UNIVERSIDADE DE SANTA CRUZ DO SUL CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
PROJETO DE COMUNICAÇÃO COMUNITÁRIA TÁ LIGADO
Cristiane Lautert Soares Fábio Luciano dos Santos Felício Guilherme Heinen das Chagas Juliana Bencke Luana da Silva de Andrade
Santa Cruz do Sul, novembro de 2012
PROJETO DE COMUNICAÇÃO COMUNITÁRIA TÁ LIGADO
Projeto de Comunicação Comunitária desenvolvido para a disciplina de Comunicação e Desenvolvimento Regional, do Curso de Comunicação Social, da Universidade de Santa Cruz do Sul. Professora: Karine Moura Vieira
Santa Cruz do Sul 2012
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 3
1 JUSTIFICATIVA .............................................................................................................. 4
2 REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................................. 5
3 METODOLOGIA ............................................................................................................... 6 3.1 Planejamento do projeto ..................................................................................................... 6 3.2 Execução ............................................................................................................................ 6
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 8
5. REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 12
ANEXOS ............................................................................................................................... 13 ANEXO A – Execução do projeto ......................................................................................... 13 ANEXO B – Slide utilizado para apresentar a proposta do projeto........................................ 14
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INTRODUÇÃO
O presente trabalho visa estabelecer uma revisão prática dos conceitos aprendidos na disciplina de Comunicação e Desenvolvimento Regional, com base no Tá Ligado, projeto realizado com alunos da 7ª série da Escola Estadual de Ensino Fundamental 11 de Maio, em Venâncio Aires, Rio Grande do Sul.
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1 JUSTIFICATIVA
Dentro das discussões acerca dos muitos exemplos de comunicação comunitária, alternativa e popular, abordados na disciplina de Comunicação e Desenvolvimento Regional, percebeu-se a necessidade de criar um projeto de comunicação comunitária que pudesse, de fato, dar visibilidade a um determinado grupo. Entendeu-se que o projeto deveria ser simples em sua estrutura - pela viabilidade de aplicação -, mas que desse conta de propor um espaço no qual fosse exercido o ato de comunicar. O contexto da visibilidade gerada em torno da fanpage “Diário de Classe”, no Facebook, foi bastante decisivo na escolha do foco do projeto. O exemplo que ilustrou o trabalho realizado pela estudante Isadora Faber se dispôs de maneira bastante pontual e conexa com a realidade do grupo enquanto acadêmicos de Comunicação Social. Resolveu-se, então, criar um projeto que abrisse espaço para a comunicação de um grupo de estudantes da 7ª série, da Escola Estadual de Ensino Fundamental 11 de Maio, em Venâncio Aires. A instituição está localizada no bairro Coronel Brito, na periferia do município. Com 52 anos, o colégio tem cerca de 350 alunos de pré-escola à 8ª série. A maioria dos estudantes é moradora do bairro e integra famílias de baixa renda, cujos responsáveis são trabalhadores informais, em grande parte dos casos. Um dos grandes problemas que a escola percebe é a baixa autoestima dos alunos que, inseridos em uma realidade de pobreza, não têm perspectivas. A escola, que acaba sendo “refúgio” para os alunos, também não tem estrutura para atendê-los em turno oposto ao da aula. Por conta da falta de espaço, uma sala de aula ocupa o local onde ficava o refeitório. A merenda é servida na área coberta do colégio. Além disso, direção, supervisão e orientação ocupam a mesma sala. Há sete anos, a escola espera pela reforma geral dos prédios, aprovada pela Consulta Popular. Apesar da falta de espaço, a escola desenvolve projetos como Coral e Grêmio Estudantil, no entanto, nem todos os alunos são envolvidos. A partir da criação de um blog, os estudantes teriam um canal de expressão no qual poderiam falar sobre temas que fossem de seu interesse, pertinentes à idade e ao contexto social no qual estão inseridos, inclusive, o da escola.
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2 REFERENCIAL TEÓRICO
Para a elaboração de um projeto de comunicação comunitária, é pertinente levar em consideração que a grande mídia não oferece espaço à pluralidade de vozes. Por vezes, a imprensa local também não consegue atender a essa finalidade. Contudo, o acesso à informação e à comunicação é um direito de todos, sem qualquer tipo de distinção. Segundo Vieira (apud PERUZZO, 2008) a comunicação comunitária serve como um canal de expressão de uma comunidade, pelo qual os próprios indivíduos podem manifestar seus interesses comuns e suas necessidades mais urgentes. Deve, sobretudo, ser um instrumento de prestação de serviços e de formação do cidadão. A comunicação comunitária, conforme Peruzzo (2008), não diz respeito somente ao acesso do indivíduo à informação – como receptor –, mas trata-se do direito ao acesso aos meios de comunicação na condição de produtor e difusor de conteúdos. O que fundamenta, pois, a escolha da ação do projeto é exatamente esse leque de possibilidades de comunicação que podem servir como vitrine do que a comunidade precisa, daquilo que ela deseja comunicar. Ao mesmo tempo, o objetivo do projeto Tá Ligado vai ao encontro do que propõe José Marques de Mello (1986): capacitar as pessoas para a comunicação a fim de que a liberdade de expressão assegurada por lei seja, de fato, cumprida. ‘‘É imprescindível dotar a todos da capacidade de saber, fazer, transformar, criar. Do contrário, o direito de comunicar esvazia-se, na medida em que o seu exercício fica limitado aos poucos instruídos, capazes de formular mensagens, recheá-las de conteúdos e disseminálas adequadamente” (MELLO, 1986)
A ação desenvolvida com os estudantes da Escola 11 de Maio também pode ser entendida como um meio de transformação social, por meio da comunicação. Karam (1997) observa que, mesmo com as contradições inerentes ao capitalismo, a liberdade de expressão e o direito social à informação, mediados pela atividade de jornalistas, podem caminhar em defesa da informação como bem público e social. Esse foi um dos aspectos comprovados pelo grupo durante o projeto. Mesmo sem o curso de Comunicação Social concluído, os acadêmicos puderam colaborar com uma comunidade a partir de seus conhecimentos sobre comunicação. O ensino básico da técnica – como fazer uma entrevista, tirar fotos e editar o material – permitiu que o grupo de alunos tivesse voz.
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3 METODOLOGIA
3.1 Planejamento do projeto A ideia inicial do projeto foi baseada na fanpage “Diário de Classe”, no Facebook. No entanto, com a matéria exibida no Fantástico¹, que falava sobre as represálias que a autora da página, Isadora Faber, vinha sofrendo, e mostrava o descontentamento de pais, alunos e professores com o tom das críticas da aluna, o grupo precisou rever a proposta que faria aos alunos da 7ª série da Escola 11 de Maio. Pensou-se a respeito da responsabilidade sobre o que se publica e as consequências de uma publicação na rede. A repercussão do caso “Diário de Classe” poderia atingir os alunos de forma negativa. Propôs-se, então, um canal de expressão – blog – por meio do qual os estudantes poderiam não mostrar problemas da escola, mas falar de assuntos que lhes interessassem e que fossem próprios da idade. Optou-se por um blog e não por uma página no Facebook, pois o acesso às redes sociais é restrito na escola. Já no primeiro contato, a escola aceitou a realização do projeto e disponibilizou as aulas de Língua Portuguesa do dia 13 de novembro de 2012, bem como o laboratório de informática, para a realização da oficina. Depois de acertar a proposta da criação do blog, o grupo de acadêmicos organizou um material em slides para a introdução do assunto com a turma. Buscou-se trabalhar de forma didática para atrair a atenção dos estudantes e despertar suas vontades de participar do projeto. Durante a preparação da oficina, o grupo pensou nos aspectos que mereceriam destaque e reflexão, para que o objetivo do projeto fosse alcançado: a responsabilidade e a visibilidade de quem usa a internet para se comunicar. Uma das curiosidades acerca do projeto é que, por tudo ter sido feito de forma tão natural e sem muitas implicações técnicas, o grupo realizou o projeto sem mesmo ter sido escolhido um nome. Após a execução, o grupo percebeu o esquecimento e resolveu nomear o projeto com o mesmo nome escolhido pela turma para nomear o blog.
_________________________________________________________________________________________ ¹ Matéria exibida em 11/11/12. Disponível em: http://fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/0,,MUL168199615605,00CASA+DA+CRIADORA+DO+DIARIO+DE+CLASSE+E+APEDREJADA+E+AVO+E+ATINGIDA.html.
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3.2 Execução
O projeto foi colocado em prática no dia 13 de novembro, terça-feira, das 8h às 10h. Num primeiro momento, os acadêmicos Cristiane Lautert Soares, Guilherme Heinen das Chagas e Juliana Bencke se apresentaram e pediram que os estudantes também se apresentassem (ANEXO A). Um slide sobre comunicação foi mostrado aos alunos, com questionamentos sobre como cada estudante se comunicava e se informava (ANEXO B). Após a parte conceitual, foi apresentada a ideia do projeto: transformar os alunos em repórteres e fotógrafos e criar um blog como meio de comunicação do grupo. Em seguida, foi escolhido um nome para o blog (Tá ligado²) e os estudantes foram divididos em três grupos – foto, texto e criação do blog - liderados pelos acadêmicos de Comunicação Social. Enquanto uma equipe se deslocou até o laboratório de informática e realizou a criação de um e-mail e do blog, o grupo de textos fez entrevistas com funcionários, professores e estudantes da escola, todos escolhidos por eles. Os alunos foram responsáveis pela elaboração das perguntas, pela entrevista e pela digitação das respostas. Enquanto isso, os integrantes do grupo de fotografia fotografaram espaços da escola e, também, as pessoas entrevistadas dos colegas. Já no laboratório de informática, na etapa final da oficina, foram responsáveis por escolher as fotos que seriam publicadas no blog, para ilustrar cada entrevista. Eles tiveram a oportunidade de utilizar câmeras fotográficas profissionais, levadas pelo grupo.
___________________________________________________________________________ ² http://taligado007.blogspot.com.br/
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Depoimento da acadêmica Cristiane: Foi muito interessante trabalhar com os sete alunos na criação do blog. Michael, o mais velho da turma – 17 anos – foi quem tomou a frente e, sob minha orientação, criou o email (taligado007@gmail.com) e o blog “Tá ligado” (http://taligado007.blogspot.com.br/). Durante a criação, eu e os alunos discutimos sobre quais assuntos poderiam ser colocados em páginas, no cabeçalho do blog; sobre como a turma deveria se apresentar em “quem somos nós”, sobre o layout e outros detalhes que poderiam compor um blog atrativo visualmente. Em seguida, os outros dois grupos, orientados por Juliana e Guilherme, também foram para o laboratório. Sugeri que a turma elegesse um editor-chefe, que ficaria responsável por receber os textos dos demais colegas, fazer uma primeira revisão, entregá-lo à professora Clarisse para que também revisasse e, depois, postasse o conteúdo no blog. A aluna Sissiane Reis foi indicada pela professora e apoiada pelos colegas para exercer a função. Percebi que alguns tinham uma enorme dificuldade com a escrita, embora estivessem familiarizados com o computador e a internet. Cinco deles pediram o nome do meu usuário no Twitter e deixaram comigo os seus. Saí de lá com a certeza de que se pode fazer muita coisa com muito pouco. Que o tempo que gastei com aqueles estudantes, na verdade, foi um tempo gasto comigo. Eu sabia que poderíamos ter feito a diferença – mínima, que fosse – no dia de um deles, e fiquei muito feliz quando recebi esses retornos, via Twitter:
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Depoimento do acadêmico Guilherme: Quando cheguei à Escola 11 de Maio, logo pela manhã, pude observar alguns dos alunos e acabei criando uma falsa imagem de uma turma que não colaboraria e nem tão pouco se interessaria com a nossa ideia. Quebrei a cara. Após uma breve apresentação e uma abordagem geral sobre comunicação, os alunos começaram, um a um, a perder a timidez de opinar sobre o trabalho, escolhendo o nome do blog (por votação) e decidindo em quais grupos participariam. Com os grupos formados, fiquei com o pessoal da fotografia. Tínhamos três câmeras, sendo duas profissionais, distribuídas entre os alunos. O foco principal era deixar bem claro que deveríamos expor o que a escola deles tem de bom (contrariando a ideia da garota do “Diário de Classe”), e ressaltar que, para mostrar o que há de errado é muito fácil, entretanto, se fizéssemos isso acabaríamos por denegrir a imagem da escola. A atenção deles enquanto eu os instruía foi uma das coisas que me deixou abismado. É incrível como o preconceito que criei ao chegar naquela escola estava desabando sobre minha pessoa e a cada momento eles me impressionavam mais. Os alunos saíram prontamente tirando fotos da horta, pracinha, funcionários, biblioteca, cozinha e até trabalhos expostos na escola, não esquecendo de que deveriam voltar e procurar o pessoal do texto (com a acadêmica Juliana) para fotografarem os pequenos repórteres com seus entrevistados. Após muitos cliques e fotos, o grupo reuniu-se para selecionar as melhores fotos (dentre as três câmeras), que seriam passadas para o pessoal do blog (com a acadêmica Cristiane).
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Depoimento da acadêmica Juliana: Colocar o projeto em prática foi muito recompensador, especialmente por usarmos os conhecimentos do curso em prol de uma ação positiva, que reflete na vida de uma comunidade. A receptividade dos alunos ocorreu desde o início da oficina, apesar da timidez nas respostas dos questionamentos que fazíamos. Menos de uma hora depois de responderem sobre as formas de comunicação mais usadas por eles, os alunos já eram repórteres que identificavam pessoas com boas histórias para contar, dentro de sua escola. Trabalhei com seis alunos no grupo de texto. Eles discutiram quais funcionários, professores e alunos da escola poderiam ser entrevistados interessantes; e definiram perguntas para a entrevista. Após a saída de campo, o reencontro ocorreu no laboratório de informática, onde cada estudante-repórter digitou sua entrevista e criou um título. A partir disso, pude observar os problemas ortográficos, especialmente de acentuação. Na medida em que concluíam a digitação, sentei com cada um para revisar o texto e arrumar os erros. Além da melhoria na escrita, acredito que o projeto tenha como grande resultado a autoestima dos estudantes, que passam a se enxergar como pessoas que podem pensar e escrever sobre sua realidade e postá-la na internet como qualquer outro adolescente. Durante a atividade, um dos alunos mencionou que seria melhor não citar no blog que eles eram alunos da Escola 11 de Maio, senão, ninguém iria ler. Com a oficina, tentamos fazer o contrário: capacitá-los com a técnica para que possam se comunicar e tenha a mesma visibilidade que adolescentes de outras comunidades têm. Como acadêmica de Comunicação Social, acredito que essa seja uma grande possibilidade e responsabilidade de quem atua nessa área: dar voz, oportunidade, autoestima e perspectiva para as pessoas. E a sensação de fazer a diferença na vida de alguém é muito boa.
Depoimento do acadêmico Fábio: No começo, achei o trabalho muito simplório, pois atingiria pouquíssimas pessoas. Até sugeri ao grupo outros enfoques para o projeto. Embora eu fosse contrário ao modo de execução do projeto, aceitei a proposta a contragosto. Mas, depois, vendo os resultados obtidos pelos colegas, vi que, muitas vezes, não é necessário abraçar o mundo para grandes mudanças. Identifiquei-me muito com os alunos da Escola 11 de Maio. Eles moram na periferia, assim como eu morava; estudam na rede pública, assim como eu estudei; têm um histórico de baixa autoestima, também era assim comigo; são discriminados por morarem em um bairro pobre e violento, idem. O que me chamou muita atenção foi a pergunta de um dos alunos:
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“Mas será que poderemos falar que somos do colégio 11 de Maio? Se falar que somos daqui, ninguém vai ler!” O preconceito contra os materialmente pobres e menos instruídos é uma insensatez que prejudica toda a sociedade, e não só a eles. Em muitas ocasiões, não é nem a ausência de políticas públicas ou ações governamentais, mas sim a absoluta falta de respeito e amor ao próximo que fecham as portas para os que sofrem carências materiais, culturais. Ao se fecharem às oportunidades, dificilmente alguém consegue evoluir. Diz o dito popular: “O papel aceita tudo”! Pois é, a frase acabou ficando incoerente. Sim, de fato, o papel aceita tudo, mas cabe a nós aceitarmos e praticarmos o que ele, o papel, nos descreve. Conseguir colocar em prática aquilo que aprendemos na disciplina foi muito gratificante.
Depoimento da acadêmica Luana: Ainda que não tenha estado presente fisicamente na execução do projeto, percebo que pequenas ações de comunicação podem ser bastante transformadoras e capazes de dar voz àqueles que nem ao menos sabem que isso é possível. Desde o início da disciplina de Comunicação e Desenvolvimento Regional, fomos instigados a debater sobre os aspectos da comunicação que se desprendem do eixo da grande mídia; aspectos que, sobretudo, dignificam a democratização daquilo que é primordial em nossa área: a informação. Escolas como a 11 de Maio têm muitos alunos que não acreditam que podem ser transformadores das suas próprias realidades. É preciso que haja uma intervenção, um estímulo. E, além de todas as possibilidades de domínios técnicos que temos como estudantes de comunicação, temos esse papel de democratizar a informação e fazer disso um aliado nas mudanças sociais. Projetos como o nosso e como tantos outros – que partem ou não de estudantes de comunicação – nos fazem crer que o nosso papel enquanto comunicadores vai muito além de qualquer habilidade técnica para o exercício da profissão. Nosso papel enquanto comunicadores é, também, fazer com que outras pessoas também possam se comunicar.
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REFERÊNCIAS
KARAM, Francisco José. Jornalismo, ética e liberdade. In:__Novas buscas em comunicação. São Paulo: Summus, 1997.
MELLO, José Marques de. Comunicação: direito à informação. Campinas: Papirus, 1986.
PERUZZO, Cicilia M. Krohling. Conceitos de comunicação popular, alternativa e comunitária revisitados. Reelaborações no setor. Dez. 2008. Disponível em <http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S012282852008000200014&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 22 nov. 2012
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ANEXO A – EXECUÇÃO DO PROJETO
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ANEXO B – SLIDE UTILIZADO PARA APRESENTAR A PROPOSTA DO PROJETO