro-Húngaro. Ao falecer, em 1924, a monarquia dos Habsburgo já havia se desmoronado na Primeira Guerra Mundial, surgindo a Tchecoslováquia (dividida, em 1992, na República Tcheca e Eslováquia). O túmulo de Kafka é um dos mais visitados no cemitério judaico. Sua obra tornou-o imortal. “O processo” é póstumo e só foi publicado porque o amigo e testamenteiro, Max Brod (1884-1968), desobedeceu à ordem de incinerar os originais. O romance conta a surpreendente acusação ao funcionário de banco Josef K. de um crime que nunca se revela e o julgamento por uma Justiça sem “juízo exato”. Impossível se defender quando a culpa não precisa ser provada e a inocência jamais será acei-

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ta. Ao final, é cumprida a pena de enterrar-lhe a faca no coração. Morre “como um cachorro”. Poderia ter sido como o inseto de “A metamorfose”. Essa narrativa medonha leva ao Museu da Tortura, que reúne instrumentos de punição empregados nas masmorras dos séculos medievais da Inquisição. Um boneco em tamanho real na vitrine padece no tronco para queima de pés. A Justiça evoluiu e sucedeu os direitos humanos, mas inocentes continuarão sendo castigados por processos kafkianos. A Idade das Trevas é um fantasma à solta pelo mundo. Acendendo as luzes: existe “carnevale” no berço do grandioso escritor. Fim do inverno, nada de samba e blocos de rua. Brinca-se sem o ritmo de uma bateria. O frio ventilado de nove graus é de rachar os lábios, mas Praga é calorosa e ouve jazz rebelde, primaveral. Os six jazzmen da Bridge Band (Banda da Ponte) dão seu show na Praça da Cidade Velha. Nela, encontram-se restaurantes e quiosques de iguarias e bebidas. Churrasco de porco, linguiça com mostarda, pato, batata e pão doce (Trdlo) fornecem energia para participar da festa e perambular. Cerveja e vinho (inclusive quente) aos adultos. Há passeios inevitáveis: o castelo na Colina Hradcany, no Distrito de Malá Strana, à margem esquerda do Rio Vltava, passandose pela sublime Ponte Carlos, inspiradora dos jazzistas; o Antigo Cemitério Judeu e o relógio astronômico, cujo galo cacareja a cada mudança de hora e apóstolos dançam quando o esqueleto da

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morte vira sua ampulheta. Estátuas barrocas de santos e patronos e o Cristo crucificado adornam a ponte do século XIV. As aparências enganam: mais da metade do povo tcheco se declara sem religião e 30% são ateus no século XXI. O local não se expõe como relevante monumento à fé cristã; acha-se dedicada aos artistas laicos – desenhistas, pintores, músicos, atores e artesãos. E aos apaixonados, que cobrem de cadeados diversas pontes na Europa. Leandro e Glorinha - impossível não ser um par brasileiro – gravaram os nomes no cadeado do amor e prometeram-se até que a morte os separe, fechando-o numa brecha da já “superapaixonada” armação da pontezinha do Canal Certovka (abaixo de Carlos). Curiosas esculturas contemporâneas espalhadas na Cidade Pequena (o lado do castelo e da residência de Kafka) fazem a caricatura do comunismo e da corrupção. No parque do Museu Kampa, três gigantes bebês nus e sem rostos são o resultado de um regime que teria reprimido a individualidade. No Museu Kafka, dois homens urinam, um de frente para o outro, no mapa da República Tcheca. Representam o desprezo dos corruptos pelo país democratizado. Dois protestos do escultor David Černý. Em frente ao Museu do Brinquedo, um menino em bronze com pênis dourado provoca sorrisos travessos. Turistas brincam com o membro masculino. Conta-se que a estátua do menino “com olhar para o futuro”

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teve o pênis decepado pelo regime comunista por aviltar os bons costumes. A Revolução do Veludo - manifestações de estudantes ocorridas entre novembro e dezembro de 1989, sem derramamento de sangue - conseguiu pôr fim à desgastada repressão e censura. O pênis foi recolocado com uma proposital diferenciação. Sem conhecer a mensagem das peculiares obras, o turista pode se divertir ou rejeitar tanta nudez. Cada qual olha como quer, ou não olha. O tcheco, de sonoridade tão consonantal quanto o alemão, é a língua oficial da convidativa Praga. O “internacional” inglês salva a conversação. Márcia me pede para perguntar ao garçom se ele fala português: - Do you speak portuguese? - And you, speak tcheco? Depois dessa, só mais uma cerveja e uma linguiça, com “por favor” em inglês.

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O tempo humano não gira em círculos, mas avança em linha reta. É por isso que o homem não pode ser feliz, pois a felicidade é o desejo de repetição. Milan Kundera

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Um tcheco na cabine

O motorista da limusine chamada pelo concierge nos leva até a estação Hlavní Nádraží. Mudo, faz um gesto facial de reprovação, provavelmente pelo simples aperto de mão que eu deixei para o seu colega do hotel. Teria que ter deixado a gorjeta. A estação é gigantesca e carece de informações em inglês. Havia tempo até o embarque para Viena, mas cada minuto sem saber como chegar à plataforma elevava a ansiedade. Um ano antes, eu e Márcia havíamos perdido o trem de Roma a Veneza. Terminamos de frente para um painel eletrônico com as saídas, horários e plataformas. Só não aparecia o trem das 10 h 40 daquela quarta-feira de cinzas para a capital da Áustria. É uma situação tão corriqueira que se tornou o ponto de um carregador de bagagens. Ele pegou o bilhete, apropriou-se dos nossos pertences e nos deu a ordem para segui-lo. Deixou-nos na plataforma correta e cobrou as últimas coroas tchecas (um euro estava comprando 26 CZK) que eu pensava em guardar como recordação. O carregador fez mais duas “corridas”, numa delas trazia uma turma de brasileiros que olhava tão perdida quanto nós para o painel.Um trem com primeira classe, restaurante e o vagão dos econômicos lá atrás (nosso lugar). A cabine de seis poltronas fi-

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cou em família até Brno, a segunda maior cidade do país. O escritor francês Jean Genet (1910-1986) descreve-a em “Diário de um ladrão”, uma espécie de livro de memórias de sua vida errante pela Europa nos anos 1930: Cheguei lá a pé, sob a chuva, depois de atravessar a fronteira austríaca em Retz. A cidade de Brno é sombria, molhada, esmagada pela fumaça das fábricas e pela cor das pedras. Impossível pesquisar da janela esse passado pouco hospitaleiro do lugar e da época de nascimento e crescimento de Milan Kundera, autor de “A insustentável leveza do ser”, romance que sentencia o homem à procura inútil da felicidade: Se Karenin fosse um ser humano em vez de um animal, certamente já teria dito a Tereza muito tempo antes: “Escute, não acho graça de ter que levar todos os dias um croissant na boca. Não poderia descobrir alguma coisa nova?”. Essa frase contém toda a condenação do homem. O tempo humano não gira em círculos, mas avança em linha reta. É por isso que o homem não pode ser feliz, pois a felicidade é o desejo de repetição. Retorno ao tempo presente e visível com a chegada de um novo passageiro. Ficamos todos comportados, nada mais de fotografias, pernas estiradas e conversas fiadas. O incômodo silêncio estimula-o a abrir rapidamente o seu jornal formato tabloide e tirar

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do bolso alguma coisa parecida com um pãozinho, para o lanche. Parte da leitura é dedicada à grave crise na Ucrânia, as ilustrações permitem a “tradução” do texto. Tive vontade de puxar conversa, mas faltou segurança quanto à comunicabilidade. Ao descer em Breclav, próxima à fronteira com a Áustria, o tcheco balbuciou alguma coisa para nós, talvez boa tarde na língua materna. Ninguém retribuiu desejando-lhe felicidades.






A Áustria é o 8º país mais feliz na lista de 156 constantes no World Happiness Report (Relatório sobre a Felicidade Mundial) de 2013 da Organização das Nações Unidas (ONU)

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Kebab para Sissi

O trem chega à estação Wien Miedlin com uma hora de atraso devido a uma falha mecânica ocorrida em Breclav. O frio segue moderado, sem previsão de temperaturas negativas e neve, mas frio. Museu da Sissi é a razão maior da viagem a Viena. Elisabeth da Áustria e Hungria (1837-1898) se casou, mandava o figurino da aristocracia, com o imperador Francisco José I (1848-1916). A união arranjada com o primo teria pitadas de amor à primeira vista, mas as obrigações de um rei pesavam mais e infligiram a Sissi solidão e depressão. Ocupava-se em pentear o longo cabelo e escrever no diário. Terminou assassinada por um italiano anarquista em Genebra, Suíça, no dia 10 de setembro de 1898. Na falta de outra autoridade imperial, Luigi Lucheni escolheu o peito da infeliz rainha para cravar um estilete. Francisco José I arrastou a Europa para a Primeira Guerra Mundial. Inconformado com outro assassinato na família, o do arquiduque e herdeiro do trono, Francisco Fernando da Áustria, em Sarajevo, invadiu o Reino da Sérvia (1882-1918). O lado austro-húngaro e alemão foi derrotado pelos ingleses,

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franceses e russos (os aliados). O viúvo de Sissi faleceu em 1916; a dinastia Habsburgo se dissolveu com o seu sobrinho neto, Carlos I, no desfecho da guerra. O armistício foi acordado no dia 11 de novembro de 1918. O mundo se assombrou com a letalidade dos novos armamentos: nove milhões de baixas nas trincheiras. O museu dessas recordações está no Palácio Imperial de Hofburg, que tem sido tomado “emprestado” pelo Partido Libertário da Áustria (FPO) para o seu baile anual, em janeiro, oferecido à vanguarda da ultradireita europeia. O FPO tem votos e representação no parlamento, mas o encontro estaria invadindo um território politicamente neutro. A polícia precisa conter manifestantes indignados com a “ameaça nazista”. O dia do baile é também de tumultos. Na entrada do palácio, uma dezena de carruagens com cocheiros a século XIX. Entra-se no clima da Viena monárquica e deixase para lá o risco do nascimento de algum novo Hitler. A volta ao passado tem início antes de se conhecer a prataria, louças, joias, roupas, aposentos e costumes majestosos da “pobre coitada” Sissi. Diante desse encantamento, nada mais justo que se queira assistir a uma ópera à noite. Homens vestidos como serviçais da nobreza oferecem aos turistas aquilo que deveria ser um espetáculo com as credenciais da cidade virtuose, morada de grandes músicos clássicos. Ao concluir o passeio pelos quatro cantos de Hofburg, teríamos,

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num só pacote cultural, concerto, ópera e balé. Mas, num “palácio” desconhecido, num pequeno palco notoriamente improvisado, dá-se aos incautos (japoneses e latinos, em maioria) um simulacro de concerto, ópera e balé. A desconfiança de que se havia comprado por 125 euros gato por lebre ficou registrada no encerramento. A tradicional ovação de pé não ocorreu. Artistas e plateia se despediram sem bis. Viena tem boa arborização. O inverno desfolhante submete o olhar à beleza monocromática das raízes, caules e galhos. A primavera irá rebrotar o verde, mas rasteiras amores-perfeitos de flores alaranjadas decoram o Palácio Belvedere, onde corvos preto e cinza são os proprietários dos canteiros. Belvedere tem as porções superior e inferior separadas por um imenso jardim, formado por fontes, estátuas barrocas (nas escadarias que marcam o desnível do conjunto, crianças representam os meses do ano) e labirintos. Pode-se apreciar a exposição do pintor simbolista Gustavo Klimt (1862-1918). O mais famoso quadro é “O beijo”. Para uma criança, o palácio é simplesmente um lugar para correr e, em março, driblar o frio. Querer brincar com corvos e patos. Esconder-se no labirinto. Sentir-se no seu quintal. Maurício estava nele. No Naturhistorisches Museum (Museu de História Natural), vizinho de Sissi, faz-se uma viagem pela natureza, dos dinossauros à intervenção poluidora dos humanos na água, terra e ar. Evolução predatória e depredatória do único bicho com plena consciên-

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cia da finitude do existir. Fundado em 1889, o museu coleciona todos os ecossistemas do planeta, com seus animais e hábitos, alguns extintos ou em extinção. Das florestas tropicais, exemplares empalhados de aves, répteis, peixes e mamíferos encontrados no Brasil. Uma tarde inteira bem aproveitada (antes daquele concerto, ópera e balé). Maurício não tem pressa e coloca um fone de ouvido que lhe dará informações, em alemão, sobre crânios humanos fixados numa mesa: - Entendi tudo, mas não vou te contar nada, é sério! Quem nada entendeu foi o recepcionista do hotel. Maurício procura saber onde ele esteve horas antes. Ainda que saiba espanhol e algumas palavras em português, pede-me ajuda e responde, em inglês, que estava “jogando futebol”. O garoto se anima: - E você venceu? - Sim! Maurício se volta para nós e afirma, imaginando que o seu português passava automaticamente para o alemão: - Eu já sei falar alemão, viram? A despedida começou no fim da tarde do segundo dia com uma

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caminhada na Rua Mariahilfer Straße, a mais importante área comercial de Viena. Parecíamos os únicos turistas, misturados aos habitantes, sem incomodar. Bastante diferente da Avenida Champs-Élysées, em Paris, onde o francês é o estrangeiro. Desviamos para o Esterhazypark ao encontro de mais um pouco do cotidiano vienense. Crianças brincavam de balanço numa feliz algazarra; cães se exercitavam numa área reservada enquanto seus donos atualizavam a conversa. Na região chamada de Triângulo das Bermudas, o BermudaDreieck, a mais antiga sinagoga de Viena, do século XVIII, é vizinha de bons pubs, cafés, pizzarias e um beco de lojas com saída para a Catedral de Santo Estevão, de arquitetura gótica do século XII. O riscado de uma amarelinha no chão não deixa a infância desaparecer. Soprava uma brisa de belle époque. Um imaginário crepúsculo em preto e branco parava os relógios na cidade ali modernizada. Se não existem cangurus na Áustria (brincadeira estampada em camisas e canecos para quem pensa que está na Austrália), há um urso panda chinês no zoo. O sanduíche turco Döner Kebab faz sucesso em Viena. Sissi quebraria a dieta de sopas sem arrependimentos.

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Alpes

O plano de viagem original era ir de trem de Viena para Budapeste, a capital da Hungria. O roteiro mudou com o convite para um encontro de família em Lisboa. Pouco tempo após a decolagem, o avião estava sobre os Alpes. A neve que não caíra em Praga e Viena branqueia a cordilheira na Áustria, Suíça e França. Bela imagem aérea da Europa.

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Portugal é o 85º país mais feliz na lista de 156 constantes no World Happiness Report (Relatório sobre a Felicidade Mundial) de 2013 da Organização das Nações Unidas (ONU)

Não há para mim flores como, sob o sol,

o colorido variadíssimo de Lisboa.

Oh, Lisboa, meu lar! (Fernando Pessoa)

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Em bom português

O Rio Tejo é testemunha natural de tantos povos que se apoderaram de Lisboa. Os romanos denominaram-na, antes de Cristo, de Olisipo. Com a queda do império, os mouros, germanos e árabes foram ao encontro do Oceano Atlântico. Portugal sofreu muitas influências antes de se tornar um reino independente e navegador, porque era preciso descobrir o desconhecido. “Pelo Tejo vai-se para o mundo. Para além do Tejo há a América”, declama Alberto Caeiro, heterônimo do maior poeta lusitano, Fernando Pessoa (1888-1935). Vasco da Gama foi à Índia entre 1497 e 1498 expandir o comércio das especiarias. Pedro Álvares Cabral teria que fazer o mesmo percurso, mas suas caravelas se afastaram da costa africana e em 1500 a terra à vista iria se chamar Brasil, a mais importante colônia portuguesa. O grito de independência do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves foi dado em 1822 pelo príncipe regente D. Pedro de Alcântara de Bragança, uma cena arrumada às margens do Riacho Ipiranga, em São Paulo. A resistência à separação atiçou algumas batalhas sangrentas nas províncias enquanto D. Pedro se declarava o primeiro imperador da nova nação. Mas, o reconhecimento pela “metrópole”

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somente ocorreu no dia 29 de agosto de 1825. D. João VI assina o Tratado de Paz e Aliança em troca de uma indenização para Portugal no valor de dois milhões de libras. Bom negócio. Muito há de Portugal no Brasil. A língua é o maior legado imaterial do colonizador. O brasileiro fala o português oficializado em 1290 pelo rei D. Dinis I. “A última flor do Lácio, inculta e bela”, inicia o poema Língua Portuguesa o parnasiano fluminense Olavo Bilac (1865-1918). Cá estamos nós em Lisboa no ano de 2014, uma família brasileira com sotaque e estilos próprios de explorar a língua comum a dois povos que, de vez em quando, precisam ouvir bem o que um diz ao outro. Maurício aprenderá a história do seu país. Sem saber quem colonizou e quem foi colonizado, nem o que isso significa, conclui que o português ainda está aprendendo o português. O tudo explicadinho bem ligeirinho não é espelho do jeitinho coloquial brasileiro. Há, portanto, duas línguas portuguesas unidas em suas diferenças por um oceano. O lusitano é tão detalhista que a simples pergunta por um local que venda “pastel de Belém” nas proximidades do Castelo de São Jorge resulta numa quase repreensão ao turista de primeira viagem. Pastel de Belém somente há na Freguesia de Santa Maria de Belém, uma exclusividade da Fábrica dos Pastéis de Belém, localizada na Rua Belém, vizinha do Mosteiro dos Jerónimos e da Torre...de Belém, onde o Tejo está a se entregar, de corpo e alma,

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ao mar dantes desconhecido. O Castelo de São Jorge fica na Freguesia de Santa Maria Maior. Nas suas imediações, descendo até a Praça do Comércio e seu Arco Triunfal - e em qualquer outro lugar que não seja na Freguesia de Belém - deve-se pedir o pastel de nata, embora a receita seja a mesma. Estar em Portugal é quase estar no Brasil. Uma boa sensação de familiaridade proporcionada pelos laços do descobrimento e pela separação concluída amigavelmente. Até no que difama: mendigos que pedem com insistência e escancaram a desigualdade também presente na Europa; ambulantes que interrompem uma conversa para negociar óculos “obscuros”; ciganos que vendem descaradamente marijuana (segundo os taxistas, totalmente falsa); malandros que furtam no bonde; gente que suja as ruas (sob o risco de serem multadas em até 700 euros) e políticos decepcionantes. Há várias cidades brasileiras de igual batismo de portuguesas. Ao lado de Lisboa está Oeiras, ascendente da primeira capital do Piauí. Em Portugal, são as câmaras municipais que assumem a administração, escolhido dentre os vereadores eleitos um presidente, que vem a ser o prefeito. O verdadeiro Poder Legislativo municipal é tocado por deputados. A Câmara Municipal de Oeiras adota o lema “Oeiras Marca o Ritmo”. A sede é vizinha ao Palácio do Marquês de Pombal (1699-1782), uma celebridade da história do país.

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Sebastião José de Carvalho e Melo: conde, marquês, nobre, diplomata, estadista e inspirador da elevação da Vila do Mocha à categoria de cidade em 1761, a piauiense Oeiras. O poeta Orlando Ribeiro Gonçalves (1929-2011) poderia ter dedicado a primeira estrofe de “Oeiras, Equador Sentimental” para a Oeiras de Portugal: Oeiras não é um ponto no mapa Oeiras não tem latitude, nem longitude Embora situada meridianamente em meu coração Equador sentimental de todos que, Iguais a mim, nasceram nela, nasceram dela e Detestariam ter nascido em outro lugar Atribui-se ao Marquês de Pombal o soerguimento de Lisboa, destruída pelo terremoto e tsunami ocorridos no dia 1º de novembro de 1755. Como secretário de Estado do reinado de D. José I, teria declarado e cumprido a promessa: “E agora? Enterram-se os mortos e cuidam-se os vivos.” Não é por menos que Oeiras preserva intacta a residência oficial do seu conde, ostentando jardins aconchegantes e um riachinho

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de águas correntes e límpidas. Não é por menos que a Avenida da Liberdade, em Lisboa, tem uma ponta na Praça do Marquês de Pombal. Na outra, a dos Restauradores, uma homenagem aos que lutaram contra o domínio da Espanha em 1640 e saíram vitoriosos. Os portugueses também venceram o medo do precipício. O Cabo da Roca é o ponto mais ocidental da Europa. Demarcava o fim da terra firme e o início do desconhecido. Era impossível ficar ali apenas curtindo o céu e o mar, coisa de turista. A Idade Moderna se colocava na proa. D. Fernando II de Portugal (1816-1885) construiu no Palácio da Pena, na Vila de Sintra, um pórtico para Tritão, o rei dos mares na mitologia grega. O país havia triunfado em suas navegações. A viagem à beira-mar até a vila meio romântica, meio hippie mas, o preço do metro quadrado é palaciano -, realça Portugal. Na aldeia Azenhas do Mar, o bacalhau com natas (uma torta fora do comum) tem o sabor de “quero voltar outras vezes”. Seu João Patrício - nosso guia de Lisboa a Sintra - orgulha-se da história e beleza de sua terra. Desanima-se, no entanto, como num fado, com a crise financeira “que nunca acaba” e degreda tantos jovens que nasceram depois da Revolução dos Cravos.

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Levar desvantagem

Um castigo por pegar o metrô de Viena sem pagar. Não havia memorizado a estação próxima do hotel, apenas o fim da linha 6 no Distrito de Floridsdorf. Os trilhos na superfície denunciam que a cidade se afasta, há algo de errado. É noite bem escura, não se vê o Rio Danúbio. Arrepio. Pela manhã, com a indicação de como chegar de metrô ao Palácio de Hofburg, foi tomada a medida correta de comprar os bilhetes na máquina (que traz instruções em inglês e espanhol). A volta de graça custou o susto de estar perdido. Um táxi providencial nos devolveu ao hotel. Deveríamos ter desembarcado em Gumpendorfer, 14 estações antes de Floridsdorf. Novo abuso no passeio ao Palácio de Belvedere: de bonde sem bilhetes validados. Risco de passar maus bocados se flagrados por uma blitz. O turista está sujeito a ser conduzido a uma delegacia para esclarecimentos e pagar a mesma multa cobrada ao cidadão vienense. Diz-se que é pesada. Consciência, pede um cartaz no metrô de Lisboa. A fraude pode sair muito cara: a “degradação do serviço”. Não é legal querer levar vantagem só porque está de passagem.

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Dobré odpoledne

A língua oficial da República Tcheca é o tcheco. Na Áustria, o alemão. Viajar a um país sem se preocupar em saber dizer “por favor”, “boa tarde”, “obrigado” e outras expressões básicas de gentileza na língua correspondente é desconsideração. Deveria ter pedido ao garçom em Praga: - Prosím, dát si pivo a klobásy. Prosím é por favor. Pivo é a cerveja. Klobásy, a linguiça. E agradecido: - dekuji. Simplesmente obrigado. O estranho tcheco na cabine do trem deve ter murmurado aos estranhos brasileiros: - Dobré odpoledne. Era, de fato, uma boa tarde entre Praga e Viena.

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Para onde vamos

Uma criança de seis anos muda de cidade e país de três em três dias. Hospeda-se em três hotéis. Viaja de avião e trem. A noção de residência fica um “bocadinho” avariada. Na travessia oceânica de regresso, Maurício quer saber: - Agora estamos indo para a Alemanha?

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Todos nós precisamos das coisas indispensáveis à vida, à sua conservação e ao seu continuamento; todos nós desejamos uma vida mais perfeita, uma felicidade completa, a realidade dos nossos sonhos (Fernando Pessoa)

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O país da felicidade

John Lennon (1940-1980) sonhou com a humanidade vivendo em nenhum país: sem religião, sem ganância, sem fome, sem disputas territoriais e todos partilhando tudo irmanados. O beatle foi assassinado em Nova Iorque por um fã que julgou e condenou sua musical ideia afrontosa a Deus. O iluminismo europeu no século XVIII confiava que a razão e a ciência venceriam a intolerância, o preconceito e a barbárie no processo civilizatório. Os anos se passaram e a perfectibilidade humana provou-se irrealizável. É impossível unir as nações em torno de um único bem comum: a felicidade. Sobre o querer-poder interior de ser feliz (ou estar feliz) há, em cada lugar e época, pesos econômicos, sociais, políticos, culturais, religiosos, familiares, ambientais e tecnológicos. A felicidade seria o fim de uma longa prova de obstáculos. Há povos e lugares mais ou menos felizes? Ainda que todas as condições sejam imperfeitas, às vezes até deploráveis, é possível sentir-se feliz? O Brasil, de tantas desigualdades, é mais feliz que a Europa, sendo um país “abençoado por Deus e bonito por natureza”? Um médico iraniano se mudou para Berlim e depois para Viena. Sem licença para exercer a profissão, dirige um táxi. Sonha com o Brasil, where happiness lives (onde mora a felicidade). Tem a

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certeza científica de que o melhor lugar do mundo é tropical. Não foi feliz no Irã e na Alemanha, nem está satisfeito na Áustria. O Brasil é sua utopia. Estaria no caminho certo, deixando-se levar pela experiência do fotógrafo Henri Cartier-Bresson (1908-2004), contada pelo seu biógrafo, Pierre Assouline, em “O olhar do século”. Mesmo com a provação de um ano de “solidão, doença e promiscuidade” no México, em 1934, bateu-lhe a certeza no retorno a Paris: No momento de partir, ele se diz para sempre francês no México, o país onde foi mais feliz, associado à lembrança de uma grande alegria de viver. Estaria errado, segundo o World Happiness Report (Relatório sobre a Felicidade Mundial) de 2013 da Organização das Nações Unidas (ONU). Entre 156 países pesquisados pela ONU, o Brasil ocupou a 24ª posição. O tão violentamente latino México, a 16ª. A França, 25ª. A última, o africano Togo. O Relatório sobre a Felicidade Mundial se fundamenta em entrevistas de pessoas sobre a satisfação em relação à renda, assistência social, expectativa de vida saudável, liberdade para fazer escolhas, combate à corrupção e generosidade. Os mais felizes estavam bem mais próximos do taxista de Viena: Dinamarca, Noruega, Suíça, Holanda, Suécia e a própria Áustria, em oitavo no ranking. O Irã e a Alemanha estavam menos felizes que o Brasil, na 115ª e 26ª posições, respectivamente. O escritor austríaco Stefan Zweig (1881-1942) defendeu a Eu-

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ropa unificada, abalou-se com a Segunda Guerra Mundial (19391945), exilou-se em Petrópolis (RJ) e presumiu, em 1940, que havia encontrado o “país do futuro”. Agradava-o a simplicidade do povo e a miscigenação. O oposto ocorria no Velho Mundo, onde Hitler e fascistas pretendiam “criar pessoas racialmente puras, como cavalos e cães de corrida”. O potencial brasileiro de promover a felicidade geral de uma nação foi incapaz de conter a depressão de Zweig. As notícias da guerra abreviaram a sua vida e da esposa, Charlotte. Suicidaram-se no dia 23 de fevereiro de 1942 com uma superdose de barbitúricos. Ele declarou aos amigos numa carta de despedida: Antes de deixar a vida por vontade própria e livre, com minha mente lúcida, imponho-me última obrigação; dar um carinhoso agradecimento a este maravilhoso país que é o Brasil, que me propiciou, a mim e a meu trabalho, tão gentil e hospitaleira guarida. A cada dia aprendi a amar este país mais e mais e em parte alguma poderia eu desconstruir minha vida, agora que o mundo de minha língua está perdido e o meu lar espiritual, a Europa, autodestruído. Depois de 60 anos são necessárias forças incomuns para começar tudo de novo. Aquelas que possuo foram exauridas nestes longos anos de desamparadas peregrinações. Assim, em boa hora e conduta ereta, achei melhor concluir uma vida na qual o labor intelectual foi a mais pura alegria e a liberdade pessoal o mais precioso bem sobre a Terra. Saúdo todos os

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meus amigos. Que lhes seja dado ver a aurora desta longa noite. Eu, demasiadamente impaciente, vou-me antes. (amigos suspeitaram que o Terceiro Reich havia eliminado o casal e forjado a carta) É no Uruguai (37º mais feliz na pesquisa da ONU) que reaparece a imaginação de John Lennon. O “velho” presidente José Pepe Mujica falou romanticamente aos poderosos do mundo na Assembleia Geral das Nações Unidas de 2013: Carrego o dever de lutar por pátria para todos. A tolerância é o fundamento de poder conviver em paz, e entendendo que, no mundo, somos diferentes. O combate à economia suja, ao narcotráfico, ao roubo, à fraude e à corrupção, pragas contemporâneas, procriadas por esse antivalor, esse que sustenta que somos felizes se enriquecemos, seja como seja. Sacrificamos os velhos deuses imateriais. Ocupamos o templo com o deus mercado, que nos organiza a economia, a política, os hábitos, a vida e até nos financia em parcelas e cartões a aparência de felicidade. Parece que nascemos apenas para consumir e consumir e, quando não podemos, nos enchemos de frustração, pobreza e até autoexclusão. Pensem que a vida humana é um milagre, que estamos vivos por milagre e que nada vale mais do que a vida. E que nosso dever biológico é, por cima de todas as coisas, respeitar a vida e impulsioná-la, criá-la, procriá-la e entender que a espécie é nosso nós.

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O Butão (não pesquisado pela ONU), montanhoso e espirituoso pequeno país asiático, inventou a medição do desenvolvimento pela Felicidade Interna Bruta (FIB), alternativa ao “insensível” Produto Interno Bruto (PIB) do “deus mercado” criticado pelo sonhador presidente Mujica. A felicidade não é brasileira, uruguaia, iraniana, alemã, mexicana, francesa, tcheca, austríaca, portuguesa ou privilégio de qualquer outra nacionalidade. Não é dádiva de um sistema político e econômico governado por um rei, ditador ou democrata. Pode estar em todos os lugares do planeta. É o que se imagina.

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... fecho os olhos e sonho: viajar, viajar mas para parte nenhuma...


viajar indefinidamente...como uma nave espacial perdida entre as estrelas. Mario Quintana


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Sugest茫o de leitura:

A conquista da felicidade, do fil贸sofo Bertrand Russel.

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Sobre o autor

Mauro Sampaio não é um escritor na essência da palavra. Apenas jornalista e meio fotógrafo. Fora as definições profissionais, bastase como brasileiro (na alegria e na tristeza) e torcedor cidadão do River Atlético Clube de Teresina. É autor de Mas, pai, é sério!, nascido das tiradas do filho, Maurício, e do Guia Turisticamente Incompleto da Europa – uma lua de mel. O país da felicidade é a segunda volta ao Velho Mundo.


Mauro Sampaio

O PAÍS DA FELICIDADE

A primeira vez no Velho Mundo, em lua de mel, resultou no Guia Turisticamente Incompleto da Europa. Guia na sutileza da palavra, da mesma forma aproveitada em texto e fotografia neste O país da felicidade. A nova versão, ambientada em Praga, Viena e Lisboa, introduz uma reflexão sobre a busca da felicidade motivada na certeza de um iraniano residente na capital da Áustria de que o Brasil é o melhor lugar do mundo. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Todo país tem sua história para contar. Na República Tcheca, liberdade. Na Áustria, nenhum reino é pleno. Em Portugal, navegar para descobrir o desconhecido. A felicidade vem a caminho, apátrida, transpondo obstáculos para alcançar, segundo o desejo inquieto de Fernando Pessoa, “a realidade dos nossos sonhos”.

O PAÍS DA FELICIDADE

Mauro Sampaio

Outro Guia Turisticamente Incompleto da Europa

República Tcheca

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Áustria

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Portugal


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