João Guilherme Whitaker Orientador João Bonelli Professores Cláudia Bolshaw, Leonardo Cardarelli, Marcelo Pereira, João Alegria, Maria das Graças Chagas, Miguel Carvalho, João Bonelli, Rian Rezende, Joy Till, Eliane Garcia.
PUC - RIO DSG 1041 Projeto final em Mídia Digital
// S u m á r i o //RESUMO
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//INTRODUÇÃO
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//GRAFFITI NO RIO
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//DA RUA PARA GALERIA
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//CONTEXTO HISTÓRICO
//AUTOMAÇÃO
// REPRODUÇÃO
// OBJETIVO - REFLEXÃO // ANÁLISE DE SIMILARES // EXPERIMENTAÇÃO
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// DESENVOLVIMENTO // TESTE COM USUÁRIO // PRODUÇÃO
// AUTOR DA OBRA
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67 89 100
114
// ESTUDO DE NOME
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// CONCLUSÃO
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// REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
131
//
Resumo O presente trabalho visa uma reinterpretação do graffiti para uma
experiência digital, abordando questões controversas presentes atualmente no seu desenvolvimento, tais como rua versus galeria, gestual versus automação, apreciação versus criminalização. Partindo das diferentes relações e interpretações pessoais do tema, este trabalho propõe uma reflexão sobre o graffiti como expressão artística, através da experimentação com ferramentas digitais. “This work is a re-interpretation of graffiti as a digital experience that highlights controversial dualities considered in the process of its creation, such as the presence of graffiti in the street and in galleries; its appreciation and its criminalization; and the value of manual art versus mechanically reproduced art. Taking as a starting point the many interpretations a single piece of art can have, this work prompts reflection on graffiti as an artistic expression through experimentation with digital tools and physical computing.”
Drip Sessions, Graffiti Research Lab 2006
Bragga, Lapa 2008
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// INTRODUÇÃO
João Whitaker 2PIU, S. José do Vale do Rio Preto 2012, foto Amanda Vieira
Este trabalho iniciou-se, de certa forma, antes da minha matrícula na
matéria de DSG 1041 Projeto 7. O interesse pelo graffiti foi o estopim do meu ingresso no curso de Design, e na medida do possível conciliava meu interesse pelo tema aos objetivos de projeto. Para o presente trabalho, parti das indagações dos diferentes olhares sobre as obras de graffiti espalhadas pela cidade. Intrigante o modo como cada um que passava notava um aspecto diferente da obra, que o fazia contemplar aquilo de maneira única: a combinação das cores, o tamanho da obra, a forma das letras, a interação com elementos da rua, a atitude de fazer a arte sem cobrar nada (por vezes até na ilegalidade e sendo punido por isso), a intenção de gerar o sorriso em alguém, o trabalho em grupo, ou mesmo um olhar voltado a aspectos negativos, o dano ao patrimônio, a mensagem inadequada, um desenho sem capricho.
A partir dessa contradição inicial, percebi outros paradoxos presentes
no desenvolvimento do graffiti, da sua origem até os dias atuais, através da pesquisa que precede este trabalho. Primeiramente, a polêmica clássica, de uma expressão artística que é ao mesmo tempo contemplada e criminalizada. Segundo, a controvérsia de uma arte efêmera que pertence às ruas, porém é presente e imortalizada em galerias e museus. Terceiro, o aspecto mais relacionado a este trabalho, a relação de uma expressão artística artesanal com a arte digital tangível. Para discorrer sobre estas e outras controvérsias que permeiam o tema, é necessária a contextualização dessa arte e um panorama geral sobre os acontecimentos relacionados.
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// contexto histÓRICO Cops in the Train, The Bronx, 1981, livro Subway Art 25th anniversary edition, Martha Cooper
O Graffiti, a escrita nos muros, foi primeiramente usado para
contestação política e marcação de território de gangues nos EUA, em meados de 1930, porém o princípio do graffiti como conhecemos hoje só foi aparecer no final dos anos 60, quando um dos escritores ganhou fama fora da cultura underground. TAKI 183 era o codinome do adolescente de nome Demetrius, e 183 era a rua que ele morava. Como utilizava o metrô diversas vezes ao dia para trabalho, tirou vantagem disso e espalhava seu tag* com facilidade e rapidez em vários carros de várias linhas diferentes, ganhando reconhecimento ou gerando dúvidas nas pessoas. As diversas aparições desse nome inusitado, foram registradas em um artigo no jornal New York Times, consolidando a repercussão que o graffiti estava tendo na época. Assim como Taki183, outros nomes surgiam nos metrôs, fazendo com que se percebesse que essa era a melhor plataforma para lançar seus nomes e ganhar reconhecimento por pessoas de outras áreas da cidade também entusiastas dessa cultura. A partir disso, vários jovens de toda a cidade de NY comecçaram a lançar seus tags, cada um querendo mais atenção que o outro.
TAKI 183 - o primeiro reconhecimento pela mídia do graffiti. NY Times, 1971
tag * - assinatura do graffiteiro; seu nome; pixo
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Gangue reunída no “Writers Bench”. foto Martha Cooper
No clima de competitividade, alguns fatores faziam com que
um nome se destacasse mais que os outros, como o tamanho do tag e a criatividade ao escrevê-lo. O que no início destacava-se por quantidade, somava-se agora com originalidade. Os “writers”, como se intitulavam, colocavam agora adereços aos nomes com tipografias únicas, setas, coroas, estrelas, sublinhados, cores e preenchimento das letras. Um dos nomes famosos da época era STAY HIGH 149, que usava um cigarro de maconha como barra de corte do H, junto a um personagem de televisão da época. Essa necessidade de se destacar foi o estopim para o desenvolvimento de estilos diferentes. Assim, os artistas começaram a enfeitar seus tags e fazer letras grandes com preenchimentos diversos. PHASE2 é reconhecido como o precursor do bubblestyle*, e TOPCAT 126 como o precursor das letras de bloco. Personagens, ilustrações e cenários apareceram por volta de de 1974, com TRACY 168, CLIFF 159 e BLADE ONE, na parte exterior dos vagões do metrô. bubblestyle * - estilo de letra de graffiti, letras arredondadas em forma de bolhas
Nos anos 80 o buff (termo usado para designar o apagamento de obras)
se deu mais frequentemente, a segurança aumentava e a manutenção dos carros do metrô foi mais intensa. A propagação das drogas, o clima tenso nas ruas, leis rígidas dificultando a compra de spray e a punição mais severa a grafiteiros, foram fatores que fizeram muitos entusiastas da década de 70 desistirem. Em contapartdida, fez também com que outros aceitassem as restrições como um desafio para manterem a cultura viva.
Porém, as dificuldades impostas pela MTA (empresa responsável
pelo sistema de metrôs até hoje) como grades mais intensas e segurança reforçada, fizeram do territorialismo uma prática mais frequente, e o encontro de gangues, na maioria das vezes, mais violento. Em 1989, a política Clean
Train Movement tinha como objetivo remover todo e qualquer carro com graffiti, e foi muito eficiente no que se propôs. Consequentemente, a maneira mais eficiente de registrar esses trabalhos foram as fotografias, que permitiam, mesmo com trens rodando um dia pintados e depois apagados, manter vivo o registro de um movimento artístico efêmero, temporário e ilegal.
DONDI Whole Car, 1980, foto Martha Cooper do livro Subway Art
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PHASE2, Bubblestyle Letters, 1972, South Bronx, United Graffiti Artists
Happy Holiday Whole Car, JSON & RICHIE, foto Martha Cooper
Grafiteiros da época considerevam muros e trens de carga
adequados apenas para falsos grafiteiros, indicando a importância da pintura em metrôs para a cultura do graffiti, presente até hoje em dia. É comum ouvir dizer que um bomb (um graffiti-ataque, em local não permitido e feito com rapidez) em um metrô é o sonho realizado de qualquer grafiteiro contemporâneo, visto sua importância histórica, o simbolismo da origem do verdadeiro graffiti. Atualmente esta expressão artística abrange mais que apenas metrôs e paredes. Sua linguagem visual contempla diversos objetos, mobiliário, acessórios de moda, roupas, estampas, comerciais de tv. Da mesma forma que paredes, quadros, muros comerciais, pinturas indoor, etc, conquistaram espaço frente às pinturas em metrôs, muitos artistas hoje consideram igualmente importantes essas novas aplicações para a linguagem visual da arte de rua.
// graffiti no rio Jornal Cidade, Celacanto Provoca Maremoto Analisa sistemas, Carlos Alberto Teixeira, 1987, xerox do Carlos Alberto Teixeira
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Antes de falar da cena de graffiti como conhecemos hoje, é importante situar duas figuras importantes, que deixaram história nas paredes do Rio. Primeiramente, as frases de José Datrino, conhecido como Profeta Gentileza, que escrevia nas pilastras de viadutos, do Caju e até em Niterói, mensagens de amor, respeito, religião, e gentileza. Por mais de 20 anos circulava pela cidade de bata branca pregando o bem, e ficou conhecido por suas inscrições a partir de 1980. Posteriormente, foi reconhecida a importância da sua mensagem, e teve seu trabalho restaurado pela Prefeitura.
Acima: foto atual de uma de suas citações no bairro Caju. Abaixo, foto de época do Profeta, no centro ambas do site da UFMG.
A esquerda, anúncio de jornal O Globo 1978, jogada de marketing com o nome Celacanto; À direita, seu pixo, acervo do Carlos Alberto Teixeira.
A segunda figura importante é o “Celacanto Provoca Maremoto”. Reconhecido como o primeiro pixador carioca, o até então estudante de física Carlos Alberto Teixeira é o responsável por esses escritos, e “culpado” de ter iniciado, em meados de 1970, a tão difundida cultura do spray no Rio de Janeiro como conhecemos hoje. Estudante da PUCRio, ele diz que tudo começou como uma brincadeira, escrevendo de giz em quadros negros, banheiros, tapumes, e logo aderiu ao spray escrevendo em diversos muros da zona sul. Ele chegou a mobilizar uma série de interessados, uns 20 pixadores escrevendo com o mesmo pseudônimo, com presença até em Whasington e Paris. A frase Celacanto provoca maremoto foi inspirada em um dos dizeres do personagem de tv japones dos anos 60 National Kid, e impregnou principalmente os bairros Ipanema, Leblon e Jardim Botânico. Com a grande repercussão, e especulações do real sentido daquela escrita, a imprensa passou a investigar, e atribuiu aquelas palavras
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ingênuas um marco para encontro de traficantes. Com essa intensa especulação, o então prefeito Marcos Tamoio instituiu uma multa para quem fosse pego no ato, e atos violentos contra pixadores se tornaram mais frequentes, diminuindo a atuação de Carlos Alberto. Ele afirma que foi um ato despretencioso, e que a sucessão de fatos o levaram ao reconhecimento que tem hoje. O motivo real, ele diz que foi uma ânsia por comunicação, por passar uma mensagem, algo tão bem feito que muitas pessoas daquela época ainda se lembram do Celacanto. Cito um parágrafo retirado do site “curriculo informal” do autor: “Em 1977, sabotei o computador da universidade, um 1130, onde substituí a função SQRT (raiz quadrada) por uma de mesmo nome que imprimia uma entre dez frases escolhida de acordo com o algarismo das unidades do argumento. Entre as pérolas impressas, havia:
-CELACANTO PROVOCA MAREMOTO - dentro daquele retângulo com a setinha para baixo -COELACANTVS AGITAT MARE - LERFA MV AVXILIAT -CELACANTO É FILHO DA TRUTA ...e mais outras sete das quais não me recordo. Quase deu merda para mim porque algum professor rodou um programa de cálculo de flexão em vigas (que deve usar muita raiz quadrada) e a impressora cuspiu uma tonelada de papel com frases do Celacanto antes que o operador pudesse reagir e abortar a operação.” Interessante o modo de pensar do pixador, transgressor em todos seus atos, e quer passar sua mensagem a qualquer custo, mesmo que essa mensagem não tenha um conteúdo em sí, admitido até pelo autor.
Celacanto Provoca Maremoto, Carlos Alberto Teixeira, 1976, foto Catalisando, 2003
Materia de jornal da época: O Globo 1978, citação da disputa por territórios dos pixadores, acervo do Carlos Alberto Teixeira.
Acima, anúncio de jornal da época: topo Jornal do Brasil 1990, “spa piscinas PROVOCA MAREMOTO”, acervo do Carlos Alberto Teixeira.
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O Celacanto no Rio é considerado o pioneiro da pixação e consequentemente do graffiti, contudo, não continuou evoluindo seus trabalhos por muito tempo, principalmente no viés artístico que é atribuido ao graffiti hoje em dia. Outros artistas com referências mais ligadas ao movimento que vinha acontecendo em NY, começaram a lançar seus desenhos nos muros e criar a cena do graffiti carioca que conhecemos hoje em dia. Por conta de problemas com a polícia e com a difícil aceitação por parte das pessoas, a arte de rua trilhou um longo e conturbado caminho, com episódios de prisões, brigas, discussões, até se tornar essa expressão artística atual, de relativo fácil acesso com vários intusiastas no movimento (que por vezes até desconhecem as pessoas que batalharam tanto para a popularização de sua arte). Artistas que foram muito importantes no movimento, são EMA, ACME, DUIM, MENT, BRAGGA, AKUMA, ECO, YOU2, GLOYE, SOPA, SWK, ANARKIA, STYLE, BR, TOZ, WARK, CH2, AIRÁ, METON, entre muitos outros, e as crews (coletivos de graffiteiros, amigos que sempre pintam juntos), Nação Crew, Santa Crew, Fleshbeck Crew, Rocinha Graffiti, Destruidores do Visual, Muita Mutreta Crew, El Niño Crew, Posse 471, entre outras. Um caso conhecido por grafiteiros do Rio, foi quando Acme, Emerson Facão e Alexandre Tigrão pintavam o muro do Jockey Clube, na rua Jardim Botanico próximo a rua General Garzon. Grafitando no local desde às 8hrs tranquilamente, e com uma autorização “de boca” com um segurança do clube, às 21hrs são abordados por um grupo intitulado “Guardian Angels”, todos vestidos de botas e calças pretas, camisa branca e boinas vermelhas. Cheios de autoridade e atitude hostil, ameaçaram a intimidaram os artistas, e então chamaram a guarda municipal para leválos a delegacia, autuando-os por crime ambiental, pois o muro é tombado pelo Iphan (Institudo do patrimônio histórico e artístico nacional). O grupo na verdade é uma ONG, que diz atuar contra a criminalidade, autorizado pelo clube. O Jockey, contudo, diz ser a favor da arte, e se manifestou após o ocorrido dizendo que até já teve um evento de graffiti, onde os artistas pintaram cavalos no mesmo muro dessa polêmica. Resultado, os artistas ficaram decepcionados com a postura hostil que pessoas podem ter frente a uma expressão artística de bem, e deixaram a pintura interminada. Porém longe do fato desestimular os artistas, que continuam a pintar em diversas ocasiões, inclusive em exposições na França e outros países além do Brasil.
Graffiti do Fabio EMA, um dos precurssores do movimento na Zona norte.
Escola de graffiti do EMA, realizada na Fundição Progresso na Lapa e em Madureira. foto do site do EMA
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Maior graffiti do Rio de Janeiro, Zona portuária, painel colaborativo de vários artistas do Rio, 2013, foto de Henrique Madeira.
Graffiti de Acme, Facão e Tigrão, no Jockey rua Jardim Botânico. Este foi o graffiti da história mencionada acima.
/ / D A R U A PA R a G A L E R I A Vendedor de Alegria, Expo Metamorfose , TOZ, Centro Hélio Oiticica, 2014. Foto Kaká
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A comunicação através do spray está presente nos muros e trens há aproximadamente quarenta anos, e o que começou como uma humilde forma de escrever o nome para dizer “eu estive aqui”, foi o primórdio do vasto campo que hoje conhecemos como Street Art. Intervenções, colagens, mosaicos, esculturas urbanas, adesivos - diversas são as técnicas que compõem esse gênero, com a característica de estar sempre presente nas ruas. Com a cultura de arte urbana crescendo e se expandindo em diversas formas, comerciantes de arte viram uma oportunidade para adaptar o graffiti às brancas paredes das galerias.
Desde a primeira exposição da qual se tem notícia, em 1973, está
presente a polêmica da interpretação do graffiti como fine art. O sociólogo Hugo Martinez, percebendo a expansão de artistas e estilos diversos, fundou a United Graffiti Artists, com o intuito de reunir os melhores artistas da cidade e realizar exibições. A primeira delas, no SoHo em NY, na Razor Gallery, e respectivamente na Galleria Medusa, em Roma, em 1979, abraçaram grafiteiros e abriram portas até então fechadas para estes artistas. Fotos, telas e pinturas ao vivo nos próprios muros das galerias faziam parte dos eventos. Enquanto num primeiro momento as fotos eram uma maneira de documentar e imortalizar uma arte efêmera, para deixarem de ser apenas uma vaga memória na mente dos que rapidamente viram o trem passando, num segundo momento as fotografias transformaram-se na forma de arte em si, penduradas nas paredes dessas galerias. O ato de grafitar durante uma exposição nos muros de fora da galeria, era a tentativa de firmar a essência legítima das ruas, enquanto que telas e objetos customizados marcaram a entrada do graffiti no mercado da arte.
STAY HIGH e COPE 2, noite de assinatura de autógrafos, 2000, foto do arquivo de COPE2
Atualmente, ocorrem diversas exposições em galerias relacionadas
ao graffiti, feitas por grafiteiros ou não. As galerias que mais apoiam o movimento de arte urbana no Brasil, são relativamente novas e pequenas, porém representam uma série de artistas, sempre ativos no cenário da rua, requisito mais importante para o reconhecimento do artista no mercado da arte. Interessante o ponto sutil e contraditório desse fenômeno: em ordem para o reconhecimento do grafiteiro, seu crescimento em galerias, o juízo de valor de seu trabalho como mercadoria; é esperada constante presença nas ruas, sua atitude ousada e desafiadora em relação as autoridades e à propriedade alheia, e naturalmente sua criatividade e originalidade ao realizar suas obras. Atualmente, as principais galerias de arte de rua no eixo rio-são paulo são Choque Cultural, Homegrown, Movimento, Graphos Brasil.
Os principais e mais ativos atores nesse eixo são Os Gemeos,
representando São Paulo, e TOZ, no Rio de Janeiro. Outros artistas que não ficam para trás são nomes como Mack, Zezão, Gais, Big, Nunca, Acme, Mateu, BR, Speto, Finok, Ise, Ment, dentre muitos outros, se destacando sempre pela originalidade, atitude e intervenções. Julgo pertinente descrever brevemente o estilo e a intenção de alguns desses expoentes do movimento no Brasil.
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Instalação musical, expo Vertigem, OS GEMEOS, FAAP/SP
Os Gêmeos
Nascidos em 74 no Cambuci em SP, os irmãos Gustavo e Otavio têm
em seu escopo de trabalho uma arte rica em detalhes, se utilizando de personagens, letras e símbolos para uma obra cheia de fantasias e críticas socioeconômicas, materializando o mundo que criaram em conjunto para ruas, telas, exposições, objetos e quais mais intervenções suas mentes permitirem. Impressionam por trabalhar em conjunto em completa sintonia, se completando em cada aspecto da peça e assinando um trabalho de dois, como apenas um: como se no ato da arte estivessem realmente conectados, duas cabeças na mesma frequência. Pintando predominantemente na combinação de tons de amarelo e preto, tem um traço sutil e delicado para expressar questões fortes e atuais como fome, sem terras, política, entre muitas outras mensagens. Como bons grafiteiros paulistas, não dispensam laterias de prédios, telhados, pixações e bombs. São os brasileiros mais conhecidos internacionalmente quando se fala de graffiti, realizando desde exposições sobre seu mundo particular, quanto gigantes murais no exterior do país.
Lateral de prĂŠdio em South Station, Boston, USA, OS GEMEOS 2012, foto Mark Malazarte
BOMB de Os Gemeos, USA 2012, foto Os Gemeos, foto Integrated Social Media
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TOZ
O baiano Tomaz Viana, 76, veio para o Rio com 16 anos e no graffiti
criou personagens companheiros proprios, quase como seus alteregos, traduzindo seu estado de espírito e suas preocupações existenciais e filosóficas. Vindo de uma geração que colecionava bonecos tipo playmobill, falcon, fofoletes, o artista encontrou nesta arte sua maneira de interpretar as referência de mangá, animação, ilustração, aliados com com seu mundo particular. Co-fundador da Flesh Beck Crew, um grupo de grafiteiros do rio de destaque, ganhou fama pelo uso de cores, as intero traço limpo e criativo, a forte presença no cenário de arte urbana carioca, e - mais uma vez - a atitude perseverante do grafiteiro de se impor na sociedade.
Não raro seu trabalho sai do ambiente das ruas e ganha vida em
intervenções e pinturas em objetos, mobiliário, telas, esculturas, estampas, vídeos, dentre outros suportes que ele usa para se expressar. Inspirando uma série de grafiteiros na cidade com seu estilo figurativo, Toz tem um traço muito característico, fácil de se identificar ao andar pelo Rio, e atualmente encontrase muito dedicado a exposições individuais, produzindo incessantemente no seu atelier no Rio Comprido, contudo frequentemente encontra tempo para espalhar seus personagens por aí.
Expo Metamorfose, Centro Hélio Oiticica, 2014
BB Idoso, TOZ, Rio de Janeiro, HĂpica 2011, foto arquivo pessoal
Personagem Shimu do Toz, em carro abandonado na GĂĄvea, Rio de Janeiro.
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Graffiti coletivo em Santa Tereza, por BR, TOZ, CUBOTOPIA OBILLI e PIÁ. 2014 foto do Cubotopia.
Graffiti do BR, também do coletivo FBC junto com Toz, na Gamboa.
Zezão, galeria de esgoto de São Paulo, foto Zezão
Zezão
O paulistano Zezão explora profundas questões da arte contemporânea
sem malabarismos teóricos, mas com muita presença e corágem para enfrentá-las de frente, como ele mesmo diz. Seu trabalho parte da caligrafia para a abstração, elaborando ornamentos muito fluidos e característicos. Zezão encontrou um mundo a parte da cidade de São Paulo, percorrendo infinitas galerias labirínticas de esgoto da cidade, e realizando sua arte nos locais mais inusitados e inacessíveis ao público, denunciando aspectos político, econômico e sociais por meio de suas fotos impactantes. Ele se mune de suportes como vídeo, instalações, performance, pintura, caligrafia, intervenções, para retratar questões e temas presentes na arte contemporânea.
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O trabalho de Zezão evoca, mais do que os normalmente vistos, a
questão da efemeridade, fortemente presente nas raízes do graffiti. Se a rua é um ambiente que muda todo o tempo, a constante transformação de uma letra, tag ou personagem faz parte da obra em sí, e se completa a cada novo passo de mutação. Zezão usa este fator a seu favor, usando a fotografia e o vídeo para registro da transformação e para divulgação ao público, uma vez que visualizar uma obra na galeria de esgoto é de dificílimo acesso à maioria da população. Sua obra muda até o momento que ela se esgota - quem viu, viu, quem não viu, sumiu. É nesse sentido de tecnologia e efemeridade que faço o gancho para falar do graffiti invadindo e sendo invadido por outros suportes, nesse caso o digital. Atualmente é notável a diversidades de suportes
que graffiteiros incorporam seu
trabalho, apropriando-se de objetos, (móvies, toy arts, eletrodomésticos, etc) aplicando diversas técnicas de pintura além do spray (acrílica, óleo, látex, marcadores à base de alcool) a sua interpretação pessoal referenciada na linguagem da arte de rua. O termo graffiti então é concebido como uma visão generalizada da interferência da linguagem da arte de rua em um dado suporte, não sendo mais necessariamente a aplicação do spray no muro. É comum ouvirmos e falarmos frases como “ faz um grafite no meu tênis?”, ou “faz um flyer de grafite pra minha festa?”, entre outras frases que permitem o entendimento mais abrangente do assunto, quando sabemos que o conceito do graffiti nascido em Ny em meados de 60, se referia à escrita ilegal, no metrô, suja, em quantidade no início e qualidade posteriormente, que foi apresentada no início desse documento.
Pensando nessa abordagem do conceito inicial do graffiti, para o
desdobramento do atual termo concebido como graffiti, é pertinente a introdução do aspecto tecnológico que, assim como a passagem do spray para o óleo e o acrílico, também se dá na passagem do spray para o digital, na medida que ele consiga traduzir na sua forma final as características da linguagem da arte de rua. Ou seja, nesta linha de pensamento entendemos alguns exemplos de projeção mapeada, laser tag, instalações digitais, interferências, entre outros, como sendo abraçados pela classificação de graffiti, quase que na mesma medida que o ato de aplicar o spray, ou marcadores sobre muro. Para citar exemplos práticos, o trabalho de graffiti
digital do Evan Roth. Ao aplicar o Laser tag fazendo intervenção com a arquitetura, utiliza dos mesmo preceitos de presença na rua, a maior escala para maior visualização, da escrita despojada, da questão da efemeridade de uma obra que dura um período limitado de tempo e que de certa forma se transforma não em relação à ação do tempo como no graffiti usual, mas de acordo com a variação de luz na rua. O fato do escorrimento, na tentativa de reproduzir essa característica da lata de spray também é presente nesse trabalho, garantindo ainda mais nosso entendimento dele na classificação de graffiti.
Zezão, galeria de esgoto de São Paulo, foto Zezão
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Fotos do evento digitalGraffiti, ocorrido em junho de 2014 na Flórida, do site do evento.
digitalGraffiti Fazendo jus ao parágrafo anterior, a partir da minha experiência como grafiteiro, e das pesquisas observadas até então, entendo que o graffiti muitas vezes abraça a tecnologia, que me leva a citar outro exemplo: evento ocorrido anualmente, digitalGraffiti. A curadoria recebe inscrições de artistas dos quatro cantos do mundo, faz uma apurada seleção, e expõe os trabalhos de projeção e imersão em um evento durante algumas noites. De acordo com os idealizadores do projeto, a presença do termo “graffiti” no nome, se dá justamente pelo fato de fusão dos elementos arte, tecnologia e arquitetura, aplicados na lateral de prédios, casas e monumentos, adicionando portanto o fator da intervenção urbana, de um jeito que nenhum dos três grupos citados acima pensaram que seriam dispostos numa mesma mídia. No sentido de afastamento dos meios e ferramentas tradicionais, da intervenção urbana, da arte efêmera, e da linguagem visual do que está sendo disposto, entendemos o evento em questão como graffiti, assim como o exemplo anterior.
Projeção mapeada, lava escorrendo, digitalGraffiti, Alys Beach, 2013
Asas de mariposa, projeção mapeada, David Montgomery, digitalGraffiti, Alys Beach, 2013
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Né Dans La Rue – Graffitti. Fundação Cartier de Paris e Documentário PIXO de João Wainer e Roberto T. Oliveira
Apresento dois projetos que considero importantes no movimento
de popularização do graffiti. Um deles, uma exibição de trabalhos e do contexto da arte de rua; o segundo, o documentário PIXO, pelo fato de levantar questões inerentes a conceitualização da arte contemporânea.
Em 2009 a Fondation Cartier pour l’art contemporain, promoveu a
exibição em seu renomado prédio, Né Dans La Rue: Graffitti ( Nascido nas ruas, graffiti). Ao mesmo tempo que traçava as origens do movimento, a mostra apresentou um panorama diverso de trabalhos contemporâneos sobre o graffiti no mundo. A mostra reuniu desde trabalhos de lendários como Seen e Tracy 168, passando por Shepard Fairey a.k.a OBEY, até trabalhos de Evan Roth e Katsu.
Essa mostra como um todo já é uma grande referência para a
contextualização do presente trabalho, visto que reúne diversos trabalhos sobre o tema, desde os mais notórios grafiteiros do berço do graffiti, até trabalhos mais atuais como identificação de caracteres presentes em tags; todos eles juntos em um ambiente de galeria, patrocinados por uma fundação européia prestigiada, de arte contemporânea. O ponto de toque entre os fatores ”exposição e graffiti” traz a tona o questionamento de uma arte que deve ser apreciada ao mesmo tempo que é criminalizada, bem como uma forma de expressão que é destinado ao público em geral quando se encontra na rua, e claramente um direcionamento específico, por vezes elitista, quando encontra-se no ambiente da galeria.
A aceitação da fundação Cartier para com o graffiti e sua história
legitima o reconhecimento cada vez maior dessa forma de expressão, e da aceitação da sociedade para com o que antes era visto com outros olhos. Acho o mais interessante dessa mostra o fato de ela abordar um panorama grande da atuação do graffiti e da arte de rua. Dos primeiros registros e a evolução do tema, trabalhos muito atuais, expoêntes com seu nome espalhado mundialmente. A partir daí começei a mudar a minha percepção do graffiti, entendendo que trabalhos que não usavam necessariamente o spray, com viés tecnológico e ainda com a identidade visual do graffiti também faziam parte dessa cultura e são contemplados da mesma maneira dentro desse campo de atuação.
Salas das Exposição Né dans la rue - Evan Roth, Fundação Cartier de Paris 2009
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Salas das Exposição Né dans la rue - graffiti, Fundação Cartier de Paris 2009
Outro trabalho que fez parte desta exposição, foi o documentário
dos brasileiros João Wainer e Roberto Oliveira, PIXO. Este trabalho conta com depoimentos de pichadores de São Paulo e imagens deles em ação. Eles defendem que a essência do que fazem se justifica como arte justamente por ser ilegal, da atitude desafiadora, da negação da sociedade em geral, da autenticidade da grafia do pixo de São Paulo em relação as outras partes do mundo e aos diferentes grupos locais, são pontos que enfatizam as questões previamente levantadas. O que caracteriza algo como arte? Será que a criminalização o exclui do campo da arte? Um dos entrevistados no filme levanta essa questão, “porque [Marcel Duchamp] pode colocar uma privada e ela ser admirada como expressão artística, e meu pixo não pode?” É certo que não pretendo responder essas questões como as ciências exatas respondem as suas, mas seu levantamento pretende guiar o trabalho na medida que este se concretizará para que o público possa tirar sua própria conclusão.
ScreenShot retirada do filme PIXO, João Wainer 2009
// AUTOMAÇÃO
Fonte ( Guia do Estudante )
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Considero pertinente uma contextualização do conceito de
automação, pois se encaixa na esfera da mídia digital e tangível em que o projeto está inserido, da ideia da máquina atuar no lugar do homem. Se o projeto se inclina para a integração do graffiti ao tecnológico, devese ter claro o conceito da automação. Entendendo que inicialmente a construção e o uso de uma estrutura e mecanismo dotados da programação de motores, para a reflexão da ausência do movimento gestual, se apropriarão da automação, devo deixar claro o que ela é para saber onde estarei pisando.
Segundo LACOMBE, Francisco J.M., Dicionário da Administração,
São Paulo Saraiva, 2004,
“Automação é a aplicação de técnicas
computadorizadas ou mecânicas para diminuir o uso de mão-de-obra em qualquer processo, assim diminuindo os custos e aumentando a velocidade da produção.” Entendemos então como um sistema, máquina ou ferramenta, que não necessita da interferência do homem para realizar sua tarefa. Em síntese, um mecanismo que move-se por sí só. A ideia de automação se fez muito presente principalmente na produção automobilística, padronizando os resultados que antes variavam com o trabalho braçal. Várias questões polêmicas foram levantadas quando esse processo se intensificou, como o aumento generalizado do desemprego em fábricas, até onde o homem poderia interferir para previnir riscos, a partir de erros repentinos como poderiam parar todo o processo para diminuir prejuízos, entre outros. Percebemos que a automação se dá sempre em parte do processo, pois os inputs principais ainda são humanos, como a programação, a hora de iniciar, de finalizar, entre outras variáveis diferentes de sistema para sistema, cabendo a máquina realizar o “grosso” do trabalho.
Na compreensão do graffiti, o elemento do gestual certamente é
de suma importância, pois é o que o legitima como autêntico, da atitude e do movimento corporal que faz parte da obra. Comparado a uma performance, poéticamente pode ser entendido até como uma dança, pois cada grafiteiro tem seu próprio jeito de realizar sua peça, move seu corpo com aceleração diferente em cada traço, enfim, o movimento corporal certamente é parte marcante da assinatura de cada artista, e
sua ausência proposital é um dos caminhos pretendidos para gerar a reflexão acerca da abrangência do graffiti atualmente, das implicações da tecnologia nessa expressão artística, e na criação de uma nova ferramenta para o grafiteiro da interação com a obra que ele quer gerar.
Um
exemplo de automação diferente do padrão “industria
automobilística”, é a banda CompressorHead, formada inteiramente por robôs. Eles abordam a questão da performance de uma maneira interessante, pois é justamente o que o cantor e compositor de música tem de cativante e persuasivo além do conteúdo e melodias das suas composições. Certo que os robos fazem apenas shows “cover”, tocando músicas já existentes, e cada acorde tocado por eles foi programado por alguém. Contudo, a aceitação do público e a notoriedade em shows que a banda tem são intrigantes, e penso na contribuição para o projeto: será que o elemento da performance humana, gestual, movimento corporal, pode ficar ausente, ou passível de ser substituída pela ação da máquina? Será que sendo substituída, tem o mesmo impacto no observador, é visto como uma inovação e por isso aclamada, ou banalizada por apenas reproduzir o que uma vez foi criado pelo homem? Será apenas o desejo de explorar as aplicações da tecnologia? Esse grupo de questões ajudam o projeto a tomar forma conceitual, e na medida do possível, estrutural, pois influenciarão na ideação dos experimentos e consequentemente na construção do produto.
Banda CompressorHead, Gibson Musikmesse 2013 , screenshot de vídeo do youtube
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// REPRODUçÃO
20 Marilyns, Adny Warhol, 1962, serigrafia
Referência muito conhecida no campo da crítica da arte, Benjamin
vale ser mencionado aqui pelo seu texto “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica”. Buscando uma reflexão sobre a reprodução de traços e movimentos do graffiti por de um mecanismo criado pelo projeto, o conceito de reprodução e sua valoração na visão Benjaminiana não podem ser deixados de lado. Em ordem para verificar (ou não) a premissa, citada no início deste texto, entendo que Benjamin critica os meios de reprodução das obras de arte. BENJAMIN, Walter, 1955 A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica, “Mesmo na reprodução mais perfeita, um elemento está ausente: o aqui e agora da obra de arte, sua existência única, no lugar em que ela se encontra (...) Mesmo que essas novas circunstâncias deixem intacto o conteúdo da obra de arte, elas desvalorizam, de qualquer modo, o seu aqui e agora.“ Entendo que a citação acima tem um forte peso no trabalho, visto que é o ponto principal aqui a reprodução dos gestos pela automação, mesmo que haja uma intepretação dos movimentos captados pela máquina. Contudo, se o autor citado vê negatividade na falta de presença do artista na hora da produção propriamente dita da obra, tenho um entendimento por outra visão. Não vejo ausência do aqui e do agora, pelo menos não no que imagino para o projeto, pois a intenção é que a máquina trabalhando, com todos seus motores, sensores, código com fatores aleatórios e estrutura robusta chamativa, acaba por legitimar a obra como um todo, e não a minimiza apenas ao conceito de reproduzir traços do graffiti. Se justifica também por criar uma nova forma de entendimento do graffiti, mas ainda dentro do seu seio, em parte por realizar algo que o homem não faria por sí só, em outra parte pela exploração da tecnologia como forma de expressão artística.
Arte de Romero Britto, Foto do site do artista
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No início do texto, percebo a crítica da reprodução seriada, a
exploração dos métodos de fabricação em massa de conteúdo, iniciandose pela litografia, depois pela fotografia, e a maior parte do texto se dedica ao cinema em contraponto ao teatro e a atuação ao vivo, e ao meu ver, tem aspecto negativo quanto a facilitar o acesso da massa da população à expressões artísticas únicas, naquele momento do tempo. Contudo, a associação das partes do texto que tocam o projeto é aqui o mais importante: concluo que o presente trabalho não deseja usar máquinas no sentido da produção em massa, para ampliar a área de abrangência do conteúdo e o acesso das massas. Não deseja ser um trabalho ao estilo Romero Brito, e produzir em larga escala impressões do mesmo exemplar feito no estúdio (de forma alguma menosprezo o artista, apenas fujo de seu método de trabalho). O projeto se inclina por usar a tecnologia e a máquina incorporando-a na apresentação da obra. Nesse sentido, é desejável o funcionamento aparente do mecanismo, integrado como parte chave da obra final, não se enquadrando então na crítica de Benjamin, que a reprodução através da tecnologia desvalorizam o objeto criado pelo artista.
Na foto da capa do capítulo, Warhol se baseou na “linha de
produção”, fazendo uma crítica sobre a suposta singularidade da obra de arte. Usando a técnica da serigrafia, ele afirmava que “obtia a mesma imagem ligeiramente diferente”. Grande figura do movimento do Pop Art, o artista criou símbolos como essa obra “as Marilyns”, para por em questão a noção de obra-prima assimilada pela tradição artística ocidental. Fazendo trabalhos de produções seriadas com ajuda de diversos assistentes, pegou itens do cotidiano e imortalizou-os em suas obras, como é o caso da sopa Campbells. O trabalho de Warhol como um todo se encaixa no conceito de reprodução, e ao meu ver argumenta contrariamente à Benjamin no que foi escrito no parágrafo anterior.
Mural no MOMA de Ny da Campbell’s Soup, Andy Warhol, foto arquivo pessoal
// objetivo: REFLexĂŁo
Pintura coletiva em panos, Rio de Janeiro 2010, foto Antonia Muniz
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Tendo em vista o contexto histório do graffiti, e trabalhando no campo
abrangente do graffiti atualmente, a nova forma de conceber trabalhos de várias midias diferentes que agora classificamos como graffiti tem o mesmo valor conceitual se comparadas à forma tradicional (spray no metrô), é valido traçar o objetivo do trabalho a ser desenvolvido.
Apoiado nas múltiplas possibilidades de interpretação de uma
mesma peça por várias pessoas diferentes - os quase que inesgotáveis juízos de valor que cada passante, observador, grafiteiro, estudioso, proprietário do bem vandalizado, policial, podem atribuir a uma mesma obra; pretendo gerar uma reflexão acerca de questões intrínsecas nessa forma de expressão. Em um primeiro plano, de uma expressão ao mesmo tempo criminalizada e contemplada; num segundo, aspectos como a presença num ambiente fechado expositivo paralela a presença na rua enquanto na rua não tem escolha senão o contato direto, num ambiente fechado há um recorte social, econômico e de interesse pela linguagem. O terceiro fator de reflexão é na questão da efemeridade: como a obra muda e se completa devido à fatores externos de quem a fez e não tem o controle sobre eles, a cada momento da ação do tempo na obra. A textura da parede, o tempo, os transeuntes ao redor comentando, um lugar que é mais ou menos aceito o graffiti, barulho dos carros, por aí vai. Quarto, a reflexão a partir da automação de uma arte manual e gestual: a máquina reproduzir os movimentos do graffiti, seja a partir da interação homem-máquina, seja por leituras que a máquina faz do ambiente ao seu redor, a partir de um código de programação.
Essas questões permeiam o trabalho, e se talvez pareça um pouco
pretensiosa na quantidade de requisitos que proprõe para a instigação de um novo olhar, entendo que se houver reflexão de pelo menos um desses fatos, o objetivo do trabalho se cumpre de forma satisfatória. Entendo a dificuldade de direcionar olhares a estes diferentes temas em uma mesma obra, mas tenho posicionamento positivo quanto a abrangência e variedade das questões, tornando desejável a multiplicidade do entendimento.
Para atingir essa mencionada reflexão, pretendo apresentar uma
série de referências estéticas, funcionais e tecnológicas, servindo de base para o pensamento projetual do “aprender fazendo”.
Difícil imaginar a forma final do produto no início da pesquisa e do levantamento das questões, mas tenho em mente que a melhor forma de desenvolver o projeto mirando no objetivo previamente citado, é através da confecção de experimentos, os quais mesmo sem acabamento fino, irão materializar os conceitos aqui expostos e verificar de que forma atendem o objetivo traçado. Adianto que o projeto aponta na direção de uma interface tangível, um mecanismo que a partir da leitura do ambiente e do reconhecimento de um usuario, se move e interage com seus gestos. O produto tem o intuito de se aproximar da linguagem visual do graffiti, tanto na sua estrutura física externa, quanto no que ele pretende gerar como output dos gestos interpretados.
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// ANÁLISE DE SIMILARES
Drips, KRINK, Loft in Space Hawaii 2011
Este capítulo tem como objetivo listar e analisar os similares para
o desenvolvimento do trabalho. Já que pretendo desenvolver o trabalho no questionamento das fronteiras da criminalização X apreciação, do ambiente aberto da rua X ambiente fechado de galerias, do artesanal X digital, é preciso discorrer sobre a relevância dessas questões em trabalhos marcantes para a esfera do presente projeto. Avaiable Online For Free - Graffiti Taxonomy, por Evan Roth
Comunicação com a TSA - placa para ser vista em raixo X de aeroportos - Evan Roth 2008
#Bada55 in a can, representação hexadecimal em tinta do seu pseudônimo - “Bad Ass (motherfucker)” Evan Roth 2008, edição limitada de 100
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Evan Roth é o criador do Free Art and Technology (F.A.T.) Lab, e
também um dos fundadores do Graffitti Research Lab junto com James Powderly. Como ele mesmo define, o propósito do FAT é enriquecer o domínio público através de pesquisas e desenvolvimento de mídias e tecnologias criativas. Uma descrição um tanto formal para refletir seu corpo de trabalhos, ele na maioria das vezes se propõe em enfatizar o aspecto lúdico, contestador, engraçado, brincalhão das suas obras. Muitos podem olhar e até se perguntar a real importância desses trabalhos, porém todos são bem fundamentados e defendem bem o que se propõe. O trabalho que proponho analisar é o Graffiti Taxonomy, um estudo formal das formas tipográficas de tags em diversas superficies em ruas de NY e Paris, de 2004 a 2009. Evan investigou pixos de vários artistas, e o modo como cada um representa cada letra de sua forma peculiar. Comparado a um trabalho de decifrar hieróglifos, foi um aprofundamento na escrita particular dos artistas, relacionando a letra E ,por exemplo, dos diferentes tags de cada escritor da cidade. Esse estudo em um primeiro momento gerou um alfabeto coletivo, transpôsto para posters, colados em espaço público.
O trabalho é pertinente de ser analisado no quesito relevância, pois
propõe um aprofundamento em uma manifestação artística negligenciada e banalizada. Mesmo que ilegal e não reconhecida formalmente como arte plástica, me refiro aqui ao pixo como manifestação artística, principalmente pelo fato de tornar concreta uma expressão comunicativa pessoal, com a mensagem da atitude e da originalidade por trás de cada Tag, e este trabalho se apresenta para confirmar isto. Ao firmar um compromisso com esta análise de formas, Evan Roth invariavelmente colabora para a apreciação das diferentes e únicas formas tipográficas Logo do Graffiti Research Lab, Evan Roth e James Powderly
de cada artista, e além disso faz questão de levar isso ao público em forma de cartazes, posters, livros, publicações, entre outros (este seu trabalho também está presente na exposição Né Dans La Rue apresentado acima), contribuindo ainda para a aceitação do público em geral do objeto analisado. Por esses motivos, o trabalho como um todo se apresenta como uma boa referencia ao projeto, de modo que encara a polêmica de algo que deve ser criminalizado versus algo que deve ser apreciado de uma maneira sutil, silenciosa e certamente tendenciosa.
Exposição Graffiti Taxonomy, Evan Roth, foto do artista
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Vogais A E I O U, Graffiti Taxonomy, Evan Roth, análise das letra em tags, Ny 2009
Graffiti Research Lab - The Drip Sessions
O G.R.L. é um grupo fundado por Evan Roth e James Powderly,
dedicado a fornecer grafiteiros tecnologias Open Source para comunicação urbana. O projeto Drip Sessions consiste em um esforço por gravar e arquivar o escorrimento da tinta durante um traço, aplicando-o digitalmente durante projeções de Laser Tag pela cidade. Proponho este trabalho para a análise pois, ao meu ver, se encaixa como referência tanto tecnológica quanto estética, visto que se mune de ferramentas digitais lidando diretamente com a linguagem do graffiti.
Projeção no onibus, Graffiti Research Lab, NY, fonte entrevista do James Powderly para o Citypages
Como o coletivo preza o código aberto em tudo que fazem, não foi
difícil conseguir informações de como eles fizeram cada aspecto do projeto. Recomenda-se uso de no mínimo 2500 lumens. Acoplado em um carro e num laptop, o sistema permite horas de funcionamento enquanto o carro estiver ligado e sua bateria funcionando. Certamente não há nada de inovador hoje em dia ao realizar projeção relacionada com arte dessa forma, pois conhecemos bem o potencial de empresas e artistas que fazem incríveis trabalhos com projeção mapeada e interatividade, mas o interessante aqui foi que o uso de uma caneta laser para escrever em tempo real na fachada do prédio, e o rastro gravado por onde passa, agindo como uma verdadeira caneta digital, realizando tags de grande escala a partir de um ponto fixo no solo. Trago o trabalho para análise pelo fato de ele transformar o digital, que no senso comum imagina-se sempre atras de uma tela, para o físico em larga escala, somado a interatividade do laser. Se, por um lado, certamente o meu trabalho se baseia no Drip Sessions, pelo quesito projeção e interação, pela tecnologia existente e pela ideia da união da arte manual do graffiti com a arte digital; por outro lado se distancia pois ao conhecer bem minhas referências, tenho certeza de fazer algo diferente, garantindo originalidade no desenvolvimento.
Parte do coletivo em ação em Williamsburg, no brooklyn, NY, fotos site GRL
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No
quesito
estético,
o
projeto apresenta visual super simples,
apenas
uma
linha
escorrendo, fazendo referência a uma lata de tinta aplicada na parede. Essa simples linha faz sua identidade visual tocar no ponto certo do objetivo do projeto em desenvolvimento: se pretendo um questionamento acerca do graffiti como arte, através do - digamos assim - “pixo digital” , o Drip Sessions se encaixa justamente pela sua interpretação fiel do traço do spray. Sob a visão da cultura das ruas, este trabalho é
pertinente
como
referência
The Drip Sessions, AVONE, GRL 2006, fonte vídeo no youtube
estética na medida de simplicidade que traz em si mesmo.
Não há nada mais básico no traço de um grafiti do que o elemento
da tinta escorrendo. Ele não se propõe a se incrementar de curvas e adornos em sua volta. Não permite cores, camadas, texturas. É a simples re-interpretação da tinta saindo da lata para o muro, em pixels projetados de volta na parede. É claro que essa re-interpretação não contempla todos os fatores do ato de aplicar spray no muro. Foge da variação de distâncias da lata da parede em um mesmo traço, do ângulo de inclinação, do processo corporal do desenho em larga escala, do cheiro da tinta, entre outros. Contudo, é possível através do escorrimento, entender a proposta inicial, dirigindo nossa leitura para um entendimento artístico, de uma reinterpretação do uso de uma ferramenta artesanal para o digital. Desse modo, auxilia o trabalho por fornecer o referencial visual mais básico, porém funcional e belo na simplicidade que se propõe.
Rafael Sliks - Grafiteiro, pixador, artista plástico
Sliks é o nome do momento quando se fala em Tag Art. Apresento seu
trabalho de Tags para uma análise estética, algo que pretendo me basear, seguir em uma linha visual semelhante para desenvolver o conteúdo do trabalho que está por vir. Direciono meus olhares sobre esta referência apenas no quesito estético, deixando de fora as questões criminalidade, exibições em galerias, classificação como arte. Proponho o trabalho de Sliks pelo seu diferencial aos outros tags, seu preciso controle do Fatcap, birro para o traço mais grosso produzido pelos fabricantes, combinado com latas de alta pressão, fazendo com que muita tinta saia da lata e se espalhe em um traço bem grosso e imponente na superfície direcionada. A grande sacada de quem domina com perfeição esta técnica é realizar seu trabalho controlando a pressão - do mais grosso para o mais fino, tanto no controle de quanta força aperta até a inclinação e distancia da lata para a parede, realizando essa operação em cada letra do seu tag. Sliks faz isso com naturalidade. A prática do controle do traço é presente em outros bicos além do Fatcap, porém neste observa-se claramente a intenção de aplicar uma técnica para decorar o nome em si, puramente um fator estético, independente do local escolhido para visibilidade, da originalidade da grafia ou da atitude agressiva ilegal.
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SLIKS, tag de fatcap, imagem do site do artista
Diferentemente do pixo paulista, com suas letras sempre verticais e na maioria das vezes feitas com rolo, extensor e tinta látex, o tag de Sliks bebe na fonte do berço do graffiti, onde constantemente em NY os nomes se assemelham mais a logos elaborados, escritos curvos, arredondados, curvas fechadas, terminando com sublinhados, aspas, setas…
O pixo de Sliks por sí só, para mim já seria suficientemente belo e
pertinente para o desenvolvimento do trabalho. Contudo, não discarto da análise suas obras de composição e sobreposição de nomes. Tag sobre tag, incessante e caótico, porém com uma cuidadosa preocupação visual gráfica, ele pinta uma malha de traços, letras e linhas. Julgo pertinente pois admiro a maneira como ele transforma tags e traços em uma arte complexa, viva, cheia de camadas e cores. O espectador que aprecia inocentemente, pode nem perceber que a origem dessa arte são formas e letras que, se soltas em muros públicos (e frequentemente são), podem ser repudiadas por ele mesmo. Se a presença de seus trabalhos em eventos de arte e galerias são formas pessoais de o artista contestar barreiras
impostas pela sociedade, ou apenas sua maneira própria de consolidar sua arte com raízes na pixação (ou qualquer outro fator subjetivo) certamente fica a critério de cada um o julgamento. Porém, é surpreendente o sucesso que sua arte tem feito nos ultimos anos, principalmente pela sua forte presença na rua aliada a participação de eventos como ArteRua, ArteRio, Miami Art Basel, Major Minority em San Francisco, e colaborações com marcas como Mini Cooper, Homegrown, entre outros.
SLIKS, tag sobre foto, imagem do site do artista
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SLIKS, sobreposição de tags, Londres imagem do site do artista
SENSELESS DRAWING BOT - So Kanno e Takahiro Yamaguchi
Apresento a próxima referência para sua análise tecnológica, inserindo
na pesquisa uma tecnologia física, palpável, que através de circuitos, motores e programação, usa a aleatoriedade do código para desenhar com spray. Através da placa de prototipação Arduino, os criadores fizeram uso do pêndulo duplo, e com a ajuda de motores para apertar o spray, e o movimento do skate elétrico embaixo, os pêndulos entram em movimento para fazer seu graffiti na parede. Julgo pertinente a presença neste relatório, primeiro pelo tipo de trabalho desenvolvido, que faz uso do spray em traços grotescos mas ao mesmo tempo fluidos. Aleatórios em uma medida, porém limitados no sentido do alcance de seus braços. Segundo e não menos importante, pelo uso do Arduino como plataforma de prototipação, que permite testar diversas opções antes da definição final para impressão do circuito soldado. Sua versatilidade permite uma série de conexões diferentes, e para o desenvolvimento do meu trabalho certamente irei utilizar o arduino para as experimentações.
Senseless drawing bot em ação em um evento, So Kanno e takahiro Yamaguchi
Senseless drawing bot em ação em um eventono Japão, So Kanno e takahiro Yamaguchi
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Conclusões da pesquisa estética:
Tendo em vista os casos analizados, Rafael Sliks e Drip Sessions, tenho
em mente uma linguagem visual que faz parte e dialoga completamente com a rua. A sobreposição dos tags no trabalho de Sliks, traz o aspecto da sujeira, da bagunça, da desorganização, do grotesco e de certa forma repudiante, de uma maneira coerente para a esfera da aceitação e da contemplação, devido ao contexto que está inserido. Fisica e conceitualmente distintas, mas seguindo a mesma linha de raciocínio, a instalação móvel de Laser Tag do DripSessions se aproveita da estética do escorrido, da correria e da atitude para amarrar bem seu conceito e se firmar para o público da rua. Importante mencionar o hardware usado por eles, aparelhos adaptados para fazerem as funções que desejam, sem muito carinho e acabamento fino na construção e no uso durante o projeto - fios pelo caminho sem muita preocupação, computador no chão , projetor com gambiarras para o calço e nivelamento, enfim, várias improvisações que acabam por fazer parte da obra visto o contexto ao seu redor.
Para finalizar, concluí que o objeto final não causará desconforto
visual nem conceitual se construído pensado na robustez, na irregularidade das peças, na aparência grotesca e com cara de construído “aos trancos e barrancos”, justamente porque foi pensado na estética da essência do graffiti e da rua. Chamo esse acabamento final (que se parece em um primeiro momento como inacabado) de “estética Lab”, pois traz à tona o fator experimental, e faz sentido no contexto aqui proposto. Somado a isso, não vejo sentido em “aprisionar e esconder” a placa de prototipação arduino, os fios, conexões, e código, pois são baseados no conceito Open Source, e se usa fóruns de discussão e partes prontas de códigos, o projeto deve propagar este conceito e deixar claro sua utilização.
Certamente poderia discorrer aqui sobre uma infinidade de trabalhos
de referência, contudo, estes apresentados já constroem os alicerces para desenvolver o início do projeto. Conforme surgirem outros similares pertinentes, e diferentes destes apresentados, atualizarei o documento.
/ / e x p e r i m e n tA Ç a o
Fiação na protoboard da primeira versão do TintaSolta, 2014
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Em ordem para início da experimentação, reitero aqui a premissa
proposta no decorrer do trabalho: No campo abrangente do graffiti atual, pretendo gerar uma reflexão acerca da arte conceitual paralela a gestual, com questões intrínsecas da arte de rua desde seu surgimento - criminalização e apreciação; presença em exposições e nas ruas; performance gestual e automação da máquina. Em ordem para alcançar a automação do gestual e gerar a reflexão, proponho experimentos, os quais mesmo robustos, sem um acabamento fino, poderei entender o mecanismo, a programação, o funcionamento em geral e se atende adequadamente ao conceito do projeto desde o início. Retirando o elemento performático do gestual, do grafiteiro realizando a obra, retirando-o do contexto da rua, surge a questão: a “coisa” ainda é caracterizada como graffiti? A automação do gestual, fora da rua, porém com a linguagem visual de graffiti, é ainda considerada da mesma maneira nesse campo? Esses são os pontos que pretendo instigar na reflexão dos observadores, e a realização dos experimentos se dão nessa linha: um novo meio de fazer graffiti. Experimento 1 Carro + caneta pilot. Interatividade por meio de um photocell, sensor que identifica a quantidade de luz incidente. Com o pilot encostado no papel, carro move-se para frente e para trás em um movimento simples e controlado, com as duas rodas em movimento semelhante se houver muita incidência de luz, ou seja, pouca presença humana. Conforme aproximamos a mão em direção ao sensor, ele reconhece a presença de alguém perto (menos luz incidente) e dá o comando para as rodas girarem de maneira mais acelerada, frenética, registrando esse movimento com o pilot no papel. Ainda num movimento frente e trás, a intenção da mudança da velocidade e do movimento mais brusco é refletir a atitude de um graffiti feito num viés mais ilegal, que quando se encontra em uma situação que julga tranquila e calma, realiza seu traço em ritmo normal, e quando numa situação de muita observação, realiza seu pixo o mais rápido possível, de coração acelerado, as vezes até de forma descontrolada pois presta mais atenção no ambiente ao seu redor do que no traço propriamente dito. Um breve vídeo desse experimento em ação pode ser visto no link abaixo:
https://www.youtube.com/watch?v=rvyOoRUo6Hw&feature=youtu.be materiais: motores servo rodas de EVA base de MDF de 3mm elásticos de borracha placa de prototipação Arduíno protoboard para conectar os fios photocell para medir a luz incidente naquele ponto específico arame para fixar pilot sharpie bateria 9v
Experimento 2 Spray + alavanca Esse experimento foi pensado na aproximação mais estreita à estética do graffiti do que no experimento anterior, unindo um motor servo á uma
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Nas fotos acima, podemos ver a estrutura do carrinho: Arduíno
azul em cima, seguido pela protoboard branca, com os fios fazendo as conexões com os motores em preto ligados as rodas amarelas. A caneta na extremidade vai registrando então seu movimento conforme a incidência de luz no pequeno sensor, localizado na protoboard. Prendendo os componentes na placa com arames e elásticos, o carrinho ficou leve e funcionou como o esperado, ficando ligado por quanto tempo a bateria de 9 volts aguentar. Na foto da página anterior, está com a bateria, na foto acima, se encontra ligado no computador por meio do cabo. Na foto acima podemos ver com mais clareza, mesmo com uma foto em qualidade baixa, o movimento registrado pela caneta: padrões de linhas ora espaçadas, ora bem próximas.
alavanca para apertar o bico do spray. Dentro de um case de MDF, o spray fica seguro por duas paredes com calços laterais, a peça de mdf que serve de alavanca em uma das paredes rente ao bico do spray (com um eixo feito de clips de papel para permitir subir e descer), e o servo na parede oposta, com a peça que gira rente ao final da alavanca.
A grande preocupação foi como fazer o motor apertar o spray. Realizei
mock-ups de papelão para medir e visualizar como faria, qual material usar, se a madeira iria ou não aguentar o peso do spray, pois ela deve se movimentar e todas as peças permanecerem no lugar. Tendo em vista que poderia usar a impressora a corte laser do Laboratório de Volumes, pensei em testar a placa de MDF de 6mm para a estrutura, devido ao peso ser relativamente leve e a fina camada de madeira, se comparado ao compensado. Sabendo que a laser permite expessura de no máximo 3mm, o teste com a placa mais grossa seria uma comprovação inicial. Fiz todos os cortes e acabamentos no Lab Volume, e o Cid, um dos supervisores do Laboratorio, me ajudou com os calços laterais para a lata não cair. A estrutura não é de grande elaboração em sí, apenas recortes no MDF para o encaixe fino e rígido. Após a confecção da caixa, o Servo foi encaixado um pouco mais para cima do que o desejado, girando a alavanca inicialmente sem pressão. Problema resolvido com um calço de plástico PS para apertar o bico com mais força.
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Nas fotos mostradas anteriormente, podemos observar o motor servo em posição para girar e apertar a alavanca, e a placa arduino acoplada na estrutura, com a bateria junto.
No que diz respeito a programação, no primeiro teste percebi que o
servo não poderia girar 180 graus, muito depressa, devido ao formato da peça giratória que empurra a alavanca - ela pulava para fora com a força que o bico da tinta fazia para voltar a sua posição normal. Com o código falando para a máquina girar apenas 100 graus, numa velocidade mais controlada, a peça ficou no lugar e a força do motor foi suficiente para pressionar o bico. Essas fases da experimentação podem ser conferidas em curtos vídeos no Youtube: Peça do servo “pulando” para fora: https://www.youtube.com/watch?v=WQ39SJc_rJI&list=UUSD7HjsrhYZtnL 4bAuz5A2w Programado para girar 100 graus, em ritmo controlado de 6 em 6 segundos (sem pressão): https://www.youtube.com/watch?v=uSvlVXaY8DY&list=UUSD7HjsrhYZtn L4bAuz5A2w&index=5 Em movimento manual, com o calço de PS e forte pressão: https://www.youtube.com/watch?v=7eq2yxVXMXk&list=UUSD7HjsrhYZtn L4bAuz5A2w&index=6
Experimento 3 estrutura + spray Para esse experimento, pensei em como poderia fazer a lata se movimentar. Para tal, pensei no alcance das mãos versus o alcance de um carretel de linha. Me baseando na referência Hektor, tentei reproduzir dois motores giratórios que sustentariam a caixa do spray. Através de um joystick e um botão, uma pessoa poderia movimentar e realizar traços, pontos, se apropriando daquela linguagem escorrida e agressiva. Para sustentar os motores e dar versatilidade ao projeto, transpondo-o para diferentes lugares, começei a construir uma estrutura de madeira no laboratório de volumes, auto-portante, estável, desmontável, leve e que sustentasse os movimentos dos motores com o spray (na caixa de mdf descrita anteriormente) de aproximadamente 600g. Para tal usei compensado, medindo aproximadamente 1m20cm de altura por 1m de comprimento. Todas chapas de compensado se encaixam por meio de rasgos da expessura exata da peça, 1cm, e os pés são em forma de cruz, também com rasgos para o encaixe sem cola ou pregos.
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Como tinha acabado de ganhar intimidade com a programação dos
servos, e pela sua facilidade de comunicação com o arduino, decidi testar para ver se aguentavam o peso da lata. Mas antes era preciso imprimir um modelo 3D do carretel, fornecido pelo colega Gerson, e desenvolvido para o projeto do L.I.F.E.* Arpoador, impresso na impressora Rapman do LIFE, em plástico ABS.
Impressora Rapman derretendo o plástico e imprimindo o carretel
* L.I.F.E : Laboratório de Interfaces Físicas Experimentais. Laboratório da PUC, coordenado pelo prof. João de Sá Bonelli, onde o presente trabalho está sendo desenvolvido
No teste de peso, o servo conseguiu levantar a latinha, sustentada por linhas de nylon, executando o máximo de força possível. Isso serviu para legitimar o experimento e dar continuidade a ele. No momento com apenas um eixo do joystick funcionando, o proximo passo foi acrescentar o outro eixo e o motor que acionava o spray no código, soldar cabos longos para conectar a lata a placa do arduíno, que agora não se encontrava mais preso na latinha, mas na própria estrutura. No URL a seguir, o primeiro teste de apenas um servo levantando o peso. https://www.youtube.com/watch?v=zRECPl9DiwI
Na foto acima, a primeira experimentação do mecanismo funcionando como um todo: ambos servos de sustentação controlados pelo joystick, o servo que aciona o spray (foto) agindo em resposta a um botão colocado no topo da estrutura. Importante mencionar aqui que realizei esse experimento em conjunto com a matéria da PUC Interfaces Físicas e Lógicas, em dupla com o também aluno de Design Mídia Digital Gabriel Maia Vinagre, que contribuiu muito para a programação, elaborando grande parte do código e resolvendo problemas funcionais lógicos.
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O teste foi bom para concluir alguns pontos: o controle com o joystick
é adequado, porém pode ser revisado visto outros meios mais interessantes de interação com a máquina, A estrutura aguentou bem os movimentos, e assumir seu visual parece interessante para chamar a atenção, além de agir como uma moldura para a obra, que se caracteriza mais pelo processo do que pelo resultado. Claro que se o resultado não for satisfatório, significa que o processo também não foi, o que nos leva a concluir sobre o tipo de traço que saiu da lata: muito borrado, com longos escorridos, em uma cor apenas, e curvas não muito sutis. Acho interessante assumir o escorrido e o borrado como linguagem da peça, visto sua ligação direta com o tag, onde muitas vezes o pixador aperta mais o pilot para sair mais tinta e enfatizar a agressão visual. Porém não descarto uma revisão no tipo de bico da lata, na sua distância da superfície na quantidade de pressão do spray e na velocidade dos motores.
Realizei um vídeo com edição mais apurada que os anteriores, para
conferir com mais atenção o processo dessa fase experimentação: https://www.youtube.com/watch?v=bpKPRxVNl18&list=UUSD7HjsrhYZtn L4bAuz5A2w
Primeiros traços do TINTA SOLTA, realizado no Lab de Volume, operado pelo Gabr iel Vinagre
Experimento 4 estrutura Tinta Solta + kinect Após o teste com todos os componentes funcionando juntos, eu e Gabriel pensamos nas implicações do projeto, qual o rumo que ele teria conforme modificassemos cada parte. Ele se empolgou com o projeto e se interessou em continuar colaborando com o projeto mesmo depois da segunda avaliação da aula de interfaces, no desenrolar do próximo período. Pensamos em outras formas de interação com o mecanismo, e adequado pensar que o movimento corporal poderia direcionar o spray. Sem modificar a estrutura, esse experimento se difere do anterior pela sua relação com o operador, e o maior desafio do experimento é na parte da comunicação do kinect com o arduino. Transpondo o código na plataforma Arduino para o processing, adaptamos os movimentos antes controlados pelo joystick à área que o objeto mais próximo (Closest Object) do kinect se encontra na tela. Basicamente: closest object na parte superior ou inferior, ambos motores funcionam, closest object no lado esquerdo ou direito, apenas o motor respectivo ao lado funciona. Experimento ainda em desenvolvimento para a aula de interfaces, ainda não concluimos como vai se dar o processo de ativar o spray, e pensamos como fazer com que o mecanismo saiba que chegou o final da linha e pare de girar. Para concluir os pensamentos sobre o experimento com o Kinect, acho mais adequado do que o uso do joystick, visto a relação dos movimentos do corpo e dos braços com essa forma de arte. Para um efeito mais impactante chegamos a conclusão que o produto precisa ter proporções maiores, para maior alcance do spray. É também uma questão a ser refletida se o uso com o kinect na rua vai se dar de maneira satisfatória, devido a necessidade de o kinect estar conectado a um computador, à incidência dos raios solares que podem interferir no infravermelho da câmera. Não quero excluir a possibilidade de usá-lo na rua ainda, principalmente sem testes para comprovar, porém se esse for o caso, não diminuirá o valor do projeto, pois só a exploração da tecnologia por sí só é valiosa, ainda somado ao fato do projeto poder se aplicar em diversos outros ambientes. Apenas refletindo sobre onde poderá ser aplicado.
65
v
Podemos observar na foto acima a leitura que o Kinect faz do ambiente: o “vulto” branco na tela do computador é a leitura da pessoa, e um pouco a direita da bermuda, observa-se a tinta spray que interage de acordo. Vídeo da experimentação no URL abaixo: https://www.youtube.com/watch?v=ja8Fn5D744E&feature=youtu.be
/ / D E S E N V O LV I M E N T O
Letras em acrĂlico, cortadas na mĂĄquina de corte laser, para a lateral da caixa do spray.
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Esta fase do projeto ocorre com o final do projeto 7, e inicio do 8,
caminhando para a conclusão do produto. A partir das experimentações previamente apresentadas, este capítulo tem o objetivo de ser uma síntese de tudo desenvolvido até então. O resultado final do produto para qual o projeto trilhou. Portanto, as modificações e explorações daqui para frente são para aprimorar o produto já existente, e não mais criar um novo ponto de partida do zero. Claro que sempre que uma fase sucede a outra, há um novo ponto de partida, porém, como o produto feito até então está com as funções satisfatórias e se aproxima cada vez mais do objetivo desejado, os próximos passos são “a lapidação da pedra bruta”, ou o “polimento da jóia”, se é que a comparação com a profissão de ourives pode ser feita. Nesse sentido, a expansão na estrutura, a revisão de código, a revisão da interação, entre outros desdobramentos são descritos a seguir.
Pensando em aumentar a área de atuação do spray, o primeiro
passo foi afastar o máximo possível os motores, dentro dos limites físicos do laboratório. Após conversa com Thiago TARM, grafiteiro e aluno de Design em CV da PUC, percebi que a estrutura seria mais versátil se a distância dos motores fosse variável. Visto isso, era necessário que cada motor fosse preso em um suporte individual. Pensando no impacto visual do projeto, e na sua caracterização como instalação e peça de arte em sí, chegamos a conclusão que escadas, ferramenta sempre utilizada pelos artistas, seria ideal para a instalação TintaSolta. Encontrei um par de escadas de madeira que eram do meu avô, de 40 anos atrás, e me aproveitei da história embutida no objeto, com todas marcas de uso, sujo de tinta e com pés tortos, para efeito de chamar a atenção aos olhos do público, bem como da função da ferramenta, que aumenta a extensão horizontal o quanto o comprimento do muro e a fiação permitirem. Elas certamente engrandecem o projeto no visual da estética funcional, que o projeto se apropriou.
Primeiros traços com o TintaSolta em nova instalação.
Na foto acima, observamos um dos primeiros desenhos com o mecanismo montado nas escadas. O papel preso em um suporte de MDF, e as linhas amarelas bem finas formadas por uma caneta presa em cima da lata, que é controlada por uma pessoa a partir das setas do teclado. Ainda na fase inicial do desenvolvimento, escolhi fazer os desenhos com a caneta para poder visualizar o movimento da lata, suas curvas, o tempo de resposta dos motores, o funcionamento da corrente elétrica com cabos muito extensos, somado ao fato de que no laboratório fechado poderia respingar muita tinta, e o cheiro forte do aerosol iria ser desagradável para meus colegas, pois o espaço é coletivo e as regras do bom senso são as mais importantes na convivência diária. Portanto, me limitei a realizar testes com tinta nos horários de laboratório vazio, especialmente a partir das 19hrs.
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Nesta fase do projeto, muitos me incentivavam dizendo que seria incrível se a máquina pudesse reproduzir um desenho, ao passo que eu tive que elaborar meu discurso, para afirmar que o objetivo aqui não era fazer uma impressora, mas sim um projeto de design de interação, onde não seria interessante ver a máquina funcionando sem o usuário. O primeiro vídeo da experimentação com caneta, e rapidamente com o spray no final, pode ser visto no URL abaixo: https://www.youtube.com/watch?v=rBC2FXGqAvw&list=UUSD7HjsrhY ZtnL4bAuz5A2w A escolha inicial de interação via teclado, se deu pela facilidade de programação e rapidez de setar o equipamento para a experimentação. Em ordem para conferir o movimento da lata, o funcionamento do produto, e o tipo de traço e desenho que a máquina iria proporcionar, prezei primeiro pela simplicidade, e segundo pela lógica projetual de realizar um passo de cada vez. Experimentação com público-alvo. A artista Amanda Vieira operando o TintaSolta através das setas.
Foto da escada mostra o fio enrolado, que se estende por 3 metros de comprimento e 2,5 metros de altura.
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Acima: Motores presos em chapas de compensados, e estas encaixadas nas escadas com duas ferragens tipo mĂŁo-francesa. Abaixo: Placa controladora Arduino e Protoboard, presas agora no degrau da escada, para conectar e modificar mais facil e rapidamente.
A caixa que suporta e ativa o spray não sofreu modificações até então, pois desde o início atendeu bem a função para qual foi desenvolvida, e a confecção de uma nova caixa com melhor acabamento será discorrida posteriormente.
Caixa da latinha do TintaSolta.
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Primeiro desenho do TintaSolta
Este foi o primeiro desenho realizado com o TintaSolta, com pilots da marca Sharpie, laranja e depois roxo. O objetivo foi verificar a deformação das linhas em relação à proximidade dos motores. Neste caso, a escada estava posicionada em uma distância curta, de aproximadamente um metro, parecida com o experimento 3 do capítulo anterior. Verifiquei que a distorção foi grande, e o efeito interessante. O desenho de minha autoria, procurei inicialmente realizar linhas horizontais, e durante o desenho, ao perceber o desenho se assemelhando à uma planta baixa de uma cidades com seus quarteirões, tentei intensificar essa ideia. Algumas pessoas ao observar, comentaram ter formato parecido com um resultado de exame de ultrasonografia, devido ao formato de trapézio, com curvas nas extremidades superior e inferior.
O desenho acima foi o segundo desenho, de autoria da artista Amanda Vieira, também aluna de Design da PUC, com pilot Sharpie, preso em cima da lata, justamente igual ao anterior. Amanda afirmou estar muito empolgada com as aplicações que o projeto pode tomar, sua presença nas ruas seria impactante, e em um ambiente fechado seria muito curioso de se observar. Ao usar o produto, ela disse que inicialmente tentou reproduzir o Cristo Redentor no morro do Corcovado, porém percebeu após os primeiros minutos que não conseguiria linhas flúidas como estava imaginando, e no primeiro traço “imperfeito”, resolveu se apropriar da deformação e adaptar a ideia inicial, à uma reprodução dos prédios de NY, cidade que voltou recentemente de viagem. Ela disse que não quis apenas fazer a silhueta da cidade, mas sim preencher o espaço disponível com um visual lotado de prédios, casas, estabelecimentos. Quando ficou satisfeita com o resultado, paramos o mecanismo e pedi que me explicasse como pensou o desenho e opiniões em geral.
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A imagem abaixo representa o terceiro desenho. Eu mesmo fui o autor, e utilizei uma caneta grossa permantente preta, de ponta xanfrada, para explorar os movimentos repetidos do TintaSolta. A intenção foi realizar um desenho de “ondas dao mar”, com padronagens horizontais, para verificar se a quantidade de distorção do traço era a mesma nas partes superior e inferior, e com um movimento bem parecido, avaliar com mais precisão. Observei que a cada curva, o atrito da caneta no papel fazia a caixa toda da tinta balançar, fazendo com que o tremido desse personalidade ao traço. Achei muito interessante desenhar padrões, e percebi que até o tremido tem um padrão, e se explorado conscientemente, tem potencial para se tornar um bom trabalho.
A imagem abaixo é de autoria minha, dos traços de pilot Sharpie amarelos e parte do roxo, depois do orientador João Bonelli, e novamente eu com os primeiros testes com spray azul. Os testes do João se deram no sentido de testar a precisão do produto, ao dar as coordenadas em tempo real para escrever seu nome. Ainda percebemos a presença do tremido no traço quando utilizamos o pilot, e julgamos a precisão relativamente boa. Quanto ao spray, foi uma tímida experimentação, pois estava ansioso para testá-lo, e ao mesmo tempo recioso pois não queria cobrir o teste com as canetas. Foi suficiente para desenhar um quadrilátero, e verificar relativa boa precisão e controle quando usando o spray. Video deste desenho em conjunto com o próximo pode ser conferido no URL: https://www.youtube.com/watch?v=rBC2FXGqAvw&list=UUSD7HjsrhY ZtnL4bAuz5A2w Terceiro teste do TintaSolta
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Quarto teste do TintaSolta
Este teste se deu na linha semelhante à do segundo desenho. Com a intenção de verificar os padrões que só com esta máquina poderiam ser gerados da maneira que foram, observamos no canto inferior esquerdo
zigue-zagues, feitos apenas com os comandos das setas esquerda e direita, e observamos que dessa forma, invariavelmente o mecanismo segue para baixo. Posterior ao teste com a caneta, usei o spray para escrever 2P, uma abreviação da minha assinatura no graffiti, 2PIU, para avaliar o escorrimento, o esfumaçado do traço, e se haveria, semelhante ao tremido no traço da caneta, um padrão que iria ser presente sem a intenção do usuário, evidenciando a presença da máquina no desenho e dando personalidade ao traço, além da interessante distorção das curvas mencionada anteriormente.
Acima: Quinto desenho, abstrato. Abaixo, sexto desenho, padrĂľes com a caneta e abstrato com spray,
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Sétimo teste do TintaSolta. Formas geométricas.
Observamos no quinto desenho, experimentação só com spray. A intenção foi realizar formas, na abstração de algo figurativo, e fazer quase um “Tetris”, com as peças geométricas. Cada vez mais vemos a linguagem própria da máquina presente em cada pintura feita, somada com as intenções do usuário para cada desenho a ser feito. O sexto desenho é também uma mistura de pilot com spray. Primeiramente na exploração de padrões, e segundo, testes em spray. O sétimo desenho foi feito pensando em fazer o mais bem acabado possível, pensando previamente cada movimento. A escolha do amarelo na camada de baixo, seguido pelo roxo contrastando em cima, foi proposital para o choque visual da pintura no espectador. Tentei primeiro fazer uma forma geométrica que se assemelha a um raio amarelo, e em seguida outros traços encaixados. Achei interessante que o roxo fez um leve esfumaçado em cima do amarelo neon, dando a impressão de volume. Fiquei muito satisfeito com o resultado, principalmente por que o TintaSolta influencia diretamente no desenho do usuário, que deve utilizar a “deformação” para compor seu trabalho. Video da experimentação com spray no URL: https://www.youtube.com/watch?v=hvPrzhQxwMk&list=UUSD7HjsrhYZ tnL4bAuz5A2w
Experimentação com público-alvo. O Grafiteiro Antonio Rey Vieira “TON” utilizando o TintaSolta no L.I.F.E.
A foto acima demonstra o início do uso do Kinect. A interação por
teclado funcionou bem para os testes, porém além de ser provisória, não explora a inovação da tecnologia, e limita a interação à interface do teclado do computador. O kinect elimina a necessidade do usuário tocar fisicamente no teclado ou joystick para operar a máquina, fazendo com que o movimento realizado para operação seja semelhante ao que um grafiteiro faria se usando o spray de forma tradicional, movimentando os braços e o corpo inteiro para fazer um traço. Há então, a extensão do corpo e dos limites do grafiteiro: em uma superfície que não alcança por sí só, poderia utilizar o TintaSolta para pintar em lugares mais altos; mesmo que o projeto não tenha a intenção de substituir por completo a sensibilidade humana, o TintaSolta pode ser usado para esboço de um muro grande, como a lateral de um prédio, onde o usuário pode se afastar do muro e se preocupar apenas com a proporção de seu desenho, para depois se aproximar e iniciar o processo do preenchimento, detalhes, etc.
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Além da funcionalidade prática servindo de ferramenta para graffiti,
penso na implicação do kinect quando o projeto se apresenta por sí só em um ambiente expositivo, uma mostra de arte, uma instalação interativa, que desde o início teve a intenção de participar. Pensando na reflexão do público ao observar o projeto, acerca da questão arte manual X automação, certamente há um “conflito interessante” pois um pode pensar: “Por que não simplismente pegar o spray com a mão, em vez de usar todo esse aparato mecânico tecnológico?”. Ficaria muito feliz se alguém fizesse tal indagação, e sentiria meu papel como artista um pouco mais realizado. Não há resposta certa para essa pergunta, contudo, no que tange este trabalho, cumpre tanto a premissa da aceitação do graffiti na sociedade, quanto a reflexão de ser (ou não) considerado dentro da esfera do graffiti.
O uso do kinect se deu de maneira satisfatória. Igualmente ao
experimento 4, a função do Closet Point foi a que melhor se encaixou para o reconhecimento da mão do usuário. O código foi feito para interpretar os movimentos do usuário. Não se trata de um tracking em tempo real do gesto, onde o programa posiciona rapidamente a lata de acordo com a posição da mão. A lata se movimenta de acordo com a posição da mão, na área da tela do computador. Interpretei a tela em ângulos, e o programa verifica em qual quadrante a posição da mão está situada, dando um comando para cada motor. Verifiquei nos usuários uma curva de aprendizado suave e de fácil compreensão.
Os pontos são os motores dos respectivos lados. Cada quadrante corresponde a uma direção que cada motor gira, ou fica parado enquanto o oposto gira.
Após a incorporação do Kinect no projeto, percebi junto ao orientador a possibilidade de usar motores mais velozes e com mais
torque.
Experimentamos com motores DC e motores de passo (stepper motors), e a escolha se deu pelos motores de passo, devido a sua força, precisão, facilidade de controlá-los em relação aos motores DC, e a disponibilidade deles no laboratório. Sem desmontar as conexões que estavam prontas dos servo motores, realizei testes para saber qual placa controladora (drivers) usaria, e qual liberava mais amperagem, dando mais força aos steppers. Entre o EasyDriver e o Polulu A4988, ficamos com o Polulu. Só após garantir que a nova protoboard com as ligações dos steppers estava em funcionamento adequado, desmontei o suporte de madeira dos servos e pendurei os novos motores na escada. A partir desse ponto, o projeto pôde ser colocado em teste de resistência, sendo submetido a períodos de funcionamento mais longos.
Polulu driver à esquerda, EasyDriver à direita.
Motor DC à esquerda, motor de passo à direita.
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Para a proteção da protoboard e do arduino, e sua sustentação na escada, construí uma caixa de acrílico, com toda a furação necessária para aparafusar o arduino e buracos para os cabos. A caixa é aberta no topo com dobradiças, e mede 25 cm de comprimento, 10cm de largura e 10cm de altura. É presa na escada com a mesma lógica que prende os motores, uma dupla de mãofrancesa. O acrílico transparente tem 3mm de espessura, foi cortado na máquina de corte laser e colada com cloroforme no Lab. de Volumes, com a ajuda dos monitores Diogo Luz, Raquel Mattar, Flor Lopez, Mairê Ramazzina, Carolina Martins, Cid .
Acima, prendendo os conectores dos cabos; abaixo, a caixa com a protoboard durante a experimentação.
Após algumas experimentações, detectamos alguns pontos de possíveis mal contato dos fios. Naturalmente, a protoboard não é o modelo mais confiável, pois fios se soltam facilmente, e o fluxo de energia pode se comportar por vezes de maneira incompreensível se isto ocorrer. O monitor do LIFE Ricardo Weissenberg, com seus conhecimentos avançados de elétrica e circuitos, me orientou para a soldagem da placa, eliminando a possiblidade de mal contato entre os fios, e substituindo então a protoboard com seus muitos fios aparentes, para um “shield” encaixado direto no arduino, mais compacto e mais eficiente.
Foto do Shield soldado, posicionado sobre a arduino.
A caixa que suporta o spray foi feita com acrílico 6mm. Nos mesmos padrões da anterior de madeira, esta foi cortada no laser para melhor acabamento, e facilidade de encaixe das peças, diferentemente da anterior confeccionada a mão. A cor azul do acrílico, logo no primeiro uso, “sofreu” com a tinta spray que escorre e respinga da lata. Fator inevitável do spray, assumi que toda e qualquer tentativa de limpá-la, ou deixa-la com visual clean, seria uma perda de tempo e descaracterizaria a identidade do projeto.
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De qualquer maneira, fiz uma outra caixa de backup, em caso de quebra, ou completo mal-funcionamento da primeira. Esta segunda caixa, tem espessura 8mm, em acrílico transparente, e com o nome do projeto vazado na lateral da peça. Por enquanto mantive esta segunda peça limpa, longe de tinta.
À esquerda, a caixa atual, em acrílico azul. À direita, a caixa de backup, com as letras gravadas na lateral. Abaixo, a caixa durante experimentação com usuário.
Para os carretéis, realizei diversas tentativas em diferentes impressoras 3D. Provisóriamente, adaptei uma peça que encaixava no robo 3&Dbot, projeto de uma das primeiras impressoras 3D sobre rodas, parceria do NEXT com o LIFE. Porém, fiquei em busca de uma peça feita especialmente para o TintaSolta, em vez de uma peça adaptada da sobra de outro projeto. Foi um longo processo de modelagem, impressão e lixa manual para o encaixe ideal do carretel no motor. Com a grande ajuda do aluno e estagiário do NEXT Gerson, e seus avançados conhecimentos de modelagem no Rhino, foi feita a modelagem, com o cuidado para a parte mais delicada, o centro que precisava encaixar firme no motor, que não fizesse folga quando submetido ao peso do spray e a tensão da linha de nylon. Primeiramente realizei testes na impressora Rapman do LIFE, em plástico PLA. Com ela, foi difícil pois havia um problema que a impressora em certo ponto parava de expurgar o material. Realizei diversos testes nesta impressora pois era a que mais tinha acesso, e a possibilidade de solucionar um problema, investigar o porquê, recalibrar, mexer com as próprias mãos na impressora foi uma experiência tentadora. Ao ver o prazo aproximando, recorri então ao Flávio Carvalho do NEXT*, me ajudou imprimindo um modelo bem preciso, e também Raquel Mattar do LAB. de volumes. Posteriormente, inserimos na Rapman um material que mistura madeira e plástico, com visual bonito e incrivelmente firme. Estes últimos são os atuais, ficando com os impressos pelo Next e pelo volume de backup.
Carretel aproveitado do 3&Dbot, e adaptado para o TintaSolta, durante experimentação com usuário na Produtora SantoForte. * NEXT - Núcleo de Experimentação Tridimensional, Laboratório do Depto de Artes e Design da PUC.
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1: peça usada no servo. 2: peça aproveitada do robô 3&Dbot. 3: impressa na Rapman, cilindro muito estreito para encaixe do motor. 4: peça aproveitada e adaptada do 3&Dbot, colada com cola quente. 5: impressa na Rapman, centro de encaixe no motor muito folgado. 6: peça impressa no Next. 7: impressa no Lab de Volumes 8: mistura de madeira com plástico, impressa até a metade na Rapman.
Carretel impresso na Rapman, misturando madeira e plástico, já com o passador de fio parafusado na placa.
Experimentação com Usuário Na experimentação com o Kinect, realizei diversos desenhos dentro do LIFE, e um teste com usuários em um quintal de uma produtora que trabalhei. Nos testes no LIFE, pude observar em um ambiente controlado, pois foi o laboratório que desenvolvi o projeto desde o início. Realizei testes com a artista Amanda Vieira, pois ela já tinha participado de outros testes com versões anteriores do projeto. Ao iniciar a atividade, expliquei como funcionava o mecanismo: Com seu braço a uma distância entre aproximadamente 80 cm e 1m e 20cm de distância, a máquina apenas move-se, sem acionar o spray. O programa interpreta a posição da mão, e os motores são programados para girarem no sentido horário para descer a caixa, no sentido anti-horário para levantá-la (explicação mais detalhada acima, na página X).
Na tela do computador acima, a posição da mão do usuário indica o ângulo, e o circulo vermelho indica que os motores devem apenas se movimentar, sem ativar o spray. Esta é a leitura que o Kinect faz do espaço através da camera infra-vermelho.
Expliquei à Amanda como acionar o spray ao aproximar a mão, e ela rapidamente aprendeu o mecanismo. Durante a experimentação, aparece na tela do computador, uma imagem do usuário, e um circulo colorido no objeto mais próximo que ele detecta. O circulo é vermelho se ele encontra-se afastado (spray desativado), e azul se aproximado (spray ativado). Disse à ela que poderia usar a imagem para se guiar, porém seria interessante verificar o grau de dificuldade, evitando olhar para a tela e se posicionar no espaço.
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Primeiro usamos uma folha de esboço, onde ela poderia soltar o traço, ver como seriam os movimentos, qual o tempo de resposta, e as limitações do tipo do traço. em duas cores, rapidamente com bege, e depois com preto, ela percebeu um tipo de ondulação interessante quando fazia traços horizontais, e que o preto escorria de maneira uniforme quando aplicado sobre o papel.
Artista Amanda B. Vieira, experimentação com usuário no LIFE.
Quando ela se sentiu dominando os movimentos e a interação com o TintaSolta, pediu para que eu trocasse o papel para fazer um desenho “valendo”. Assim fizemos, começando com o verde de base, com desenhos labirínticos, e o preto por cima ela cuidou para que só tivesse traços horizontais, explorando as ondulações naturais, que ela tinha verificado minutos antes no esboço bege e preto. Foi uma experimentação muito bem sucedida, pois verifiquei que após um breve período ganhando intimidade com a máquina, o usuário enxergou um fator que lhe chamou a atenção, e no desenho seguinte explorou essa característica para fazer seu desenho. Em vez de tentar adaptar a máquina para fazer seu desenho, ele adaptou à si mesmo às características da máquina. Uma comparação interessante mencionada pelo orientador, é sobre o tipo de ferramenta usada para desenhar - “ Você não usa o lápis para
fazer o mesmo tipo de desenho que faria com carvão. Da mesma maneira com o TintaSolta, não será um resultado igual ao desenho que você faz todo dia, com a mesma ferramenta que você está acostumado...”. Nesse sentido, comparo o TintaSolta às ferramentas de desenho existentes, pois cada um é usado de uma forma, gerando um tipo de resultado diferente, mas sempre com as mesmas características daquela classe de material.
Artista Amanda B. Vieira, experimentação com usuário no LIFE.
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Resultado do primeiro contato com o TintaSolta, após a modificação dos motores e a incoporação do Kinect, pela artista Amanda B. Vieira, experimentação com usuário no LIFE.
Resultado do segundo contato com o TintaSolta, após a modificação dos motores e a incoporação do Kinect, pela artista Amanda B. Vieira, experimentação com usuário no LIFE.
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Outro momento de User Test foi na produtora SantoForte, localizada na Rua Major Rubens Vaz na Gávea. Chamei 3 artistas e passamos o domingo desenhando e experimentando o TintaSolta, em um ambiente que nunca tinha sido instalado. Foi uma boa experiência, pois percebi que cada lugar tem sua particularidade, e é necessário se adaptar aos detalhes para garantir o bom funcionamento da coisa. Começando pela fonte de energia, adquiri um cabo de 10 metros. Esqueci um tripé ou outro suporte para o Kinect, então foi improvisada uma gaveta antiga apoiada na vertical. Já sabia que a parede era muito irregular e de pedra, porém não sabia que tinha muita terra entre cada pedra, e limo sobre as pedras, a solução foi usar o papel de rolo de plotter, colado com fita crepe para aumentar a extensão, e para segurar, pedras no topo do muro fizeram peso. O fato do muro ter uma inclinação muito aparente impediu o spray de andar livremente, problema resolvido com um “calço” que fiz para a escada, a partir de telhas sobressalentes no entulho da casa. Tudo isto foi bom pois foram problemas que poderiam ocorrer em qualquer lugar, pois todo ambiente é diferente e requer um ajuste especial, e sendo resolvidos como naquele dia, dão força e motivam para que, caso ocorram outros, possam ser pensados e resolvidos com os recursos disponíveis no momento.
Cena contrastante: ambiente com aspecto totalmente descuidado, com um computador e todos seus componentes ligados.
Para a experimentação, decidimos fazer todos na mesma superfície, e cada um usaria uma cor de tinta. Iniciei com o bege, seguindo pelo Nicholas Phillips em azul, João Paulo Fildalgo “Babu” em rosa, Amanda Vieira com verde, e por último laranja, uma contribuição de nós 4.
Teste com usuário. Artista Nicholas Phillips acima, João Paulo abaixo. Ambos no primeiro contato com o TintaSolta.
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Acima: detalhe do TintaSolta durante o teste com usuário, pintura do artista João Paulo Fidalgo “Babu”. Abaixo, teste com usuário, artista Amanda Vieira operando o TintaSolta.
O teste se deu de maneira gratificante. De três artistas, dois nunca tinham ouvido falar do projeto, e só de me observarem operar o TintaSolta conseguiram rapidamente aprender a usar o mecanismo. Julgei mais intuitivo do que pensei que seria. Não disponibilizei a tela em nenhum momento da pintura, forçando-os a guiarem-se somente pela pintura e pela posição da caixa do spray. Durante minha demonstração, fiz questão de mostrar o limite de alcance da máquina, neste caso definido pelo tamanho da escada e do muro em questão. Desta forma, os previni de tentaram fazer traços muito altos, diminuindo as chances de derrubarem as escadas e fazendo uma catástrofe geral. Felizmente nenhum imprevisto aconteceu, salvo o carretel (ainda na fase de improvisação) ter perdido a parte da frente por causa da cola quente - problema rapidamente solucionado. A experimentação durou cerca de 3 horas, desde o transporte de todos componentes, até a montagem, o teste com os usuários em sí, breves pausas para conversas e reflexões, e desmontagem de todo o mecanismo. Abaixo o resultado da pintura coletiva. Em minha humilde opinião, em termos estéticos, teria ficado apenas com as primeiras 3 cores. O laranja vibrante agride meus olhos daltônicos. Mas se tratando de uma arte coletiva, sem um objetivo claro figurativo definido, julgo justo e sei que o belo não foi algo proposto pela atividade em questão.
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Acima, artista João Whitaker “2PIU”, teste com usuário, tentativa do uso de letras. Abaixo, obra coletiva dos artistas Amanda Vieira e João Whitaker.
Acima, designer Carolina Martins, teste com usuário no LIFE. Abaixo, artista Zé Tepedino durante teste com usuário.
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// PRODUÇÃO
Para documentação da produção, apresento especificações técnicas
do projeto. Abaixo, as linhas do vetor do arquivo enviado à impressora laser, para corte da placa de acrílico 6mm. O “TintaSolta” na lateral de uma das placas é uma gravação em negativo. As linhas de corte foram todas pensadas levando em conta a espessura do corte laser. Caso o corte fosse de exatos 6mm no rasgo da peça, a espessura ficaria com aproximadamente 6,3 mm, deixando a peça para encaixe solta demais para colar com cloroforme. A furação para os parafusos foi feita posterior ao corte laser, para garantir o posicionamento mais correto possível.
Para certificar que o projeto possa ser montado novamente, fiz um
esquema do circuito da protobard no software Fritzing. O desenho representa exatamente as conexões que ocorriam antes da soldagem da protoboard, com a coloração dos fios padronizada para facilitar no entendimento.
O código é dividido em duas partes. A primeira, corresponde à
programação no programa Processing, e a segunda, no programa e na placa controladora Arduino. O que ocorre é uma comunicação entre os dois. O processing recebe o dado do kinect, que corresponde a posição da mão. Ao receber este dado, o arduino entende que deve dar um comando para a rotação dos motores.
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110mm
360mm
62,4mm
34,9mm
35,4mm
25mm
49mm 80mm
88mm
6mm
155mm
49mm
27mm
11,3mm
253mm
39mm
19mm
99mm
5,49mm
75mm
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Cรณdigo no Processing: import processing.serial.*; //import cc.arduino.*;
import SimpleOpenNI.*;
//Arduino arduino; Serial minhaporta;
SimpleOpenNI meuKinect; float angulo;
int closestValue; int closestX; int closestY; int anguloserial; boolean maodetectada=false;
//int portServoEsq=10; //int portServoDir=3; int valor = 0; int sizeX=640; int sizeY=480; void setup() {
size(sizeX, sizeY); //a linha abaixo vai imprimir uma lista de portas seriais disponĂveis //verificar em qual porta a sua arduino estĂĄ conectada println(Serial.list()); minhaporta = new Serial(this, Serial.list()[7], 9600); meuKinect = new SimpleOpenNI(this); meuKinect.enableDepth(); meuKinect.setMirror(true); // noStroke(); } void draw() { background(255);
closestValue=10000; meuKinect.update(); int[] depthValues=meuKinect.depthMap(); for (int y=0; y<height; y++) { for (int x=0; x<width; x++) { int i=x+y*width; int currentDepthValue = depthValues[i]; if (currentDepthValue > 0 && currentDepthValue < closestValue) { closestValue = currentDepthValue; closestX=x; closestY=y; //maodetectada=true; } // else { // maodetectada=false; } }
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image(meuKinect.depthImage(), 0, 0); // mexe sem pintar, circulo vermelho, envia valores de 0 a 36 if (closestValue<1100) { fill(255, 0, 0, 150); angulo=degrees(atan2(closestY-height/2, closestX-width/2))+180;
anguloserial=int (angulo)/10; // mexe pintando, mao aproximada do kinect, esfera azul if (closestValue<800) { anguloserial=int (angulo)/10 +50 ; fill(0,0,255,150); } ellipse(closestX, closestY, 50, 50); line(width/2, height/2, closestX, closestY); } // para de mexer, motor neutro else { anguloserial=40; } minhaporta.write(anguloserial); println(anguloserial); }
Código para o Arduino: #include <Servo.h> int leitura = 40; Servo servoTinta; //Motor1 int dirPin1 = 2; int stepperPin1 = 3; //Motor2 int dirPin2 = 4; int stepperPin2 = 5; void setup() { pinMode(dirPin1, OUTPUT); pinMode(stepperPin1, OUTPUT); pinMode(dirPin2, OUTPUT); pinMode(stepperPin2, OUTPUT); servoTinta.attach(11); Serial.begin(9600); }
void loop(){ if (Serial.available() > 0) { leitura = Serial.read(); } //HIGH e’anti-horario = forca pra subir //MEXE SEM PINTAR // esquerda - oeste2
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if(leitura>=0 && leitura<3){ digitalWrite(dirPin1,HIGH); digitalWrite(dirPin2,LOW); digitalWrite(stepperPin1, HIGH); delayMicroseconds(100); digitalWrite(stepperPin1, LOW); delayMicroseconds(1500); digitalWrite(stepperPin2, HIGH); delayMicroseconds(100); digitalWrite(stepperPin2, LOW); delayMicroseconds(1500); servoTinta.write(90); //servo tinta 90 = nao ativado } //noroeste if(leitura>=3 && leitura<6){ digitalWrite(dirPin2,LOW); digitalWrite(stepperPin1, HIGH); delayMicroseconds(100); digitalWrite(stepperPin1, LOW); delayMicroseconds(3100); servoTinta.write(90); } // gira anti-horario: sobe vericalmente if(leitura>=6 && leitura<12){ //Direรงao Motor 1 - HIGH - sentido anti-horario digitalWrite(dirPin1,HIGH); //Direรงao Motor 2 - HIGH - sentido anti-horario digitalWrite(dirPin2,HIGH); digitalWrite(stepperPin1, HIGH); delayMicroseconds(100); digitalWrite(stepperPin1, LOW); delayMicroseconds(1500); digitalWrite(stepperPin2, HIGH);
delayMicroseconds(100); digitalWrite(stepperPin2, LOW); delayMicroseconds(1500); servoTinta.write(90); } // nordeste if(leitura>=12 && leitura<15){ //Direรงao Motor 2 - HIGH - sentido anti-horario digitalWrite(dirPin2,HIGH); digitalWrite(stepperPin2, HIGH); delayMicroseconds(100); digitalWrite(stepperPin2, LOW); delayMicroseconds(3100); servoTinta.write(90); } // direita if(leitura>=15 && leitura<21){ digitalWrite(dirPin1,LOW); digitalWrite(dirPin2,HIGH); digitalWrite(stepperPin1, HIGH); delayMicroseconds(100); digitalWrite(stepperPin1, LOW); delayMicroseconds(1500); digitalWrite(stepperPin2, HIGH); delayMicroseconds(100); digitalWrite(stepperPin2, LOW); delayMicroseconds(1500); servoTinta.write(90); } // sudeste if(leitura>=21 && leitura<24){ digitalWrite(dirPin1,LOW); digitalWrite(stepperPin1, HIGH); delayMicroseconds(100);
109
digitalWrite(stepperPin1, LOW); delayMicroseconds(3100); servoTinta.write(90); } // sul, desce if(leitura>24 && leitura<30){ digitalWrite(dirPin1,LOW); digitalWrite(dirPin2,LOW); digitalWrite(stepperPin1, HIGH); delayMicroseconds(100); digitalWrite(stepperPin1, LOW); delayMicroseconds(1500); digitalWrite(stepperPin2, HIGH); delayMicroseconds(100); digitalWrite(stepperPin2, LOW); delayMicroseconds(1500); servoTinta.write(90); } // sudoeste if(leitura>=30 && leitura<33){ digitalWrite(dirPin2,LOW); digitalWrite(stepperPin2, HIGH); delayMicroseconds(100); digitalWrite(stepperPin2, LOW); delayMicroseconds(3100); servoTinta.write(90); } // esquerda - oeste if(leitura>=33 && leitura<=35){ digitalWrite(dirPin1,HIGH); digitalWrite(dirPin2,LOW); digitalWrite(stepperPin1, HIGH); delayMicroseconds(100); digitalWrite(stepperPin1, LOW);
delayMicroseconds(1500); digitalWrite(stepperPin2, HIGH); delayMicroseconds(100); digitalWrite(stepperPin2, LOW); delayMicroseconds(1500); servoTinta.write(90); }
// MEXE PINTANDO
// esquerda - oeste2 - pintando if(leitura>=50 && leitura<53){ digitalWrite(dirPin1,HIGH); digitalWrite(dirPin2,LOW); digitalWrite(stepperPin1, HIGH); delayMicroseconds(100); digitalWrite(stepperPin1, LOW); delayMicroseconds(1500); digitalWrite(stepperPin2, HIGH); delayMicroseconds(100); digitalWrite(stepperPin2, LOW); delayMicroseconds(1500); servoTinta.write(180); } //noroeste - pintando if(leitura>=53 && leitura<56){ digitalWrite(dirPin2,LOW); digitalWrite(stepperPin1, HIGH); delayMicroseconds(100); digitalWrite(stepperPin1, LOW); delayMicroseconds(3100); servoTinta.write(180);
111
} // gira anti-horario: sobe vericalmente - pintando if(leitura>=56 && leitura<62){ //Direรงao Motor 1 - HIGH - sentido anti-horario digitalWrite(dirPin1,HIGH); //Direรงao Motor 2 - HIGH - sentido anti-horario digitalWrite(dirPin2,HIGH); digitalWrite(stepperPin1, HIGH); delayMicroseconds(100); digitalWrite(stepperPin1, LOW); delayMicroseconds(1500); digitalWrite(stepperPin2, HIGH); delayMicroseconds(100); digitalWrite(stepperPin2, LOW); delayMicroseconds(1500); servoTinta.write(180); } // nordeste - pintando if(leitura>=62 && leitura<65){ //Direรงao Motor 2 - HIGH - sentido anti-horario digitalWrite(dirPin2,HIGH); digitalWrite(stepperPin2, HIGH); delayMicroseconds(100); digitalWrite(stepperPin2, LOW); delayMicroseconds(3100); servoTinta.write(180); } // direita - pintando if(leitura>=65 && leitura<71){ digitalWrite(dirPin1,LOW); digitalWrite(dirPin2,HIGH); digitalWrite(stepperPin1, HIGH); delayMicroseconds(100);
digitalWrite(stepperPin1, LOW); delayMicroseconds(1500); digitalWrite(stepperPin2, HIGH); delayMicroseconds(100); digitalWrite(stepperPin2, LOW); delayMicroseconds(1500); servoTinta.write(180); } // sudeste - pintando if(leitura>=71 && leitura<74){ digitalWrite(dirPin1,LOW); digitalWrite(stepperPin1, HIGH); delayMicroseconds(100); digitalWrite(stepperPin1, LOW); delayMicroseconds(3100); servoTinta.write(180); } // sul, desce - pintando if(leitura>74 && leitura<80){ digitalWrite(dirPin1,LOW); digitalWrite(dirPin2,LOW); digitalWrite(stepperPin1, HIGH); delayMicroseconds(100); digitalWrite(stepperPin1, LOW); delayMicroseconds(1500); digitalWrite(stepperPin2, HIGH); delayMicroseconds(100); digitalWrite(stepperPin2, LOW); delayMicroseconds(1500); servoTinta.write(180); } // sudoeste - pintando if(leitura>=80 && leitura<83){ digitalWrite(dirPin2,LOW);
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digitalWrite(stepperPin2, HIGH); delayMicroseconds(100); digitalWrite(stepperPin2, LOW); delayMicroseconds(3100); servoTinta.write(180); } // esquerda - oeste - pintando if(leitura>=83 && leitura<=85){ digitalWrite(dirPin1,HIGH); digitalWrite(dirPin2,LOW); digitalWrite(stepperPin1, HIGH); delayMicroseconds(100); digitalWrite(stepperPin1, LOW); delayMicroseconds(1500); digitalWrite(stepperPin2, HIGH); delayMicroseconds(100); digitalWrite(stepperPin2, LOW); delayMicroseconds(1500); servoTinta.write(180); } //for(int i=0; i < 10; i++){ if(leitura==40){ servoTinta.write(90); } else{ } // } }
AUTOR DA OBRA E DIREITOS DE IMAGEM Um ponto interessante de ser refletido aqui é a questão da autoria da pintura que o TintaSolta produz. Tema muito discutido com o grande crescimento da internet e do compartilhamento de imagens, a questão de quem possui os direitos sobre tal imagem ou peça é um tema que merece reflexão. Para introdução do tema, comparo um caso ocorrido em 2011, do fotógrafo de natureza David Slater. Durante um trabalho na Indonésia, um dos macacos pretos com crista que ele fotografava pegou sua câmera e tirou algumas fotos dele mesmo, fazendo talvez o primeiro autorretrato (vulgo #selfie) feito por um animal selvagem.
Selfie do macaco preto de crista, em colaboração com David Slater.
A polêmica do caso começou quando o fotógrafo ganhou certa fama na internet por possuir tais fotos. Elas apareceram no site Wikipedia, disponível para utilização com direitos livres. Procurada por David para retirar as fotos, a Wikipedia não retirou, afirmando que quem fez a foto foi o macaco e não ele, mesmo que David tenha programado tecnicamente a câmera para tais condições de luz, velocidade do obturador, abertura do diafragma, restando ao macaco apenas o clique. A Wikipedia ainda se baseou na Lei de Direitos Autorais dos EUA, que afirma que trabalhos que não foram originados por trabalho humano não podem ser registrados,incluindo obras feitas por processos mecânicos aleatórios e forças da natureza.
115
O fato ocorrido certamente está gerando opiniões diversas, e terminará com um processo judicial nos EUA.
Acho interessante trazer para a esfera do projeto, pois é um ponto
que a sociedade ainda não chegou a um consenso exato, e mais complexo ainda quando pensamos que estes valores mudam de lugar para lugar. Sempre me perguntei, por exemplo, quem é o autor da foto num ambiente onde existe um operador de câmera, porém um diretor de fotografia dizendo qual o enquadramento e todas as especificações técnicas necessárias. Da mesma maneira que o processo coletivo da fotografia é ambíguo, a autoria da pintura gerada pelo projeto TintaSolta também é. Utilizei tecnologias
Open Source (desenvolvimento com o código aberto) para o projeto, tais como a placa controladora Arduino, muitas das linhas de programação utilizadas no código, bem como instruções para os motores e parte elétrica. Somado a isso, há o meu desenvolvimento de projeto, colocando todas as partes juntas, elaborando um produto que auxilia na confecção da peça, e que tem características próprias como distorção de linhas retas, curvas intensionalmente deformadas, linha tremida quando utilizada com pilot, e eventuais pontos de escorrimento incrontrolado quando usado com spray. Em contraponto a isso, a ideia do autor da obra, a pessoa que está operando a máquina, com todo seu repertório visual e criativo diante da arte que quer desenvolver enquanto usa o TintaSolta. Esses três pontos em questão surgem para colocar “lenha na fogueira” do assunto de quem detém os direitos autorais sobre a criação da imagem. Três influências distintas sobre uma mesma peça, certamente contribuem para essa discussão atual.
Meu ponto de vista particular sobre o assunto, e talvez até superficial,
é que independente de apenas uma pessoa ter operado a máquina, se há a interferência de outra no aspecto da programação do desenho ou da personalidade do traço da máquina, é a realização de uma obra colaborativa, onde não teria o mesmo resultado se qualquer uma das partes estivesse ausente, ou fizesse sua interferência de maneira diferente.
// ESTUDO DE NOME Tags atrás de uma placa de trânsito, artistas diversos, Cap Lagoa RJ 2014, arquivo pessoal
117
Para elaborar o nome do projeto e do objeto, parti de elementos presentes na esfera da arte urbana e na tecnologia que toca o trabalho. Combinando os dois campos, e tentando me aproximar de um nome em português, coloquei todas opções boladas em uma disposição comparativa.
graffiti gestual spray automação tinta tecnológico elementos que permeiam o projeto: jet fat cap
gravidade cordas tensão livre
gravidade graffiti gestual cordas sprayferramenta automação muro tensão tintamecanismo tecnológico rua jet reflexão fat cap interface livre movimento arte ferramenta mecanismo reflexão arte
muro rua interface movimento
Combinando-os:
AUTOGRAFF GESTOTEC TECHGRAF TINTA TEC AUTOGRAFF SPRAY TEC GESTOTEC AUTOMATINTA TECHGRAF REGRAFFITI TINTA TEC SPRAY TEC AUTOMATINTA REGRAFFITI
TRAÇO SOLTO GRAFF-IT SPRAYTIC GRAFFITOMÁTIC TRAÇO SOLTO GRAFFITOMACHINA GRAFF-IT FAT TECH SPRAYTIC GRAFFITOLÓGIC GRAFFITOMÁTIC GRAFFITOMACHINA FAT TECH GRAFFITOLÓGIC
GRAFFITECH TIPOGRAFFIT TRAÇO LIVRE TINTA SOLTA GRAFFITECH TEC JET TIPOGRAFFIT GRAFFITI BOT TRAÇO LIVRE STREETEC TINTA SOLTA TEC JET GRAFFITI BOT STREETEC
Em um simples diagrama, fui afunilando os mais pertinentes. Nessa
etapa, pontos importantes são a sonoridade, o tamanho do nome, o modo como soa, se o nome tem algo de figurativo, se tem um aspecto lúdico, e finalmente, se ele representa o projeto como um todo.
graffiti bot
gesto tec
graff-it
spraytic AUTOMATINTA
graffitomachina
streettec
GRAFFITECH
TEC JET
GRAFFITECH
movgraf
AUTOMATINTA
TINTA SOLTA
graffitomatic
TRAÇO SOLTO
TINTA SOLTA
motorspray
TUDOGRAFFIT
SPRAYTEC
traço solto
TINTA TEC
TUDOGRAFFIT
automatinta graffitech
freegraffiti
tintatec
tinta solta
traçolivre
spraytech tecjet
tudograffit
A partir da primeira filtragem com os selecionados, optei pelo TINTA
SOLTA. Enquanto “Graffitech” pode ser associado a uma empresa ligada a impressões gráficas, o “Automatinta” a algo automotivo, “Tudograffit” não me pareceu com personalidade forte. “Traço solto” remete mais a algo feito por uma pessoa, no caso com o traço fluido. “Tinta Solta” remete bem ao projeto pelo simbolismo que traz. A tinta realmente está solta, pendurada por apenas 2 fios de nylon. Solto na interpretação de que o mecanismo pode ter componentes que aleatorizam o movimento, quando não detecta presença humana. “Tinta” pelo ícone que representa ao graffiti.
A partir dessa decisão, seguem abaixo estudos de marca e logo.
119
1
2
3
4
TINTA SOLTA
TINTA SOLTA
5
6
7
121
8
9
Levando em conta gosto pessoal, legibilidade, o fato de ser uma tipografia já existente, fui em direção ao numero 5, das opções apresentadas acima. Acho importante o sujo, a tinta borrada e respingada, escorrido, então trabalhei no photoshop para criar a logo do projeto, e aplicações sobre texturas e superfícies.
123
// CONCLUSÃ&#x192;O
Graffiti TARM, CAP Lagoa RJ, maio 2014, foto arquivo pessoal
// conclusÃo
Passando da contextualização histórica no mundo, sua chegada ao
Brasil, e a incorporação de outras mídias no espectro do graffiti, entendo que essa linguagem não se limita restritamente ao muro, e não se limita no tipo de material usado para expressar sua voz. Um graffiti feito a partir de de um mecanismo eletrônico interativo, ou de qualquer outra ferramenta em diversos suportes, grita tão alto quanto uma pintura feita com tinta spray em um metrô, como era caracterizado no início do movimento nos anos 70.
Acerca
da
pesquisa
de
reprodução,
ponto
que
trago
à
tona devido a decisão de contemplar a reprodução dos traços e movimentos gestuais do graffiti, me deparei com Walter Benjamin. O autor ao meu ver, entende a reprodução negativamente desvalorizando a essência de uma obra, e a falta do “aqui e do agora” na arte. Transpondo para meu trabalho, entendo a crítica como a ausência do grafiteiro e a ação de apertar e movimentar o spray pela máquina, contudo, na medida que o resultado final desejado não é somente a superfície que a tinta esta sendo aplicada não desvaloriza o projeto. Se fosse o caso, concordo que faria mais sentido abandonar a estrutura e fazer com a própria mão. A obra que deve ser contemplada é a própria obra em movimento e não somente o papel que o spray se aplica. Assim, a automação do gestual faz sentido como fim, e não apenas como meio.
Tendo em vista o objetivo de reflexão, citado no início do documento, e
o processo incomum de não propor desde o início um produto com medidas e formas definidas, acredito que para alcançá-lo utilizei da metodologia “aprender e descobrir ao fazer”. Durante o processo, cada vez mais percebi a importância da metodologia cíclica, onde cada passo dado é motivo de aprendizado e ajuda a descobrir sobre o produto em desenvolvimento. Em outras palavras, durante o processo de fazer o produto, descobria novas facetas que transformavam o projeto e davam a ele mais sentido e personalidade. Dessa forma, propus experimentos com base nas referências levantadas, os quais pude avaliar uma série de fatores que jamais seriam previstos apenas na teoria. Testei grossura de traço, tintas diferentes, velocidade dos motores, ouvi grafiteiros e não-grafiteiros, e o ponto que cheguei foi uma instalação interativa, eficiente no que se propõe.
129
// agradecimentos Certamente este projeto não aconteceria da mesma maneira se não fossem por pessoas que estão perto de mim. Amigos, colegas, família, agradeço a muitos que ouviram, deram opiniões, testaram, fizeram críticas, e simplismente estiveram perto em momentos de tensão. Faço questão de citar alguns nomes, pois foi fundamental a ajuda: Gustavo Pontes, Gabriel Pontes, Johnny Pontes, Tiça Dias Garcia, Eduardo Pontes, Amanda Vieira, Cazé Dias Garcia, Helena Dias Garcia, John Valle, Maria Whitaker, Nicholas Licalzi, Helena Whitaker, Olivia Licalzi, Robert Debelle, Mark Licalzi, Walter Rosa, Paula Barroso, Marcelo Saladini, João Bonelli, Claudia Bolshaw, João Alegria, Leonardo Cardarelli, Ricardo Weissenberg, Beatrice Catarine, Gabriel Vinagre, Gerson Ribeiro, Thiago Molon, Francisco Gasparian, Antonio Vieira, Fernando Gasparian, Bernardo Laureano, Flavio Carvalho, Cid, Diogo Luz, Raquel Mattar, Carolina Martins, Flor Lopez, Mairê Ramazzina, Aparecido Silva, Nathalia Bruno, Jhonnata Oliveira, Rafael Cirino, Rafael Valentim, Tomás Lanzarini, Joy Till, Maria das Graças Chagas, Claudio Magalhães, Rogério Farner, Thomé Valente, Nicholas Philips, João Paulo Fidalgo, Dominique Heuer, Miguel Carvalho, Claudia Araujo, Marcelo Pereira, Zeca Pontes, Pedro Pontes, Francisco Guimarães, Thiago Macedo, Raoni Azevedo, Antonio Holfmeister e muitos outros que contribuiram de formas diferentes.
// referências BIBLIOGRAFIcas Site Os Gemeos http://www.osgemeos.com.br/
, acessado em março de 2014.
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