TINTA SOLTA

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João G Whitaker Orientador João Bonelli Tutores Cláudia Bolshaw Leonardo Cardarelli

PUC - RIO DSG 1041 Projeto final em Mídia Digital


// S u m á r i o // RESUMO

// INTRODUÇÃO

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// O GRAFFITI - CONTEXTO HISTÓRICO // RUA PARA GALERIA

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// GRAFFITI NO BRASIL

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// AUTOMAÇÃO

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REPRODUÇÃO

//

OBJETIVO

//

SIMILARES

//

EXPERIMENTAÇÃO

//

CONCLUSÃO

//

ESTUDO DE NOME

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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//

Resumo O presente trabalho visa uma reinterpretação do graffiti para uma

experiência digital, abordando questões controversas presentes no desenvolvimento do graffiti atualmente – tais como rua versus galeria, gestual versus automação, apreciação versus criminalização. Partindo das diferentes relações e interpretações pessoais do tema, este trabalho propõe uma reflexão do graffiti como expressão artística, através da experimentação com ferramentas digitais.

Drip Sessions, Graffiti Research Lab 2006

Bragga, Lapa 2008

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// INTRODUÇÃO

2PIU, S. José do Vale do Rio Preto 2012, foto Amanda Vieira


Este trabalho iniciou-se, de certa forma, antes da minha matrícula

na matéria de DSG 1041 Projeto 7. O interesse pelo graffiti foi o estopim do meu ingresso no curso de Design, e na medida do possível conciliava meu interesse pelo tema aos objetivos de projeto. Para o presente trabalho, parti das indagações dos diferentes olhares sobre as obras de graffiti espalhadas pela cidade. Intrigante o modo como cada um que passava notava um aspecto diferente da obra, que o fazia contemplar aquilo de maneira única: a combinação das cores, o tamanho da obra, a forma das letras, a interação com elementos da rua, a atitude de fazer a arte sem cobrar nada (por vezes até na ilegalidade e sendo punido por isso), a intenção de gerar o sorriso em alguém, o trabalho em grupo, ou mesmo um olhar voltado a aspectos negativos, o dano ao patrimônio, a mensagem inadequada, um desenho sem capricho.

A partir dessa contradição inicial, percebi outros paradoxos

presentes no desenvolvimento do graffite desde sua origem, da sua aceitação na sociedade, e da pesquisa que precede este trabalho. Primeiramente, a polêmica clássica, de uma expressão artística que é ao mesmo tempo contemplada e criminalizada. Segundo, a controvérsia de uma arte efêmera que pertence as ruas, porém é presente e imortalizada em galerias e museus. Terceiro, o aspecto mais relacionado a este trabalho, a relação de uma expressão artística artesanal com a arte digital tangível. Para discorrer sobre estas e outras controversas que permeiam o tema, é necessária a contextualização dessa arte e um panorama geral sobre os acontecimentos relacionados.

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// contexto histÓRICO Cops in the Train, The Bronx, 1981, livro Subway Art 25th anniversary edition, Martha Cooper


O Graffiti, a escrita nos muros, foi primeiramente usado para

contestação política e marcação de território de gangues nos EUA, em meados de 1930, porém o princípio do graffiti como conhecemos hoje só foi aparecer no final dos anos 60, quando um dos escritores ganhou fama fora da cultura underground. TAKI 183 era o codinome do adolescente de nome Demetrius, e 183 era a rua que ele morava. Como utilizava o metro diversas vezes ao dia para trabalho, tirou vantagem disso e espalhava seu tag com facilidade e rapidez em vários carros de várias linhas diferentes, fazendo com que ganhasse reconhecimento ou gerando dúvidas nas pessoas. As diversas aparições desse nome inusitado fizeram sair um artigo no jornal New York Times, consolidando a repercussão que o graffiti estava tendo na época. Assim como Taki183, outros nomes surgiam nos metrôs, percebendo que essa era a melhor plataforma para lançar seus nomes e ganhar reconhecimento de de outras áreas da cidade também entusiastas dessa cultura. Vários jovens de toda cidade de NY (Brooklyn, The Bronx, Queens, Manhattan, Staten Island) lançavam seus tags, cada um querendo mais atenção que o outro.

TAKI 183 - o primeiro reconhecimento pela mídia do graffiti. NY Times, 1971

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Gangue reunída no “Writers Bench”. foto Martha Cooper

No clima de competitividade, alguns fatores faziam seu nome se

destacar mais que os outros, como o tamanho do tag e a criatividade ao escrevê-lo. O que no início destacava-se por quantidade, somava-se agora com originalidade. Os “writers”, como se intitulavam, colocavam agora adereços aos nomes com tipografias unicas, setas, coroas, estrelas, sublinhados, cores e preenchimento ás letras. Um dos nomes famosos da época era STAY HIGH 149, o qual usava um baseado como barra de corte do H e um personagem de televisão da época. Essa necessidade de se destacar foi o estopim para o desenvolvimento de estilos diferentes, enfeitando seus tags e fazendo letras grandes com preenchimentos diversos. PHASE2 é reconhecido como o precursor do bubblestyle, e TOPCAT 126 como o das letras de blocos. Personagens, ilustrações e cenários apareceram por volta de de 1974, com TRACY 168, CLIFF 159 e BLADE ONE, no exterior dos metrôs.


Nos anos 80 o buff (termo usado para designar o apagamento

de obras) se deu mais frequentemente, a segurança aumentava e a manutenção dos carros do metrô foi mais intensa. A propagação de drogas, o clima tenso nas ruas, leis rígidas dificultando a compra de spray, a punição mais severa a grafiteiros, foram fatores que fizeram muitos entusiastas da década passada desistirem, bem como outros aceitarem as restrições como um desafio para manterem a cultura viva.

Porém, as dificuldades impostas pela MTA, empresa responsável

pelo sistema de metrôs até hoje, como grades mais intensas e segurança reforçada, fizeram do territorialismo uma prática mais frequente, e o encontro de gangues e crews na maioria das vezes violento. Em 1989, a política Clean Train Movement tinha como objetivo remover todo e qualquer carro com graffiti, e foi muito eficiente no que se propôs. A maneira mais eficiente então para registrar seu trabalho foram as fotografias, que permitiam, mesmo com trens rodando um dia pintados e depois apagados, manter vivo o registro de um movimento artístico efêmero, temporário e ilegal.

DONDI Whole Car, 1980, foto Martha Cooper do livro Subway Art

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PHASE2, Bubblestyle Letters, 1972, South Bronx, United Graffiti Artists

Happy Holiday Whole Car, JSON & RICHIE, foto Martha Cooper

Grafiteiros da época considerevam muros, trens de carga, canvas

e qualquer outra superfície adequada apenas para falsos grafiteiros, indicando a importância da pintura em metrôs para a cultura do graffiti, até hoje em dia. É comum ouvir dizer que um “bomb”(um graffiti ataque, onde não é permitido e feito com rapidez) em um metrô é o sonho realizado de qualquer grafiteiro contemporâneo, visto sua importância histórica, o simbolismo da origem do verdadeiro graffiti. Atualmente o graffiti abrange mais que apenas metrôs e paredes. Sua linguagem visual contempla diversos objetos, mobiliário, acessórios de moda, roupas, estampas, comerciais de tv. Da mesma forma que paredes, quadros, muros comerciais, pinturas indoor, etc, conquistaram espaço frente as pinturas em metrôs, muitos artistas hoje consideram igualmente importantes essas novas aplicações à esfera do graffiti e da expansão da linguagem visual da arte de rua.


/ / D A R U A PA R a G A L E R I A Vendedor de Alegria, Expo Metamorfose , TOZ, Centro Hélio Oiticica, 2014. Foto Kaká

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A comunicação através do spray esteve presente nos muros e trens há aproximadamente quarenta anos, e o que começou como uma humilde forma de escrever o nome para dizer “eu estive aqui”, foi o primórdio do vasto campo que hoje conhecemos como Street Art. Intervenções, colagens, mosaicos, esculturas urbanas, stickers, diversas são as técnicas que compõe esse gênero, com a característica de estar sempre presente nas ruas. Com a cultura de arte urbana crescendo e se expandindo a diversas formas, comerciantes de arte viram uma brecha para adaptá-la as brancas paredes das galerias.

Desde a primeira exposição que se tem notícia, em 1973, está presente

a polêmica da interpretação do graffiti como fine art. O sociólogo Hugo Martinez, percebendo a expansão de artistas e estilos diversos, fundou a United Graffiti Artists, com o intuito de reunir os melhores da cidade e realizar exibições de arte. A primeira delas, no SoHo em NY, na Razor Gallery, e respectivamente na Galleria Medusa em Roma, 1979, abraçaram grafiteiros e abriram portas até então fechadas para estes artistas. Fotos, telas e pinturas ao vivo nos próprios muros das galerias faziam parte dos eventos. Enquanto as fotos eram uma maneira de documentar e imortalizar uma arte efêmera, que mudava e era constantemente apagada, para deixarem de ser apenas uma vaga memória na mente dos que rapidamente viram o trem passando, transformavam-se na forma de arte em sí, penduradas nas paredes dessas galerias. O ato de grafitar durante uma exposição nos muros de fora da galeria, era a tentativa de firmar a essência legítima das ruas, equanto que telas e objetos customizados eram a entrada do graffiti no mercado da arte.


STAY HIGH e COPE 2, noite de assinatura de autógrafos, 2000, foto do arquivo de COPE2

Atualmente, ocorrem diversas exposições em galerias relacionadas ao graffiti, feitas por grafiteiros ou não. As galerias que mais apoiam o movimento de arte urbana no Brasil, são relativamente novas e pequenas, porém representam uma série de artistas, sempre ativos no cenário da rua, requisito mais importante para o reconhecimento do artista no mercado da arte. Interessante o ponto sutil e contraditório desse fenômeno: em ordem para o reconhecimento do grafiteiro, seu crescimento em galerias, o juízo de valor de seu trabalho como mercadoria; é esperada constante presença nas ruas, sua atitude ousada e desafiadora em relação as autoridades e à propriedade alheia, e naturalmente sua criatividade e originalidade ao realizar suas obras. Atualmente, as principais galerias de arte de rua no eixo rio-são paulo são Choque Cultural, Homegrown, Movimento, Graphos Brasil.

Os principais e mais ativos atores nesse eixo são Os Gemeos,

representando São Paulo, e TOZ, no Rio de Janeiro. Outros artistas que não ficam para trás são nomes como Mack, Zezão, Gais, Big, Nunca, Acme, Mateu, BR, Speto, Finok, Ise, Ment, dentre muitos outros, se destacando sempre pela originalidade, atitude e intervenções. Julgo pertinente descrever brevemente o estilo e a intenção de alguns desses expoentes do movimento no Brasil.

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Jornal Cidade, Celacanto Provoca Maremoto Analisa sistemas, Carlos Alberto Teixeira, 1987, xerox do Carlos Alberto Teixeira

CELACANTO PROVOCA MAREMOTO Reconhecido como o primeiro pixador carioca, o até então estudante de física Carlos Alberto Teixeira é o responsável por esses escritos, e “culpado” de ter iniciado, em meados de 1970, a tão difundida cultura do spray no Rio de Janeiro como conhecemos hoje. Estudante da PUC-Rio, ele diz que tudo começou como uma brincadeira, escrevendo de giz em quadros negros, banheiros, tapumes, e logo aderiu ao spray escrevendo em diversos muros da zona sul. Ele chegou a mobilizar uma série de interessados, uns 20 pixadores escrevendo com o mesmo pseudônimo, com presença até em Whasington e Paris. A frase Celacanto provoca maremoto foi inspirada em um dos dizeres de um personagem de tv japones dos anos 60 National Kid, e impregnou muros principalmente de ipanema, leblon e jardim botânico. Com a grande repercussão, e especulações do real sentido daquela escrita, a imprensa passou a investigar, e atribuiu aquelas palavras


ingênuas um marco para encontro de traficantes. Com essa intensa especulação, o então prefeito Marcos Tamoio instituiu uma multa para quem fosse pego no ato, e atos violentos contra pixadores se tornaram mais frequentes, diminuindo a atuação de Carlos Alberto. Afirma que foi um ato despretencioso, e que a sucessão de fatos o levaram ao reconhecimento que tem hoje. O motivo real, ele diz que foi uma ânsia por comunicação, por passar uma mensagem, algo tão bem feito que muitas pessoas daquela época ainda se lembram do Celacanto. Cito um parágrafo retirado do site “curriculo informal” do autor: “Em 1977, sabotei o computador da universidade, um 1130, onde substituí a função SQRT por uma de mesmo nome que imprimia uma entre dez frases escolhida de acordo com o algarismo das unidades do argumento. Entre as pérolas impressas, havia:

-CELACANTO PROVOCA MAREMOTO - dentro daquele retângulo com a setinha para baixo -COELACANTVS AGITAT MARE - LERFA MV AVXILIAT -CELACANTO É FILHO DA TRUTA ...e mais outras sete das quais não me recordo. Quase deu merda para mim porque algum professor rodou um programa de cálculo de flexão em vigas (que deve usar muita raiz quadrada) e a impressora cuspiu uma tonelada de papel com frases do Celacanto antes que o operador pudesse reagir e abortar a operação.” Interessante o modo de pensar do pixador, transgressor em todos seus atos, e quer passar sua mensagem a qualquer custo, mesmo que essa mensagem não tenha um profundo conteúdo admitido pelo autor.

Celacanto Provoca Maremoto, Carlos Alberto Teixeira, 1976, foto Catalisando, 2003

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Materia de jornal da época: O Globo 1978, citação da disputa por territórios dos pixadores, acervo do Carlos Alberto Teixeira.

Acima, anúncio de jornal da época: topo Jornal do Brasil 1990, “spa piscinas PROVOCA MAREMOTO”, acervo do Carlos Alberto Teixeira. Ao lado, anúncio de jornal O Globo 1978, jogada de marketing com o nome Celacanto acervo do Carlos Alberto Teixeira.


Instalação musical, expo Vertigem, OS GEMEOS, FAAP/SP

Os Gêmeos

Nascidos em 74 no Cambuci em SP, os irmãos Gustavo e Otavio

têm em seu escopo de trabalho uma arte rica em detalhes, se utilizando de personagens, letras e símbolos para uma obra cheia de fantasias e críticas socioeconômicas, materializando o mundo que criaram em conjunto para ruas, telas, exposições, objetos e quais mais intervenções suas mentes permitirem. Impressionam por trabalhar em conjunto em completa sintonia, se completando em cada aspecto da peça e assinando um trabalho de dois, como apenas um: como se no ato da arte estivessem realmente conectados, duas cabeças na mesma frequência. Pintando predominantemente na combinação de tons de amarelo e preto, tem um traço sutil e delicado para expressar questões fortes e atuais como fome, sem terras, política, entre muitas outras mensagens. Como bons grafiteiros paulistas, não dispensam laterias de prédios, telhados, pixações e bombs. São os brasileiros mais conhecidos internacionalmente quando se fala de graffiti, realizando desde exposições sobre seu mundo particular, quanto gigantes murais no exterior do país.

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Lateral de prĂŠdio em South Station, Boston, USA, OS GEMEOS 2012, foto Mark Malazarte

BOMB de Os Gemeos, USA 2012, foto Os Gemeos, foto Integrated Social Media


TOZ

O baiano Tomaz Viana, 76, veio para o Rio com 16 anos e no graffiti

criou personagens companheiros proprios, quase como seus alteregos, traduzindo seu estado de espírito e suas preocupações existenciais e filosóficas. Vindo de uma geração que colecionava bonecos tipo playmobill, falcon, fofoletes, o artista encontrou nesta arte sua maneira de interpretar as referência de mangá, animação, ilustração, aliados com com seu mundo particular. Co-fundador da Flesh Beck Crew, um grupo de grafiteiros do rio de destaque, ganhou fama pelo uso de cores, as intero traço limpo e criativo, a forte presença no cenário de arte urbana carioca, e - mais uma vez - a atitude perseverante do grafiteiro de se impor na sociedade.

Não raro seu trabalho sai do ambiente das ruas e ganha vida em

intervenções e pinturas em objetos, mobiliário, telas, esculturas, estampas, vídeos, dentre outros suportes que ele usa para se expressar. Inspirando uma série de grafiteiros na cidade com seu estilo figurativo, Toz tem um traço muito característico, fácil de se identificar ao andar pelo Rio, e atualmente encontra-se muito dedicado a exposições individuais, produzindo incessantemente no seu atelier no Rio Comprido, contudo frequentemente encontra tempo para espalhar seus personagens por aí.

Expo Metamorfose, Centro Hélio Oiticica, 2014

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BB Idoso, TOZ, Rio de Janeiro, Hípica 2011, foto arquivo pessoal

Zezão

O

paulistano

Zezão

explora

profundas

questões

da

arte

contemporânea sem malabarismos teóricos, mas com muita presença e corágem para enfrentá-las de frente, como ele mesmo diz. Seu trabalho parte da caligrafia para a abstração, elaborando ornamentos muito fluidos e característicos. Zezão encontrou um mundo a parte da cidade de São Paulo, percorrendo infinitas galerias labirínticas de esgoto da cidade, e realizando sua arte nos locais mais inusitados e inacessíveis ao público, denunciando aspectos político, econômico e sociais por meio de suas fotos impactantes. Ele se mune de suportes como vídeo, instalações, performance, pintura, caligrafia, intervenções, para retratar questões e temas presentes na arte contemporânea.


O trabalho de Zezão evoca, mais do que os normalmente vistos, a

questão da efemeridade, fortemente presente nas raízes do graffiti. Se a rua é um ambiente que muda todo o tempo, a constante transformação de uma letra, tag ou personagem faz parte da obra em sí, e se completa a cada novo passo de mutação. Zezão usa este fator a seu favor, usando a fotografia e o vídeo para registro da transformação e para divulgação ao público, uma vez que visualizar uma obra na galeria de esgoto é de dificílimo acesso à maioria da população. Sua obra muda até o momento que ela se esgota - quem viu, viu, quem não viu, sumiu. É nesse sentido de tecnologia e efemeridade que faço o gancho para falar do graffiti invadindo e sendo invadido por outros suportes, nesse caso o digital. Atualmente é notável a diversidades de suportes que graffiteiros incorporam seu trabalho, apropriando-se de objetos, (móvies, toy arts, eletrodomésticos, etc) aplicando diversas técnicas de pintura além do spray (acrílica, óleo, látex, marcadores à base de alcool) a sua interpretação pessoal referenciada na linguagem da arte de rua. O termo graffiti então é concebido como uma visão generalizada da interferência da linguagem da arte de rua em um dado suporte, não sendo mais necessariamente a aplicação do spray no muro. É comum ouvirmos e falarmos frases como “ faz um grafite no meu tênis?”, ou “faz um flyer de grafite pra minha festa?”, entre outras frases que permitem o entendimento mais abrangente do assunto, quando sabemos que o conceito do graffiti nascido em Ny em meados de 60, se referia à escrita ilegal, no metrô, suja, em quantidade no início e qualidade posteriormente, que foi apresentada no início desse documento.

Pensando nessa abordagem do conceito inicial do graffiti, para

o desdobramento do atual termo concebido como graffiti, é pertinente a introdução do aspecto tecnológico que, assim como a passagem do spray para o óleo e o acrílico, também se dá na passagem do spray para o digital, na medida que ele consiga traduzir na sua forma final as características da linguagem da arte de rua. Ou seja, nesta linha de pensamento entendemos alguns exemplos de projeção mapeada, laser tag, instalações digitais, interferências, entre outros, como sendo abraçados pela classificação de graffiti, quase que na mesma medida

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que o ato de aplicar o spray, ou marcadores sobre muro. Para citar exemplos práticos, o trabalho de graffiti digital do Evan Roth. Ao aplicar o Laser tag fazendo intervenção com a arquitetura, utiliza dos mesmo preceitos de presença na rua, a maior escala para maior visualização, da escrita despojada, da questão da efemeridade de uma obra que dura um período limitado de tempo e que de certa forma se transforma não em relação à ação do tempo como no graffiti usual, mas de acordo com a variação de luz na rua. O fato do escorrimento, na tentativa de reproduzir essa característica da lata de spray também é presente nesse trabalho, garantindo ainda mais nosso entendimento dele na classificação de graffiti.

Zezão, galeria de esgoto de São Paulo, foto Zezão


Zezão, galeria de esgoto de São Paulo, foto Zezão

digitalGraffiti

Fazendo jus ao parágrafo anterior, a partir da minha experiência como grafiteiro, e das pesquisas observadas até então, entendo que o graffiti muitas vezes abraça a tecnologia, que me leva a citar outro exemplo: evento ocorrido anualmente, digitalGraffiti. A curadoria recebe inscrições de artistas dos quatro cantos do mundo, faz uma apurada seleção, e expõe os trabalhos de projeção e imersão em um evento durante algumas noites. De acordo com os idealizadores do projeto, a presença do termo “graffiti” no nome, se dá justamente pelo fato de fusão dos elementos arte, tecnologia e arquitetura, aplicados na lateral de prédios, casas e monumentos, adicionando portanto o fator da intervenção urbana, de um jeito que nenhum dos três grupos citados acima pensaram que seriam dispostos numa mesma mídia. No sentido de afastamento dos meios e ferramentas tradicionais, da intervenção urbana, da arte efêmera, e da linguagem visual do que está sendo disposto, entendemos o evento em questão como graffiti, assim como o exemplo anterior.

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Projeção mapeada, lava escorrendo, digitalGraffiti, Alys Beach, 2013

Asas de mariposa, projeção mapeada, David Montgomery, digitalGraffiti, Alys Beach, 2013


Né Dans La Rue – Graffitti. Fundação Cartier de Paris e Documentário PIXO de João Wainer e Roberto T. Oliveira

Apresento este projeto para analisá-lo de duas formas: a primeira,

com cunho funcional, atuando como uma mostra de exibição de arte de rua; o segundo ponto, analisar um dos trabalhos presentes, o documentário PIXO, pelo fato de levantar questões inerentes a conceitualização da arte contemporânea.

Em 2009 a Fondation Cartier pour l’art contemporain, promoveu a

exibição em seu renomado prédio, Né Dans La Rue: Graffitti ( Nascido nas ruas, graffiti). Ao mesmo tempo que traçava as origens do movimento, a mostra apresentou um panorama diverso de trabalhos contemporâneos sobre o graffiti no mundo. A mostra reuniu desde trabalhos de lendários como Seen e Tracy 168, passando por Shepard Fairey a.k.a OBEY, até trabalhos de Evan Roth e Katsu.

Essa mostra como um todo já é uma grande referência para a

contextualização do presente trabalho, visto que reúne diversos trabalhos sobre o tema, desde os mais notórios grafiteiros do berço do graffiti, até trabalhos mais atuais como identificação de caracteres presentes em tags; todos eles juntos em um ambiente de galeria, patrocinados por uma fundação européia prestigiada, de arte contemporânea. O ponto de toque entre os fatores ”exposição e graffiti” traz a tona o questionamento de uma arte que deve ser apreciada ao mesmo tempo que é criminalizada, bem como uma forma de expressão que é destinado ao público em geral

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quando se encontra na rua, e claramente um direcionamento específico, por vezes elitista, quando encontra-se no ambiente da galeria.

A aceitação da fundação Cartier para com o graffiti e sua história

legitima o reconhecimento cada vez maior dessa forma de expressão, e da aceitação da sociedade para com o que antes era visto com outros olhos. Acho o mais interessante dessa mostra o fato de ela abordar um panorama grande da atuação do graffiti e da arte de rua. Dos primeiros registros e a evolução do tema, trabalhos muito atuais, expoentes com seu nome espalhado mundialmente. A partir daí que começei a mudar a minha percepção do graffiti, entendendo que trabalhos que não usavam necessariamente o spray, com viés tecnológico e ainda com a identidade visual do graffiti também faziam parte dessa cultura e são contemplados da mesma maneira dentro desse campo de atuação.

Salas das Exposição Né dans la rue - Evan Roth, Fundação Cartier de Paris 2009


Salas das Exposição Né dans la rue - graffiti, Fundação Cartier de Paris 2009

Outro trabalho que fez parte desta exposição, foi o documentário

dos brasileiros João Wainer e Roberto Oliveira, PIXO. Este trabalho conta com depoimentos de pichadores de São Paulo e imagens deles em ação. Eles defendem que a essência do que fazem se justifica como arte justamente por ser ilegal, da atitude desafiadora, da negação da sociedade em geral, da autenticidade da grafia do pixo de São Paulo em relação as outras partes do mundo e aos diferentes grupos locais, são pontos que enfatizam as questões previamente levantadas. O que caracteriza algo como arte? Será que a criminalização o exclui do campo da arte? Um dos entrevistados no filme levanta essa questão, “porque [Marcel Duchamp] pode colocar uma privada e ela ser admirada como expressão artística, e meu pixo não pode?” É certo que não pretendo responder essas questões como as ciências exatas respondem as suas, mas seu levantamento pretende guiar o trabalho na medida que este se concretizará para que o público possa tirar sua própria conclusão.

ScreenShot retirada do filme PIXO, João Wainer 2009

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// AUTOMAÇÃO

Fonte ( Guia do Estudante )


Considero pertinente uma contextualização do conceito de

automação, pois se encaixa na esfera da mídia digital e tangível em que o projeto está inserido, da ideia da máquina atuar no lugar do homem. Se o projeto se inclina para a integração do graffiti ao tecnológico, devese ter claro o conceito da automação. Entendendo que inicialmente a construção e o uso de uma estrutura e mecanismo dotados da programação de motores, para a reflexão da ausência do movimento gestual, se apropriarão da automação, devo deixar claro o que ela é para saber onde estarei pisando.

Segundo LACOMBE, Francisco J.M., Dicionário da Administração,

São Paulo Saraiva, 2004,

“Automação é a aplicação de técnicas

computadorizadas ou mecânicas para diminuir o uso de mão-de-obra em qualquer processo, assim diminuindo os custos e aumentando a velocidade da produção.” Entendemos então como um sistema, máquina ou ferramenta, que não necessita da interferência do homem para realizar sua tarefa. Em síntese, um mecanismo que move-se por sí só. A ideia de automação se fez muito presente principalmente na produção automobilística, padronizando os resultados que antes variavam com o trabalho braçal. Várias questões polêmicas foram levantadas quando esse processo se intensificou, como o aumento generalizado do desemprego em fábricas, até onde o homem poderia interferir para previnir riscos, a partir de erros repentinos como poderiam parar todo o processo para diminuir prejuízos, entre outros. Percebemos que a automação se dá sempre em parte do processo, pois os inputs principais ainda são humanos, como a programação, a hora de iniciar, de finalizar, entre outras variáveis diferentes de sistema para sistema, cabendo a máquina realizar o “grosso” do trabalho.

Na compreensão do graffiti, o elemento do gestual certamente

é de suma importância, pois é o que o legitima como autêntico, da atitude, do movimento corporal que faz parte da obra. Comparado a uma performance, poéticamente pode ser entendido até como uma dança, pois cada grafiteiro tem seu próprio jeito de realizar sua peça, move seu corpo com aceleração diferente em cada traço, enfim, o movimento corporal certamente é parte marcante da assinatura de cada artista, e

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sua ausência proposital é um dos caminhos pretendidos para gerar a reflexão acerca da abrangência do graffiti atualmente, das implicações da tecnologia nessa expressão artística, e na criação de uma nova ferramenta para o grafiteiro da interação com a obra que ele quer gerar.

Um

exemplo de automação diferente do padrão “industria

automobilística”, é a banda CompressorHead, formada inteiramente por robôs. Eles abordam a questão da performance de uma maneira interessante, pois é justamente o que o cantor e compositor de música tem de cativante e persuasivo além do conteúdo e melodias das suas composições. Certo que os robos fazem apenas shows “cover”, tocando músicas já existentes, e cada acorde tocado por eles foi programado por alguém. Contudo, a aceitação do público e a notoriedade em shows que a banda tem são intrigantes, e penso na contribuição para o projeto: será que o elemento da performance humana, gestual, movimento corporal, pode ficar ausente, ou passível de ser substituída pela ação da máquina? Será que sendo substituída, tem o mesmo impacto no observador, é visto como uma inovação e por isso aclamada, ou banalizada por apenas reproduzir o que uma vez foi criado pelo homem? Será apenas o desejo de explorar as aplicações da tecnologia? Esse grupo de questões ajudam o projeto a tomar forma conceitual, e na medida do possível, estrutural, pois influenciarão na ideação dos experimentos e consequentemente na construção do produto.

Banda CompressorHead, Gibson Musikmesse 2013 , screenshot de vídeo do youtube


// REPRODUテァテグ

20 Marilyns, Adny Warhol, 1962, serigrafia, Acervo particular

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Referência muito conhecida no campo da crítica da arte, Benjamin

vale ser mencionado aqui pelo seu texto “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica”. Buscando uma reflexão sobre a reprodução de traços e movimentos do graffiti na automação de um mecanismo a ser criado pelo projeto, o conceito de reprodução e sua valoração na visão Benjaminiana não podem ser deixados de lado. Em ordem para verificar (ou não) a premissa, citada no início deste texto, entendo que Benjamin critica os meios de reprodução das obras de arte. BENJAMIN, Walter, 1955 A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica, “Mesmo na reprodução mais perfeita, um elemento está ausente: o aqui e agora da obra de arte, sua existência única, no lugar em que ela se encontra (...) Mesmo que essas novas circunstâncias deixem intacto o conteúdo da obra de arte, elas desvalorizam, de qualquer modo, o seu aqui e agora.“ Entendo que a citação acima tem um forte peso no trabalho, visto que é o ponto principal aqui a reprodução dos gestos pela automação, mesmo que haja uma interação mínima dos movimentos captados pela máquina. Contudo, se o autor citado vê negatividade na falta de presença do artista na hora da produção propriamente dita da obra, tenho um entendimento por outra visão. Não vejo ausência do aqui e do agora, pelo menos não no que imagino para o projeto, pois a intenção é que a máquina trabalhando, com todos seus motores, sensores de presença, código com fatores aleatórios, estrutura robusta chamativa, acaba por legitimar a obra como um todo, e não a minimiza apenas ao conceito de reproduzir traços do graffiti. Se justifica também por criar uma nova forma de entendimento do graffiti, mas ainda dentro do seu seio, em parte por realizar algo que o homem não faria por sí só, em outra parte pela exploração da tecnologia como forma de expressão artística.

Arte de Romero Britto, Foto do site do artista


No início do texto, percebo a crítica da reprodução seriada, a

exploração dos métodos de fabricação em massa de conteúdo, iniciandose pela litografia, depois pela fotografia, e a maior parte do texto se dedica ao cinema em contraponto ao teatro e a atuação ao vivo, e ao meu ver, tem aspecto negativo quanto a facilitar o acesso da massa da população à expressões artísticas únicas, naquele momento do tempo. Contudo, a associação das partes do texto que tocam o projeto é aqui o mais importante: concluo que o presente trabalho não deseja usar máquinas no sentido da produção em massa, para ampliar a área de abrangência do conteúdo e o acesso das massas. Não deseja ser um trabalho ao estilo Romero Brito, e produzir em larga escala impressões do mesmo exemplar feito no estúdio (de forma alguma menosprezo o artista, apenas fujo de seu método de trabalho). O projeto se inclina por usar a tecnologia e a máquina incorporando-a na apresentação da obra. Nesse sentido, é desejável o funcionamento aparente do mecanismo, integrado como parte chave da obra final, não se enquadrando então na crítica de Benjamin de que a reprodução através da tecnologia desvalorizam o objeto criado pelo artista.

Na foto da capa do capítulo, Warhol se baseou na “linha de

produção”, fazendo uma crítica sobre a suposta singularidade da obra de arte. Usando a técnica da serigrafia, ele afirmava que “obtia a mesma imagem ligeiramente diferente”. Grande figura do movimento do Pop Art, o artista criou símbolos, como essa obra das Marilyns, para por em questão a noção de obra-prima assimilada pela tradição artística ocidental, trabalhando com produções seriadas, com ajuda de diversos assistentes, pegando itens do cotidiano e imortalizando-os em suas obras, como é o caso da sopa Campbells. O trabalho de Warhol como um todo se encaixa no conceito de reprodução, e ao meu ver argumenta contrariamente à Benjamin no que foi escrito no parágrafo anterior.

Mural no MOMA de Ny da Campbell’s Soup, Andy Warhol, foto arquivo pessoal

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// objetivo: REFLexĂŁo

Este capĂ­tulo tem como objetivo listar e analisar os similares para

Pintura coletiva em panos, Rio de Janeiro 2010, foto Antonia Muniz


Tendo em vista o contexto histório do graffiti, e trabalhando no campo

abrangente do graffiti atualmente, a nova forma de conceber trabalhos de várias midias diferentes que agora classificamos como graffiti com o mesmo valor conceitual se comparadas à forma tradicional (spray no muro), é valido traçar o objetivo do trabalho a ser desenvolvido.

Apoiado nas múltiplas possibilidades de interpretação de uma

mesma peça por várias pessoas diferentes - os quase que inesgotáveis juízos de valor que cada passante, observador, grafiteiro, estudioso, proprietário do bem vandalizado, policial, podem atribuir a uma mesma obra; pretendo gerar uma reflexão acerca de questões intrínsecas nessa forma de expressão. Em um primeiro plano, de uma expressão ao mesmo tempo criminalizada e contemplada; num segundo, aspectos como a presença num ambiente fechado expositivo paralela a presença na rua enquanto na rua não tem escolha senão o contato, num ambiente fechado há um recorte social, econômico e de interesse pela linguagem. O terceiro fator de reflexão é na questão da efemeridade: como a obra muda e se completa devidos à fatores externos de quem a fez e não tem o controle sobre eles, a cada momento da ação do tempo na obra. A textura da parede, o tempo, os transeuntes ao redor comentando, um lugar que é mais ou menos aceito o graffiti, barulho dos carros, por aí vai. Quarto, a reflexão a partir da automação de uma arte manual e gestual: a máquina reproduzir os movimentos do graffiti, seja a partir da interação homemmáquina, seja por leituras que a máquina faz do ambiente ao seu redor (a partir de um código de programação).

Essas questões permeiam o trabalho, e se talvez pareça um pouco

pretensiosa na quantidade de requisitos que proprõe para a instigação de um novo olhar, entendo que se houver reflexão de pelo menos um desses fatos, o objetivo do trabalho se cumpre de forma satisfatória. Entendo a dificuldade de direcionar olhares a estes temas diferentes em uma mesma obra, mas tenho posicionamento positivo quanto a abrangência e variedade das questões, tornando desejável a multiplicidade do entendimento.

Para atingir essa mencionada reflexão, pretendo apresentar uma

série de referências estéticas, funcionais e tecnológicas, servindo de base para o pensamento projetual do “aprender fazendo”.

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Difícil imaginar a forma final do produto no início do levantamento de questões, porém tenho em mente aspectos importantes, e julgo a melhor forma de transmiti-los para o entendimento geral ser através da confecção de experimentos, que mesmo sem acabamento fino, poderei materializar os conceitos aqui expostos e verificar de que forma atendem o objetivo traçado. Adianto que o projeto aponta na direção de uma interface tangível, um mecanismo que, de alguma forma indefinida no momento, realiza movimentos se aproximando da linguagem visual do graffiti.


// ANÁLISE DE SIMILARES

Drips, KRINK, Loft in Space Hawaii 2011

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o desenvolvimento do trabalho. Já que pretendo desenvolver o trabalho no questionamento das fronteiras da criminalização X apreciação, do ambiente aberto da rua X ambiente fechado de galerias, do artesanal X digital, é preciso discorrer sobre a relevância dessas questões em trabalhos marcantes para a esfera do presente projeto. Avaiable Online For Free - Graffiti Taxonomy, por Evan Roth

Comunicação com a TSA - placa para ser vista em raixo X de aeroportos - Evan Roth 2008

#Bada55 in a can, representação hexadecimal em tinta do seu pseudônimo - “Bad Ass (motherfucker)” Evan Roth 2008, edição limitada de 100


Evan Roth é o criador do Free Art and Technology (F.A.T.) Lab, e

também um dos fundadores do Graffitti Research Lab junto com James Powderly. Como ele mesmo define, o propósito do FAT é enriquecer o domínio público através de pesquisas e desenvolvimento de mídias e tecnologias criativas. Uma descrição um tanto formal para refletir seu corpo de trabalhos, ele na maioria das vezes se propõe em enfatizar o aspecto lúdico, contestador, engraçado, brincalhão das suas obras. Muitos podem olhar e até se perguntar a real importância desses trabalhos, porém todos são bem fundamentados e defendem bem o que se propõe. O trabalho que proponho analisar é o Graffiti Taxonomy, um estudo formal das formas tipográficas de tags em diversas superficies em ruas de NY e Paris, de 2004 a 2009. Evan investigou pixos de vários artistas, e o modo como cada um representa cada letra de sua forma peculiar. Comparado a um trabalho de decifrar hieróglifos, foi um aprofundamento na escrita particular dos artistas, relacionando a letra E ,por exemplo, dos diferentes tags de cada escritor da cidade. Esse estudo em um primeiro momento gerou um alfabeto coletivo, transpôsto para posters, colados em espaço público.

O trabalho é pertinente de ser analisado no quesito relevância, pois

propõe um aprofundamento em uma manifestação artística negligenciada e banalizada. Mesmo que ilegal e não reconhecida formalmente como arte plástica, me refiro aqui ao pixo como manifestação artística, principalmente pelo fato de tornar concreta uma expressão comunicativa pessoal, com a mensagem da atitude e da originalidade por trás de cada Tag, e este trabalho se apresenta para confirmar isto. Ao firmar um compromisso com esta análise de formas, Evan Roth invariavelmente colabora para a apreciação das diferentes e únicas formas tipográficas Logo do Graffiti Research Lab, Evan Roth e James Powderly

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de cada artista, e além disso faz questão de levar isso ao público em forma de cartazes, posters, livros, publicações, entre outros (este seu trabalho também está presente na exposição Né Dans La Rue apresentado acima), contribuindo ainda para a aceitação do público em geral do objeto analisado. Por esses motivos, o trabalho como um todo se apresenta como uma boa referencia ao projeto, de modo que encara a polêmica de algo que deve ser criminalizado versus algo que deve ser apreciado de uma maneira sutil, silenciosa e certamente tendenciosa.

Exposição Graffiti Taxonomy, Evan Roth, foto do artista


Vogais A E I O U, Graffiti Taxonomy, Evan Roth, análise das letra em tags, Ny 2009

Graffiti Research Lab - The Drip Sessions

O G.R.L. é um grupo fundado por Evan Roth e James Powderly,

dedicado a fornecer grafiteiros, artistas, e protestadores de tecnologias Open Source, para comunicação urbana. O projeto Drip Session consiste em um esforço por gravar e arquivar o escorrimento da tinta durante um traço, aplicando-o digitalmente durante projeções de Laser Tag pela cidade. Proponho este trabalho para a análise pois, ao meu ver, se encaixa como referência tanto tecnológica quanto estética, visto que se mune de ferramentas digitais lidando diretamente com a linguagem do graffiti.

Como o coletivo preza o código aberto em tudo que fazem, não

Projeção no onibus, Graffiti Research Lab, NY, fonte entrevista do James Powderly para o Citypages

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foi difícil conseguir informações de como eles fizeram cada aspecto do projeto. Recomenda-se uso de no mínimo 2500 lumens. Acoplado em um carro e num laptop, o sistema permite horas de funcionamento enquanto o carro estiver ligado e sua bateria funcionando. Certamente não há nada de inovador hoje em dia ao realizar projeção relacionada com arte dessa forma, pois conhecemos bem o potencial de empresas e artistas que fazem incríveis trabalhos com projeção mapeada e interatividade, mas o interessante aqui foi que o uso de uma caneta laser para escrever em tempo real na fachada do prédio, e seu rastro ficava gravado por onde passava, agindo como uma verdadeira caneta digital, realizando tags de grande escala de um ponto fixo no solo. Trago o trabalho para análise pelo fato de ele transformar o digital, que no senso comum imagina-se sempre atras de uma tela, para o físico em larga escala, somado a interatividade do laser. Se, por um lado, certamente o meu trabalho se baseia no Drip Sessions, pelo quesito projeção e interação, pela tecnologia existente e pela ideia da união da arte manual do graffiti com a arte digital; por outro lado penso que quero conhecer bem minhas referências para ter certeza da originalidade na etapa do desenvolvimento.

No quesito estético, o projeto apresenta visual super simples, apenas Parte do coletivo em ação em Williamsburg, no brooklyn, NY, fotos site GRL


uma linha escorrendo, fazendo referência a uma lata de tinta aplicada na parede. Essa simples linha faz sua identidade visual tocar no ponto certo do objetivo do projeto em desenvolvimento: se pretendo um questionamento acerca do graffiti como arte, através do - digamos assim “pixo digital” , o Drip Sessions se encaixa justamente pela sua interpretação fiel do traço do spray. Sob a visão da cultura das ruas, este trabalho é pertinente como referência estética na medida de simplicidade que traz em si mesmo.

The Drip Sessions, AVONE, GRL 2006, fonte vídeo no youtube

Não há nada mais básico no traço de um grafiti do que o elemento

da tinta escorrendo. Ele não se propõe a se incrementar de curvas e adornos em sua volta. Não permite cores, camadas, texturas. É a simples re-interpretação da tinta saindo da lata para o muro, em um ambiente digital sendo projetado de volta na parede. É claro que essa re-interpretação não contempla todos os fatores do ato de aplicar spray no muro. Foge da variação de distâncias da lata da parede em um mesmo traço, do ângulo de inclinação, do processo corporal do desenho em larga escala, do cheiro da tinta, entre outros. Contudo, é possível através do escorrimento, entender a proposta inicial, dirigindo nossa leitura para um entendimento artístico, de uma re-interpretação do uso de uma ferramenta artesanal para o digital. Desse modo, auxilia o trabalho por fornecer o referencial visual mais básico, porém funcional e belo na simplicidade que se propõe.


The Drip Sessions, FREE BORF, Washington SQ PK Graffiti ResearchLab 2006

Rafael Sliks - Grafiteiro, pixador, artista plástico

Sliks é o nome do momento quando se fala em Tag Art. Apresento

seu trabalho de Tags para uma análise estética, algo que pretendo me basear, seguir em uma linha visual semelhante para desenvolver o conteúdo do trabalho que está por vir. Direciono meus olhares sobre esta referência apenas no quesito estético, deixando de fora as questões criminalidade, exibições em galerias, classificação como arte. Proponho o trabalho de Sliks pelo seu diferencial aos outros tags, seu preciso controle do Fatcap, o birro para o traço mais grosso produzido pelos fabricantes, combinado com latas de alta pressão, fazendo com que muita tinta saia da lata e se espalhe em um traço bem grosso e imponente na superfície direcionada. A grande sacada de quem domina com perfeição esta técnica é realizar seu trabalho controlando a pressão - do mais grosso para o mais fino, tanto no controle de quanta força aperta até a inclinação e distancia da lata para a parede, realizando essa operação em cada letra do seu tag. Sliks faz isso com naturalidade. A prática do controle do traço é presente em outros bicos além do fatcap, porém neste observa-se claramente a intenção de aplicar uma técnica para decorar o nome em si, puramente um fator estético, independente do local escolhido para visibilidade, da originalidade da grafia ou da atitude agressiva ilegal.


SLIKS, tag de fatcap, imagem do site do artista

Diferentemente do pixo paulista, com suas letras sempre verticais e na maioria das vezes feitas com rolo, extensor e tinta látex, o tag de Sliks bebe na fonte do berço do graffiti, onde constantemente em NY os nomes se assemelham mais a logos elaborados, escritos curvos, arredondados, curvas fechadas, terminando com sublinhados, aspas, setas…

O pixo de Sliks por sí só, para mim já seria suficientemente belo e

pertinente para o desenvolvimento do trabalho. Contudo, não discarto da análise suas obras de composição e sobreposição de nomes. Tag sobre tag, incessante e caótico, porém com uma cuidadosa preocupação visual gráfica, ele pinta uma malha de traços, letras e linhas. Julgo pertinente pois admiro a maneira como ele transforma tags e traços em uma arte complexa, viva, cheia de camadas e cores. O espectador que aprecia inocentemente, pode nem perceber que a origem dessa arte são formas e letras que, se soltas em muros públicos (e frequentemente são), podem ser repudiadas por ele mesmo. Se a presença de seus trabalhos

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em eventos de arte e galerias são formas pessoais de o artista contestar barreiras impostas pela sociedade, ou apenas sua maneira própria de consolidar sua arte com raízes na pixação, ou qualquer outro fator subjetivo, certamente fica a critério de cada um o julgamento. Porém, é surpreendente o sucesso que sua arte tem feito nos ultimos anos, principalmente pela sua forte presença na rua aliada a participação de eventos como ArteRua, ArteRio, Miami Art Basel, Major Minority em San Francisco, e colaborações com marcas como Mini Cooper, Homegrown, entre outros.

SLIKS, tag sobre foto, imagem do site do artista


SLIKS, sobreposição de tags, Londres imagem do site do artista

SENSELESS DRAWING BOT - So Kanno e Takahiro Yamaguchi

Apresento esta referência para sua análise tecnológica, inserindo

na pesquisa uma tecnologia física, palpável, que através de circuitos, motores e programação, usa a aleatoriedade do código para desenhar com spray. Através da placa de prototipação Arduino, os criadores fizeram uso do pêndulo duplo, e com a ajuda de motores para apertar o spray, e o movimento do skate elétrico embaixo, os pêndulos entram em movimento para fazer seu graffiti na parede. Julgo pertinente a presença neste relatório, primeiro pelo tipo de trabalho desenvolvido, que faz uso do spray em traços grotescos mas ao mesmo tempo fluidos. Aleatórios em uma medida, porém limitados no sentido do alcance de seus braços. Segundo e não menos importante, pelo uso do Arduino como plataforma

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de prototipação, que permite testar diversas opções antes da definição final para impressão do circuito soldado. Sua versatilidade permite uma série de conexões diferentes, e para o desenvolvimento do meu trabalho certamente irei utilizar o arduino para as experimentações.

Senseless drawing bot em ação em um evento, So Kanno e takahiro Yamaguchi

Senseless drawing bot em ação em um eventono Japão, So Kanno e takahiro Yamaguchi


Conclusões da pesquisa estética:

Tendo em vista os casos analizados, Rafael Sliks e Drip Sessions,

tenho em mente uma linguagem visual que faz parte e dialoga completamente com a rua. A sobreposição dos tags no trabalho de Sliks, traz o aspecto da sujeira, da bagunça, da desorganização, do grotesco e de certa forma repudiante, de uma maneira coerente para a esfera da aceitação e da contemplação, devido ao contexto que está inserido. Fisica e conceitualmente distintas, mas seguindo a mesma linha de raciocínio, a instalação móvel de Laser Tag do Drip Sessions se aproveita da estética do escorrido, da correria, da atitude para amarrar bem seu conceito e se firmar para o público da rua. Importante mencionar o hardware usado por eles, aparelhos adaptados para fazerem as funções que desejam, sem muito carinho e acabamento na construção e no uso durante o projeto fios pelo caminho sem muita preocupação, computador no chão , projetor com gambiarras para o calço e nivelamento, enfim, várias improvisações que acabam por fazer parte da obra visto o contexto ao seu redor. Para finalizar, conclui que o objeto final não causará desconforto visual nem conceitual, mesmo se construído pensado na robustez, na irregularidade das peças, na aparência grotesca e com cara de construído “aos trancos e barrancos”, justamente porque foi pensado na estética da essência do graffiti e da rua

Certamente poderia discorrer aqui sobre uma infinidade de

trabalhos de referência, contudo, estes apresentados já constroem os alicerces para desenvolver o início do projeto. Conforme surgirem outros similares pertinentes, e diferentes destes apresentados, atualizarei o documento.

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/ / e x p e r i m e n tA Ç a o


Em ordem para início da experimentação, reitero aqui a premissa

proposta no decorrer do trabalho:

No campo abrangente do grafite

atual, pretendo gerar uma reflexão acerca da arte conceitual paralela a gestual, com questões intrinsecas da arte de rua desde seu surgimento criminalização e apreciação; presença em exposição e na rua; performance gestual e automação da máquina. Em ordem para alcançar a automação do gestual, e gerar a reflexão, proponho experimentos, os quais mesmo robustos, sem um acabamento fino, poderei entender o mecanismo, a programação, o funcionamento em geral e se atende adequadamente ao conceito do projeto desde o início. Retirando o elemento performático do gestual, do grafiteiro realizando a obra, retirando-o do contexto da rua, surge a questão: a “coisa” ainda é caracterizada como graffiti? A automação do gestual, fora da rua, porém com a linguagem visual de graffiti, é ainda considerada da mesma maneira nesse campo? Essas são as questões que pretendo abordar na reflexão dos observadores, e a realização dos experimentos se dão nessa linha: um novo meio de fazer graffiti. Experimento 1 Carro + caneta pilot. Interatividade por meio de um photocell, sensor que identifica a quantidade de luz incidente. Com o pilot encostado no papel, carro move-se para frente e para trás em um movimento simples e controlado, com as duas rodas em movimento semelhante se houver muita incidência de luz, ou seja, pouca presença humana. Conforme aproximamos a mão em direção ao sensor, o sensor reconhece a presença de alguém perto (menos luz incidente) e dá o comando para as rodas girarem de maneira mais acelerada, frenética, registrando esse movimento com o pilot no papel. Ainda num movimento frente e trás, a intenção da mudança da velocidade e do movimento mais brusco é refletir a atitude de um graffiti feito num viés mais ilegal, que quando se encontra em uma situação que julga tranquila e calma, realiza seu traço em ritmo normal, e quando numa situação de muita observação, realiza seu pixo o mais rápido possível, de coração acelerado, as vezes até de forma descontrolada pois presta mais atenção no ambiente ao seu redor

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do que no traço propriamente dito. Um breve vídeo desse experimento em ação pode ser visto no link abaixo: https://www.youtube.com/watch?v=rvyOoRUo6Hw&feature=youtu.be materiais: motores servo rodas de EVA base de MDF de 3mm elásticos de borracha placa de prototipação arduíno protoboard para conectar os fios photocell para medir a luz incidente naquele ponto específico arame para fixar pilot sharpie bateria 9v


Nas fotos acima, podemos ver a estrutura do carrinho: arduíno

azul em cima, seguido pela protoboard branca, com os fios fazendo as conexões com os motores em preto ligados as rodas amarelas. A caneta, na extremidade, vai registrando então seu movimento conforme a incidência de luz no pequeno sensor, localizado na protoboard. Prendendo os componentes na placa com arames e elásticos, o carrinho ficou leve e funcionou como o esperado, ficando ligado por quanto tempo a bateria de 9 volts aguentar. Na foto da página anterior, está com a bateria, na foto acima, se encontra ligado no computador por meio do cabo. Na foto acima podemos ver com mais clareza, mesmo com uma foto em qualidade baixa, o movimento registrado pela caneta: padrões de linhas ora espaçadas, ora bem próximas.

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Experimento 2 Spray + alavanca Esse experimento foi pensado na aproximação mais estreita à estética do graffiti do que no experimento anterior, unindo um motor servo á uma alavanca para apertar o bico do spray. Dentro de um case de MDF, o spray fica seguro por duas paredes com calços laterais, a peça de mdf que serve de alavanca em uma das paredes rente ao bico do spray (com um eixo feito de clips de papel para permitir subir e descer), e o servo na parede oposta, com a peça que gira rente ao final da alavanca.

A grande preocupação foi como fazer o motor apertar o spray.

Realizei mock-ups de papelão para medir e visualizar como faria, qual material usar, se a madeira iria ou não aguentar o peso do spray, pois após a caixa pronta, ela deveria se movimentar, e todas as peças permanecerem no lugar. Tendo em vista que poderia usar a impressora a corte laser do Laboratório de Volumes, pensei em testar a placa de MDF de 6mm para a estrutura, devido ao peso ser relativamente leve e a fina camada de madeira, se comparado ao compensado. Sabendo que a laser permite expessura de no máximo 3mm, o teste com a placa mais grossa seria uma comprovação inicial. Fiz todos os cortes e acabamentos no Lab Volume, e o Cid me ajudou com os calços laterais para a lata não cair. A estrutura não tem nada de mega elaborada em sí, apenas recortes no MDF para o encaixe fino e rígido. Após a confecção da caixa, o Servo foi encaixado um pouco mais para cima do que o desejado, girando a alavanca inicialmente sem pressão. Problema resolvido com um calço de plástico PS para apertar o bico com mais força.


Nas fotos mostradas acima, podemos observar o motor servo em posição para girar e apertar a alavanca, e a placa arduino acoplada na estrutura, com a bateria junto.

No que diz respeito a programação, no primeiro teste percebi que

o servo não poderia girar 180 graus, muito depressa, devido ao formato da peça giratória que empurra a alavanca - ela pulava para fora com a força que o bico fazia para voltar a sua posição normal. Com o código falando para a máquina girar apenas 100 graus, numa velocidade mais controlada, a peça ficou no lugar e a força do motor foi suficiente para pressionar o bico. Essas fases da experimentação podem ser conferidas em curtos vídeos no Youtube: Peça do servo “pulando” para fora: https://www.youtube.com/watch?v=WQ39SJc_rJI&list=UUSD7HjsrhYZ tnL4bAuz5A2w Programado para girar 100 graus, em ritmo controlado de 6 em 6 segundos (sem pressão): https://www.youtube.com/watch?v=uSvlVXaY8DY&list=UUSD7HjsrhYZ tnL4bAuz5A2w&index=5 Em movimento, com o calço de PS e forte pressão: https://www.youtube.com/watch?v=7eq2yxVXMXk&list=UUSD7HjsrhY ZtnL4bAuz5A2w&index=6

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Experimento 3 estrutura + spray Para esse experimento, pensei em como poderia fazer a lata se movimentar. Para tal, pensei no alcance das mãos versus o alcance de um carretel de linha. Me baseando na referência Hektor, tentei reproduzir dois motores giratórios que sustentariam a caixa do spray. Através de um joystick e um botão, uma pessoa poderia movimentar e realizar traços, pontos, se apropriando daquela linguagem escorrida e agressiva. Para sustentar os motores e dar versatilidade ao projeto, transpondo-o para diferentes lugares, começei a construir uma estrutura de madeira no laboratório de volumes, auto-portante, estável, desmontável, leve e que sustentasse os movimentos dos motores com o spray (na caixa de mdf descrita anteriormente) de aproximadamente 800g. Para tal usei compensados normais, medindo aproximadamente 1m20cm de altura por 1m de comprimento. Todas chapas de compensado se encaixam por meio de rasgos da expessura exata da peça, 1cm, e os pés são em forma de cruz, também com rasgos para o encaixe sem cola ou pregos.


Como tinha acabado de ganhar intimidade com a programação

dos servos, e pela sua facilidade de comunicação com o arduino, decidi testar para ver se aguentavam o peso da lata. Mas antes era preciso imprimir um modelo 3D do carretel, fornecido pelo colega Gerson, e desenvolvido para o projeto do L.I.F.E. Arpoador. também impresso na impressora Rapman do LIFE, com plástico ABS.

Impressora Rapman derretendo o plástico e imprimindo o carretel

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No teste de peso, o servo conseguiu levantar a latinha, sustentada por linhas de nylon, executando o máximo de força possível. Isso serviu para legitimar o experimento e dar continuidade a ele. No momento com apenas um eixo do joystick funcionando, o proximo passo foi na direção de colocar o outro eixo, acrescentar o motor que acionava o spray no código, e soldar cabos longos para conectar a lata a placa do arduíno, que agora não se encontrava mais preso na latinha, mas na própria estrutura. No video a seguir, o primeiro teste de apenas um servo levantando o peso. https://www.youtube.com/watch?v=zRECPl9DiwI

Na foto acima, a primeira experimentação do mecanismo funcionando como um todo: ambos servos de sustentação controlados pelo joystick, o servo que aciona o spray (foto) agindo em resposta a um botão colocado no topo da estrutura. Importante mencionar aqui que realizei esse experimento em conjunto com a matéria da PUC Interfaces Físicas e Lógicas, em dupla com o também aluno de Design Mídia Digital Gabriel Maia Vinagre, que contribuiu muito para a programação, elaborando grande parte do código e resolvendo problemas funcionais lógicos.


O teste foi bom para concluir alguns pontos: o controle com o

joystick é adequado, porém pode ser revisado visto outros meios mais interessantes de interação com a máquina. a estrutura aguentou bem os movimentos, e assumir seu visual parece interessante para chamar a atenção, além de agir como uma moldura para a obra, que se caracteriza mais pelo processo do que pelo resultado. Claro que se o resultado não for satisfatório, significa que o processo não foi adequado, o que nos leva a concluir sobre o tipo de traço que saiu da lata: muito borrado, com longos escorridos, em uma cor apenas, e curvas não muito sutis. Acho interessante assumir o escorrido e o borrado como linguagem da peça, visto sua ligação direta com o tag, onde muitas vezes o pixador aperta mais o pilot para sair mais tinta e enfatizar a agressão visual. Porém não descarto uma revisão no tipo de bico da lata, na sua distância da superfície na quantidade de pressão do spray ou na velocidade dos motores.

Realizei um vídeo com edição mais apurada que os anteriores,

para conferir com mais atenção o processo da experimentação: https://www.youtube.com/watch?v=bpKPRxVNl18&list=UUSD7HjsrhYZ tnL4bAuz5A2w

Primeiros traços do TINTA SOLTA, realizado no Lab de Volume, operado pelo Gabr iel Vinagre

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Experimento 4 estrutura Tinta Solta + kinect Após o teste com todos os componentes funcionando juntos, eu e Gabriel pensamos nas implicações do projeto, qual o rumo que ele teria conforme modificassemos cada parte. Ele se empolgou com o projeto e se interessou em continuar colaborando com o projeto mesmo depois da G2 aula de interfaces, no desenrolar do próximo período. Pensamos em outras formas de interação com o mecanismo, e adequado pensar que o movimento corporal poderia direcionar o spray. Sem modificar a estrutura, esse experimento se difere do anterior pela sua relação com o operador, e o maior desafio do experimento é na parte da comunicação do kinect com o arduino. Transpondo o código na plataforma Arduino para o processing, adaptamos os movimentos antes controlados pelo joystick à área que o objeto mais próximo (Closest Object) do kinect se encontra na tela. Basicamente: closest object na parte superior ou inferior, ambos motores funcionam, closest object no lado esquerdo ou direito, apenas o motor respectivo ao lado funciona. Experimento ainda em desenvolvimento para a aula de interfaces, ainda não concluimos como vai se dar o processo de ativar o spray, e pensamos como fazer com que o mecanismo saiba que chegou o final da linha e pare de girar. Para concluir os pensamentos sobre o experimento com o Kinect, acho mais adequado do que o uso do joystick, visto a relação dos movimentos do corpo e dos braços com essa forma de arte. Para um efeito mais impactante chegamos a conclusão que o produto precisa ter proporções maiores, para maior alcance do spray. É também uma questão a ser refletida se o uso com o kinect na rua vai se dar de maneira satisfatória, devido a necessidade de o kinect estar conectado a um computador, à incidência dos raios solares que podem interferir no infravermelho da câmera. Não quero excluir a possibilidade de usá-lo na rua ainda, principalmente sem testes para comprovar, porém se esse for o caso, não diminuirá o valor do projeto, pois só a exploração da tecnologia por sí só é valiosa, ainda somado ao fato do projeto poder se aplicar em diversos outros ambientes. Apenas refletindo sobre onde poderá ser aplicado.


Podemos observar na foto acima a leitura que o Kinect faz do ambiente: o “vulto” branco na tela do computador, e um pouco a direita da bermuda da pessoa, a tinta spray que interage de acordo. Vídeo da experimentação no URL abaixo: https://www.youtube.com/watch?v=ja8Fn5D744E&feature=youtu.be

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// CONCLUSテグ

Graffiti TARM, CAP Lagoa RJ, maio 2014, foto arquivo pessoal


Para concluir o trabalho em desenvolvimento, me baseio em

tudo apresentado até agora. Passando da contextualização histórica no mundo, sua chegada ao Brasil, e a incorporação de outras mídias no espectro do graffiti, entendo que essa linguagem não se limita restritamente ao muro, e não se limita no tipo de material usado para expressar sua voz. Um graffiti feito a partir de LaserTag, apartir de um mecanismo eletrônico, a partir de canetinhas em uma dada superfície, grita tão alto quanto uma pintura feita com tinta spray em um muro.

Acerca da pesquisa de reprodução, ponto que trago à tona devido a

decisão de contemplar no trabalho a reprodução dos traços e movimentos gestuais do graffiti e da pixação, me deparei com Walter Benjamin. O autor ao meu ver, entende a reprodução (e o acesso a massa da população que ela acarreta) em seu tempo como sendo negativo e que desvaloriza a essência de uma obra, visto a falta do “aqui e do agora” na arte. Transpondo para meu trabalho, entendo a crítica como a ausência do grafiteiro e a ação de apertar e movimentar o spray pela máquina, contudo, retruco que o trabalho não se encaixa e não se desvaloriza, na medida que o resultado final desejado não é somente a superfície que a tinta esta sendo aplicada. Se fosse o caso, concordo que faria mais sentido abandonar a estrutura tecnológica e fazer um spray com a própria mão. O resultado esperado, a obra que deve ser contemplada é a própria obra em movimento, a própria estrutura interagindo com o homem, e não somente o papel que o spray se aplica. Assim, a automação do gestual faz sentido como fim, e não meio.

Tendo em vista o objetivo de reflexão, citado no início do documento,

e o processo incomum de não propor desde o início um produto, com medidas e formas, acredito que para alcançá-lo utilizei da metodologia “aprender e descobrir ao fazer”. Dessa forma, propus experimentos com base nas referências levantadas, os quais pude avaliar uma série de fatores que jamais seriam previstos apenas na teoria. Entendo que para o próximo período de DSG1042, ainda terei que testar pontos como escala, local de aplicação, estilo do traço, e refinar o componente da interação do kinect, e só pude descobrir isso com o erro, vendo um componente não funcionar de acordo e propor uma solução.

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Pessoalmente, o semestre rendeu mais do que esperava, ao início

do período não imaginava que o projeto iria tomar forma de um mecanismo tangível, e não imaginava que estaria em uma fase que julgo avançada em nível de experimentação e prototipagem. Certo que só consegui com ajuda dos que estiveram perto de mim, colegas, professores, familiares, em um semestre conturbado de datas, feriados e greves. Para fechar, conto com esse mesmo apoio somado a dedicação pessoal visto o grande entusiasmo com o tema, e espero no próximo semestre concluir com satisfação o projeto, fazendo com que ganhe repercussão nas ruas, eventos, galerias, exposições, instalações urbanas, podendo me abrir portas para próximos trabalhos profissionais também nesta linha.


// ESTUDO DE NOME Tags atrás de uma placa de trânsito, artistas diversos, Cap Lagoa RJ 2014, arquivo pessoal

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Para elaborar o nome do projeto e do objeto, parti de elementos presentes na esfera da arte urbana e na tecnologia que toca o trabalho. Combinando os dois campos, e tentando me aproximar de um nome em português, coloquei todas opções boladas em uma disposição comparativa.

gravidade graffiti gestual cordas elementosspray que permeiam oautomação projeto: tensão tinta tecnológico gravidade graffiti gestual livre jet fat cap cordas spray automação tensão tinta tecnológico livre jet fat cap muro ferramenta rua mecanismo interface reflexão muro ferramenta movimento arte rua mecanismo interface reflexão movimento arte

Combinando-os:

AUTOGRAFF GESTOTEC TECHGRAF AUTOGRAFF TINTA TEC GESTOTEC SPRAY TEC TECHGRAF AUTOMATINTA TINTA TEC REGRAFFITI SPRAY TEC

TRAÇO SOLTO GRAFF-IT SPRAYTIC TRAÇO SOLTO GRAFFITOMÁTIC GRAFF-IT GRAFFITOMACHINA SPRAYTIC FAT TECH GRAFFITOMÁTIC GRAFFITOLÓGIC GRAFFITOMACHINA

GRAFFITECH TIPOGRAFFIT TRAÇO LIVRE GRAFFITECH TINTA SOLTA TIPOGRAFFIT TEC JETLIVRE TRAÇO GRAFFITI BOT TINTA SOLTA STREETEC TEC JET

AUTOMATINTA REGRAFFITI

FAT TECH GRAFFITOLÓGIC

GRAFFITI BOT STREETEC


Em um simples diagrama, fui afunilando os mais pertinentes. Nessa

etapa, pontos importantes são a sonoridade, o tamanho do nome, o modo como soa, se o nome tem algo de figurativo, se tem um aspecto lúdico, e finalmente, se ele representa o projeto como um todo.

graffiti bot

gesto tec

graff-it

spraytic AUTOMATINTA

graffitomachina

streettec

GRAFFITECH

TEC JET

GRAFFITECH

movgraf

AUTOMATINTA

TINTA SOLTA

graffitomatic

TRAÇO SOLTO

TINTA SOLTA

motorspray

TUDOGRAFFIT

SPRAYTEC

traço solto

TINTA TEC

TUDOGRAFFIT

automatinta graffitech

freegraffiti

tintatec

tinta solta

traçolivre

spraytech tecjet

tudograffit

A partir da primeira filtragem com os selecionados, optei pelo

TINTA SOLTA. Enquanto “Graffitech” pode ser associado a uma empresa ligada a impressões gráficas, o “Automatinta” a algo automotivo, “Tudograffit” não me pareceu com personalidade forte. “Traço solto” remete mais a algo feito por uma pessoa, no caso com o traço fluido. “Tinta Solta” remete bem ao projeto pelo simbolismo que traz. A tinta realmente está solta, pendurada por apenas 2 fios de nylon. Solto na interpretação de que o mecanismo pode ter componentes que aleatorizam o movimento, quando não detecta presença humana. “Tinta” pelo ícone que representa ao graffiti.

A partir dessa decisão, seguem abaixo estudos de marca e logo.

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4

TINTA SOLTA

TINTA SOLTA


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Levando em conta gosto pessoal, legibilidade, o fato de ser uma tipografia já existente, fui em direção ao numero 5, das opções apresentadas acima. Acho importante o sujo, a tinta borrada e respingada, escorrido, então trabalhei no photoshop para criar a logo do projeto, e aplicações sobre texturas e superfícies.

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/ / P L A N E J A M E N T O 2 0 14 . 2


12_volta aulas

AGOSTO

17_G1

SETEMBRO

22_G0

re-montar o experimento fazer apresentação de G0; próximos passos a partir daqui; decidir se o servo é a melhor opção; fazer uma estrutura leve; aumentar o tamanho da estrutura; fazer suporte pro kinect;

OUTUBRO

17_G1.5

apresentação; vídeo explicativo; vídeo conceito; interação funcionando em 100%;

NOVEMBRO

DEZEMBRO

12_G2

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// referências BIBLIOGRAFIcas

Site Os Gemeos http://www.osgemeos.com.br/

, acessado em março de 2014.

Site Galeria Movimento, http://www.galeriamovimento.com.br/pt/index.php acessado Mar 2014

Site Zezão http://www.zezaoarts.com.br/zezao.asp acessado Mar 2014

Site Evan Roth Bad Ass Mother Fucker http://www.evan-roth.com/about/ acessado Mar 2014 Blog Evan Roth http://www.blog.ni9e.com/graffiti-taxonomy-paris-2009/ acessado Mar 2014 Site 12oz Project http://www.12ozprophet.com/news/cope2-remembers-stay_high_149 acessado em Mar 2014 Site FroLab http://frolab.com/2012/06/11/r-i-p-to-the-voice-of-the-ghetto-wayne-


stay-high-149-roberts/ acessado Mar 2014

Site Fondation Cartier http://fondation.cartier.com/#/en/home/ acessado em mar 2014 Site @149st http://www.at149st.com/hpart1.html acessado em Mar 2014 Site Graffiti Research Lab http://www.graffitiresearchlab.com/blog/projects/laser-tag/#video http://www.graffitiresearchlab.com/blog/projects/the-dripsessions/#video acessado em Mar 2014 Site digitalGraffiti http://www.digitalgraffiti.com/media/ acessado Mar 2014 Site Joรฃo Wainer http://joaowainer.wordpress.com/tag/fondation-cartier/ Documentรกrio Pixo http://joaowainer.wordpress.com/a-ponte/ acessado Mar 2014 Site Sliks http://sliks.tumblr.com/ acessado em Mar 2014 Site Engineer vs Designer http://www.solidsmack.com/design/arduino-driven-draw-bot-is-sense-

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less-and-slightly-cool/ acessado em Mar 2014

Site This is not graffiti http://thisisnotagraffiti.tumblr.com/#26063320739 acesso Mar 2014 Blog da TiaHelo http://cadernotiahelo.blogspot.com.br/2014/03/exposicoes-cariocas. html acessado mar 2014 Site KRINK http://shop.krink.com/ acessado Mar 2014 Amazon - livro Subway Art, Martha Cooper http://www.amazon.com/Subway-Art-25th-Anniversary-Edition/ dp/0811868877 http://www.amazon.com/Subway-Art-Martha-Cooper/dp/0805006788 acessados em Mar 2014 Site CityPages http://blogs.citypages.com/gimmenoise/2008/02/art_public_diss.php acessado em Mai 2014

Flickr Carlos Alberto Teixeira, acessado em MAI 2014 http://blogs.citypages.com/gimmenoise/2008/02/art_public_diss.php


Site Catalisando, curriculo informal Carlos Alberto Teixeira, MAI 2014 http://catalisando.com/cvcat-informal.htm Site Catalisando, história Celacanto, MAI 2014 http://catalisando.com/goldenlist/celacanto.htm Site Wikipedia, Andy Warhol, MAI 2014 http://pt.wikipedia.org/wiki/Andy_Warhol Site Engenharia do futuro, acessado MAI 2014 http://engdofuturo.com.br/braco-mecanico-jason-barnes/ Site Ideia Fixa, PDF Benjamin Walter, a obra de arte na época da reprodutibilidade técnia, MAI 2014 http://ideafixa.com/wp-content/uploads/2008/10/texto_wbenjamim_a_ arte_na_era_da_reprodutibilidade_tecnica.pdf Site Engenharia do futuro, dados de automação, MAI 2014 http://engdofuturo.com.br/controle-e-automacao/ Site Wikipedia, automação http://pt.wikipedia.org/wiki/Automa%C3%A7%C3%A3o Site Branchannel ,sobre a banda CompressorHead, MAI 2014 http://www.brandchannel.com/home/post/GE-Compressorhead-Concert-111113.aspx Referencias de vídeo no Vimeo https://vimeo.com/30780208 - senseless drawing bot https://vimeo.com/14050409 - light criticism https://vimeo.com/74430787 - projeto final em cv Koan

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https://vimeo.com/16204003 - type case https://vimeo.com/47103830 - 99% perspiration - LoveMe https://vimeo.com/60668063 - What is digitalGraffiti? https://vimeo.com/55711644 - Metropolis window drawing https://vimeo.com/53708948 - Marcelo Eco Aldeia na África https://vimeo.com/35458411 - University of Dayton, parede interativa https://vimeo.com/48047131 - Uncle Imani videoclipe https://vimeo.com/50197298 - projeção mapeada e perfomance https://vimeo.com/40158600 - SVA - letters from the underground https://vimeo.com/49144067 - Oblong Labs - leap motion https://vimeo.com/42657580 - Saladah GrupoSal https://vimeo.com/36836412 - La Cena Vj Suave https://vimeo.com/48652426 - Trailer GRIS Backside Gallery https://vimeo.com/3241309 - Nando Costa Graffiti 3fm https://vimeo.com/33471526 - Homeless Vj Suave



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