8 minute read

Mangualde “é uma terra de oportunidades” no setor primário

A garantia é do presidente da Câmara, Marco Almeida

Advertisement

Mangualde “é uma terra de oportunidades”

De um concelho industrial, Mangualde está a tornar-se um modelo de aposta no setor primário. Com um setor industrial bastante forte, - onde pontificam a Patinter, a maior empresa nacional de transportes logísticos, e a Stellantis, multinacional do setor automóvel, - o concelho tem vindo a fazer uma aposta forte na agricultura.

Em entrevista à Gazeta Rural, o presidente da Câmara define o setor primário como “um dos principais eixos de desenvolvimento do concelho”. Marco Almeida quer criar condições para elevar o concelho para um “patamar de excelência”, considerando que hoje “Mangualde é uma terra de oportunidades”.

Gazeta Rural (GR): Mangualde, de cidade industrial, tem vindo a mudar o paradigma e a tornar-se num dos centros de produção de pequenos frutos, nomeadamente mirtilo?

Marco Almeida (MA): O concelho de Mangualde sempre foi conhecido pela sua forte componente industrial, mas uma das vias que queríamos fazer, e foi sufragada há menos de um ano, é que tínhamos que ter vários caminhos para avançar com o seu desenvolvimento. Na nossa opinião isso passa por uma aposta no setor primário, concretamente na agricultura.

O concelho de Mangualde está inserido em três regiões demarcadas com denominação de origem protegida (DOP), como são o vinho do Dão, o queijo Serra da Estrela e a Maçã Bravo de Esmolfe. Neste momento temos mais de 650 hectares de produção de vinha, mais de 350 de olival, cerca de 250 de frutos vermelhos, como mirtilos, framboesa, morango, goji e outros com menor expressão. Perante este cenário, não podíamos ficar indiferentes e, por isso, temos que

olhar para o setor primário, e concretamente para também à produção. Com isto queremos valorizar a raça e a produagricultura, como um potencial fortíssimo e aquele ção de leite para o queijo Serra da Estrela DOP, que é um produto que deve ser um caminho e a trajetória de desenvol- único, que tem que ser valorizado, que é nosso e uma marca de vimento do concelho. toda a região. Também aqui queremos estar na linha da frente e,

Se nós formos fortes também no setor primário, na por isso, o que temos feito é olhar para o território, encontrar as agricultura, vamos conseguir ser fortes no turismo, na suas potencialidades e depois trabalhá-las. habitação e nas respostas que temos que dar, nomea- Como atrás referi, se formos fortes na produção de vinho, na damente na área social e educação. Estes setores vão maçã, no queijo, nos frutos vermelhos, no mel - temos centenas de trabalhar sempre de mão dada, vão andar sempre a apicultores no concelho com milhares de colmeias - e outros, vapar uns dos outros. Não vale a pena acharmos que, se mos conseguir ser fortes no turismo, que é quem nos traz pessoas formos fortes só numa área de desenvolvimento, vamos de fora ao concelho, que vai valorizar aqueles produtos. Sabemos conseguir atingir o patamar de excelência. Para lá che- que as pessoas quando procuram um território, fazem-no se ele garmos, temos que fortes em muitas áreas e, nos tempos se diferenciar, mas também se tiverem nele uma boa experiência. atuais, não podemos ser bons, temos que ser muito bons.

“Quem está perto de tudo, não está perto de nada”

“A agricultura tem que ser um dos principais eixos de desenvolvimento do nosso concelho”

GR: Nessa perspetiva a agricultura é o caminho?

MA: Nós olhámos para o território e percebemos que a agricultura tem que ser um dos principais eixos de desenvolvimento do nosso concelho. Por isso, além de estarmos a trabalhar bem na valorização dos nossos recursos e dos produtos endógenos, únicos, que produzimos, estamos a fazer um outro trabalho, que passa pela criação de uma zona industrial de acolhimento de base rural, para podermos dar resposta à procura que temos e às nossas necessidades. Por isso, é nosso compromisso que nos próximos anos Mangualde seja a principal referência de toda a região, que diz respeito à agricultura e ao setor primário.

GR: Que passos têm sido dados nesse sentido?

MA: Dou-lhe um exemplo. Acabaram recentemente as candidaturas ao pedido único no nosso gabinete da agricultura. Foram feitas mais de 800 candidaturas, o que quer dizer que temos muitas pessoas a trabalhar na terra. Dar nota também que, no que diz respeito aos frutos vermelhos, - e falo neles porque deram efetivamente um salto significativo, - temos, neste momento, mais de 200 hectares de área de produção, sendo que destes mais de 50% são de jovens agricultores, que olham para agricultura não numa perspetiva empresarial e de criação de postos de trabalho, o que nos traz também outra visão de como deve ser trabalhada a agricultura, dando-nos a garantia de que podemos olhar para o futuro e ver que há um potencial de desenvolvimento económico de valor para o concelho. Não podemos fazer de conta que isso não existe.

GR: E no plano turístico o concelho está bem localizado?

MA: Sim, Mangualde está bem localizado geograficamente e estrategicamente. Está perto de Aveiro e de Vilar Formoso, tem linha férrea, tem a A25, que passa por dentro de Mangualde, e estamos a poucos quilómetros do aeroporto. Contudo, este é o pior discurso que se pode ter, porque quem está perto de tudo, não está perto de nada. Aquilo que nós queremos é ser a principal referência do coração de Portugal e fazer com que, quem vive em Vilar Formoso, em Espanha, no Porto, em Aveiro, em Lisboa, ou noutro local qualquer do país, venha a Mangualde, porque tem a possibilidade de viver uma boa experiência, que é comer o queijo Serra da Estrela DOP e os nossos frutos vermelhos, beber um bom vinho do Dão, degustar um bom mel, passear pelos nossos percursos pedestres, fazer uma visita ao nosso património edificado ou aos rios Dão e Mondego. Sim, porque nós somos ladeados por dois rios. É este conjunto de fatores que vai permitir que quem nos visita tenha uma boa experiência. Nós temos estado a fazer esse trabalho, com os pastores, com os produtores de vinho, mel, queijo e maçã, porque queremos trabalhar de perto com eles. Se trabalharmos em sintonia, vamos conseguir atingir o patamar que queremos.

GR: Essa estratégia passa também pela fixação de pessoas, sendo certo que muita gente hoje procura zonas do interior? Acrescento que há muita gente que trabalha em Mangualde, mas que cá não vive?

MA: Claro, mas nós só vamos conseguir captar pessoas se formos atrativos, se formos diferenciadores.

GR: Como disse antes, o concelho tem outras potencialidades Quem quiser mudar de terra ou de concelho para viver no setor? vai procurar respostas, como trabalho, habitação, boas

MA: Naturalmente. Por exemplo, no queijo. Mangualde é hoje o escolas para colocar os seus filhos a estudar, se tem maior produtor de queijo Serra da Estrela DOP, como uma cota su- respostas sociais, se tem boas creches, se tem cultura perior a 60%. Por isso, o município atribuiu recentemente um apoio e se é um território atrativo, do ponto de vista verde financeiro aos pastores com ovelha Bordeleira Serra da Estrela, mas e ambiental. Isto tem que ser um trabalho conjunto.

Quando referi que temos que trabalhar em rede, é por isso mesmo. Quando tomamos posse, além do caminho e a aposta que queremos fazer na agricultura e na sua valorização, não queremos com isto dizer que o setor industrial não é importante para o concelho, porque essa é a nossa marca há muitos anos.

Nós temos a Patinter, que é maior empresa de transportes logísticos, e a Stellantis, que é a empresa de construção automóvel mais antiga do país. Temos uma marca própria, que tem a ver com a cluster automóvel, dos transportes logísticos e da marca do carro.

Se tudo isto é importante, depois temos que ser fortes também naquilo que disse atrás. Estamos a fazer um investimento de mais de um milhão de euros para dotar os equipamentos escolares de boas infraestruturas, para dar resposta àqueles que são os homens e as mulheres de amanhã. Ao mesmo tempo, estamos a dotar vários equipamentos, em parceria com as instituições sociais do concelho, e estamos a trabalhar nas respostas sociais. Até final do ano vamos ter um dos três projetos-piloto no país, com a criação de uma residência para mulheres idosas vítimas de violência doméstica. Um a norte, um no centro, em Abrunhosa do Mato, na freguesia de Cunha Baixa, e outro no sul.

Além disso uma das principais medidas, quando tomámos posse, foi reduzir o imposto do IMI de 0,34 para 0,32, com compromisso de até ao próximo ano o colocarmos no valor mínimo, para podermos ser atrativos para aqueles que vivem no concelho e que pagam dos IMIs mais baixos do país, mas também para quem cá quer vir viver.

Dizer também que, na área da habitação, temos hoje um volume de projetos aprovados para a construção de novos fogos com não se via há décadas. A minha única preocupação é a conjuntura que estamos a viver neste momento e que pode ter impacto nos investidores. Porém, se tudo correr bem,

dentro de dois a três anos teremos mais de 150 novos fogos no concelho. Hoje temos um concelho capacitado, com candidaturas feitas aos quadros comunitários, para criarmos mais e melhores respostas sociais para aqueles que muito contribuíram para o desenvolvimento deste concelho. Temos também que trabalhar noutras áreas, como continuar a apoiar e a desenvolver as zonas industriais, para criar mais emprego, melhor emprego, trabalho mais qualificado e outro tipo de oportunidades. Estamos também a trabalhar naquilo que são as nossas referências na cultura, como Ana de Castro Osório; inaugurámos um novo espaço desportivo, onde a Câmara investiu mais de 150 mil euros, para quem pratica desporto. É bom lembrar que a nível desportivo

Mangualde tem tido resultados extraordinários, fruto de trabalho de várias instituições. Por isso, temos campeões olímpicos, europeus e mundiais, que são o nosso orgulho.

Sabe, eu não tenho um pensamento negativo sobre os territórios de baixa densidade, porque acho que oferecem inúmeras oportunidades. Estamos perto de tudo e temos muita coisa para oferecer. Temos boas empresas, homens e milhares extraordinários, temos referências e boas vias de comunicação. Diria que somos uns privilegiados. Olho para este território e acho que tem muito potencial, que, acredito, nos vai levar a patamares de excelência. Temos é que fazer o nosso caminho e, acima de tudo, criar confiança nos investidores e nas pessoas. Estas devem saber que Mangualde é uma terra de oportunidades.

This article is from: