Mulheres na História

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Conheça a trajetória de vida e trabalho de mulheres que marcaram época em Brusque


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Maria Luiza Renaux: luta pela preservação da história Bisneta do cônsul Carlos Renaux dedicou a vida a manter o legado construído por sua família

Maria Luíza Renaux nasceu

se ser um patrimônio histórico vivo de Brusque”, diz. Vitor destaca que Bia cresceu em um ambiente de grande progresso econômico e industrialização na região, época que é lembrada com saudade e carinho por muitos brusquenses. “As pessoas se vincularam muito a essa época e até hoje encontra-

em Brusque em 1946

mos gente que fala da Fábrica Renaux, daquele período, como sendo algo muito especial, diferente, e minha mãe se nutriu muito disso. Foi neste contexto que ela formou sua personalidade”. Ela dedicou grande parte de seu tempo ao estudo e à documentação da história da região. Entre suas publicações mais

Diretor Claudio José Schlindwein Editor-executivo Andrei Paloschi editor@omunicipio.com.br

famosas estão “Colonização e gerando um interesse coletivo Indústria no Vale do Itajaí: O no tema. Hoje, a conservação da Modelo Catarinense de Desencasa que foi do cônsul Carlos Revolvimento” e “O Outro Lado naux é praticamente uma unada História: O Papel da Mulher nimidade entre os brusquenses no Vale do Itajaí 1850-1950”. e uma forma de honrar o traba“Minha mãe era sempre aquela lho realizado pela historiadora pessoa que fazia um resgate de durante sua vida. passagens históricas, mas com Bia faleceu em janeiro do ano graça. Prendia a atenção de quem passado, aos 70 anos. Para Viestava ouvindo e gerava um motor, entretanto, seu legado não mento de felicidade que durava a deixará ser esquecida. “Minha com o tempo”, define. mãe era muito efusiva, muiVitor lembra que a mãe tinha to empolgada com as coisas e, uma relação afetiva e profisquando uma pessoa assim morsional envolvendo o estudo da re, é um choque. A gente perde história e do patrimônio e essa aquele ponto de vitalidade, mas paixão é o que tem o inspirado aos poucos vai percebendo que a continuar com os projetos. muita coisa permanece, uma Um convênio fircerta vida permanece”. mado com o Centro Universitário de Brusque (Unifebe) busca, por exemplo, deixar a Villa Renaux mais próxima dos brusquenses. “Essa casa era uma fonte de estímulo, de encantamento, que nutriu vários aspectos da vida dela e é por isso que vou continuar”, afirma. A luta de Bia pela preservação do Bia faleceu no ano passado, aos 70 anos patrimônio, principalmente da Villa Renaux, acabou ARQUIVO DA FAMÍLIA

Jornal O Município Rua Felipe Schmidt, 31 - sl. 01 Centro - Brusque - SC Fone: (47) 3351-1980 www.omunicipio.com.br

ARQUIVO DA FAMÍLIA

Quando se fala em história e preservação do patrimônio em Brusque, um dos nomes que imediatamente vem a mente é o de Maria Luiza Renaux, a Bia. Bisneta de cônsul Carlos Renaux, fundador da primeira fiação de Santa Catarina, a Fábrica de Tecidos Carlos Renaux, Bia foi influenciada pelo ambiente em que esteve inserida desde a infância e dedicou sua vida a manter o legado construído por seu bisavô até os dias de hoje. Filha de Roland e Carmen Renaux, Bia nasceu em setembro de 1946, em Brusque. Extremamente culta, cursou bacharelado em História na Universidade de São Paulo (USP); licenciatura em Estudos Sociais na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo e fez doutorado em História Social, também pela USP. Teve três filhos: Ana Carolina, Vitor e Catherina. Por quase 30 anos, viveu na mansão que foi de seu bisavô, a Villa Renaux, no alto da colina no bairro Primeiro de Maio. Casarão que sempre foi o seu preferido, lembra o filho, Vitor Renaux Hering. “Surgiu a oportunidade de ela morar na casa que sempre visitava, cuidava, e foi a partir desse momento que passou a ser um projeto primordial para ela. Manter, reformar, fazer o tombamento e, aos poucos, elaborar projetos para que a casa pudes-

Reportagens Bárbara Sales

Tiragem 5.000 exemplares

Diagramação Julia Fischer Barni

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Francisca dos Anjos, a Fanny: símbolo da independência feminina Ela trocou vida de luxo e veio para Brusque, onde abriu uma casa de moças e conquistou o respeito de todos teria sucesso em todas. O fato de ela abrir uma casa para moças, para mim, é como uma reação ao tratamento que ela recebia do marido. Como um desafio a ele”, avalia o professor Aquiles Duarte de Souza, que mergulhou na vida de Fanny para sua dissertação do Mestrado em Educação da Universidade do Vale do Itajaí (Univali). O ofício escolhido para sobreviver em Brusque tinha tudo para deixá-la à margem da sociedade, porém, com elegância e dignidade, Fanny soube transformar sua casa de moças em um lugar respeitado. Souza lembra que, durante sua pesquisa, entrevistou diversas pessoas, homens e mulheres, e todos foram unânimes ao lembrar de Fanny como uma mulher respeitada na cidade. “Era uma casa de prostituição, mas guardava certas restrições. As mulheres encontravam a Fanny na rua e falavam: ‘dona Fanny, meu marido está indo lá e está deixando faltar comida em casa’. Na próxima vez que o sujeito aparecia, ela dizia pra ele ir embora, cuidar da mulher e da família. Todas essas atitudes m fazendo com que ela conforam

Fanny faleceu aos 94 anos em julho de 1994

FOTOS ARQUIVO AQUILES DUARTE DE SOUZA

Em uma época de extremo conservadorismo, uma mestiça, filha de índio com uma francesa, reinou em Brusque. Francisca dos Anjos de Lima e Silva, a Fanny, conquistou seu espaço, o respeito e a admiração dos brusquenses de uma maneira única. Fanny largou a vida de luxo que levava ao lado do marido, Eduardo de Lima e Silva Hoerham - sobrinho neto de Duque de Caxias - no posto indígena de Ibirama para viver em Brusque. A vida de casada já não lhe satisfazia. Fanny prezava por sua liberdade e seu direito de escolha e, assim, deixou para trás o marido e os quatro filhos para construir seu reinado no berço da fiação catarinense. Os primeiros anos na cidade não foram fáceis. A influência do ex-marido que, inconformado com a separação, a perseguiu, fez a jovem chegar ao município sem nada. Diante da situação, Fanny abriu uma casa de prostituição, no bairro Santa Terezinha, nas proximidades de onde hoje está o supermercado Archer. “Penso que ela poderia ter desenvolvido inúmeras atividades e

Fanny soube transformar sua casa de moças em um lugar

quistasse respeito”. O estabelecimento de Fanny era um local onde se podia discutir política e onde oposicionistas se encontravam, mas tinham que se respeitar. A música era sempre num volume tolerável, já que ela não queria incomodar a vizinhança. O professor relata que, nos 1960, era comum quando o filho chegava a uma determinada idade que o pai o levasse na “Dona Fanny”. Lá, ela não ensinava apenas o aspecto sexual. Muito mais do que isso. “Ela ensinava que um homem elegante tinha o sapato engraxado, que um homem sabia puxar uma cadeira pra uma mulher sentar. Normalmente, quando aconteciam brigas de casais na cidade o pessoal comentava: ‘ah, o fulano nunca foi na Fanny’. Diziam isso porque os homens que iam na Fanny sabiam como tratar uma mulher”, diz. “Ela não era uma prostituta. Era uma pessoa que tinha um viés pedagógico. Pedagogia do relacionamento valorizando a mulher”, completa. Aos poucos, Fanny conseguiu refazer sua vida. Em seu terreno, construiu três casas: a que ela morava, a que sua filha mais velha, Dalbérgia, veio morar com a família, e a casa das suas moças, que não passavam

respeitado

de quatro, para evitar brigas. Sempre muito bem vestida e dona de si, Fanny nunca foi tratada com desdém ou de forma preconceituosa. Frequentava lojas e, quase que semanalmente, acompanhada de suas moças, ia à igreja. “Ninguém se atrevia a dizer uma palavra maldosa a ela. Ela passava com sua bicicleta, tocando a sineta para os conhecidos. No primeiro semáforo de Brusque, em frente à Loja Renaux, os guardas paravam o trânsito para ela passar”. Fanny faleceu aos 94 anos, em julho de 1994. Até o último dia, manteve a dignidade e o respeito que conquistou logo após sua chegada em Brusque. Até hoje é lembrada com carinho e admiração por aqueles que a conheceram. Para o professor, Fanny representa o verdadeiro sentido do empoderamento feminino. “Vejo a Fanny como um modelo de empoderamento. Ela casou com um sujeito rico, nobre, foi mãe de quatro filhos, tinha tudo, mas, ao mesmo tempo, tinha nada. Teve a coragem de largar tudo e viver uma vida completamente diferente, mantendo sua dignidade. A Fanny não pode ser esquecida. Foi uma mulher à frente de seu tempo”.


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Frau Fuchs: a parteira mais famosa da cidade Clara Fuchs trouxe muitos brusquenses ao mundo e até hoje é lembrada por seu ofício

JAQUELINE KUHN/CURTO FOTOS ANTIGA S DE BRUSQUE

Foi pelas mãos de Clara Fuchs, ou simplesmente Frau Fuchs, que muitos brusquenses vieram ao mundo. Em uma época em que as mulheres tinham seus filhos em casa, já que a primeira maternidade de Brusque surgiu somente na década de 1930, a figura da parteira era fundamental. Nascida em junho de 1891 em Luiz Alves, no Vale do Itajaí, Frau aprendeu em Blumenau o ofício que a tornou conhecida e admirada em toda a região. Sua paciência, delicadeza e zelo antes, durante e depois do parto, foram qualidades que rapidamente a tornaram muito requisitada. Com sua bicicleta, percorria os quatro cantos de Brusque para ajudar mães a darem à luz. Também se deslocava de carroça, carro de mola ou automóvel quando solicitada, a qualquer horário do dia ou da noite. Para Frau, não bastava apenas ajudar no parto. Durante oito dias, ela acompanhava de perto a mãe e o recém-nascido, sempre cuidando para que a criança se desenvolvesse da melhor forma possível. “Ela embrulhava os bebês em panos

s anos

Clara Fuchs exerceu o ofício de parteira por muito

e eles nem se mexiam, ficavam iguais uma múmia. Ela também tinha uma umbigueira para não saltar o umbigo se a criança chorasse muito”, lembra Norma Hörner, 85 anos, que foi vizinha da parteira mais famosa da cidade. Frau morou durante toda a vida na rua Marechal Deodoro, nas proximidades da rua das Carreiras, atual Hercílio Luz. Casada com Otto Fuchs, operário da Buettner, teve dois filhos: Max e Rudi, e também muitos filhos do coração, como Lúcia, Euwaldo e Max Ristow, que foram adotados ainda na infância por ela. “Era uma casa muito alegre, com muitos bichos e pessoas que moravam com eles. Ela acolhia, tinha muitos hóspedes, os rapazes do sítio que vinham estudar em Brusque ficavam na casa dela”, recorda.

Ajudante da cegonha Ao lado de Alice Schlindwein, 83 anos, que também foi vizinha da parteira durante toda a vida, dona Norma lembra que as crianças e os jovens acreditavam que Frau


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REPRODUÇÃO/PEDALANDO PELO TEMPO

Frau Fuchs nasceu em junho de 1891, em Vidal Ramos

era u uma espécie de “ajudante da cegonha”. “Fa “Falavam que a cegonha pegava o neném da lagoa que tinha aqui perto e dava pra Frau Fuchs levar para a família. Quan Quando ela deixava a bolsa, às vezes ficava um pedaço de pano pra fora, e todo mun mundo se agitava porque eram os panos do b bebê que ela ia levar”. Alé Além de excelente parteira, Frau cult cultivava em seu quintal um extenso rol de d plantas e ervas que ajudavam a com combater diversos males. “Tinha chá pra tudo, e ela tinha sempre a varinha por perto, porque a criançada brincava e pisava nos canteiros”. Fra Frau também era extremamente supers persticiosa. Nos aniversários que freque quentava, costumava levar de presente um buquê com sete tipos de flores para dar sorte ao aniversariante. Na véspera do ano novo, lembra dona Nor Norma, ela recomendava que quando tom tomasse banho, a pessoa não pendurasse aas roupas sujas. “Não podia recolher a rou roupa, era pra deixar no chão, não podia pen pendurar. Ela dizia que trazia sorte”. M Mesmo após a inauguração da Maternidad dade Cônsul Carlos Renaux, Frau continua nuava a exercer seu ofício com maestria. De acordo com o livro Pedalando pelo Tem Tempo, de Ricardo Engel, por vezes a exp experiente parteira era chamada para aux auxiliar o prestigiado Dr. Mattioli. Ex Exerceu a função que lhe trouxe fama por muitos anos. Segundo a publicação, ain ainda aos 75 anos de bicicleta saía para ate atender às famílias. Depois, passou a ate atender somente em sua casa. F Frau faleceu em novembro de 1984, aos 93 anos, deixando sua marca na história da das famílias de Brusque.


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Augusta von Knorring: a primeira professora de Brusque Ela lecionou na primeira escola de meninas da cidade e hoje dá nome à escola

CASA DE BRUSQUE/DIVULGAÇÃO

Nascida em Estocolmo, na Suécia, em 1829, Augusta von Knorring é considerada a primeira professora de Brusque. Descendente de uma família nobre, ela chegou ao Brasil de navio em 1850, acompanhada do marido, Evert von Knorring, que sofria de tuberculose e foi aconselhado pelos médicos suecos a passar um tempo em lugar de clima mais ameno. Foi escolhido, então, o Brasil, mais precisamente Santa Catarina. A viagem durou em torno de dois meses, de acordo com a biografia escrita pela neta do casal para a revista Notícias de Vicente Só, da Casa de Brusque, em 1979. Augusta e Evert desembarcaram no porto de São Francisco e, nos três primeiros anos, viveram em Joinville, Alvarenga e São Francisco. Evert, entretanto, não apresentou melhora em seu quadro de saúde. Os dois foram então para o Rio de Janeiro com o objetivo de embarcarem em um navio de volta para a Suécia, porém, no dia da partida, Evert ficou muito doente e a viagem não pode ser realizada. Ficaram no Rio de Janeiro por algum tempo, onde se tornaram administradores de uma fazenda, entretanto, com a saúde frágil do marido, Augusta decidiu voltar para Santa Catarina, já com a filha Mathilde recém-nascida. Passaram de cidade em cidade: Desterro (hoje Florianópolis), São Pedro de Alcântara, Rancho Queimado, Enseada de Brito, São Miguel e Tijuquinhas. Voltaram para Desterro, onde viveram durante dois anos. Augusta auxiliava na renda de casa fazendo bordados finos e costuras, enquanto Evert lecionava Latim. Nesta época, por volta de 1861, surgiu a primeira escola de meninas de Brusque, e Augusta, aconselhada por amigas, decidiu se ins-

Augusta iniciou suas atividades em Brusque em 1861

crever para dar aulas no local. Fez o exame e conseguiu bom resultado, sendo nomeada para o cargo. No começo, a escola funcionava em uma pequena casa de madeira, mas, logo depois, foi construído um prédio maior. “Os anos que se seguiram com certeza foram os mais felizes da sua vida. Ela criou muito amor às suas alunas e à incrível população de Brusque”, escreveu a neta de Augusta, Alice von Moers, para a revista Notícias de Vicente Só, em 1979. Augusta sempre foi uma professora muito dedicada e comemorava cada progresso feito por suas alunas, que amavam sua mestre. Alice contou à revista Notícias de Vicente Só que, nos aniversários, de Augusta, as alunas traziam presentes e recitavam poesias à professora. Em 1864, o marido de Augusta faleceu. Por conta disso, seus irmãos a escreveram pedindo que ela e a filha voltassem para a Suécia, mas Augusta não quis abandonar sua profissão e suas alunas e, portanto, decidiu ficar em Brusque. A professora lecionou na cidade até os 65 anos, quando foi morar com a filha e o genro em Blumenau. Lá, ela continuou no ofício, ensinando para suas netas e mais algumas moças da vizinhança português, geografia, aritmética e religião. Augusta von Knorring faleceu em julho de 1898, aos 69 anos, vítima de uma doença hepática. Sua dedicação na primeira escola de meninas de Brusque, porém, nunca foi esquecida. Hoje, Augusta von Knorring dá nome à escola da localidade de Cerâmica Reis, e também nomeia uma comenda instituída pela lei 3.667/2013, concedida a pessoas que fazem a diferença na educação brusquense.


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Conteúdo patrocinado, apresentado por

Mulheres que inspiram No dia da mulher, Lemus presta homenagem a mulheres que são símbolo de força e independência em Brusque Para a Lemus, toda mulher é única e poderosa. Por isso, neste dia 8 de março, a loja homenageia mulheres que são exemplos de garra, determinação e competência naquilo que fazem. Confira:

Darci Hellmann, fotógrafa Darci Klann Hellmann é fotógrafa há mais de 40 anos em Brusque. Em todos esses anos, presenciou momentos importantes da vida de muitos brusquenses e ajudou a eternizá-los por meio de seu trabalho. Ela é, com certeza, um exemplo do que é a mulher nos dias de hoje: batalhadora, vaidosa, sempre antenada nas novidades e nunca se deixa abater pelas dificuldades.

Dona Darci se orgulha em ser mulher e acredita que o mundo é melhor com as mulheres. “A mulher é guerreira. Um ser que é capaz de gerar uma vida, quer algo mais maravilhoso do que isso, dar vida a outra vida? A mulher é uma bênção de Deus, expressão do amor de Deus. Um mundo sem mulheres seria um mundo frio, sem amor, sem graça e além de tudo tem a beleza. A mulher deixa aflorar as coisas lindas que vem de dentro e deixa tudo mais bonito”. “Você mulher, você é sublime, você é perfeita, você é mulher. Toda mulher leva um sorriso no rosto e mil segredos no coração”, diz.

até a noite sempre com um sorriso no rosto, pronta para acalmar e atender todas as mulheres que chegam ao consultório. Ela costuma dizer que conhece Brusque inteira e que os filhos das pacientes que o médico traz ao mundo também se tornam um pouco seus filhos. “Amo minha profissão. Pra mim, o dia deveria ter 48 horas para que eu pudesse dar mais atenção a cada mulher que chega

aqui. Não tenho filhos, mas costumo dizer que tenho um monte de filhos, porque cada bebê que nasce pelas mãos do doutor José Carlos, são um pouco meus também, porque acompanho aquela mãe desde o início. Criamos um laço. Costumo dizer que mulher é um ser abençoado, porque foi pra mulher que Deus deu o dom de gerar a vida. A mulher é um ser especial, sim, e merece todo carinho e respeito do mundo”.

Jô Borba, secretária Há 24 anos, Josiley Borba, a Jô, acompanha mulheres de todas as idades na sala de espera do consultório do médico José Carlos Fuganti. Enquanto aguardam a consulta, as pacientes acabam criando laços com Jô que as atende com todo carinho e atenção que merecem. Mulher moderna, Jô trabalha de manhã

Darci Hellmann

Jô Borba

Conteúdo produzido por O Município Comercial


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Albertine Burow von Buettner: a mulher forte da indústria Ela apoiou o filho e se tornou a precursora de uma das mais importantes empresa empresas de Brusque FOTOS ARQUIVO HELGA ERBE KAMP

Poucos sabem, mas uma das as mais importantes indústrias de Brusstria e que, a Buettner S/A Indústria Comércio, foi iniciada com o suher. porte e trabalho de uma mulher. Albertine Burow von Buettner, ettner, ner, foi esposa de Eduard von Buettner, quem apoiou o filho mais velho, Edgar, na criação de uma indústria, em 1898. “Meu avô [Eduard] não queria mércio, indústria. Ele era de comércio, tinha serrarias, produtos coloa ele. niais, isso que interessava Mas Edgar tinha um perfill mais ilho”, industrial, e ela apoiou o filho”, conta Helga Erbe Kamp, 85 anos, neta de Albertine. dústria Nascia, então, a Indústria a, que Eduard von Buettner e Cia, começou com a importação ão de as, as armações para sombrinhas, m filó, quais eram forradas com rdadas também importado, e bordadas nivela, com as máquinas à manivela, trazidas por Edgar da Alemanha. anha.

Albertine iniciou a primeira confecção em Brusque

Pouco tempo depois do início da fábrica, em 1902, o marido de Albertine, Eduard, morre e ela é quem toma as rédeas dos negócios da família. Dona Helga lembra que sua avó foi a iniciadora da primeira confecção em Brusque. “Ela talhava pessoalmente os aventais e os mandava para mulheres da vila costurarem”, afirma. De acordo com dona Helga, Albertine era não somente uma excelente e enérgica mãe, dona de casa e anfitriã, como foi uma das fundadoras do “Frauenverein”, Grupo de Senhoras Auxiliadoras da Comunidade Luterana de Brusque. Ela também atuou como suporte discreto das atividades do marido que, além de seus empreendimentos comerciais, tornou-se co-fundador da primeira escola da cidade, a Escola Evangélica, e foi presidente do “Turnverein”, o Clube de Ginástica. “Não cheguei a conhecê-la,


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Albertine nasceu em 1850, na Pomerânia, hoje parte da Polônia

11 ma minha avó, com certeza, mas foi uma mulher à frente de seu tem tempo. Naquela época, para um uma mulher exercer funções for fora de casa era muito raro, que quem dirá trabalhar numa indús dústria”, destaca a neta. D Dona Helga conta que o casarão Bue Buettner, localizado em frente à sub subida do morro da Igreja Luteran rana e demolido em 1987, era um lug lugar bastante alegre e frequenteme mente era palco de muitos saraus e recepções, re já que Albertine gostav tava muito de música. Ela também apreciava cuidar do jardim e cultiapr vav vava muitas samambaias que embel belezavam o local. A Albertine nasceu em 1850, na Pom Pomerânia, hoje parte da Polônia, e veio ao Brasil para acomnia pan panhar sua irmã. Como era bem letr letrada, Albertine recebeu o convit vite de ser a leitora para a idosa Con Constance, Condessa Poninska, na época já quase cega. A condessa então já residia em Blumenau, em companhia de seus Blu sob sobrinhos Apollonia e Eduard von Bue Buettner, ambos filhos de sua irmã Ma Maria von Buettner, nascida Condes dessa Poninska, já falecida. O jovem Eduard se apaixonou por Albertine. Da união, nasceram seis filhos: Edgar, Alice, Arthur, Osw Oswald, Erna e Wally. Ela faleceu aos 73 anos, em 1924, em conseq sequência de problemas renais. “Ai “Ainda chegou a ver a construção da grande chaminé da tinturaria da Buettner, no Bateas, em 1923”.


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Maria Celina Vidotto Imhof: dedicação ao turismo e à educação Professora fez parte do grupo que criou a Fenarreco e empresta seu nome ao pavilhão de eventos

FOTOS ARQUIVO DA FAMÍLIA

Maria Celina Vidotto Imhof é um nome que todo brusquense já ouviu falar ao menos uma vez. Entretanto, poucos conhecem a história de vida da mulher que dá nome ao pavilhão de eventos do município. Natural de Florianópolis, Maria Celina veio para Brusque ainda criança, com seis anos de idade, quando sua mãe, Edmée Novaes Vidotto, foi transferida para assumir o cargo de diretora do antigo Grupo Escolar Feliciano Pires. Começou a atuar como professora aos 16 anos, após formar-se no magistério e, em 1974, formou-se em Letras. Deu aulas no Feliciano Pires, João XXIII, Araújo Brusque, Padre Lux e Henrique Bosco, em Guabiruba. Também foi professora durante 16 anos no Colégio Estadual Ivo Silveira, no Águas Claras, a qual também dá nome à biblioteca da instituição. “Ela trabalhava na Fenarreco, ajudava na decoração, na contagem dos tickets, na cozinha. A primeira Fenarreco foi uma festa que ultrapassou as nossas expectativas e ela foi muito importante nas primeiras edições”, conta Nivert Imhof, 68 anos, viúvo da professora. Maria Celina é lembrada pelo viúvo como uma mulher simples, batalhadora e muito culta. “Ela tinha uma vontade muito grande de trabalhar e um amor imenso por Brusque”, diz. Imhof recorda que a morte da esposa, em fevereiro de 1992, comoveu toda a cidade. Aos 38 anos, após lutar por cinco anos contra um câncer de mama, Maria Celina perdeu a batalha para a doença. “Ela sempre lutou muito, nunca chorou, se lamentou. Foi uma mulher de muita coragem e trabalhou até o último dia”.

Maria Celina durante sua formatura

A morte prematura de Maria Celina, brusquense de coração, sensibilizou as autoridades, que decidiram homenageá-la. Em setembro de 1992, o então prefeito Ciro Roza nomeou o pavilhão de eventos da cidade com o nome da professora. “Nossas filhas eram pequenas quando ela faleceu, a Bruna ti-

em 1974

nha oito anos, a Beatriz tinha 10 e a Betina tinha 12, então foi um conforto muito grande o nome dela ser lembrado. Cada vez que o nome dela é citado, a gente revive o passado”. Em 1994, Maria Celina foi homenageada mais uma vez. Agora, com seu nome na biblioteca do Colégio Ivo Silveira, devido à sua

Maria Celina faleceu aos 38 anos, vítima de câncer de mama

bela trajetória na instituição. “Ela era professora de Português, gostava muito de ler e incentivava os alunos à leitura. Como a escola na época não tinha biblioteca, fez campanha com os alunos para aquisição de livros”. Passados 26 anos de sua morte, a família lembra com orgulho e carinho da rápida, porém marcante,

trajetória de Maria Celina. Ter o nome dela no principal espaço de eventos da cidade faz com que, de alguma forma, ela se mantenha viva. “Minhas filhas hoje são conhecidas por serem filhas da ‘mulher do pavilhão’. As pessoas lembram muito do nome. Para nós é um orgulho muito grande. Ela jamais será esquecida”.


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