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BOTUVERĂ 56 ANOS

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Cidade transformada á muito tempo Botuverá deixou de ser uma pequena cidade rural. É, hoje, um importante município na cadeia produtiva têxtil catarinense, mas a realidade era bastante diferente até a década de 1980, quando predominavam a fumicultura e a extração de madeira. No dia 9 de junho, a cidade completa 56 anos de emancipação político-administrativa. No especial Fios do Progresso, O Município conta como foi o processo de industrialização da cidade. Em pouco mais de 30 anos, Botuverá conseguiu fazer algo que muitas cidades maiores ainda hoje sonham atingir: tornar-se efetivamente industrial. Alcançar este objetivo só foi possível pelo espírito empreendedor, pela criatividade e pela persistência dos botuveraenses. Mário Feuzer teve grande participação para que o têxtil fosse implantado na cidade. Mas de nada adiantaria apenas uma pessoa bem intencionada. Nas várias entrevistas colhidas para este caderno, percebeu-se um espírito irrequieto dos empresários. Eles decidiram apostar no novo sem ter garantias de que o seu investimento renderia algo duradouro. Aventuraram-

-se num segmento competitivo, guiados pelo empreendedorismo e por uma vontade de melhorar Botuverá, à época atrasada em relação a outras cidades da região. A aposta provou-se acertada e rendeu frutos. Os números mostram que a qualidade de vida melhorou, a renda média subiu e a cidade conquistou um nível de independência financeira inimaginável na década de 1980. Se o ímpeto de aventureiro dos empresários foi importante, igualmente determinante foi a força laboral botuveraense. Ainda que inexperientes no manuseio das máquinas de fabricar fios e de costura, os botuveraenses mostraram disposição, perspicácia e inteligência para abraçar o novo trabalho. Foi a união da força dos trabalhadores com a astúcia empresarial que modificou para sempre a história da cidade. Botuverá serve de exemplo para o Brasil e para o mundo de que quando uma sociedade deseja, é possível transmutar a sua própria trajetória em pouco tempo. Fazemos votos para que a inventividade continue a florescer entre os botuveraenses. Que consigam prosperar no difícil e altamente competitivo ramo têxtil. Parabéns, Botuverá!

MARCOS BORGES

H

Sumário Botuverá da década de 80 era rural página 4

Têxtil corresponde por mais de 50% da economia páginas 6 e 7

Mário Feuzer é considerado o “pai do têxtil” página 8

Conheça as primeiras fiação e confecção páginas 10 e 11

Funcionários pioneiros tinham origem agrícola páginas 12 e 13

Novas empresas surgem a cada ano páginas 14 e 15

Jornal O Município Rua Felipe Schmidt, 31 - sl. 01 Centro - Brusque - SC Fone: (47) 3351-1980 www.omunicipio.com.br

Diretor Claudio José Schlindwein

Editor-executivo Andrei Paloschi editor@omunicipio.com.br

Repórter

Tiragem

Marcos Borges

5.700 exemplares

Diagramadora

Páginas

Julia Fischer Barni

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Município rural Até a década de 1980, Botuverá dependia da fumicultura e da extração de madeira Botuverá da década de 1980 - quando surgiu a indústria têxtil - em quase nada lembra a cidade de hoje. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no início dos anos 80, o município tinha apenas 3.582 habitantes. Destes, 474 viviam em área urbana, enquanto que 3.108 ainda estavam na zona rural. Naquela época, Botuverá era essencialmente dependente de dois grandes ramos de atividade: fumicultura e madeireira. A economia botuveraense era quase totalmente dependente do plantio do fumo. Ademir Luiz Maestri foi prefeito de 1983 a 1988. Ele conta que, à época, cerca de 90% da atividade econômica tinha relação com essa atividade agrícola. Sérgio Colombi, prefeito entre 1973 e 1978, relata que na década de 1970, portanto poucos anos antes da chegada do maquinário industrial, havia, em Botuverá, aproximadamente 1,3 mil estufas de fumo. O número era expressivo pelo tamanho da cidade. Com o plantio de fumo, a economia funcionava bastante diferente de hoje em dia. Os agricultores geralmente colocavam a própria família na labuta. A geração de emprego era baixa e as perspectivas de aumento de renda ainda menores. A falta de uma população economicamente ativa refletia-se no comércio local. Colombi lembra que, nesta época, as famílias compravam na caderneta para pagar na próxima safra. As pessoas tinham de se programar para fazer o pagamento da colheita render 12 meses ou quase isso. A injeção de dinheiro nos comércios era pequena e quase que estritamente anual.

PUBLICADO POR NETO ROSIN/CURTO FOTOS ANTIGAS DE BRUSQUE

A

Botuverá chegou a ter aproximadamente 1,3 mil estufas de fumo

Quando o clima não ajudava ou o mercado do fumo não pagava bem, a economia era fortemente impactada. “Às vezes, não sobrava para pagar a conta na venda, como se dizia, porque a safra variava por causa do clima e do preço que a fumageira pagava”, afirma Colombi. O então prefeito Ademir Maestri fazia como podia para tentar manter o município andando. A prefeitura ajudava os agricultores com máquinas, estradas e tubulação. O outro ramo de atividade

econômica da época mais relevante era composto pelas madeireiras. Havia três principais: Dalcegio, Assini e Pavesi. A extração de madeira e a fumicultura davam emprego a alguns moradores, mas não conseguiam fazer a cidade crescer. Era pouco para gerar impostos e riquezas à prefeitura, que então converteria o valor em melhorias, obras e incentivos. Jovem, pois o município havia se emancipado de Brusque em 1962, Botuverá ainda era muito dependente da cidade-mãe.

Boa parte dos agricultores se deslocava para fazer compras regularmente. O caminho entre Brusque e Botuverá era uma metáfora do que estava por vir. Era longo, cerca de 30 quilômetros, e tortuoso, assim como seriam as décadas adiante para a recém-criada indústria têxtil. Hoje, a rodovia tem 10 km a menos devido ao traçado. Além de ser codependente de Brusque e ter uma economia pequena, Botuverá enfrentou outros obstáculos. “Teve duas

enchentes que acabaram com o município”, comenta Maestri. As enchentes de 1983 e 1984 atingiram boa parte do estado e fizeram muitas vítimas. Em Botuverá, o estrago foi grande na infraestrutura. Sem recursos e com uma cidade abalada por duas enchentes, o prefeito Ademir Maestri comenta que já vislumbrava que a saída para o município seria se voltar para a indústria. Entre os moradores, muitos já falavam da necessidade de levar uma fábrica para a cidade.


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Mais de 50% do PIB Indústria é responsável pelo avanço da economia, que cresce acima da média estadual

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otuverá transformou-se em um município industrial. O Serviço de Apoio as Micro e Pequenas Empresas de Santa Catarina (Sebrae-SC) realizou um levantamento em 2017 no qual faz um diagnóstico da economia do município e confirma que mais da metade da riqueza gerada é oriunda da indústria - com ampla participação do têxtil. A pesquisa Botuverá em Números compilou os dados mais recentes referentes a vários indicadores. Por exemplo, o estudo demonstra que o Produto Interno Bruto (PIB) da cidade em 2014 foi de R$ 240 milhões, o 127º maior do estado. Deste total, segundo dados da Secretaria de Estado do Planejamento de Santa Catarina, 53,4% do PIB botuveraense estava ligado à indústria. Ou seja, mais da metade da soma de todas as riquezas da cidade vem deste segmento. O restante do PIB municipal é formado por 2,7% ligado à agropecuária, 1%, ao, comér-

cio, e 19,2%, ao segmento de prestação de serviços. A administração pública e os impostos representam 23,7%. Botuverá também tem uma das maiores taxas de crescimento do PIB. De acordo com os dados coletados pelo Sebrae-SC, entre 2010 e 2014, o acréscimo foi de 23,7% ao ano, enquanto que a mediana estadual é de 12,2%. O mesmo levantamento traz os números do Valor Adicionado Bruto (VAB) de cada segmento. O VAB é, em resumo, o lucro bruto de cada setor da economia. O maior segmento dentro do VAB da indústria é a indústria de transformação. Estão inseridos neste ramo a madeireira e celulose, metalmecânica e o têxtil, entre outras atividades. O segmento de transformação responde por 77,3% do PIB de Botuverá. Dentro da transformação, a cada R$ 10 de riqueza gerados, R$ 8,90 são relacionados ao têxtil. Para se ter uma ideia da re-

levância desta fatia de mercado, o segundo colocado é a madeireira e celulose com em torno de R$ 1. “Temos que destacar os nossos empresários. Teve crise, mas não sentimos. O nosso empresário é trabalhador. Hoje, o têxtil é a maior fatia da economia. Notamos a olho nu que o setor está crescendo, com indústrias modernizando as máquinas”, afirma o prefeito José Luiz Colombi, o Nene. O coordenador do Núcleo de Empresário da Associação Empresarial de Brusque (Acibr), Eduardo Barni afirma que a diversificação da economia é importante. Segundo ele, o têxtil tem se modernizado e está “alavancando a economia da cidade”. Os números demonstram que Botuverá deixou de ser rural há muito tempo. Hoje, está entre as cidades mais ricas do estado. Os valores contrastam com o tamanho de sua população, entre as menores cidades catarinenses.

Representatividade do VAB no PIB 2014 15.3

2.7

8.4 53.4 19.2

1 Indústria

Administração Pública

Agropecuária

Serviços

Impostos

Comércio

Valor Adicionado Fiscal (VAF) em 2015 13.886.182

20.002.594

Quantidade de empresas do setor têxtil conforme o Sebrae

127.010

38

22.030.834 21.348.527

14.561.582

14 9 4 Preparação e fiação de fibras têxteis

Tecelagem, exceto malha

2 Fabricação de tecidos de malha

2 Acabamento em fios, tecidos e artefatos têxteis

Fabricação de artefatos têxteis, exceto vestuário

Confecção de artigos do vestuário e acessórios

FONTE: BOTUVERÁ EM NÚMEROS - SEBRAE-SC

Preparação e fiação de fibras têxteis

Acabamento em fios, tecidos e artefatos têxteis

Confecção de artigos do vestuário e acessórios

Fabricação de tecidos de malha

Fabricação de artefatos têxteis, exceto vestuário

Tecelagem, exceto malha FONTE: BOTUVERÁ EM NÚMEROS - SEBRAE-SC


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Qualidade de vida deu um salto com iniciativas D ados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) comprovam o avanço da cidade. Em 1991, o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) era 0,460, considerado muito baixo. Fazia apenas seis anos que a primeira fábrica têxtil - a Fiação Botuverá - havia sido aberta. A indústria ainda engatinhava e começava a criar raízes nesta época. Em 2010, o IDHM já havia subido para 0,794 - considerado muito alto. O padrão de vida cresceu, uma vez que a indústria oferece empregos mais estáveis e com melhores salários. O PIB per capita subiu 114% de 2010 a 2014. Saltou de R$ 22.961 para R$ 49.328 anuais, de acordo o levantamento. O prefeito diz que Botuverá é industrial e cada vez mais pessoas estão indo trabalhar

no ramo têxtil. Ele implantou o transporte coletivo no ano passado com linhas para os trabalhadores como forma de contribuir para o desenvolvimento da atividade. Nene avalia que o têxtil pode envolver também outras atividades comuns em

Botuverá, como o plantio de eucalipto para reflorestamento. “O setor produtivo da indústria têxtil também pode incluir a lenha, que vai na caldeira das tinturarias. Apesar de a lenha ser isenta de impostos, agrega valor e gira a economia”.

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Crescimento do VAF de 2010 para 2015 Agricultura, pecuária, prod. florestal, pesca e aquicultura

2.605.934 2.859.986 12.277.216

Indústrias extrativas

21.775.655 33.190.090

Indústrias de transformação

111.621.262 13.725.041

Eletricidade e gás

26.933.764

Evolução do IDHM de Botuverá 0,724 0,598

Água, esgoto, gestão de resíduos e descontaminação

0,460

Transporte, armazenagem e correio 1991

2000

584.718 18.044

Com. e reparação de veículos automotores e motocicletas

2010

4.474.357 7.017.243 1.465.875 9.779.905

Alojamento e alimentação

61.093

Informação e comunicação

1.984.825

380.051

FONTE: BOTUVERÁ EM NÚMEROS - SEBRAE-SC

Evolução do PIB per capita

2010

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Atividades administrativas e serviços complementares

22.961

Outras atividades de serviços

2.517.383 7.498 127.742 21.697 70.504.387

Total

2011

182.924.989

23.509 2010

2012

2013

2014

2015

FONTE: BOTUVERÁ EM NÚMEROS - SEBRAE-SC

Ramo gera retorno em impostos O

25.734

35.825

49.328 FONTE: BOTUVERÁ EM NÚMEROS - SEBRAE-SC

Valor Adicionado Fiscal (VAF), usado como base para o cálculo de retorno do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), também teve um salto em Botuverá com o amadurecimento e crescimento da indústria. Em 2010, o VAF era de R$ 70,5 milhões. Quatro anos depois, foi para R$ 182,92 milhões. Uma fração disso foi destinada à prefeitura.

Nene Colombi afirma que o têxtil representa uma fatia importante em impostos. O valor é convertido em benfeitorias do poder público. Segundo ele, hoje em dia, a prefeitura tem as contas equilibradas devido ao alto retorno que o têxtil proporciona. Isso também possibilita mais independência financeira para obras próprias, contrapartidas e capacidade de endividamento.


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O pai do têxtil Mário Feuzer reuniu empresários e capitaneou a fundação da primeira fiação surgimento da indústria têxtil em Botuverá teve um incentivador audacioso. Empresários e moradores do município são unânimes em afirmar que foi Mário Feuzer, hoje com 65 anos, que deu o pontapé inicial na guinada industrial no município. Nascido em Presidente Nereu, Alto Vale do Itajaí, em 1953, Feuzer saiu de casa em 1974 para trabalhar em Blumenau. Os rumos da vida o trouxeram para Brusque cerca de um ano depois. Feuzer começou na Fábrica de Tecidos Carlos Renaux. Desde jovem, tinha ambição de ter um negócio próprio. Por isso se dedicou com afinco à atividade. “Eu sempre almejei ter um negócio próprio. Tudo o que tinha lá dentro da Renaux eu desenhava e era conhecedor. Conhecia todos os parafusos da fiação”, comenta. Depois de quase 11 anos na Renaux, Feuzer já tinha conhecimento o suficiente para empreender. Tinha ciência de que a concorrência em Brusque era grande, por isso resolveu inovar e buscar Botuverá. Até então, a cidade era muito rural. A maior parte da população era de colonos. Apenas alguns viajavam - pois na época era uma viagem - a Brusque diariamente para trabalhar nas grandes indústrias. Feuzer não teve medo e pediu ajuda a várias pessoas. Dentre elas estava o botuveraense Geramir Vicentini, o Gica, que trabalhava com ele na Renaux. O empreendedor também buscou o prefeito da época, Ademir Luiz Maestri. Foram várias conversas com o chefe do Executivo, que estava entusiasmado com a chance de ter uma fábrica na cidade para melhorar

ARQUIVO PESSOAL

O

me. Durou pouco e Feuzer logo foi embora. Anos depois, Feuzer foi para Indaial, onde abriu sua confecção. Hoje, está aposentado e fala com saudosismo e orgulho do seu tempo na região. “Há um ano, estive em Botuverá e fiquei muito feliz porque o Élio Fachini, o primeiro funcionário, aposentou-se na Fibla. Fiquei contente em saber que já chegou a este ponto de ter gente se aposentando pelo tempo de trabalho na empresa”, afirma.

Grande incentivador

Mário Feuzer hoje tem 65 anos e vive em Indaial

a situação da população. “Nós temos que agradecer ao Mário Feuzer, porque ele fez algumas viagens ao meu gabinete. Um dia eu perguntei a ele: ‘qual é o teu recurso para uma fiação?’. Ele me respondeu que tinha uma casa, um telefone e tal. Aí eu dei uma opinião: ‘por que você não pega os empresários do município?”, lembra Maestri. O empresário seguiu a recomendação. “Antes de conversar com os sócios, eu tinha adquirido o maquinário em São

Paulo, mas não queria colocar em Brusque. Fui conversar com o Ademir, prefeito na época, e ele disse: traz para cá”, declara Feuzer. Oito empresários de vários segmentos da economia aderiram à empreitada. O espírito empreendedor dos botuveraenses e a expertise de Feuzer deram nascimento à Fiação Botuverá Ltda, a Fibla, em 1987. “Era uma grande novidade montar a indústria, mas as pessoas tinham conhecimento disso nas grandes empresas.

Claro que isso custou 90% de transpiração e 10% de inspiração, porque foi muito trabalhado para colocar o maquinário para rodar”, lembra Feuzer. O trabalho na Fiação Botuverá durou pouco tempo e logo Feuzer saiu da sociedade. Em 1987, ele ajudou no desenho e na montagem da Fiação Águas Negras. A contribuição pioneira dele para o desenvolvimento da cidade teve mais um capítulo. Ele chegou a ter a própria fiação, que levava o seu sobreno-

O legado de Feuzer se proliferou e atualmente é a base da economia do município. Os empresários e funcionários pioneiros lembram ainda hoje e destacam a contribuição do ex-funcionário da Renaux. O Gica - supervisor da Fiação Botuverá, que chegou a trabalhar com Feuzer na Renaux diz que ele foi corajoso. “Passamos por dificuldades, foi difícil, mas fomos expandindo”. O vice-prefeito de Botuverá, Alcir Merizio, afirma que Feuzer é uma espécie de “pai do têxtil” na cidade. “A gente tem que lhe agradecer, porque ele reuniu os sócios e juntos montaram a primeira fiação. Foi uma pessoa que bancou o nosso ramo têxtil”. Prefeito na época das negociações com Feuzer, Ademir Maestri diz que a coragem dele e o espírito audacioso dos empresários foram determinantes para que a cidade se desenvolvesse. Sérgio Colombi foi um dos oito sócios a aderir ao projeto de Mário Feuzer na fundação da Fibla. Colombi também afirma que ele foi arrojado ao abrir uma fábrica numa cidade praticamente rural.


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Embrião da indústria Fiação Botuverá, fundada por nove sócios, foi a primeira fábrica do município

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nascimento da indústria têxtil foi um reflexo direto do que se passava em Brusque e no país. Para entender o que levou o pequeno município a entrar na cadeia produtiva é preciso conhecer o contexto da época. A primeira indústria têxtil em solo botuveraense surgiu em 1985. Naquela época, Botuverá era uma cidade essencialmente rural. Dependia da agricultura e da extração de madeira. No plano nacional, o Brasil vivia momentos turbulentos. Em 1985, assumiu José Sarney, primeiro presidente da República

da era democrática, após o fim da ditadura militar. Os índices econômicos iam de mal a pior. O principal deles é que a inflação galopante corroía o salário dos trabalhadores. Em contrapartida a esse cenário para a população, as empresas se aproveitavam do incentivo que o governo ainda dava às exportações. Em 1985, de acordo com o Banco Central, o Brasil registrou saldo positivo na balança comercial de mais de 12 bilhões de dólares. “A década de 1980 foi um grande momento para a indústria têxtil, principalmente para

as que eram grandes aqui. Muitas delas eram voltadas para a exportação, e o mercado externo absorvia bastante, principalmente cama, mesa e banho. Havia um crescimento contínuo que começou na década de 70 e foi até o início dos anos 90”, analisa o presidente do Sindicato das Indústrias de Fiação, Tecelagem, Malharia e Tinturaria de Brusque, Botuverá e Guabiruba (Sifitec), Marcus Schlösser.

Mão de obra O crescimento calcado na exportação e no mercado

interno fizeram do setor o grande alvo dos trabalhadores. Quando se falava em curso técnico, pensava-se na área têxtil e de vestuário. “O têxtil era o setor preferido na procura por cursos técnicos de formação. Muitos brusquenses foram para o Cetiqt, no Rio de Janeiro, e voltaram com conhecimentos”, afirma o presidente do Sifitec. As empresas também investiram valores consideráveis na formação dos funcionários. “O Senai, primeiro aqui e depois fora, e as empresas incentivavam essa formação. As

empresas investiram em centros de treinamento internos. Claro que as pessoas que se formaram nem sempre foram absorvidas na própria empresa”, completa Schlösser. A mão de obra qualificada acabou superando a demanda e isso, na avaliação de Schlösser, contribuiu com a expansão da indústria têxtil para outras cidades, como Botuverá. Outro fator é que as grandes fábricas estavam com espaço físico limitado. Terceirizar para parceiros mais distantes era uma alternativa interessante.

Nove sócios fundam a Fiação Botuverá m meio a esse panorama nacional e regional, Botuverá também vivia sua própria realidade. O setor madeireiro sofreu forte impacto devido às regulamentações ambientais, e a fumicultura também começou a perder força. Mário Feuzer, trabalhador da Fábrica Renaux por 11 anos, apareceu nesse contexto com a iniciativa de abrir a primeira fiação em Botuverá. A ideia foi apresentada ao então prefeito Ademir Luiz Maestri. Maestri conta que fez um grande esforço para conseguir viabilizar a abertura da empresa. Geramir Vicentini, o Gica, empregado da fiação, conta que, na época, os botuveraenses tinham a cultura de plantar fumo em qualquer pedaço de terra. Por isso achar um terreno para a empresa foi tarefa difícil. No fim, a prefeitura comprou da família Fachini o terreno onde hoje está a Fibla, nome popular da Fiação Botuverá. A área foi doada a um grupo de nove empresários reunidos por Feuzer para o primeiro empreendimento. Os empresários pioneiros, além de Feuzer, foram: Alexandre Dalcegio, Celio Vargas, Dino José Dalcegio, Érico Brogni, Ismar Pedrini, José Fachini, Valdir Paloschi, Sérgio Colombi. Havia gente do ramo madeireiro, comércio, agricultura e de transportes. Não tinham experiência em uma fiação, mas Feuzer possuía, após anos de Renaux. Feuzer não tinha ideia, mas a Fiação Botuverá seria o embrião da transformação da cidade. De rural, passou a ser industrial. Próspera, viu sua população crescer exponencialmente. A sociedade entre os nove

ACERVO FIBLA

E

Em pé, da esquerda para a direita: Alexandre, José, Osvaldo, Valdir, Eliana, Ademir, pessoa não identificada, Miriam e Mário Feuzer Sentados, da esquerda para a direita: Valter, Célio, Ismar e Maneca

empresários durou pouco. Logo, uns foram vendendo suas partes para os outros. Em 1994, Antônio Ogliari, empresário dono da Toalhas Atlântica, comprou a Fibla. A família até hoje é proprietária do Grupo Atlântica, que reúne também a Porto Franco Indústria Têxtil. A Porto Franco é um capítulo à parte na história do grupo. A primeira Porto Franco surgiu

no fim da década de 1990 e produzia cuecas. Segundo Fabrício Ogliari, administrador da Fibla, a família sentiu a necessidade de atuar também nessa área naquela época. Fez sucesso, mas por pouco tempo. A Porto Franco que existe hoje tem apenas o mesmo nome que a anterior, que fazia cuecas. Até o CNPJ e a Inscrição Estadual mudaram.

Hoje, a Porto Franco atua no segmento de cama, mesa e banho e é a única do ramo no município a exportar. “De 1985 para cá, a Fiação Botuverá foi pioneira e hoje vemos crescimento enorme do município através da indústria, que trouxe muito emprego. Houve também uma mudança cultural”, avalia Fabrício Ogliari. Segundo ele, atualmente a

Fibla emprega cerca de 100 funcionários e produz aproximadamente 6 milhões de quilos de fio por ano. A empresa já vai para a terceira troca de maquinário da fiação. Hoje, a Fiação Botuverá é uma prestadora de serviços. Cerca de 50% da sua produção atende o Grupo Atlântica, e o restante é destinado a clientes que contratam o trabalho dela.


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Legado da Fibla gerou frutos érgio Colombi, 74 anos atualmente, já tinha sua empresa de contabilidade e havia sido vereador e prefeito antes de entrar como sócio da Fiação Botuverá. Em 1987, ele se retirou e pegou o dinheiro, equivalente a 30 carros Gol zero km da época. Colombi também era adepto da ideia de que a indústria era o caminho a ser seguido pela cidade. Como prefeito, percebera que a agricultura não daria mais frutos ao município. Por isso, ele resolveu abrir a primeira confecção: a Confebo. “Não tinha confecção em Botuverá, ninguém sabia costurar com máquina industrial. Com esse dinheiro, comprei 15 máquinas industriais e busquei uma moça em Brusque que entendia dessas máquinas para ensinar as funcionárias”, conta Colombi. O início foi complicado. Por três meses, as funcionárias ficaram em treinamento, cortando e jogando fora. Eram mulheres sem experiência, na maioria ex-donas de casa. “Depois começamos a confeccionar para a Malharia Regina e Marisul, do Ciro Roza, e fomos tocando”. “Nós tínhamos que buscar e levar, ninguém trazia. Hoje, as confecções de Brusque procuram as daqui. A logística era diferente naquela época”, lembra Colombi. A Confebo chegou a ter marca própria na década de 90. A empresa fazia desde a talhação até a peça final. Colombi espalhou representantes pelo Sul do país. Nos tempos mais áureos, eram 45 costureiras empregadas. As vendas iam bem, os pagamentos, nem tanto. Colombi conta que a inadimplência cresceu a ritmo acelerado. “Em 1998, a inadimplência era muito alta. Diminuímos para dez costureiras. Depois vendemos tudo e indenizamos todos, para não ficarmos com dívidas. Ao parar, somei que havia 90 mil

MARCOS BORGES

S

Sérgio Colombi em frente ao prédio onde funcionou a Confebo até 1998

dólares em cheques sem fundo”, diz o empresário. Embora tenha fechado a empresa, Colombi é orgulhoso da experiência que teve. Ele acredita que contribuiu para a cidade, pois muitas das ex-funcionárias abriram suas próprias confecções posteriormente. “Hoje, há um grande número de confecções na cidade que se originaram na Confebo. A empresa fechou, mas teve a sua parte positiva”, declara Colombi.

Expansão em Águas Negras A segunda fiação de Botuverá também teve origem na Fibla. A família Dalcegio era só-

cia da fábrica e depois foi abrir uma empresa própria. A Fiação Águas Negras foi fundada pelos Dalcegio e pelas tecelagens Rio Branco e Atlântica. Mário Feuzer também ajudou neste projeto. Ele conta que fez os desenhos para a fábrica, mas não ficou no negócio. O então prefeito Ademir Maestri também participou da negociação do terreno. Ou seja, a Fiação Botuverá estava dando frutos para a cidade. Os Dalcegio eram donos de uma das maiores madeireiras de Botuverá. Na década de 1980, passaram ao ramo têxtil. A família ainda administra a Fiação Águas Negras, em so-

ciedade com a empresa Sieg, de Brusque. A construção do galpão começou em 1987, mas a fiação só iniciou as atividades em 1989. “Teve um período para montar galpão e depois ficamos cinco ou seis meses parados”, afirma Ambrósio Dalcegio, atual administrador. Ele está na empresa desde o começo. O pontapé inicial na Fiação Águas Negras foi difícil, assim como havia sido dois anos antes com a Fibla. Mão de obra não faltava. Com a indústria em ascensão, havia muitos candidatos. Porém, a grande maioria não tinha a menor noção de como operar uma máquina industrial.

“Nós tivemos que ensinar praticamente todos. Só dois vieram de Brusque e sabiam trabalhar. O restante foi ensinado. Na época, a maioria trabalhava na agricultura”, comenta Dalcegio. Um dos períodos mais complicados para a fábrica foi quando houve as constantes mudanças de moeda e a hiperinflação, do fim da década de 1980 até 1994. Foi um desafio para a empresa, que teve de lutar para não fechar as portas. Hoje, a fiação tem 62 funcionários e produz mais de 600 mil quilos de fio ao mês. A fábrica presta serviço para outras empresas.


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Os primeiros funcionários Conheça as histórias de alguns trabalhadores mais antigos

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consolidação da indústria têxtil de Botuverá teve como aliado o espírito empreendedor da população. Mas para que as primeiras em-

presas dessem certo também foi fundamental a participação dos primeiros funcionários, alguns deles sem experiência alguma, mas com vontade entrar

no mercado de trabalho. Até a década de 1980, a cidade era essencialmente rural. Isso significa que havia dois tipos de trabalhadores:

os que se deslocavam até indústrias de Brusque e os que atuavam na agricultura, principalmente fumicultura. A mistura dessas categorias

foi fundamental para formar a mão de obra que alavancou o setor no município a partir de 1985. Conheça a história de algumas dessas pessoas.

Os pioneiros da Fibla eramir Vicentini, o Gica, é praticamente sinônimo da Fiação Botuverá. O botuveraense denuncia no seu sotaque as origens italianas. Com orgulho, conta como foi o começo de tudo. Filho de agricultores, Gica trabalhou por quatro anos e oito meses na Fábrica de Tecidos Carlos Renaux, em Brusque. Foi lá que se encontrou Mário Feuzer, o pioneiro do setor em Botuverá. Ele não só conheceu como teve papel fundamental para que o têxtil fosse para a cidade. Mário Feuzer comentou com Gica que queria abrir uma fiação na pequena cidade. Foi o botuveraense que sugeriu a Feuzer alguns nomes de empresários que poderiam ser sócios na empreitada. A Fiação Botuverá começou a ser concebida em 1984, e em fevereiro do ano seguinte, as máquinas começaram a rodar. Gica foi um dos primeiros contratados. “Quando as máquinas começaram a funcionar, vim para cá junto com colegas, porque já tinha conhecimento. Montamos e começamos a ensinar as pessoas. Assim começou”, conta Gica, hoje supervisor da produção da fábrica. Quando chegou à fiação, em 1985, Gica era responsável pelo treinamento dos novos

funcionários, já que tinha experiência da época da Renaux. O começo foi complicado porque era preciso ensinar tudo nos mínimos detalhes. “Ninguém sabia trabalhar na fiação, só três pessoas vieram sabendo, eu e mais dois. Nós treinamos todo o pessoal. Pegamos gente da agricultura porque o trabalho na fiação era mais manual antigamente”, lembra. Gica diz que o começo foi cheio de desafios. A primeira carga de algodão caiu do caminhão ao pé do morro antes da fiação. Sem alternativa, os funcionários tiveram de buscá-la nos braços. Aos longos dos 33 anos na fiação, Gica passou por várias funções, como auxiliar de encarregado e encarregado de turno, antes de ser supervisor. Era, e ainda é, “pau para toda obra”. Gica já se aposentou, mas ainda continua no batente. A Fiação Botuverá é a sua segunda casa. Deixá-la chega a apertar o coração. Para o supervisor, a Fibla foi preponderante para o desenvolvimento da cidade. “Foi a salvação de Botuverá. O município está nesse patamar devido à semente plantada aqui, mais de 30 anos atrás. Se dependesse da agricultura, ainda estaríamos na fumicultura”, avalia.

FOTOS: MARCOS BORGES

G

Gica Vicentini treinou os primeiros funcionários da fiação


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Desde o início Bernadete Merizio, 50 anos, mais conhecida como a Berna dentro da fiação, é outra figura icônica. Ela começou a trabalhar na fábrica antes mesmo que houvesse uma fábrica. “Antes de começar aqui, estava trabalhando como auxiliar do lar no farmacêutico da cidade. Um dia, o Mário Feuzer foi lá em casa falar com o pai, para saber se ele tinha uma filha para fazer comida”, lembra, e emenda: “mas eu odiava cozinhar”. Berna, então com 16 para 17 anos, não tinha ideia de que o convite mudaria a sua vida. Ela logo começou a trabalhar. Cozinhava e levava o café da manhã para os pedreiros que construíram a sede da empresa. “Eu fazia comida para os pedreiros e trazia. Na hora do al-

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moço, eles iam lá”. O primeiro registro da fiação na carteira de Berna foi como cozinheira. As máquinas começaram a rodar em fevereiro de 85, quando ela passou a trabalhar na produção. A funcionária trabalhou por 15 anos como maçaroqueira. “Na época da produção, comecei a trabalhar à tarde. A gente não conhecia ninguém”, comenta. Berna passou para o setor administrativo posteriormente, onde está até hoje. Ela também já se aposentou, mas continua a trabalhar ao lado de Gica. “Sem a fiação, parece que falta um pedaço, é automático: a gente levanta, toma banho, escova os dentes e vem pra cá. Aí vai pra casa comer e vem pra cá. Tem coisa que acontece na cidade que a gente não fica sabendo, porque a gente vive praticamente aqui”, diz.

Dona Rosa Tachini trabalhou como chefe de turno da Confebo

Do lar para a confecção A

Berna, como é conhecida, foi contratada para cozinhar para os pedreiros na fase da construção da fábrica

Confebo marcou a história de Botuverá e também a trajetória da dona Rosa Tachini, 84 anos. A senhora lembra com carinho do seu tempo trabalhando para Sérgio Colombi, o proprietário do negócio. A indústria representou não só uma ocupação, mas a alternativa para que ela criasse os filhos. Dona Rosa ficou viúva prematuramente, há quase 40 anos. O marido era motorista de caminhão de calcário. “Meus pais eram colonos. Primeiro a gente plantava café e coisas para comer. Mas a geada matou, aí começaram as estufas de fumo”, lembra. Ela mesma trabalhou na fumicultura para sustentar a família. Para complementar a renda, dona Rosa foi trabalhar na indústria Souza Cruz, em Brusque, no turno da noite. Desta-

cou-se pelo afinco à atividade e logo passou a ser contramestre no setor que separava as folhas de fumo. Dona Rosa foi empregada da Souza Cruz por cinco anos. Quando saiu, apareceu a proposta de ir para a Confebo. Era algo novo, mas ela encarou. “Eu não tinha experiência, só sabia costurar em casa, mas não eram máquinas industriais. As primeiras máquinas de Botuverá foram as da Confebo”, comenta dona Rosa, que foi a primeira funcionária contratada. A carteira foi assinada em 1987, assim que começou a Confebo. Dona Rosa foi contratada para cuidar do turno das 13h30 às 22h. O início foi difícil porque praticamente todas as funcionárias eram inexperientes quanto à costura industrial.

Quase todas as empregadas eram donas de casa ou não tinham conhecimento do têxtil. “Ninguém sabia nem enfiar a linha nas agulhas. Uma mulher vinda de Brusque ficou um mês nos instruindo. Ficamos em umas 15 mulheres para trabalhar. A primeira fornecedora foi a Malharia Regina, de Brusque”. Dona Rosa trabalhou na Confebo por quase 12 anos. Iniciou junto com a empresa e saiu quando do fechamento, já em 1998. Ela lembra com carinho daquele tempo e diz que era um bom serviço. Ela voltou a ser dona de casa quando saiu da Confebo. No entanto, a semente do têxtil ainda permanece na família. Dois filhos são donos da Rikju Confecção, uma das maiores do segmento na cidade.


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Setor se renova Novas fiações, confecções e outras empresas do ramo surgem a cada ano indústria têxtil já está enraizada na economia de Botuverá. Desde o seu surgimento, várias novas empresas foram abertas e se consolidaram. Hoje em dia, a cidade tem a cadeia têxtil quase completa. Isso quer dizer que há, no município, empresas que atuam em todos os processos de produção de uma roupa. Fazer parte da cadeia têxtil exige especialização. É um setor altamente competitivo que demanda precisão e expertise para minimizar erros e prejuízos. O sócio-diretor da NB Têxtil, Nilo Barni Júnior, explica que, neste contexto, Botuverá se voltou para as fiações. Hoje em dia, a cidade concentra mais empresas deste tipo do que Brusque, por exemplo. A NB Têxtil possui 62 funcionários e atende clientes da região. O foco principal é na produção de fios para tecelagens de toalhas de felpa. A NB faz parte, junto com a Vargas Têxtil, de uma nova geração de fiações. A primeira foi fundada em 2006, já a segunda foi comprada pelos atuais donos em 2007, quando ainda era de pequeno porte. As fiações produzem para clientes de todos os cantos. São marcas de roupas, toalhas e outros artigos que, em vez de investir num parque fabril próprio, compram de terceiros. Este segmento tem registrado bastante procura. A NB Têxtil teve crescimento elevado no ano passado, por isso a meta para 2018 é se estabilizar, segundo o sócio-diretor. A Vargas Têxtil vem numa ascendente desde 2007. Foi nesse ano que a família Vargas comprou uma antiga fábrica para entrar no ramo têxtil. Antes, eles atuavam

FOTOS: MARCOS BORGES

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Júnior Vargas é sócio da indústria, uma das maiores da cidade

com revenda de veículos. “Desde lá viemos com crescimento constante. O que puxou esse crescimento foi a demanda dentro do mercado nacional. Neste período, fomos modernizando, e isso elevou a qualidade do nosso produto, que ganhou fama e ficou conhecido”, diz Júnior Vargas, sócio da empresa ao lado do irmão Heitor e do pai Osnildo. Hoje, a Vargas conta com 110 funcionários e produz 1 milhão de quilos de fios por ano. É um volume bastante

grande em relação ao número de funcionários. Júnior explica que o parque fabril é novo e automatizado, por isso menos funcionários produzem mais. A modernização é uma das marcas da indústria. “No início, produzíamos 60 toneladas e hoje fazemos mais de 1 milhão de quilos, então a capacidade produtiva cresceu. Tínhamos 30 funcionários, hoje são 110. A nossa fábrica é muito automatizada, por isso a mão de obra é reduzida”, afirma. Lauro Dalcegio, sócio-pro-

prietário da Dalfios, emprega 32 funcionários. A fiação foi fundada em 2005, ou seja, também é da nova geração. Segundo o empresário, a Dalfios tem foco principal nas tecelagens de toalhas de Brusque. Ao longo dos 13 anos, a fiação tem buscado se modernizar e aumentar a sua competitividade. O galpão que a Dalfios tinha no início media 1,2 mil metros quadrados. Hoje, são 5,1 mil. A produtividade mensal cresceu de 40 toneladas para cerca de

350 a 400 toneladas. O crescimento da Vargas, da NB e da Dalfios nos últimos anos vai na contramão do que se viu em muitas cidades. A concorrência chinesa atingiu fortemente o mercado nacional e várias fábricas encerraram as atividades. A indústria botuveraense permaneceu crescendo para atender, principalmente, ao mercado de tecelagem para toalhas em Brusque. Neste segmento, a qualidade faz ainda mais diferença.


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Cadeia produtiva cada vez mais especializada A

ida das fiações para Botuverá resultou na ramificação do têxtil e do vestuário. Hoje, a cidade é reconhecida pela quantidade de confecções e talhações existentes. Não à toa a maior parte da população é empregada nesse segmento. A Botuverá Transportes e Talhações é uma das empresas que atua nessa cadeia. São 14 funcionários atualmente, sete na área de bordado e sete no corte. A produção mensal é de 100 mil peças. Faz quatro anos que a empresa de Airton Colombi está no galpão atual, em Pedras Grandes, à margem da rodovia Pedro Merizio. Mas a talhação surgiu há 14 anos em outro endereço. Depois de uma década e já consolidado no mercado, Colombi resolveu mudar para um galpão maior. A capacidade de produção poderia ser ainda maior hoje em dia, com pelo menos mais sete funcionários, já que um turno está parado. Porém, o dono da talhação diz que escolheu priorizar qualidade, com funcionários mais bem treinados, do que a quantidade. A talhação atende clientes de vários estados do país. “A maioria dos fornecedores é de fora do município e da região. Tem clientes até do Rio de Janeiro e de outros estados”, comenta Colombi. A empresa atua em parceria com a Alta Pressão. A confecção fica bem próxima da talhação, numa transversal da rodovia. A parceria é uma facilidade ofertada para clientes de longe, que só colocam a sua etiqueta no produto, sem ter de se preocupar com a produção. Essa prática é chamada de “private label”. Funciona da seguinte forma: o cliente contrata da Alta Pressão, que então faz o meio de campo com as empresas para talhar, confeccionar, estampar, eti-

quetar, embalar e enviar para o contratante. O proprietário da Alta Pressão é Ronimar Fachini, o Roni, que começou o negócio há 17 anos. No entanto, há cerca de seis anos é que se mudou para o atual imóvel, maior e próprio. Assim como a talhação e as fiações, a Alta Pressão surfou no bom momento da indústria do município de 2000 para cá. A aposta deu certo e a empresa tem registrado bons números. “Os anos de 2017 e de 2018 foram os melhores. Quase não tivemos ociosidade de produção”, diz o empresário. O ramo em Botuverá chegou a tal nível de especialização que, em 2006, o empresário Alcir Merizio resolveu abrir uma fábrica para engomagem têxtil. É um processo que, simplificando, significa passar uma goma ao redor dos fios a fim de que não sejam danificados quando passam pelo tear. A Gomertex não é a primeira empresa de Merizio, que também é vice-prefeito. Ele já teve uma fiação em sociedade e tem uma fábrica arrendada para um terceiro.

Empregabilidade

Roni é proprietário da Alta Pressão, que tem 40 funcionárias

A expansão da cadeia têxtil aumentou a oferta de empregos em Botuverá. Merizio diz que hoje não há dificuldades de achar ocupação na cidade. O empresário considera que a indústria é uma das que melhor pagam na região. Se por um lado há oferta de empregos, não se pode dizer o mesmo de mão de obra qualificada. Vargas Junior analisa que muitos candidatos não estão familiarizados com o setor. “Há dificuldade de mão de obra qualificada, porque as pessoas que vêm buscar emprego vêm de outro setor. Temos que fazer todo o treinamento, explicar o que é o fio, como funciona a máquina”, afirma o sócio da Vargas Têxtil.


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