Mulheres Líderes

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Fernanda Oliveira

MULHERES LÍDERES

NO SERTÃO CENTRAL DO CEARÁ

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MULHERES LÍDERES

NO SERTÃO CENTRAL DO CEARÁ Fernanda Oliveira

“ESTE PROJETO É APOIADO PELA SECRETARIA ESTADUAL DA CULTURA DO CEARÁ, ATRAVÉS DA LEI N° 13.811, DE 16 DE AGOSTO DE 2006.”

Patrocínio

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Apoio

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PROJETO, PESQUISA, TEXTOS E FOTOS TEXTO DE APRESENTAÇÃO COLABORAÇÃO REVISÃO DE TEXTOS EDIÇÃO DE ÁUDIO PROGRAMAÇÃO PROJETO GRÁFICO TRATAMENTO DE IMAGEM EDITORA

FERNANDA OLIVEIRA BEATRIZ FURTADO CRISTIANA PARENTE KLYCIA FONTENELE KLYCIA FONTENELE ROSANE NUNES LÍVIO SEVERIANO FERNANDO BRITO LOCAL FOTOS TEMPO D’IMAGEM

copyright © 2007 FERNANDA OLIVEIRA Todos os direitos reservados. é proibida a reprodução desta obra ou parte dela, por qualquer meio ou forma, seja ela eletrônica ou mecânica, fotocópia, gravação ou outro meio de reprodução, sem a permissão expressa do autor.

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M U L H E R E S L Í D E R E S N O S E RTÃO C E N T R A L D O C E A R Á

Um encontro com o inapreensível Beatriz Furtado | Profa. Doutora da UFC - Autora convidada Algo se estabelece na relação de Fernanda Oliveira com as mulheres assentadas que permite apanhar um gesto de entrega. Suas imagens parecem doadas, resultado de uma partilha sem incômodos. São imagens mais próximas ao jeito de quem nos olha, numa simpatia de aproximação, do que objetos de olhares, cheios de investigação. Vinda de uma artista também jornalista, repórter fotográfica, é quase um dom, uma vez que o domínio da mídia coloca a imagem como presa e furto, numa exaustão do instantâneo. A contrapelo desse lugar, onde nada resiste, vemos a possibilidade do encontro da imagem com o simples da vida. É muito prazeroso apenas ver as imagens do jogar, seja do futebol ou do milho dado ao cavalo. Cenas cotidianas. Nem contra nem a favor, apenas partilhadas, feitas da companhia. Não há confisco nem denúncias, apenas convívio, vida se fazendo. Com elas, somos conduzidos a traçar os seus percursos. Acompanhar o arado do campo e a sua volta em sorriso. Sentir a firmeza de seus andares, como quem se encontra, apenas se encontra. O céu do final de tarde que Fernanda Oliveira desenha é de um azul esplendoroso, como aqueles dos guaches de Matisse (Nu bleu IV, de 1952, ou Femme a l”amphore, de 1953, ou em Baigneuse dans les Roseaux, de 1952). Não por acaso, azuis matissianos que também tecem mulheres. Aliás, as cores, não apenas os azuis, participam de suas imagens de um modo especial. Há um outro trabalho de Fernanda se fazendo onde as cores violetas renovam esse entrosamento com a imagem.

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FERNANDA OLIVEIRA

Digo entrosar cores apenas para sublinhar as misturas, sejam com as formas ou com os movimentos. As cores de Fernanda Oliveira, mais uma vez não apelam, ao contrário, guardam pertinência e se enroscam com o lugar. E isso já é muito. Cores são coisas difíceis de lidar. Muitos se afastaram, seja na fotografia, seja no cinema, do ato de colorir. Porque cores sofrem exigências, levadas a exalar sentidos fechados, dado que as cartilhas recitam para cada uma delas um querer dizer estabelecido. Outro salto que as imagens de Fernanda Oliveira dão é o não se ocupar do discurso e do estereótipo que mulheres em assentamentos evocam. Não há gestos marcados, muito menos de vermelho, queimado. Seu olhar é honesto, sincero apenas. Talvez, seja essa relação de sinceridade que nos permite entrar sem tropeços nessas imagens. Em especial, os retratos trazem esse estado. Na série da mulher de chapéu e camisa rosada, há uma entrega, um convite mesmo para que compartilhemos de sua companhia. Nos sentimos bem-vindos. Aqui, a imagem se abre em encontros, em possíveis. É uma imagem crente, que se permite nos jogos entre corpos companheiros, na brincadeira, na alegria. Entre os retratos, há um outro que é fundamental para fruir nessa esteira de quem nos acolhe. A da mulher que se posta em rugas traz uma fecunda mansidão. É absolutamente relevante que o seu olhar, apesar de baixo, e do rosto acompanhado por uma mão já pouco hábil, não reabilite o confronto referenciado na terra seca. As marcas que se inscrevem nessa imagem não nos apunhalam com a passagem dura do tempo. Apenas dizem de passagens. Como as das nuvens, as dos ventos que vão deixando seus traços. Sim, são imagens que envolvem riscos. Então, lembro-me de um trabalho de Arthur Omar, sobre a Amazônia (O Esplendor dos Contrários), onde ele diz que quis fazer um livro eliminando a grade jornalística ou ecológica que marca a temática. Por isso, fez imagens com um olhar de apropriação, de associação de formas e não pelo imediatismo da fotografia que registra. Não se trata apenas do tempo de fazer a foto, mas do tempo de viver interiormente a imagem. Remeto o trabalho de Fernanda Oliveira, com as mulheres de assentamentos, a este mesmo espaço de luta da imagem de Omar. E encontro um itinerário pessoal, da viagem, do encontro com o inapreensível.

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Campeonato de Futebol feminino e masculino. Assentamento Alegre contra assentamento Vista Alegre (17/10/2005).

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“Os fragmentos de realidade apresentados neste trabalho, são alguns entre tantos existentes nas diversas realidades deste país. Todas essas realidades merecem e devem ser difundidas, para isso serve a pesquisa.” “Nossa intenção era de chegar e permanecer nos assentamentos da forma menos invasiva possível, pois somente assim poderíamos captar momentos de espontaneidade genuína.” “Chegávamos ao assentamento, preparados para seguir os caminhos que os sujeitos da pesquisa percorressem e não as trilhas pré-determinadas de um método rígido de pesquisa.” “A fotografia deixou de ser apenas mais um recurso de auxílio e passou a ser o instrumento de construção do conhecimento.” “Pensava que a realidade daquelas mulheres não era pior ou melhor que as mulheres da cidade, não conseguia ver de maneira comparativa, mas apenas de maneira singular. Percebendo o cotidiano delas como particular, com coisas boas e ruins, assim como todo ser humano.” “Podemos concluir em nosso trabalho, baseada nas imagens, nas entrevistas, nos livros pesquisados e nas visitas realizadas, que a mulher líder é símbolo de uma geração de mulheres do Sertão Central do Ceará, podendo vir a ser exemplo de transformação nas relações de gênero.”

Fernanda Oliveira | Trechos da pesquisa

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MULHERES LÍDERES

NO SERTÃO CENTRAL DO CEARÁ

Mulheres Líderes no Sertão Central do Ceará é a porta de entrada para uma interessante pesquisa etnográfica. Neste rico e importante ensaio fotográfico etnográfico, Fernanda Oliveira documenta e reflete sobre cenas do diaa-dia de mulheres, homens e crianças dos assentamentos onde vivem, Alegre, Caraíbas e Vista Alegre na zona rural de Quixeramobim, Ceará. Como protagonistas principais estão as vidas de quatro mulheres líderes – Sueli, Dôra, Rocicler e Maria – agricultoras, donas de casa, mães e líderes de associações comunitárias e sindicatos. Pesquisa premiada na edição 2006 do Prêmio de Incentivo às Artes da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará - SECULT (categoria Publicação) e no Prêmio Novos Expositores da CAL 2007 - Casa de Cultura da América Latina - Universidade de Brasília Decanato de Extensão, UNB. Com Mulheres Líderes no Sertão Central do Ceará, Fernanda Oliveira já transpôs o Atlântico, levando seu trabalho ao V Congresso da SOPCOM - Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação, Braga, Portugal. “O sertão me inspira, me intriga, me inquieta. O sertão me deixa sincera.” (Fernanda Oliveira, novembro 2006)

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