Ensino, Arquitetura e Gênero

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Ensino, Arquitetura e Gênero

INICIATIVAS DE DISCUSSÃO DO TEMA JULIA JABUR ZEMELLA

[AES]

Arquitetura, Educação e Sociedade


“Jovens, diria que […] vocês nunca realizaram um descobrimento de certa importância. Nunca fizeram tremer um império ou conduziram um exército à batalha. As obras de Shakespeare não são suas […] Que desculpa vocês têm? Vocês podem muito bem dizer, apontando para as ruas e praças e para as selvas do mundo infestadas de habitantes negros e brancos e de cor de café […] que estivemos fazendo outro trabalho. Sem ele, esses mares não seriam navegados e essas terras férteis seriam um deserto. Temos erguido e criado e ensinado, talvez até a idade de seis ou sete, aos mil seiscentos e vinte e três milhões de seres humanos que, de acordo com as estatísticas, existem, algo que mesmo quando algumas tenham tido ajuda, requer tempo” (Woolf, 1929, p. 112).

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Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada corretamente a fonte.

AGRADECIMENTOS

JULIA JABUR ZEMELLA (email do juliazemella@gmail.com)

à minha mãe, primeira arquiteta-super-mulher que eu conheci; às mulheres da minha família, que me ensinaram sobre o poder feminino; ao Daniel, quem coloca meus pés no chão; à Marie Lartigue, Gabriela Ventapane e Georgia Lobo, grandes amigasarquitetas ; à Gabriela Godinho; à Griselda Flesler; à Cristiane Muniz e Maira Rios. MUITO OBRIGADA Ensino, Arquitetura e Gênero Julia Jabur Zemella Orientadoras Cristiane Muniz e Maira Rios São Paulo, dezembro de 2017 00p. Monografia apresentada ao curso de Pós Graduação Lato Sensu, “Arquitetura, Educação e Sociedade”, da Escola da Cidade 1. Educação 2.Sociedade 3. Arquitetura. 04

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RESUMO O presente trabalho visa adentrar a temática sobre arquitetura, gênero e ensino a partir de itens que possam aclarar a discussão e entender a partir de quais ferramentas isso vem sido feito. A compreensão da história da arquitetura a partir das mulheres que a fizeram, tanto na Europa e Estados Unidos quanto na América Latina, nos permite compreender de que forma a contribuição das mulheres se deu ao longo dos anos, acompanhando a sua posição com o passar do tempo e nas lutas por representatividade. Acredita-se que essa releitura histórica possa criar rebatimentos na exploração da temática nas faculdades de arquitetura -carreira que vem sendo cursada majoritariamente por mulheres. Um dos rebatimentos se refere à uma compreensão de que a história também tem a ver com quem a conta, ou seja, não é neutra, outra resposta a isso é uma identificação dessas estudantes e abertura de espaço para que tenham condição de participar em posição de igualdade no meio acadêmico. Outro rebatimento tem a ver com o entendimento de que uma nova forma de gerar o conhecimento é instaurada a partir do momento em que mulheres começam a participar do meio científico. Uma nova relação entre teoria e prática é instaurada já que o sujeito passa a afirmar suas particularidades sobre o conhecimento. Além disso, a reflexão a respeito da genialidade dos autores únicos é estabelecida, já que se percebe que a participação no meio profissional sempre parte de uma cooperação, algumas vezes pouco divulgada como assim sendo. Como catalizadora de todas essas ideias, a Catedra de Diseño y Estudios de Arquitectura foi uma matéria criada por Griselda Flesler na FADU, que busca abarcar toda a discussão de gênero, incluindo ainda outras temáticas e discussões além das percorridas. Defende que o estudo desse assunto não deve se restringir só às mulheres, busca desconstruir a maneira com que é pensado o projeto, levando em consideração questões desse âmbito social e ao mesmo tempo colocando em prática através de seu método pedagógico a própria inclusão. Palavras-chave: Ensino, Arquitetura, Gênero, Sociedade, Feminismo, Star system, história da arquitetura. 06

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ABSTRACT

The present work aims to enter the thematic of architecture, gender and teaching from items that can clarify the discussion and understand from which tools this has been done until today. The understanding of the history of architecture from the women who have made it, both in Europe and the United States as in Latin America, allows us to understand how the contribution of women has taken place over the years, accompanying its position in time and in struggles for representativeness. It is believed that this historical reading can create refutations in the exploration of the subject in the faculties of architecture - a career that is being studied mostly by women. One of the refutations refers to an understanding that the story also has to do with who tells, i.e. is not neutral, another answer to this is an identification of these students and opening of space so that they are able to participate in position of equality in the academic world. Another rebate has to do with the understanding that a new way of generating knowledge is established from the moment when women begin to participate in the scientific environment. A new relationship between theory and practice is established since the subject starts to affirm their particularities about knowledge. In addition, the reflection on the genius of single authors is established, since it is perceived that participation in the professional environment is always part of a cooperation, sometimes not well publicized as such. As a catalyst for all these ideas, the Chair of Design and Studies of Architecture was a subject created by Griselda Flesler at FADU, which seeks to cover all gender discussions, including other topics and discussions beyond those covered. She argues that the study of this subject should not only be restricted to women, it seeks to deconstruct the way in which the project is conceived, taking into account issues of this social scope and at the same time putting into practice through its pedagogical method its own inclusion. Palavras-chave: Education, Architecture, Gender, Society, Feminism, Star system, Architecture history.

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01 OBJETIVO

02 INTRODUÇÃO

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PANORAMA DA QUESTÃO DE GÊNERO NA

HISTÓRIA DA ARQUITETURA

3.1 Panorama histórico geral

3.2 Panorama histórico no Brasil/ América Latina

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REFLEXÕES ACERCA DE ENSINO E HISTÓRIA

4.1 A importância de construir novos referenciais históricos

4.2 A atuação profissional e o star system

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CÁTEDRA DE DISEÑO Y ESTUDIOS DE ARQUITECTURA

5.1 Formatação do curso e corpo docente

5.2 Objetivos

5.3 Conteúdos

5.4 Desenvolvimento

5.5 Bibliografia

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CONSIDERAÇÕES FINAIS 11


OBJETIVO O presente trabalho visa estudar os desdobramentos possíveis da temática de gênero nas faculdades de arquitetura. Como forma de análise, buscou-se levantar algumas maneiras nas quais o assunto permeia as disciplinas que compõe a grade curricular tradicional destas. Para isso serão analisados manifestos selecionados. Além disso, visa compreender o funcionamento de um curso dedicado exclusivamente à questão. Através da compreensão dessas duas lógicas pedagógicas, busca-se demonstrar que a questão estudada impulsiona um entendimento revelador da realidade, e cria ferramentas para criação de novas ideias na área de arquitetura.

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INTRODUÇÃO Propor um estudo da questão de gênero no meio da arquitetura implica reforçar a importância da sociologia nesse campo e refazer a ótica de análises teóricas e históricas que o compõe. A compreensão sociológica se vê cada vez mais necessária para uma interpretação real dos problemas que devem ser respondidos pelos arquitetos. Isso porque a atividade do profissional deve obedecer a demandas inevitáveis que acompanham e se moldam a partir dessa. Porém, há algum tempo, essas necessidades têm sido na maioria das vezes, marginalizadas nesse campo profissional e isso se deve ao fato de sua teoria ter sido embasada muitas vezes em questões ligadas à técnica e a função. Somado isso, entendemos que a concepção da sociedade, cultura e modos de produção se deu, originalmente, através de uma generalização da composição social, “neutralizada” e traduzida a partir de uma ótica masculina. Esse cenário começou a ser modificado a partir desse século, quando as mulheres adquiriram direitos nas áreas de educação, cidadania e mercado de trabalho. Nesse caso, segundo Maria Novas em seu texto Arquitectura y Género: “Los estudios de género en relación con la arquitectura, cada vez 14

más presentes, representan fórmulas de análisis social, cultural y espa15


cial, que no nos podemos permitir obviar por más tiempo si lo que pre-

1. “Os estudos de gênero

tendemos es avanzar hacia la consecución de una sociedad más justa.”

em relação à arquitetura,

(NOVAS, 2014)¹

cada vez mais presentes,

Há algumas décadas muitos estudos acerca da temática de gêne-

representam fórmulas de

ro foram elaborados no âmbito da arquitetura, porém esta perspec-

Partindo desse ponto, a inserção desse estudo em meio acadêmico

análises sociais, culturais e

tiva foi transmitida de maneira insuficiente na questão do ensino,

permitiria não só uma modificação na maneira em que é discutido

espaciais que não podemos

na prática projetual, e nos relatos históricos em âmbito acadêmico.

o conteúdo teórico, histórico e a maneira de projetar a arquitetura,

permitir que sejam mais

Defender essa posição dentro da matriz curricular que compõe tal

mas também teria rebatimentos em termos de ensino.

apresentadas como eviden-

ensino profissionalizante é também partir do princípio que os alu-

Isso por conta de uma associação que ocorre, entre o discurso

tes por mais tempo se o

nos ingressantes possuem necessidades distintas. São os mesmos que

professoral e o universo que compõe esse mesmo profissional, como

que pretendemos é avançar

compõe o mesmo cenário heterogêneo social que é fruto de análise.

indivíduo, segundo Ana Gabriela Godinho em seu texto Ensino de

em direção a uma socieda-

Tendo essas e outras questão em vista, Griselda Flesler criou den-

Arquitetura e Urbanismo:

de mais justa.”

fessoras e professores. ” (GODINHO, 2013)

tro da Facultad de Arquitectura, Diseño y Urbanismo da Universidad de Buenos Aires, a Cátedra de Diseño y Estudios de Género. A

“A prática arquitetural é evocada por meio do discurso professoral,

matéria tem como objetivo refletir sobre como as questões de gênero

e, portanto, uma construção abstrata e representada, transmitida e

têm impacto sobre os processos de desenho, uso e leituras do objeto

elaborada em sala de aula por meio dos discursos construídos por pro-

e nos espaços sociais.

Imagem 01 (página ao lado) - Denise Scott Brown

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PANORAMA HISTÓRICO GERAL Em 1792 Mary Wollstonecraft publicou Uma Reivindicação pelos Direitos das Mulheres (A Vindication of the Rights of Woman: with Strictures on Political and Moral Subjects) uma das primeiras obras de filosofia feministas. Nela, a autora defendia que as mulheres deveriam ter acesso à uma “educação racional” para que assim tivessem a oportunidade de contribuir com a sociedade. O termo “racional” era colocado aí como resposta aos políticos, filósofos, teóricos da educação, além da sociedade em geral pertencente à época que pensavam que as mulheres eram frágeis e muito suscetíveis à sensibilidade, portanto incapazes de pensar racionalmente. A primeira onda do feminismo ocorreu durante o século XIX e início do século XX em todo o mundo, em particular em países como França, Reino Unido, Canadá, Países Baixos e Estados Unidos. Tinha como principal objetivo a conquista de direitos jurídicos, civis e políticos para as mulheres, dentre eles aquele que permitia um maior acesso à educação. 18

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Os avanços propiciados pela primeira onda feminista, permitiram que a partir do século XIX, em alguns países, as mulheres ingressassem no mercado de trabalho como arquitetas e projetistas de interiores. No entanto, como afirma María Novas: “(...) cabe señalar que pocas mujeres hicieron de la arquitectura su profesión, y por norma general las que tal cosa osaron, o fueron relegadas a un segundo plano eclipsadas por los reconocidos nombres de sus compañeros o mentores, o concentraron su labor en tareas consideradas más propiamente femeninas por su vinculación al mundo doméstico, tal como el diseño de interiores o de mobiliario.” ² (NOVAS, 2014) A partir do século XIX e XX, despontam os primeiros nomes de arquitetas formadas em universidades europeias. Estas foram as profissionais Signe Hornborg (1862-1916) e Hilda Hongell (18671952), que se graduaram respectivamente no Instituto Politécnico de Helsinki e na Helsinki Industrial School, na Finlândia. Pratica-

Imagem 02 - Woman’s Buil-

vimento Moderno. Partindo da Constituição de Weimar, a escola

mente contemporâneas a essas, foram as irmãs Margaret e Frances

ding (1892 : Chicago, Ill.).

se manifestava como respeitosa em relação liberdade ilimitada de aprendizagem às mulheres, no entanto recomendava que as mulhe-

MacDonald (1864-1933 e 1873-1921 respectivamente) ambas com formação na Glasgow School of Arts, na Escócia. (NOVAS, 2014)

res não optassem pelos ateliers de arquitetura e design.

2. “Cabe sinalizar que pou-

Foram poucas as estudantes que contrariavam essas deter-

Nos Estados Unidos, a titulação da primeira mulher arquiteta,

cas mulheres fizeram da

Louise Blanchard Bethune (1856-1913), ocorre a partir de 1880 pela

arquitetura a sua profissão

minações e ganhavam destaque em atuações que eram consideradas

Cornell University. Louise foi membrao da American Institute of Ar-

e por norma geral, aquelas

responsabilidade masculina, uma delas foi Marianne Brandt, que as-

chitects em 1888, assumindo também um cargo de precursora dessa

que ousaram tal coisa, fo-

sumiu frente no atelier de metalurgia. Segundo Alexxa Gotthardt, no

representatividade. (NOVAS, 2014)

ram relegadas a um segun-

artigo The Woman of the Bauhaus School:

Importante destacar a atuação de Sophia Hayden Bennet (1868

do plano eclipsadas pelos

– 1953), primeira mulher a ser aceita no MIT (Instituto de Tecnolo-

nomes reconhecidos dos

3. “Walter Gropius enco-

“Walter Gropius encouraged this distinction through his vocal belief

gía de Massachusetts) e que foi responsável pelo projeto do Woman’s

seus companheiros ou men-

rajava a distinção através

that men thought in three dimensions, while women could only handle

Building para a Exposição Universal de Chicago em 1893. O projeto

tores, ou concentraram seu

da sua crença oral que o

two.” ³(GOTTHARDT, 2017)

foi marcado por um embate constante, registrado historicamente,

trabalho em tarefas con-

homem pensava em três di-

contra a arquiteta pelo comitê de construção, que resultou em sua

sideradas

mensões e a mulher só con-

retirada do meio profissional. (NOVAS, 2014)

seu vínculo com o mundo

femininas

pelo

seguiria lidar com duas.”

Assim, apesar de irradiar modernidade, a escola acabou por criar barreiras de acesso para as mulheres à seção de arquitetura, canali-

No começo do século XX, surge a Escola de Artes aplica-

doméstico, tal como o de-

zando suas inquietudes, na maioria dos casos, em direção ao ateliê

das progressistas alemã Bauhaus, modificando a maneira de pensar

senho de interiores ou de

têxtil, por exemplo. Gunta Stölz (1897-1983) foi responsável do mes-

e praticar o design/ arquitetura e dando início ao que seria o Mo-

mobiliário.”

mo, a primeira e única professora mulher no corpo docente da esco-

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la. Além dela, outros nomes como Annie Albers (1899-1994), assim 4. Como mulher, Eileen Gray se negou a utilizar as redes de apoio das quais seus contemporâneos masculinos

se

beneficiaram.

Também não possuía a vantagem de trabalhar com um mentor reconhecido, nem compartilhava de uma trajetória com outros projetistas, seja mediante o estudo nas mesmas escolas como Bauhaus, na Alemanha ou como aprendiz em um estúdio como Le Corbusier, em Paris. Pelo contrário, tanto seu

entorno

privilegiado,

como seu gênero a deixaram isolada.

como Otti Berger (1898-1944) são citados como representativos no meio da arte têxtil. A primeira mulher que conseguiu estudar no atelier de arquitetura na Bauhaus foi Lotte Stam Beese (1903-1998), depois de se formar, chegou a exercer a profissão por contra própria, se dedicando a posteriori, em Amsterdam, ao ensino na Academy of Architecture and Urban Planning. Além dela, a arquiteta Wera Meyer- Waldeck (1906 – 1964) ingressou no curso de arquitetura ao mesmo tempo em que participava do atelier de marcenaria, foi bastante comprometida com as questões de gênero, isso por conta das numerosas instituições e associações nas quais participou, além de artigos escritos para revistas especializadas. (NOVAS, 1978) Com a ascensão de regimes totalitários a Bauhaus teve o seu fim, porém suas ideias se expandiram mundialmente através do Estilo Internacional, inaugurado oficialmente em 1932 com a exposição de mesmo nome que ocorreu no MOMA. As representantes mais conhecidas desse momento na história da arquitetura são as francesas Eileen Gray (1978-1976) e Charlotte Perriand (1903-1999). Estas, são colocadas como modelos do que foi o movimento moderno europeu. Sobre Eileen Gray e sua formação, Florencia Marciani escreve no site Un dia, Una Arquitecta: “Como mujer, a Eileen Gray se le negó el acceso a las redes de apoyo de la que sus contemporáneos masculinos se beneficiaron. Tampoco tenía la ventaja de trabajar con un reconocido mentor, ni compartía una trayectoria con otros diseñadores, ya sea mediante el estudio en las mismas escuelas como la Bauhaus en Alemania, o como aprendiz en un estudio como Le Corbusier en París. Por lo contrario, tanto su entorno privilegiado, como su género, la dejaron aislada.” 4 (MARCIANI, 2015)

Imagem 03 - Annie Albers

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A arquiteta irlandesa projetou e construiu em 1926-1929 a casa E.1027, ao sul da França e Tempe à Pailla (1932-1934) um espaço de 23


Imagem 04 - Charlotte Ida Anna Beese. Imagem 05 (pรกgina ao lado) - Mobiliรกrio para loja de tapetes, Wera Meyer Waldeck, 1950.

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uso misto, onde seria possível viver e trabalhar em Castella. Essas são consideradas obras de extrema qualidade arquitetônica, pois são fruto de resoluções que levam em consideração o conjunto integral dos

Imagem 06 - Poltrona, desenhada e feita por Eileen Gray, antes de 1929.

aspectos arquitetônicos ali existentes, desde o interior até o exterior. A trajetória de Charlotte Perriand foi marcada por uma grande transformação profissional. Iniciou sua carreira através do ingresso na Ecole de L’Union Centrale des Arts Decoratifs, e após completar o curso de 4 anos, frequentou aulas nas grandes lojas de departamento francesas, que ofereciam atividades mais práticas do que a escola e a colocavam em contato com questões ligadas à produção em massa industrial. Em 1926, Charlotte apresentou sua obra Coin de Salon, um projeto de interiores de um ambiente completo no Salão Anual da Societé des Artistes Decorateurs de Paris. Desde esse momento, já se notava que a arquiteta buscava aproximar-se dos trabalhos mais vanguardistas modernos. (RUBINO, 2010) A partir daí a arquiteta se transformou na personificação da mulher moderna, tanto fisicamente como em suas questões profissionais. Depois de uma tentativa aparentemente frustrada de traba-

Imagem 07 - Chaise Longue, desenhada por Le Corbusier, Pierre Janneret e Charlotte Perriand.

lhar no ateliê de Le Corbusier, que a rejeitou dizendo que ali não se bordavam almofadas, a arquiteta participou de uma exposição em Weisennhof Siedlungen de Stuttgart, a qual fez com que o arquiteto reconsiderasse sua visita e a convidasse para desenvolver o desenho de mobiliário que ele preconizava desde o pavilhão Esprit Nouveau de 1925. (RUBINO, 2010) Sendo sócia de Le Corbusier, Perriand colaborou com numerosos projetos de arquitetura, desenhou equipamentos para moradias como as vilas La Roche-Jeanneret, igreja em Ville-d’Avray, Stein-de Monzie e a Villa Savoye, além disso trabalhou junto a ele na definição do que seria o cellule minimum (1929): conceito que atribuiu a necessidade biológica de 14m² de área por habitante e aumentou as combinações possíveis na criação de apartamentos para famílias diversas. As colaborações de Perriand se multiplicaram em toda a sua vida, fazendo parcerias com outros arquitetos Jean Prouvé, Lucio Costa, Niemeyer, Candilis, Josic & Woods. 26

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Na primeira metade do século XX, o ensaio O Segundo Sexo de Simone de Beauvoir foi publicado e deu início a compreensão do conceito da palavra gênero. Essa obra filosófica foi um dos pilares sobre os quais se desenrolaria o que foi chamada de segunda onda feminista e é referência para a compreensão do movimento até a atualidade. Partindo da seguinte frase: “Não se nasce mulher, torna-se mulher”, a autora coloca em questão o “eterno feminino” que é visto como algo intrínseco à mulher pela sociedade. Assim, questiona o que é ser mulher, e junto com isso, coloca em cheque as teorias biológicas que se viam arraigadas no Ocidente desde a cultura clássica e que contribuíam para uma desigualdade entre os sexos. Através desse ensaio uma separação dos conceitos de sexo e gênero começa a tomar forma. Segundo Maria Novas, em Arquitectura y Genero:

Imagem 08 - Ray Eames e seus estudos em pintura expressionista.

Imagem 09 - Poltrona e apoio de pés desenhado por Ray e Charles Eames.

5. O desenvolvimento dos conceitos do binômio gênero/sexo constituiu uma revolução sem precedentes desde a primeira metade do século XX no pensamento ocidental: Enquanto o sexo vem determinado pelas diferenças biológicas entre seres humanos, o gênero é uma construção cultural e, portanto, sua desconstrução é possível.

tuido una revolución sin precedentes desde la primera mitad del siglo XX en el pensamiento occidental: mientras que el sexo viene determinado por las diferencias biológicas entre seres humanos, el género es un constructo cultural y, por lo tanto, su deconstrucción es posible.”5 (NOVAS, 2014) A segunda onda do feminismo, na década de 60, iniciada nos Estados Unidos e espalhada por todo o mundo, foi marcada por uma uma crise de representatividade que gerou uma crítica feminista na qual os valores culturais intrínsecos na produção e transmissão do saber são colocados em cheque. Dessa maneira, dá início a uma contestação da universalidade do conhecimento. Assim, a partir da segunda metade do século XX, na arquitetura, se inicia uma busca por novas formas expressivas, marcando o fim do Estilo Internacional. Ray Eames (1912-1988) poderia ser citada como uma das arquitetas ilustrativas desse momento. Fundadora do

“El desarrollo de los conceptos del binomio género/sexo ha consti28

Eames Office, junto ao seu sócio Charles Eames, juntos revoluciona29


Imagem 00 - para legendas

Imagem 10 - City Tower, desenhada por Louis Kahn e Anne Tyng, Philadelphia (1952–1957).

Imagem 11 - Anne Griswold Tyng

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Imagem 12 - Jane Jacobs protestando contra um plano para afastar crianças afro-americanas da escola pública local em 1964.

Imagem 13 - Alison Smithson no local de trabalho (1949–c.1956).

ram o uso de materiais e formas, se destacando pelo uso das cores em seus projetos. Além desta, Anne Tyng (1920-2011), que junto à Louis Khan colaborou para a evolução do movimento moderno a situação pós-moderna, foi professora especializada em morfologia na Universidade da Pensilvânia. (NOVAS, 2014) Outras arquitetas como Alison Smithson (1928-1993) ou Jane Jacobs (1926-2006) marcam o surgimento do New Brutalism, buscando uma superação teórica do racionalismo que caracterizava o Estilo Internacional. Alison Smithson, junto à Peter Smithsom criaram o Team X através de sua intenção de transformar os aspectos teóricos presentes na Carta de Atenas. Jane Jacobs, através de um ponto de vista voltado para a sociologia, criticou o funcionalismo voltado ao pensamento urbano. (NOVAS, 1978) Em 1963 foi criada, em Paris, a Union Internacional des Femmes Architectes (UIFA) ante a não aceitação de mulheres na Internacional Association of Architects. Sua fundadora foi Sange d’Herbez de la Tour (1924), e tinha como principal objetivo a promoção da con-

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tribuição das mulheres arquitetas do mundo. (NOVAS, 2014) A arquiteta, urbanista, escritora e teórica Denise Scott Brow

Imagem 14 - Denise Scott Brown em Las Vegas.

de Denise por um reconhecimento justo de sua atuação:

(1931) também pode ser posicionada nesse momento histórico em

“A nota de Robert Venturi sobre a atribuição de autoria na primeira

que há uma transição entre racionalismo e pós-modernidade. Sua

edição, com seu pedido de justiça para seus coautores e co-trabalhado-

atuação, em conjunto com Robert Venturi, abrange uma experiência

res , foi praticamente ignorada por quase todos os resenhistas. A má-

interdisciplinar que mescla sua atuação acadêmica à prática em seu

goa pessoal diante do tratamento desdenhoso de minha contribuição

estúdio de arquitetura Venturi, Scott Brown and Associates.

e das atribuições em geral feitas por arquitetos e jornalistas levou-me

Assim sua trajetória é marcada pela grande variedade de projetos

a analisar a estrutura social da profissão, dominada por homens de

urbanos como por exemplo os planos para a University of Pennsyl-

classe alta, e a ênfase que seus membros põem no estrelismo da profis-

vania, Universidade de Michigan, Faculdade Bryn Mawr e Williams

são. O resultado é um artigo intitulado “Sexism and the Star System

em Dartmouth, Instituto Radcliffe de estudos avançados na Har-

in Architecture” (Sexismo e o estrelismo em arquitetura). (SCOTT

vard, University assim como o desenvolvimento de anteprojetos e

BROWN, 1977)

desenhos conceituais para edifícios que estavam contidos em tais planos. E além disso, sua atuação como docente nas universidades

O artigo “Sexism and the Star System in Architecture”, que será

de Pennsylvania, Harvard, UCLA, UC Berkeley y Yale, promoven-

citado nos capítulos seguintes, sinaliza a urgência que a discussão

do estudos como Aprendendo com Las Vegas (1972; edição revisada

do tema ganhou a partir desse momento e que perduram, como a

1977, Robert Venturi e Steven Izenour).

própria autora escreve até a atualidade.

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Nesse estudo é possível notar no prefácio da edição revisada a luta

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PANORAMA HISTÓRICO BRASIL/AMÉRICA LATINA O levantamento de dados históricos acerca da atuação das mulheres arquitetas na América Latina é uma ação recente, se comparada com o cenário europeu e norte-americano onde tais estudos acadêmicos já existiam desde 1970. Segundo Ana Gabriela Godinho em Arquitetas e Arquiteturas na América Latina do século XXI: “Na arquitetura, as pesquisas americanas e europeias começaram por identificar em que momento as mulheres adentraram o campo, quais as oportunidades de treinamento e formação que possuíam, quais dificuldades encontraram e, principalmente, de que forma contribuíram para modificar os caminhos da arquitetura. Na América Latina, os primeiros esforços no sentido de se conhecer as formas pelas quais as mulheres passaram a participar da profissão, que oportunidades encontraram para se formar e praticar, e, até que ponto influenciaram nos caminhos da arquitetura nesta região do mundo, estão sendo empreendidos agora. ” (GODINHO, 2013) 36

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gens de que eram alvo por conta das leis e dos costumes brasileiros. Da É de grande importância compreender o cenário internacional

mesma forma a atividade social das argentinas no campo da educação,

para que seja possível ampliar o conhecimento acerca do continente

filantropia e na busca por direitos iguais também é conhecida e está

latino, porém se faz necessário sempre ter em mente que não se pode

documentada. ” (GODINHO, 2013)

criar equivalências históricas tão diretas. Segundo Marina Waisman devemos levar em consideração que a divisão dos critérios estilísti-

Como retrato da atuação em meio ao campo teórico, Marina

cos arquitetônicos europeus em períodos não se aplica à América

Waisman (Buenos Aires, 1920 – Río Cuarto, 1997) foi nomeada

Latina, e que por isso e outras razões é importante que exista um

como a mais transcendente crítica de arquitetura da América Lati-

esforço de reformulação dos instrumentos de compreensão histórica

na. A arquiteta se formou pela Universidade Nacional de Córdoba

da arquitetura nos países latinos para que esta seja feita de maneira

(Argentina) em 1945, e segundo ela mesma, em seu texto La mujer

crítica.

en la Arquitectura, teria sido a terceira a ingressar na faculdade de

É possível identificar a partir da história das arquitetas em âm-

arquitetura na Argentina.

bito europeu e americano que foi através da escrita sobre a arqui-

Nesse mesmo artigo, a teórica ressalta que é importante que le-

tetura doméstica que as mulheres passaram a adentrar o panorama

vemos em consideração que o panorama das mulheres nas universi-

da arquitetura nesses locais. Isso foi possível pois a escrita era uma

dades argentinas só mudou a partir de 1956-1957 e que, portanto, a

atividade aceita para as mulheres, já que poderia ser feita em locais privados, além disso era um assunto que deveria ser dominado por estas, pois eram as responsáveis pela administração do lar e além

mulher não foi atuante no desenvolvimento da história da arquitetuImagem 15 - Marina Waisman com César Naselli e Ramón Gutiérrez.

ra, tomando seu lugar em um panorama já totalmente estabelecido.

disso este era um setor profissional que não representava competição direta com o público masculino. Na América Latina, no entanto, esse caminho de acesso ao meio profissional não foi o mesmo. A existência de empregados domésticos de baixo custo, devido às grandes diferenças sociais, fez com que as mulheres que possuíam cultura e educação e tivessem condições de se dedicar à escrita não precisassem se ocupar das atividades voltadas ao lar. A atividade intelectual teórica das arquitetas latino-americanas do século passado se inicia, portanto através das preocupações sociais e culturais. Segundo Ana Gabriela Godinho: “É interessante notar, no entanto, que as questões sociais eram, sim, abordadas pelas mulheres desde o século XIX. A imprensa feminista daquela época, no Brasil, é conhecida, e virou tema de alguns trabalhos acadêmicos desenvolvidos nos Estados Unidos. As mulheres discutiam por estes veículos as imensas desigualdades, injustiças e desvanta38

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Imagem 16 - Livro La Arquitectura Descentrada, de Marina Waisman.

Waisman demonstrou desde o início de sua carreira teórica

através do ativismo, uma preocupação intensa pelo patrimônio inerente das cidades latino-americanas, participou ativamente dos SAL (Seminários de Arquitetura Latino América) que se iniciaram em 1985. Nesses seminários discutia-se o impacto da modernidade no continente, assim como a questão do patrimônio e novas ferramentas de aproximação das problemáticas que regem a arquitetura. Nem todas as atuações sociais e culturais se restringia à teoria, algumas pioneiras, ao contrário do que ocorreu em outros países do mundo se dedicaram a atividades variadas ligadas à profissão. Como exemplo é possível citar as arquitetas Carmen Portinho, Lina Bo Bardi, a chilena Myriam Waisberg, a argentina Olga Wainstein Krasuk. Carmen Portinho é um símbolo de uma atuação variada e intensa pela arquitetura brasileira. Sua atividade profissional se iniciou na década de 1930, transitou pelo projeto arquitetônico, construção civil, crítica de arte, desenho industrial e ainda no campo teórico, tratando sobre habitação social. O aparente incentivo pelo governo

Imagem 17 - Livro La Estructura Histórica del Entorno, de Marina Waisman.

à discussão desse tema, fez com que a arquitetura moderna pudesse ser aplicada nessas construções. Em 1945 Carmen Portinho viajou por toda Inglaterra e França, onde se encontrou com Le Corbusier. A partir da vivência de uma Inglaterra que passava por um período de reconstrução, a arquiteta trouxe em sua bagagem o conceito de unidade de vizinhança. Compartilhou esse e outros conhecimentos obtidos com seus colegas de Prefeitura do Distrito Federal como Affonso Reidy, Oscar Niemeyer, Jorge Moreira, Lucio Costa e através da Revista de Diretoria de Engenharia dirigida por ela, chamada PDF. Além disso, assumiu a construção do MAM – RJ, atuou na obra do Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro e do Conjunto Habitacional do Pedregulho. Fundou a União Universitária Feminina, ajudou a fundar Associação Brasileira de Arquitetas e Engenheiras.

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Imagem 18 - Carmen Portinho na obra do MAM Rio de Janeiro. Imagem 19 - (página ao lado) - MAM RJ em construção.

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Imagem 20 - Capa da Revista Habitat, edição n° 8, com o projeto de Lina Bo Bardi para o Museu de São Paulo.

Lina Bo Bardi pode ser também citada como uma arquiteta que atuou em áreas diversas da arquitetura, virando uma referência obrigatória nos meios artísticos e arquitetônicos da América Latina. A arquiteta italiana se formou em seu país de origem e realizou alguns trabalhos aí antes de se mudar para o Brasil. Colaborou junto a Carlo Pagani no estúdio Bo e Pagani, e Gio Ponti na revista “Lo Stile – nella casa e nell’arrendamento” além de outras revistas como Grazia, Belleza, Vetrina e L’illustrazionoe Italiana. Fundou em 1946 a revista “A – Cultura della Vita” com Bruno Zevi. Em 1951, Lina se naturalizou brasileira, mesmo ano em que completou o seu primeiro projeto arquitetônico no país, a Casa de Vidro. Segundo Silvana Rubino em seu texto “Corpos, cadeiras e colares: Charlotte Perriand e Lina Bo Bardi” a Casa de Vidro não foi muito bem recebida pelos críticos italianos por conta da existência de um aposento de empregados, estes diziam que a arquiteta incorporava um dos problemas insuperáveis do Brasil. A casa é um exemplo de morada e além disso um passe de entrada para o campo da arquitetura moderna brasileira, resumindo a máquina de morar. Assim, as imagens que se referem à obra demonstram uma mulher moderna que foge do padrão iconográfico da época. 44

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Imagem 21 - Lina Bo Bardi manejando mesa projetada para Casa de Vidro

“Mas foi pouco depois, em uma Enciclopédia da mulher, na qual ela aparece como autora de um verbete, que essa exposição como mulher moderna que sabe usar os espaços modernos chegou àquele que é talvez, seu ponto máximo. Nesse verbete, uma cozinha americana (mostrando equipamento ainda não conhecido no Brasil) exibida era a de sua casa, jamais usada por serem máquinas muito sofisticadas para os empregados manejarem. Lina era a mulher moderna, mas seu texto pode ser inserido numa linhagem de ensinamentos para donas de casa, como os que ela já escrevia com Carlo Pagani em Milão nos anos 1940, assim como dos manuais da vida doméstica. ” (RUBINO, 2010) Em 1958 a arquiteta vai a Salvador, onde desenvolve o projeto de restauro do Solar do Unhão e sua adaptação para a sede do Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA). Depois disso, elaborou em São Paulo projetos como o MASP, o Sesc Pompeia e o Teatro Oficina, sempre aliada de colaboradores, marcando uma fase em sua carreira em que elaborou projetos que apontavam para uma renovação cultural da arquitetura brasileira, demonstrando também a importância da arte popular.

Além das arquitetas citadas acima, existem inúmeros exem-

plos latino-americanos. A pesquisa acerca desse panorama é recente, até 1999 o acesso a literatura latino-americana era limitado, segundo Gabriela Godinho. Hoje é possível notar que a visibilidade do trabalho das arquitetas já é maior, é possível identificar nas revistas, livros e outras publicações os nomes discriminados dos colaboradores e colaboradoras envolvidos nas obras.

A questão voltada a casa e à utilização de trabalho doméstico

continua sendo uma discussão dentro das escolas de arquitetura. Em julho de 2017, os alunos da UFMG se recusaram a projetar um imóvel de alto padrão com cômodos para empregados (RICCI, 2017). Essa ação demonstra a emergência da temática que abarca não só uma discussão acerca do gênero como também sobre desigualdade de modo geral.

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A IMPORTÂNCIA DE CONSTRUIR NOVO REFERENCIAIS HISTÓRICOS

“Na consideração da existência de uma/várias epistemologia/s feminista/s, valeria então destacarmos, de início, dois pontos: o primeiro aponta para a participação do feminismo na ampla crítica cultural, teórica, epistemológica em curso, ao lado da Psicanálise, da Hermenêutica, da Teoria Crítica Marxista, do Desconstrutivismo e do Pós-modernismo. Esta crítica revela o caráter particular de categorias dominantes, que se apresentam como universais; propõe a crítica da racionalidade burguesa, ocidental, marxista incluso, que não se pensa em sua dimensão sexualizada, enquanto criação masculina, logo excludente. Portanto, denuncia uma racionalidade que opera num campo ensimesmado, isto é, a partir da lógica da identidade e que não dá conta de pensar a diferença. É neste ponto que o feminismo se encontra especialmente com o pensamento pós-moderno, com a crítica do sujeito, com as formulações de Derrida e Foucault, entre outras. [7] O segundo, embutido no primeiro, traz as propostas desta nova forma de conceber a produção do conhecimento, do projeto feminista de ciência alternativa, que se quer potencialmente emancipador. ” (RAGO, 1998) 48

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Partindo dessa reflexão de Margareth Rago, em Epistemologia Fe-

Levando tal epistemologia feminista às questões de ensino e edu-

minista, Gênero e História é possível destacar, então que o ato de

cação, é possível ressaltar a potência que existe em introduzir tal dis-

deslocar a compreensão histórica da arquitetura, retirando está de

cussão em meio acadêmico. Percebe-se que a própria temática per-

uma ótica hegemônica, voltada para um único modelo social vem de

mite o levantamento de questões pedagógicas, referentes à forma de

encontro com os possíveis papéis que o próprio ensino historiográ-

enxergar o conhecimento e o papel do professor e do aluno em meio

fico tende a assumir na atualidade. E essa máxima também serviria

às dinâmicas de ensino.

para outros campos do conhecimento em geral e além do arquitetônico.

Desta forma, podemos dizer que a interdisciplinaridade pode ser identificada como inerente desta epistemologia. Deixando o status

Esse ato traria, portanto, uma quebra nas concepções totaliza-

de verdades absolutas, os segmentos do conhecimento tornam-se

doras e absolutas, que até pouco tempo não eram tidas nem como

naturalmente não retilíneos, mas sim interagentes e dependentes de

impostas. Uma nova forma de enxergar as problemáticas emergiria

outras disciplinas. Há, portanto, uma prática de diálogo entre o ser

então a partir do pensamento ligado ao gênero, criando assuntos

humano e a disciplina.

próprios, assim como sistemas, teorias e formas de contar a história.

Além disso, a própria forma de processar aquilo que se aprende

Surge a partir daí uma dissociação da produção de conhecimento

e como se aprende seria através de um caminho de interações, sem

através de processos racionais e da busca por atingir uma verdade

metodologias pré-concebidas. O caminho se torna algo a ser cons-

pura e universal e uma incorporação da dimensão subjetiva, ligada à

truído a partir da ótica daquele que o traça, permitindo autonomia e

emoção e à intuição.

segurança para a busca de novas ferramentas para compreensão das

Adentrando um mundo científico no qual não participou da cria-

questões que nos rodeiam.

ção, a mulher lutaria então pela adaptação da linguagem pré-existen-

Devemos lembrar que existe, em meio ao ensino de arquitetura,

te masculina, compondo aquela que seria a sua própria. Dessa forma

assim como em outras áreas, uma forte relação entre os professores e

seria criada uma nova relação entre teoria e prática, o sujeito passa a

seus conhecimentos e saberes. Não existem saberes objetivos acerca

afirmar suas particularidades diante do seu objeto de conhecimen-

de temas da área à espera de apropriação e transmissão, esses são

to, postura diferente da do cientista que produzia um conhecimento

construções internas próprias desses profissionais.

neutro, livre de interferências subjetivas. Segundo a filósofa Margareth Rago:

Em sala de aula, o discurso professoral evoca a prática arquitetural de cada aluno. A história ou teoria que é passada nesse ambiente constituirão as referências e formas de enxergar o futuro profissional

“Uma nova ideia da produção do conhecimento: não o cientista

dos estudantes e mesmo que essa troca seja um dos veículos possí-

isolado em seu gabinete, testando seu método acabado na realidade

veis de formação de repertório, ela merece destaque pois deve assu-

empírica, livre das emoções desviantes do contato social, mas um pro-

mir seu papel como incentivadora à busca por conhecimento.

cesso de conheci- mento construído por indivíduos em interação, em

Tendo em vista o corpo de alunos aos quais se destina esse in-

diálogo crítico, contrastando seus diferentes pontos de vista, alterando

centivo, é importante que este seja compreendido também a partir

suas observações, teorias e hipóteses, sem um método pronto. Reafir-

de sua heterogeneidade. Em Pedagogia da Autonomia, Paulo Freire

ma-se a ideia de que o caminho se constrói caminhando e interagindo.

fala sobre a importância de respeitar os conhecimentos prévios dos

” (RAGO, 1998)

alunos, aqueles que já estão incorporados antes mesmo da escola, já

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que estes são sujeitos sociais e históricos. Na arquitetura, esse corpo de alunos se compõe em sua maior parte por mulheres, segundo pesquisa recente do CAU (Conselho de

que o “subalterno”, ou seja, aquele que é subordinado ou inferior ao outro em graduação ou autoridade, deve ter espaço para expressar-se, portanto o intelectual não deve falar em seu nome.

Arquitetura e Urbanismo) 61% dos registros profissionais no Brasil

Dessa forma, é possível defender que os coletivos e iniciativas vi-

são de mulheres e os cursos na área são prioritariamente procura-

gentes dentro das universidades e escolas, tanto em termos de pes-

dos pelo público feminino, fazendo com que cheguem a ocupar 70%

quisa, quanto de ação, ilustram esse espaço que está se abrindo para

do número de alunos em sala de aula (CAU, 2014). No entanto, as

a temática que se vê urgente. É importante que ela possa ganhar força

iniciativas de inserção da temática em meio às faculdades de arqui-

e consistência, para que assim se estabeleça de modo generalizado e

tetura acontecem em sua maior parte como iniciativa dos docentes.

assim, consiga tornar compreensível que o estudo de gênero não se

Nos últimos anos vemos o surgimento dos mais diversos coletivos de arquitetas e estudantes pelas universidades brasileiras e isso acon-

resume à uma questão voltada somente à mulher.

tece também de forma global. Tais iniciativas contribuem para que o assunto possa estar presente no ambiente acadêmico, representam núcleos de interesse que lutam por espaço de fala e discussão em tal ambiente. Alguns exemplos desses coletivos são o Coletivo Zaha, das estudantes de arquitetura do Mackenzie, Coletivo Carmen Portinho das estudantes de arquitetura da Escola da Cidade, Coletivo Arquitetas Invisíveis das alunas de arquitetura da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Brasília. O Coletivo Arquitetas Invisíveis nasceu de uma necessidade das alunas de Brasília em discutir questões de gênero dentro do âmbito acadêmico. A partir de janeiro de 2014 iniciou-se a compilação de informações e dados sobre vida e obra de arquitetas desprestigiadas pela história, no dia 8 de março de 2014 o coletivo foi oficialmente inaugurado através de postagens em sua página do facebook em homenagem ao dia internacional da mulher. As informações coletadas pelo grupo foram difundidas em exposições, palestras, mesas redondas e através de sua página no facebook e site. Em março de 2015 publicaram junto ao site ArchDaily uma compilação de sua pesquisa, através de 48 mulheres arquitetas (ARQUITETAS INVISÍVEIS, 2015). A filósofa Spivack defende no texto “Pode um subalterno falar? ” a importância da compreensão da sociedade a partir de uma composição de sujeitos heterogêneos, e não o contrário. Para isso, defende 52

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Imagem 22, (página ao lado) 23 e 24 - Infográficos desenvolvidos pelo coletivo Arquitetas Invisíveis, disponível para dowload no site.

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A ATUAÇÃO PROFISSIONAL E O STAR SYSTEM

Ao pesquisarmos e fazermos um levantamento dos estudos

históricos relacionados à atuação feminina é possível notar que há um enorme esforço para que se possa destacar atuações profissionais femininas que de certa forma foram ocultadas dos registros históricos difundidos na área da arquitetura. Em seu mestrado Arquitetas e Arquiteturas na América Latina do Século XX e nas palestras que dedica ao tema, Ana Gabriela Godinho descreve que no momento em que iniciou sua pesquisa em busca das arquitetas latino-americanas se deparou com algo curioso. Ao pesquisar em livros os dados que comprovassem a autoria dessas em tais projetos, notou que quando eles eram feitos em parceria com homens, a disposição dos nomes era respectivamente: o nome do homem inteiro com sobrenome, e o da mulher sinalizado somente através das iniciais abreviadas.

Se aprofundada a história da atuação profissional dessas

arquitetas, é possível identificar que as parcerias eram muito frequentes. Para exemplificar isso pode-se destacar a seguinte frase de 56

Maria Novas quando se refere à história de Charlotte Perriand:

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“No entanto, a natureza coletiva frequente de seu trabalho –

Imagem 25 - Charles e Ray Eames

assim como os de Reich, Ray Eames e Alison Smithson - fez com que se tornasse ainda mais difícil acessar suas contribuições. Além disso, como muitas das arquitetas da sua geração, Perriand não se nomeava, antes de tudo, como uma designer mulher; não se identificava com o movimento feminista na França, complicando assim os esforços para moldá-la como um modelo para as mulheres contemporâneas que faziam parte do movimento. ” (RUBINO, 2010)

Portanto, publicamente a discussão sobre a participação

da mulher era pouco explorada, pois não existia uma identificação clara por parte de tais representantes modernas da existência de uma diferença profissional. Talvez evitando rótulos limitantes ou posturas que aparentemente possam parecer vitimistas, mantiveram o assunto algumas vezes adormecido.

Essa exposição de ideias se modificou com o tempo. Em

1989, Denise Scott Brown publicou seu ensaio: Room at the Top? Sexism and the Star System in Architecture, percebendo a mudança causada por seu casamento com Robert Venturi (1967) em seu

Imagem 26 - Alison e Peter Smithsom

status quo no trabalho.

A arquiteta relatou que a autoria dos textos em que es-

crevera para “Aprendendo com Las Vegas” eram em sua maioria atribuídos a Venturi pelos críticos. Buscando solucionar isso e evitando qualquer mal-entendido futuro, determinou-se no escritório dos dois que seria fornecida sempre uma lista de colaboradores das obras a serem publicadas. Essa lista, no entanto, era colocada de maneira periférica nas publicações e o destaque se mantinha referenciando um autor único.

“Com pesar tomei a decisão de evitar escrever em conjunto

no futuro. Mas isso pouco resolveu o problema. Não importava como meu trabalho fosse publicado ou creditado, ele era visto como se fosse de Venturi. A noção de que nós dois podíamos projetar parecia inconcebível. Isso valia também para possibilidade de que ideias poderiam 58

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iniciar e crescer através de um ping-pong criativo entre diversas mentes - apesar dos arquitetos experienciarem este tipo de processo de projeto em seus escritórios.” (SCOTT BROWN, 1989)

Assim, ao expor a questão de forma clara e exemplificada,

a arquiteta permite que a discussão possa ser levada à outra problemática que envolve a profissão: o star system. Trata esses dois conceitos como causa e consequência, dizendo que, embora acredite que o star system é um conceito inevitável em um meio profissional caracterizado pelo imensurável, deve ser bastante trabalhado em meio às universidades, para que a importância e valorização do Imagem 27 -Encontro Otterlo 1959 (CIAM ‘59), organizado peloTeam 10, 43 participants. Local de encontro: Kröller-Müller Museum, Hoge Veluwe National Park.

gênio criador, ou autor único diminua.

Nesse caso, há que se atentar para que, ao reescrevermos

o passado colocando ênfase nas mulheres arquitetas, possamos manter um olhar crítico também sobre o modo através do qual contamos a história da arquitetura, destacando figuras de sucesso. Segundo Ana Gabriela Godinho:

Imagem 28 -Denise Scott Brown em sala de aula. Imagem cortesia VSA.

“É importante que, neste processo, seja mantido um afas-

tamento da “síndrome da grande mulher”, pela qual apenas figuras excepcionais, heroínas, por assim dizer, acabam participando do que se espera seja a história da mulher na arquitetura latino-americana. Isto só resultaria numa espécie de atitude compensatória, onde, em contraposição à história dos super-arquitetos criaria-se a história das super-arquitetas. Embora não se deva negar a importância de personagens proeminentes, é importante que se tenha em vista que a história vai além das grandes personalidades. ” (GODINHO, 2013)

Segundo José Antônio Cordech, em “No son genios lo que

necesitamos ahora”, não deveríamos perseguir a genialidade nas pessoas, segundo ele, os gênios são acontecimentos e não metas ou finalidades. O trabalho em grupo em sala de aula é então uma prerrogativa para que haja uma compreensão da importância de saber compartilhar conhecimento, cooperar, e refletir sobre a diversidade inerente à sociedade. 60

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CATEDRA DE DISEÑO Y ESTUDIOS DE GÉNERO FORMAÇÃO DO CURSO E CORPO DOCENTE

Griselda Flesler provem de uma família argentina formada

por mulheres que eram, desde a geração de sua bisavó, universitárias, profissionais e comprometidas com questões políticas e sociais. Sua avó adentrou a universidade nos finais da década de 40, quando era bastante rara a presença feminina na área de Ciências Econômicas.

Em 1983, com a volta à democracia na Argentina, Flesler

foi matriculada em um colégio progressista, o que fez com que sentisse um grande impacto ao adentrar mais tarde na Faculdad de Arquitectura, Diseño y Urbanismo da Universidad de Buenos Aires. Nos primeiros anos, já notava que havia uma certa invisibilidade das projetistas e arquitetas e também identificava o uso do discurso moderno como único discurso válido na área de projeto.

Há 15 anos, em 2002, para a tese de especialização, Griselda

buscou apresentar teorias ligadas ao feminismo, quando falar do assunto era um tabu na Faculdad de Arquitectura, Diseño y Urbanismo. Depois disso, criou um projeto que partia dessa temática, o 62

qual logo se transformou em um curso de pós-graduação e alguns

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anos mais tarde, com a ajuda dos conselheiros, criou e instaurou a matéria optativa nomeada Diseño y Estudios de Género incorporada à todas as carreiras da FADU.

A matéria foi implantada no ano de 2017 e teve grande

aceitação desde o seu lançamento: no primeiro quadrimestre, se inscreveram 180 estudantes, sendo que 30% destes eram homens. Isso porque buscou-se esclarecer que o estudo de gênero não se restringe somente às mulheres.

Na Faculdad de Arquitectura, Diseño y Urbanismo em

Buenos Aires, assim como em outras do mundo, houve um aumento crescente de alunas mulheres, fazendo com que estas representassem 54% do total de alunos. Os docentes, em contrapartida continuam sendo em sua maioria homens, representam 62%, sendo Flesler é uma das poucas professoras titulares. Todas as áreas de atuação existentes na FADU, com exceção de Desenho Industrial,

Imagem 29 (página ao lado) - professoras Griselda Flesler, Valéria Duran, Gabriela Gugliottela fazendo a correção dos trabalhos finais dos alunos.

são majoritariamente femininas. (CARBAJANAL, 2017)

A criação do curso aconteceu em conjunto com a imple-

mentação da Unidade de Gênero na faculdade, a partir da onde se aplica o “Protocolo de ação para a prevenção e intervenção ante

Imagem 30 - professoras Griselda Flesler, Valéria Duran, Maria Laura Nieto.

situações de violência ou discriminação de gênero ou orientação sexual”. A partir dessa, Griselda acredita que será incentivada a presença da temática de gênero dentro da academia de modo prático.

É com muito orgulho que Griselda, a professora adjunta

e as auxiliares defenderam a criação de um programa para a sua cátedra que busca integrar todas essas carreiras que compõem a faculdade: Arquitetura, Desenho Gráfico, industrial, de imagem e som, moda e têxtil.

O corpo docente da disciplina é composto, então, pela

professora titular Griselda Flesler, uma professora adjunta: Valéria Duran e as docentes: Maria Laura Nieto, Celeste Moretti, Natalia Laclau e Gabriela Gugliottella.

Valeria Duran é socióloga, tem mestrado em Comunica-

ção e Cultura e doutorado em Ciências Sociais pela Universidade de Buenos Aires. Participa como pesquisadora do Memoria Abierta, 64

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aliança de organizações dos direitos humanos, e fez parte da equipe do Festival Internacional de Cine por la Equidad de Género “Mujeres en Foco”. Dirigiu o projeto de pesquisa SI – Jóvenes Investigadores FADU/UBA “Percibir la ciudad, arte, diseño y subjetividad” e é pesquisadora no projeto UBACyT “Afecto y lazo social: experiencia, memoria y narración”, dirigido por Leonor Arfuch no Instituto de Investigaciones Gino Germani.

Maria Laura Nieto é professora, pesquisadora e designer

independente. Se formou em Desenho Gráfico e Desenho de Imagem e Som (FADU-UBA). Fez mestrado em Sociologia da Cultura e Análise Cultural (IDAES-UNSAM). Foi coordenadora de publicações da FADU, sendo a responsável pelo Anuário de Desenho. Colaborou na publicação do livro Activismo Gráfico. ConversacioImagem 31 e 32 (página ao lado) - alunos discutindo sobre trabalhos finais do curso.

nes sobre Diseño Arte y Política (Wolkowicz Editores, 2017). Celeste Moretti é especialista em gerenciamento de projeto e desenho pela FADU-UBA, possui mestrado em Direção de Comunicação Institucionais (UADE). Integra a Rede Argentina de Gênero, Ciência e Tecnologia (RAGCyT). Desde 2012 é responsável pela comunicação do Observatório de Gênero na Justiça na cidade de Buenos Aires.

Natalia Laclau é designer gráfica pela Universidade de

Buenos Aires. É acessora em comunicação da Subsecretaria de Gênero e Diversidade da província de Buenos Aires. Faz parte da Associação Civil La Nuestra, futebol feminino, e a Associação de Arte, Cultura e Educación na qual realizou a Ley de Ventaja: uma série de programas sobre futebol e mulheres.

Gabriela Gugliottella é professora de artes pela Universi-

dade de Buenos Aires. Participou como coordenadora e expositora em congressos sobre temática de arte têxtil e estudos de gênero. Faz parte do grupo de Arte Feminista e Estudos de Gênero (UBA). Integra a equipe educativa do Museo de Arte Moderno de Buenos Aires. (Informações contidas no blog Diseño y Estudios de Género, 2017)

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O corpo docente é composto por mulheres de áreas dis-

tintas do conhecimento, caracterizando um curso que é marcado pelo processo projetual, mas que não se restringe ao tema do espaço. As discussões abarcam outros tipos de proposição, sempre dentro de uma metodologia propositiva ligada ao desenho. Os resultados podem ser desde vestimentas, publicações, vídeos informativos, projetos para ambientes e etc.

OBJETIVOS DO CURSO

O principal objetivo da matéria é fazer uma reflexão sobre

como as questões de gênero têm impacto sobre os processos de projeto, uso e leitura dos objetos e dos espaços sociais. Dessa forma o projeto é visto como o resultado da construção e reprodução dos das relações de gênero e sócio- sexuais.

Assim espera-se que os estudantes, através desse curso,

Imagem 33 - Cartaz de divulgação do curso.

consigam conhecer ferramentas teóricas e metodológicas ligadas ao gênero para a reflexão sobre os processos de produção, circulação e consumo de desenho. Além disso: - Que seja desnaturalizada a ideia de que tais estudos estejam vinculados à mulher. - Que se permita o conhecimento e visibilidade de desenhadoras (es) que estejam fora do discurso teórico e historiográfico dominante das faculdades de arquitetura/design. - Que sejam feitas análises sobre a inclusão no espaço público como construção de oportunidades para a sociedade em geral. - Que se possa produzir novos enfoques e discursos críticos que se integrem a formação projetual e se estendam a prática profissional. - Que se possa contribuir com a produção teórica local, incorporando a perspectiva de gênero. (FLESLER, 2017) 68

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- As vozes dominantes no campo de desenho, arquitetura e urban-

CONTEÚDO

ismo. - A normativa heterosexual como violência nas produções de de

A nova disciplina de “Diseño y Estudios de género” pre-

tende ser um marco de clareza no processo simbólico de luta pela igualdade sexual e de gênero. O olhar de gênero no processo projetual nada mais é que um compromisso com um desenho inclusivo

Imagem 34 e 35 (página ao lado) - construção de mural coletivo ilustrativo contra violência de gênero e discriminação por orientação sexual.

e flexível, abandonando uma postura neutra e universal. Segundo Griselda:

6. A articulação entre o campo do desenho e os

“La articulación entre el campo del diseño y los estudios de

estudos de gênero resulta

género resulta un interesante dispositivo para reflexionar sobre la vi-

em um interessante dispos-

olencia simbólica, la construcción de estereotipos y la reproducción de

itivo para refletir sobre a

discursos hegemónicos(...) En ese sentido pensamos el proyecto como

violência simbólica, a con-

espacio de construcción y reproducción de las relaciones de género y

strução de estereótipos e

sociosexuales” 6(FLESLER, 2017)

a reprodução de discursos hegemônicos

Em entrevista, os conteúdos básicos destacados pela profes-

(...)

Nesse

sentido, pensamos o pro-

sora são os seguintes:

jeto como espaço de con-

- A crítica feminista ao universalismo

strução e reprodução das

- O humanismo e o racionalismo do Desenho Moderno

relações de gênero e socio-

- O problema da invisibilidade por classe, etnia e gênero.

sexuais.

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senho e nos traçados urbanos contemporâneos. Esses conteúdos estão organizados em unidades, discriminadas a seguir: UNIDADE 01: FEMINISMOS E CÂNON DA ARQUITETURA E DO DESENHO: O ORNAMENTO É UM CRIME? Introdução aos estudos de gênero. Por que gênero não é igual a gênero feminino. Instrução aos estudos das “ondas do feminismo”. Crítica feminista ao universalismo, ao humanismo e ao racionalismo do Desenho Moderno. A categoria de diversidade como caracterização do feminino ou afeminado e do decorativo e ornamental. UNIDADE 02: INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DE “LXS OTRXS” NO DESENHO, NA ARQUITETURA E NO URBANISMO Introdução à “história das mulheres” ou “herstory”. Padrões culturais de narrativa histórica do feminino e do masculino. O problema da invisibilidade por classes, etnia e gênero e as vozes dominantes no campo do desenho, arquitetura e urbanismo. 71


tivos e ciborgues. UNIDADE 03: PENSAMENTO PROJETUAL E CRÍTICA À NORMATIVA HETEROSEXUAL.

Introdução aos estudos “Queer. Desenho e reprodução dos es-

da violência causada pela normativa heterossexual as professoras se

tereótipos de gênero. A normativa heterossexual como violência

utilizam de exemplos como a sinalização existente em entradas de

nas produções de desenho e no traçado urbano contemporâneo.

banheiros: é possível sempre identificar um espaço voltado para a

Espaço, corpo, gênero e desenho. Âmbito privado e público. Espaço

mulher e outro para o homem, porém existem pessoas que não se

urbano como construção de oportunidades.

identificam com nenhum deles. Além disso, nos banheiros femini-

UNIDADE 04: DESENHO E ARQUITETURA PÓS-COLONIAIS

nos vemos, geralmente a presença de espaço para troca de bebê, o

Feminismo pós-colonial. Teoria da interseccionalidade dos gêne-

que se difere do masculino.

ros. Desenho, identidade e cultura local. A crítica aos feminismos

ocidentais e a formulação de estratégias baseadas na autonomia, na

ização urbana. Para a maioria das ações contidas nela, a figura que

história e cultura.

deveria ser retratada de forma neutra, deixa de sê-lo a partir do

UNIDADE 05: TECNOLOGIAS E ESTUDOS DE GÊNERO

momento em que são identificadas placas com figuras femininas,

Os STS (ciência e estudos tecnológicos) a partir de uma perspectiva de gênero. Redes sociais: novos modelos de sociabilidade e novas

Imagem 36 e 37 (página ao lado) - Processos de trabalho dos grupos.

Como explicação de um desses eixos de conteúdo, no caso

Outro exemplo dado é sobre a falsa neutralidade da sinal-

geralmente usadas em atividades ligadas ao cuidado. Assim, ações que podem ser desempenhadas por qualquer um, passam a ser

formas de atuação política. Gestão política e técnica do corpo, sexo

divididas por gênero. Como por exemplo: para a travessia de ruas, a

e sexualidade. Regulação dos corpos. Desenho de próteses, disposi-

figura masculina é retratada, já no caso de cruzamento em escolas,

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73


são mulheres que o são.

Como resultado de tais discussões, foi implementado na

UBA em agosto de 2017 um banheiro sem distinção de gênero, segundo Griselda Flesler: “Lo del baño es una intervención, resultado del contexto actual de la FADU, que desde este año tiene una Unidad de Género, a partir de la implementación en la UBA del ‘Protocolo de acción institucional para la prevención e intervención ante situaciones de violencia o discriminación de género u orientación sexual”7(FLESLER, 2017)

O objetivo da implementação do banheiro, segundo a

professora é desnaturalizar o binarismo e repensar tais espaços largamente reproduzidos em ambientes públicos. Segundo Flesler, os banheiros diferenciados surgiram no auge do capitalismo em combinado com a moral vitoriana, o momento em que se patologi-

Imagem 38 e 39 (página ao lado) - Banheiro misto na FADU.

za tudo o que está fora do núcleo primário da família. Para algumas pessoas esses ambientes não representam nada além de um local para praticar o alívio de uma necessidade corporal, no entanto para a comunidade de transexuais demonstra uma violência simbólica, uma forma de disciplina social.

O curso se define como interdisciplinar. A professora titu-

lar diz não conceber a educação de outra maneira que não seja essa.

7. Sobre o banheiro, é uma

Por essa questão, além da formação do corpo docente, que conta

intervenção, resultado do

com sociólogas, designers gráficas, de imagem e som, e artistas

contexto atual da FADU,

plásticas, o curso conta com professores convidados.

que desde esse ano tem

Estes últimos participam com palestras teóricas e também

uma Unidade de Gênero, a

como espectadores das avaliações dos trabalhos que os alunos de-

partir da implementação na

senvolvem em grupo. No ano de 2017, por exemplo, as professoras

UBA do “Protocolo de ação

previam convidar um professor da Universidade Stony Brook de

institucional para a pre-

Nova York, especialista em cinema e gênero e Zaida Muxi (UBA-

venção e intervenção ante

Escola Tècnica Superior d’Arquitectura de Barcelona): para falar

situações de violência ou

sobre urbanismo e gênero.

discriminação de gênero ou

orientação sexual.

74

Para Griselda é preocupante que a maioria das pesquisas no

75


BIBLIOGRAFIA

campo se restrinjam quase que exclusivamente a um levantamento

Imagem 40 e 41 (página ao lado) - Exemplos de trabalhos finais: propostas lúdicas e ensaios espaciais (ao lado).

biográfico daquelas que fizeram parte da história da arquitetura.

9. Acredito que a Argentina

Ao analisar a bibliografia indicada do curso, é possível

tem uma tradição ligada à

notar que existe uma preocupação com uma discussão que não só

Para isso, busca-se um enfoque que não descarta essa visibilidade,

8. Nesse sentido, se suste-

luta das mulheres por dire-

comtemple os temas elegidos pelo corpo docente dentro da temáti-

mas que também deixa claro que o projeto pode ser uma ferramen-

nta nos debates produzidos

itos humanos. O caso das

ca de gênero e sexualidade, mas também que esse conteúdo esteja

ta para a aplicação da discussão.

nas últimas décadas acerca

Madres y Abuelas de Plaza

de certa forma vinculado ao local da onde se fala, no caso Buenos

da identidade, em particular

de Mayo é um antecedente

Aires, Argentina e em nível mais amplo na América Latina.

“En este sentido, se sustenta en los debates producidos en las últimas

a partir da crise de certas

inevitável que nos carca-

Segundo Griselda Flesler em entrevista para Depatriarchdesign:

décadas acerca de la identidad, en particular a partir de la crisis de

concepções

universalistas

teriza no mundo. Estamos

ciertas concepciones universalistas y sus consecuentes replanteos de-

e suas consequentes re-

no 32° ano do Encuentro

constructivos. La articulación entre el campo del diseño y los estudios

implantações

desconstru-

Nacional de las Mujeres,

de las mujeres por los derechos humanos. El caso de las Madres y

de género resulta un interesante dispositivo para reflexionar sobre la

tivas. A articulação entre

e as marchas convocadas

Abuelas de Plaza de Mayo es un antecedente ineludible que nos car-

violencia simbólica, la construcción de estereotipos y la reproducción

o campo do desenho e os

pelo coletivo Ni Una Menos

acteriza en el mundo. Vamos por el año 32 del Encuentro Nacional de

de discursos hegemónicos.”8 (FLESLER, 2017)

estudos de gênero resulta

foram massivas. Além do

las Mujeres, y las marchas convocadas por el colectivo Ni una Menos

um interessante dispositivo

mais, desde os anos 70, o

fueron masivas. Asimismo, desde los años 70, el feminismo ha reper-

para refletir sobra a violên-

feminismo vem repercutin-

cutido en diversas disciplinas académicas. Sin embargo, en el campo

cia simbólica, a construção

do em diversas disciplinas

proyectual, este enfoque es un fenómeno reciente. De ahí la importan-

de estereótipos e a repro-

acadêmicas. No entanto,

cia de replicar espacios como el que hemos generado. ” 9(FLESLER,

dução de discursos hege-

no campo projetual, esse

2017)

mônicos.

enfoque é recente.

A relação bibliográfica pode ser encontrada no anexo 01.

76

“Creo que Argentina tiene una tradición en cuanto a la lucha

77


MÉTODO DE AVALIAÇÃO

O método de avaliação do curso se denomina como um

sistema misto, que pretente articular o desempenho individual e grupal. Se divide em uma avaliação individual, baseada na presença dos alunos nas aulas somada de outra avaliação de um trabalho prático em grupo. Os alunos desenvolvem textos durante as aulas sobre as temáticas apresentadas, que estão baseados em uma guia de perguntas correspondentes aos trabalhos práticos.

Acima de suas discussões teóricas, a matéria possui um

cunho projetual. Os trabalhos finais em equipe abarcam não só a discussão espacial como também do corpo e os objetos. Já houveram projetos de próteses mamárias para diversos corpos e texturas, tamanhos e cores de pele, dispositivo ativados através das roupas para evitar o abuso sexual no metrô, um aplicativo de celu-

Imagem 42, 43 e 44 - imagens do video produzido pelos alunos sobre profissão e gênero..

lar que cria percursos através das possibilidades de deslocamento de cada pessoa, jogos sem distinção de gênero e curtas metragens. (Informações contidas na página do facebook do curso).

O trabalho ao lado ilustrava através de um vídeo a im-

portância de desconstruir a relação entre trabalho e gênero, por exemplo. Para que seja mantida a regularidade, os alunos devem assistir à 75% das aulas teóricas e práticas.

CARGA HORÁRIA

As aulas acontecem às quintas-feiras, têm duração de 4

horas, começam às 19h e finalizam às 23h. 78

79


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os conceitos relacionados à temática de gênero deveriam

Dessa forma, acredita-se que colocar a temática de gênero dentro

permear de modo generalizado o ensino, não só de arquitetura

da academia não implica somente na incorporação da conceituação

como também de outras áreas do conhecimento. Discutir sobre

teórica ligada ao tema, mas também de uma compreensão de que

gênero em meio educacional é uma forma de exercitar a cidadania

há uma nova forma de enxergar o ensino e a aprendizagem. Essa

para o reconhecimento de igualdade entre homens e mulheres.

forma parte de um entendimento de que ideias incorporadas como

Atualmente, o levantamento de ícones femininos da arquitetura e

neutras ou válidas para todos precisam ser contestadas e reestrutur-

suas histórias vêm sendo difundido, divulgado e publicado, esse

adas. Também tem claro a importância da diversidade dos interloc-

movimento é relativamente recente. Revelar essa história pouco

utores e do trabalho em grupo. Busca incorporar as questões sociais

ensinada na academia, é de suma importância. É uma forma de in-

nas discussões que visam a criação de novos espaços e objetos.

centivo às alunas ingressantes nos cursos de arquitetura, que busca

A Catedra de Diseño y Estudios de Arquitectura busca incorporar

criar espaço e facilitar a sua participação e sua atuação tanto no

e aprofundar a discussão, transformando o ato de projetar em um

meio profissional como no acadêmico.

processo agrega questões antes marginalizadas, recriando a forma

de responder às necessidades sociais. Parte de uma ação descon-

É importante que, segundo Spivack em Pode Subalterno

Falar? a mudez das mulheres não se restrinja a somente uma

strutivista que busca criar novas premissas projetuais a partir do

questão idealista, mas que possa ter implicações de reposiciona-

trabalho de discussão em grupo, levando em consideração as mino-

mento da mulher no espaço social. Assim, as mulheres intelectuais

rias colocando em foco a ótica do gênero.

precisam buscar questionar também os limites da representativi-

A matéria se revela inovadora não só por sua temática, mas tam-

dade e ao mesmo tempo permitir que existam espaço e condições

bém por conta de demonstrar a urgência da compreensão científica

de autorrepresentação.

a partir de ângulos antes pouco explorados. Juntamente à Unidade

Esse movimento gera reflexos também no modo como o conheci-

de Gênero, instaura a problemática dentro do campo do desenho e

mento vem sendo construído. A representatividade e participação

da arquitetura, mas também para o âmbito acadêmico, fazendo um

das mulheres no campo científico possibilitou a criação de uma

movimento que visa a incorporação e transformação, e que não se

nova forma de ver a ciência. Houve a reformulação dessa a partir

restringe a somente uma bandeira que luta por equiparação social,

de uma mistura de um universo pré-existente e um novo ângulo de

mas que também busca uma reestruturação do modo de conceber e

visão sobre o mesmo.

processar novas ideias e referências.

80

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ANEXO 01

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IMAGEM 17 - Livro La Estructura Histórica del Entorno, de Marina Waisman. Disponível em: https://undiaunaarquitecta.wordpress. com/2015/05/27/marina-waisman/. Acesso em 01 de dezembro de 2017. IMAGEM18 - Carmen Portinho na obra do MAM - Rio de Janeiro. Disponível em: https://mulheresnaarquiteturabrasileira.wordpress. com/2014/04/02/carmen-portinho-e-a-construcao-do-mam-rj/. Acesso em 22 de abril de 2017. IMAGEM 19 - MAM RJ em construção. Disponível em: http:// au17.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/246/engenho-construtivo-do-mam-rj-de-affonso-eduardo-reidy-326825-1.aspx. Acesso em 22 de abril de 2017. IMAGEM 20 - Capa da Revista Habitat, edição n° 8, com o projeto de Lina Bo Bardi para o Museu de São Paulo. Disponível em: https://awarewomenartists.com/en/magazine/lina-bo-bardi-and-the-magazine-habitat/. Acesso em 12 de junho de 2017.

in_Otterlo_-_Team_10_Meeting_in_Otterlo.jpg. Acesso em 27 de novembro de 2017. IMAGEM 28 -Denise Scott Brown em sala de aula. Imagem cortesia VSA. Disponível em: http://www.mascontext.com/issues/27-debate-fall-15/room-at-the-top-sexism-and-the-star-system-in-architecture/. Acesso em 20 de novembro de 2017. IMAGEM 29- professoras Griselda Flesler, Valéria Duran, Gabriela Gugliottela fazendo a correção dos trabalhos finais dos alunos. Disponível em: https://www.facebook.com/dyeg.fadu/. Acesso em 10 de abril de 2017. IMAGEM 30 - professoras Griselda Flesler, Valéria Duran, Maria Laura Nieto. Disponível em: https://www.facebook.com/dyeg.fadu/. Acesso em 10 de abril de 2017. IMAGEM 31 e 32 - alunos discutindo sobre trabalhos finais do curso. Disponível em: https://www.facebook.com/dyeg.fadu/. Acesso em 10 de abril de 2017.

IMAGEM 21 - Lina Bo Bardi manejando mesa projetada para Casa de Vidro. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/noticias/detalhes/3486/lina-bo-bardi-a-representacao-da-mulher-no-espaco-publico. Acesso em 12 de junho de 2017.

IMAGEM 33 - Cartaz de divulgação do curso. Disponível em: https://dyegblog.wordpress.com/. Acesso em 10 de fevereiro de 2017.

IMAGEM 22, (página ao lado) 23 e 24 - Infográficos desenvolvidos pelo coletivo Arquitetas Invisíveis, disponível para dowload no site. Disponível em: https://www.arquitetasinvisiveis.com/download-c1khz. Acesso em 12 de desembro de 2017.

IMAGEM 34 e 35 - construção de mural coletivo ilustrativo contra violência de gênero e discriminação por orientação sexual. Disponível em:https://www.facebook.com/dyeg.fadu/. Acesso dia 10 de abril de 2017.

IMAGEM 25 - Charles e Ray Eames. Disponível em: http:// notesontheroad.com/Ying-s-Links/Today-s-Birthday-in-Architecture-and-Design-Ray-Eames.html?print=1&tmpl=component. Acesso em 17 de setembro de 2017.

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