Você sabia que jogar ioiô é considerado um esporte? Entenda como um dos brinquedos mais antigos do mundo pode ser jogado profissionalmente. FÔLEGO Página 1
JORNAL- LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVERSIDADE DE FORTALEZA
Novembro / Dezembro de 2011
ANO 9
N° 28
foTo: hannah moreira
Ídolos do passado vivem no presente. Conheça jovens que se inspiram no que acontecia nas décadas de 50, 60 e 70.Reviver o passado virou até negócio; restaurantes e boates da cidade já usam esta decoração para atrair seus clientes. Sobpressão Páginas 4 e 5
Livros resistem ao tempo e à Internet Em meio a todo o desenvolvimento de aparatos tecnológicos, os livros se mantêm como uma das plataformas mais elegantes e prazerozas para leitura. É buscando atender aos amantes dos livros que os sebos se tornam uma ótima opção para encontrar as obras desejadas, algumas raras e outras fora do mercado, com pre-
ços bem acessíveis. Ao contrário do que possa parecer, a Internet intensificou a busca por obras antigas e raras, ao facilitar a procura por livros em rede de sebos virtuais. É lá que surge, também, o Bookcrossing, com a ideia de “abandonar” livros em lugares públicos, gerando uma corrente de leitura. Sobpressão Páginas 6 e 7
Saúde
Fôlego
Ensino Digital
Açúcar demais na vida do brasileiro
Atletas felizes é o que ela quer
Tablet na escola
Segundo pesquisa realizada pelo IBGE, 90% dos brasileiros estão consumindo mais açúcar que o recomendado.Uma alimentação à base de comidas congeladas, marmitas e refrigerantes faz parte da rotina de crianças que, juntamente com a falta de exercícios físicos, estão tendo doenças como diabetes e colesterol alto ainda na infância. Faça um teste para saber se seu filho faz parte deste grupo de risco. Conheça outros perigos que podem ser causados pelo excesso de glicemia no corpo. Confira ainda
Conheça a mulher que já foi treinadora da seleção brasileira de ginástica rítmica e hoje se dedica somente ao Ceará. Ester Azevedo Vieira foi responsável pela criação da Federação Cearense das Ginásticas. Atualmente, além de ser presidente da Entidade, ela cuida do treinamento de atletas de alto rendimento que já têm reconhecimento nacional. Confira a entrevista em que Ester se diz realizada com o que faz e quer treinar atletas felizes. Página 8
Escolas se adaptam às novas tecnologias e adquirem equipamentos acreditando ajudar na aprendizagem dos alunos. Alguns pais estão assustados com a velocidade da informatização. Veja como três grandes escolas privadas da cidade usarão tablets e lousas digitais na sala de aula. Também abordamos a situação da escola pública, que, apesar de estar se informatizando, não acompanha a velocidade das instituições privadas. Sobpressão Página 8 e 9
uma receita de sobremesa livre de açúcar: um bolo de frutas e iogurte. Sobpressão Páginas 10 e 11
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Colagem e Poesia
Editorial
Júlia Norões
A liberdade é prima da independência O jornal-laboratório é um instrumemto pedagógico que insere o estudante no aprendizado e treinamento prático para o exercício profissional. É também um espaço de liberdade, sem amarras das linhas editoriais existentes nas empresas jornalísticas convencionais. Ainda que sob orientação do corpo docente da Instituição, o jornal é resultado de todo o processo criativo dos estudantes. Pautas, entrevistas, apurações, fotografias e diagramação, tudo sugerido, planejado e concebido por uma turma de 7º semestre. Eles trazem nas ideias, textos e expressões o retrato da tão popular Geração Y. E o que é um experimento se não um ensaio ou livre tentativa de produzir efeitos consistentes? O Sobpressão abraça a liberdade e traça nas quinze páginas seguintes um mapa dos experimentos. Se não tivesse esse nome, penso se não seria
exagerado batizá-lo de “Livre”. A liberdade é prima da independência, ambas inspiradoras para os jornalistas. Virtudes prezadas pela turma de 2011.2, e que nos levam a apreciar e valorizar bastante esta edição. A primeira matéria é um convite a desprender-se dos conceitos prévios e ceticismos, e conhecer como os tarôs facinam homens e mulheres desde a Grécia Antiga aos dias de hoje. Dias estes em que até mesmo a sala de aula, um dos espaços sociais mais tradicionais, ganha instrumentos pósmodernos de ensino. A ferramenta didática mais em voga é o tablet. Adotado por algumas escolas particulares de Fortaleza, causou frisson ao ser estamapado em outdoors espalhados pelas cidade. Curiosos em entender como as instituições estão utilizando esses novos instrumentos, um trio de estudantes escreveu uma reportagem que conta as diferenças, verdades e mitos
da “digitalização do ensino”. De um lado, os vanguardistas, de outro os saudosistas. Enquanto algumas pessoas querem abraçar o futuro outras desejam relembrar as características de décadas passadas nas roupas, hábitos e locais de frequentação, eles são personagens de uma matéria banstante colorida, vale a pena conferir. Dentre as coisas usadas que continuam na moda estão os livros. Reunidos em estantes superlotadas de sabedoria, os livros antigos fazem dos sebos lugares muito especiais que foram mapeados também nesta edição. Os sebos de velhas histórias, nunca é demasiado frequentar. Vai que, folheando um livrinho empoeirado, a gente se depara com uma foto do John Lennon autografada? Isso aconteceu com uma aluna. Ela, honesta e inocentemente, entregou ao dono do sebo, que agora não sabe onde a relíquia foi parar, quem sabe perdeu-se em mais um livrinho, vamos procurar?
Registro fotográfico
Erramos Na edição do Sobpressão 27, a matéria “Pequenos Notáveis” é de autoria de Bárbara Sena, Jayne Coelho e Renata Maia.
Artigo
João Glaydson Galeno Silva
Autonomia, qual o limite?
SIMBIOSE: Não é de hoje que os gatos são parceiros dos homens. Assim que o homem deixou de ser nômade e passou a tirar seu sustento a partir da agricultura, novos problemas surgiram. A necessidade de armazenamento dos grãos era inevitável e logo animais oportunistas, como os ratos e outras pragas, se beneficiavam. Foi no Egito que os gatos passaram a ser utilizados para controle de pragas e a partir daí que a simbiose com o ser humano se iniciou. Hoje são eles que nos acompanham nos momentos de solidão, são eles que transformam qualquer objeto em brinquedo, e são eles que nos matam de tanta fofura. Talvez hoje eles não sejam tão importantes e tão idolatrados como outrora, mas permanecem entre nós. Às vezes, invisíveis, às vezes, não. Texto: Luiz Carlos Bomfim Foto: Damião Soares
Recentemente, alunos encapuzados ocuparam o prédio da reitoria da Universidade de São Paulo (USP) exigindo a extinção do convênio firmado pelo reitor, João Grandino Rodas, com a Polícia Militar para garantir a segurança no campus. A alegativa dos manifestantes era que o convênio com a polícia colocaria em risco a autonomia da Universidade, uma das conquistas mais importantes da democracia. O episódio me fez lembrar um fato acontecido na Universidade Estdual do Ceará hà poucos anos. Durante uma reinvidicação na Prefeitura de Fortaleza, um grupo de estudantes foi perseguido pela Polícia Militar e, em fuga, adentraram o prédio do Centro de Humanidades. Impedidos por um dos professores de entrar no local para efetuar a prisão, os militares alegavam o flagrante em contraposição à autonomia da cidade universitária. Dos acontecimentos citados emergem questões complexas, que não estão sendo debatidas pela sociedade com a profundidade necessária. Uma delas é o papel social do espaço acadêmico e, consequentemente, a contribuição do pensamento crítico em busca de uma sociedade mais justa e igualitária. Outra é como promover segurança de forma democrática sem ferir a autonomia universitária. Autonomia, liberdade e responsabilidade são faces de um mesmo objeto. A universidade é um território acima da lei? Certamente não. O limite da autonomia universitária é a própria constituição. Espaço de conhecimento e contestação, assim deve ser um campus acadêmico. A presença de uma polícia armada e ostensiva em um campus é um afronto ao livre pensamento e à qualidade intelectual. Os conflitos que vieram a acontecer, por si só, demonstram na prática o que significa a presença militar na academia. Parece um déjá-vu discutir autonomia universitária, mas se faz necessária a discussão na medida em que ela é colocada em risco. Outra questão primordial que o assunto demanda é entender como as liberdades e a democracia republicana são colocadas em risco tendo sempre como premissa o medo e a insegurança. Em setembro desse ano, um professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará foi morto em um assalto a poucos metros do local de trabalho. Crimes já aconteceram e acontecem em diversas universidades e fora delas também. A falta de segurança não é “privilégio” da USP. O que se vê é a exacerbação da força e do poder de coerção, chegando ao limite de se escutar incentivos do tipo “esses moleques mimados deveriam levar uma surra” , ou referências em forma de brincadeira ao massacre do Carandiru. “É melhor um inocente morrer do que um culpado escapar.” Essa máxima do despotismo parece que aos poucos vai sendo encravada no seio da socidade que se diz pós-moderna. Estudante do 7º semestre de Jornalismo
Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade de Fortaleza (Unifor) Fundação Edson Queiroz - Diretora do Centro de Ciências Humanas: Profª Erotilde Honório - Coordenador do Curso de Jornalismo: Prof. Wagner Borges - Disciplina: Projeto Experimental em Jornalismo Impresso (semestre 2011.2) - Reportagem: Áquila Leite , Camila Coelho, Cláudio Ângelo, Gabriel Macedo, Indira Arruda, João Romero, Jota Pê Correia, Karolina Pinto, Larissa Oliveira, Lia Girão, Lucas Leitão, Luiza Dantas, Márcia Pessoa, Patrícia Mendes, Raynna Benevides, Rebeca Marinho, Thiago Rocha- Projeto gráfico: Prof. Eduardo Freire - Arte final: Aldeci Tomaz - Professor orientador: Janayde Gonçalves - Coordenação de Fotografia - Júlio Alcântara - Revisão: Prof. Celiomar de Lima - Conselho Editorial: Wagner Borges, Janayde Gonçalves, Alejandro Sepúlveda - Supervisão gráfica: Francisco Roberto - Impressão: Gráfica Unifor - Tiragem: 750 exemplares - Equipe do Laboratório de Jornalismo (Labjor) - Estagiários de Fotografia: Damião Soares, Jonhally Gurgel, Melyssi Peres, Mahamed Prata- Estagiário de Produção Gráfica: Fernanda Carneiro - Estagiários de Redação: Giselle Nuaz, Marília Pedroza, Renata Frota.
Sugestões, comentários e críticas: jornalsobpressao@gmail.com
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Já estava escrito no jogo das cartas e das profecias acreditam ao ponto de realizar consultas semanais, outros acham que as cartomantes se valem de outros meios, como as próprias perguntas ou a leitura corporal, para descobrir mais sobre o consulente. No caso de Nelise, essa teoria não é válida – ela só faz consultas pela Internet, por Skype ou MSN, sem ver a pessoa. “Quando eu olho a pessoa, eu julgo. A pessoa que eu vejo é diferente da pessoa que eu olho. Eu quero olhar pro espírito dela, não pro corpo”, explica.
Apesar do preconceito, as cartomantes ainda são muito consultadas, principalmente por mulheres, para fazer previsões sobre relacionamentos e negócios Indira Arruda
O ser humano está sempre em busca da felicidade, que tem significados diferentes para cada pessoa. Para uns, é o encontro com sua alma gêmea; para outros, uma grande oportunidade profissional ou até mesmo a descoberta de seus dons. Seja o que for, muitos precisam de ajuda nessa busca, e não são raros os que confiam essa missão aos cartomantes. Admirados por uns e desprezados por outros, eles já até serviram de inspiração para o conto “ A Cartomante” de Machado de Assis. Não se sabe exatamente quando a cartomancia surgiu. Segundo alguns estudiosos, a adivinhação através das cartas se popularizou graças aos ciganos da China antiga. Para outros, no entanto, os árabes foram os responsáveis, quando invadiram a Península Ibérica. Em Fortaleza, os anúncios de cartomantes podem ser vistos em incontáveis muros e postes. Entretanto, o assunto ainda é tratado com muito preconceito. A desconfiança parece ser recíproca – das seis cartomantes procuradas na capital, apenas Irmã Janaína concordou em dar entrevista. No Brasil, uma das pessoas que introduziram o tarô foi a cartomante Nelise Vieira, que realiza consultas há 33 anos. “Na época em que eu iniciei, havia poucas pessoas que trabalhavam com essas coisas em geral. Nós iniciamos o uso do ocultismo pra psicologia, pro autoconhecimento”, conta. Aliás, foi esse grupo que primeiro fez previsões para jornais e revistas. Para ela, o mais importante da consulta às cartas e tarô não são as previsões em si, mas a chance de adquirir autoconhecimento e uma percepção mais profunda da realidade. “O símbolo é uma linguagem universal. Aquela figurinha [na carta] traz em você uma sensação, aquilo que a gente pensa, como a gente elabora a realidade. Os símbolos ajudam a elaborar a realidade, o que está acontecendo. As previsões são decorrência”, explica. Ainda que essa procura por respostas seja constante, os homens parecem ainda não estar muito à vontade para consultar cartomantes. Segundo Nelise,
A cartomante Nelise realiza consultas há 33 anos. Para ela, o tarô ajuda as pessoas a descobriem seus dons e pontos fortes Foto: ARQUIVO PESSOAL
80% dos seus consulentes são mulheres, a maioria com mais de 30 anos. “Os homens procuram mais quando querem saber de negócios”, diz. Irmã Janaína, que realiza consultas em Fortaleza, confirma o dado: “Geralmente, são mais mulheres, que me procuram para saber sobre casos amorosos.” Se uns se decepcionam com a falha das previsões, outros se mostram surpresos diante da precisão com que a cartomante “adivinhou” o que e até mesmo quando aconteceria. A polêmica é enorme: enquanto alguns
Nelise Vieira
O destino está determinado pelos dons. Não acho que tem fatos que estão predestinados a acontecer, mas tem certas coisas entre o céu e a terra que a gente desconhece. Cartomante
Destino ou escolha? Outro ponto muito questionado é o quanto as pessoas se deixam influenciar pelas previsões e conselhos. Para Irmã Janaína, isso não deve ser um motivo de preocupação para os cartomantes. “Não me sinto responsável. Até porque depende da cabeça da pessoa. Ela tem a atitude de tomar suas próprias decisões”, afirma. A opinião de Nelise é bem diferente: “Eu tento o máximo possível fazer com que a pessoa entenda que vou usar minha clarividência pra ajudar a entender quem ela é, o que ela está passando, o que ela tem de especial. É nesse sentido que minha influência é forte. Tem muita responsabilidade”. Diante da possibilidade de ter tantos fatos do futuro revelados em alguns minutos, é inevitável se perguntar se nosso destino realmente é predeterminado ou se ainda temos chance de modificá-lo. “A pessoa pode mudar seu destino. As atitudes fazem isso”, diz Irmã Janaína. Já Nelise acredita que os dons de cada pessoa são responsáveis por fazer com que o destino “flua” da maneira certa. “O destino está determinado pelos dons. Quando você descobre quais são seus dons, você está no fluxo certo do rio, daí dá a impressão do destino. O seu dom determina o seu destino”, afirma.
Saiba mais
O tarô O tarô esotérico é constituido de 78 arcanos e se encontra dividido em dois grandes grupos. Os arcanos maiores possuem 22 símbolos arquetípicos que revelam os estados latentes das ideias e possibilidades da vida. Já os arcanos menores, que expressam os resultados e as formas das ideias, contidos no primeiro conjunto, formavam um total de 56 arcanos distribuídos por quatro símbolos básicos: o Naipe de Ouros, o Naipe de Espadas, o Naipe de Copas e o Naipe de Paus. Por sua vez, cada naipe, possui dez arcanos numerados e quatro arcanos com figuras da corte medieval.
Séculos XIX e XX Tarô egípcio Utiliza a simbologia do Livro dos Mortos Egípcio. Os Arcanos seguem o princípio de que todo homem nasce provido de dons e conhecimentos que devem ser desenvolvidos para a realização da grande Tarefa de contribuir para a evolução e aperfeiçoamento do Universo. Não se sabe exatamente quando ele surgiu, mas sua popularização na Europa aconteceu nos séculos XIX e XX.
Enquete
Você acredita em cartomantes? “Não acredito. Acho que elas não adivinham nada. O que fazem é ler os sinais corporais que lhe passamos na consulta. Nossas ansiedades, desejos... os gestos falam muito de uma pessoa, e cartomantes são mestres nisso, acredito. Minha mãe, irmã, alguns amigos já foram e elas não acertarem nada.” Nágila Angelim servidora pública
“Como ainda não podemos provar a veracidade das ‘adivinhações’, acho que dá margem tanto para pessoas acreditarem, quanto para charlatões. Acho que elas falam muitas coisas óbvias. Talvez estivesse perdendo uma grande oportunidade, mas eu não procuraria uma cartomante.”
“Eu já fui e acredito! Deus realmente dá esse dom a determinadas pessoas! Acredito, quando se trata de uma dessas. Tenho muitas histórias boas em relação a Tarô, de previsões que se realizaram. As cartas realmente falam. Porém, existem aproveitadores. Temos que ter cuidado! ”
Marcos Morais coordenador de TI
Vânia Andrade servidora pública aposentada
Séculos XV e XVI Tarô de Marselha Surgiu nos finais do século XV e XVI e logo se destacou entre os sumptuosos jogos. Teve grande influência sobre muitos jogos que surgiram nos finais do séculoXVIII e início do século XIX, época especialmente apaixonada pelo oculto e na qual se deu um grande incremento do tarô.
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Saudades do que não vivi
Saiba mais...
Onda retrô: jovens entre 20 e 35 anos que têm preferência por estilos das décadas de 1950, 1960, 1970 e 1980. Foto colagem: Lucas Leitão
Eles são jovens da atualidade, porém vivem de tendências do passado, seja por meio de música, filmes ou moda. São personagens que “nasceram na época errada” Lucas Leitão e Patricia Mendes
“A partir dos anos 50 tivemos movimentos contestadores significativos. O rock n’ roll, muito influenciado pelo blues e pela música negra, trazia uma nova proposta artística e uma revolução social, com novos valores”. Relata o professor e Coordenador do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade de Fortaleza, Carlos Eduardo Bittencourt. Ele, que também é músico, conta, com entusiasmo, como as décadas da segunda metade do século XX inovaram todo o vestuário, comportamento e gosto das gerações que viriam a partir daí. Vemos uma diversidade e uma particularidade de estilos desde os anos 50. Ilustram o poder dos jovens em sedimentar o seu tempo e suas vontades.
Toda esta trajetória destas décadas passadas nunca estiveram tão em voga quanto atualmente para estes jovens. Em Fortaleza podemos identificar estas manifestações em lugares de descontração, como bares e restaurantes temáticos, podendo sempre pessoas que se identificam com esses estilos. Tina Paulo tem 25 anos, trabalha com moda, música, fotografia e é uma dessas pessoas que vivem o estilo da época não vivida. No caso dela, sua paixão é a década de 1950. Tina é estilista e possui uma marca própria chamada Stranger Style, que produz bolsas femininas usando como material discos de vinil, dando todo um charme vintage em suas produções. A estética dessa década também a atrai, pois ela mantém o corte de cabelo e a maquiagem inspirados em pin-ups, modelos que se utilizavam de um sutil erotismo, posando para artistas, calendários ou campanhas publicitárias. Hoje tocando guitarra em duas bandas, uma de blues e outra de rockabilly, ela conta que gostaria de ter presenciado o surgimento do rock n´
roll, um show de Elvis, de Chucky Berry e toda aquela fase de revolução musical e comportamental. “Os anos cinquenta pra mim representam o rock e minha vida”, afirma. Criatividade nos anos 60 Essa fase abriu as portas para os movimentos dos anos 1960, estes representados aqui por Joicy Muniz, de 24 anos, que está concluindo a faculade de Jornalismo e trabalha com moda. Ela busca suas maiores influências nessa década e a divide em três momentos: o yeah yeah yeah, o movimento flower power com sua psicodelia e os primórdios do punk rock, também chamado de proto-punk. “Os anos sessenta foram os mais criativos de todos os tempos”. Nessa época a moda teve grande ícones que a influenciam bastante, tanto no seu trabalho como jornalista e produtora de moda, quanto na maneira de se vestir. Ela cita as clássicas minissaias de Mary Quant, os vestidos tubinhos de Saint Laurent, o surgimento do prêt-à-porter de luxo, o estilo da modelo Twiggy e o futurismo do famo-
so Pierre Cardin como principais referências. Diante de tantas inspirações, Joicy mantém um blog há quatro anos focado no universo retrô chamado “Vintage Guide”, que apresenta um layout inspirado em ícones da Pop Art e conteúdos que abordam temas como
moda, música e outros assuntos relacionados ao que foi citado. O blog hoje é referência quando se trata de tendência vintage (www.vintageguide. blogspot.com) no Ceará e foi ganhador do prêmio de melhor blog de moda do Estado no ano de 2010.
Tina Paulo 50’s Banda/cantor favorito da década? Johnny Cash, Elvis e a Wanda Jackson. Filme favorito? As noites de Cabíria Um momento da década de 50 que gostaria de ter vivido? No momento que surgia o rock n’ roll (rockabilly) entre 1955 e 1956. Disco/música favorita da década? Disco: Johnny Cash with his hot and Blues Guitar Música: Folsom prison blues
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Inspiração nas décadas de 70 e 80 Em seguida temos a década de 1970, que atualmente é revivida intensamente por Saulo Raphael, de 35 anos, que também trabalha com música tocando em uma banda de punk rock, além de atuar como organizador e DJ de festas com vinil. Para Saulo, os anos 70 tiveram bastante diversidade musical. Suas maiores influências são o surgimento do punk, a funk music e o power pop. Ele conta que todos os dias se imagina na pele da pessoa que viveu tudo o que aconteceu nesse período, principalmente a fase do começo da década, onde a cidade de Nova Iorque foi berço de grandes nomes da música, principalmente do punk. “É incrível como tudo acontece na década de 1970; fico imaginando como deve ter sido viver tudo isso, gostaria de ser esta pessoa”, reflete. “Beleza e descontração”, é assim que a designer gráfica Fabianny de Alencar, 25, define a sua época favorita, os anos 80. Quando sai à noite, dá quase sempre preferência a bares que tocam flashbacks. Toda vez que toca a música Bizarre Love Triangle (lançada em 1986), do grupo britânico New Order, ela para tudo o que estiver conversando ou fazendo, para apenas contemplar a faixa. Ela não tem discos preferidos, mas canções que, se possível, são postas em seleções ou em repetição constante. “Não tenho
Saiba mais
O que é? Rockabilly É um dos primeiros sub-gêneros do rock and roll, tendo surgido no começo da década de 1950. Proto-punk Termo que descreve importantes precursores do punk rock em meados dos anos 1960 e começo de 1970. Vintage Aquilo que remete ao passado, recuperação de estilos das décadas de 1920, 1930, 1940, 1950 e 1960. Prêt-à-porter Vem do francês “prêt” (Pronto) e “à-porter” (para levar), se traduz “pronto para vestir”. Blaxploitation Movimento cinematográfico norte-americano dos anos 70. A palavra é uma junção de “black” e “explotaition”. Krautrock Estilo de bandas experimentais na Alemanha do fim da década de 1960 e começo da década de 1970 Fonte: Associação Brasileira dos Produtores de Discos
um disco favorito porque gosto de montar seleções. Mas minhas músicas favoritas geralmente são Bizarre Love Triangle, do New Order, Enjoy the Silence(1990), do Depeche Mode e Everybody wants to rule the world(1985), do Tears for fears”. Seu gosto por este acervo se deu porque, até o começo dos anos 90, a música da década anterior dominava parte da programação das rádios. Além Saulo Raphael
É incrível como tudo acontece na década de 1970; fico imaginando como deve ter sido viver tudo isso, gostaria de ser essa pessoa. Músico
disso, desde criança, gostava de escutar os discos dos pais. Ela tem, em conjunto com um amigo, um blog para falar sobre a cultura e a moda da década, o 80Wave (www.80wzave.blogspot.com).Para ela, a moda extravagante dos anos 80 também tem seu charme. Se fosse possîvel, comenta, usaria ainda hoje ombreiras e roupas que eram caracteristicas da época.
Entrevista
A cena alternativa-retrô O DJ Dado Pinheiro, 37, é um dos mais influentes nomes da noite Fortalezense, principalmente em matéria de realizar eventos em torno do rock alternativo e de festas temáticas, caracterizadas principalmente por tocar grandes sucessos das décadas anteriores, principalmente dos anos 80 e 90. Na noite Fortalezense, os eventos temáticos têm ar alternativo e chamam um público fiel, que frequenta fortemente as festas do Noise3D (idealizado por Dado) dentre outras, como Era 80, Megadrive e o famoso Fliperama, que acontece com bastante frequência no bar cultural Acervo Imaginário, perto do Centro Dragão do Mar. Sobre o fenômeno da preferência de muitos jovens pelo que já é passado, ele responde: ”Acredito que seja uma forma de absorver coisas passadas, ouvir algo que era muito legal de dançar em certa época, e muitas vezes não tinha chance de ir a uma casa noturna onde pudesse ouvir os bons sons, vestir roupas relacionadas ao tema, entre outras coisas, como ver filmes, clips etc.”
Serviço Projeto Noise3D http://www.facebook.com/groups/ projeton3d/ http://projetonoise3d.blogspot.com/
Ângela Julita
Idealização de um passado romântico A socióloga Ângela Julita de Carvalho dá algumas explicações sobre a preferência desses jovens por tudo que vem do passado. Ela afirma que as décadas anteriores foram realmente muito criativas e apresentam muitas riquezas, mas que também é preciso valorizar o presente Pergunta - Como você explica o gosto desses jovens por décadas passadas? Resposta - Acredito que a atualidade não apresenta tanta riqueza cultural quanto anteriormente, fazendo que busquemos resgatar toda essa criatividade de alguma forma.Há também uma certa “romantização” do passado, pois como não viveram tal época, pegam para si somente as coisas positivas dela e a idealizam com total perfeição. Algumas coisas atuais já estão esgotadas e as décadas passadas são uma grande riqueza cultural e de produções artísticas. Pergunta - Você acredita que a globalização e a Internet contribuiram para isso? Resposta - Sim, pois na Internet encontramos a disposição tudo que queremos buscar de informações dessas épocas. Temos acesso à toda essa riqueza e isso facilita tal identificação com determinada década. Pergunta - Você acha que essa super valorização do passado é algo positivo? Resposta - Apesar de querermos viver em outra época, precisamos também valorizar nosso presente,sabendo distinguir sua qualidade e tendo consciéncia de que todas as épocas tiveram seus pontos negativos e positivos.
Saulo Raphael 70’s Porque a década de 70 te atrai? Os anos 70 começam bem exagerado e terminam em um estilo minimalista. Filme favorito Os Viciados / Al Pacino. Um momento da década de 70 que gostaria de ter vivido? Proto Punk/Punk Rock de New York City. Disco/música favorita da década? Oh Babe, do Van Duren e Ballad of el Goodo, do Big Star.
Saulo (ao centro de chapéu) com sua banda de punk rock
Joicy Muniz 60’s Porque a década de 60 te atrai? A forma de se vestir se tornava cada vez mais ligada ao comportamento, a música ultrapassou todas as expectativas e tivemos uma revolução na história e estrutura do rock n’roll. Banda/cantor favorito da década? A banda The Velvet Underground, apadrinhada pelo ícone da pop art Andy Warhol. Filme favorito? A adaptação de Stanley Kubrick da obra de Nabokov: Lolita. Um momento da década de 60 que gostaria de ter vivido? O festival Woodstock. Disco/música favorita da década? The Velvet Underground & Nico.
Fabianny de Alencar 80’s Quais são suas maiores influências dessa década? David Bowie, Debbie Harry e Madonna. Filme favorito? Quero ser grande e Vivendo a vida adoidado. Banda/cantor favorito? Pet Shop Boys. Para você, o que melhor define os anos 80? Beleza e descontração. Disco/música favorita? Bizarre Love Triangle - New Order, Enjoy the Silence - Depeche Mode e Everybody wants to rule the world - Tear for fears.
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Sebos não saem de moda
Entrevista Geraldo Paulo Duarte
Homem de negócios e família, seu Geraldo é hoje o dono do mais bem sucedido sebo do Centro de Fortaleza Sobpressão – O senhor sempre quis vender livro? Costuma ler muito? Geraldo – Não, leio não. O negócio é o seguinte: o povo vinha vender, vendia livros e revistas usadas. Aí começou aquele negócio, e o jeito que tinha foi vender também. Eu leio muito pouco. Não tenho muito estudo, então leio poucos livros. A prática da leitura tradicional não deixa de ser uma atividade prazerosa quando o ambiente e a interação com o livro são especiais
Sebos antigos e estreitos no Centro da cidade são fontes de obras difíceis de serem achadas. Conheça os donos destes lugares e descubra onde encontrá-los Camila Coelho, Gabriel Macedo, Karolina Pinto e Márcia Pessoa
Todos os dias seu Geraldo acorda às cinco horas da manhã. Ao se levantar, dá comida aos gatos e cachorros que cria em sua casa, providencia aos filhos e esposa o café da manhã e se prepara para a jornada de trabalho que vai cumprir no Centro de Fortaleza. Do Jardim Jatobá até a livraria que leva seu nome, a viagem é longa e cansativa, mas foi no bairro da Praça do Ferreira e do Theatro José de Alencar que seu Geraldo construiu sua carreira profissional. Para o homem que começou vendendo revistas e livros usados nas calçadas da rua Guilherme Rocha, em seguida na Barão do Rio Branco e depois na Senador Pompeu, o espaço que criou na antiga sede da Coelce, que também já foi casa de ex-general do Exército, não vai nada mal. Ali, juntamente com Estela Alves e mais dois funcionários, seu Geraldo mantém o negócio de vender livros e sus-
tenta não apenas sua família, mas as de seus funcionários. Até atende, todas as sextas-feiras, ao pedido de mulheres que vêm da rua à procura de alguns trocados. As estantes abarrotadas e os estreitos corredores de seu Geraldo impressionam desde estudantes do ensino fundamental e professores do ensino público até turistas e historiadores. O cliente que vai pesquisar sobre um assunto geralmente chega buscando determinada obra, mas é no procurar lento e descompromissado que se encontram as mais curiosas dedicatórias manuscritas, registros de afeto, sentimentos de amor e gratidão, nomes, assinaturas e datas curiosas, carimbos, bilhetes, anotações, desenhos, ou até mesmo cédulas e fotografias esquecidas entre páginas. Seu Geraldo mesmo tem sobre sua mesa de trabalho uma série de relíquias prensadas num tampo de vidro à exposição de quem entra. Alternativa às livrarias Os sebos são uma boa opção diante dos preços e do acervo das empresas líderes em livraria, às vezes pouco atraentes. A alternativa, contudo, exige paciência e tempo, pois pode ser árdua a tarefa de garimpar nas dezenas de estantes ao re-
dor Sorte também é um fator que concorre para que se encontrem títulos raros ou fora de catálogo, já que essa procura nem sempre é bem sucedida em livrarias de grande sucesso. A era digital e as novas tecnologias, no entanto, parecem ameaçar o mercado editorial, mas seu Geraldo é bastante incisivo ao defender que não tem medo do futuro de seu negócio. Apesar de encorajado algumas vezes a vender o local e assegurar sua renda, ele se recusa e pontua que “tem a pessoa que gosta de ler manuseando, segurar o livro e sentir o cheiro”. Ainda acrescenta que alguns clientes alegam que se ele decidir informatizar o serviço e colocar tudo num sistema de computador, deixariam de frequentar o sebo. De fato, o ambiente é para ser explorado livremente, descoberto às escuras e no caso do sebo de seu Geraldo, com a ajuda eficiente de Estela Alves, que trabalha há onze anos com ele. Lá os livros variam entre R$ 1 e R$ 300, dependendo da raridade e tamanho. Seu Geraldo diz não se importar muito com livros tão difíceis de se achar, mas que não deixam de ser uma boa oportunidade. Sua preocupação maior é com os livros educativos e didáticos. Seus filhos fazem mais uso da
Foto: Márcia Pessoa
Internet para fazer consultas e pesquisas escolares, mas a turma dos colégios mais próximos sempre está presente ao final das aulas do dia. Pechincharás sempre O verdadeiro amante dos sebos conhece bem os mandamentos que configuram esse comércio. Além do preço barato, descontos negociáveis e chances irrecusáveis, um deles aponta para que não se julgue o sebo pela aparência, porque até as lojas mais simples e empoeiradas podem ter edições preciosas ou interessantes. Já outro mandamento alerta para o estado de conservação dos livros: “Examinarás o livro antes de comprá-lo: você pode acabar levando uma comunidade de traças e cupins ou um livro faltando a página com o clímax”. Afinal, estar num sebo é não se preocupar com o que se procura, e lá também vale a regra da aparência: manchas e capas rasgadas muitas vezes significam descontos.
Serviço Sebo O Geraldo: Rua Vinte e Quatro de Maio, 950 – Centro / Tel.: (85) 3226.2557 Cantinho das Novidades: Rua Pedro I, 984 – Centro / Tel.: (85) 3253.6886
Enquete
Você prefere ler livros no papel ou por meio da Internet? Aos leitores de hoje foi perguntado se eles preferem o contato físico com os livros ou a leitura virtual de títulos digitais. As opiniões são controversas, mas bem fundamentadas. “Eu coleciono livros porque gosto de ter o material, pegar e sentir. No computador o contato é muito artificial.”
“No computador tudo te distrai. No livro você se concentra e viaja. Pode deitar num lugar e ficar tranquilo.”
“É melhor ler o impresso do que ficar baixando livros pela Internet. Demora muito e às vezes não tem o livro completo.”
“Gosto da sensação de ter o livro em mãos, poder folhear e sentir o cheiro das páginas.”
Alessandra Barreto, 23 anos Estudante
Camila Carvalho, 23 anos Publicitária
Fabia Oliveira, 17 anos Estudante
Luciana Carvalho, 34 anos Dona de casa
Sobpressão – O senhor tem um grande estímulo para manter esse negócio? Geraldo – A minha vida é isso aqui. Esse é meu estímulo. Muita gente depende disso, então... São umas doze pessoas ou mais, porque tem os funcionários, né? E os funcionários têm filhos... Sobpressão – Aqui é bastante frequentado por intelectuais. O senhor não tem vontade de colocar um espaço só para um bate-papo cultural? Geraldo – Eu tenho vontade, mas eu acho que aqui é pequeno. Se esse prédio fosse meu, eu já tinha feito isso. Sobpressão – Com essa tecnologia o senhor tem algum medo do futuro? Geraldo – Tenho não. O povo diz: “Vende isso aqui, que o livro vai se acabar”. Vai nada! Tem perigo de o livro se acabar não. Porque tem a pessoa que gosta de ler manuseando, segurar o livro. Sentir o cheiro, né? É o que eu vejo aqui. Tem gente que se enterra aqui dentro. Sai daqui com a sacola, alegre e muito satisfeito. Vem turista de fora, chega aqui e compra, acha bom o ambiente, e tal. Só não é melhor aqui porque não tem condição. É muito livro. Tem gente que vem aqui só se deitar, sabe? Tem freguês que vem aqui todo dia querendo só tomar café. Aí dá só prejuízo. Sobpressão – O senhor pensa em informatizar? Usar um computador com o registro do acervo, fazer um controle de venda? Geraldo – Tem muito freguês com quem eu tenho conversado que diz: “rapaz, no dia que o senhor colocar um computador e informatizar tudo, eu não entro mais aqui.” Porque informatizando o povo não pode entrar. Tem que ficar todo mundo aí pedindo os livros. E aqui não tem esse negócio.
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Livros abandonados estrategicamente Comprar livros no Brasil ainda é muito caro e acaba tornando a prática da leitura ainda mais difícil. Não adianta, contudo, apoiarse nessa realidade e não aproveitar todo conhecimento que esse hábito pode propocionar. Os sebos estão aí para, além de movimentar o comércio de livros, aproximá-los ainda mais das pessoas. Outra forma bastante divertida de compartilhar uma boa leitura é participar das correntes culturais de abandonar livros em lugares estratégicos como pontos de ônibus ou bancos de praças, para que outras pessoas encontrem-os , leiam e os deixem novamente. Para que isso funcione, é necessário colocar em anexo um pequeno texto explicando que o livro foi abandonado de propósito e que seja feita outra doação de um outro ou do mesmo após a leitura. A advogada ambiental e exprofessora da disciplina Sociedade da Informação e Novas Tecnologias, Geovana Cartaxo, utilizava o mesmo projeto em todas as suas turmas. “A ideia da atividade buscava sensibilizar nos alunos a capacidade de colaboração que a Internet proporciona, principalmente envolver os alunos em um fazer colaborativo”, afirma. Livros viajam pelo mundo Algumas dessas correntes no Brasil são compartilhadas pelos blogs, sites ou redes sociais, criadas especificamente para esse fim. A prática nasceu nos Estados Unidos em março de 2001 pelo empresário californiano Ron Hornbaker. Trata-se de uma combinação de espontaneidade, aventura, altruísmo e gosto pela leitura. Além disso, muitos são os livros que são lidos apenas uma vez. Por que não colocálos então a viajar pelo mundo e levá-los ao encontro de novos leitores, em vez de deixá-los enconstados nas estantes? Essa ideia foi concretizada no
Contribuição: doe um livro, participe da corrente cultural Foto: Márcia Pessoa
lançamento do site Bookcrossing (www.bookcrossing.com). Ao encontrar o livro abandonado, a pessoa percebia em sua contracapa a indicação de acesso ao site, que explicava mais sobre a iniciativa. A página também possui o propósito de que as pessoas registrem suas experiências após ter encontrado o livro. Há dez anos o Bookcrossing vem crescendo consideravelmente. Tendo a Cingapura como primeiro país oficial, a comunidade possui mais de 850 mil membros espalhados pelo mundo. Entre os países que aderiram a este movimento estão a Austrália, Portugal, Estados Unidos e o Brasil. Em Brasília, o proprietário de um açougue adotou uma proposta também interessante. Criou o projeto Açougue Cultural, que consiste em distribuir estantes em paradas de ônibus, onde as pessoas podem deixar e pegar livros para se distrairem enquanto esperam. Outras iniciativas inspiradas com a mesma finalidade são o Perca um Livro (www.livr.us) e o próprio Bookcrossing na versão brasileira. Você também pode aderir a essa iniciativa. Mas não se esqueça: antes de deixar o livro no local, você deve escrever e/ou digitar e colar uma mensagem explicativa no verso da primeira capa. Participe!
Artigo
Luís de Sousa Girão
Os tablets, as livrarias e os sebos Os livros de papel expostos nas grandes livrarias já são de difícil aquisição, dado o preço a que são comercializados. Atualmente aparecem os famosos tablets, com a pretensão de num só volume eletrônico, substituir os livros de papel. São capazes de acumular um acervo constante de informações, reunindo muitas obras existentes nas grandes bibliotecas do mundo, desde a invenção da imprensa por Gutenberg. Não restam dúvidas de que essa é uma tarefa hercúlea, mas apesar de já vivermos em plena era digital, o escritor e conferencista americano Clay Shirk tem admitido: “apesar do progresso, ainda será necessário esperar décadas até que seja descoberto um mecanismo digital de busca que seja tão diferente e confiável quanto a bela e boa biblioteca”. Como não se pode nem se deve duvidar do progresso da informática, continua o impasse, pois os que não possuem poder aquisitivo para comprar sequer os livros novos nas grandes livrarias, como irão adquirir os tablets ou outra modalidade de informador eletrônico? Como diz a expressão latina “spes est ultimum mori”, os pobres, além dos buscadores de obras raras, terão de recorrer às livrarias populares, denominadas injustamente de “sebos”. E até que gostaríamos de criar em Fortaleza um sebódromo, bem arquitetado, iluminado com aquela luz infravermelha, utilizada nos centros cirúrgicos. Dessa forma atrairíamos inclusive os turistas aficionados em obras raras e livros de autores cearenses, nunca encontrados nas livrarias, com exceção dos merecidamente publicados pela escritora Raquel de Queiroz. Dessas casas de livros populares que costumamos frequentar em função do bom preço cobrado, está a Casa de Livros do Geraldo. Ali, costumamos, aos sábados, manter um papo literário com intelectuais sob os auspícios de um saboroso cafezinho servido por dona Estela, que, dada a sua prática, aliada a sua boa vontade, nunca deixa de encontrar o livro porventura procurado, a não ser que ele não conste naquela casa. Escritor e serventuário aposentado da Justiça Estadual Autor de Dr. Wanderley Girão: Delegado Padrão e outras glórias da Família Girão
Saiba mais
Endereços de alguns sebos Sebo O Geraldo Rua 24 de Maio, 950 Centro
Cantinho do Livro Rua Gal. Sampaio, 1375 Benfica
Estação do Livro Rua Pedro Pereira, 1009 Centro
Taberna Libraria Rua Cel. Alves Teixeira, 2090 Joaquim Távora
Antiquário do Livro Rua Jovita Feitosa, 2695 Amadeu Furtado
Livraria Arte e Ciência Rua 24 de maio, 950 Centro
Novas oportunidades e iniciativas inovadoras Com o avanço das novas tecnologias e da Internet, a busca por livros antigos ou raros se intensificou e acabou se tornando mais fácil e cômoda. Os leitores têm a possibilidade de procurar por uma obra em diferentes sites, simultaneamente, como acontece com a maior rede de sebos do Brasil, a “Estante Virtual”. Nela, estão reunidos 1.911 sebos e livreiros de 328 cidades do país. De acordo com a própria página na Internet, mais de 80% das qualificações são consideradas ótimas. Lá, todos os leitores cadastrados podem criar sua própria “estante virtual” para vender livros do seu acervo pessoal para um grupo com milhões de leitores. Para quem compra, a economia média é de 50% de desconto. Ao contrário do que se pensa, a Internet não trouxe uma queda de vendas em relação às livrarias. Apesar da disponibilidade de livros virtuais que podem ser extraídos na rede, os sebos ainda se mantêm vivos e conquistam, cada vez mais, seus lugares no mercado. Este é o caso da cearense Albaniza Alves, 46 anos, que depois de dez anos comercializando na própria loja, decidiu virtualizar seu acervo com a ajuda da neta. Segundo ela, que antes administrava um armarinho, sua renda aumentou consideravelmente depois da digitalização. “Não me arrependo. Troquei minha loja de miudezas pertinho de casa, e agora tenho que pagar um aluguel caro, mas o contato com esse tipo de clientela é muito melhor”, confessa. Há um ano ela vende para todo o Brasil, tendo os estados do Rio de Janeiro e São Paulo como destaque no número de compras. As transações são feitas por meio do site Mercado Livre, e seu perfil na página mostra qualificação e reputação positivas. Bastante atenciosa com seus clientes, dona Albaniza trabalha no sebo especializado em revistas e discos em vinil. Nos sebos virtuais pode ser encontrado mais que livros raros ou esgotados. O portal Sebos Online, por exemplo, disponibiliza um amplo e variado acervo de revistas, gibis, CDs, DVDs e VHS. Serviço Estante Virtual www.estantevirtual.com.br Mercado Livre www.mercadolivre.com.br Sebos Online www.sebosonline.com Livros Difíceis www.livrosdificeis.com.br
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Substitui? O uso de novas tecnologias nas escolas gera polêmica. O Sobpressão ouviu três escolas do Estado para entender a metodologia de cada uma. Saiba aonde elas pretendem chegar Áquila Leite, Lia Girão e Raynna Benevides
Se em 1911 alguém falasse que dali a 100 anos as escolas usariam tablets, computadores e lousas que projetariam o conteúdo em três dimensões nas salas de aula, ninguém acreditaria. Mas esse futuro chegou, assustando alguns e empolgando outros, e, sobretudo, trazendo muitas dúvidas sobre como serão utilizados esses novos recursos. Para a professora e pesquisadora da área de educação da Unifor, Xênia Benfatti, os equipamentos eletrônicos não irão substituir os livros. O que muda é o suporte em que eles serão apresentados, passando do papel para o digital, fato que permite uma maior interação entre o estudante e o conteúdo apresentado. Para os alunos, a inovação promete vários benefícios. Aquelas ligações químicas, por exemplo, difíceis de imaginar quando desenhadas nos quadros brancos, agora serão projetadas em 3D, permitindo que o aluno veja o objeto como ele se apresenta na natureza microscópica. Além disso, aplicativos nos tablets permitem que os alunos vejam corpos humanos e animais perfeitamente representados para uma aula de anatomia digital na sala de aula. Três grandes escolas de Fortaleza que já estão em fase de testes e adaptação quanto ao uso de tablets e lousas digitais em sua didática afirmam que os equipamentos eletrônicos vieram para dar ao aluno uma nova mídia de estudo, e não para retirar a antiga metodologia de ensino com livros e aulas presenciais. Andrey Barbosa, gerente de tecnologia da informação do colégio Ari de Sá afirma que “o material didático para os iPads será o mesmo que é entregue em apostilas; haverá somente uma digitalização do conteúdo, para que este seja visto nos monitores dos aparelhos durante as aulas”, permitindo que o aluno manipule, passe as páginas e
A evolução dos instrumentos técnicos de ensino Para chegar às tecnologias que conhecemos hoje, as escolas passaram por um processo de modernização que durou décadas. Conheça um pouco desse processo.
faça anotações na apostila digital da mesma maneira que faria na de papel. O Colégio 7 de Setembro também aposta na utilização de tablets, mas somente nos laboratórios de informática e nos momentos finais das aulas tradicionais, como uma forma mais dinâmica e lúdica de aprendizado complementar. As escolas utilizarão os aparelhos eletrônicos de maneiras diferentes, e diferente também será a relação do aluno com o tablet. No Ari de Sá, como se trata de um projeto-piloto, a utilização dos tablets será restrita a três turmas por sede, e o aluno que escolher participar dessa turma deverá comprar o seu próprio equipamento, que precisa atender a algumas especificidades determinadas pela escola, como não ter acesso à internet 3G e ter o monitor com tamanho igual ou maior que 9.7 polegadas. No colégio 7 de Setembro, os eletrônicos serão de posse da escola, e estarão disponíveis para uso dos alunos em laboratórios específicos para isso e na biblioteca. Monitores darão suporte aos professores durante as aulas com os tablets para ajudá-los e assegurar que os alunos estejam, de fato, utilizando o aparelho conforme o que está sendo ensinado.
Tablets: a ideia das escolas é tornar o ensino dinâmico e lúdico por meio do uso de aparatos tecnológicos
Já no Christus, a prioridade tecnológica é outra. O setor de marketing da escola afirmou que, a partir de 2012, todas as salas terão lousas digitais incorporadas à sua infraestrutura. Os alunos utilizarão óculos que permitirão a visualização do conteúdo em três dimensões. Os tablets já estão sendo testados, mas ainda não há previsão
para a aplicação integral dos dispositivos em salas de aula. Opiniões distintas Essa nova maneira de ensino, no entanto, gera opiniões controversas, como a da deputada Dra. Silvana (PMDB), que demonstrou estar preocupada com a utilização de equipamentos eletrônicos nas salas de aula
Enquete
Você concorda com o uso de novas tecnologias nas escolas? A utilização de tablets, lousas digitais 3D e outros equipamentos tem gerado opiniões divergentes dentro e fora das instituições de ensino. “Acho que muitos estudantes ainda não estão preparados para uma mudança dessa, pois não têm o costume de usar as novas tecnologias para estudar para valer. Mas, se as escolas estão determinadas a implementar esse novo método de ensino, que deixem os alunos decidirem se querem ou não utilizar os aparelhos.” Ana Maria de Assis Estudante de Direito
“Se olharmos o lado prático da coisa, veremos que os alunos não terão mais necessidade de carregar montes de livros todos os dias. Para quem anda de carro é mais fácil, mas e quem tem que enfrentar um transporte público? Acho que os livros de papel ainda devem existir, mas deixando de ser a base do ensino em sala de aula. “ Wilson Oliveira Estudante de Engenharia Mecânica
“A tecnologia vem dinamizar o aprendizado, mas não devemos nos acomodar e depender dessa tecnologia para fazer as análises sem saber do centro do problema. As escolas podem se apropriar da tecnologia, para se manter atualizadas, mas é preciso ter a percepção de que o formato de ensino também deve ser mudado.” Alano Bastos Estudante de Engenharia Ambiental
Foto: Raynna Benevides
e com o risco que os estudantes correm ao se exporem aos “perigos da internet”; e a do, também deputado, Professor Teodoro (PSDB), que afirmou ter dado entrada a um projeto de lei para regularizar o uso de tablets, smartphones e similares nas escolas carenses. Ele acredita que esse pode ser um avanço positivo para a educação, mas que não deveria ficar restrito às escolas particulares. A psicóloga e psicodramatista Sherydan Gomes explicou que tudo dependerá da maneira como esses recursos serão utilizados. “A grande questão é: existe, entre o recurso e o processo de ensino-aprendizagem, uma boa metodologia? De nada adianta colocar recursos inovadores se a forma como os professores ensinam não é inovadora”. Sherydan destacou, ainda, a importância da gestão das escolas nesse processo. “É importante incluir a responsabilidade dos gestores que, por muitas vezes, estão mais preocupados com a concorrência do que com as causas e consequências de um ensino de qualidade”.
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Saiba mais
Como elas querem proceder A utilização de novas tecnologias nas escolas de Fotaleza diverge de opiniões. Conheça como as três escolas entrevistadas utilizarão esses aparelhos no seu ensino
Tablet nas salas de aula “Tablet substitui livros” •
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Os tablets serão comprados pelos alunos, e não serão permitidos dispositivos com acesso à Internet 3G. As turmas serão somente para estudantes que queiram participar do projeto-piloto, sendo limitada a cerca de 130 alunos por sede. Proibidos aparelhos de telas menores que 9.7 polegadas. Todo o conteúdo das apostilas e livros será digitalizado e transferido para os tablets. Psicólogos irão trabalhar para que não haja preconceitos entre os alunos participantes do projeto e os demais. Professores contarão com treinamento especial para aprender a manusear e ministrar aulas com o auxílio dos equipamentos. O uso de cadernos será permitido nas salas do projeto, no entanto, os tablets serão proibidos nas turmas convencionais.
Lousa digital 3D nas salas de aula “Uma forma interativa de aprender” •
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E a rede pública, acompanha?
Uso de tecnologias na rede pública do Ceará ainda é um desafio. Foto: Divulgação
De um lado, presenciamos a chegada tempestiva dos novos recursos tecnológicos nas grandes escolas de Fortaleza. No outro extremo, temos as escolas públicas, que constantemente enfrentam dificuldades, tanto na carência de ensino de qualidade quan-
to em sua estrutura física. Nesse contexto, várias questões relacionadas ao cotidiano da rede pública estão sendo levantadas. E uma delas é a implantação de novas tecnologias que possibilitem aos educadores e alunos uma nova forma de ensinar e
aprender, por meio do uso de suportes tecnológicos. Segundo dados da Secretaria de Educação Básica do Estado do Ceará, em 2009, apesar de as tecnologias estarem presentes em 630 escolas estaduais (90%), somente 43% contam com laboratórios de informática com acesso à Internet. Além disso, 324 destas escolas que estão conectadas ainda são desprovidas de laboratório de informática. Em 2010, três mil escolas do Estado receberam o sistema de Internet banda larga, por meio do Programa Cinturão Digital do Governo do Estado. “ A meta é ligar todos os órgãos e escolas públicas, assim como parte da população que não pode pagar pelo acesso”, explicou Fernando de Carvalho Gomes, presidente da Empresa de Tecnologia da Informação (Etice), vinculada à Secretaria de Planejamento e Gestão.
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Será implantado em 2012, da 6ª série do ensino fundamental ao 2° ano do ensino médio. Serão 600 alunos participando, 30 por sala. Cada série terá três turmas. Os alunos e pais que desejam conhecer o projeto com antecedência podem agendar horário e visitar as salas equipadas com as novas tecnologias. Se o sistema de sucesso utilizado pelo Curso Osvaldo Cruz (COC), de São Paulo. O aluno não passará a aula inteira com o óculos 3D. Os mesmos só serão utilizados, no máximo, por 20 minutos. Haverá interação e rapidez na disponibilização dos conteúdos. Exercícios educacionais e lúdicos. Os professores irão testar os equipamentos antes, conhecer os softwares e trocar experiências com profissionais de outros estados que já utilizam essas tecnologias.
Tablets em laboratórios “O 1º laboratório do Ceará com iPads” • •
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Há tablets disponíveis para todos os alunos, de todas as séries. A instituição disponibiliza, em suas três sedes, laboratórios equipados com 50 tablets. O objetivo não é substituir o material escolar tradicional. A proposta é usar os iPads como complemento na aprendizagem dos alunos. As aulas são acompanhadas por professores treinados, que montam as aulas previamente. Eles fazem uma análise dos aplicativos disponíveis, conhecem o conteúdo e usam o material que acham pertinente. Além dos professores, há uma equipe de ajudantes, que, durante as aulas, auxilia e observa se os alunos estão dispersos Alunos da Educação Infantil tem aulas básicas de coordenação motora (desenho, colorir figuras...). Inicialmente, apenas as turmas de ensino fundamental tinham acesso. Vários pais de alunos reclamaram e, assim, o sistema foi estendido para todas as séries.
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Consumo infantil de açúcar atinge o dobro da média
Alimentação saudável das crianças pode ajudar na prevenção de doenças. Um bom hábito alimentar é fundamental para o crescimento e deve ser reforçado durante a infância.
A busca por praticidade na hora das refeições está causando estragos na saúde do brasileiro, em especial nas crianças que estão se excedendo no consumo de açúcar Rebeca Marinho, Luiza Dantas e Cláudio Ângelo
No café da manhã, um achocolatado de caixinha. Na hora do recreio, salgadinho e refrigerante. O almoço é de marmita. No lanche da tarde, biscoito recheado ou alguma coisa descongelada no microondas. São assim as refeições de muitas crianças hoje em dia. De acordo com o estudo realizado pelo IBGE, em julho de 2011, que analisou o consumo alimentar pessoal no Brasil, mais de 90% da população brasileira comem poucas frutas, verduras e legumes. A pesquisa também revelou que 61% dos brasileiros excedem no consumo de açúcar, que deveria representar no máximo 10% da ingestão calórica diária, enquanto a média brasileira é de 14%. No caso dos adolescentes de 10 a 13 anos, a situação é mais preocupante. Nessa idade, o açúcar representa 21,3% do consumo calórico total. Arthur tem 10 anos e sempre foi incentivado a se alimentar de uma forma saudável, principalmente no colégio. Mas, quando perguntamos o que ele come em casa, o garoto respon-
deu empolgado: “Pizza, chocolate, carne, hambúrguer, batata frita, macarrão”. É esse tipo de comportamento que gera os resultados preocupantes da pesquisa, e com o aumento desses números, é possível observar também o aumento da prevalência de doenças como a diabetes, a obesidade e as doenças cardiovasculares. Uma série de fatores pode justificar a causa dessas doenças, mas entre eles encontramos uma mistura perigosa e que está se tornando comum: a falta de exercícios físicos e má alimentação.
carboidratos de absorção rápida, gordura trans e sódio. “Nós tivemos uma mudança muito grande nas famílias nessas ultimas gerações. A mãe não fica mais em casa; nem sempre é possível ter o apoio de alguém que faça a comida diariamente; as famílias não se sentam mais a mesa para comer”, afirma a presidente regional da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM-CE), Cristina Façanha. Com essas mudanças nas rotinas das famílias, as crian-
O risco da praticidade Ninguém parece ter mais tempo para nada, inclusive para cozinhar. Comprar tudo pronto parece ser a solução mais fácil. Por que alguém que trabalha o dia inteiro e mal tem tempo para fazer as refeições do dia vai perder tempo cozinhando o almoço, quando é possível comprá-lo já pronto? Sem falar que dessa forma evita sujeira e a cozinha não precisa ser limpa. Porém, é essa praticidade que está nos causado problemas. Quando os pais deixam de fazer o almoço e passam a servir algum prato pronto comprado no supermercado, a cozinha fica limpa, mas a criança pode deixar de consumir uma refeição rica em vitaminas e nutrientes, de que o corpo precisa para se desenvolver saudável. Ao invés disso, é muito provavel que ela consuma uma refeição rica em
Não tem como a gente transferir para a escola uma obrigação que é da família.
Cristina Façanha
Endocrinologista
ças estão ficando cada vez mais tempo fora de casa. Muitas delas chegam a passar mais tempo na escola do que em casa, e a impressão que fica é que a escola é a responsável pela alimentação dessas crianças. O problema é que a maioria das escolas não está preparada para essa responsabilidade e no final das contas as crianças acabam se alimentando quase que diariamente de produtos industrializados, seguindo uma “dieta de cafeteria”.
Mudança de hábitos Praticamente todas as instituições de ensino fundamental e médio de Fortaleza são equipadas com uma lanchonete, algumas com uma para cada nível de ensino, e outras que contam até com franquias de sanduiches e esfihas dentro das dependências do colégio. Por isso é de se estranhar entrar em uma escola que não tem sequer uma cantina. Na Escola Vila não há lanchonete, nem salgadinhos, nem refrigerantes. Até nos aniversários os pais dos alunos só devem levar o bolo e a escola fica responsável pelos sucos. “A Escola Vila já nasceu com essa preocupação de passar para os alunos essas responsabilidades que eles devem ter com a saúde”, justifica a diretora Fátima Lima Verde. Toda a comida da Escola Vila é feita em sua cozinha e todos os dias são servidos lanches diferentes aos alunos. Os mais novos comem juntos em uma sala sem paredes próxima a área livre da escola, enquanto os mais velhos comem depois do intervalo, dentro da própria sala de aula. O cardápio é feito por uma nutricionista e traz opções que vão desde um coquetel de frutas até tapioca. O objetivo é condicionar as crianças a se alimentarem de uma forma mais saudável. É tudo uma questão de habito. Se desde cedo a criança aprender a comer bem, maiores são as chances de essa criança
Foto: Cláudo Ângelo
continuar se alimentando corretamente quando crescer. Mas comer bem apenas na escola ainda não é o suficiente para que essa mudança de hábitos realmente aconteça. O que fazer? “Com o estilo de vida contemporâneo, fica muito difícil dar um conselho para uma mãe que tem três filhos, trabalha dois expedientes e só tem tempo à noite. É difícil dizer mãe, vai fazer uma saladinha, uma sopa de legumes, faz um franguinho em casa”, lamenta Cristina Façanha. Por causa desse modo de vida, não se pode pedir para uma mãe ou um pai largar o emprego para ficar em casa cozinhando para as criança.Mas é preciso encontrar alguma maneira de solucionar esse problema, ou pelo menos amenizá-lo. Uma forma de ajudar é dar o exemplo. Não adianta exigir que os filhos comam, se os pais não comem. A mudança de hábitos deve ser para todos os membros da família. É preciso também parar de achar que a culpa é somente da escola. “Não tem como a gente transferir para a escola uma obrigação que é da família. Hoje em dia as crianças estão mais dentro das escolas do que em casa, então a gente está mandando para eles uma responsabilidade que é nossa”, afirma a endocrinologista, “Temos que mexer no estilo de vida, na família”.
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Crianças vão ao mercado Que a alimentação é importante, principalmente na adolescência, todo mundo sabe, mas o que os pais devem fazer quando a alimentação de seus filhos parece desandar? Como educar a alimentação de suas crianças, quando vivemos em uma época onde fast food e refrigerante acabam sendo a opção mais fácil, ou, melhor dizendo, a mais rápida a ser escolhida? De acordo com a nutricionista Ana Valeska Meireles, uma alimentação saudável deve ser estimulada a partir de casa, por isso os pais devem estar sempre tomando medidas para que os bons hábitos sejam favorecidos. A alimentação deve ser feita em um ambiente tranquilo e de forma lenta, e nunca em frente ao televisor. Os adolescentes devem seguir uma dieta equilibrada de acordo com a pirâmide alimentar; nunca seguir dietas rígidas e restritas. “Deve-se reduzir gradativamente a quantidade de gordura da dieta, tanto da criança quanto de toda a família, através da escolha de carnes magras, redução de frituras, consumo de maionese, bacon, creme de leite e outros”, recomenda a nutricionista. Doces, achocolatados e açúcares podem ser substituídos por carboidratos mais complexos, como pães, biscoitos, de preferencia
Receita
Bolo sem açúcar: receita rápida, fácil e saudável
Guloseimas que não utilizam açúcar são igualmente saborosas. Comer um bolo saudável pode auxiliar seu filho a se acostumar com este tipo de alimentação, bem como preveni-lo de futuras doenças. Aprenda abaixo como fazer esta receita.
Crianças devem participar da escolha dos alimentos Foto: Melyssi Peres
integrais, arroz, batata, cuscuz, mas tudo em uma quantidade adequada para cada faixa etária. Ana Valeska acredita que os alimentos não devem ser utilizados pelos pais como uma forma de punição ou prêmio, pois a utilização de doces como uma recompensa positiva pode fazer com que as crianças pensem que aquele alimento é mais importante do que os outros. Portanto a sobremesa deve ser considerada uma continuação das refeições e não uma recompensa. “É preciso ter cuidado com as
refeições fora de casa, e garantir que essas refeições e alimentos sejam adequados e equilibrados”. Outra dica que a nutricionista dá é levar o filho ao supermercado para que ele faça parte da escolha dos alimentos. Procure também receitas que tenham como ingredientes frutas e verduras (por exemplo, um bolo de cenoura, ou um suco de frutas natural). Os pais devem entender que as crianças têm as suas aversões. Comer frutas e legumes é um hábito. Então, é necessário um tempo de adaptação.
Ingredientes - 1 xícara e 1/2 de chá de banana - 1 xícara e 1/2 de chá de maçã - 250g de iogurte desnatado - 3 ovos inteiros - 1 xícara e 1/2 de chá de aveia em flocos finos - 1 xícara e 1/2 de chá de farinha de trigo peneirada - 1 colher de sopa de fermento em pó peneirado Modo de preparo Bata no liquidificador as bananas, maçãs, iogurte e os ovos. Num recipiente, peneire a farinha de trigo e o fermento. Adicione a aveia e misture tudo. Acrescente o conteúdo do liquidificador e misture bem. Coloque para assar em forma untada e enfarinhada por cerca de 40 minutos com o forno pré-aquecido a 180° C. Fonte: Alteza – Centro de Culinária
Atenção para o ciclo de glicemia
Teste: veja se o seu filho tem uma boa alimentação
Atual presidente regional da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD-CE) e da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM-CE) fala sobre os riscos relacionados ao consumo excessivo de açúcar.
Observe os seguintes hábitos do cotidiano e marque verdadeiro ou falso:
Sobpressão - Existe uma quantidade recomendada de açúcar que devemos consumir por dia? Cristina - A quantidade de açúcar em qualquer componente da nossa alimentação deve respeitar a faixa etária, o tipo de atividade física que a pessoa exerce, se ela é mais ou menos ativa no dia a dia, o sexo, a composição corporal. Então, na verdade, não existe uma quantidade certa de açúcar; não existe uma regra que diga que você só pode consumir tantos gramas de açúcar por dia. Existe, sim, um percentual adequado dentro da pirâmide alimentar. Os alimentos mais ricos em gorduras e açucares estão no topo da pirâmide, ou seja, eles têm que ser consumidos em um percentual bem menor em relação, por exemplo, às proteínas, às fibras, aos laticínios e aos carboidratos completos.
1. Bebe água durante às refeições V ( ) F ( ) 2. Come fruta todos os dias V ( ) F ( ) 3. Come saladas completas frequentemente V ( ) F ( ) 4. Almoça na cantina da escola e não no bufete? V ( ) F ( ) 5.Não costuma fazer refeições pré-cozinhadas V ( ) F ( ) 6. Toma o café da manhã em casa V ( ) F ( ) 7. Come mais peixe do que carne V ( ) F ( ) 8. Está habituado ao consumo de pães e barras integrais V ( ) F ( ) 9. Só come doces em dias especiais V ( ) F ( ) 10. Não encontra na despensa guloseimas ou outros produtos do gênero V ( ) F ( ) 11. Janta com o resto da família à mesa com a televisão desligada V( )F ( ) 12. Mesmo quando come fora de casa, costuma seguir uma dieta padrão. V ( ) F ( ) 13. Na lancheira que leva para escola não existem pães com chocolate ou pacotes de batatas fritas V ( ) F ( ) 14. Raramente vai a restaurantes fast food V ( ) F ( ) 15.Come fritos só de vez em quando V ( ) F ( ) 16. Come várias vezes ao dia, e não costuma alimentar-se de salgadinhos ou doces entre as refeições V ( ) F ( )
Entrevista
Sobpressão - Quais são as doenças associadas ao consumo exagerado de açúcar? Cristina - É uma lista enorme! Desde o aumento de cáries até o desenvolvimento de doenças como diabetes e obesidade, que hoje concorrem com a principal causa de morte da nossa civilização atual que são as doenças cardiovasculares. Outra coisa interessante a se falar é que já existem vários estudos mostrando que os alimentos muito ricos em açúcares, principalmente o açúcar refinado, alimentos que tem a composição associada com a gordura trans, são capazes de produzir nos vasos e no organismo da gente uma reação pró-inflamatória. Sobpressão - Sabemos que é perigoso manter
Cristina Façanha
uma dieta que excede a quantidade de açúcar, mas quando isso acontece durante a infância os prejuízos podem ser bem maiores, não é? Cristina - Pois é, infância é aquela fase em que o organismo está se moldando. Estudos mostram que quando o bebê está na barriga da mãe os seus gostos já vão se formando, e isso é reforçado durante a formação do hábito alimentar na infância e na adolescência, então é muito mais fácil você organizar a alimentação de uma criança e criar nela o habito de uma alimentação saudável, do que você fazer isso com um adulto, com uma pessoa de 40 ou 50 anos. Se uma criança tem o hábito de comer doce, quando a fome vem o organismo dela se prepara para liberar insulina e absorver a sobrecarga de açúcar, o que pode gerar um excesso de insulina circulante no sangue. Sobpressão - Quais produtos nós devemos consumir com cuidado por causa da quantidade de açúcar já inserido? Cristina - Na verdade, quando falamos da quantidade de açúcar dos alimentos, não é só aquele açúcar branco que compramos no supermercado. Estamos falando dos carboidratos de absorção rápida. Talvez fosse esse o nome correto, não propriamente açúcar. E existem vários carboidratos de absorção rápida. Quer um exemplo? As bolachas, tipo aqueles folheadas, água e sal. Esse tipo de bolacha tem muito carboidrato e ele é facilmente digerido, então ele faz um ciclo de glicemia. Então não é só comer açúcar, é a forma como você faz aquela refeição.
Respostas: Tudo verdadeiro Parabéns! Não mude de caminho. Siga nessa mesma direção até seus filho completar a fase de crescimento. Mais de metade falsas Está no caminho errado. Se você quer ver seu filho crescer saudável, procure um nutricionista e escolha outra direção. Menos de metade falsas Está seguindo um bom caminho. Mas não desista da direção certa ao se deparar com alguma tentação. A saúde do seu filho vai lhe agradecer. Fonte: Revista Visão
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Vaidade em branco e preto Durante um período médio de seis meses, o Lar São Vicente de Paulo e a Toca de Assis receberam a visita de uma câmera que logo se transformou em espelho Jota Pê Correia
A proliferação da fotografia digital possibilitou o uso da câmera fotográfica como um espelho. As imagens registradas são interpretadas de forma subjetiva, com vários significados que exploram a identidade e cultura por meio de retratos. Por trás de um sorriso, gesto ou olhar os retratados expressam o que são, o que gostariam de ser e como se sentem envaidecidos. Segundo o dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, uma das definições de vaidade é: “valorização que se atribui à própria aparência, ou quaisquer outras qualidades físicas ou intelectuais”. Esta vaidade, que, aliada à felicidade e sorriso no rosto , virou um mix. O simples fato de escapar da rotina por uns instantes e preparar-se para o click envolve toda uma preparação: o cabelo é escovado várias vezes antes de afivelado, o vestido mais bonito é retirado do guarda-roupa, dá-se uma olhadela no espelho e, por fim, as companheiras são convocadas para assistir. Afinal, é alegria e algo diferente
Sorriso largo de Luci Braga também vale. O que importa é sentir-se bem, deixar de escanteio as intempéries da vida e permitir o registro. Foto: Jota Pê Correia
que acontece em meio à saudade da família, da juventude e de momentos outros. A Toca de Assis e o Lar São Vicente de
Paulo são o cenário de acolhimento e aconchego para mais cinquenta moradores, na sua maioria mulheres, que vieram
de diversos lugares do Estado e do País e hoje mesclam suas histórias. -Os retratos deram uma sacudidela naquelas pes-
soas que estavam no torpor da vida real, gente que sentiu a vaidade brotar quando não se esperava.
Registro fotográfico
A ALEGRIA ESTÁ PRESENTE , todos os dias, em cada despertar das quinze famílias da Sociedade São Vicente de Paulo. Dona Maria Auxiliadora é uma das primeiras a anunciar o dia novo ao abrir sua janela e cantarolar algumas músicas. Ela não pode ver o que se passa porque é deficiente visual, mas logo recebe os votos de bom dia da vizinhança. “Aprendi a conviver com a deficiência,. Ou eu me adaptava ou morria. Tive muita ajuda aqui, na vila. Ninguém me discrimina, pelo contrário: sou muito bem atendida quando preciso da ajuda de alguém. E, porr mais que eu não possa ver como estou, faço de tudo para ficar sempre bem, me arrumar e sentar par conversar com as pessoas daqui” Foto: Jota Pê Correia
“Uma fase da vida maravilhosa, onde nos sentimos a mais linda rosa com consciência de erros e acertos, sabendo muito mais o que nos é de direito. Onde olhamos a dádiva do presente, onde a experiência adquirida vem à tona a cada dia. Onde os desgastes do tempo são compensados com muito talento. Onde tudo em nós é mais acentuado: o sorriso, a ternura, a generosidade (...)” Poema ‘quando alcançamos a maturidade’ - Penhah. Foto: Jota Pê Correia
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A DISTÂNCIA da família foi algo que marcou profundamente a vida da Dona Maria do Socorro, mas o carinho e atenção recebidos na Toca de Assis fizeram com que novos e bons sentimentos brotassem. “Tenho uma grande e bonita família. Todas que estão aqui são amigas, são irmãs. Voltei a me sentir bem e protegida. Peço a Jesus que isso se torne sempre maior. E esse negócio de bater foto é algo diferente pra mim, fico feliz e me sinto bem. Não lembro quando foi a última vez que fiz isso.” Foto: Jota Pê Correia
EVA. EVINHA COMO PREFERE SER CHAMADA: As mãos que percorrem o terço nos momentos de reza e fé são as mãos que trazem as marcas de mais de nove décadas de vida. São ainda as mãos que outrora manejaram instrumentos de trabalho, mas que agora afagam, dão carinho, e aceitam o pedido de bênção e recebem um beijo em seguida. Foto: Jota Pê Correia
Cícera Aparecida
Depois que acordo e faço minhas obrigações diárias, visto meu vestido mais confortável, arrumo meus cabelos e vou para o jardim, onde me sinto bem por estar em contato com a natureza. Minha vaidade é me sentir como uma daquelas flores. Ser mulher é isso: é estar bem, é estar bonita. Ainda mais aqui, que é uma casa para mulheres. Todas temos nossas vaidades e nós nos ajudamos. NA TOCA DE ASSIS FEMININA, emoldurada pelas plantas do jardim, a interna Cícera aguarda as demais companheiras para dar início às orações do dia. Ela desconhece a data do nascimento, quem são os componentes de sua família e de onde veio. Também não sabe ao certo se fora abandonada ou se perdeu-se quando de uma caminhada nas redondezas de onde morava. Ao forçar a memória, ela fala sobre maus tratos na infância, mas não tem certeza se de fato aconteceram ou se apenas tinha medo que acontecessem. Dentre as poucas recordações, relata que, alguns anos atrás, foi muito bem acolhida por uma família, mas tiveram que se mudar para outro Estado e ela não pôde acompanhá-los, por isso, foi indicada à Toca de Assis. Desde que foi morar com as devotas de Assis, se sente em casa e amparada com os novos parentes que a adotaram e deram novo registro, que a torna Cícera Aparecida. Foto: Jota Pê Correia
Interna da Toca de Assis
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Quanto se paga para morrer? A morte é inevitável. Pagar por ela, também. Cearenses optam cada vez mais por planos funerários para diminuir as despesas nessa hora Larissa Oliveira
O ditado: “aqui se faz aqui, aqui se paga”, pode ser adequado não apenas para a vida espiritual mas também para a vida mundana. Nos cemitérios, os gastos começam pelas capelas. Como nos hotéis, as acomodações podem variar muito, de acordo com o valor dos pacotes disponíveis. O preço aumenta de acordo com a acomodação e a decoração que a família deseja. Os valores chegam a variar de R$ 700,00 a R$ 4.000,00, dependendo do cemitério e da funerária. Em Fortaleza, a precariedade dos cemitérios públicos faz com que as famílias optem por saídas como os planos funerários. As opções de planos funerários também são diversas. Podem ir de R$ 56,00 de taxa de adesão e R$ 27,90 de mensalidade, dando cobertura a dez pessoas, a R$ 130,20 iniciais e R$ 65,10 por mês, cobrindo o titular e sete dependentes. “Pago o plano para todos os meus irmãos e meu marido porque nunca sei como será o amanhã. Melhor não correr o risco de ter que passar por um sistema público”, afirma a comerciante D. Ivone de 74 anos. Outros serviços adicionais podem aumentar os custos: a sala de velório sai por R$ 7,90 mensais, mais R$ 15,80 de adesão. Já a mensalidade dos serviços de tanatopraxia (tratamento que conserva o corpo e evita odores por até 72 horas) é de R$ 6,05, precedido de taxa de R$ 12,10 de adesão. O outro lado Enquanto algumas pessoas optam por saídas mais baratas ou acessíveis, outras optam por desembolsar uma fortuna na hora da morte. Funerárias como a Alvorada e a Paz Eterna oferecem opções que podem ultrapassar os 12 mil reais, desembolsado para adquirir os modelos de caixões mais caros. Se acrescentados serviços adicionais e taxas cobradas por cemitérios, esse valor pode superar os R$ 23 mil. A opção mais simples para uso imediato cus-
ta R$ 700,00, incluindo caixão, paramentos, flores, castiçais, serviço de chá e café e traslado do corpo até o cemitério. Outros fatores que encarecem os velórios são os ornamentos dos caixões e o serviço de recepção que a família deseja oferecer. A madeira utilizada nas confecções dos caixões, por exemplo, é em geral a de pinus ou de cerejeiras, que podem ser envernizadas para dar um acabamento mais bonito (e caro). Por dentro, os caixões de modelos mais simples não possuem nada mais do que um travesseiro recheado com serragem e um simples pano pregado com grampos. Já os de valor mais elevado, são revestidos com um acolchoado de cetim e acompanhados por um travesseiro de espuma, também decorado Michel Barreto
É comum usarmos planos de saúde, odontológicos. O mesmo vale para planos funerários. Desenvolvedor de Mídias Sociais da Funerária Alvorada
com o mesmo tecido. Os serviços relativos à aparência do falecido também são diferenciados e podem contribuir para aumentar o preço final. Na Funerária Alvorada, entre as intervenções possíveis de serem contratadas estão a necromaquiagem, uma espécie de maquiagem feita no rosto da pessoa falecida, e a reconstituição facial, usada principalmente em vítimas de acidentes. Para quem não quer ser enterrado, existe também a opção de cremar o corpo. As cinzas são entregues à família em um saco ou em uma urna funerária cobrada à parte. Serviço Funerária Alvorada Rua Domingos Olímpio, 1021 Benfica (85)3231-4374 Funerária Paz Eterna Av. Br Studart, 2780 Joaquim Tavora (85) 3257-4055 Secretaria Municipal de Assistência Social (SEMAS) Informações sobre o Auxílio Funeral - Telefones: (85) 3105.3444 / 3105.3709
Planejando a morte é possível comprar um túmulo para toda família
Foto: mahamed prata
Entrevista
O mercado funerário do Fortaleza Monique Pinto, 28 anos, é diretora da CONTIL , empresa construtora e administradora do Cemitério e Crematório Jardim Metropolitano (Eusébio-CE) e administradora de outros 8 cemitérios e 3 crematórios no Brasil Sobpressão - Qual a situação atual dos cemitérios de Fortaleza? Monique - Existem três tipos de cemitérios: públicos, eclesiásticos e privados. Alguns dos cemitérios públicos enfrentam problemas de esgotamento, embora seja possível equacionar tal problema mediante a realização de exumações, prática, inclusive já adotada em algumas dessas necrópoles. Dos cemitérios particulares e eclesiásticos, apenas os mais antigos, até por dificuldades de expansão de área, já que acabaram “engolidos” pela cidade e pelo crescimento urbano, enfrentam problemas de esgotamento. Contudo, a realização de exumações e o estímulo à colocação dos restos mortais em columbários têm minimizado o problema. Já os cemitérios particulares mais novos, por sua vez, não enfrentam nenhum risco iminente de esgotamento. Planos de expansão sempre existem, mas as dificuldades na obtenção de terrenos desocupados contíguos aos cemitérios, bem como dificuldades de licenciamento ambiental freiam, quando não inviabilizam tais planos. Sobpressão - Como isso afeta os preços e a escolha dos serviços? Monique - Nos cemitérios nos quais a questão do espaço tem se tornado mais crítica o preço dos jazigos, naturalmente, subiu bastante. Quanto à escolha de serviços, a despeito de uma atual maior gama de serviços disponíveis (cemitérios tradicionais, cemitérios parque, cemitérios verticais e crematórios), por se tratar de uma questão eminentemente cultural, a esmagadora maioria da população mantém a preferência por sepultamentos convencionais. Sobpressão - Existe um aumento na procura de ou-
tros serviços além do enterro? Monique - A mudança de preferência da população quanto ao tipo de destinação final a ser dada a seus entes queridos ocorre muito lentamente. A cremação no Brasil teve início nos anos 1970, contudo, só se difundiu nos anos 2000. Mas, apesar da proliferação de crematórios ao redor do País, apenas em 5% dos óbitos os familiares fazem essa opção. Em Fortaleza, não passa de 2%. O mesmo vale para sepultamentos em cemitérios verticais, onde os compartimentos para sepultamento são construídos em edifícios. Por ser uma prática não usual em nossa cultura, o índice de utilização de tal modalidade de cemitério também é bastante baixo. Sobpressão - Que tipo de formação ou treinamento é necessário para trabalhar nesse mercado? Monique - No Brasil não existem cursos específicos para a administração de cemitérios. Cursos superiores desse tipo, no entanto, existem em outros países; meu irmão mais novo, por exemplo, está retornando neste fim de ano dos EUA, onde, por 3 anos, cursou uma faculdade de Ciências Mortuárias e Administração Funerária. Dada a ausência de mão de obra com qualificação específica para administração de cemitérios, normalmente os cargos gerenciais são ocupados por administradores de empresas ou engenheiros. Para cargos de nível operacional, existem cursos de curta duração que preparam para trabalharem com enlutados e em cemitérios de maneira geral. O SINCEP, Sindicato dos Cemitérios e Crematórios Particulares do Brasil, por exemplo, oferece regularmente cursos desse tipo para funcionários de seus afiliados. Mas o mais comum ainda é a capacitação posterior à contratação.
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Moradores protegem-se de animais silvestres Ibama alerta que mexer com esse tipo de animal, mesmo quando eles entram nas nossas casas, pode ser considerado crime ambiental
João Romero e Thiago Rocha
Os moradores do condomínio San Marino, na Cidade dos Funcionários, estão mudando a sua rotina devido à presença de um casal de gaviões que há algumas semanas fizeram um ninho próximo ao local e, para proteger os seus filhotes , acabam atacando a população. “Mudou nossa rotina completamente. Não consigo ficar sossegada um minuto, pois tenho medo de ser atacada novamente pelos bichos”, comentou a pedagoga, Andreza Viana, moradora do condomínio. Mesmo tomando precauções, ela foi atacada pelos animais duas vezes. Uma outra familiar
da pedagoga sofreu uma ofensiva dos gaviões e levou arranhões na orelha e próximo ao olho. Ela explicou que tem um filho de um ano que sempre brincava na varanda de seu apartamento, mas hoje ele não pode mais fazer isso devido ao perigo de ser atacado pelas aves. Os gaviões passam o dia dando vôos rasantes próximo às janelas dos apartamentos, causando medo nos moradores. Além disso, ao sair de casa os condôminos são obrigados a utilizar chapéus ou sombrinhas para fugir dos ataques constantes. “Já vi pessoas saírem do condomínio agachadas para que não fossem surpreendidas pelos animais”. Andreza acrescentou que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) foi chamado para retirar as aves, mas isso não pode ser feito, pois é considerado um crime. A estudante Adhara Santos também passou momentos difí-
ceis com um animal. “Eu estava saindo de casa com a minha mãe de carro e a passagem do veículo estava sendo impedida por uma vaca. Moramos na praia do futuro e lá é comum alguns animais circularem nas ruas. Como éramos só mulheres, nos desesperamos e não sabíamos o que fazer. Tivemos de correr para chamar o vizinho, que afastou o animal da porta da nossa residência”. Segundo o analista ambiental do Ibama, Alberto Klefasz, somente este ano já foram feitas 30 ocorrências de animais silvestres em casas ou apartamentos. “Hoje, devido ao avanço das metrópoles, existe um conceito de que as cidades também são um ecossistema. Nele existe toda uma cadeia alimentar e fazem parte dela os insetos, animais silvestres e até mamíferos”. Ele afirmou que com esse conceito é preciso que as pessoas aprendam a conviver com esses animais e ter consciência de que todos, agora, dividem o
Universidade é local de soltura Universidade, segundo o dicionário, é um conjunto de faculdades ou escolas de curso superior. Mas apenas isso? Parece estranho, mas a Universidade de Fortaleza (Unifor), tenta ir adiante. Alunos convivem, diariamente, com emas, pavões, macacos saguis e mais uma diversidade de animais silvestres. Sendo assim, ela é uma das pioneiras no trato, dando auxílio médico ou abrigo a animais silvestres. Em 2008, a Unifor foi registrada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), como uma Área de Soltura de animais Silvestres (Asas). Essas áreas são escolhidas pelo Instituto para libertar os animais que são apreendidos. Segundo Júlio César de Freitas, gestor da Divisão de Serviços Gerais da Unifor, a quantidade de bichos que o campus possui é incontável. “Várias aves vêm e vão e, com isso, não dá para se contar a quantidade exata de animais que possuímos”. Júlio explica que alguns bichos vêm do mangue e que alguns chegam do Ibama. Emas, capotes, galinhas, pavões, saguis, gatos e guaxinins são exemplos de animais que vivem no Campus. Mas, de acordo com Júlio
Em Fortaleza, os gaviões, na foto dentro do círculo, dividem o espaço urbano com a população que, aflita, não sabe o que fazer. Foto: Divulgação
mesmo espaço. Sobre os gaviões que estão mudando a vida dos moradores do condomínio San Marino, um biólogo e um técnico avaliaram a situação dos animais. “A equipe averiguou onde os animais tinham feito o seu ninho, qual o ponto de observação e o de ataque”, disse Klefasz. Eles constataram que os ataques foram feitos para proteger a cria. A equipe do Ibama orientou
Entrevista
aos condôminos que tomassem diversas precauções para não terem mais problemas com os bichos enquanto eles decidirem ficar pela área. “Os moradores devem fazer o isolamento da área em que o ninho foi feito. Ao sair de casa sempre devem utilizar um boné e após os filhotes nascerem, crescerem e forem embora, é preciso fazer a poda da árvore em que eles viviam”.
Mário Farias Lemes
Vida dedicada aos animais Biólogo pela Universidade Estadual do Ceará (UECE), Mário Farias Lemes é um amante dos animais e se preocupa com a causa
Na Universidade animais andam livremente pelo Campus.
César, também há problemas na localidade. Conciliar a natureza dos animais silvestres com os estudantes é o objetivo, mas alguns parecem não entender o espírito da coisa, pois foram encontradas gaiolas com o intuito de capturar alguns animais selvagens para a venda no mercado clandestino. Os alunos já estão acostumados a estudar com a presença de animais. Rodrigo Miranda, que está no primeiro semestre, se espantou com a presença dos bichos. “Estra-
Foto: Jonhally Gurguel
nhei no começo, até pelo fato de que parar para ler ou comer algo e se deparar com uma ema é estranho. Mas logo você se acostuma e vê o quão é interessante”. O veterano Jefferson Passos também se acostumou a conviver com os animais. “Eu irei me formar nesse semestre e confesso que sentirei saudades de observar os saguis pulando nas árvores. Mesmo tendo tomado alguns sustos por causa deles”, diz o estudante de jornalismo.
Sobpressão - Por que esses animais estão vivendo nas cidades? Mário Farias Lemes - À medida que as cidades crescem, elas destroem o habitat natural dos animais silvestres. Com isso, eles são obrigados a procurar outro local para viver. Hoje a unica alternativa são as metropoles. Dessa forma, eles acabam se adaptando à vida nas cidades. Sobpressão - Eles podem causar danos graves? Mário Farias Lemes - Depende muito da situação. Vou te dar um exemplo: se eles se sentirem ameaçados, com certeza vão tentar se proteger e isso pode gerar algum conflito contra os humanos. Mas, se nada disso acontecer, é possível que as pessoas convivam em harmonia com os animais silvestres.
Sobpressão - Qual a importância das Aréas de Soltura de Animais Silvetres (Asas)? Mário Farias Lemes – As áreas de soltura são importantantíssimas pelo fato de elas darem uma moradia e cuidado aos animais silvestres que perderam seu espaço. Com isso, a facilidade em reintegrar-se ao habitat é bem maior. Sobpressão – Em caso de ferimento, o que a pessoa ferida deve fazer? Mário Farias Lemes - Antes de qualquer ação, ninguém deve tentar retirar o animal do local. Deve ser feita uma ligação para o centro de triagem do Ibama, que cuidará da situação. Mas caso aconteça algum acidente, a pessoa deve ir imediatamente para o hospital mais próximo de sua residência. Já que todos sabem muito bem que não se deve brincar com essas coisas.
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Paciente divulga sua luta contra o câncer escrevendo um blog Ivanize Trigueiro descobriu o câncer de mama ainda gestante, não se abateu com a doença e criou um blog para ajudar mulheres com o mesmo drama Ricardo Garcia e Renata Pimentel
O diagnóstico do câncer de mama chegou em um dos momentos mais felizes da vida de Ivanize Trigueiro: a gestação do terceiro filho. Grávida de seis meses e recém chegada em Fortaleza, a potiguar diz ter entrado em pânico quando descobriu o nódulo no seio. “Entrei no banho e senti que tinha um ‘caroço’ na minha mama. Em seguida, fiz uma bateria de exames e a biópsia que constatou o câncer maligno, entrei em conflito e me indaguei: como Deus me concedeu uma gravidez e eu vou morrer? Como vou cuidar dessa criança?”, conta. Assim que soube do diagnóstico do câncer, Ivanize entrou na Internet para pesquisar sobre a doença e encontrou muitos blogs de mulheres na mesma situação, e que relatavam histórias depressivas, onde diziam que viviam sozinhas ou perderam o marido. Isso a deixou angustiada e veio à mente a ideia de fazer um blog para provar o contrário, que é possível ser feliz mesmo com a doença. No espaço virtual, ela viu a oportunidade de fazer diferente e falar sobre sua experiência e a rotina durante o tratamento. “Eu percebi que criando um blog poderia contar a minha história, falar das minhas experiências e dizer para essas mulheres que há outras maneiras de enfrentar o câncer e que tudo depende da forma que você encara as coisas”, conta. Mesmo questionando como seria o futuro, Ivanize decidiu lutar pela vida a se entregar à doença e viu em sua mãe, que teve o mesmo problema, o exemplo para seguir em frente. “Minha mãe sempre me dizia que tudo passa e que um dia eu ainda iria contar a minha história para as pessoas”, relembra. Evangélica fervorosa, passou a enxergar o câncer de outra maneira e definiu sua fé no lema: “O Deus que fere é o Deus que sara”. Apesar da doença ser forte e mexer principalmente com o emocional do portador, Ivanize segue a vida normalmente como mãe e dona de casa e diz que até chega a esquecer que tem câncer. “Tenho uma rotina bem normal. Faço academia, cuido da minha casa,
Ivanize com o filho Gabriel, ainda na fase do tratamento do câncer Foto: Arquivo pessoal
e todos os dias acordo já pensando no que tenho pra fazer. Optei pela minha vida”, confessa. Tratamento Após o nascimento do filho foi dado início ao tratamento. Assim como na maioria das mulheres portadoras do câncer de mama, Ivanize realizou a mastectomia – cirurgia de retirada da mama – e só teve que passar pela sala de cirurgia uma vez e na mesma ocasião, na qual teve a possibilidade de colocar o implante de silicone. “O processo foi tranquilo na minha cabeça, porque quando você pensa positivo é mais fácil lidar com as coisas. Eu saí feliz da cirurgia, com a mama no lugar”, conta. A quimioterapia foi iniciada um mês após a mastectomia e já na segunda dose das drogas os cabelos começaram a cair. Para ela esse foi um dos momentos mais constrangedores. “Eu não me importava em perder o cabelo, mas quando os vi nas mãos do meu filho foi uma situação que me deixou triste, por isso, resolvi raspar”, lembra. Além da perda das madeixas, outro momento que a marcou foi a amamentação, essencial tanto para o bebê como para a mãe. Apesar de não poder amamentar o filho recém-nascido, ela encontrou outra maneira de se aproximar do bebê. “ Encon-
trei outros meios de estreitar minha relação com ele, como no momento do banho e da mamadeira. Isso compensa, porque uma coisa é não querer amamentar e outra é não poder”, ressalta. Mesmo careca, não deixou sua vaidade de lado. Sem usar lenços ou perucas, Ivanize caprichava na maquiagem e nas roupas que usava. “Queria enfrentar a situação e pensava: se usar lenço ou peruca, é querer esconder a situação. Às vezes você usa mais pelos outros do que por você mesma. Queria provar para as pessoas que existe vida após o câncer e que a feminilidade não se perde com a falta do cabelo”, enfatiza. Ainda quando estava sem cabelos, Ivanize lembra ter sofrido discriminação das pessoas. “Em todos os lugares que eu ia as pessoas me olhavam com pena. No dia do noivado da minha filha, fomos jantar fora e quando cheguei ao local todos me olhavam de maneira diferente e me senti constrangida. Isso me incomodava”, desabafa. Hoje, ela já terminou o tratamento e continua fazendo os exames para monitorar a doença, além de usar o blog para dar apoio as mulheres portadores de câncer de mama, ela prega nas igrejas, contando a sua história de vida.
Campanhas visam elevar a autoestima Mensagens de incentivo à autoestima no doloroso período de tratamento do câncer são uma excelente maneira de confortar as pacientes que passam por este processo. Para isso, desde 2009, a campanha Encontro com a Autoestima é realizada em diversas cidades do país, inclusive em Fortaleza, onde conta com a parceria do Instituto do Câncer do Ceará (ICC). Objetivo do projeto Intitulado de “Campanha Esperança & Vida - Encontro com a Autoestima”, o objetivo do projeto é levar informação e promover a autoestima em mulheres que enfrentam o câncer de mama. Até o momento, 39 instituições receberam o projeto, com a participação de cerca de 1200 pacientes e cuidadores. A programação dos encontros conta com uma sessão de fotos em que as participantes são incentivadas a usarem adereços e posarem para um fotógrafo profissional. A melhor foto é impressa e entregue as pacientes. As pacientes respondem a um questionário de avaliação
e a um formulário de redação, sendo a partir deste questionário feita uma reflexão pelas pacientes de quais são os valores considerados mais importantes para a mulher que enfrenta o tratamento de um câncer. Além de terem a oportunidade de trocar experiências e tirar dúvidas, as mulheres recebem ao final do encontro três guias explicativos: o primeiro é voltado para as próprias pacientes; o segundo é voltado para os parceiros e familiares; e o último guia é destinado a crianças e adolescentes. Os três materiais abordam de forma distinta, de acordo com cada público destinado, temas de interesse geral como por exemplo: o que é o câncer de mama, os tratamentos disponíveis, as dicas para uma melhor qualidade de vida, no que se refere a autoestima e sexualidade, além de conselhos sobre como lidar com a doença. Serviço Blog de Ivanize Trigueiro: www.aminhavidaumprojetodedeus. blogspot.com Instituto do Câncer do Ceará: www.hospcancer-icc.org.br