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FEVEREIRO 2013
Fev. 2013
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EDITORIAL O homenageado deste número é o poeta e cronista José Chagas, conforme escolha de 50% das pessoas que votaram na pesquisa em nossa página no Facebook. O poeta nascido na Paraíba e que escolheu o Maranhão como novo lar concorreu com nomes importantes como Bandeira Tribuzi e Nauro Machado, e teve a preferência do público. Mas este número não se limita a José Chagas, sobre o qual colhemos algumas apreciações críticas de importantes estudiosos de nossa literatura, falamos também da poesia de Ana Luíza Almeida Ferro, com seu novo livro de poesia: O Náufrago e a linha do horizonte, recentemente publicado, e da musica de Ary Otello, além do centenário de nascimento do grande teatrólogo Cecílio Sá. Novamente pedimos que quem quiser pode colaborar com textos (poemas, contos, crônicas, artigos) de até duas laudas, pois a ideia do informativo é dar espaço para quem produz e estuda nossas letras. Até o próximo mês!
O informativo literário ILHAVIRTUALPONTOCOM é parte integrante do projeto de pesquisa Sistema Literário Maranhense, financiado pela Faculdade Atenas Maranhense e conta com a participação de Susane Ribeiro (pesquisadora-bolsista) e José Neres (coordenador da pesquisa).
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Primeiro conheci José Chagas através do que ele escrevia, depois o conheci de vista, pelo meado dos anos 50, quando minha mãe o mostrou a mim na rua, matando a curiosidade que eu tinha pelo menos de vê-lo, pelo excelente conceito que ele já gozava nos meios intelectuais de São Luís. Tinha lançado o Canção da Expectativa e era, sem dívida, o melhor cronista da cidade, lúcido, corajoso e independente, com um estilo extraordinariamente sedutor. (Arlete Nogueira da Cruz— em Sal e Sol, Rio de janeiro, Imago, 2006, p. 93)
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José Chagas, em seus livros de poesia e nos seus volumes de prosa, tanto enobrece a língua portuguesa como coloca-se no mesmo patamar das grandes vozes da moderna poesia brasileira. Nesse patamar, como se sabe, só há lugar para artistas que reinventam a literatura ou reinventam-se. Na obra de Chagas, há o coloquialismo da linguagem , o humor usado com arma para desvendar a realidade o gosto pelo verso curto e livre. Ele atribui isso à influência da literatura de cordel, e os contatos com os cantores, violeiros e repentistas que mararam sua incursão na vida literária. (Felix Alberto Lima – no livro Chagas em Pessoa. São Luís: Fundação Municipal de Cultura, 2006. P. 59)
Chagas no lançamento do livro Chagas em Pessoa
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O impressionante em Chagas é a capacidade de unir elementos de seu laboratório técnico à mais alta expressividade emotiva do produto daí resultante, o ajuste do significado ao significante, a redução, em muitos de seus poemas, da expansividade cósmica a um único ponto capaz de sintetizar em apenas um trecho-temário a solidão de que é possuidor. (Nauro Machado – No livro As Esferas Lineares. Imperatriz: Ética, 2009, p. 106)
José Chagas entre os acadêmicos Ceres Costa Fernandes e Jomar Moraes (fonte da imagem: internet)
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Olhe aí a palafita crescendo sobre a maré. O homem que nela habita caranguejo ou peixe é. Caranguejo que se irmana com os bichos dos lamaçais, na condição desumana de caminhar para trás, de voltar à pré-história, - vergonhosa marcha à ré e afogar sua memória no ir e vir da maré.
José Chagas é um grande poeta do Maranhão, e dele já temos ais de uma vintena de livros, para a felicidade de todos os que apreciam ver a poesia cultivada em timbres de consciente elevação e constante espontaneidade. (Sebastião Moreira Duarte – No prefácio do livro Da Arte de Falar Bem. São Luís: Instituto Geia, 2004)
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O poeta José Chagas não é maranhense (ele nasceu no Estado da Paraíba), mas seus vínculos com o Maranhão datam de longos anos. Aqui, chegou e integrou-se efetivamente à nossa cultura, com uma contribuição para as letras – poesia, crônica, sobretudo, que pretendemos avaliar nas suas reais dimensões. A sua produção literária é extensa e, por isso, exige uma apreciação crítica multiforme para evitar um enfoque limitado. (Carlos Cunha – em As Lâmpadas do Sol, São Luís: Fon-Fon, 1980, p. 83)
Fonte da imagem: internet
CRÔNICA DE JOSÉ CHAGAS: A GUERRA DESARMADA
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Ainda não se sabe qual a arma a ser usada no intrincado processo do desarmamento de que tanto falam os que adoram fazer demagogia. Há sobre isso muita conversa fiada e desconfiada, que vem de longe no tempo, e que até hoje não tem chegado a qualquer resultado satisfatório. Trata-se de uma guerra que se contradiz ou de uma luta pelo avesso. De um modo geral, as armas são fabricadas para as guerras e guerrilhas, tanto que não deixa de ser curioso que se pretenda fazer uma guerra contra as armas e por pessoas desarmadas. Nem se faz necessário dizer que essa é a mais desigual das lutas, num filme já tantas vezes exibido e em que os bandidos evidentemente levam mais vantagem do que os mocinhos, que, no caso, além de não terem armas ainda caem em armadilhas. Sempre me causou dúvida o empenho ingênuo, para não dizer imbecil, dos que pregam o desarmamento das pessoas pacíficas e esquecem os que se armam com o fim deliberado de ameaçar, assaltar, matar. E é isso o que se tem verificado nas tantas campanhas de desarmamento promovidas por aí e das quais são encarregados alguns indivíduos que se improvisam de pacificadores pela metade. São campanhas a favor dos bandidos, pois estes podem invadir tranquilamente uma casa, sabendo que lá dentro não há ninguém armado. É bem mais fácil e mais cômodo tirar a arma de uma pessoa pacata. E não há nada mais estúpido do que, depois disso, deixar uma arma na mão do assaltante, já que aí o pretenso desarmamentista não se arrisca a tomá-la. Também você não pode ter porte de arma para defesa pessoal. O bandido pode portar e até importar. Quem se importa? Por isso tiram a arma que você por acaso tenha em sua residência, mas não a do marginal que está lá fora, na rua, pelo que você tem que se trancar, ficando até impedido de sair de casa, por falta absoluta de segurança pública. Alegam que você, como pessoa de bem, não tem experiência com armas e corre perigo, embora fique sujeito a um perigo maior, na mão do malfeitor, que é perito no assunto. Mas já então é esse um problema seu, cuja solução é você não reagir quando der de cara com o assaltante. Deixá-lo agir em paz. Não é por outra razão que já em certas cidades as gangues é que mandam. Determinam a hora de abrir e fechar o comércio, marcam horário para a população se recolher, assumem enfim o poder, por conta própria, e até as autoridades constituídas obedecem, porque afinal essas só têm coragem de desarmar a população. E o pior é que, conforme dizem, estão aprovando assim um chamado Estatuto do Desarmamento. Várias vezes já escrevi inutilmente sobre essa visão errada que sempre persistiu.
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No entanto, há poucos dias, para grande surpresa minha, li afinal a esse respeito uma notícia diferente. Dizia um jornal que “deputado quer deflagrar operação de desarmamento de bandidos e pede ajuda do Exército.” Acrescentava enfaticamente que “ao contrário do que os apressados possam imaginar, o desarmamento não seria da população de bem, mas dos bandidos.” Eis algo novo sob o sol de São Luís. É certo que, nas condições em que vivemos hoje, neste país, não se pode ir de logo acreditando em iniciativas dessa natureza. Mas, que diabo, há pelo menos aí um pouco de lógica. É já um passo dado para fora do absurdo. Temos enfim alguém que pode não chegar aonde quer, mas vai na direção certa. Só que há um detalhe a considerar e que pode causar certa dificuldade à operação sugerida pelo deputado. É que ele, ao apelar para a ajuda do Exército, justifica isso dizendo que “hoje os soldados do Exército não fazem nada, não protegem nada e estão apenas sugando o Estado.” Não creio que sejam palavras que possam soar bem ao ouvidos de uma instituição à qual se pede auxílio. E essa mudança de perspectiva traz outro fato a ser lembrado. É que, segundo a mesma notícia, a bandidagem tem aparato de primeiro mundo, enquanto o Exército é ainda do terceiro e está praticamente sem recursos para enfrentar armamentos de última geração, como os de que dispõem os elementos da marginalidade. Mas esclarece o jornal que a ação de desarmamento consistirá em visitas estratégicas aos bairros de maior periculosidade para tomar das mãos dos bandidos as armas de grande alcance. E será que faz parte da estratégia a pressa de tornar público o modo como vão agir? Há ainda o argumento de que não é admissível que os bandidos tenham armas poderosas e os policiais só disponham de simples revólveres. Daí o empenho de tirar daqueles as armas de grande alcance. Donde se conclui que não haverá desarmamento propriamente dito, mas apenas um esforço para que a luta seja de igual para igual. (O Estado do Maranhão 06/09/2003)
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ARTIGO: CHAGAS: POEMA E POESIA
Por José Neres
Na poesia contemporânea, em que predominam os versos brancos e livres, além da espacialização das palavras, poucos são os escritores que dominam a versificação sem matar o sentimento poético. Muitos sabem escandir versos com perfeição, mas quase nada têm a dizer. Outros – embora cheios de conteúdo – preferem as formas soltas, sem preocupações métricas. Raros são os que conseguem fazer poemas e, dentro de uma forma estabelecida previamente, pôr a essência poética das palavras. É nesse último grupo que se deve estudar José Chagas. Paraibano de nascimento, maranhense por opção e poeta por instinto, talento e vocação, José Francisco das Chagas, ou mais simplesmente José Chagas, é autor de uma alentada e bem construída produção poética. Sua bibliografia já superou a marca de três dezenas de livros publicados e certamente esconde mais alguns volumes em sua gaveta de preciosidades literárias. Em José Chagas, o leitor pode encontrar um pouco de tudo no que diz respeito à arte poética: crítica social, filosofia, metalinguagem, lirismo e sentimento telúrico. Dono de um estilo que valoriza a plástica do poema sem deixar em segundo plano o conteúdo da mensagem a ser passada, podemos encontrar na obra desse poeta uma infinidade de recursos técnicos e estilísticos que bem poucos ousariam tentar. Uma mistura de clássico e moderno eleva o que poderia ser apenas regional à dimensão de universal. Tirando alguns poemas de caráter panfletário (tão bem construídos que em nada diminuem o valor conjunto da obra), os poemas de José Chagas tratam de temas que são comuns a todos os homens do presente do passado e do futuro e de qualquer lugar da Terra. Em alguns casos, basta que tiremos o nome da cidade de São Luís para atingirmos o tom cosmopolita dos versos. Em MaréMemória, por exemplo, podemos encontrar diversas passagens em que o ritmo dos versos não deixa que a leitura seja interrompida. Em um fôlego, o leitor devora o texto e entra em contato com uma realidade tão clara quanto a linguagem empregada. Impressiona como uma realidade tão crua possa ser transcrita de um modo tão belo.
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Aquimeuontem meuhoje lá a manhã
lá
em que a relação presente-passado-futuro é suscitada pela junção de advérbios e pronomes e pelo distanciamento do elemento dêitico “lá”. Para o verdadeiro poeta, tudo pode ser assunto de poesia, inclusive a própria poesia. Em A Arcada do Tempo, José Chagas faz uma viagem pelo mundo da metalinguagem e faz poemas em torno do difícil tema da poesia. Um desfile de homens de letras e textos literários compõem as dez partes do livro. As quadras saem ritmadas e se encaixam perfeitamente n contexto do livro. O autor teoriza sobre o fazer poético, pois para ele O poema acompanha O que o homem sente Cravado na entranha Com unha e dente
A capital maranhense é um dos temas mais recorrentes do autor de Os Canhões do Silêncio. Em seu livro Os Azulejos do Tempo – Patrimônio da Humana Idade, ele apresenta mais de duas centenas de sonetos com um tema central: São Luís do Maranhão. Mas, ao contrário do que se pode imaginar, não se trata de um livro apenas de elogios. Além de ver as belezas da cidade, o poeta também deixa clara sua indignação com alguns dos problemas que estão enraizados na Ilha. Deixa inclusive um questionamento sobrea verdadeira cidade: Essa é mesmo a cidade azulejada, Ou a cidade aleijada em seu azul?
Em Apanhados do Chão, o eu lírico faz um passeio por São Luís, contando fragmentos da história da cidade e associando o presente ao passado. Do chão tão conhecido, o poeta tira a essência de seus versos. O périplo do poeta não tem um destino, mas sim um objetivo: não deixar enterrados os mitos, as lendas e a história da cidade que o acolheu como um filho.
Este texto é parte do artigo Chagas, Poeta Crônico, do livro Nas Trilhas da Palavra, a ser publicado em 2013
O pequeno livro Os Telhados, que alterna versos livres e metrificados, traz momentos de pura reflexão. O eterno questionar humano aparece de modo denso e intrigante, deixando-nos a certeza de que “contemplar os voos parece trabalho fácil / mas deles cai sobre nós a angústia de ficarmos”. As metáforas são bem construídas, exigem esforço mental. Até o espaço em branco no papel ganha importância. Nada está no texto por acaso e a construção dos neologismos aproxima o leitor da interpretação, como é o caso de:
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LIVRO EM DESTAQUE
Atualmente, um bom livro de poemas geralmente tem como cartão de visitas um bom título e uma capa que esteja alinhada com a temática a ser desenvolvida. Mas isso não passa de detalhes técnicos que podem ser resolvidos por um bom capista e por alguém de bom senso estético para definir o título. Um bom livro e poemas é aquele em que a capa passa a ser menos importante que o conteúdo e no qual se perceba, a cada página o esforço do autor (ou autora) em selecionar as palavras, o ritmo e de colocar em cada verso algo que saia do comum e que leve à reflexão e ao encantamento pelas imagens desenhadas com as palavras. O mais recente livro de Ana Luíza Almeida Ferro é um desses trabalhos em que o leito começa se encantado com a bela capa, mas ao ler os primeiros poemas, percebe que valeria a pena ler os textos mesmo que o livro nem mesmo viesse encadernado. Os poemas trazem uma mescla de crítica social, lirismo e jogos de palavras, sem perder de vista a essência poética e um incessante trabalho estético com a linguagem. É um livro para se ler aos poucos, saboreando os poemas e sentindo o calor das palavras que traduzem um modo poético de ver o mundo, com as máscaras da poesia, mas sem tentar esconder uma incômoda realidade.
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O Náufrago XII O náufrago é o alter sitiado pelo ego
os lados por todos
O homem que não era super L’homme ivre d’une ombre qui passe Porte toujours la châtiment D’avoir voulu changer de place. Baudelaire
Sob as últimas luzes da ribalta perdido na madrugada de vida incauta em estéril noitada o homem que não era super que não era Rambo que não era Flash que não era Deus Carlitos sem graça passo em descaminho corpo sem massa mundo em desalinho
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Os versos quase sempre românticos de Ary Otello novamente encontram a voz cadenciada de Joel Mistokles e como resultado chega aos ouvidos de quem admira a boa música o CD Amor de Vidro, que deixa para o ouvinte a sensação de estar entre a devoção pela alma e o desejo pelo corpo; entre o sagrado da intocabilidade do ser e a certeza de que tudo pode ser dessacralizado. O estilo voz e violão agrada aos amantes da música e é um dos chames do CD, que é uma produção independente de um artista que procura seu lugar no cenário musical maranhense.
Contatos com o autor: aryotello@hotmail.com
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AGENDE-SE
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“Fazíamos [teatro] como brincadeira, como diversão e uma peça de autores consagrados estava acima da nossa concepção. Então a gente fazia coisas que estavam enquadradas dentro da realidade popular das nossas possibilidades.” (Cecílio Sá— No livro Memória do Teatro Maranhense, de Aldo Leite, p. 120)