EDITORIAL
Comemorar 25 anos de uma cidade é como Bodas de Prata: uma história com muitas lembranças, mas com muita coisa ainda por vir. É assim Itapoá se encontra atualmente, as histórias ultrapassam as lembranças de avós e bisavós e o crescimento bate na porta todos os dias. Pelos quilômetros de praia e área rural o que não faltam são curiosidades e novidades, e foi atrás disso que fomos nesta edição. História, arte, turismo, empreendedorismo e desenvolvimento em um só espaço. Ainda há muita coisa para se descobrir nesta cidade, com certeza. Bons roteiros turísticos, belas paisagens, mãos cheias de talento e muita, muita história boa. Um pouco de tudo isso está nesta edição, o restante vamos descobrindo junto aos anos da cidade querida. Agradecemos a todos os colaboradores e parabenizamos todos os itapoaenses que, com muita energia, criatividade e disposição estão construindo a bela e pujante história de Itapoá.
2 | Março 2013 | Revista Giropop
Parabéns pedra que surge! Anahy acordou cedo e muito feliz, o dia estava lindo, de sol claro e ameno. Estava tudo muito bem para executar a tarefa do dia, pensou. Com a ajuda de Poty e Jussara, caminharam para as águas limpas e frescas do Rio Saí Mirim e começaram a lavar a mandioca, que depois de descascada e ralada estaria pronta para o fogo e a “manema”, tão deliciosa e vital para o sustento de todos, estaria pronta. A beleza dessas carijós era marcante, cabelos e olhos negros como a noite, pele de uma frescura comparada ao orvalho da madrugada e de cor bronze brilhante, tudo muito bem acabado por um sorriso alvo e cativante. As três riam e brincavam, ao mesmo tempo que trabalhavam, mas as maiores brincadeiras eram com Anahy, estava chegando a festa dos noivados e ela era a única das três que ainda não escolhera o seu parceiro, um jovem forte e corajoso, para casar e ter seus filhos. Na verdade, não queria falar para as amigas, mas se encantara com o forasteiro açoriano, que passara pela aldeia em seu barco grande, vestido em demasia , com uma roupa estranha e barba no rosto. Ria de si mesmo, como poderia ter gostado tanto daqueles pelos esquisitos e por que aqueles olhos e cabelos claros ficaram em sua mente e nos seus sonhos? O tempo passou, o forasteiro não voltou e a vida tomou seu rumo. Depois dos açorianos vieram os franceses, espanhóis, alemães e italianos. Alguns ficaram e se encantaram com as filhas e netas de Anahy e foram construindo suas palhoças, pescando, fazendo suas plantações e se encantando com a pedra que surge, Itapoá e formando os seus povoados. O tempo, que passa tão ligeiro, foi criando uma raça nova, linda e feliz, “os caiçaras” como
hoje chamamos; povoaram o litoral, plantaram e colheram nestas terras, pescaram, primeiro na baia que deram o nome de Babitonga, depois ousaram mais e foram para o mar. No início, o escambo, depois o comércio, mais tarde a escola, hotéis, restaurantes, depois o turista e agora o porto. O milagre dos tempos e das vidas também aqui se realizou e o Grande Criador, que sempre traça os caminhos com sabedoria, permitiu que com a força do destino Anahy voltasse para o seu paraíso na terra. Renasceu com a mesma graça e beleza de tantos anos atrás e desde menina curtiu as praias, os rios, banhou-se nas cachoeiras e correu pelas matas e areias. Dominou as marés e tirou dos mangues o sustento. Conheceu e reconheceu, lá no fundo de seu ser, da Barra do Saí à Figueira, nadou no Pontal, correu por Itapema e por Itapoá, subiu nas pedras numeradas e ficou ao sol na primeira, segunda e terceira, se assustou com o porto, com o trapiche e com o farol. Hoje há muitas casas, forte comércio, escolas, bancos e pronto socorro. Em sua mocidade feliz, sentou-se em frente à pedra do calçadão, lembrou-se de algo de muitas vidas atrás, correu um arrepio por todo o seu corpo, gelou em lembrar de um açoriano, que nada tinha a ver com essa sua vida atual. Doces lembranças, lá do inconsciente, sobressaltos no coração, quase uma febre pelo corpo, lábios secos, até que um jovem loiro e forte, de cabelos lisos e muito longos, carregando sua prancha embaixo do braço, olhou-a com carinho, deu-lhe uma flor e disse: _” Parabéns, minha pérola do Atlântico, pelos seus vinte e cinco anos de vida” Carlos Roberto Martini, Itapoá, abril de 2014.
TURISMO RURAL | BRAÇO DO NORTE
Hector Gerker, morador do Braço do Norte, colaborou com a redação da revista, descrevendo a comunidade e indicando os entrevistados. Augusta Gern
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Itapoá que você quase não vê
A cor predominante é o verde, a atividade é a agricultura e o chamariz, a tranquilidade. O acesso é um pouco tímido, uma pequena placa branca na beira da estrada SC 416 busca sinalizar a entrada para a comunidade rural Braço do Norte. O resultado não poderia ser diferente: lá vivem cerca de 50 famílias em sintonia com o meio ambiente, produtos coloniais e muita hospitalidade. Um bom dia aqui, uma boa tarde ali e, sem nem conhecer muito bem a estrada, é fácil você ganhar novos amigos.
Porém isso não é um problema. A tranquilidade e o contato com a natureza compensam qualquer dificuldade e, “sair dali, nem pensar”, afirmam todos os entrevistados. Marli Vargas Maffezzolli mora na localidade há 32 anos. Técnica de enfermagem do Pronto Atendimento 24 horas, há 11 anos percorre o trajeto até o trabalho, mas não pensa em morar na beira da praia. “Até gostaria de ter uma casa para passar alguns dias, mas o meu lugar é aqui”, afirma. Para ela, no Braço do Norte é que as pessoas sabem viver. A miscelânea de tons verdes, o canto dos passarinhos e uma cachoeira na beira de casa são bens sem valor de troca.
Além da paixão pela localidade, outro ponto é quase que unânime em todas as casas: a maioria das famílias são antigas na região. Segundo Hector, os moradores mais recentes já moraram no local antes ou tem familiares por ali.
A localidade faz divisa com o município de Garuva e, mesmo dentro de cidade litorânea, a maresia passa longe. Do Braço do Norte até o centro de Itapoá são cerca de 15 quilômetros e algumas dificuldades de acesso. De carro o trajeto ficou muito mais rápido com o asfalto da Serrinha, porém a entrada fica entre duas curvas e moradores relatam o perigo de acidentes. Já para os que dependem de ônibus, está mais difícil. A condução não trafega mais na estrada geral da localidade, assim as caminhadas aumentaram e os horários são muito espaçados.
“Se dependermos do ônibus para resolver alguma coisa no banco, passamos o dia inteiro em função disso”, conta Hector Gerker, 20 anos.
Entrada para a comunidade.
A família Valentini, por exemplo, está há 50 anos na localidade. Anacleta, 90 anos, e seu filho Maurílio, 50, sempre viveram da agricultura e contam as dificuldades que passaram até o município se desenvolver. Para fazer compras o local mais próximo era São Francisco do Sul e, para chegar até lá, os pés e pernas eram o meio de locomoção. “Entre picadas as pessoas iam caminhando até o Pontal e de lá atravessavam de barco para São Francisco do Sul. O problema maior era voltar com o tonel de 18 litros de querosene nas costas”, lembra Maurílio. Hoje as coisas estão bem mais fáceis, só os pequenos maruins continuam incomodando. Assim, entre pequenas estradas, porteiras e árvores, agricultores e trabalhadores de diferentes áreas mantêm a tradicional localidade na beira da estrada, na divisa com Garuva e não à beira mar. Uma região que merece ser conhecida e valorizada. Um tesouro ambiental e de ecoturismo.
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TURISMO RURAL | BRAÇO DO NORTE
Tradição com muita história e simpatia Augusta Gern
Ele já passou por três cidades e sempre morou no mesmo local. Desde que nasceu Luiz Francisco Gerke, mais conhecido como Loli, 76 anos, constrói a sua história e de sua família na área rural de Itapoá. De lá, acompanhou a cidade nas mãos de São Francisco do Sul, Garuva e a emancipação. Na região viu seus dez filhos crescer e mostrou aos seus netos a alegria de se viver junto à natureza. Passou por dificuldades, trabalhou com a agricultura e o melhor, con-
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tinua vivendo com muita alegria. Na vila do Braço do Norte sua casa esbanja hospitalidade. Junto com sua esposa, Laura Gerke, 71 anos, a ampla casa de madeira tem todos os requisitos para instigar a curiosidade de quem cresceu em cidade grande: cachorros, gatos e galinhas dividem harmoniosamente o mesmo ambiente; a água límpida vem diretamente do riacho; diferentes alimentos são cultivados aos arredores da casa; um moinho de farinha faz parte da
O casal Laura Gerke e Luiz Francisco Gerke, ‘Loli’. paisagem da varanda e o cheiro de comida caseira contagia todos para a cozinha. Uma vida simples, rica em alegria e amor. Do lado do Sr. Loli tudo começou antes mesmo de nascer. O ano não consegue recordar, mas quando criança seu pai acompanhou a vinda do avô para a região. No Saí Mirim seu avô começou a trabalhar com agricultura e, junto com outras famílias, foi um dos pionei-
ros na região. Para Dona Laura a história com Itapoá iniciou aos cinco anos de idade, quando saiu com seus pais de Itajaí em uma viagem de três dias com “carro de boi” até chegar ao Braço do Norte. A juventude, apesar de tranquila, contou com alguns bailes no Saí Mirim, muitos sorrisos e banhos de cachoeira. Foi naquela região que Luiz e Laura se conheceram, casaram e ficaram. Dos dez filhos, nove
Criação de animais. nasceram em casa com parteira. “Tive só um filho no hospital, mas todos os outros partos foram melhores”, afirma Laura. Conforme as lembranças de Luiz, todos os filhos foram registrados no município de Garuva e, para chegar até lá, o percurso era feito de bicicleta. Também de bicicleta, ou às vezes com “carro de cavalo”, o agricultor ia comprar peixe na beira da praia. Não havia estrada e muito menos transporte, tudo era difícil. Loli conta que quando alguém se adoentava, toda a comunidade se mexia: “todos se juntavam para levar a pessoa até a Vila da Glória, que de lá ia de barco até São Francisco do Sul”. O sustento sempre veio da
agricultura. Tinham quase tudo que precisavam nos arredores da aconchegante casa. Antigamente a região dava muito arroz, feijão, milho e aipim, conta o casal. Para comercialização o arroz sempre foi o forte. Sobre suas terras Loli se orgulha ao dizer que foram compradas e estão documentadas. “Um dia um senhor me disse que nesta região rural todos viviam pela posse de terra, mas mostrei a ele que aqui é diferente”, afirma. E assim, com jeito dócil, mas firme nas palavras, Loli contagia a todos pelas boas histórias, que não são poucas. Na época da abertura da estrada de acesso à praia, a famosa Serrinha, ele também participou. Como outros da região, ele foi um dos corajosos e indispensáveis para a construção, conforme citado no livro do historiador Vitorino Paese. Para o casal, com a estrada tudo ficou muito mais fácil. “O problema é que com o asfalto o ônibus está mais longe e então quase nem saíamos daqui”, fala Laura. As dificuldades aparecem quando precisam comprar algum mantimento ou resolver alguma coisa no centro, fora isso, aquelas terras os acolhem com muito carinho. Muitos membros da família
moram na mesma região rural e de lá, nunca pensaram em sair. E tanto para os familiares das redondezas, como os que estão um pouco mais longe, aquela casa sempre é escolhida como ponto de encontro. Conforme Dona Laura, todos os finais de semana a casa está cheia, ou melhor, é difícil o dia em que não recebem visita. E mesmo de surpresa, como chegamos para conhecê-los, o que não falta é hospitalidade. Muita simpatia, carinho e comida boa são rotina por lá, isso pudemos comprovar. E sempre foi assim. Ao revirarmos os álbuns de fotos, é muito fácil encontrar registros da família reunida e a casa cheia.
Assim, entre visitas e muita tranquilidade, vivem uma rotina de anos. Uma rotina de contrastes com a beira mar: para se comunicar o celular é ligado à antena, caso contrário não há conversa. Porém, de todas as janelas o que não falta é natureza, natureza virgem, natureza para sustento, natureza para trabalho, natureza para descanso. Em meio aos tons verdes, em uma área um pouco mais alta do terreno, com uma base reforçada de grandes tábuas de madeira e muitas janelas para circular o ar puro. Assim é que vivem os pais e avôs da família Gerke: tranquilos, simpáticos e felizes.
Vista da janela.
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TURISMO RURAL | BRAÇO DO NORTE
Comunidade é abraçada como família Augusta Gern
A força de vontade pode estar em qualquer lugar. Andar diariamente dois quilômetros para pegar o ônibus, estudar sem acesso à internet e muito menos a qualquer linha telefônica pode ser estranho para muitos no ano de 2014, principalmente em uma cidade na região sul. Para muitas pessoas isso poderia ser um grande problema, empecilho para correr atrás dos objetivos e sonhar com um futuro promissor. Mas para Hector Gerker,
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20 anos, tudo isso é visto de forma diferente. A caminhada de dois quilômetros - realizada no final da tarde e no início da madruga - é acompanhada pela musicalidade dos pássaros e o ritmo dançante das folhas de tantas árvores. A falta de acesso à internet, telefone fixo e celular dão lugar a novas atividades: correr diariamente, ler e apreciar o mundo em sua volta. É assim que no auge de sua juventude seus olhos apreciam a vida, com muita tranquilidade.
“Infelizmente sei que vou precisar me mudar para seguir a carreira que escolhi, mas gosto muito desse lugar”, fala
Escola do Braço do Norte, hoje desativada. Os olhos brilham quando fala da terra que vive desde os primeiros dias de vida; Hector é fruto da localidade Braço do Norte. “É muito gratificante morar aqui, é um paraíso muito grande”, afirma. Foi ali que cresceu e recebeu inspiração para ir atrás dos seus gostos e sonhos, e por isso caminha diariamente. Hector é acadêmico do curso de Gastronomia em Joinville e integra o grupo de estudantes que viaja com o transporte cedido pela Prefeitura. Poderia estar morando em outra cidade, como seu irmão, mas preferiu ficar na localidade até quando conseguir. “Infelizmente
sei que vou precisar me mudar para seguir a carreira que escolhi, mas gosto muito desse lugar”, fala. E foi dali que surgiu a gastronomia: suas grandes inspiradoras foram a avó e a mãe que com alimentos da região e temperos de família cativaram Hector até o fogão. “Eu estudo as receitas delas”, afirma. Mas a atuação vai muito além de estudos, Hector sempre colabora nos grandes almoços de família, quando estão todos reunidos. Para chegar à gastronomia percorreu várias escolas. Os estudos iniciaram em Garuva, pela proximidade do grupo escolar. Depois Hector estudou na escola do Braço
Biblioteca Rural Arca das Letras. do Norte, hoje desativada, concluiu o ensino fundamental no Saí Mirim e o ensino médio foi na escola Nereu Ramos. Junto com os estudos, sempre
colaborou com iniciativas para o desenvolvimento da comunidade. Além de sua casa, árvore e flores, seu terreno também abriga a biblioteca rural “Arca das letras”, um projeto desenvolvido pela Epagri (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina), da Secretaria do Estado de Agricultura e Pesca. Conforme Hector, esse projeto existe em várias localidades. “Cada comunidade tem a sua biblioteca e a Epagri disponibiliza os livros”, afirma. No Braço do Norte, Hector e seu pai são os responsáveis. Como bibliotecários, são eles que fazem os pedidos dos livros, o cadastro dos leitores e o controle de empréstimo. E dessa forma conhece toda a vizinhança, suas histórias e dificuldades. Boa parte de sua família está na comunidade, mas toda a comunidade é uma grande família.
A casa antiga dos avós no Braço do Norte, recebe até hoje toda a família, que aos finais de semana continua se reunindo na comunidade.
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TURISMO RURAL | BRAÇO DO NORTE
Turismo para além do mar Augusta Gern
Além dos belíssimos quilômetros de praia, Itapoá tem muito mais a oferecer. Um degrade de tons esverdeados que inicia próximo à praia vai se acentuando e ganhando mais forma à medida que caminha para o lado continental, até chegar à área rural. A última delas, Braço do Norte (que faz divisa com o município de Garuva), reserva belos refúgios naturais como uma boa opção turística.
José Roberto Gomes e Zenaide Marim Gomes, moram há 35 anos no local.
Da estreita estrada de terra não é difícil imaginar o que se esconde atrás de tanto verde, algumas porteiras de madeira, algumas chácaras, algumas casas, animais e plantações, um típico cenário colonial. Mas junto com tudo isso há muito mais. O Sítio do Zé Gomes é um exemplo que de como a natureza
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tem as suas peculiaridades. A identificação do local é muito tímida, uma pequena placa entre as bananeiras sinaliza a entrada para a propriedade. Do caminho entre as bananas chegamos à acolhedora residência: um lago à beira da varanda, muitos animais e produtos coloniais. Tudo é muito organizado, fruto da dedicação dos proprietá-
Uma pequena placa entre as bananeiras sinaliza a entrada para a propriedade.
rios José Roberto Gomes e Zenaide Marim Gomes, que há 35 anos moram no local. Em suas terras cultivam diferentes alimentos, base para uma boa variedade de produtos coloniais, comercializados em feiras e no próprio local. Porém, mais do que uma boa paisagem da vida rural, o local apresenta grandes atrativos tu-
rísticos. A trilha utilizada para a roça - que na caminhada confunde o município que se está, às vezes Itapoá, às vezes Garuva – nos leva a um santuário de energia: uma linda cachoeira. As grandes pedras, água límpida e uma queda de água reafirmam todo o potencial da cidade para o ecoturismo. O rio acompanha a proprieda-
As grandes pedras, água límpida e uma queda de água reafirmam todo o potencial da cidade para o ecoturismo.
de. Para os que preferem águas mais tranquilas, outra trilha chega até pequenas “piscinas” naturais, rodeadas de pedra e muito verde. Não há olhos que não se encantem. Para aproveitar tudo isso a residência está aberta para bons apreciadores. O casal mantém uma casa para alugar aos visitantes, montada para cerca de seis pessoas. Zenaide conta que já fez três cursos de turismo e busca investir em melhorias, mas pelo cuidado com o meio ambiente e a preservação do modo em que vivem, ainda não conseguiu fazer tudo o que gostaria.
E não é preciso muita coisa: o local mantém a tradição e rotina de quem vive na roça, uma boa opção para conhecer e aproveitar as delícias de um sítio.
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TURISMO | NOVAS ROTAS
Itapoá para se encantar e turistar Augusta Gern
Não é novidade para ninguém que em Itapoá as belezas estão em todos os lados. Da Barra do Saí ao Pontal, do oceano à divisa continental. Águas quentes, praias limpas e muito verde. Com tudo isso, não há quem não fique contente. Um paraíso que recepciona pessoas de todo o país no estado catarinense, principalmente na estação mais quente. Assim, para brindar toda essa natureza, preservar a beleza e contagiar novos olhares, o município, através da Secretaria de Turismo, Meio Ambiente e Cultura, está de-
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senvolvendo uma rota que visa construir infraestrutura turística nos pontos naturais da cidade. O objetivo é instigar o potencial turístico, que aqui já não é mais novidade. Até 2015 pelo menos 14 pontos devem integrar esta rota que percorre diferentes regiões da cidade. Mas novos pontos já estão surgindo, afirma Conrado Schneider, o secretário: “Propriedades particulares já estão interessadas em ingressar e fazer parte desse itinerário”. De todos os pontos, sete já estão à disposição da população. Três deles são pontos naturais que já contam com infraestrutura para fotos, alegria e muita diversão: Re-
Reserva Volta Velha.
Cachoeira Casarão.
serva Volta Velha, Pesque Pague Ledoux e Cachoeira Casarão. A observação de aves, um dia em família e um banho gelado para renovar as energias, nesses locais são alegrias garantidas. Outros quatro pontos também já podem ser visitados. No Pontal, do Píer de observação do Porto, o desenvolvimento pode ser aprecia-
do. No início da tranquila Baía da Babitonga grandes navios entram em sintonia com a natureza. Além do crescimento, a história também está presente. O Farol do Pontal, hoje revitalizado, representa caminhos do mar, lembranças e união da comunidade. Junto à associação, ali acontecem tradicionais festividades.
Pier de Observação do Porto Itapoá
Farol do Pontal, revitalizado.
Para a pesca também há turismo. O balneário Pontal ainda conta com o Trapiche, ponto de encontro para diferentes barcos, pescadores e conversas. Mas a rota não fica apenas na região sul, no Balneário Rainha uma praça à beira mar proporciona contemplarmos com conforto o imensidão azul. Para este ano outras obras já
Trapiche no balneário Pontal.
estão previstas e, conforme a Secretaria de Turismo, a verba já está garantida. No balneário Itapoá uma praça será arquitetada, reunindo criança, adulto e idoso em uma arte agitada. Já no balneário Itapema do Norte, entre a primeira e a segunda pedra, um calçadão à beira mar será construído. O local já muito apreciado ficará ainda mais dispu-
tado. O projeto também apresenta um deck de madeira na terceira pedra. Com design e iluminação diferenciada, promete impulsionar ainda mais o surf local, afirma o secretário. A região de Itapema ganhará outros pontos em 2015: um deck também será construído na primeira pedra, onde antigamente até gente morava.
Ao lado da pista de skate também haverá uma praça e, na região do Continental, mais um calçadão à beira mar promete impulsionar caminhadas. A Barra do Saí não ficará de fora: uma ponte pênsil de 300 metros promete unir as pessoas à praia deserta do outro lado do rio Saí Mirim. Lá onde a preservação nos mostra que as belezas naturais não têm fim. Além desses projetos e construções, o que não falta são pontos para apreciação. Os 32 quilômetros banhados pelas ondas do oceano, o verde nativo e o crescimento pujante a cada dia ganham novos olhares de paixão. Só que mais do que paixão, o que não pode faltar é a conscientização. Independente da onde vem a construção, patrimônio público, como já diz o nome, é público. Ao apreciar e aproveitar, o respeito também exige a prática de manter limpo e cuidar. Se cada um fizer sua parte, não há do que reclamar. Visite, goste, cuide, se encante. Venha, vá, volte ou fique, mas se apaixone. As informações sobre a rota turística de Itapoá foram cedidas pelo secretario de turismo, meio ambiente e cultura, Conrado Schneider
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GIROPOP VERDE | BIRRO
Até que enfim... Birro! Beto Vieira
Birrooo...birrooo! Quem, em Itapoá, nunca ouviu um som forte parecido com esse? O som que muitas vezes ouvimos é de um lindo pica-pau, o Pica-pau-branco, também conhecido, aqui em Itapoá, como birro. Esse pica-pau me deu muita dor de cabeça, pensei até que jamais fosse fotografá-lo, pois sempre acontecia um imprevisto, nunca dava certo, ora estava muito escondido entre galhos, ora só o ouvia e não o via e ora estava sem máquina fotográfica. Já havia fotografado aves bem mais raras, mas meu caso com o birro estava tornando-se um caso complicado. Um dia em Curitiba, encontrei um casal com filhotes num ninho sobre uma árvore. Nesse local poderia ter tirado tantas fotos, quantas quisesse tirar, mas infelizmente, estava sem
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minha máquina fotográfica. Muito complicado mesmo! Enfim, até que um dia.... consegui tirar fotos do birro, em Itapoá! Características do “birro”, Pica-pau-branco (melanerpes candidus) Seu nome vem do grego melas = preto; e herpes = trepador e do latim candidus = branco, significando trepador preto e branco ou pica-pau preto e branco. Também conhecido como birro ou cri-cri, sendo esses nomes referentes ao seu canto. Alimentam-se de insetos e suas larvas, sementes, frutos e mel. Caçam insetos, especialmente sob as cascas das árvores,
atacam ninhos de marimbondos e vespas. Nessas ocasiões, é interessante como esses insetos voam próximos aos pica-paus sem atacá-los com seus ferrões. Procuram avidamente as larvas nas casas de marimbondos, destruindo-as completamente. Esse pica-pau abre ninhos de abelhas indígenas, como a irapuá ( trigona spinipes ) para deles retirar larvas e abelhas adultas, prestando assim, importante serviço aos citricultores, pois a irapuá causa prejuízos à produção de cítricos, Uma vez que corta com suas mandíbulas os botões florais, impedindo a formação de frutos.
Alimentam-se, além de insetos, de frutos, como o mamão, laranja, bananas entre outros. Escavam seus ninhos em troncos de árvores secas, onde põe de três a quatro ovos brancos e brilhantes.Os filhotes deixam o ninho com aproximadamente trinta e cinco dias.Vivem em áreas campestres, pastos, eucaliptais, plantações e áreas rurais, vivendo também em cidades, parques, jardins entre outros lugares. Presente em campos na foz do Rio Amazonas estendendo-se para regiões campestres de todo Brasil. Fonte: Wikiaves com adaptação da Revista Giropop.
PINTOR | POSTAIS DE ITAPOÁ
Superação estampada na arte
Pelas suas mãos as paisagens itapoaenses ganharam um novo colorido e estão passeando pelo mundo feito cartões postais.
Augusta Gern
Uma hora com Rosalvo Silveira é como uma dose de ânimo. A alegria estampada no sorriso e o talento comprovado pelas mãos o fazem mais do que um artista, mas um exemplo de vida. Há 23 anos Rosalvo sofreu um acidente vascular cerebral que lhe deixou sequelas motoras, no lado direito do corpo, e na fala. Uma vida agitada, com muita informação e exigência intelectual foi interrompida. Até 1987 trabalhou na área jurídica de um banco, onde atuava como tradutor e dominava cinco idiomas fora o português. Sempre gostou muito de viajar e conhecer novos lugares. Depois do acidente, quando já estava aposentado, foram dois anos para voltar a falar. Mas isso nunca foi motivo para desânimo. Sua esposa Vera Lucia Zasatzki Silveira conta que ele sempre entendeu tudo e foi muito contente e feliz: “mesmo na UTI ele mantinha um astral muito bom”. Com a nova rotina teve que reaprender algumas atividades e resgatar outras. O desenho, por exemplo, o acompanha desde criança. Natural de Assunção (Paraguai), fez cursos de desenho com bico de pena e tinha uma técnica muito aguçada. Com o passar dos anos a atividade o acompanhou e sempre com a mão direita.
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Rosalvo Silveira.
Após o acidente e sequelas, Rosalvo foi estimulado a voltar a desenhar com a mão esquerda, até para ajudar na sua comunicação. Dois anos e meio depois começou os primeiros rabiscos, e não poderia ter dado mais certo. Ricas em detalhes, suas obras contagiam todos os olhos. Rosalvo gosta muito de reproduzir retratos, já desenhou diferentes famosos e, ao encaminhar para eles, já recebeu cartas de agradecimento. Animais, natureza morta, paisagens e carros também são muito
desenhados, mas outras grandes paixões são aviões e a Segunda Guerra Mundial. O artista já desenhou muitos aviões utilizados na Guerra e na maioria das obras deixa sua marca registrada: um pequeno avião na paisagem, conta sua esposa. Para a maioria dos desenhos utiliza lápis aquarelado, mas também gosta do nanquim e outras técnicas. Depois de Assunção, Rosalvo morou alguns anos no Rio de Janeiro e há bons anos vive na capital paranaense. Sua relação com Itapoá começou há 40 anos, quando visitava a cidade ainda mesmo sem luz. Em 1994 construíram uma casa e, de lá para cá, são um pouco turistas, um pouco moradores. “Há dois anos, quando Rosalvo ainda estava andando a gente vinha em dezembro e ficava direto até março, hoje ficamos apenas alguns dias”, conta Vera.
Porém, sua relação com Itapoá vai além de visitas. Apaixonado por essa terra, Rosalvo transforma suas paisagens em belas obras, ou melhor, belos cartões postais. Tudo surgiu quando sua esposa trouxe algumas fotos da cidade para inspirá-lo, e ele prontamente as recriou no papel. Com os desenhos prontos em tamanho grande, Vera encaminha para a gráfica e os transforma em pequenos postais. As obras são comercializadas em estabelecimentos da cidade e com certeza viajam diferentes regiões com belas mensagens. Além de postais de Itapoá, seus belos desenhos de aviões inspiraram um aeroclube da região a elaborar cartões de natais com essas imagens. Durante alguns anos suas obras acompanharam mensagens natalinas e a logomarca de empresas. E assim, entre desenhos e sorrisos no rosto leva sua tranquila rotina. “Hoje a vida dele é a arte”, afirma a esposa. Fora o desenho, tem grande paixão por Itapoá. Conforme Vera, Rosalvo aguarda ansiosamente para vir à praia. “Ele ama muito esse lugar e, no último exame que fez, quando o médico pediu repouso, a primeira pergunta foi: quando eu posso ir para Itapoá?”, conta a esposa. Aqui é conhecido por muitos moradores e já foi convidado a participar de eventos e feiras culturais da cidade, mas por motivos médicos ainda não conseguiu comparecer. Uma vida com algumas limitações, mas muitas superações. Aos 77 anos Rosalvo sonha em conhecer a Rússia e há 20 anos está na espera de uma célula tronco.
QUEM É? | INÁCIO PORFIRIO DOS SANTOS
Resgatando um pouco da História Sônia Charlotte Heeren
Poucos conheciam Itapoá. Começou onde existe a pedra que surge ou pedra que bóia. Barra do Saí, Itapema e o Pontal, únicas comunidades existentes e eram pouco mais conhecidos. As pessoas caminhavam a pé entre uma comunidade e outra e é nesse cenário que vivia, Inácio Porfirio dos Santos, primeiro delegado da cidade chamada Itapoá. Inácio Porfirio dos Santos, 87 anos e muita história para contar desde quando foi convidado pelo então prefeito de São Francisco do Sul, “ cônsul inglês” que não conhecia o lado de cá, conforme acrescentou, Inácio, ou seja, Itapoá, para exercer a função de professor. Como Inácio sabia ler e trouxe consigo uma listagem de crianças em idade escolar, o prefeito de São Francisco lhe enviaria todo material necessário para fazer funcionar uma escola. Ciente de que precisava formação para assumir o cargo, chamou uma moça do Pontal que tinha curso e foi nessa ocasião que a primeira escola foi aberta na Barra do Saí, na casa do pai de Inácio. No entanto, como Inácio não quis assumir o cargo de professor, o mesmo prefeito de São Francisco ofereceu-lhe o cargo de inspetor local. Conta que as tarefas do inspetor eram reconhecimento de mortos e encaminhamento para enterro, zelar pelo bom andamento das relações entre moradores da cidade, principalmente vizinhos e que muitas vezes teve que apartar brigas e que sua arma era o diálogo. Com o desenvolvimento de Garuva e tendo delegacia na cidade, muitas vezes teve que levar os presos a pé, não existia carros, apenas poucas bicicletas. Na época da malária, recebeu todos os medicamentos para atender a população. Salientou que era sua inteira responsabilidade, atender os doentes, preencher as fichas e consolar as famílias dos que não suportaram a doença e que estavam no meio do mato, local onde também adentrava para atender e acudia os doentes. Após vinte anos trabalhando pelo bem estar social achou que deveria receber algum salário. Correu por várias cidades com o intuito de ter uma carteira profissional assinada. Foi para São Francisco, Garuva, Joinville e Florianópolis até que conseguiu um advogado que o aconselhou a afastar-se do serviço e esse advogado entrou com ação contra o Estado, processo que levou cinco anos. Nesse período foi para Florianópolis fazer Academia Militar e foi assim que continuou como policial durante mais quinze anos, aposentando-se com setenta e um anos após longa jornada de atendimentos na região, principalmente, na região chamada de Praia do Meio, local que todos se intitulavam proprietários, mas que na realidade, nunca houve sequer um proprietário. Senhor Inácio, pessoa tranquila e correta, pai de quatro filhos, um deles, Domingos, foi o primeiro vice-prefeito de Itapoá, já emancipada. Inácio sempre partidário do acordo e do diálogo para resolver questões, em que houvesse qualquer tipo de discórdia, brigas, ou seja, um exemplo de vida! Encerrou o depoimento afirmando que apesar de sempre ter exercido a função de um delegado e ser chamado de delegado, nunca fora um delegado de fato e sim, um policial!
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MÚSICA | BAR NA OCA
Tradição das noites quentes de verão Augusta Gern
Com a chegada da estação mais quente do ano não há quem não aguarde ansiosamente a abertura diária do bar Na Oca. Ponto de encontro dos Roberto, sua filha Ana Paula e a esposa Nair Verson. moradores e turistas, a aconchegante esquirio permitido para a música. tante, mas muitas pessoas que são na na Avenida André Conforme Ana, no ano pas- contratadas acabam desistindo ao Rodrigues de Freitas sado o alvará permitia som longo do verão ou faltam nas datas já se tornou tradição. até às 4 horas da manhã, mais movimentadas. Bar Na Oca já tem 14 anos de tradição. Há 14 anos em Porém, são dificuldades que neste ano, apenas até às 3 funcionamento, o bar horas. “É complicado por- nunca atrapalharam o bom serviço é tocado pela família que as pessoas são acos- prestado; nem mesmo quando o Verson com muita aletumadas a sair mais tarde bar pegou fogo em 2006. A causa gria e trabalho. Tudo de casa e não conseguem não foi identificada, mas com o incomeçou por acaso, aproveitar muito”, conta. cidente pode-se perceber a imporsem muito planejaO problema é agravado no tância do barzinho. Ana conta que mento e experiência verão: com o horário de sol na época muitos amigos e clientes no ramo. Quando se diferenciado, todas as ativi- os incentivaram a continuar. Assim, aposentou, Roberto dades são adiadas e 3h é o mudaram a cobertura, aumentaAntônio Verson resolram o palco e, a cada ano, trabaauge da curtição. veu morar na praia e Mas independente do lham com novidades. a família veio junto. Para este ano a expectativa é horário, a música boa semO bar surgiu em uma pre marca presença. Segun- que o barzinho funcione em alguns conversa com o amido Ana, eles sempre bus- finais de semana e na Copa do go Farina, sócio no Mesmo após um incêndio em 2006, amigos e cam priorizar e incentivar os Mundo algumas novidades são proprimeiro ano da casa. clientes os incentivaram a continuar. músicos locais, pois talento gramadas: “estamos com um proje“Estávamos converé o que não falta. “Para mim to bem legal, além do telão vamos sando ali na avenida e resolvemos sempre reunida. “É desgastante, a melhor banda é aquela que tocou colocar algumas televisões e espeinvestir naquela esquina, que na mas é muito bom”, afirma Ana, no Carnaval, com quase todos os ramos toda a torcida”, fala Ana. época estava vazia”, conta. também advogada do Porto. Junto às novidades, simpatia e músicos daqui”, afirma. Os ritmos A ideia surgiu e a família inteira No barzinho o trabalho começa fortes da casa são pop rock, samba muita energia boa não irão faltar. topou, no verão não há quem esca- cedo, principalmente na alta tem- rock e reggae. Energia que ali fez nascer muitas pe do trabalho: Roberto, a esposa porada: às 19 horas as mesas são Outra dificuldade apontada pe- amizades, grandes histórias de Nair, seus filhos Carlos e Ana Paula organizadas e, depois que termi- los proprietários é encontrar pes- amor e muita conversa boa. Enere até os agregados. Conforme Ana nam os atendimentos, o trabalho soal para trabalhar na temporada. gia que contagia, tornando-se traPaula Verson, apesar de cansativo, interno vai até às 6 horas da ma- Muitos dos funcionários estão há dição, principalmente nas noites é uma alegria, pois a família está nhã. O grande problema é o horá- anos na casa, o que facilita bas- quentes de verão.
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COLECIONADORES | FOTOS ANTIGAS
Augusta Gern
Coleções geralmente guardam a paixão por alguma coisa, mas neste caso o amor é por um local: Itapoá. A história, fatos curiosos, transformações e pessoas dessa cidade são muito bem guardadas e registradas nas três mil fotos antigas de Ariel Apolinário. Em arquivo digital, diferentes pastas organizam um acervo que iniciou há cerca de oito anos, quando escolheu Itapoá como sua cidade. Um acervo que impressiona pela memória e qualidade. A maioria das imagens é fruto de fotografias impressas, algumas guardadas no armário, outras encontradas em casas de conhecidos. Tudo começou com registros da família. Frequentador e amante das paisagens itapoaenses desde criança, Apolinário encontrou em
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Ariel Apolinário. fotografias antigas de sua bisavó algumas paisagens da praia. Aí, ao unir o gosto por Itapoá e por fotografias, a coleção surgiu. “Algumas coisas só estão na memória, mas as fotos nos ajudam a lembrar”, conta. E o que não foi vivenciado, foi pesquisado. Ariel conhece a histó-
ria de quase todas as fotos, mesmo as datadas antes de 1940. Sempre foi em busca da história de cada imagem. Em 1937, por exemplo, imagens aéreas foram realizadas pela marinha americana quando estavam em busca de locais para atracar portos, conta o colecionador. Outras fotos retratam a época em que as ruas abertas podiam ser contadas nos dedos, quando a faixa de areia era extensa e envolvia as pedras de Itapema, o local do antigo cemitério de Itapema do Norte era um campo de futebol, a Avenida principal era um caminho vazio e o Hotel Pérola era uma das únicas construções. Registros que destacam a dificuldade de quem aqui vivia, a aventura de quem vinha
para Itapoá e como era o paraíso deserto recém-encontrado. “Algumas dessas fotos várias pessoas tem, mas outras não”, afirma Ariel. Além de fotos históricas exclusivas, seu acervo também conta com fotografias próprias. “Hoje uma foto não vale nada, mas daqui há 50 anos...”, arrisca Ariel. Assim, o colecionador adora a seção de “antes e depois”, onde registra locais em diferentes épocas. Outras fotografias registram curiosidades itapoaenses: “Você sabia que Itapoá tem mais de 60 igrejas?”, pergunta. Pois é, as fotos revelam isso. E assim, entre igrejas, ruas, personagens e detalhes que atraem a sua atenção, a coleção é alimentada de acordo com os cliques de sua câmera. Uma coleção que nos mostra as diferentes formas de ver e guardar o mundo, de viver e reviver Itapoá. Lembranças que ultrapassam a emancipação política ou as histórias contadas pelos avós. Cada fotografia tem uma história e, todas juntas, formam uma rica e curiosa história.
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HISTÓRIA | 25 ANOS DE ITAPOÁ
Itapoá nas palavras da História Augusta Gern
Durante 25 anos, quase que uma coincidência com a idade de emancipação política que Itapoá está completando, Vitorino Luiz Paese escreveu o maior registro histórico da cidade, o livro “Memórias históricas de Itapoá e Garuva”. Antes com uma memória gravada em pequenos relatos ou nas boas e interessantes conversas dos antigos moradores que aqui escolheram viver, o livro trouxe um documento de registros. Com uma história que começa junto aos índios carijós, a obra apresenta pontos que impulsionaram o crescimento e desenvolvimento da cidade. De forma cativante, através das páginas Vitorino conta a história dos municípios de Itapoá e Ga-
Veículo suporte base para a construção da estrada.
1966 - Vereador Pedro Mikos lê a ata de posse do prefeito de Garuva, Ao lado, Vitorino Paese
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Vitorino Luiz Paese escreveu o livro “Memórias históricas de Itapoá e Garuva”. ruva, enfatizando principalmente “a primeira comunicação regular de Itapoá com o mundo”, a abertura da estrada Serrinha e toda a sua importância. A conclusão dessa primeira estrada também é apresentada por imagens em um documentário inédito em DVD, gravado em 1958. Para Vitorino, professor, economista e historiador, tudo começou com a sua proximidade com os acontecimentos. Seu irmão Dórico Paese fez parte da Sociedade 1957 - Primeira placa de Itapoá. Imobiliária Agrícola e Pastoril Ltda Ambrósio Paese com um amigo. – S.I.A.P, conforme o livro a responsável pela abertura da estrada e o “despertar de Itapoá”. “Eles descobriram que Itapoá tinha todos os ingredientes para se tornar um grande balneário”, conta Vitorino. Sempre interessado nos fatos, o autor esteve na cidade pela primeira vez em 1955, aos oito anos de idade. Talvez por curiosidade de criança, aliada ao seu gosto pela história e pesquisa, começou a guardar e registrar todos os fatos, como panfletos e documentos. “Estava sempre atento com tudo que acontecia e admirava a coragem deles em abrir a estrada em uma 1958 - Dórico Paese em seu cidade ainda carente de qualquer escritório em Joinville. infraestrutura”, lembra.
Segundo ele, este “gosto por loucura” para abrir a estrada só pode estar no sangue da família. Seu farol de bons exemplos, o Nôno Giácomo, também citado no livro, era detentor de conhecimentos sobre engenharia de estradas e foi chamado pelo governo gaúcho para opinar sobre a abertura de uma via. “Impressionado com a formação técnica, o mandatário aproveitou-o de imediato, incubindo-o da abertura de um dos trechos. Muito dinâmico e motivado pela distinção recebida, rapidamente arregimentou o pessoal e concluiu em tempo recorde a etapa a ele destinada”, cita na página 51 do livro. Conforme Vitorino, muitas foram as dificuldades enfrentadas pelo Nôno, mas que não desistiu. A mesma persistência ele conta que o irmão e seus sócios tiveram em Itapoá. Em 1957 houve o maior volume pluviométrico registrado, e as fortes chuvas atrasaram o cronograma das obras da estrada, causando problemas orçamentários e outros imprevistos. “Mas entre as duas opções que tinham, continuar e ver a estrada pronta ou parar e deixar todos os investimentos para trás, decidiram seguir em frente”, conta Vitorino. Conforme o historiador, momentos como esse lembram as pessoas que aqui moravam de forma heroicamente e que mostraram um desprendimento que emociona, ajudando efetivamente na abertura da estrada. Assim, o livro detalha o ano de 1958, quando Itapoá saiu do anonimato: “… Com grande alegria, os pescadores, agricultores e demais habitantes dessas localidades viam chegar à porta de suas casas o primeiro veículo e com ele a certeza de que estavam definitivamente interligados, regularmente, aos demais pontos do país. Houve muita festa, pois o grande sonho, de tanto acalentado e quase desacreditado, finalmente… graças a Deus, estava concretizado”, trecho da página 65. Assim, com muitos documentos em mãos e uma memória in-
1957 - Acampamento suporte da estrada.
Refeição ao ar livre.
Famoso táxi, Pontal - Itapoá.
1958 - Pioneiros de Itapoá
Primeira hospedaria de Itapoá.
1959 - Planta do primeiro loteamento registrado de Itapoá - planta b1 - Baln Itapoá.
Inauguração da estrada Itapoá - Barra do Saí.
Primeiro Hotel de Itapoá, próximo ao Corpo de Bombeiros.
vejável, Vitorino seguiu por muitos anos colecionando tudo como algo precioso, mas não pensava em escrever um livro. O impurrão final foi quando o amigo Padre Tarcísio de Garuva o entregou um envelope com novos documentos. “Sempre o visitava e naquele dia ele estava com problemas de saúde. Me entregou um envelope e assim segui viagem, sem abri-lo. Até que me dei conta que aquilo era um presente e que deveria ver”, recorda. No envelope havia documentos sobre as duas experiências francesas na região, também citadas no livro. Com todos os momentos registrados, o professor se deu conta de que precisava partilhar esta história, que não era justo guardá-la apenas na memória e em documentos engavetados, e então resolveu escrevê-la. Para garantir a veracidade dos fatos, Vitorino foi até a Câmara de São Francisco do Sul, cidade mãe de Garuva e Ita-
poá, e buscou as atas de criação dos distritos e depois municípios. Também fez um “pente-fino” com as notícias publicadas na época e conversou com pessoas que aqui moravam. Depois de tudo comprovado, juntou o material com o inédito documentário de 1958, que guardou em rolo, transformou em fita e depois em DVD. Para ele, sua convivência com os fatos facilitou muito o trabalho. Uma lembrança interessante é ter conhecido pessoalmente Tereza Rosa do Nascimento, senhora que viveu a abolição da escravatura e o presentou com uma caneca gigante usada no café matinal dos escravos. De todos os registros, a maior dificuldade foi conseguir o significado do nome Itapoá. Como os índios carijós foram os primeiros habitantes da região, além da pesquisa em livros e dicionários, foi através de
1963 - Arrastão em Itapoá. Fotos: Vitorino Paese reuniões com paraguaios que fa- que acreditaram no seu trabalho e lam guarani que chegou ao signifi- o apoiaram no momento do lançacado: “a pedra que ressurge”. Con- mento. Hoje o livro está presente em forme ele, os índios costumavam dar o nome do local fundamenta- muitas residências de Itapoá, Gados no acidente geográfico ou pon- ruva e tantas outras cidades, pela to notável que mais chamasse a distribuição gratuita. Também está sua atenção e não dissociavam o em bibliotecas públicas e logo será místico do real. Assim, impressio- lançada a segunda edição. Com o nados com a pedra que desapare- término desse trabalho, Vitorino ce com a preamar e reaparece com incentiva a publicação de mais registros históricos, mas ressalta o a baixa-mar, surgiu o nome Itapoá. E entre memória, pesquisa e cuidado com datas equivocadas. O livro “Memórias Históricas dificuldades, nasceu um trabalho de 25 anos. “Nunca houve preo- de Itapoá e Garuva” apresenta cupação em terminá-lo na outra então uma das grandes paixões semana”, afirma Vitorino. Assim, de Vitorino: o município que reserem 2012 o livro foi lançado para va grandes momentos históricos, autoridades dos dois municípios belas paisagens naturais e um contemplados. De acordo com o desenvolvimento promissor. Para autor, o momento de lançamento ele, Itapoá tem muitas pessoas e também foi muito propício, pois a energias boas: “A história conta obra não tem nenhum vínculo polí- que os carijós sempre foram muito tico (nenhum dos prefeitos da épo- carismáticos e um povo de palavra, ca concorreram à reeleição). Ele devem ter deixado suas vibrações ressalta o agradecimento a todos positivas por aqui”, arrisca Vitorino.
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PIONEIRA | MÔNICA ZUÑEDA SERAFINI
93 anos de vida e 56 com Itapoá Augusta Gern
Sua vinda para Itapoá iniciou por volta de 1958. De Curitiba, Dona Mônica Zuñeda Serafini alegremente descia a serra e chegava à terra que pouca coisa havia. Para cá, tudo vinha junto: filhos, animais, comida e até mecânico, era como uma excursão. A aventura acompanhava a família em todas as férias e o destino era sempre o mesmo: a bela casa branca e azul à beira do balneário Princesa do Mar, que hoje se tornou a residência fixa. Aos 93 anos de idade, Mônica é apaixonada pela praia itapoaense e há 12 anos deixou de apenas visita-la, tornou-se moradora fixa. Por problemas de saúde deixou o movimento da capital paranaense
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e mantém uma rotina com a brisa do mar, muita leitura e apreciação ao jardim. Como seu marido fazia, da varanda da casa hoje Mônica acompanha o sol: a cadeira vai se movimentando e contornando a casa ao longo do tempo. Com ela a palavra tempo leva a grandes lembranças. Tudo começou em 1920, quando na cidade de Alegrete, no Rio Grande do Sul, nasceu. Lá teve uma infância maravilhosa e recorda que seu pai, de origem espanhola, era um grande comerciante de um armazém que tudo tinha, como se fosse um shopping center atual. Na cidade foi professora de séries primárias, mas quando casou a profissão ficou para trás. Seu marido, Sr. Mansueto Serafini, trabalhava como engenheiro de estradas e,
junto com ele seguiu os caminhos que o ofício lhe encaminhava. Com o matrimônio vieram quatro filhos. A relação com Itapoá surgiu quando Mansueto foi nomeado engenheiro construtor da segunda estrada de ferro para ligar o norte do Paraná à Curitiba. Da capital paranaense, ele e o amigo Moisés Morschi Lima conheceram a região litorânea. “Moisés era amigo do prefeito de São Francisco do Sul, o qual tinha interesse em desenvolver a região de Itapoá”, conta Mônica. Assim, os amigos e sócios resolveram conhecer as terras e decidiram fazer um investimento agropecuário onde atualmente é o balneário Princesa do Mar. Tudo foi realizado com muita dificuldade. Em 1957 compraram a terra e a partir daí as coisas começaram a chegar de barco. Como até então não havia nenhuma estrada, animais e até casas atravessaram pouco a pouco a Baía da Babitonga de barco, de São Francisco para Itapoá. Mônica conta que em uma dessas vindas o barco virou, então para a segurança de todos pressionou os investidores a fazerem a travessia por terra. Na época já existia um caminho que ligava Garuva à área rural de Itapoá, mas até a
praia a comunicação era inexistente. Assim, junto com outros pioneiros, Serafini e o sócio abriram a primeira picada até a beira do mar. Com o tempo os investidores perceberam que o município não tinha vocação para agropecuária e resolveram lotear a área com base em preceitos urbanísticos relacionados ao meio ambiente: ruas largas e áreas verdes. Durante todo este período Mônica acompanhou seu marido. Preparada para aventuras, ela gostava de passar as férias com seus filhos em Itapoá. Uma informação curiosa é que o amigo e mecânico da família era indispensável em qualquer “excursão”, pois os carros estragavam com muita frequência. “Aqui também não podíamos ficar por muito tempo, pois não havia nada. Vínhamos para ficar uns três dias”, conta Mônica. Quando chovia, as malas eram feitas rapidamente e todos pegavam o caminho de casa sem demora, caso contrário era grande a chance de ficarem ilhados. Várias dificuldades que não eram levadas muito em conta. Por poder proporcionar bons momentos de alegria, contato com a natureza e liberdade aos seus filhos, tudo já valia a pena.
Com o tempo as vindas à Itapoá ficaram mais espaçadas, mas o carinho pela terra era diário. Em uma época ficaram seis anos sem visitar a casa construída e preservada desde 1960. “Uma vez vim sozinho para cá e quando cheguei a casa estava toda iluminada e havia um ônibus de excursão ao lado”, conta Werney Serafini, filho de Mônica. Segundo ele, ao entrar se deparou com dezenas de pessoas que acharam que a casa estava abandonada. No fim, tudo acabou de forma engraçada e todos se divertiram juntos até a tal excursão terminar. Além de abandonada, a casa também já ganhou o adjetivo de assombrada. Pessoas contam que já viram Mansueto, que faleceu em 1984, nos arredores da casa. Uma vez sua presença até espantou um ladrão, que confessou ao delegado o motivo por não ter roubado essa casa, apenas as da redondeza. Se é verdade ou não a família não sabe, mas a segurança está garantida. Assim, entre histórias curiosas e muitas lembranças, a casa demonstra o carinho da família pela cidade. Muito bem cuidada e ponto de encontro para reuniões da família, tornou-se uma referência à história do município.
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Escola comestível Uma pequena cidade no interior da Inglaterra fornece verduras para toda sua população, cerca de 17 mil habitantes, durante o ano todo. Com um detalhe: de graça! Todmorden, a pequena cidade, é tomada por hortas. Começou há pouco mais de cinco anos, com o projeto The Incredible Edible Todmorden (A incrivelmente comestível Todmorden), que consiste no cultivo de hortas comunitárias nos espaços públicos da cidade. Os alimentos produzidos são disponibilizados para qualquer morador gratuitamente. São mais de 40 locais espalhados pela cidade, desde floreiras nas ruas, o quintal da delegacia de polícia, jardins públicos, pátios de escolas, centros de saúde e até o cemitério local. O objetivo é incentivar a comunidade a cultivar os seus próprios alimentos e sensibilizar as pessoas sobre os recursos que consomem. O projeto levou dois anos para ‘pegar’. Na reunião de apresentação eram apenas seis pessoas. Atualmente é aceito por grande parte dos moradores e é divulgado nas escolas da cidade. A prática da horticultura aproximou as pessoas e melhorou o relacionamento entre vizinhos. Segundo a coordenação do projeto, as pessoas querem ações positivas nas quais possam se engajar e têm consciência de que o momento requer a responsabilidade de todos para obter qualidade de vida, relacionamento, alimentação saudável e respeito ao meio ambiente.
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Transformar espaço público em hortas comunitárias não é tarefa fácil. Mas, em Todmorden, o comprometimento dos gestores e a dedicação dos moradores, tornou isso possível. Ao ler um artigo sobre a experiência de Todmorden foi inevitável imaginar algo semelhante em Itapoá. Claro que em consonância com as condições locais. Afinal, não estamos na Inglaterra e não seria possível transformar uma extensa cidade litorânea em horta comunitária. Mas, existem espaços vazios nas escolas. Por que não nesses espaços? Segundo educadores, a horta escolar tem se mostrado um instrumento eficaz na educação dos jovens, estimulando o hábito da alimentação saudável e equilibrada, bem como o senti-
do planetário da responsabilidade humana com o meio ambiente. Algumas escolas de Itapoá desenvolveram ou desenvolvem isoladamente pequenos projetos dessa natureza que poderiam ser multiplicados e ampliados. No entanto, o ‘calcanhar de Aquiles’ desse tipo de projeto está na ‘terceirização’ da horta para os alunos e professores. A horticultura, todos sabem, exige conhecimento técnico e dedicação exclusiva para ser produtiva. Não é toda pessoa que está capacitada ou aprecia a atividade e o professor tem como foco principal ministrar aulas e não cuidar de hortas. Por essa razão muitos projetos semelhantes não dão certo. Talvez, como alternativa, conceber projeto envolvendo a Secretaria de Educação, Secretaria de Agricultura e o escritório local da Epagri. A Secretaria de Educação trataria da orientação pedagógica, a de Agricultura da operacionalização do projeto, custeando um profissional treinado para a formação e manutenção da horta e ao escritório da Epagri do fornecimento de mudas e sementes e a necessária orientação técnica. As hortaliças produzidas seriam fornecidas para a merenda escolar e, o excedente, cedido gratuitamente às famílias dos alunos proporcionando uma alimentação saudável, baseada no consumo de verduras frescas e sem agrotóxicos. Quem se habilita?
GIROTECA | EXPOSITORES
Fique a vontade, os livros estão à sua disposição Augusta Gern
A regra é muito simples: gostar de ler. A ação de pegar um livro emprestado em estabelecimentos perto da sua casa, deixar livros para outras pessoas terem acesso e compartilhar conhecimento e boas histórias está dando certo. Com oito expositores na cidade, o projeto Giroteca está movimentando a cidade e a mente de muita gente. A ideia surgiu para incentivar a leitura e deixá-la ao acesso de todos. Assim, com uma parceria com o departamento municipal de cultura, através do projeto Ciranda da Leitura, bons livros é o que não faltam. Do acervo da biblioteca pública municipal, de doações e das mãos de bons leitores, o projeto está abrangendo diferentes livros, para todos os gostos e idades. Atualmente os expositores estão localizados em pontos de norte ao sul da cidade: Conveniência Skina, Restaurante Dona Elza, Bella
Felipe, proprietário da Panificadora Tezukuri.
Pele Cosméticos, Panificadora Docita, Prefeitura de Itapoá, Laboratório Itapoá de Análises Clínicas, Panificadora Tezukuri e Supermercado Super Mais. Conforme os proprietários da Panificadora Tezukuri, o movimento de livros no expositor é grande. “Muita gente que está esperando o ônibus vem pegar um livro para ler, principalmente a criançada que sai da escola”, afirma. Segundo ela, já havia visto isso em outras cidades e achou muito interessante, só estava aguardando uma oportunidade
para participar. “Aqui há todo o tipo de leitores, desde crianças até idosos”, conta. O mesmo movimento está sendo observado em outros locais. No Laboratório de Análises Clínicas, por exemplo, o maior público são as mulheres, mas muitos pacientes aproveitam a espera do exame para conhecer uma boa história. Já no balneário Itapema a curiosidade é o chamariz. Segundo o proprietário da Bella Pele Cosméticos muitas pessoas que estão caminhando na rua param para descobrir o que é e ficam surpresos com o objetivo. “Muitas pessoas perguntam se é verdade, se não precisam mesmo pagar pelo livro”, afirma. Sim, todos os livros são gratuitos. Você pode emprestar, trocar e doar. Participe dessa campanha de incentivo à leitura. Procure um dos expositores e entre para este mundo da l eitura, cheio de conhecimento, histórias e imaginação.
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Fantástica Santorini Santorini, maravilhosa ilha grega, que faz parte de um arquipélago fruto de erupções vulcânicas. A cidade se encontra no topo da ilha, sobre milenar rocha vulcânica. O espetáculo é singular quando avistamos a ilha, aparece logo um contorno branco sobre ela e o resto da ilha de cor meio preta, meio avermelhada e marron, nuances coloridas, que fazem dela um local incomum, criado pelo homem e pela natureza. Em Santorini também chamada de Santa Irene, não existe porto para navios de grande porte, apenas trapiches, aonde chegam lanchas e barcos pequenos. O navio ancora a uma certa distância da ilha e com uma lancha chega-se à Santorini. Para chegar à cidade no topo do vulcão existem possibilidades como: sobem-se oitocentos e oitenta e cinco degraus, ou sobe-se de forma primitiva, ou seja, sobre o lombo de mulas ladeira acima ou com teleférico e de ônibus, que subirá dois mil metros até o topo. O teleférico, ainda é o meio mais prático e mais rápido para quem tem pouco tempo para conhecer Santorini. Se você tem tempo curta
a subida sobre mulas, a paisagem é de tirar o fôlego. Ao chegar à cidade anda-se a pé. Carros não existem, somente nos arredores. Ruas muito estreitas, repletas de lojas, tavernas, muito charmosas, igrejas ortodoxas com suas cúpulas pintadas de azul e um povo hospitaleiro fazem com que nos sintamos muito à vontade. Só é
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preciso muita disposição e força nas pernas para passear pelas ladeiras e escadarias tendo um mar e céu muito azul como pano de fundo. Nesse rico solo vulcânico são cultivadas trinta e seis tipos de uvas, que produzem um vinho branco saboroso, como também, existem jóias e objetos artesanais feitos da lava dos vulcões de preço incalculável. São obras fantásticas encontradas em lojas e galerias de arte. Imaginem estas casinhas debruçadas em um penhasco de aproximadamente trezentos metros, topo da caldeira e apreciando o que parece ser mar, mas na verdade é uma lagoa, espécie de caldeira de água salgada que se formou da erupção vulcânica e que fez, há milhares de anos, a ilha desmoronar. A tranqüilidade e beleza natural é fora de série. Só vendo para crer! Talvez a mais fotografada de todas as ilhas gregas, um refúgio para artistas e artesãos. Aprecie a vista. Beba algo e desfrute a culinária local e lembre-se deste momento para sempre! Santorini é a última ilha desse cruzeiro, que começou em Veneza. Foram onze dias de prazer e locais visitados, que certamente nunca serão apagados de nossa mente. De volta ao navio para uma noite perfeita, dançando sob um céu estrelado e saboreando um belo jantar. Aproveite o que o navio tem a oferecer até retornar à Veneza. Em Veneza, aproveite para passear e conhecer uma das mais belas cidades medievais antes de prosseguir viagem ou voltar para seu país ou cidade de origem.
ARTESANATO | BALAIOS
Cipó e suas técnicas artesanais
Caixa própria para alisar o cipó chamada “raspadeira”.
Senhor Manoel e as formas próprias para moldar os balaios e cestas. Sônia Charlotte Heeren
Balaios, cestas, bolsas, sacolas e enfeites de cipó, fizeram parte do ambiente, no qual conversamos com Manoel Pinheiro, 84 anos e sua atual esposa, Maria da Graça Soares. Manoel Pinheiro, pai de seis filhos nos contou que trabalha com cipós desde criança, fazendo objetos de uso pessoal e caseiro de forma artesanal. Morador da região da Estrada Cornelsen desde a época em que não existia estrada, plantava arroz e tinha um armazém de secos e molhados, como também, acrescentou que foi proprietário do primeiro boteco de bebida, que ficava próximo do atual Posto de Saúde da Barra do Saí. Fornecia bebida para a cidade toda, diz que o trabalho era sacrificado porque a geladeira era a gás. Manoel Pinheiro contou passa a passo as etapas da fabricação das
cestas de cipó. Relatou que o cipó pega no mato em Itapoá, tira a casca e deixa no sol para secar bem. Depois de bem seco passa o cipó várias vezes numa caixa cheia de pequenos buracos e revestida de latão, chamada de “ raspadeira” para alisar bem o cipó e eliminar qualquer resíduo até que o cipó fique bem liso e pronto para confecção do objeto. Só depois dessa etapa está pronto para criar qualquer utensílio, dos mais diversos: cúpulas de abajur, balaios, samburás, cestos de roupas, vassouras. Salientou que depois de pronto enverniza e ou pinta os objetos e que faz uma média de quatro bolsas por dia. Trabalho artesanal bastante interessante uma vez que indígenas brasileiros ainda fazem belas peças de cipós e ainda são comercializadas em vários locais das grandes cidades.
Alguns utensílios feitos com cipó. Balaio (Barbosa Lessa) Eu queria ser balaio, balaio eu queria ser Para andar dependurado na cintura de você Balaio meu bem, balaio sinhá Balaio do coração Moça que não tem balaio, sinhá Bota a costura no chão Eu queria ser balaio na colheita da mandioca Para andar dependurado na cintura das chinoca Balaio meu bem, balaio sinhá Balaio do coração Moça que não tem balaio sinhá Bota a costura no chão Mandei fazer um balaio pra guardar meu algodão O balaio saiu pequeno não quero balaio não
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EMPRESÁRIOS E NEGÓCIOS | GEVANILDO MARTINS
O dom das mãos para os cabelos Augusta Gern
Só neste ano já arrumaram mais de 15 noivas, por exemplo. Uma agenda disputada pelo talento.
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Agenda cheia, muito trabalho e reconhecimento. É assim que Gevanildo Martins, conhecido por todos como Geva, leva sua rotina atualmente em Itapoá. Com o salão “G Cabelo Arte Studio”, ele tem aquele dom que toda a mulher adora: deixa-la cada vez mais bonita. O trabalho inicia logo cedo e vai até o início da noite, de terça-feira a sábado. Uma rotina que abrange cortes, penteados, tintura, escovas, hidratação, manicure, maquiagem, sobrancelha e todos outros cuidados referentes ao cabelo. Uma rotina fruto de muito trabalho e dedicação. Tudo começou quando criança. Com quatro irmãs, um irmão e duas sobrinhas, cresceu brincando de boneca. “Todos os dias as meninas iam com um penteado diferente para a escola”, conta. Porém nada era pensado, procurado ou visto em revistas, intuitivamente ele as arrumava. Também cortava o cabelo sem nem mesmo saber se estava certo ou errado, corte que virou moda alguns anos depois e voltou com toda a força agora. E mesmo com todo esse dom, nunca pensou em ser cabelereiro. Geva nasceu em Itapoá e há 32 anos as oportunidades não eram muitas. Com o pai pescador e a mãe do lar, ele sempre ajudou em casa, mas seu sonho era ser um grande executivo ou jogador de vôlei. Aos 15 anos de idade foi morar em Florianópolis com a irmã e, da mesma forma que aqui, continuou arrumando meninas sem ter uma explicação. “Morava em um prédio que tinham muitas meninas, aí acabava arrumando elas”, lembra. Aos 16 ou 17 anos voltou para Itapoá e começou a trabalhar em um salão de beleza. Foi a sua primeira experiência profissional na área. No início apenas lavava e fazia sobrancelha, dois meses depois já estava cortando e fazendo escova. Mas sua experiência ganhou auge a partir dos 21 anos, quando decidiu morar em Curitiba. Não sabia o que iria fazer e lá nada conhecia, mas uma amiga disse que iria o ajudar. Numa segunda-feira viu no jornal uma vaga de trabalho em um bom salão de beleza e na quinta-feira já começou a trabalhar. Lá ficou por quatro anos e percebeu o amor que tinha pela profissão. Durante esse período Geva conheceu diferentes técnicas, fez muitos cursos e viajou
para diferentes locais. Foi um dos maquiadores do Cristal Fashion, desfile de Curitiba, e até saiu em revistas. Tinha uma vida invejável. Ao fim de quatro anos em Curitiba voltou para Itapoá para ajudar a família. Foi na época que ocorreu uma grande enchente e acabou ficando por aqui. Começou a trabalhar em um salão de beleza e depois de três anos sua mãe perguntou: “Por que você não abre um salão?”. A ideia foi boa. Geva chamou sua irmã Jaqueline e juntos resolveram concretizá-la. Mas no início não foi fácil, as economias eram poucas e todo o salão foi financiado. “Com o que tínhamos de dinheiro fomos para São Paulo comprar escovas e outras coisas miúdas”, conta Jaqueline Martins. O restante foi pago com muito trabalho, mas em um ano estavam com todo o investimento quitado. Jaqueline conta que no primeiro dia de trabalho a agenda do Geva já estava cheia e ela, como sócia, mostrou toda a sua experiência administrativa. Também fez alguns cursos de cabelo, mas seus olhos sempre brilharam mais para móveis projetados, que também trabalha atualmente. Mesmo assim, pelas mãos de Jaque as sobrancelhas são perfeitas e é especialista em micropigmentação. No início o salão era formado apenas pelos sócios e uma manicure, mas com o tempo a equipe foi crescendo. Hoje são quatro pessoas trabalhando com cabelo e duas manicures. Toda a equipe mostra muito talento e contagia a todos pela união no trabalho. Segundo Geva, já houve períodos da temporada que trabalharam com 12 funcionários. E as cadeiras são sempre cheias. Se tiver mais gente trabalhando, com certeza o número de clientes também só aumenta. Só neste ano já arrumaram mais de 15 noivas, por exemplo. Uma agenda disputada pelo talento. Talento colaborado por toda a técnica. Gevanildo não consegue recordar o número de cursos que já participou, mas são dois ou três por ano. Os maiores destaques são para a Academia International Llongueras Center, de Buenos Aires, e o segundo lugar no concurso do Fashion Hair On Board em 2012, onde participou com cerca de 600 profissionais. Seu sonho é passar por mais duas academias, pois nunca para de investir. Assim, é difícil quem resista às suas mãos. Mãos que começaram a trabalhar na infância e sonham em um dia ter uma rede de salões.
Maio é o mês das mães. Mês especial a nos mulheres!! Somos incansáveis,na correria da vida. Modernas, descoladas, sensuais, românticas, atrevidas ,simpáticas carinhosas....mas o que nos motiva mesmo é o Amor por fazer o melhor para nós e nossa Família e amigos. Portanto ser mulher é ser Essencial as pessoas que conquistamos ao longo da vida.
Feliz mês das MULHERES cheias de Amor. “
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MODA | COURO DE PEIXE
Peixe sai da água e entra na moda
Augusta Gern Fazer arte, amizade e bem ao meio ambiente. É assim que o diferente conquistou lugar na vida de várias mulheres e está ganhando espaço na moda. Afinal, quem um dia imaginou que a pele do peixe poderia virar arte? Sim, depois que o peixe foi pescado, vendido, limpo e transformado em alimento, ainda pode ser base para exclusivos objetos, como bijuterias, carteiras, bolsas, sapatos e até roupas. Este é o trabalho com o couro de peixe, desenvolvido pela ACAPPI – Associação das Curtidoras da Pele de Peixe de Itapoá, do balneário Pontal. Há quatro anos, professoras aposentadas, costureiras e pescadoras ganharam um novo aprendizado e ofício, e com isso estão fazendo a diferença. Além do conhecimento e muita amizade - o grupo se reúne dois dias na semana para produzir as peças - o artesanato também está colaborando na renda familiar. As artesãs participam das feiras municipais, já estiveram em outras cidades e também aceitam encomendas. Tudo começou com a bióloga Sara Pontes, afirma a presidente da Associação, Maria Alzira Coneglian Viana. Sara era voluntária da ONG Bridge International (Instituto para promoção da vida), que tinha parceria com a igreja Metodista do município. Desde 2008 esta ONG estava trabalhando em Itapoá, no projeto Estação Samambaial. Conforme Sara, uma das voluntárias desse projeto realizado no balneário Samambaial fez um curso de produção artesanal de couro de peixe na Barra do Saí, ofertado por alguma entidade local. “Na época a ideia não foi para frente, mas apontou uma possibilidade de desenvolver um projeto de geração de renda com este material”, conta Sara. Assim, a bióloga se propôs a procurar informações sobre o pro-
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Detalhes em flores com escama de peixe. cesso, estuda-lo e escrever um projeto para aplicação. Com tudo em mãos, em 2010 a ONG conseguiu o apoio de parceiros para a implantação da atividade no Samambaial e iniciou o projeto ICHTUS. Conforme Maria Alzira, ICHTUS significa peixe em grego. “Entretanto, observando o potencial das outras comunidades de Itapoá, principalmente o Pontal que possuía um grupo de mulheres bastante forte e uma boa tradição com a atividade pesqueira, foi submetido à Fundação do Banco do Brasil um projeto para ampliação das atividades no Pontal e na Barra do Saí”, recorda Sara. Deu certo e entre 2011 e 2012 foram realizadas as atividades para implantação de pequenos curtumes artesanais de couro de peixe. Em todas as três localidades o projeto proporcionou um curso de processamento da pele de peixe, acompanhamento para realização e consolidação do aprendizado, capacitação para produção das peças e para o trabalho associado, parceria para a venda e divulgação
do material, criação de identidade visual e preparação para a autonomia, conta Sara. Porém, com o término do financiamento do projeto em 2012, apenas o grupo de artesãs do balneário Pontal permaneceu. Hoje já são dois anos trabalhando somente através da associação. “Mesmo com algumas dificuldades burocráticas e financeiras elas têm acreditado no trabalho em grupo e na capacidade de se renovar, foram em busca de novas parcerias e hoje contam com o apoio de outros grupos”, fala Sara. De acordo com Maria Alzira, hoje o Porto de Itapoá apoia a associação. Recentemente, essa parceria proporcionou um curso de curtimento de pele de peixe com produtos naturais, o que possibilitará ainda mais sustentabilidade. Segundo as artesãs, para a transformação da pele do peixe em couro são necessários 13 processos químicos. Depois que a pele chega à associação, através de pescadores e restaurantes da região, o material é congelado até ocorrer a primeira etapa da transformação, onde é feita a raspagem de gordura, vísceras e escamas. Aí já inicia a “pegada ecológica”. Conforme Maria Alzira, ao invés dos restos do peixe estar apodrecendo nas lixeiras e sujando ruas, viraram arte. “Depois da primeira etapa de raspagem, o que não é utilizado é levado até as gaivotas, como um grande banquete”,
afirma. As escamas geralmente são aproveitadas para a confecção de brincos ou detalhes como flores em alguns objetos. Todos os passos são rigorosamente realizados de acordo com os cursos e acompanhados de apostilas. “Tudo tem uma medida certa, se não podemos estragar a pele”, conta a presidente da associação. Além de trabalharem com um material natural, tudo é realizado para evitar impactos ambientais. Após todos os processos, o material químico é destinado até o sistema artesanal de tratamento de efluentes de curtume de pele de peixe, localizado na própria sede da associação. Todo o efluente é tratado e a água sai limpa, regando as plantas do jardim. O resíduo de produtos é recolhido pelo Porto que, de acordo com a associação, o destina a um aterro industrial. Assim, cuidando do meio ambiente e fazendo arte, as mulheres da localidade do pontal levam uma rotina que nunca imaginaram. Ao perguntar sobre o potencial da pele do peixe, nenhuma das associadas já havia pensado em uma alternativa artística. Hoje, os sonhos navegam longe, como os navios por ali passam. “Um dia queremos exportar nossas peças”, brincam. Uma brincadeira que pode dar certo. Conforme Sara, apesar desse ser o único projeto de cunho sustentabilidade ambiental e geração de renda apoiado pela ONG, outras iniciativas com o couro de peixe existem em todo o Brasil. No litoral paranaense, por exemplo, existe um grupo em Guaratuba e outro na Praia de Leste. Para a bióloga, o projeto no Pontal é motivo de muito orgulho. “Das várias iniciativas com couro de peixe que conheço essa é a mais sólida no que diz respeito a uma organização de trabalho associado, além de evoluir absurdamente no design e qualidade das peças, sem perder o toque artesanal do material”, afirma.
Ela já fez sete vestidos de noiva e hoje se sente realizada com seu artesanato. “Não tenho nem o que dizer, é uma realização muito grande”, afirma Fátima da Graça Vianna de Oliveira.
Malzira Kuliack Cândido também era professora. No começo, ela conta que ficava só olhando, nunca tinha mexido com artesanato. “É uma novidade incrível”, afirma.
Carteiras são a especialidade de Maria Elena Nascimento. Antes trabalhava com peixe, fazia rede artesanal. “Nunca pensei que era possível fazer isso com a pele do peixe”, conta.
“Nunca passou na minha cabeça fazer isso. No começo eu não sabia nem como pegar”, conta Ingrid Maier. A artesã antes era costureira e hoje sente-se realizada com o novo ofício.
Para Maria Lucia Alves da Silva, professora aposentada do Paraná, este projeto é uma das coisas mais bonitas que já viu, aliando o lado ecológico, à criatividade e geração de renda. Suas especialidades são marca páginas e tererê para o cabelo.
A atual presidente da associação, Maria Alzira Coneglian Viana é professora aposentada e, quando parou de lecionar, buscou cursos de artesanato. Hoje sente-se feliz e realizada com o trabalho de todo o grupo: “A nossa equipe é maravilhosa, colaboradora e criativa”.
Mariette Bark sempre trabalhou com peixe em restaurantes. “Sempre procurava alguma coisa para fazer com a pele, pois é tão linda. E ficava me perguntando, mas nunca imaginei uma coisa dessas”. Sua especialidade são carteiras e flores.
“Não dava um centavo para essa pele, é fascinante”, afirma Janete Nunes de Jesus. A artesã era pescadora e costurava um pouco, hoje sua especialidade são chaveiros, mas gosta de aprender um pouco de tudo.
“É novo e maravilhoso. O que hoje é arte antes era lixo”, fala a artesã Marli Peres. Antes trabalhava com pesca e nunca tinha mexido com artesanato. O que mais gosta de fazer são os brincos com escamas de peixe.
Lourdes Paixão já trabalha com artesanato há anos, mas sempre com raízes encontradas na praia. Estava presente quando o projeto iniciou, saiu e hoje está retornando. Para ela, mexer com peixe é uma novidade muito grande.
Primeira etapa do processo, raspagem da gordura e escamas
Sistema artesanal de tratamento de efluentes de cortume de peixe
Secagem, última etapa da transformação da pele em couro
Coletes feitos em couro de peixe.
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Maria Helena, 15 dias. Filha de Morielli Beira e João Claudio Soares
ALISSA DUTRA TOCCHIO (6 ANOS) Filha de Raise Tocchio e Márcio Tocchio
EDUARDA (3 anos) – Filha de Beatriz Melo e Edilson Ruchinski
JÚLIA – filha de Chirley e Junior Mendonça
CASAMENTO - Patrícia Braz e João Guerra (05/04/2014) CASAMENTO - Marcela Coan e Bruno Palmas
JOSI LUCHTENBERG E MILENA LUCHTENBERG - mãe e filha
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LÍVIA – Filha de Maria Luisa Sales e Nando da Cunha Zimmermann
MARINA LUÍSA MENEGUSSO (3 ANOS) - Filha de Caléo Ramos e Matheus Menegusso
TELE ENTREGA
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E Itapoá quer trocar SC pelo PR Decorria o ano de 1988 quando o jornal paranaense Gazeta do Povo publicou sob o título acima uma das muitas matérias que despertaram também o interesse da mídia catarinense sobre uma inédita permuta, através da qual Santa Catarina ficaria com o município paranaense de Barracão e o Paraná com Itapoá. As razões dessa curiosa história têm várias vertentes e foram seus protagonistas os cidadãos permanentes de Itapoá, a época cerca de sete mil, as reivindicações não atendidas e o deputado federal paranaense e constituinte Airton Cordeiro que sensibilizado pela situação reinante abraçou a causa. O estopim dessa demanda foi o plebiscito de 1987 onde uma insuspeita maioria de 956 votantes contra 97 discordantes registram um sonoro SIM a autonomia política e administrativa do distrito de Itapoá, porém viram suas vontades frustradas pelo então governador Pedro Ivo Campos ao vetar o projeto aprovado pela Assembleia Legislativa de Santa Catarina. Para a sofrida população do Distrito que se sentia abandonada em razão da falta de obras de infraestrutura, o veto passou a ser o combustível que alimentou e fez aflorar outros fatos viabilizadores do desmembramento ou troca de Santa Catarina pelo Paraná. Seus desejos de tornarem-se um município paranaense tinha duas explicações. Em primeiro lugar achavam que o governo paranaense dava mais atenção ao balneário que o governo de Santa Catarina e citavam com prova o fato
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de que foram a COPEL e a TELEPAR que instalaram as linhas de energia elétrica e telefone, além do governo paranaense, na pessoa do saudoso José Richa, ser responsável pelo único trecho de estrada asfaltada que leva à Itapoá, bem como a construção sobre o rio Saí-guaçu. Por outro lado queixavam-se que a prefeitura de Garuva e o governo catarinense “esqueceram-se” de Itapoá. A segunda razão incluía o fato de que 90% da população fixa de Itapoá – sete mil pessoas – era paranaense, assim como os cerca de 60 mil veranistas que nela passavam suas temporadas. Pesava também o no rol de argumentos a escolha de Itapoá por muitos e influentes políticos paranaenses a exemplo de Maurício Fruet, pai do atual prefeito de Curitiba Gustavo Fruet e o senador Leite Chaves. Levantavam também a hipótese de que geograficamente era mais aceitável integrar o território paranaense , pois estavam próximos da sua capital. Dentro do quadro em que se encontravam não se intimidavam em defender a “transferência” para o paraná, crentes de que isto acarretaria vantagens, pois eram notórias as dificuldades no setor se abastecimento, bem como de serviços médicos e transporte coletivo regular. Faziam parte da comissão que buscava autonomia para o distrito os senhores Ademar Ribas do Valle, Francisco Neres do Rosário, Ivo Alcides Cezarotto, Newton José Speck e tantos outros, cuja lista detalhada se encontra no livro Memórias Históricas de Itapoá e Garuva.
Conclusão. A inesperada decisão do então governador em negar a criação do município obrigou a realização de uma segunda consulta popular, a qual confirmou o resultado expresso da primeira, levando o novo governador Casildo Maldaner a sancionar a Lei 7586 concedendo autonomia para Itapoá em 26 de abril de 1989. O propalado e inédito desmembramento ventilado em 1988 não se efetivou, todavia um outro fato inusitado concretizou-se em 2012 quando da reinauguração da atual SC 416 – Serrinha – a qual recebeu a denominação de Rodovia Pedro Ivo Campos, ou seja, do mandatário que vetou o surgimento do município de Itapoá. Vale lembrar, nesse particular o pronunciamento do então vereador Izaque Goes em 26 de novembro de 2012: “Pela vontade do Governador Pedro Ivo, Itapoá não merecia ser emancipada, e deveria permanecer como distrito de Garuva. Não teve nenhuma consideração pela árdua luta desse povo e pela vontade soberana da nossa gente, manifestada nas urnas, obrigando-as a adiar aquele sonho. Só por esse gosto, a homenagem feita agora pelo Senador Luiz Henrique, já seria injusta e imerecida. E eu espero que haja bom senso e o equívoco seja corrigido”. Portanto nada mais justo que a valorização das pessoas que as custas de pás e picaretas , vencendo malárias e as intempéries, com recursos próprios estabeleceram uma comunicação terrestre regular de Itapoá com as demais localidades retirando-a do anonimato.
Entre uma viagem e outra ainda sem despor não aprenderem o que são esfazer as malas fomos recebidos no gabinete sas leis, isso lá no berço, se fossem de Patrício Junior, em um longo e descontraído tratados na infância talvez não sebate-papo, entre um cafezinho e outro, aproxiriam da forma como estão sendo mamos um pouco Patrício deixando um pouco hoje. Passo isso para meus filhos. de lado a presidência do Porto Itapoá. Com muiTudo eles podem, mas tem coisas tos exemplos de vida e dedicação passeamos que não devem fazer, e já falo!! Se sobre temas e tópicos inusitados e, sempre grierrar vai pagar pelo erro. fado por ele (escreva tudo que quiser escrever). Na linha de frente de um dos maiores porPra você então, tudo tem retos do Sul do Brasil em Itapoa-SC, com bandeira gra? levantada rumo ao sucesso orgulhoso por conClaro! As regras existem para quistas e sempre arrastando discípulos da orserem cumpridas, as leis existem dem e do bom caráter, reto e objetivo, Patrício para serem obedecidas, eu não não economizou em suas palavras. faço as leis, mas estão feitas, se Botafoguense de coração, apaixonado por a regra diz que a vaga do diretor é cachorro, caseiro e amante da ainda pacata Itado diretor, então a vaga é do diretor poá, mostrou com olhar a beleza de nossa terra, e ponto final! – Mas também faço relaxou em sua cadeira quando o assunto em Patrício Jr. recebe Comenda Especial da valer as leis. questão foi o Botafogo. “Categórico”! - Quer se Assembléia Legislativa de Santa Catarina. dar bem comigo? Tem que torcer Na casa? Como são as leis? para o Botafogo e gostar de caEm casa eu só cumpro as leis! Sou totalmenchorro – um tanto descontraído, te dependente, não sei trocar uma lâmpada, apesar do time não estar atrainmas sei pedir pra alguém fazer! Adoro ficar em do muito torcedores. casa com minha esposa e minha cachorrinha. Mesmo assim, “Salve-Salve” como é conhecido por um dos Quando pergunto: E a participação femininossos amigos, Patrício soltou o na? verbo quando questionei sobre o Mulher é a melhor coisa que Deus já fez, Líder e o Diretor. mulher é tudo de bom, se eu pudesse teria so– Tive um passado difícil, mente mulheres trabalhando comigo, mulheres uma infância pobre. Lutei por ouvem melhor, sabem tratar as pessoas, amocada degrau que subi, sem pisar rosas, carinhosas, caprichosas, cumpridoras de em ninguém, meu caráter foi traleis, sempre sorrindo. tado desde a infância, cresci sabendo a diferença do certo e do Você é um cristão? errado, pois quando errava era Sim... vou à missa todo Domingo, rezo, prescorrigido pelo erro. (e não morri to atenção, tento obedecer, “tento, não estou por ter sido corrigido). Uma únidizendo que obedeço “. A Igreja é a base da faPatrício Jr. e sua esposa na ca vez que ultrapassei o limite mília, faz parte dos parâmetros de um vencedor. 1ª Corrida de Rua do Porto Itapoá. de um erro paguei caro por isso – dói só de lembrar, mas nunca mais cometi o mesmo erro. Para liderar tive que O que você sonha para Itapoá. ser corrigido, e pra estar perto de mim tem que Itapoá é uma cidade linda! Penaceitar a correção, aprendemos com a correção. so que será cada vez melhor, temos
Patrício recebe a cidadania jordaniana do Rei Abdullah, quando foi presidente do Porto de Aqaba, na Jordânia.
Patrício e sua esposa, Sônia, prontos para o Arraiá do Mustafá 2013.
Você concorda que hoje nossas crianças correm risco de não serem grandes lideres por terem um relaxamento tanto nas salas de aula quanto em casa? Sem duvida! Hoje os pais não podem mais corrigir, os pais não tem mais parâmetros para correção, vemos adultos que desafiam as leis
um verde lindo, mas penso que ainda vamos ter praças, hospitais, lugares para levar as crianças, mas amo aqui! E acredito que em breve vamos ter uma estrutura melhor. Não falo mal da cidade, estou aqui há três anos e meio, as coisas estão melhorando, estamos longe das necessidades básicas, mas vem, com o tempo vem... é inevitável pois Itapoa tem uma oportunidade única, é uma cidade portuária, turística com verde fantástico, e tudo que a gente puder fazer vamos fazer.
E foi assim, o papo rolou por um longo período, toda equipe se divertiu e aprendeu, e claro estivemos abertos, falamos de mitos, historias e fatos da vida de um homem sério, dedicado e apaixonado e aberto a atender todos em seu aconchegante gabinete!