Voz das Misericórdias

Page 1

Verão Atividades para todos nas Santas Casas

Em Ação

Págs. 8 a 10

Férias Equitação em Reguengos de Monsaraz

Educação

Gestão É premente a melhoria no setor social

Pág. 22

Opinião

Pág. 27

VOZDAS MISERICÓRDIAS

União das Misericórdias Portuguesas

diretor: Paulo Moreira | ano: XXVIII | julho/agosto 2012 | publicação mensal

Lei do voluntariado precisa de revisão O quadro jurídico do voluntariado precisa de uma revisão para se tornar “mais dinâmico” e passível de ser atualizado com regularidade. O alerta foi deixado pelo presidente do Secretariado Nacional da União das Misericórdias Portuguesas (UMP),

Quadro jurídico do voluntariado tem de ser mais dinâmico e atualizado com regularidade

Manuel de Lemos, durante o I Encontro de Responsáveis de Voluntários de Misericórdias, que decorreu a 27 de Junho no Centro João Paulo II, em Fátima. “A sociedade está a mudar muito e muito depressa. E uma lei muito estática, como a que temos

Internacional

Congresso vai reunir 500 pessoas

atualmente, não se harmoniza com a própria natureza do voluntariado”, afirmou aquele responsável, destacando: a legislação deve ser “rapidamente alterada”. Este primeiro encontro reuniu responsáveis de meia centena de Misericórdias. Ação 6

Cerca de 500 pessoas, provenientes de todo o mundo, vão estar reunidas nos próximos dias 20, 21 e 22 de Setembro no norte de Portugal. Porto e Vila Nova de Gaia serão as cidades anfitriãs do X Congresso Internacional das Misericórdias, este ano sob o tema “Unidas para multiplicar – Promotoras de modernidade e inovação”. Destaque, 4 e 5

Hospitais

Caldas da Rainha Corrida foi palco de solidariedade

Devolução já tem grupo de trabalho Foi criado o grupo de trabalho que vai acompanhar a devolução dos hospitais às Misericórdias. Segundo o despacho 1620/2012, do secretário de Estado da Saúde, o grupo contará com representantes do Ministério da Saúde. Da parte das Santas Casas, a representação será assegurada por provedores e membros do Grupo Misericórdias Saúde. Em Ação, 13

Livro

Saúde marca inventário no Alentejo

A XVI Corrida de Touros da União das Misericórdias Portuguesas foi palco para dupla solidariedade. As receitas da tourada reverteram em favor do novo centro para doentes de Alzheimer da UMP – que está

a ser construído em Fátima – e durante o intervalo foi apresentado ao público o álbum “Solidários em tom de fado”, cujas vendas vão igualmente beneficiar o novo centro Bento XVI, em Fátima. Em Ação, 14

Já está pronto o terceiro livro do Gabinete do Património Cultural da União das Misericórdias Portuguesas sobre o inventário ao espólio artístico de 20 Santas Casas alentejanas. Naquela região, e pela primeira vez, a categoria mais representativa é a de equipamento hospitalar e cirúrgico com cerca de 20 por cento do total das peças. Património, 24 e 25


2

www.ump.pt

vm julho/agosto 2012

panorama A FOTOGRAFIA espaço sénior

Descansar e refletir Benditas férias, tão desejadas e apreciadas por todos nós. Para além do descanso que proporcionam e que tão necessário é para retemperar forças e energia, podem servir, também, para refletirmos

F

érias! Benditas férias, tão desejadas e apreciadas por todos nós. As férias, para além do descanso que proporcionam e que tão necessário é para retemperar forças e energia, podem servir, também, para refletirmos. Absorvidos pelo trabalho, mergulhados nas preocupações da vida e no stress que as mesmas nos provocam, pouco tempo resta para meditarmos tranquilamente e com paz de espírito bastante nos problemas que afetam não só o nosso País, mas também o mundo inteiro. Este mundo que Deus criou, tão maravilhosamente belo, do qual todo o ser humano podia desfrutar e nele viver de forma harmoniosa e em paz consigo e com o seu semelhante, tornou-se, pela excessiva ambição do homem, que sempre conduz à falta de respeito pelos direitos dos outros, num mundo onde a solidariedade, a humanidade e a amizade entre os povos, são palavras vãs. Agora, mais imperioso se torna mantermos a Fé e a Esperança em Deus, que como Pai infinitamente bom e misericordioso não nos abandonará, certamente, nesta tormentosa caminhada. As férias, na Academia, são um espaço bastante longo. Isso permite às pessoas que a frequentam, dada a faixa etária a que pertencem, tempo suficiente para o descanso físico e psíquico de que necessitam. Por outro lado, esta prolongada ausência desperta o desejo de regressar. Rever colegas e amigos temporariamente afastados, trocar experiências vividas, falar de um sem número de coisas acontecidas, produz uma certa euforia e ansiedade em cada um de nós. Que todos possamos ter umas boas e merecidas férias, com muita saúde e paz.

A subir

Poupança nos medicamentos Os gastos do Estado com medicamentos ascenderam a 1132 milhões de euros no final do primeiro semestre deste ano, o que representa uma quebra de 5,7% em relação a igual período de 2011.

Enfermagem Bênção dos finalistas do 16.º curso A Escola Superior de Enfermagem S. Francisco das Misericórdias (ESESFM) realizou a bênção de finalistas da turma do 16º curso de licenciatura em Enfermagem. Durante a iniciativa, que teve lugar a 13 de julho na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, em Lisboa, os finalistas assumiram o compromisso de exercer enfermagem respeitando os princípios orientadores da profissão. A cerimónia foi presidida pelo frei Hermínio Araújo. Recorde-se que a ESESFM, que já tem mais de 60 anos de existência, é uma instituição anexa da União das Misericórdias Portuguesas.

A Descer Desemprego a aumentar

A taxa de desemprego apurada pelo Instituto Nacional de Estatística para o segundo trimestre do ano foi de 15%, o que constitui um novo máximo, depois dos 14,9% relativos ao primeiro trimestre.

A Frase

Pedro Passos Coelho primeiro-ministro

“O tratamento fiscal que deve ser dado ao terceiro sector tem que ser inteiramente diferente daquele que é dado hoje.” Durante o lançamento da primeira pedra do novo centro da UMP em Borba

Maria Deolinda Gonçalves

Academia de Cultura e Cooperação da UMP academiadecultura@ump.pt

O Número

827

mil desempregados A população desempregada aumentou em cerca de 7900 pessoas em três meses, passando de 819,3 mil para 826,9 mil, o que é mais 22,5% do que os 675 mil desempregados registados no segundo trimestre do ano passado.

O Caso Oliveira do Bairro Vencedora do prémio EDP Solidária 2012 A Santa Casa da Misericórdia de Oliveira do Bairro foi uma das instituições selecionadas no âmbito da 9.ª edição do programa EDP Solidária. Ao todo, foram apresentadas 1125 candidaturas, um número recorde desde que foi criada esta iniciativa. O projeto “Mãos na Terra – Semear e Colher Igualdade de Oportunidades” foi aprovado, tendo sido um dos 36 projetos selecionados de entre mais de mil candidaturas. O projeto da Misericórdia visa criar uma horta solidária facilitadora da inserção social e comunitária. É destinada a pessoas socialmente desfavorecidas, acompanhadas pelo Departamento de Ação Social da instituição. Com a implementação deste projeto, a Santa Casa tem como

objetivo prioritário fomentar uma cidadania ativa, por parte dos beneficiários, pelo exercício de atividades de caráter social e economicamente úteis. Através da revalorização das profissões ligadas à atividade agrícola, projeto pretende melhorar das suas competências sociais e profissionais dos beneficiários, assim como evitar o seu isolamento. Para o desenvolvimento deste projeto, a Santa Casa da Misericórdia tem acordo de parceria com a Câmara Municipal de Oliveira do Bairro, a Junta de Freguesia de Oliveira do Bairro e a Junta de Freguesia de Oiã, podendo vir a efetuar parcerias com outras entidades. A horta será instalada na Quinta da Lavandeira e poderá vir a ter uma vertente pedagógica. Os nomes das instituições vencedoras foram revelados no dia 28 de Junho em Cerimónia de Anúncio Público de Resultados, que decorreu no Museu da Eletricidade, tendo a Santa

Casa da Misericórdia estado presente. O Programa EDP Solidária é uma iniciativa anual, da Fundação EDP, que apoia projetos que têm como objetivos a melhoria da qualidade de vida, em particular, de pessoas socialmente desfavorecidas, a integração de comunidades em risco de exclusão social e a promoção do empreendedorismo social. Recorde-se que em 2010, também a Misericórdia de Almada ficou entre as selecionadas pela Fundação EDP. O projeto Criarte traduz-se em dinâmicas socioeconómicas e criativo-ecológicas assentes na reutilização de roupas e tecidos doados. A loja que surgiu na sequência desta iniciativa está aberta ao público e lá é possível adquirir roupa, têxteis para o lar, brinquedos, acessórios de moda e artigos variados de decoração. Os preços praticados são bastante acessíveis e já é frequente a doação de artigos por parte de particulares e empresas.


julho/agosto 2012 vm

www.ump.pt

3

ON-LINE Opinião

Voltando a Macau II Grande epopeia que, de tão pouco ser lembrada, bem merece tudo o que se faça para não ser esquecida. Macau, com a sua Misericórdia de cara lavada e alma rejuvenescida, mais do que lembrada, merece ser aplaudida.

S

ó a partir de um novo imperador mais extremista na “limpeza” do seu Japão decidiu nem sequer poupar a Misericórdia, tendo sido o seu provedor martirizado; a pontos do seu nome já ter a sido proposto para uma lista de mártires e confessores da Fé. Como me lembra, e a propósito, o meu grande amigo e homem da melhor têmpera misericordiana o Eng. Leopoldo Matos: “tive oportunidade de, uma vez no Japão, em Congresso evocativo dos 450 anos da Evangelização das Terras do Sol Nascente, acontecido em Tóquio, partilhar o meu saber de Misericórdias com uma grande historiadora, a Irmã Ignatia Kataoka. E tão alvoroçada ficou com a surpresa da ideia, que logo se empenhou em – e com elementos pessoais que tive o gosto de lhe proporcionar – investigar o caso da Misericórdia de Nagasaki. E de tal jeito o fez, que logo escreveu um evocativo artigo, ao qual a famosa revista OCEANOS, nº35, deu um merecido espaço ao texto sobre “Fundação e Organização da Misericórdia de Nagasaki”. É grato lembrar que na raiz e no coração de tudo isto está a Santa Casa da Misericórdia de Macau. Pertencem-lhe os louvores e o mérito. Parabéns! Contudo, não morreu a missão com a morte em massa dos missionários; porque entre os cristãos que restavam, embora reduzidos a uma condição de clandestinidade, inventaram por eles mesmos uma confraria à qual chamaram dos Iifiacos, e que eram verdadeiros oficiais da caridade, mas agindo na clandestinidade; sendo, nada mais nada menos, do que verdadeiros “correios ambulantes”; mas disfarçados de todas as maneiras; e que andavam de comunidade para comunidade, como mensageiros da melhor e mais fraterna solidariedade; e assim Macau e Japão ficariam na história como comunidades gémeas no caso específico da Santa Casa da Misericórdia. E não só. Aliás, o grande historiador do Japão, Luis Fróis, regista o caso como um grande e surpreendente evento, digno de sublinhada memória, e que se pode dizer de um “socialismo em cristão”; a par de Montepios; como grande Bispo D. Luis Cerqueira, mesmo em plena perseguição, os patrocinou e promoveu. Era a humaníssima caridade, com outro rosto e outros nomes. Razão teve São Paulo para já, com a sua pena e talento profético, ter profetizado: “a Caridade nunca morre”. Grande epopeia que, de tão pouco ser lembrada, bem merece tudo o que se faça para não ser esquecida. Macau, com a sua Misericórdia de cara lavada e alma rejuvenescida, mais do que lembrada, merece ser aplaudida. Os nossos Parabéns!

Protocolo Proteger consumidores mais vulneráveis União das Misericórdias Portuguesas (UMP), CNIS e Mutualidades assinaram com a Direção-Geral do Consumidor (DGC) um protocolo de cooperação para sensibilização e proteção de consumidores vulneráveis como os idosos, as pessoas com deficiência, as crianças e os jovens. No mesmo dia foi lançada a brochura da DGC sobre o “Envelhecimento Ativo em Segurança”. Foi na sede da UMP a 26 de julho.

Esposende Benemérita distinguida no 433.º aniversário A Santa Casa da Misericórdia de Esposende celebrou recentemente o 433º aniversário. Durante a sessão de encerramento das comemorações, além da bênção de uma nova viatura de transporte adaptado, a instituição quis distinguir como benemérita, a título póstumo, a irmã Maria Amélia Ferreira Rodrigues de Areia, pelo trabalho de voluntariado na criação e dinamização da Liga dos Amigos do Hospital de Esposende/Valentim Ribeiro.

Revista Valpaços retoma projeto editorial

Barreiro Faleceu provedor Júlio Freire

A Santa Casa da Misericórdia de Valpaços retomou recentemente a publicação da sua revista. Interrompido por algum tempo, aquele projeto editorial volta agora com a segunda série. O primeiro número é de Junho de 2012. Com uma tiragem de 500 exemplares, a revista apresenta um panorama geral das atividades da Misericórdia. Os textos são assinados pelos técnicos da instituição e o editorial pelo novo provedor, Altamiro Claro.

Faleceu, no passado dia 29 de Junho, o provedor da Santa Casa da Misericórdia do Barreiro. Júlio Freire era uma conhecida figura daquela localidade, tendo desempenhado alguns cargos políticos. Além de provedor, foi tesoureiro da União das Misericórdias Portuguesas durante dois mandatos, um com Vítor Melícias e outro com Manuel de Lemos. À família e aos amigos, apresentamos os mais sinceros pêsames.

SLIDESHOW

Famalicão Movimento para crianças e idosos Manuel Ferreira da Silva

Historiador e fundador do Voz das Misericórdias

No âmbito do Ano Internacional do Envelhecimento Ativo e da Solidariedade entre Gerações, a Misericórdia de Vila Nova de Famalicão promoveu recentemente uma sessão de movimento que reuniu dezenas de crianças e idosos da instituição. Durante 35 minutos, pessoas com as mais variadas idades participaram de forma animada numa sessão em grupo, realizando exercícios de mobilidade geral, coordenação, lateralidade e cognição.


4

www.ump.pt

vm julho/agosto 2012

DESTAQUE 10 congressos internacionais em 20 anos

5 Universalismo das Misericórdias e civilização global do amor Lisboa e Porto, Portugal 1998 e 1999

3 Celebrar o passado preparando o futuro Fátima, Portugal 1990

2 As Misericórdias ontem, hoje e amanhã Lisboa e Caldas da Rainha, Portugal 1985

4

Congresso internacional vai reunir 500 pessoas

Misericórdias para todos os povos Fortaleza, Brasil 1993

6 Universalidade das Santas Casas - 500 anos de cultura lusófona Salvador da Bahia, Brasil 2000

1 A dimensão cristã das Santas Casas Rio de Janeiro, Brasil 1982

9 Santas Casas de Misericórdia e entidades filantrópicas no III milénio Fortaleza, Brasil 2010

Sob o tema “Unidas para multiplicar – Promotoras de modernidade e inovação”, Misericórdias de todo o mundo vão estar reunidas no Porto e em Gaia nos dias 20, 21 e 22 de Setembro Bethania Pagin Cerca de 500 pessoas, provenientes de todo o mundo, vão estar reunidas nos próximos dias 20, 21 e 22 de Setembro. Porto e Vila Nova de Gaia serão as cidades anfitriãs do X Congresso Internacional das Misericórdias sob o tema “Unidas para multiplicar – Promotoras de modernidade e inovação”. Para o presidente da União das Misericór-

dias Portuguesas (UMP) e também presidente cessante da Confederação Internacional das Misericórdias, Manuel de Lemos, “um congresso de Misericórdias é sempre um momento de diálogo e de encontro”. “A vida é a arte do encontro”, referiu Manuel de Lemos, parafraseando o poeta brasileiro, Vinícius de Moraes, destacando que a frase ganha especial sentido quando se trata de um

encontro entre “pessoas que ocupam o seu tempo a cuidar dos mais pobres e dos que sofrem.” Para aquele responsável, “no quadro da crise global que vivemos, o papel das instituições da economia social é singular porque criam riqueza, dão emprego sustentado e promovem a justiça social cuidando dos que precisam”. Por isso, para Manuel de Lemos, não há dúvidas: “Estamos

perante um acontecimento único”. Durante o próximo encontro mundial, Manuel de Lemos vai cessar seu mandato como presidente da Confederação Internacional das Misericórdias (CIM). Ao fim de três anos à frente da entidade que representa e apoia Santas Casas de todo o mundo, o presidente cessante acredita que poderia ter feito mais, “mas as circunstâncias da crise limitaram o desempenho”. Contudo,

Congresso internacional vai reunir pessoas que ocupam o seu tempo a cuidar dos mais pobres e dos que sofrem

destacou, “incrementamos muitíssimo a cooperação, nomeadamente com o Brasil, e demos passos significativos


julho/agosto 2012 vm

www.ump.pt

5

25 anos do orfeão em Gouveia A Misericórdia de Gouveia celebrou recentemente o 25.º aniversário do seu orfeão com a realização do XXV Encontro de Coros de Gouveia. O encontro contou com a participação de dois grupos nacionais e espanhóis.

Património que gera mais-valias para social Com produção de bens, Santas Casas criam emprego, promovem sustentabilidade e preservam património. Produtos estarão disponíveis no congresso 10 Unidas para multiplicar – Promotoras de modernidade e inovação Porto e Gaia, Portugal 2012

8 Misericórdias e intergeracionalidade Pamplona, Espanha 2006

7 Globalização e localização da solidariedade Florença e Assis, Itália 2004

no sentido da afirmação no plano político do papel das Misericórdias. A troca de experiência em relação a rede de cuidados continuados com o Brasil e a criação de uma Plataforma Política de Apoio às Santas Casas no Senado Brasileiro foram dois momentos marcantes da estratégia acima definida”. Sobre os temas a discutir durante o X Congresso Internacional, o presidente do Secretariado Nacional da

UMP refere que são três as principais áreas de intervenção das Santas Casas: saúde, a preservação do património cultural e as respostas sociais. Nesse sentido, refere, o encontro mundial será um momento de debate também para as questões levantadas no âmbito do Ano Europeu do Envelhecimento Ativo e Solidariedade entre Gerações (ver entrevista na página 28). “O envelhecimento atravessa

transversalmente as três áreas mas naturalmente a primeira e a terceira. E é óbvio que na intergeracionalidade reside a resposta para muitos dos problemas civilizacionais com que nos deparamos hoje. Conversar sobre estes temas é afinal conversar sobre a missão das Misericórdias”. Recorde-se que existem Misericórdias em diversos países. Itália, Espanha, França, Timor, Angola, Moçambique etc.

Bethania Pagin Pela primeira vez, as Misericórdias de Portugal vão apresentar, para comercialização durante o congresso internacional, os seus produtos, fundamentalmente na área alimentar. Para o presidente da União das Misericórdias Portuguesas, trata-se de promover a economia social. Através da produção de bens, as instituições criam emprego, promovem a sustentabilidade e preservam património imaterial da localidade onde estão inseridas. Para aquele responsável, “a resposta para os problemas do emprego em Portugal não está, nem nunca esteve (a não ser na cabeça de alguns economistas ultra liberais) nas grandes empresas multinacionais que apenas nos demandam na mira dos apoios comunitários. Veja-se o caso da Quimonda [atualmente, em Vila do Conde – onde a multinacional Quimonda fechou portas – o maior empregador é a Misericórdia]. Além disso, continua Manuel de Lemos, “a resposta dos consumidores é muito aliciante, mas falta-nos ainda muito trabalho e know how sobretudo em sede de comercialização. O caminho faz-se caminhando com os pés bem seguros na terra, muita qualidade nos produtos e muito rigor na gestão e na seleção do que produzir”. Recorde-se que nas últimas edições o Voz das Misericórdias tem publicado reportagens sobre algumas Santas Casas que apostam na produção de bens alimentares: Canha, com licores e compotas, Macedo de Cavaleiros e Valpaços que produzem vinhos, enchidos e produtos hortícolas variados, Ribeira Grande que fabrica bolos, entre outros, Vila Verde através de uma padaria, Vila do Conde com doces conventuais e Vimieiro com enchidos de proco preto alentejano. Nesta edição, o destaque vai para o artesanato em Óbidos. Na próxima edição, o jornal Voz das Misericórdias vai até Albufeira conhecer o trabalho lá realizado pela Santa Casa. Ver páginas 16 e 17

PROGRAMA X Congresso Internacional das Misericórdias “Unidas para multiplicar – Promotoras de modernidade e inovação”

20 de Setembro (Quinta-Feira) 16H00 Eucaristia celebrada pelo Bispo do Porto 17H00 Sessão Solene de Abertura Santa Casa da Misericórdia do Porto - Galeria dos Benfeitores 17H30 Oração de Sapiência 18H00 Porto de Honra Jantar Livre 21 de Setembro (Sexta-Feira) Centro de Congressos Hotel Porto Palácio (Sala Porto) 08h30 Receção, Acolhimento e Acreditação dos Congressistas 09h00 I Painel - “O Papel das Misericórdias no Futuro da Saúde” 10h30 Coffee-break 10h45 II Painel - “As Redes Nacionais de Cuidados Continuados Integrados - Uma Resposta ao Envelhecimento” 12h00 Conferências 13h00 Almoço 14h30 III Painel - “As Misericórdias no Quadro da Globalização” 16h00 Coffee-break 16h30 IV Painel - “O Lugar da Economia Social” 18h00 Fim dos Trabalhos 20h30 Jantar nas Caves Ferreirinha 22 de Setembro (Sábado) Centro de Congressos Hotel Porto Palácio (Sala Porto) 10h00 Sessão Solene de Encerramento Leitura das Conclusões Condecorações Conferência “O Movimento Ecuménico das Misericórdias” por Vítor Melícias, Presidente Emérito da CIM 13h00 Fim dos Trabalhos


6

www.ump.pt

vm julho/agosto 2012

em ação

Ativo precioso das instituições Para a responsável pelo voluntariado da União das Misericórdias, Infância Pamplona, os voluntários são “um ativo precioso” que deve ser “estimulado e valorizado” Filipe Mendes

Encontro teve lugar no Centro João Paulo II, em Fátima

Lei do voluntariado precisa de revisão Lei precisa de revisão para dinamizar voluntariado. Alerta foi deixado pelo presidente da UMP no I Encontro de Responsáveis de Voluntários de Misericórdias Filipe Mendes O quadro jurídico do voluntário precisa de uma revisão para se tornar “mais dinâmico” e passível de ser atualizado com regularidade. O alerta foi deixado pelo presidente do Secretariado Nacional da União das Misericórdias Portuguesas (UMP), Manuel de Lemos, durante o I Encontro de Responsáveis de Voluntários de Misericórdias, que decorreu a 27 de Junho no Centro João Paulo II, em Fátima. “A sociedade está a mudar muito e muito depressa. E uma lei muito estática, como a que temos atualmente, não se harmoniza com a própria natureza do voluntariado”, afirmou aquele responsável. À margem do encontro, Manuel de Lemos reiterou a opinião: a legislação deve ser “rapidamente alterada”. Defendendo a introdução de mecanismos que “compensem” o trabalho realizado pelos voluntários

nas instituições, como seja um “sistema de créditos” semelhante ao que acontece em outros países europeus, o responsável acredita que esta seria uma forma de envolver mais pessoas nesta atividade. Dando como exemplo o que se passa em Inglaterra, onde o voluntariado é “altamente valorizado” e serve como uma forma de enriquecimento curricular, Manuel de Lemos considera que aquela realidade “pode ser adaptada” para Portugal. Reconhecimento e valorização parecem ser, ainda, duas palavras que faltam adicionar ao léxico do voluntariado que se faz a nível nacional. A inversão desta situação permitiria incrementar o número de pessoas que se mostram disponíveis para ajudar o outro, acredita o responsável da UMP. A atividade voluntária, em Portugal, atinge valores de envolvimento “bastante reduzidos”, na ordem dos 12 por cento, face à média europeia

de 24 por cento, mas há um aumento significativo da participação em campanhas pontuais, aponta um estudo recente. A investigação “Voluntariado em Portugal”, promovido pela Fundação Eugénio de Almeida (FEA), realça que, na União Europeia, estão envolvidos no voluntariado entre 92 a 94 milhões

12%

A atividade voluntária, em Portugal, atinge valores de envolvimento “bastante reduzidos”, na ordem dos 12 por cento, face à média europeia de 24 por cento.

de adultos, o que representa cerca de 23 a 24 por cento da população. Os “maiores níveis de envolvimento” são no norte da Europa, em países como a Holanda e a Suécia (cerca de 40 por cento), o que “contrasta fortemente” com a realidade dos países do sul da Europa, como Portugal, Espanha e Itália, “onde os níveis de

envolvimento são pouco superiores a 10 por cento”. Apesar destas fragilidades, os investigadores concluíram que o país apresenta “alguns dinamismos interessantes” de mobilização, sobretudo em situações esporádicas, facto que indicia que as pessoas precisam apenas de “um estímulo” para se envolverem. Lembrando que as Misericórdias são, no País, as instituições que mais voluntários acolhem, Manuel de Lemos referiu que há ainda “muito trabalho a fazer”, mas apelou “à colaboração de todos” para que voluntários e profissionais possam trabalhar da melhor forma no sentido de prestar auxílio a quem mais precisa. No universo das Misericórdias portuguesas, cerca de 400 instituições, a estimativa aponta para um voluntariado com uma média de 8000 dirigentes voluntários, 1600 pessoas em voluntariado social e outras 2000 em voluntariado cultural.

Neste I Encontro de Responsáveis de Voluntários nas Misericórdias, que serviu para “partilhar boas práticas” e contribuir para que o voluntariado ganhe uma expressão renovada nas Misericórdias, foi realçada a “importância da formação”, quer dos técnicos que acolhem os voluntários nas instituições, quer de quem se disponibiliza para ajudar o outro. Infância Pamplona, responsável do Secretariado Nacional da UMP pelo pelouro do voluntariado, não tem dúvidas que os voluntários são “um ativo precioso” das instituições, que deve ser “estimulado e valorizado”. Por isso, afirmou, “há que dotar os técnicos e as Mesas [das Santas Casas] de competências para fazer um enquadramento o mais correto possível dos voluntários”. “A integração de um voluntário numa instituição deve ser bem-feita. Só assim há o garante que esse apoio vai funcionar de uma forma correcta e em complemento ao serviço prestado pelos profissionais”, disse. Este primeiro encontro reuniu responsáveis de meia centena de Misericórdias do País, um número que Infância Pamplona considera ser demonstrativo “do grande relevo e interesse” que o voluntariado tem para as Santas Casas. “O futuro passa por este caminho de atenção e solidariedade com o próximo”, considerou a responsável, referindo que as Misericórdias são, desde a sua génese, “o grande motor” do voluntariado nacional. Considerando ser necessário “divulgar mais o trabalho feito pelos voluntários”, Infância Pamplona, que também é provedora da Misericórdia de Santar, afirmou que muitas iniciativas “extraordinárias” permanecem no anonimato. “Esta ação generosa, de disponibilidade para o outro, só pode ser retribuída pelo reconhecimento”, disse, defendendo a necessidade de “dar mais visibilidade” às diferentes ações desenvolvidas por voluntários.


julho/agosto 2012 vm

www.ump.pt

7

Conhecer o Algarve O presidente da UMP, Manuel de Lemos, continua a visitar as Santas Casas e recentemente esteve em Estômbar, Silves, Boliqueime, Albufeira, Lagoa, Alcoutim, Castro Marim, Olhão, Moncarapacho, Vila Real de Santo António e Aljezur.

Viver+ é nova revista de Palmela Tem 16 páginas e é a mais recente iniciativa da Santa Casa da Misericórdia de Palmela. A revista “Viver +” foi recentemente apresentada ao público

Gaia celebrou 83 anos de existência

Misericórdias são ‘grande portugalidade’ Santa Casa de Gaia festejou 83.º aniversário com, entre outros, uma palestra sobre “As Misericórdias ontem, hoje e no amanhã”, por Bagão Félix Paulo Sérgio Gonçalves A Santa Casa da Misericórdia de Gaia festejou, no passado dia 26 de Junho, o 83º aniversário. As comemorações iniciaram-se bem cedo, com o hastear das bandeiras na sede e em todas as unidades da instituição, celebração da eucaristia, entronização dos novos Irmãos, apresentação do livro “A Misericórdia, a Santa Casa de Vila Nova de Gaia” e uma palestra subordinada ao tema “As Misericórdias ontem, hoje e no amanhã”, por António Bagão Félix. Numa tarde quente, transpiraram palavras para uma plateia sedenta de ouvir alguém que conhece bem o terreno e que fala dos números de forma entusiasmada. O provedor da Misericórdia gaiense, Joaquim Vaz, lembrou que devemos evidenciar o passado para que não nos esqueçamos dos exemplos de doação, dádiva e generosidade. “Viver o presente com grande sentido de missão fazendo mais e melhor em prol dos

desprotegidos e preparar o futuro com mais empenho, imaginação, rigor e nobreza, sem nunca se perder o rumo”, disse. Joaquim Vaz, que falava antes da palestra de Bagão Félix, apelou também à importância de se despertarem consciências para o dever cívico e de cidadania: cuidarmos uns dos outros, sempre com um grito de alma presente na nossa mente, “há que acordar para o dever de servir”. Mas, continuou aquele dirigente, “compete aos governantes apoiarem as instituições que estão no terreno e próximo das populações”. A comemoração deste aniversário “leva-nos a repensar a missão do dever do serviço social que é sempre novo e exigente”, concluiu. Por sua vez, António Bagão Félix, que falava sob o tema “Misericórdias ontem, hoje e no amanhã”, reconheceu que há muitas pedras no caminho, num mundo cheio de falsidades e teatro. “A crise mais do que económica é de ética, de valores, princípios e falta de respeito pela pessoa humana. O ex-ministro retratou o espírito típico da sociedade em que vivemos com uma citação de Óscar Wilde: “se disseres a verdade mais cedo ou mais tarde vais ser descoberto”. A solidariedade das Misericórdias é de “grande portugalidade”, frisou, acrescentando que, “estas instituições

têm que ser um instrumento de inquietude. Não há solidariedade social sem solidariedade familiar, pois cada vez mais, vivemos num mundo individualista e de grande fascínio pelo absolutismo tecnológico. É preciso refundar a primazia pela pessoa humana, uma vez que não há soluções técnicas para problemas étnicos”, sustentou Bagão Félix. “Vamos curar a crise”, afirmou convicto, mas para isso, “temos de fazer menos perguntas e dar mais respostas, deixando de viver acorrentados pela pressão, pelo relógio, pautando o nosso tempo pela partilha, amor ao próximo, sabendo distinguir o que é útil do que é fútil”.

Para António Bagão Félix, a crise mais do que económica é de ética, de valores, princípios e falta de respeito pela pessoa humana Num mundo em mudança, “a fé e a determinação” são alicerces essenciais para enfrentarmos os problemas “não de braços cruzados, mas com eles bem abertos”, para acolhermos os que nos batem à porta. Nunca como hoje, a expressão “a união faz a força” fez tanto sentido, vaticinou o ex-ministro.

História em livro A obra que reúne toda a história da Misericórdia de Gaia foi apresentada a 7 de julho, no Arquivo Municipal Sophia de Mello Breyner. “Depois de dois anos e meio de trabalho com muito empenho, a obra - “A Misericórdia - A Santa Casa de Vila Nova de Gaia”, de Fernando Correia - aparece e é com imenso gosto que a apresentamos à comunidade”, referiu o provedor. Joaquim Vaz garante que esta publicação é um “contributo importante para o conhecimento da instituição, porque vai enriquecer o conhecimento de todos” ao serem divulgados os seus “valores sociais, culturais, artísticos, patrimoniais, como um marco histórico para as vindouras gerações”. “Foi sempre esse o meu e o nosso desejo coletivo, para que não se perdesse nem esquecesse o passado, vivêssemos o presente, mas preparando o futuro”, reiterou. A obra foi apresentada pelo diretor da Casa Solar Condes de Resende, Joaquim Gonçalves Guimarães e estiveram presentes amigos, convidados, órgãos sociais e irmãos da Misericórdia de Gaia para assistir ao lançamento. O livro está a ser vendido na tesouraria da Santa Casa da Misericórdia de Gaia pelo valor de 25 euros para o público geral e de 20 euros para colaboradores e irmãos da instituição.

Tem 16 páginas e é a mais recente iniciativa da Santa Casa da Misericórdia de Palmela. A revista “Viver +” foi recentemente apresentada ao público, no salão da Casa Mãe da Rota dos Vinhos, num evento que reuniu perto de uma centena de convidados. Durante a sessão, o provedor daquela Santa Casa, Francisco Cardoso, assumiu que o lançamento da nova publicação “era um objetivo da Misericórdia e que está concretizado”. “A nossa revista vai permitir dar a conhecer, de forma mais detalhada, o trabalho que é desenvolvido por todos no seio da instituição. Esta é, igualmente, mais uma ação em nome da missão social que nos norteia e através da qual, temos a certeza, vai dar um contributo importante para uma renovada aproximação da comunidade à instituição”, destacou aquele dirigente. Na apresentação da revista, Paulo Moreira, diretor do jornal Voz das Mi-

Com periodicidade trimestral, a nova revista da Misericórdia de Palmela vai ter 16 páginas. A apresentação contou diversos amigos da instituição sericórdias, reconheceu que “a Viver + apresenta uma estrutura editorial bem construída e vai merecer atentas e interessantes leituras”. Reportagens e entrevistas, além da ampla cobertura informativa das dinâmicas que são promovidas pela Santa Casa de Palmela, sobretudo com os utentes, são alguns dos conteúdos da publicação com periodicidade trimestral. O evento de apresentação da revista “Viver +” mereceu as presenças do presidente do Secretariado Nacional da União das Misericórdias, Manuel de Lemos, do vereador da Ação Social da Câmara de Palmela, Adilo Costa, e do presidente da Junta de Palmela, Fernando Baião, entre outros. A Santa Casa da Misericórdia de Valpaços também tem um novo projeto editorial. O número um foi lançado em Junho de 2012. Ver página 3


8

www.ump.pt

vm julho/agosto 2012

em ação

1

2

3

4

5

6

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

Horta para os pequeninos em Almeirim Marchas populares em Arganil Piquenique para idosos em Azeitão Convívio entre colaboradores de Vale de Cambra Idosos de Castelo de Vide vão a praia fluvial Santos populares em Loulé

Pequeninos de Montargil aprendem a fazer pão Procissão reúne comunidade na Maia Murça apostou nas atividades para crianças Festival do caracol em Montemor-o-Novo Intergeracionalidade nos cuidados continuados da Mealhada


julho/agosto 2012 vm

www.ump.pt

9

Cantina solidária em Faro A Misericórdia de Faro integrou recentemente a rede de cantinas solidárias criada pelo governo. A instituição já tinha um refeitório social que continua a funcionar sem qualquer tipo de apoio do Estado.

Verão para todos nas Santas Casas No verão, pessoas de todas as idades e em todo o país aproveitam para desfrutar de atividades ao ar livre. Nas Misericórdias não é diferente

7

Bethania Pagin

8

10 9

11

Quando a temperatura sobe e os dias ficam mais longos, portugueses de todas as idades e em todas as regiões do país aproveitam para desfrutar de atividades ao ar livre, em contacto com a natureza e, preferencialmente, na companhia de familiares e amigos. Nas Misericórdias não é diferente. Como grandes famílias que são, todos os anos organizam-se inúmeras atividades destinadas a utentes, colaboradores, dirigentes e familiares. Este ano, perguntamos às instituições como foi o verão dos utentes. Cinquenta foram as Santas Casas que responderam ao nosso apelo. Idas à praia, sardinhadas, passeios culturais e convívios variados, entre outros, marcaram os dias quentes da estação. Em Albufeira, por exemplo, pelo terceiro ano consecutivo, a Misericórdia promoveu um convívio para os mais de 200 colaboradores das diversas respostas sociais espalhadas pelo concelho. Este ano, e segundo a provedora Patrícia Seromenho, a festa foi extensível a toda a comunidade e acabou por ganhar o título de “Festa da Grande Família”. A congénere de Vale de Cambra também promoveu o IV Convívio dos Colaboradores e Familiares da Misericórdia. O dia foi recheado de atividades variadas e não faltaram os petiscos. O porco no espeto e os doces ficaram sob a responsabilidade da equipa da cozinha da Santa Casa. As festas dos santos populares também costumam marcar o verão nas Misericórdias do país. Santo António, São João ou São Pedro. Mudam os padroeiros, mas a festa faz-se sempre animada com muita música e não podem faltar as sardinhas assadas, nem as marchas, que contam, na maior parte dos casos, com a participação de colaboradores e idosos (ver fotos). E é para terceira idade que são organizados, em todo o país, colónias de férias, passeios variados, piqueniques etc. Em Nordeste, nos Açores, o aspeto lúdico aliou-se à saúde. O professor de educação física da


10

www.ump.pt

vm julho/agosto 2012

em ação

instituição organizou um peddy paper para a terceira idade. Objetivo maior: promover o bem-estar físico e emocional e combater a monotonia e a solidão. A inspiração cristã das Misericórdias também serve de mote para atividades variadas durante os dias mais quentes do ano. Na Misericórdia de Santar, além dos habituais passeios, a instituição recuperou há um ano a tradição da peregrinação à Senhora da Lapa. A iniciativa decorre, em 2012, entre os dias 31 de agosto e 2 de setembro. A tradição foi recuperada em 2011 depois de um interregno de cerca de 100 anos. Há registos de que esta peregrinação teve origem no século XVI. Atividades pedagógicas variadas também marcaram a agenda do verão. Além de passeios e outras iniciativas didáticas, como organizaram Almeirim, Montargil e Murça (ver fotos), as Misericórdias de Oeiras e Pampilhosa da Serra promoveram seminários para pais e profissionais da área da infância. Sob o título “Nas mãos das crianças”, a iniciativa da Pampilhosa da Serra contou com a presença, entre outros, do juiz Armando Leandro. Em Oeiras, “30 dicas para Fazer as Crianças mais Felizes” foi o mote de um fórum organizado pela Creche e Jardim de Infância Nossa Senhora de Fátima. Entre várias dicas, deixamos uma: “Dê valor e elogie as pequenas vitórias dos seus filhos, quando fazem a cama, arrumam o quarto, escovam bem os dentes ou ajudam nas tarefas de casa”. Esses são apenas alguns exemplos do muito que se fez pelas Misericórdias durante o verão. Às Santas Casas de Albufeira, Aljubarrota, Almada, Almeirim, Alvor, Anadia, Arganil, Azeitão, Azinhaga, Castelo de Vide, Celorico da Beira, Chamusca, Elvas, Ericeira, Gaia, Golegã, Loulé, Lousada, Madalena do Pico, Maia, Mangualde, Mealhada, Mesão Frio, Mogadouro, Monchique, Montargil, Montemor-o-Novo, Murça, Nordeste, Oeiras, Pampilhosa da Serra, Paredes de Coura, Penacova, Penafiel, Ponte de Sor, Portimão, Proença-a-Nova, Redondo, Santa Maria da Feira, Santar, Santiago do Cacém, Semide, Sernancelhe, Sines, Sintra, Sobral de Monte Agraço, Tarouca, Tomar, Vale de Cambra, Valongo, Vila Franca de Xira e Vizela o nosso muito obrigado por todo o material enviado. Nas páginas que dedicamos ao verão, publicamos algumas das centenas de fotografias que chegaram à redação. Recordamos que as imagens que não foram publicadas passam a integrar o nosso arquivo histórico. O jornal já tem quase 30 anos de existência e o material reunido servirá, no futuro, para contar a história da UMP e das Santas Casas.

1

2

4

5

3

1

2

3

Crianças de Vizela foram passear de avião São João com crianças e idosos em Valongo Almada levou crianças à praia

4

5

Intercâmbio com outras instituições na Ericeira Teatro de colaboradores para utentes na Golegã


259x351_JSC.pdf

1

1/16/12

10:16 AM

a s a C a t n a S s . o s g a o s J u a s c o n s a r o a t b s Apo creditar nas éa C

M

Y

CM

MY

CY

CMY

K

truir futuros. s n o c a r a d ju sas ra a balhamos pa ibuto que dá às boas cau a tr a s a C ta n Nos Jogos Sa so agradecer-lhe o contr ndo-nos a levar r is da Queremos po sta nos jogos sociais, aju recisam. p po sempre que a perança àqueles que mais s. es r Boas Causa ia o p a é m diariamente a é b m Santa Casa ta s o g o J s o n r Aposta


12

www.ump.pt

vm julho/agosto 2012

em ação

Messejana em festa para homenagear Manuel Ruas

Devolução dos hospitais já tem grupo de trabalho Foi criado grupo de trabalho para acompanhar o processo de devolução dos hospitais às Misericórdias. Primeiro relatório deverá ser apresentado em Outubro Bethania Pagin Já foi criado o grupo de trabalho que vai acompanhar o processo de devolução dos hospitais às Misericórdias. Segundo o despacho 1620/2012, do secretário de Estado da Saúde, o grupo funcionará junto da Administração Central do Sistema de Saúde e contará com representantes do Ministério da Saúde. Da parte das Santas Casas, a representação será assegurada por provedores e membros do Grupo Misericórdias Saúde (GMS). O primeiro relatório deverá ser apresentado em Outubro deste ano. Com data de Julho, o despacho cria as condições para que comece a ser analisado o processo de devolução de hospitais às Misericórdias. O anúncio

Homenagem integrada nas festas de Nossa Senhora da Conceição

Dedicado, solidário, amigo, lutador, determinado. Assim foi recordado antigo provedor da Santa Casa da Misericórdia de Messejana, Manuel Ruas Nélia Sousa Dedicado, solidário, amigo, lutador, determinado. Assim foi recordado Manuel de Brito Ruas, antigo provedor da Santa Casa da Misericórdia de Messejana, na sua terra natal. Um ano após a sua morte as saudades de um homem ilustre continuam visíveis nos rostos das gentes que com ele lidaram de perto. As festas de Santa Maria, a 15 de Agosto, tiveram este ano um significado especial para o povo messejanense. O ilustre filho da terra, e que muito fez em prol do povo, recebeu uma digna homenagem por parte da Misericórdia local, do qual foi provedor durante 19 anos. Após a tradicional missa e procissão pelas ruas da vila em honra

Primeiro-ministro anunciou devolução dos hospitais em Novembro de 2011, durante uma cerimónia na Santa Casa de Vila Real da padroeira, Nossa Senhora da Conceição, as atenções viraram-se para a entrada da Misericórdia de Messejana onde, ao final da tarde, teve lugar a cerimónia de descerramento da placa de homenagem a Manuel Ruas. Coube a Manuel de Lemos, presidente da União das Misericórdias Portuguesas, e Nelson Brito, presidente da Câmara Municipal de Aljustrel, essa missão justa e nobre. Homem de causas e de lutas, Manuel Ruas sempre teve o sonho de construir em Messejana um lar para os mais velhos. Mas, como referiu José Duarte, presidente da assembleia geral da Misericórdia e presidente da Comissão de Honra, no seu discurso de homenagem, o objetivo de Manuel Ruas não era que o lar fosse “um depósito de velhos, mas sim um espaço humano, soubesse tratar das pessoas. Um lar em que as pessoas gostassem de estar”. E o seu sonho tornou-se realidade. Figura popular e uma pessoa especial e querida por todos, Manuel Ruas foi sempre um homem com “uma determinação formidável”.

Esse espírito aguerrido foi também exaltado por Manuel de Lemos, que fez questão de estar presente porque “é uma homenagem a um homem de Misericórdia”. “Um homem digno, um homem capaz de assumir a sua responsabilidade como cidadão, que o levou a desempenhar funções políticas, e foi essa responsabilidade como cidadão que o levou a reconstruir esta Misericórdia, num momento em que ela estava fechada. Por isso faz todo o sentido que as Misericórdias de Portugal se associem a esta homenagem e, particularmente, a União das Misericórdias Portuguesas porque o provedor Ruas foi sempre um grande amigo da União”, referiu Manuel de Lemos. Também o provedor da Misericórdia de Portimão, José Manuel Correia, veio de propósito de Portimão para se juntar a esta festa de homenagem a um homem de bem. “Conhecia o provedor Ruas. Já cá tinha estado em 1998 e, naturalmente, não poderia deixar de estar presente neste momento tão alto que é esta homenagem, que em

boa hora lhe estão a fazer, embora a título póstumo. Era um provedor com características talvez únicas. Era um homem que não mandava fazer, fazia, e isso já se vai vendo pouco”, afirmou. Recorde-se que Manuel Ruas já havia sido homenageado pela União. Foi na Messejana a 15 de agosto de 2004 e a distinção de benemérito foi-lhe entregue, em vida, pelo então presidente, Vítor Melícias. A homenagem ao antigo provedor de Messejana continuou noite dentro, na praça de toiros Padre Serralheiro, com a grandiosa corrida de toiros onde Manuel de Brito Ruas voltou a ser recordado perante a família, os amigos e a população. Falar de Manuel Ruas é também falar de um homem que ficou conhecido como um grande empresário taurino e um dos mais aficionados da região. Foi ele que transformou a corrida de 15 de Agosto numa das mais importantes e emblemáticas do panorama taurino alentejano. Recorde-se que teve lugar, a 25 de agosto, a corrida da UMP. Ver página 14

da devolução foi feito pelo primeiro-ministro a 19 de Novembro de 2011, numa cerimónia na Santa Casa de Vila Real. Naquele dia, Pedro Passos Coelho anunciou a devolução de “pelo menos uma quinzena” de hospitais do Serviço Nacional de Saúde. Para o efeito, o presidente da UMP apelou, na altura, à regularização das dívidas do Ministério da Saúde às Santas Casas e também à criação de um grupo de trabalho para analisar o processo. As dívidas foram regularizadas durante o segundo trimestre de 2012. No que respeita à presença das Misericórdias, o grupo de trabalho recentemente criado contará com a participação de três provedores: Arlindo Maia, de Vila do Conde, Humberto Carneiro, da Póvoa de Lanhoso, e António Pedras, de Barcelos. O grupo terá ainda representantes do Grupo Misericórdias Saúde: Joaquim Salazar Coimbra e Paulo Coelho (respectivamente, presidente e membro do conselho de gestão).


julho/agosto 2012 vm 13

www.ump.pt Centenário em Nordeste A Santa Casa da Misericórdia de Nordeste, nos Açores, celebrou recentemente o primeiro centenário. Várias cerimónias, que contaram com grande adesão da comunidade local, marcaram a festa dos 100 anos.

Receitas nas misericórdias

Sopa da Panela de Vila Alva

Lenda inspira passeio em Ponte da Barca

O objetivo da caminhada da Misericórdia de Ponte da Barca era a promoção de hábitos de vida saudáveis, aliada à valorização da beleza natural da região

INGREDIENTES

MODO DE PREPARAção:

500g de borrego 500g de peru 500g de frango 1 linguiça (chouriço) 250g de toucinho 1 cebola salsa q.b. sal hortelã pão

Colocar o borrego, o peru, o frango, a linguiça e o toucinho numa panela com água e deixar cozer. Depois adiciona-se o sal, a salsa e a cebola ao cozinhado. Enquanto isso, pode-se cortar o pão em fatias e colocar-se a hortelã em cima numa terrina. No final da cozedura, é deitada a água da mesma sobre as fatias do pão. E coloca-se a carne a gosto no prato.

Preço:

DIFICUDADE:

€€€€€

,,,,,

A Santa Casa da Misericórdia de Ponte da Barca promoveu uma caminhada que reuniu dezenas de pessoas, dos mais jovens aos mais velhos. O objetivo da iniciativa era a promoção de hábitos de vida saudáveis, aliada à valorização da beleza natural das margens do rio “Letes”. A caminhada foi promovida no âmbito do “Enraiz’arte”, um projeto

criados há um ano e que tem sido muito acarinhado pela Santa Casa. Através dele o que se pretende é a revitalização das tradições locais. Inspirada na lenda “Na Margem do Letes”, da obra de Luís Arezes, “Ponte da Barca: Lendas e Narrativas com História”, esta caminhada teve uma adesão que surpreendeu a equipa da organização. Segundo comunicado enviado pela Misericórdia, as pessoas “não deram o seu tempo por perdido, pois, ao longo da caminhada, tiveram a possibilidade de desfrutar da beleza paisagística e de gozar de muitos momentos de boa disposição”. Chegados à Fonte Santa, em Bravães, o autor da obra que inspirou a caminhada, Luís Arezes, deu uma

breve explicação de toda a carga simbólica do local, especialmente no que diz respeito aos poderes curativos da água que jorra dessa fonte. Seguiu-se um animado convívio, no qual todos os participantes puderam confraternizar. O momento alto, ainda segundo comunicado da Misericórdia de Ponte da Barca, aconteceu quando Luís Arezes teceu algumas considerações acerca do projeto “Enraiz´arte” e finalizou a sua intervenção com a leitura da lenda “Na Margem do Letes”. Apresentado publicamente em Junho de 2011, o “Enraiz´arte” visa estimular o contacto entre gerações e revitalizar as tradições locais, mas também criar memória para os vindouros, perpetuar a identidade comunitária barquense, preservar e valorizar o património material e imaterial do concelho de Ponte da Barca, contribuir para uma maior coesão dentro da organização, reforçar o potencial da organização e, por fim, fomentar parcerias. “Sendo que um dos grandes objetivos da Misericórdia é fazer uma aproximação e um intercâmbio de saberes entre respostas sociais e comunidade em geral, considerou-se de total pertinência criar um projeto que estimule o contacto entre gerações, revitalizando as tradições locais e perpetuando a identidade comunitária barquense”. Esta caminha inseriu-se na ação denominada “À descoberta da Terra-Mãe: Percursos Pedestres”.

Caminhar contra a fome em Sintra Caminhada contra a fome da Santa Casa da Misericórdia de Sintra reuniu 115 pessoas Com os objetivos de angariação de fundos e de sensibilização das pessoas para as causas sociais, a Santa Casa da Misericórdia de Sintra organizou a 1ª Caminhada Contra a Fome. Foi a 14 de julho, na Penha Longa. Mais de uma centena de pessoas se associaram a esta iniciativa. O evento, organizado em parceria com a Fuga Perfeita e Hotel Penha

Longa, arrecadou cerca de 550 euros que reverteram em benefício das atividades desenvolvidas pelo Departamento de Ação Social da Misericórdia de Sintra. Foram ainda recebidas centenas de produtos alimentares (enlatados, leite, massas, arroz, bolachas etc.) que foram distribuídos às famílias desfavorecidas acompanhadas pela instituição.

Segundo comunicado da Santa Casa de Sintra, graças à solidariedade dos 115 participantes foi possível angariar ajuda para quem mais precisa. A instituição e respetivos parceiros pretendem repetir a iniciativa. As crianças até aos 12 anos não pagaram inscrição e os participantes tiveram direito a um lanche reforçado, assim como ficaram habilitados a participar no sorteio de uma estadia no hotel parceiro. São cada vez mais as Misericórdias que apostam nas atividades ao ar livre dedicadas à comunidade local.


14

www.ump.pt

vm julho/agosto 2012

em ação

Corrida foi palco de música solidária Em 2012, a XVI Corrida de Touros das Misericórdias teve lugar nas Caldas da Rainha e foi palco para dupla solidariedade. Foi a 25 de agosto 1

Bethania Pagin Em 2012, a XVI Corrida de Touros das Misericórdias foi palco para dupla solidariedade. Este ano, as receitas reverteram em favor do novo centro para doentes de Alzheimer da UMP – que está a ser construído em Fátima – e durante o intervalo foi apresentado ao público o álbum “Solidários em tom de fado”, cujas vendas vão igualmente beneficiar o novo centro. A iniciativa foi nas Caldas da Rainha a 25 de agosto. A casa estava composta. Entre os espectadores todos, muitos provedores marcaram presença no evento. Para fazer frente aos touros da ganadaria Jorge de Carvalho, a XVI Corrida da UMP contou com os cavaleiros Tito Semedo, Francisco Núncio (que ofereceu a lide ao presidente da UMP, Manuel de Lemos), Marco José, Alberto Conde, Francisco Zenkl e Miguel Tavares, cavaleiro praticante. Não há corrida portuguesa sem forcados e por isso estavam lá os de Lisboa e Caldas da Rainha, que dedicaram a melhor pega da noite a Manuel de Lemos, pelo que tem feito em prol da solidariedade e também das corridas de touros. Durante o intervalo foi apresentado ao público o álbum “Solidários em tom de fado”, cujas receitas vão reverter em prol do Centro Bento XVI em Fátima. O CD estará brevemente à venda e foi graciosamente gravado pelos fadistas António Pinto Basto, Teresa Tapadas, Filipa Maltieiro e Gustavo. A guitarra é de Diniz Lavos, Mário Estorninho e Filipe Vaz da Silva.

1

2

3

4

5

6

O cavaleiro Marco José é das Caldas da Rainha Francisco Núncio ofereceu lide a Manuel de Lemos Corrida contou com seis cavaleiros Álbum de fado foi apresentado ao público Forcados de Lisboa Cantoras aguardavam para atuar

2

3

4

5

6


AF_anunc_molicareactive.pdf

C

M

Y

CM

MY

CY

CMY

K

1

12/10/10

4:38 PM


16

www.ump.pt

vm julho/agosto 2012

EM FOCO

Aposta no artesanato começou há 15 anos

Artes tradicionais e emprego de mãos dadas em Óbidos Misericórdia de Óbidos tem a funcionar um ateliê de pintura de azulejo e de tijoleira, que permite preservar uma arte tradicional e amealhar receitas que apoiam o funcionamento da instituição Maria Anabela Silva Professor reformado e apaixonado pela histórica local, Carlos Orlando guia-nos pelas ruas estreitas de Óbidos, numa viagem que terá como primeira paragem a loja da Misericórdia local, situada em plena Rua Direita, a principal artéria da vila. Aberto há cerca de 15 anos, o espaço começou por vender peças de artesanato feitas pelos utentes do lar de idosos da

instituição, mas hoje funciona como principal posto de comercialização das tradicionais tijoleiras de São Paulo, pintadas no ateliê da Misericórdia de Óbidos. A loja e a oficina empregam atualmente cinco pessoas e ajudam a instituição amealhar algumas receitas. Carlos Orlando, provedor da irmandade, explica que a ideia do ateliê nasceu em 1998, com o objetivo de ajudar a combater o desemprego de longa duração, através da forma-

ção profissional, e de promover a integração de pessoas “socialmente excluídas, como toxicodependentes, alcoólicos ou indivíduos portadores de problemas físicos e psíquicos”. De mãos dadas com o Centro de Emprego e Formação Profissional de Caldas da Rainha e com o apoio de várias entidades locais, como Centro de Formação Profissional para a Indústria Cerâmica (CENCAL), a Misericórdia de Óbidos promoveu um curso de pin-

tura em azulejo, que foi frequentado por 10 dez pessoas. Seguir-se-ia uma nova ação de formação, mais uma vez vocacionada para o artesanato, desta feita, dedicada às rendas e aos bordados. Em 2003, de forma a colocar no mercado de trabalho algumas formandas, a instituição candidatou-se à criação de uma empresa de inserção, denominada “Misericórdia de Artes e Ofícios Tradicionais”, por onde

passaram 28 pessoas. A empresa viria a ser extinta, mas a ateliê de pintura mantém-se a funcionar. Instalada no antigo hospital da Misericórdia, junto à igreja com o mesmo nome, a oficina dá emprego a cinco mulheres, que trabalham também na loja e num quiosque que a instituição explora na entrada da vila. A par de vistas da vila medieval, as artesãs dedicam-se também à pintura de brasões de autarquias ou de outras


julho/agosto 2012 vm 17

www.ump.pt

Misericórdias, feitos em azulejo ou tijoleira, com recurso a uma técnica de pintura secular, designada por corda seca. “O nosso ateliê será dos poucos locais, se não o único do País, onde se pintam as tradicionais tijoleiras de São Paulo usando esta técnica”, diz Carlos Orlando, que adianta que as encomendas, também feitas por empresas, chegam de Norte a Sul do País. É com indisfarçável orgulho que

o provedor mostra os trabalhos feitos pelas artesãs, que, no dia em que a Voz das Misericórdias visitou o ateliê, estavam embrenhadas num trabalho para a Câmara de Celorico da Beira. Em mãos, as duas mulheres tinham a pintura dos brasões das 22 freguesias daquele concelho, que serão depois integrados num monumento a instalar numa rotunda que pretende “homenagear o poder local”, conta Carlos Orlando.

Receitas ajudam a baixar prestações No seu conjunto, a loja e o ateliê permitem à Misericórdia de Óbidos arrecadar anualmente entre 40 a 50 mil euros, uma receita que, segundo o provedor, é usada para “baixar as prestações” dos utentes das várias respostas sociais. “Neste momento, mais do que aumentar património ou avançar para novos projetos, a nossa preocupação é fazer com que os utentes tenham uma prestação menor”, afirma o dirigente, que frisa que o projeto do ateliê não se esgota na questão financeira. Carlos Orlando realça ainda a aposta na “defesa e na valorização do património e dos ofícios tradicionais, dando vida a uma tradição que teve muita importância em Óbidos - o azulejo - e preservando a técnica da corda seca”. Mas, no atual contexto, é a vertente da empregabilidade do projeto que o provedor considera mais importante. “Garantir postos de trabalho nesta conjuntura deve ser uma das apostas das instituições”, defende, adiantando que a Misericórdia de Óbidos tem atualmente 60 funcionários, distribuídos pelos equipamentos de lar, apoio domiciliário e creche.

Instituição com 501 anos A Misericórdia de Óbidos comemorou, no ano passado, 500 anos, com a inauguração de uma creche. A instituição foi fundada pela rainha D. Leonor, em 1511 A Misericórdia de Óbidos comemorou, no ano passado, 500 anos, com a inauguração de uma creche. A instituição foi fundada pela rainha D. Leonor, em 1511, e tornou-se a primeira organização de beneficência do concelho. A par do apoio aos mais carenciados, a instituição distingue-se ao longo da sua história pela prestação de cuidados de saúde no seu hospital, que funcionou até 1974. Com a desativação da unidade médica, o espaço foi transformado em lar de idosos, uma resposta social que, em 2003, viu inauguradas novas instalações. A instituição tem atualmente 53 utentes em lar, 43 em apoio

domiciliário e 42 na creche. Em relação ao futuro, o provedor diz que as principais preocupações passam por “tentar que a comparticipação dos utentes ou das famílias seja a menor possível” e por conseguir “aguentar o património” da instituição, que detém uma importante coleção de arte. “Grande parte das peças que se encontram no museu municipal de Óbidos são propriedade da Misericórdia, nomeadamente do século XVII, altura em que Óbidos teve um papel importante na História da Arte, porque naquela localidade se formou uma grande escola de pintores”, conta o provedor, que lembrando artistas que trabalham na vila: Josefa de Óbidos, Baltazar Gomes Figueira ou Belchior de Matos. No que respeita ao património imaterial, a Misericórdia de Óbidos realiza todos os anos a Procissão Penitencial da Ordem Terceira Franciscana. A “procissão da rapaziada”, como é conhecida, inaugura o período quaresmal.


18

www.ump.pt

vm julho/agosto 2012

terceira idade

‘Cantarolar’ estimula criatividade dos idosos

Projeto CantaroLar começou há nove anos

Projeto da Misericórdia de Lagos visa estimular terceira idade através de atividades que os façam sentir ainda mais úteis

Barão de São João Novo lar para 39 utentes

Nélia Sousa A cantarolar e a pular se consegue estimular a criatividade e o dinamismo dos mais idosos. A Misericórdia de Lagos orgulha-se do vasto conjunto de atividades e projetos que desenvolve e que permitem aos utentes uma maior ocupação do tempo livre. É a cantar, a dançar, a fazer ginástica, a aprender novas tecnologias, a fazer jogos, a contar histórias que os mais velhos sentem que ainda são úteis à sociedade. De todos os projetos há um que se destaca, o projeto CantaroLar, ou seja,

Recentemente a Misericórdia inaugurou um novo lar na freguesia de Barão de São João. A cerimónia contou com diversas personalidades. Além dos órgãos sociais da própria Santa Casa de Lagos, estiveram pre-

sentes o presidente da câmara municipal, a diretora do Centro Distrital da Segurança Social e o membro do Secretariado Nacional da UMP, Carlos Andrade. Equipamento tem capacidade para 39 idosos.

cantar no lar. Formado há nove anos o projeto tem como mentora Maria João Batista, responsável pelo sector de animação. “O que se pretende é ir ao encontro daquilo que é o património cultural das pessoas tornando-as mais participativas”, explica ao Voz das Misericórdias, adiantando que “os idosos cantam o que era a vida quotidiana, os afazeres, o campo, a pesca, a história da própria terra. E isso permite vivenciar experiências e permite aos idosos voltarem rapidamente atrás no tempo e trazer o passado para o presente e ao mesmo tempo permite trazer cultura à sociedade. Além disso o cantar faz bem à alma e é um exercício de memória”. Existem atualmente três grupos CantaroLar, divididos por dois lares da Misericórdia: o Lar José Filipe Fialho e o Lar Rainha Dona Leonor. Com um repertório muito variado, que inclui músicas tradicionais portuguesas, e com ensaios permanentes, o CantaroLar anda um pouco por todo o Algarve a preservar os velhos costumes e tradições. Para além de cantarem à capela recorrem também aos instrumentos. Paulina Martins é a mais velha do grupo. Com 97 anos diz que o que mais gosta de fazer é dançar. E por isso também participa num outro projeto, o PuLar, que envolve uma série de danças tradicionais de vários países adaptadas aos mais idosos. Também Arsénio Duarte, de 92 anos vai a todas. “Participo em todas as atividades e ainda ando a pé todos os dias uma hora antes das sete da manhã”. Talvez seja por isso que a idade parece não querer passar por este homem que há dois anos está no Lar José Filipe Fialho. Foi lá que também fomos encontrar Rosa Costa, 70 anos, que frequenta o centro de dia da Santa Casa de Lagos. Apesar de ser uma pessoa autónoma, procura o lar e já não se vê sem esta grande família. São muitos os projetos desenvolvidos por esta equipa liderada por Maria João Batista para quem o essencial é gostar de pessoas “e eu sou uma apaixonada por pessoas. Os idosos não são pessoas que deixaram de viver, são pessoas ativas que têm muito a ensinar”, diz.


julho/agosto 2012 vm 19

www.ump.pt Qualificar ativos A Misericórdia da Póvoa de Lanhoso viu aprovadas as candidaturas à tipologia 2.3 (Formação Modelar Certificada) do Programa Operacional Potencial Humano. Objetivo é a elevação dos níveis de qualificação dos ativos.

Donativo de 38 mil euros para o lar Santa Casa da Misericórdia de Macedo de Cavaleiros recebeu o donativo da Fundação Félix Chomé no dia em que o lar comemorou 25 anos de funcionamento Patrícia Posse Depois do contributo de 2,5 milhões de euros para a construção do Lar do Lombo, a fundação luxemburguesa Félix Chomé ofereceu agora 38 mil euros à Misericórdia de Macedo de Cavaleiros para apoiar as suas atividades. O donativo foi entregue a 28 de junho, data em que se celebrou o 25º aniversário do lar da instituição. “Todas as verbas são importantes e esta oferta é bem-vinda”, reagiu o provedor Castanheira Pinto, acrescentando que a Misericórdia aposta na sua própria sustentabilidade. A produção agrícola, por exemplo, garante a autossuficiência. “Quase todos os produtos que se consomem neste lar são produzidos pela Santa Casa. Também temos cordeiros, porcos e galinhas.” O presidente da União das Misericórdias Portuguesas (UMP), Manuel de Lemos, também marcou presença na cerimónia. “Quando o provedor me convidou, senti que tinha de vir honrar o trabalho de um homem à frente de

Misericórdia recebeu medalha de mérito da autarquia

Procura de ajuda tem crescido Durante a cerimónia em Macedo de Cavaleiros, o presidente da UMP considerou que a atual situação das Misericórdias é “muito grave”, na sequência da “diminuição geral das receitas” e de alguns incumprimentos “de vários milhões de euros” por parte do Estado. “Mais do que o montante, o que é preocupante é que isso possa pôr em causa a sustenta-

VOLTAAPORTUGAL

Adeus ao provedor em Almeida Faleceu, no dia 10 de Julho, o provedor da Santa Casa da Misericórdia de Almeida, no distrito da Guarda. António de Sousa Júnior tinha 86 anos e foi provedor durante cerca de 20 anos. Também desempenhou funções políticas, tendo sido, durante 16 anos, presidente da câmara municipal pelo CDS. António de Sousa Júnior dedicava-se à investigação histórica e também foi colaborador do Jornal A Guarda durante vários anos. À família e aos amigos apresentamos os nossos sinceros sentimentos.

3 Voluntários em Sines Durante 3 semanas, três voluntários polacos, ao abrigo do programa comunitário Grundtvig, estiveram na Misericórdia de Sines a desenvolver aulas de ioga, pintura e artes plásticas com os utentes idosos, entre outros utentes.

Menção honrosa em Angra do Heroísmo Dois idosos da Santa Casa da Misericórdia de Angra do Heroísmo receberem recentemente menções honrosas no âmbito do concurso “Avós e Net@as”, promovido pela Associação de Seniores da Ilha de S. Miguel, em parceria com a Direção Regional da Solidariedade e Segurança Social e Direção Regional das Comunidades durante o III Congresso Internacional “A Voz dos Avós: Gerações e Migrações”. Foi no dia 27 de Julho.

bilidade das instituições e a sua atividade normal”, salientou Manuel de Lemos. Por outro lado, há cada vez mais pessoas a bater à porta das Misericórdias. “Temos muito mais gente a demandar-nos, mas as comparticipações desceram e é difícil manter a qualidade na resposta.” Já o secretário de Estado Adjunto Feliciano Barreiras Duarte lembrou que

o governo assinou, recentemente, um acordo com as Misericórdias para disponibilizar uma verba de cerca de 50 milhões de euros para “fazer face a uma série de compromissos”. “A missão das Misericórdias é cada vez mais relevante e, muitas vezes, antes do Estado, conseguem ajudar as pessoas que estão a viver dificuldades várias.”

uma equipa que tudo faz para ajudar os outros.” Após o almoço que reuniu mais de 180 pessoas, procedeu-se à condecoração de funcionários da casa e à entrega da Medalha de Mérito – Grau Ouro, atribuída pela autarquia local. Metade da vida de Leonor Silva, hoje com 50 anos, foi passada ao serviço da instituição. “Comecei na cozinha, nos quartos e há 18 anos é que vim para a lavandaria. Gosto de estar aqui, porque o ambiente de trabalho é muito bom.” Maria da Luz Costa, natural de Mirandela, vive há três anos no lar. “Vim porque estava sozinha e tinha problemas de saúde.” A idosa tem em Otília Nascimento, 78 anos, a companheira das passeatas. “Depois de jantar, pela fresca, vamos dar uma volta”, confirma a colega. As complicações de saúde também levaram Otília e o marido a procurar acompanhamento junto da Santa Casa: “estamos melhor aqui do que em casa e gostamos de cá estar”. Com uma lista de espera que ultrapassa as 200 pessoas, o lar tem 83 utentes, apoia 79 em apoio domiciliário e 10 no centro de dia. Recentemente, foi alvo de obras de remodelação, num investimento de 150 mil euros. Está prevista ainda a remodelação da cozinha e a substituição da caixilharia e vidros. “Estamos à espera de abrir a nova cantina social para 62 pessoas”, revelou o provedor.




22

www.ump.pt

vm julho/agosto 2012

educação

Atividades pretendem contribuir para o desenvolvimento das capacidades cognitivas e da criatividade

Verão educativo em Reguengos de Monsaraz Através do ateliê de tempos livres, Misericórdia de Reguengos de Monsaraz organiza diversos programas para crianças durante as férias. Numa delas, os cavalos são a grande atração Adriana Mello Todas as quintas-feiras de manhã, em Reguengos de Monsaraz, a rotina mantêm-se: crianças entusiasmadas seguem rumo ao picadeiro para aproveitarem cerca de duas horas bem passadas em contato com os cavalos. Afinal, a equitação é uma das atividades que as crianças que frequentam o ATL (Atividades de Tempos Livres), durante as férias, na Santa Casa da Misericórdia mais gostam. De facto, já lá vai o tempo em que a única solução para ocupar as férias de verão dos mais pequenos se resumia à casa dos avós.

A iniciativa que se repete há alguns anos, durante os meses de verão, em parceria com a GNR, permite às crianças entrar em contato com os animais num ambiente saudável de aprendizagem e diversão. O sucesso parece garantido, visto que estão inscritas cerca de setenta crianças. O fascínio por estes animais majestosos é tão grande que uma das crianças, a pequena Iara, de oito anos, no último Carnaval não teve dúvidas e optou por se fantasiar de cavaleira. De facto, os cavalos que já têm mais de 16 anos são extremamente mansos e conquistaram por completo as crianças de

Reguengos. Um dos animais até já tem uma alcunha - os miúdos o chamam de Soneca, pois de vez em quando para o seu trote, fecha os olhos e dorme. O acompanhamento das crianças é feito por dois instrutores da GNR e por quatro monitoras do ATL. Passo a passo, as crianças vão evoluindo. Segundo uma das monitoras, “por vezes algumas crianças têm medo e é bom constatar que quando o medo é superado, temos um resultado muito interessante em termos de autoestima e concentração.” Para além de promover o contacto com os animais, as atividades desenvolvidas neste projeto pretendem contribuir

para o desenvolvimento das capacidades cognitivas e da criatividade. Assim, mesmo no verão, também há aulas de expressão plástica, culinária, de informática e às sextas-feiras os miúdos vão sempre às piscinas locais. São horas bem passadas com muita diversão à mistura. Mas não é só durante as férias que os pais e encarregados de educação podem contar com esta resposta social que se destina a acolher crianças com idades compreendidas entre os cinco e os 12 anos de idade. Durante todo o ano letivo, as portas estão sempre abertas. Afinal, segundo a monitora Mara, “o ATL de Reguengos de Monsaraz veio

preencher uma grande lacuna, pois há muitos pais que não têm onde deixar os seus filhos depois do horário escolar”. Com o ATL os pais ficam tranquilos ao ver os seus filhos a brincar de forma segura num ambiente saudável. Ao longo do ano letivo, o ATL é um espaço onde as crianças associam a elaboração dos trabalhos escolares (com a devida supervisão de professores) com as várias atividades lúdicas, fundamentais para um desenvolvimento pleno, como expressão plástica, inglês, natação e até informática O provedor daquela Misericórdia, Manuel Galante, explica como surgiu a


VOZDAS MISERICÓRDIAS

www.ump.pt

ideia da criação de um ATL em Reguengos (que já está em funcionamento desde maio de 2000): “Até há alguns anos as crianças que frequentavam o primeiro ciclo (antiga escola primária) não tinham qualquer tipo de apoio: ou ficavam em casa sozinhos, ou na rua. O Estado não se dedicava a estas atividades.” Há alguns anos foram criadas as AEC (Atividades de Enriquecimento Curricular) que permitiram as escolas públicas oferecerem gratuitamente a todos os alunos do primeiro ciclo um conjunto de aprendizagens enriquecedoras do currículo e, ao mesmo tempo, alargar o horário escolar até as 17h:30. No entanto, nem sempre as AEC funcionam como o previsto. Por outro lado, quando as Atividades de Enriquecimento Curriculares entraram em funcionamento grande parte dos ATL, pertencentes às instituições de solidariedade, estiveram em risco de encerrar. No entanto, Manuel Galante sublinha: “Nós fomos teimosos e não desistimos, pois sabíamos que as pessoas precisavam desta resposta.” Porque da insistência? “Ficamos com a sensação, desde o princípio que as AEC não correspondiam bem as necessidades da nossa população. Sem discordar da ideia

O acompanhamento das crianças é feito por dois instrutores da GNR e por quatro monitoras do ateliê de tempos livres e da filosofia, a nossa ideia foi manter o ATL da Santa Casa. Nós não desistimos facilmente e acho que estamos a ganhar a aposta. Afinal, nestas coisas, o que devemos pensar sempre é o que é o melhor para as crianças. Acho que está resposta será para continuar.” Programa da Gulbenkian A Santa Casa da Misericórdia de Reguengos de Monsaraz foi uma das quatro instituições selecionadas pela Fundação Calouste Gulbenkian para integrar o Programa de Desenvolvimento Humano. Em causa está o projeto “Aprender a Ser”, desenvolvido no âmbito do lar de infância e juventude da instituição. O objetivo da iniciativa é a promoção de autonomia para jovens em acolhimento residencial, através da criação de uma resposta transitória entre a passagem de acolhimento residencial e a aplicação de uma medida para autonomia de vida. O programa da Fundação Calouste Gulbenkian e a Misericórdia de Reguengos de Monsaraz vai decorrer entre 2012 e 2014 e contará com um financiamento plurianual no total de 150 mil euros. Para o efeito, a Santa Casa contará ainda com apoio técnico de uma equipa do Programa de Desenvolvimento Humano, coordenada cientificamente por Daniel Sampaio.

Correio do leitor Como contactar-nos: Correio Rua de Entrecampos, 9, 1000-151 Lisboa Email: jornal@ump.pt

As cartas devem ser identificadas com morada e número de telefone. O Voz das Misericórdias reservase o direito de selecionar as partes que considera mais importantes. Os originais não solicitados não serão devolvidos.

VOZDAS MISERICÓRDIAS

Leia, assine e divulgue Para assinar, contacte-nos: Jornal Voz das Misericórdias, Rua de Entrecampos, 9 – 1000-151 Lisboa Telefone: 218110540 ou 218103016 Email: jornal@ump.pt


24

www.ump.pt

vm julho/agosto 2012

património

Inventário em 20 Misericórdias do sul Já está pronto o livro sobre o inventário nas 20 Santas Casas do Alentejo. A categoria mais representativa é a de equipamento hospitalar Bethania Pagin Já está pronto o terceiro livro do Gabinete do Património Cultural (GPC) da União das Misericórdias (UMP) sobre o inventário nas Santas Casas. Dedicado ao espólio artístico de 20 Santas Casas alentejanas, o livro traz dados novos sobre a realidade dessas instituições. Naquela região, a categoria mais representativa é a de equipamento hospitalar e cirúrgico com cerca de 20 por cento do total das peças. Desde teve início o projeto de inventário nas Misericórdias foram 90 as instituições estudadas. Por isso, refere o ex-reponsável pelo Gabinete, Miguel Loureiro, “podemos seguramente considerar como um dado estatístico sólido, as categorias mais encontradas nos inventários precedentes que foram mobiliário, escultura, pintura e ourivesaria, […] representativas de mais de 50 por cento da totalidade. No entanto, nestas vinte Misericórdias do Alentejo há uma inovação, pois a categoria mais representada é o equipamento hospitalar e cirúrgico, com 20 por cento das peças inventariadas”. Recorde-se que

apesar de haver hospitais das Santas Casas em todo o país, o maior número estava concentrado no Norte. Em jeito de repto, Miguel Loureiro conclui: “Estes dados terão uma resposta concreta que os investigadores da saúde e do movimento hospitalar nas Misericórdias poderão dar-nos a curto prazo”. Para o presidente do Secretariado Nacional da UMP, que assina a apresentação deste livro, “a inventariação do património de 20 Misericórdias permite-nos destacar a especificidade e qualidade do nosso património. De facto, apesar das muitas Misericórdias já inventariadas, mais de noventa, continuamos a surpreendermo-nos e a maravilharmo-nos com os espécimes encontrados. Neste caso, em particular, não podemos deixar de destacar a profusão de instrumentos cirúrgicos, que mostra bem como no passado, assim como no presente, as Misericórdias dedicam particular atenção à prestação de cuidados de saúde. É também por esta experiência que, mais convictamente, afirmamos que a história da saúde em Portugal nunca se poderá fazer sem a história das Misericórdias portuguesas”. A publicação deste livro constitui o último trabalho do GPC da União, pelo menos nos moldes em que a estrutura funcionou. Neste momento, a UMP está a encetar todos os esforços para viabilizar financeiramente o funcionamento desta linha de serviço para as Misericórdias.

Recorde-se que a inventariação das Misericórdias do Alentejo foi desenvolvida no âmbito de uma candidatura ao programa InAlentejo. As Santas Casas inventariadas foram Abrantes, Alandroal, Alcáçovas, Alpalhão, Alvito, Beja, Borba, Cabeção, Cabeço de Vide, Campo Maior, Gavião, Monsaraz, Mourão, Nisa, Reguengos de Monsaraz, Rio Maior, Serpa, Sousel, Viana do Castelo e Vila Viçosa. A presença de Abrantes e Rio Maior prende-se com a Nomenclatura Comum das Unidades Territoriais (NUTS) que define sub-regiões estatísticas em que se divide o território dos Estados-membros da União Europeia e que não coincide com as divisões tradicionais do território português.

O património das Misericórdias: Um passado com futuro Vários autores UMP, março 2012


julho/agosto 2012 vm 25

www.ump.pt

Guardar memória de hospitais e farmácias Espólio encontrado no Alentejo é testemunho da história da Misericórdia, da comunidade local, da medicina e da farmácia portuguesa Bethania Pagin São 14 as Misericórdias alentejanas que têm, no seu espólio peças, instrumentos e aparelhos relacionados com o seu hospital ou farmácia. Para a inventariante Florbela Morgado, “é bastante interessante verificar que, inserida na atual conjuntura política, o intuito é devolver hospitais às Misericórdias. Esta é, por si só, uma

razão fundamental para guardarmos memória desse património de um passado que voltou a fazer parte da atualidade”. Ventosas, sangrias, clisteres, almofarizes, faiança de botica, balanças e pesos, entre outros, são algumas das peças mais encontradas pelos técnicos da União das Misericórdias Portuguesas ao longo de dois anos de inventário no Alentejo. Para Florbela Morgado, “uma grande parte desses objetos e instrumentos possui interesse técnico e científico, como testemunho de períodos que fazem parte da história da própria Misericórdia, da comunidade local, da medicina e da farmácia portuguesa.” Além disso, continua, “é interessante

verificar a evolução dos equipamentos médicos ao longo dos tempos”. Em jeito de sugestão, a inventariante lança o desafio: “Existe a possibilidade de reunir esse equipamento em coleções e divulga-lo em pequenas exposições temáticas, as quais poderiam tornar-se itinerantes e levar à criação de uma rede de parcerias entre Misericórdias com o mesmo tipo de património”. Estas atividades, refere, seriam dirigidas ao público em geral, mas o seu caráter científico poderia atrair o público escolar. “Os hospitais das Misericórdias sempre tiveram um papel preponderante e todas estas iniciativas poderão dinamizar e propiciar uma relação ativa com a comunidade”, conclui.

Conhecer, conservar e divulgar espólio Desconhecimento, mau estado de conservação e fraca acessibilidade ao público são aspetos comuns do inventário às 20 Misericórdias do sul Bethania Pagin Desconhecimento, mau estado de conservação e fraca acessibilidade ao público são aspetos comuns às 20 Misericórdias do sul inventariadas pela equipa da União das Misericórdias Portuguesas. Segundo Patrícia Lamas, que assina um dos artigos do livro, “nem sempre as Santas Casas conhecem a

extensão, proveniência e valor intrínseco do seu património artístico”. Na maior parte dos casos, não existem inventários e, quando os há, estão desatualizados. Outro desafio é a conservação. Apesar de haver instituições que conseguem manter o espólio em boas condições, há exemplos de peças já em irreversível processo de degradação. Contudo, alerta Patrícia Lamas, restauros menos conseguidos e sem técnicas e supervisão adequadas agravam o problema. Sobre a acessibilidade, a responsável refere que “não obstante a qualidade estética e o significado histórico de muitas peças”, apenas em Rio Maior a igreja se encontra aberta ao público.


26

www.ump.pt

vm julho/agosto 2012

voz ativa Editorial

VM

Opinião

Voz das Misericórdias Órgão noticioso das Misericórdias em Portugal e no mundo

Paulo Moreira

paulo.moreira@ump.pt

Linha de crédito para as IPSS Foram 65 as Misericórdias que se viram confrontadas com o esforço suplementar de trabalho em período de férias, resultante da candidatura à Linha de Crédito para as IPSS, num montante de 50 milhões de euros

S

etembro assinala o fim do período de férias, uma época habitualmente marcada nas Santas Casas por um conjunto de atividades sazonais, que de alguma forma quebram a rotina do dia-a-dia das suas respostas sociais. Disto damos conta nesta edição. Este ano acresce que muitas delas se viram confrontadas com o esforço suplementar de trabalho em período de férias, resultante da candidatura à Linha de Crédito para as IPSS, num montante de 50 milhões de euros, a que concorreram 65 Misericórdias, cujos processos estão a ser trabalhados com o apoio da UMP, que para o efeito contratou duas empresa de consultadoria, com reputação reconhecida no setor. Esta forma de trabalhar baseada numa avaliação séria e exigente das Santas Casas que se candidatam, com uma exaustiva análise financeira e com um plano de negócios que visa a melhoria da gestão e por isso da sustentabilidade das Misericórdias, permitirá à UMP, na pessoa do seu presidente, validar as candidaturas que cumpram os requisitos exigidos. É seguramente uma nova forma de relacionamento do Estado com o setor social que implica uma maior responsabilização das estruturas representativas das instituições do setor. Mas setembro ficará marcado pelo X Congresso Internacional das Misericórdias, a decorrer no Porto e Gaia entre 20 e 22, que reunirá cerca de 500 participantes oriundos de Santas Casas de todo o mundo e que terá como temas centrais a saúde, o património cultural e as respostas sociais. Será seguramente um evento que permitirá vários encontros e a troca enriquecedora de experiências e de formas diversas de responder aos desafios que se colocam cada vez com mais acuidade as nossas instituições.

Propriedade: União das Misericórdias Portuguesas Contribuinte: 501 295 097 Redacção e Administração: Rua de Entrecampos, 9, 1000-151 Lisboa Tels: 218 110 540 218 103 016 Fax: 218 110 545 e-mail: jornal@ump.pt Tiragem do n.º anterior: 13.550 ex. Registo: 110636 Depósito legal n.º: 55200/92 Assinatura Anual: Misericórdias Normal - €20 Benemérita – €30 Outros: Normal - €10 Benemérita – €20 Fundador: Dr. Manuel Ferreira da Silva Diretor: Paulo Moreira Editor: Bethania Pagin Design e Composição: Mário Henriques Publicidade: Paulo Lemos Colaboradores: Adriana Melo Anabela Silva Filipe Mendes Nélia Sousa Patrícia Posse Paulo Gonçalves Assinantes: Sofia Oliveira Impressão: Diário do Minho – Rua de Santa Margarida, 4 A 4710-306 Braga Tel.: 253 609 460

União das Misericórdias Portuguesas

António Brito Deputado brasileiro

Oportunidade para quebrar paradigmas

É fato que a crise ainda permanece, mas é inegável que isto tem proporcionado ao setor filantrópico brasileiro vários avanços, entre os quais mudanças na legislação vigente e criação de programas de contratualização

A Confederação Internacional das Misericórdias (CIM) realizará o X Congresso Internacional das Misericórdias nas cidades do Porto e Vila Nova de Gaia, em Portugal, nos dias 20, 21 e 22 de setembro próximo, contando com a presença de representantes de Santas Casas e Entidades Filantrópicas de vários países. O congresso deste ano terá como tema “Unidas para Multiplicar - Promotoras de Modernidade e Inovação”. Lá começou o movimento das Misericórdias, quando a rainha Leonor de Lancastre, viúva de D. João II, fundou a primeira Santa Casa, em Lisboa, no ano de 1498, desencadeando um movimento que se expandiu por 24 países, como México, França, Espanha, Angola, Luxemburgo, África, Moçambique, Ucrânia e principalmente o Brasil, que repetiu esse passo, em 1543, na cidade de Santos, depois em Vitória (ES), Salvador (BA) e muitos outros estados, chegando atualmente ao total de 2.110 entidades filantrópicas em todo o país. Em todo o mundo o setor enfrenta dificuldades de financiamento e manutenção das suas atividades. Contudo, observa-se que alguns se diferenciam quanto ao nível das dificuldades e ao seu nível de estruturação do sistema federativo. O Brasil, neste momento, demonstra um importante avanço na consolidação do sistema federativo, compondo-o com a representação local da Confederação Internacional das Misericórdias (CIM), a Confederação Nacional das Misericórdias (CMB), suas federações estaduais e, recentemente, com a implantação da Frente Parlamentar de Apoio às Santas Casas do Brasil no Congresso Nacional, bem como em algumas Assembleias Legislativas estaduais.

É fato que a crise ainda permanece, mas é inegável que isto tem proporcionado ao setor filantrópico brasileiro vários avanços, entre os quais podemos ressaltar as mudanças na legislação vigente para flexibilização da concessão e renovação do certificado de filantropia, a criação de programas de contratualização das unidades filantrópicas, concessão de incentivos aos hospitais que aderiram ao referido programa, a elaboração e apresentação ao Ministério da Saúde de um Relatório de Diagnóstico da Situação do Setor, na relação com o Sistema Único de Saúde (SUS), constando de números relativos ao déficit de remuneração dos serviços, do consequente endividamento e de proposição de soluções. Sabe-se que a maioria desses países enfrenta uma das mais graves crises econômicas já vistas, mas sabe-se também que a crise é sempre uma oportunidade para quebrar paradigmas, crescer e vencer desafios de varias formas, e uma delas pode ser através da união e da sensibilização das demais parcelas da sociedade a exercer sua responsabilidade social. O Brasil, através de suas representações, tem a oportunidade de assumir um papel de protagonista e se propõe a contribuir para que o Congresso propicie a todos refletirem sobre valores, identidades e dificuldades comuns, buscando aproveitar as relações comerciais, políticas e históricas existentes entre esses países, para estreitá-las construindo parcerias focadas no intercâmbio de experiências e recursos humanos e financeiros, voltados para uma política internacional de fortalecimento do setor e da sua sustentabilidade, preservando e ampliando sua importante atuação, em especial nas áreas da saúde e da assistência social.


julho/agosto 2012 vm 27

www.ump.pt

reflexão

João F. Proença

Diretor e Presidente do Conselho Cientifico da Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP)

É premente a melhoria da gestão do terceiro setor

Apesar da grande crise económica que o País atravessa, o terceiro setor encontra-se em crescimento e, por isso, capaz de gerar emprego. A questão que se coloca é a da sua sustentabilidade

O Terceiro Setor tem um papel e um valor muito importante na sociedade atual. Um número crescente de serviços que o Estado presta às populações faz-se por intermédio das organizações sem fins lucrativos. Este sector de atividade, por vezes designado por ‘economia social’, atua predominantemente em domínios onde o mercado (isto é, o setor privado com fins lucrativos) falha. O que acontece é que, nestes casos, se assiste(ia) à intervenção do Estado com o objetivo de solucionar/atenuar os problemas resultantes do ‘mau’ funcionamento do mercado. Há muito que se reconhece que o Estado, por diversas razões que vão do funcionamento do sistema político à própria natureza das burocracias, também falha. É precisamente nesta encruzilhada onde existem necessidades que o mercado e o Estado satisfazem imperfeitamente que se manifesta o potencial das organizações sem fins lucrativos que partilham os pontos fortes com o setor privado com fins lucrativos, evitando os pontos fracos do setor público. Estas organizações têm uma grande proximidade relativamente aos utilizadores e consumidores dos seus serviços e uma maior motivação dos seus trabalhadores, beneficiando também da credibilidade acrescida por não visarem o ‘lucro’. Apesar da grande crise económica que o País atravessa, o Terceiro Setor encontra-se em crescimento e, por isso, capaz de gerar emprego. A questão que se coloca ao Terceiro Setor é a da sua sustentabilidade. Muitas destas organizações dependem do financiamento público não dispondo de financiadores privados que lhes assegurem a sobrevivência. Em Portugal e na Europa são também cada vez maiores as dificuldades de financiamento que estas organizações enfrentam com a redução da despesa pública e a sensibilidade dos financiamentos privados à situação económica. Isso coloca o Terceiro Setor perante a necessidade de enveredar pela procura de outras fontes de receita (atividade comercial) com o risco associado de deslocar a sua ação em direção a atividades não preferenciais (mas geradoras de receita) e de lhes retirar (aos olhos do público) a credibilidade do rótulo ‘sem fim lucrativo’. Este é talvez o principal dilema que o setor pode a prazo enfrentar. As soluções para este problema exigem quadros bem preparados capazes de compreender o enquadramento geral destas organizações e reconhecer o seu contributo e, nesse

contexto, tomar decisões estratégicas e assegurar a gestão corrente na plena posse do conhecimento das técnicas adequadas. Por exemplo, a importância da ausência do objetivo lucro como fator de credibilização destas organizações em domínios em que o fator qualidade é importante para o utilizador ou consumidor do serviço (pense-se, por exemplo, na saúde e na educação). No entanto, grande parte das organizações sem fins lucrativos é gerida por direções voluntárias com pouca qualificação no domínio da gestão. Torna-se por isso premente a melhoria na gestão e organização deste setor, não só devido às recentes

orientações políticas, que colocam em causa a sustentabilidade económica das mesmas, mas porque o próprio setor sente urgência em modernizar-se, para se tornar mais sustentável, mais “competitivo” e mais adequado às necessidades dos diferentes stakeholders. Para isso interessa diversificar as fontes de financiamento e diminuir a dependência dos subsídios estatais, desenvolvendo estratégias de autofinanciamento mais aproximadas às do setor privado. Será essencial formar e a capacitar os seus dirigentes e profissionais, o que será um fator crítico para a melhoria sustentada que o Terceiro Setor necessita.

As organizações sem fins lucrativos recorrem em grande parte ao trabalho voluntário que coexiste e é gerido em simultâneo com o trabalho assalariado. Importa atrair, desenvolver e reter o trabalho voluntário, que representa um capital extremamente valioso destas organizações, pois é movido por motivações intrínsecas à sua atividade, que como sabemos, são as principais potenciadoras de um desempenho distintivo. O desenvolvimento das organizações do Terceiro Setor em geral exige formação sobre o tipo de estruturas, sobre a especificidade da gestão destas organizações e sobre como se podem criar e gerir redes ou parcerias entre estas organizações e entre elas, o Estado e as empresas. A formação necessária engloba as dimensões técnicas e cientificas de caráter multidisciplinar, com particular enfoque nas áreas da gestão, economia, direito, psicossociologia, entre outras, de forma a permitir uma visão integrada, atual e aplicada da Gestão das Organizações sem Fins Lucrativos e da Economia Social, onde se podem incluir também os serviços públicos. Importará formar e reciclar os quadros e chefias destas organizações, permitindo a tomada de decisões e o exercício de múltiplas funções, desde a administração, às áreas de marketing, de gestão de recursos humanos e dos voluntários, da contabilidade e fiscalidade do terceiro setor, de gestão financeira e análise de projetos de investimento, de gestão da qualidade e eficácia, entre outras. A formação deve também contemplar o exercício eficaz de papéis de liderança, pois a efetividade das mudanças organizacionais que se perspetivam dependerão, em primeira instância, da capacidade das suas chefias se tornarem líderes. Será fundamental que estes dirigentes inspirem os seus colaboradores em objetivos comuns e sejam capazes de reunir os recursos necessários para empreender e realizar “mais com menos”. O empreendedorismo social será uma área a desenvolver, pois comporta um elevado potencial de inovação na intervenção social que poderá ser desenvolvido nas organizações sem fins lucrativos O desenvolvimento de atitudes e competências de negociação e de trabalho em equipa, serão indispensáveis a um ambiente empreendedor e à competitividade das organizações sem fins lucrativos. Só com adequada formação teórica e prática será possível desenvolver o Terceiro Setor de modo a que se torne cada vez mais sustentável.


Lagos Cantar pela criatividade dos idosos Terceira idade

Pág. 18

Óbidos Aposta de 15 anos no artesanato

Em foco

Homenagem Messejana em festa por Manuel Ruas

Págs. 16 e 17

Em Ação

Pág. 12

07/08 12 www.ump.pt

Entrevista

Joaquina Madeira

Dar cada vez mais saúde aos anos Joaquina Madeira Coordenadora do Ano Europeu do Envelhecimento Ativo e da Solidariedade entre Gerações. Qual será, na sua opinião, a principal mais-valia do Ano Europeu do Envelhecimento Ativo e Solidariedade entre Gerações (AEEASG) para Portugal? O AEEASG, tal como todos os anos europeus, tem como objetivo alertar os cidadãos para temas relevantes da sociedade, sobre os quais é necessário refletir, estudar e tomar decisões, de forma a evitar que se constituam um problema no futuro. O envelhecimento e a longevidade dos cidadãos é um “presente civilizacional” do nosso tempo. Nunca se viveu tantos anos em tão boas condições de saúde. Mas a longevidade transformar-se-á num problema se não forem tomadas medidas que promovam a natalidade, ou se não se proceder às mudanças dos sistemas de vidas, isto é, saúde, social, educação, trabalho, de forma a se adaptarem ao novo perfil sociodemográfico da população. Sabemos que muitos dos nossos idosos são um recurso para a família e para a sociedade em geral e que a incapacidade não está relacionada com a idade, mas com a saúde e com fatores de ordem genética ou de contextos de vida. Joaquina Madeira é coordenadora do AEEASG 2012

Como tem sido a participação no AEEASG das instituições que trabalham com idosos? Embora sem dados rigorosamente objetivos, parece-me que está criada uma dinâmica, sobretudo ao nível local. Traduz-se esta dinâmica pela organização de eventos, tertúlias e seminários importantes, pelas oportunidades de aprendizagem e reflexão que proporcionam, mas também atividades que vão ao encontro dos objetivos do AEEASG. Naturalmente,

que as instituições que trabalham com idosos estão particularmente interessadas e envolvidas no tema e nas ações locais. No entanto, gostaria que este Ano também fosse uma oportunidade para cada uma das Misericórdias se “envolver” numa autorreflexão do seu modelo de funcionamento interno, face ao conceito de envelhecimento ativo, por um lado, e à proposta de intensificação das relações intergeracionais e do voluntariado, por outro.

O conceito de envelhecimento ativo vem-nos trazer a ideia de que a pessoa humana é o principal protagonista e ator da sua vida, mesmo quando tem que ser cuidada por terceiros. Por isso deverá ser respeitada e considerada na sua dignidade independentemente da sua condição física ou mental. Não se perdem os direitos por se ter perdido a saúde ou a autonomia, pelo contrário. É-se “mais pessoa” quando se está mais vulnerável ou frágil.

Quais as iniciativas mais relevantes no âmbito do AEEASG? As iniciativas são de vária ordem. Em primeiro lugar, sensibilização e promoção de várias atividades que promovam a luta contra os estereótipos sobre a velhice. Nesta área, há inúmeras iniciativas e ações, quer das organizações não-governamentais, quer dos municípios, quer de associações ou mesmo de serviços públicos, com a larga participação de pessoas que vivem o seu envelhecimento de forma ativa e participada. Outro aspeto importante é a promoção das relações intergeracionais e de solidariedade entre gerações. Relevo neste tópico o papel das escolas, das Misericórdias e IPSS em geral pelas ações e boas práticas na aproximação e no estreitamento de relações entre os mais novos e os mais velhos, valorizando os conhecimentos mútuos e estabelecendo pontes de aprendizagem entre gerações. Por último, a adoção de medidas e de propostas de ação sustentadas e a longo prazo, que criem as condições para o envelhecimento ativo e para a solidariedade entre gerações. Se o envelhecimento ativo exige responsabilidade individual, isto é, cada um de nós deve “cuidar-se” de forma a viver e envelhecer de forma ativa, participada e útil à sociedade, também é exigível que a sociedade, faça a sua parte criando ambientes, serviços e instituições “amigáveis” para o envelhecimento ativo. Como avalia o trabalho das Misericórdias no que respeita à terceira idade, em geral, e ao envelhecimento ativo, em particular? As Santas Casas são, têm sido, os pilares das políticas de serviços sociais para as pessoas idosas no nosso país. São entidades que têm sabido

ao longo do tempo permanecer, mudando e adaptando-se às exigências do seu tempo. Se quisermos falar de organizações “aprendentes” temos que falar nas Misericórdias. Além de terem sabido mudar, têm querido chegar mais além, olhos postos na realidade que as cerca “vendo” com a razão e o coração. Falar das Misericórdias é falar de pessoas, homens e mulheres que têm sabido e querido dar o seu melhor, pelo concidadão que precisa. O que o Ano Europeu nos vem dizer é que devemos mudar de paradigma de intervenção quando olhamos para as pessoas idosas. Normalmente, fazíamo-lo pelo lado das dificuldades e necessidades. Esta nova perspectiva aconselha-nos a valorizar as suas capacidades e bons desempenhos, desenvolvendo ações tecnicamente sustentadas, de promoção e estimulação das suas capacidades e da prevenção das doenças que provocam a perda de autonomia física e mental. Os lares não devem ser a “última morada”, mas uma nova oportunidade de vida com qualidade e utilidade pessoal e social, à medida das possibilidades de cada cidadão. Desafio as Misericórdias para um novo desígnio. O de se constituírem como uma das instituições de referência para a informação, formação e educação dos cidadãos, para o autocuidado na perspectiva do envelhecimento ativo, numa abordagem preventiva das dependências e do envelhecimento sem qualidade. Se já demos anos à vida, temos que dar cada vez mais saúde aos anos. Para tal é necessário agirmos cedo, adotando estilos saudáveis de vida e exigindo dos decisores políticos e dos cidadãos em geral, condições sociais económicas e ambientais favoráveis ao envelhecimento ativo num contexto de coesão intergeracional.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.