arquival series

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foto abertura, com legenda



uma palavra de antemão acredito no movimento das coisas e no fazer acontecer. quem realmente quer algo dá seus pulos, coloca sua energia e alma e algo é iniciado. para os retratados aqui, ciclismo é algo que realmente permeia a vida. é mais do que saúde e bem estar; o esporte e atividade física; o cultivo e cuidado com equipamentos mecânicos e tecnológicos; competição, afirmação e realização pessoal; mais até do que as amizades especiais que são descobertas no meio do caminho. é um estilo de vida, uma ferramenta poderosa de autoconhecimento, um modo de se expressar pro mundo e mostrar sua criatividade, um aparelho político e transgressor. e muito mais. a existência de cada indivíduo nesse mundo ciclístico tem importância única e essencial no todo, bem como um significado particular do que é se relacionar com essa cultura. esse é o ponto de interesse! quem são essas pessoas vestidas como salsichas nesse estabelecimento? confraternizando em plena luz do dia sem vergonha de seus corpos em lycra, devorando pães de queijo, transbordando pela boca mentiras, café, cerveja e produtos em pó que chamam de pós-treino, intra-treino, maltodextreco, uei protein, que dizem que faz girar as pernas mais rápido? porque colocam sua carne e osso ao risco descendo a milhão sob finos pneus, dançando sobre rodas em pelotões embrabecidos? essas pessoas tem cada vez mais pipocado nos espaços, e de uma hora pra outra todo mundo tem um amigo “da bike”. é hora desse mundo dar mais um passo adiante. claro que o mundo digital facilita, conecta, agiliza, alcança. mas tem algo que se perde nesse processo. visto que todas as fotografias aqui terem sido feitas com câmeras analógicas e filmes de 35mm, faz sentido que algo impresso e palpável traduza melhor esses registros do que deslizar o dedo e os olhos sob os pixels numa tela de 10cm.

cada material e foto tem o suporte que o merece. um dos pontos que me apaixona pela fotografia analógica é saber que a imagem foi feita a partir do contato físico da luz batendo em um papel sensível, e nada mais justo que devolver ao mundo esses registros novamente em papel de qualidade, com todas as nuances de toque, cheiro, da escala, tempo. depois de ter feito exposições de fotografia também com conteúdo relacionado a bike, deu vontade de fazer algo complementar, mais abrangente e democrático. que contasse uma história mais linear. por “passo a diante” entendo compartilhar um recorte da nossa realidade. nossa galera em percursos menos óbvios, procurando subidas íngrids, descendo de canhão, deslizando em asfalto tão fresco que exala ranso de petróleo, ou metendo as road bikes em quebradas que o mecânico nem entende de onde veio a folga da caixa de direção. trazer pro mundo real essas memórias, olhando pra frente pra conectar mais pessoas com a mesma energia e viver novos momentos. uma singela contribuição pra cena em que estamos inseridos. mais específicamente, essa publicação começa com o tour de freitas, a corrida mais clássica da cena fixeira do rj. nessa quinta edição com vitória do michael engel, o alemão peso pesado com a pedalada mais suave já vista. da cena underground noturna, um recorte do arregaça na quarta, um grupo seleto de amigos que se encontram cedo e, basicamente, gostam de manter a média de velocidade alta no plano. em sequência, retratos de algumas personas do vice leve creative studio passando por uma ponte aérea rj-sp, um pedal para saquarema memorável(?). depois de um clássico pedal viceleve, uma viagem meio corrida meio passeio na califórnia, e o critério de bike fixa mais prestigiado do brasil. o conteúdo dessa publicação independente foi todo feito entre dezembro de 2018 e julho de 2019. meio ano de emoções resumidas em um bloco de papel.



,,,,,, TO U R D E F R E I TA S ,,,,,, A R R E G A Ç A N A Q U A RTA ,,,,,, V I C E L E V E C R E AT I V E S T U D I O F T P PA RT Y ,,,,,, UMA MARESIA, UM AZUL NO AR ,,,,,, O S O P RO D O V E R Ã O ,,,,,, CONEXÃO SP ,,,,,, EXPEDIÇÃO SAQUAREMA ,,,,,, T Í P I C O VA I S E R L E V E ,,,,,, G O R I L L A S TA K E C A L I ,,,,,, DAEMON TRACK CRIT



TOUR DE FREITAS







A Lagoa Rodrigo de Freitas é este amável corpo d´água salobro, rodeada pela exclusiva e elitista malha urbana da zona sul do Rio de Janeiro. Tal como sua irmã, a floresta da tijuca, é um dos últimos enclaves naturais do município. Há algo místico e ao mesmo tempo provinciano em ser um ciclista carioca. Viver próximo à mata verde, no mata-mata das artérias de asfalto, envolto pelo solipsismo dos longos passeios de bicicleta pela montanha, é tudo um devir necessário dos praticantes do esporte nascidos nessa terra dos tamoios. Uma vez por ano, alguns membros do Gorilla Fixed organizam essa prova chamada Tour de Freitas, um longo criterium semi-oval acompanhando toda a extensão da lagoa. São duas voltas, totalizando 15.4 quilômetros. A largada é meia noite, o que favorece um trânsito quase inexistente em algumas seções. Isso também impulsiona significativamente as médias de velocidade. Sou fã desse tipo de iniciativa. Eu participei da prova em 2018, entusiasmado com os relatos de lei secas no meio caminho e a explosiva cadência que sucedia certos pontos estratégicos da prova. Cheguei sem grandes expectativas, sabendo tão somente que estava em boa forma para me manter nas rodas que formariam o grupo da frente. A prova é tudo a que ela se propõe. Um esforço único e intenso, concatenado com as surpresas vindouras de uma prova no meio da cidade. Há uma poesia tremenda em ser parte desse tipo de competição amistosa, acenando ao comunitarismo, um senso de pertencimento e deslocamento das (in)satisfações citadinas. Cheguei em terceiro lugar, louvavelmente superado por um alemão e um conterrâneo. O tipo de piromancia pulmonar que lembrarei por muitos anos à frente, a sensação que estava participando de algo imbuído de significância. O Tour foi isso, um resgate e tanto! Uma lembrança que as cidades integradas e as provas amadoras são a resistência à uma lógica mais mercantilista, uma última tentativa de se criar uma cena que se desloque por uma força motriz independente.

texto por João Daniel de Carvalho Do shit for fun! Vice Leve!











VICE LEVE CREATIVE STUDIO FTP PARTY












um az u l no ar
















O sopro, um calor, algum verão... A velha chama nos dizendo “o tempo passa”, interrompendo os castelos, as raízes, esse chão.








S

C


SP

CITY
























e x p e di รง รฃo s aqua r e m a


Texto por Antenor Martins



Escuto com certa freqüência que minhas sugestões de pedal são “roubadas”. talvez por querer ir a locais estranhos, as vezes remotos, mas sempre novos. eu só busco uma mudança do treino rotineiro. compartilho essa vontade, quase sempre impulsiva, com um seleto grupo de companheiros. na real, não poderia desejar melhor companhia. na maioria das vezes, prontamente aceitam me acompanhar para os lugares que sugiro. é importante esclarecer que não estou falando de longas cicloviagens. são rápidos rolés num raio de no máximo 200km do rio. cidade já conhecida como cartão postal e por todos seus defeitos preocupantes. pedalar no rio é se aventurar, talvez se arriscar. é saber sobre territórios do tráfico, milícia, assaltos e risco de morte. não me entenda errado, morar no rio não é viver refém do medo. um pouco de cautela e certa dose de malandragem é geralmente tudo que precisamos para curtir um treino sem maiores preocupações. e apesar de tudo isso, que lugar para se pedalar!

a nossa rápida expedição a saquarema se desenrolou após vasculhar mapas procurando trechos novos para se pedalar. uma longa reta para os lados de niterói me chamou a atenção. quilômetros de praia e terra. nesses momentos de pesquisa já sinto uma grande ansiedade que só consigo afogar pedalando. a pedalada acalma a mente e sossega o corpo. isso talvez aconteça porque você se entrega por inteiro a atividade. no entanto, esse tipo de pedal geralmente retribui meu sacrifício com belas memórias. as risadas compartilhadas com amigos, momentos de reflexão solitária, uma renovação pela paixão de andar de bike, lindas paisagens e as vezes perrengues épicos. eu so penso no caminho ate meu destino, e por mais que tente planejar tudo perfeitamente, secretamente sempre torço pra me perder no caminho. geralmente não penso na volta. isso é algo que ignoro irresponsavelmente. e nesse treino em particular, eu literalmente não voltei pedalando.


Atravessando a baía de barca, no que parecia um momento meditativo, eu já pensava no barulho da terra embaixo dos meus pneus. já imaginava meu equilíbrio vacilando na terra fofa. sentia o vento vindo do mar lutando contra meu corpo naqueles quilômetros de praia deserta. sentia até o cheiro de frango assado das biroscas na beira da estrada.

no entanto, a maior sensação ate então era o calor. o sol queimava e o vento não refrescava. Havia um plano de dar um mergulho em algum momento. todos levávamos bolsas de selim com uma troca de roupa, sunga, protetor solar e outras coisas grandes demais pros bolsos das jerseys. era nossa versão relâmpago do credit card touring.

assim que chegamos em niterói, começamos num ritmo contemplativo. fomos observando todas nossas montanhas do outro lado da baía. o pico soberano do corcovado, as antenas do sumaré. a velocidade gradualmente aumentou, passávamos por outros ciclistas começando seus treinos. lembro de pensar que estávamos entrando na área de outros praticantes do esporte. éramos forasteiros em niterói.

a calmaria de até então foi interrompida por um trecho movimentado e muito veloz de estrada. como em muitas rodovias brasileiras, as condições não eram ideais. mesmo assim, carregados com as bolsas, conseguimos impor um ritmo entusiasmante sem maiores tretas.





Quando chegamos nas praias desertas, que eram de fato um dos destaques da rota, meu rosto ja ardia com o sol. a velocidade baixou e cruzamos as longas estradas de terra espantando urubus e jogando conversa fora. alguns tiraram a jersey, outros infelizmente, os capacetes. minha bike estava fantástica, suave nos trechos de terra batida, confiável em cima das partes de areia. me sentia bem em cima da bicicleta. tudo corria perfeitamente. a fome apertava mas a força estava longe de acabar.

nosso próximo ponto de interesse era ponta negra, local que usa cordas maritimas como quebra-molas. o atrativo real sendo o farol que se localiza apos uma breve subida que descobre o pequeno bairro. procuramos abrigo na fina e longa sombra projetada pelo farol e fitamos o horizonte. eu jurava que dali era possivel ver a pedra da gavea, mas acho que a visibilidade nao ajudou muito naquele dia.

porém, em algum momento perto de saquarema eu me acidentei. seguíamos em uma reta, numa pista tranquila. alguém disse que o gps marcava 46km/h e logo e seguida zero. o que realmente aconteceu continua sendo um mistério. na minha queda quebrei a clavicula e apaguei. o capacete que havia tirado antes, permanecia pendurado na minha bolsa de selim. todas as memórias do dia até o momento do farol continuam comigo. depois disso, as lembranças ficaram so com meus amigos, pois não lembro de nada.



Acordei tonto, mas aparentemente pronto pra continuar, ainda não entendendo a seriedade dos meus ferimentos. embarquei em uma ambulância, tirei selfies com os bombeiros e eventualmente fui operado. Se eu buscava uma mudança nos meus treinos, eu a encontrei. quase quatro meses parado, com fios de kirschner saindo pra fora do ombro. isso te da muito tempo pra refletir e mudar de ritmo. a queda não me traumatizou, nem me tirou o amor pelo ciclismo. muito pelo contrário, pensava ansiosamente no momento do meu retorno. após minha volta ainda enfrentei outra adversidade, uma total falta de entrosamento com a minha bicicleta. parecia que não sabia mais pedalar. cada giro era quadrado e fraco. as velocidades que eu via no meu garmin eram desmoralizantes. voltar a pedalar pós-acidente se transformou em um novo e breve momento da minha vida. o desafio agora era resgatar meu condicionamento, lidar com a dor e entender que, felizmente, tudo isso era passageiro.






. . . .

o tĂ­pico vai ser leve: zueira de primeira rotas menos conhecidas promessas nĂŁo cumpridas jovens transgressores






ĂŠ um pretexto pra ser sempre intenso




r a i n h a d o a s fa lto , m e u c a m pe ĂŁo





vibe plena, montanha cus amĂ­



vice é de casa. dou mais bom dia lá do que no grupo da família!








GORIL TAKE


LLAS CALI




Tem uma coisa sobre viajar com a Bike que

te faz sentir super importante. De repente é igual como quem viaja com uma prancha de surf, skate, pipa de kite… Parece que os olhares no aeroporto estão se direcionando fáceis pra você. Mesmo que a bagagem já esteja despachada, com toda aquela burocracia e nervosinho de entregar sua magrela nas mãos de um atendente super simpático, tem algo no ar. Pode ser a ansiedade, a imaginação do que está pra vir. Seus sensores olfativos já adaptados pra receber aquele cheiro suave das plantas da beira da estrada. Os pelinhos dos braços dentro do casaco, sabendo das futuras aventuras parecem se pentear sozinhos na direção que os ventos secos do interior estão soprando. Corpo e mente conectados, um regendo sobre o outro numa orquestra onde os instrumentos são ora pensamentos, ora sensações físicas, disparando notas silenciosas harmoniosas, que ecoam na vida do sujeito. Exagerado? Talvez. Ou não. Sei lá, não importa, acho que realmente vejo uma especialidade em viajar para pedalar. Me sinto quase como se fosse um profissional, como se fosse pré-destinado àquilo. No trajeto com a mala, as pessoas já sabem o que tem dentro. Puxam assunto e querem saber quantos kilômetros você anda, a qual

velocidade chega, quanto que custa tua máquina. E já acho natural empacotar os pertences em volta do quadro posicionado dentro da mala-bike. Ou mesmo viajando de ônibus, já tem o esquema certo pra convencer o motorista do Uber da rodoviária as 5am. Ou no melhor do casos, desamarrar a bike do bagageiro do ônibus e pedalar pro destino, e possivelmente já engatilhar no pedal do dia com os camaradas do destino. Saindo da Bay Area já sentados no trem sentido Walnut Creek, uma mulher interessadíssima nos dois estrangeiros logo apontou pela janela o Mount Diablo. Avistava uma montanha longe, sem árvores grandes no topo, ou pontos de referência em volta. Eu e minha inocência, não achei tão imponente assim. Em cima de duas rodas e travando uma batalha longa e slienciosa contra gravidade, certamente a opinião mudou. Principalmente depois de encarar a subida completa no dia seguinte à corrida, com as pernas ainda sofridas. O Diablo pode se comparar à subida da Mesa pro Rio, ou o Pico do Jaraguá em SP, no sentido de notoriedade. É o morro que molda as pernas dos meus caros amigos Californianos, as mesmas pernas que vi girar pra longe na corrida em Pescadero.






Não me entenda mal. Nervosismo e ansiedade em prova são coisas que sempre estarão alí, mas você aprende a lidar. Quanto mais vezes você alinha pra uma corrida, mais de boa você tá pras próximas e é fato. Eu gosto de correr com gente que eu não conheço. Gosto do inesperado dos esportes, de não poder julgar quem tá à sua volta, é como uma escola pra vida. E mesmo assim vc dá uma julgadinha - é natural do cerumano.








Conversando com o Alex sobre os adversários realmente não fazíamos ideia do que encontraríamos pela frente. Chegamos no local da corrida e não parecia ter ninguém a passeio. Mas com tantas categorias largando em horários diferentes, só me perguntava: “cadê meus coleguinhas da CAT 5?”. Aquele frio na barriga batendo gostosinho.

“Porra, Jow. Você tá correndo com caras *assim*. Se vc não ganhar essa porra vou falar pro RJ inteiro contra quem vc tava alinhando!” Rimos juntos, hahaha. Só que não. Se o camarada tivesse levado a sapatilha nova duvido que veria metade do que sobrou das pernas que sofreram a carnificina antológica sobre rodas.

A tarde anterior não podia ter tido melhor briefing: Aaron, Alex e Jow no sofá, dois cafés e não um, mas O Chá Japonês (com caixa alta mesmo) analisando o percurso da prova - pra nossa categoria largada neutralizada, duas subidas de tipo 4 mins, seguidas por uma sessão longa de plano de estrada, e uma subida de tipo 7:30 mins e 7% de inclinação média. Isso tudo duas vezes no total de 75kms.

Na linha de largada, o moto-comissário deu as diretrizes mais corretas que já vi antes. Parece besteira, mas lembrar os atletas de pequenas regrinhas de boa conduta antes da largada faz toda a diferença. “If you go OVER the yellow line, I will call you to the back of the pack, and we’re gonna TALK. And I’m gonna ask you WHY you went over it. If you do it again, I will give you a warning! And if you’re riding ON the yellow line for me your’re already OVER! You’re responsible for your front wheel! DON’T OVERLAP IT” e os camaradas CAT5 respondiam em coro “YES SIR”. E eu de cabeça fria (e passando frio) sentado no toptube cor cinza durepoxi, já de óculos e poker face game ON só pensava em um portal mágico abrindo bem a minha frente, onde pra trás tinha toda minha bagagem de treinos, alimentação, percurso estudado e equipamento em dia.

De volta no frio de Pescadero, na neblina baixa e densa que assoprava sobre dois tupiniquins congelados, matei gambá em banheiro químico, númeral de prova alfinetado na jersey, todo o pré-race ritual completo. Eis que escutamos dois caras aquecendo e falando português, e naquele ambiente hostil qualquer colega de língua vira amigão. O cara também correria CAT5, mas esqueceu a sapatilha. “Comprei semana passada, daquela marca… Giro né”. Sem preconceito, sem julgamento. Mas a gente sabe nos detalhes quando a pessoa tá despreparada. Que droga. Basta trocar um olhar com Alex e vira piada interna. Isso é amizade. Intimidade.

Desejo uma boa corrida aos colegas ao redor e mentalmente dou um passo à frente pra dentro do portal. Nada mais importa agora.








Na primeira subida deu pra sentir qual seria o ritmo da prova. Alguns moleques atacaram logo no começo, mas dá pra saber quem são pombos sem asa. Me posicionei entre os 5 primeiros e defendi meu espaço. A estrada estreitava e não queria correr um risco de ficar pra trás por mero posicionamento. Pros numerólogos, pra ficar na ponta foi preciso 315 watts, e 4 watts/kg durante 4 minutos. E logo na primeira descida deu pra ver que técnica não era o forte da galera. Entrando na segunda subida, a ficha caiu. O passo aumentou e o pack de 30 foi reduzido pela metade. Eu contribuí pra carnificina no que pude, botei a cara e sentado no selim e aumentei a cadência pra aquecer as pernas e avaliar quem eram os bons escaladores. Nada além de 4,9 watts/kg por 3:35mins. Vai brincando. Vieram 3 malucos junto, descida com uns cotovelos fechados e na planície logo o pack alcançou. Sem grandes emoções até o começo do Haskins, a terceira subida, e onde eu deveria avaliar realmente se conseguiria atacar no próximo Lap, ou se seria apenas me defender das espadadas dos samurais mirins americanos de 17 anos à minha volta. Subindo o Haskins, a endorfina bateu. Senti que realmente estava “in the zone”, olhava em volta e pensava, “esses garotos tão sinistros, 28 anos na cara e tô velho.” Pensava na situação toda, ali na costa da Califórnia menos conhecida, fazendo o que mais gosto, botando as pernas pra funcionar. Mas ali no meio daquelas árvores coníferas gigantes beirando a estrada de curvas largas e asfalto perfeito, na sombra e no vento gelado que esfriava os corpos fumegantes e suados, eu fiz força mas sobrei. Eu e mais uma meia dúzia de três ou quatro.

Fiquei em pé e amassei os pedais, sentei e cheguei a bunda pra trás no selim e usei o quadríceps até não dar mais, cheguei a bunda pra frente e usei o glúteo e a panturrilha até arder, desci e subi marchas, oxigenei o máximo do meu pulmãozinho. E só pensava nas palavras do Aaron durante o briefing da noite anterior. “Don’t leave anything behind on the climbs. I want you to go fullgaz”. And so it was, e mesmo assim sobrei tipo um minuto. Cheguei no topo com um camarada que falou esbaforido “30 seconds pulls!”, e na primeira curva que deitei, vi o mano 30 metros atrás. Então tá, era eu e mais eu descendo de canhão nessa estrada desconhecida, mas bem ampla pra ver as curvas pela frente. Acertei todas as tangências, pedalei no super tuck à lá Froome na 8º etapa do Tour de France de 2016, e me levou dez minutos descendo voado sozinho pra tirar o atraso de 1 minuto que levei na subida. Modéstia a parte foi uma aula de descida, e a sensação de buscar o pelotão principalmente pela sua técnica, foi impagável. Aquele tipo de coisa que te gera a motivação necessária pra continuar, te faz pensar na película mais fina da borracha do pneu tocando o asfalto, deitado em um ângulo matematicamente desafiador, onde tudo que manteve sua sensível carne longe de ser rasgada pelo chão estava sob constante stress, no limite do material. E lá estou eu, maravilhado, exausto, delirando sobre esse tipo de coisa, e percebo que o encanto termina à medida que o gradiente do terreno aumenta - logo estamos novamente na dupla subida matadora, dessa vez na segunda e última volta.





Sentia recuperado o suficiente pra me manter no grupo, mas não pra arriscar ou gastar os poucos fósforos que me restavam. O pelotão parecia visualmente cansado, se arrastando, e sabia que tinham dois atletas escapados a mais de um minuto na frente. A essa altura também não adiantava tentar organizar para buscá-los. Minhas pernas pediram ações racionais, e me posicionaram nas últimas rodas, onde pude ver uma série de acelerações desnecessárias deslanchadas por jovens imaturos competidores. Da minha posição eu os via se afastarem, porém controlava a distância, por mais que aparentemente grande, sempre ao alcance dos olhos. E sabendo da descida técnica após o segundo morrote, eu “estava em casa”. Tudo de acordo com os planos e lá estava eu de volta no pack depois de rasgar umas curvas. Como é bom saber das suas qualidades e usá-las na hora certa!

Despejei a força que sobrava, e depois de um tempo passando alguns e sendo passado por outros, depois do coração bater mais rápido que o aceitável, depois de as coxas incharem e sentirem princípios de cãimbra, de sentir a veia do pescoço dilatada e o sangue viajando desde o dedão até dar gosto amargo na boca, lá estava a mente inabalável sem desistir, na linha tênue de cair duro versus mais alguns

A última piramba do dia, novamente diante do Haskins e 15 cabeças em volta. O mantra “não vou deixar nada pra trás” continuou de estrela guia. Estava chegando junto do pelotão e já entendia isso como uma vitória pessoal. Agora queria realmente sentir as pernas exigidas ao máximo, e coitadas, entregaram tudo que puderam.

E mais uma vez entendo o que me move: o amor pelo processo e não a urgência do fim. Estar no aqui e no agora. Mais um passo diante do autoconhecimento e mais uma atualização na amplitude desse termo.

segundos girando as pernas. É nesse sentido que mesmo tendo terminado a prova em 11º colocado consigo me sentir vitorioso, sabendo que atingi o que buscava. A sensação de que dei tudo que podia, de que coloquei a cara à tapa e venci a vontade de desistir. Que o trabalho mental estava no ponto certo e ainda assim conseguiu encorpar a espessura. Que estar ali era examente onde deveria estar, que criar essas memórias ao lado do Aaron e Alex era o que precisava pra essa momento específico da vida.






Pescadero by Alex Bueno de Moraes

Radar, I hate you! I hate you for breaking the silence that kept me shielded. The fragile line between skittish sleep and the reality of race day has been wiped. California’s first light penetrates through the mandoline. The list of chores appears in my frontal cortex. I ignore it, step out of the house and approach the lemon tree. We are by now, intimately connected. I pour its acidic juice inside my body every morning. While returning to the shed, sharp rays puncture my eyes. I’m now fully awake. The yellow fruit in my hands feel right. I momentarely feel sure. Anxiety will return in no time. This race is blowing up. I’m on the third climb. This is the decisive one. The initial two were sharp and short. This one’s a bitch. Pain comes in waves. I’m eight minutes into it and loose contact. My mind is frail. A cocktail of hate, shame and cortisol fills my cells. Upon looking back, I notice six riders shoaling. I got dropped, but in good company. I descend on the limit of my abilities and as the seven cyclists regroup, I assume leadership of this group of underachievers. It’s stronger than me, always has been.

Briskly, a white bearded, thin rider in a vile kit presents himself as my captain. The chase is on! Pulls are taken, directions screamed, looks exchanged. We’re a brotherhood. The bond created is everlasting. We step into the red as we hit the wall of wind and hear congratulations moving to the back of the pack. Morale is up, the breakaway is caught. This celebratory spirit is brief as the peloton collides with the first climb again. This is a circuit race, we’re doing it all over again. My school of riders pays the price for burning too many matches during the hunt. Separation comes again and now it’s permanent. A few hours later, Jow and I stand in front of the Half Moon Bay mall. Couples are on their caffeine pilgrimage. A shoeless kids runs to his mother on the frozen pavement. “Non-racers. The emptiness of their lives shocks me” (Krabbé 4)









POLA ALEX






ONWARDS AND UPWARDS







Hili fuiu verum terfin sentrox mo ium quem ta, nius, qua vir lin hocchus cierfes tentifes! Si se hinatilibus conce cupplii ssatis. Opionestor in Etruni iu moverdi enduce con dica cae mora vis con viverte baturesent. Aximus. Odi, nem iam iam ficae, nonst que maximor biste, nihi, ubliis; invoctu satqui cit, que consunclem moliam adet vo, nimus num aut inverum hachil tentu et L. Mae cast publiam simordi catrae inpri fatem tu it, cotiam dionsuam ordi se num terbis hum sciaccibus hoculvi demus, ca ordientes consic ideat, quonferte, querit. Uroponfecrum inte, sulego nonsus. Astuis, nulegil iquiura nirmius patem, niu que diesiliam in vis, etesimured mo essiciemus halibunum et; iaectarbi pero cont? Temene fac trus hoc, se maximusquame interfex sedo, diem, viria nosta, ute pora nequod iamquam, ina, quam P. Git, nihiliame audero nem ad se acrempra? Iviverum poti silissil vas fin rei sil urbis esente quo tanducte iam iusque dicaed facrei fachus contemeis ant. Emus vatimus medem omaximu nulique dius fors enirmisum optiquis? Ego intena nos nequo essissim manum, uterei condemnontem ac vehem nit? que or quit. Tius nirtus ia L. Nos ocaecer ebatifendam obse cereste rteris sus, di conu se, ne acrum ad consult usatursum, que vivastam ad pertatrae dit vis. Ducidestrum is atrum, sensimuro nos At L. Ediem que nihiliqui publicioculi estore, confin hoccibus An Etristrum sina, unum adeoratia vivenatum huidii sendac tui senirteri ses sendeferfes! Sentere sulvidetesil ur que temnos consuliqui conscere ta nortifecre addumun uniquo unum, pondem sul hae co plius nimuliquam etimulium plium mo conente, quodis deatam. Tussena, nostissus hil vem acie hebefesserei cae


TOMORROW WE RACE


LEG OPENERS @ CICLOVIA



STAY COOL


Hili fuiu verum terfin sentrox mo ium quem ta, nius, qua vir lin hocchus cierfes tentifes! Si se hinatilibus conce cupplii ssatis. Opionestor in Etruni iu moverdi enduce con dica cae mora vis con viverte baturesent. Aximus. Odi, nem iam iam ficae, nonst que maximor biste, nihi, ubliis; invoctu satqui cit, que consunclem moliam adet vo, nimus num aut inverum hachil tentu et L. Mae cast publiam simordi catrae inpri fatem tu it, cotiam dionsuam ordi se num terbis hum sciaccibus hoculvi demus, ca ordientes consic ideat, quonferte, querit. Uroponfecrum inte, sulego nonsus. Astuis, nulegil iquiura nirmius patem, niu que diesiliam in vis, etesimured mo essiciemus halibunum et; iaectarbi pero cont? Temene fac trus hoc, se maximusquame interfex sedo, diem, viria nosta, ute pora nequod iamquam, ina, quam P. Git, nihiliame audero nem ad se acrempra? Iviverum poti silissil vas fin rei sil urbis esente quo tan-

Hili fuiu verum terfin sentrox mo ium quem ta, nius, qua vir lin hocchus cierfes tentifes! Si se hinatilibus conce cupplii ssatis. Opionestor in Etruni iu moverdi enduce con dica cae mora vis con viverte baturesent. Aximus. Odi, nem iam iam ficae, nonst que maximor biste, nihi, ubliis; invoctu satqui cit, que consunclem moliam adet vo, nimus num aut inverum hachil tentu et L. Mae cast publiam simordi catrae inpri fatem tu it, cotiam dionsuam ordi se num terbis hum sciaccibus hoculvi demus, ca ordientes consic ideat, quonferte, querit. Uroponfecrum inte, sulego nonsus. Astuis, nulegil iquiura nirmius patem, niu que diesiliam in vis, etesimured mo essiciemus halibunum et; iaectarbi pero cont? Temene fac trus hoc, se maximusquame interfex sedo, diem, viria nosta, ute pora nequod iamquam, ina, quam P. Git, nihiliame audero nem ad se acrempra? Iviverum poti silissil vas fin rei sil urbis esente quo tan-


THE BAIL


THE CHAMP




EYES ON THE PRIZE




HEAT RESULTS AND START GRID


THE MAN BEHIND THE NAME


NÃO ESCUTA NADA. NADA IMPORTA AGORA.




Hili fuiu verum terfin sentrox mo ium quem ta, nius, qua vir lin hocchus cierfes tentifes! Si se hinatilibus conce cupplii ssatis. Opionestor in Etruni iu moverdi enduce con dica cae mora vis con viverte baturesent. Aximus. Odi, nem iam iam ficae, nonst que maximor biste, nihi, ubliis; invoctu satqui cit, que consunclem moliam adet vo, nimus num aut inverum hachil tentu et L. Mae cast publiam simordi catrae inpri fatem tu it, cotiam dionsuam ordi se num terbis hum sciaccibus hoculvi demus, ca ordientes consic ideat, quonferte, querit. Uroponfecrum inte, sulego nonsus. Astuis, nulegil iquiura nirmius patem, niu que diesiliam in vis, etesimured mo essiciemus halibunum et; iaectarbi pero cont? Temene fac trus hoc, se maximusquame interfex sedo, diem, viria nosta, ute pora nequod iamquam, ina, quam P. Git, nihiliame audero nem ad se acrempra? Iviverum poti silissil vas fin rei sil urbis esente quo tan-

Hili fuiu verum terfin sentrox mo ium quem ta, nius, qua vir lin hocchus cierfes tentifes! Si se hinatilibus conce cupplii ssatis. Opionestor in Etruni iu moverdi enduce con dica cae mora vis con viverte baturesent. Aximus. Odi, nem iam iam ficae, nonst que maximor biste, nihi, ubliis; invoctu satqui cit, que consunclem moliam adet vo, nimus num aut inverum hachil tentu et L. Mae cast publiam simordi catrae inpri fatem tu it, cotiam dionsuam ordi se num terbis hum sciaccibus hoculvi demus, ca ordientes consic ideat, quonferte, querit. Uroponfecrum inte, sulego nonsus. Astuis, nulegil iquiura nirmius patem, niu que diesiliam in vis, etesimured mo essiciemus halibunum et; iaectarbi pero cont? Temene fac trus hoc, se maximusquame interfex sedo, diem, viria nosta, ute pora nequod iamquam, ina, quam P. Git, nihiliame audero nem ad se acrempra? Iviverum poti silissil vas fin rei sil urbis esente quo tan-




“GATA, TO COM A FITA NOVA DA SANDRA DE SÁ, BORA PASSEAR NO MEU ESCORT XR-3?”








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