FACULDADE 7 DE SETEMBRO – FA7 PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUAGENS E MÍDIAS DIGITAIS
MÍDIA NINJA E SUA ATUAÇÃO COMO MÍDIA RADICAL NO BRASIL
ANNA JULYTA DOS SANTOS ALBUQUERQUE Orientadora: Professora Naiana Rodrigues
FORTALEZA – 2014
RESUMO O presente artigo busca entender se o trabalho desenvolvido pelo coletivo intitulado Mídia Ninja (Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação) se encaixa no conceito de Mídia Radical proposto por John D. Downing (2004). Buscaremos analisar o conceito de Mídia Radical em questão e o modus operandi do coletivo Mídia Ninja nas manifestações populares de junho de 2013 e sua adequação entre o que foi proposto em teoria e a realidade dessa mídia. No entanto, o tema em questão, não será esgotado neste artigo, visto que ocorre hoje, em diversos países, movimento semelhante. Concluímos, assim, que a Mídia Ninja pode ser caracterizada como uma Mídia Radical, porque atende de forma satisfatória aos dez aspectos teorizados por Downing. PALAVRAS-CHAVE: Mídia radical. Midialivrismo. Movimentos sociais. ABSTRACT: This paper intends to verify if the work developed by the collective Ninja Media (Independent Narratives Journalism and Action) fits the concept of Radical Media proposed by John D. Downing (2004). The article analyses the concept of Radical Media, the modus operandi of Ninja Media at the brazilian popular riots in June of 2013 and its adequacy from what was proposed by the theory to what was really done by this media collective. Nevertheless, this subject won't be exhausted at this paper, since similar popular agitations has been happening in several countries. Therefore we conclude that Ninja Media can be characterized as a Radical Media because it nicely answers all of ten features theorized by Downing. KEY-WORDS: Radical media. Midialivrismo. Social movements.
1. INTRODUÇÃO As mudanças e lutas sociais que determinados países têm enfrentado na última década – como é o caso de Egito e Espanha1, por exemplo – foram alavancadas pelo acesso massivo da população à internet e a tecnologias que proporcionam rápida veiculação de materiais e debates, principalmente em redes sociais, tornando o fazer jornalístico livre de “amarras” do poder das empresas de comunicação, em uma atitude radical e alternativa. Tunísia, Islândia e Estados Unidos utilizaram, cada um à sua maneira, as possibilidades oferecidas pela internet na massificação das ideias revolucionárias de seus movimentos. As profundas mudanças ocorridas na Tunísia foram desencadeadas por ações de protestos individuais, mas que repercutiram em cadeia, principalmente nas redes sociais. A sociedade civil organizada exigia liberdade política e de imprensa e a violência policial foi registrada em vídeos, ganhando amplitude mundial. Ocupando a praça do Governo, as pessoas aglomeravam-se em fórum com debates permanentes, sem líderes, mas com normas bem estabelecidas, garantido o direito democrático de todos os participantes. Eleições limpas ocorreram na Tunísia após meses de efervescência e protestos sociais, desencadeadas, em grande parte, pela combinação de uso de celulares e internet para divulgação das reivindicações do grupo. Os movimentos sociais na Islândia, em 2008, objetivavam mudanças na política financeira especulativa do país e geraram a percepção de que os entes representativos não “trabalhavam” para o povo. O governo implementou políticas eficazes após os protestos, além da elaboração, de maneira colaborativa, de uma nova
1 Espanha: Protestos ocorridos em 2011, intitulados, por alguns veículos de comunicação, de Movimiento 15-M, Indignados e Spanish revolution. A série de protestos espontâneos de cidadãos foi organizada pelas redes sociais e idealizados na plataforma civil e digital ¡Democracia Real Ya! Os protestos foram pacíficos e reivindicavam mudanças na política espanhola, além de reivindicações econômicas e sociais, reflexo do desejo de seus participantes de mudanças profundas no modelo democrático vigente. Egito: Também em 2011, o Egito vivenciou o que ficou conhecido como “Dias de Fúria”. Série de manifestações de rua, protestos e atos de desobediência civil que ocorreram no Egito de 25 de janeiro até 11 de fevereiro de 2011. Os principais motivos para o início das manifestações foram a violência policial, leis de estado de exceção, desemprego, falta de moradia, inflação, corrupção, falta de liberdade de expressão, más condições de vida. O principal objetivo dos protestos era derrubar o regime do presidente Hosni Mubarak, que esteve no poder durante trinta anos.
Constituição para o país. O movimento foi organizado, sem lideranças e com permuta nos cargos da organização. O Occupy Wall Street, ocorrido nos Estados Unidos, é um movimento social que protesta contra a desigualdade econômica, a ganância, a corrupção e a indevida influência das empresas - sobretudo do setor financeiro - no governo dos Estados Unidos. O Occupy teve início em setembro de 2011, no Zuccotti Park, no distrito financeiro de Manhattan, na cidade de Nova York. A estratégia do movimento é manter constante vigília e debates, denunciando a impunidade dos responsáveis e beneficiários da crise financeira mundial. Sobre esses movimentos e o sucesso dos seus intentos, Manuel Castells (2013) lembra que os empreendimentos sociais nesses países ocorreram em decorrência de “[...] redes digitais, multimodais, de comunicação horizontal, [...] veículos mais rápidos e mais autônomos, interativos, reprogramáveis e amplificadores de toda a história.” (CASTELLS, 2013, p. 23). No Brasil, recentemente, foi possível assistir a um movimento também impulsionado pela internet. Em junho de 2013, após o Governo do Estado de São Paulo reajustar as passagens do transporte público em 20 centavos, manifestações ocorreram durante todo o mês na capital paulista, lideradas pelo Movimento Passe Livre – MPL. Rapidamente, diversos estados aderiram à causa, expandindo a pauta de reivindicações. Os manifestantes, portanto, passaram a exigir acesso à saúde de qualidade, moradia digna e educação, entre outros direitos. Mais de um milhão de pessoas foram às ruas em todo país. Diante desse panorama mutante e colaborativo, em que movimentos sociais têm se apropriado de ferramentas de comunicação com o intuito de pressionar seus governos a soluções reais, é que a Mídia Ninja (Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação) exerceu, aqui no Brasil, grande protagonismo ao participar ativamente das manifestações e fazer a cobertura jornalística do período que foi considerado, por alguns veículos de comunicação como “o mês que abalou o Brasil”. As definições para “mídia radical” são difusas. O senso comum associa, geralmente, a mídia radical a um tipo de atuação jornalística agressiva e sem organização, agravando a confusão e o debate em torno do tema.
Seria a Mídia Ninja um tipo de Mídia Radical, de acordo com o que foi teorizado por John D. Downing em seu livro Mídia Radical: rebeldia nas comunicações e movimentos sociais? Muitos grupos, de semelhante atuação, desenvolvem trabalho jornalístico em vários países, servindo, inclusive, como “poder” legítimo de proposição e divulgação de problemas e pautas sociais. Buscamos, assim, resposta à pergunta acima citada, contribuindo para esse debate ainda pouco explorado, mas de grande importância se considerarmos, por exemplo, a audiência que a Mídia Ninja conseguiu alcançar ao longo dos dias de protesto. Para Castells (2013), ocorre, atualmente, uma inversão do status quo vigente na produção e posterior acesso à informação no mundo contemporâneo, visto que, por exemplo, “[...] redes sociais da internet [...] são espaços de autonomia, muito além do controle de governos e empresas – que, ao longo da história, haviam monopolizado os canais de comunicação como alicerces de seu poder.” (CASTELLS, 2013, p. 11). O objetivo geral deste artigo é compreender se o trabalho desempenhado pela Mídia Ninja, em junho de 2013, ao cobrir as manifestações populares em São Paulo, utilizando celulares para transmissão ao vivo via Twitter, pode ser caracterizado como Mídia Radical, obedecendo aos aspectos defendidos por Jonh Downing (2004). São objetivos específicos: a) refletir sobre o trabalho desenvolvido pela Mídia Ninja situando-o em um contexto histórico de movimentos em prol da democracia política e da comunicação no País. b) confirmar ou refutar a hipótese de que a Mídia Ninja trabalha obedecendo aos aspectos elencados por Downing (2004) que caracterizam uma empreitada comunicativa como radical. Para tanto realizaremos uma pesquisa de caráter exploratório e qualitativo e se dará através de levantamento bibliográfico e entrevista. A metodologia de caráter exploratório não elabora, segundo Cervo e Bervian (2003), “hipóteses a serem testadas no trabalho, restringindo-se a definir objetivos e buscar mais informações sobre determinado assunto de estudo. Tais estudos têm por objetivo familiarizar-se com o fenômeno ou obter nova percepção do mesmo e descobrir novas ideias.”
Entrevistamos, para esse trabalho, Filipe Peçanha, coordenador de transmissões ao vivo da Mídia Ninja. Escolhemos essa metodologia, pois o material transmitido pelo grupo, em tempo real, não foi arquivado, visto que sua transmissão foi feita pelo Twitter, ao vivo. 2. BUSCA PELA DEMOCRACIA – CENSURA E CONTROLE NA PAUTA SOCIAL Após tumultuado período de um governo liderado por militares, em que os brasileiros viram e puderam presenciar os mais diversos tipos de cerceamento de suas liberdades, principalmente após o Ato Institucional N0 52, o Brasil iniciou sua longa caminhada em busca da redemocratização do país. Entre perseguições e torturas, prática comum durante o regime militar, expressava-se, nas mais diversas esferas sociais, o desejo de livre manifestação do pensamento. Marilena Chaui (2008) salienta que “se examinarmos o modo como tradicionalmente o Estado opera no Brasil, podemos dizer que, no tratamento da cultura, sua tendência foi antidemocrática”. O controle avançou paulatinamente e passou a censurar os artistas e suas expressões, como o teatro, a música, o cinema e a literatura. Chauí (2008, p. 63) lembra, ainda, que: Não por ser o Estado ocupado por este ou aquele grupo dirigente, mas pelo modo mesmo como o Estado visou à cultura tradicionalmente, sempre procurou capturar toda a criação social da cultura sob o pretexto de ampliar o campo cultural público, transformando a criação social em cultura oficial, para fazê-la operar como doutrina e irradiá-la para toda a sociedade.
Durante os 21 anos do período militar, os jornais sobreviveram sob forte censura. Daniel Trevisan Samways (2008, p. 1) esclarece que a iniciativa de reprimir com vigor os veículos de comunicação estava relacionada ao fato de que o poder vigente buscava: Impedir que qualquer crítica ao governo fosse publicada, contribuindo assim para uma melhor imagem do governo. Juntamente com a censura, a propaganda realizada por agências governamentais visava mostrar um país bom, que se mantinha no caminho do crescimento, um país ao qual
2 O
Ato Institucional Nº 5 foi um decreto emitido pelo regime militar brasileiro nos anos seguintes ao Golpe Civil-‐Militar de 1964 no Brasil. O Ato sobrepunha-‐se à Constituição de 1967 e dava poderes extraordinários ao Presidente da República, suspendendo várias garantias constitucionais.
ninguém seguraria, um país que deveria ser amado pelos brasileiros e um país que estava distante de torturas, de censura, de atos arbitrários. Neste sentido, buscou-se formar uma imagem da nação, uma imagem positiva que se conseguiria suprimindo o discurso inimigo.
Ainda segundo o estudioso, o controle à imprensa pretendia evitar que o inimigo do regime propagasse seu discurso “comunista”. Sendo assim, grande parcela da população não tomava conhecimento dos atos violentos e repressores praticados pelo regime que se estabeleceu em 1964 e iria impor-se até 1985. Diversos veículos receberam manual com normas a serem seguidas, com tácito conteúdo censor, embora nenhuma dessas iniciativas fosse legal. Ainda segundo Daniel Trevisan (2008), as diversas ações tiveram forte impacto na circulação dos semanários. Alguns veículos de informação não tiveram condições de manter-se financeiramente, devido à impossibilidade de circularem com um número elevado de matérias cortadas ou vetadas, não tendo condições de ir às bancas com tantos espaços em branco, além de edições inteiras que eram vetadas ou apreendidas depois de chegarem às bancas, o que causava prejuízos financeiros (2008, p. 10)
Esse cenário debilitou, sobremaneira, o acesso à informação, tornando-se grande golpe democrático no período. Boris Fausto (2008) assinala que, em 1983, passou a existir uma movimentação para eleições diretas para Presidente da República. No ano seguinte, um comício realizado com esse intuito reuniu mais de 200 mil pessoas em São Paulo. Sobre o período, o autor afirma que: O movimento pelas diretas foi além das organizações partidárias, convertendo-se quase em uma unanimidade nacional. Milhões de pessoas encheram as ruas de São Paulo e Rio de Janeiro, com um entusiasmo raramente visto no Brasil. A campanha das “diretas já”, expressava, ao mesmo tempo, a vitalidade da manifestação popular e a dificuldade dos partidos para exprimir reivindicações. (FAUSTO, 2008, p. 282) 3
Fausto (2008) salienta, ainda, que, embora as manifestações fossem de grande expressividade, existia um distanciamento muito grande entre o que era visto nas ruas e a atuação do Congresso, que rejeitou as eleições diretas para presidente, causando grande decepção. No início de 1987, a Assembleia Nacional Constituinte começou a reunir-se e debater a nova Constituição, que foi promulgada no final do ano seguinte. No entanto, a Constituição não resolveria os enraizados problemas do Brasil, como a corrupção. 3 Grifos
nossos.
Iniciou-se, então, um lento e doloroso processo de redemocratização do país. A primeira eleição direta para presidente pós-ditadura militar levou Fernando Collor ao comando da nação. Em setembro de 1992, 750 mil pessoas manifestaram-se em São Paulo pedindo o impeachment do presidente, que era suspeito de desviar dinheiro público para suas contas pessoais. Essa confluência de fatores (censura à imprensa e controle social), associadas à inoperância do Estado em fornecer serviços básicos de qualidade à população, provavelmente colaboraram para que muitos anos mais tarde, em 2013, manifestações tomassem proporções históricas. O cerceamento das liberdades, principalmente a de expressão, amargada pela população durante o longo período militar, pode ser visto como um dos fatores que contribuíram para a eclosão das manifestações de junho de 2013, quando milhares de pessoas foram às ruas nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, principalmente, lideradas pelo MPL – Movimento Passe Livre, fundado em 2005 e composto por militantes de esquerda. Foram as maiores mobilizações no país desde as manifestações pela saída do presidente Collor. Guardadas as devidas diferenças históricas entre o período militar e os tempos atuais, as manifestações ocorridas, posteriormente em diversas capitais do País, reservam semelhanças em seu caráter social, principalmente no que tange aos apelos e reivindicações. Ao todo, mais de um milhão de pessoas participaram de atos em diversas cidades do Brasil, no dia 20 de junho. Além das 22 capitais, 388 cidades tiveram manifestações. Pesquisa realizada pelo IBOPE (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística), no dia 20 de junho, em sete estados (SP, RJ, MG, RS, PE, CE, BA) e em Brasília, a pedido do programa Fantástico, da TV Globo, revelou que, entre os 2002 manifestantes entrevistados com 14 anos ou mais, as principais reinvindicações eram contra o aumento do transporte público/a favor da redução (27,8%), contra a corrupção/ desvios de dinheiro público (24,2%) e reivindicando melhorias relacionadas à saúde (12,2%). As informações foram retiradas do site Globo.com no endereço:
http://g1.globo.com/brasil/noticia/2013/06/veja-integra-da-pesquisa-do-
ibope-sobre-os-manifestantes.html. Sobre as diversas manifestações de movimentos sociais ao redor do mundo, Ortellado (2013, p. 227) diz:
Temos assistido nas últimas décadas ao nascimento de movimentos horizontais na forma de organização e autônomos em relação a partidos e instituições. Esses movimentos frequentemente valorizam mais o processo do que o resultado: é o meio pelo qual atuam, a horizontalidade, a democracia direta, assim como a criatividade das suas ações, que dão a eles sabor e sentido.
Castells (2013, p.183) salienta, que, no caso do Brasil, em junho de 2013, o inesperado levante ocorrido só foi possível graças ao “mundo de virtualidade real e realidade multimodal, um mundo novo que já não é novo, mas que as gerações mais jovens veem como seu”. Nesse contexto, apoiadas pelos acontecimentos ao redor do mundo e pela expansão dos contatos sociais através da internet, as manifestações de junho 2013 encontraram condições favoráveis para sua realização. Influenciados pelos bons resultados obtidos em vários países, como já discutido neste artigo, e a importância dos veículos alternativos, como a Al Jazeera, para divulgação das notícias na Tunísia, é que a Mídia Ninja, apropriando-se dessa experiência e em intercâmbio constante com coletivos semelhantes, conseguiu transmitir as manifestações e alcançar seu objetivo ao dar “voz” aos manifestantes durante as ações. 3. REDES SOCIAIS COMO ALAVANCA DAS MANIFESTAÇÕES O recente fenômeno dos sites de Redes Sociais, principalmente servindo como força motriz para interações entre entes sociais para promoção de lutas e debates ideológicos, só é possível graças, ao que chama Raquel Recuero (2009), dos seus atores. Segundo a autora, “embora não discerníveis (...) os atores são o primeiro elemento da rede social, representados pelos nós (ou nodos)”. Esse espaço social é assim definido por Raquel Recuero (2009, p. 102): (...) Elemento novo, mas uma consequência da apropriação das ferramentas de comunicação mediada pelo computador pelos atores sociais. Assim, embora sejam frequentemente referenciados como exemplos, o Orkut, Facebook etc. não são os únicos tipos de sites de redes sociais.
O crescimento dessa interação entre esses “atores” nos sites de redes sociais podem desencadear em diferentes formas de apropriação da rede. Como já debatido, elas foram fundamentais para os movimentos sociais na atualidade, mas muitos usuários apenas a utilizem para divulgação de suas histórias pessoais.
Talvez a principal diferença das manifestações de junho de 2013 e das “Diretas Já”, em 1984, seja, justamente, o acesso massivo da população à informação, principalmente aquela amplamente difundida pela internet. Os protestos de junho de 2103 foram conclamados pelos sites de redes sociais (Facebook e Twitter4, principalmente). A pesquisa realizada pelo IBOPE mostrou ainda o perfil do manifestante e por qual meio eles souberam das manifestações. Os dados coletados mostram que 77% das pessoas presentes ao ato se mobilizaram pelo Facebook e que 75% utilizaram algum site de rede social para convocar outras pessoas para manifestação. A hashtag #VerásQueOFilhoTeuNãoFogeALuta permaneceu por muitas horas como o tópico mais comentado no Twitter em todo o mundo. No Facebook, mais de 280 mil pessoas confirmaram presença no evento oficial da manifestação de São Paulo. No Brasil, mais de 83 milhões de pessoas possuem perfil ativo no site Facebook, segundo dados da própria empresa fornecidos em dezembro de 2013. Sobre comunidades virtuais e sua importância, Recuero (2009) esclarece que: Vários autores explicam que as interações através do computador estão possibilitando o surgimento de grupos sociais na Internet, com características comunitárias. Esses grupos seriam construídos por uma nova forma de sociabilidade, decorrente da interação mediada pelo computador, capaz de gerar laços sociais. (2009, p.136)
Essa consonância de fatores foi decisiva para o que pode ser considerado “sucesso” das manifestações. 4. Mídia Radical – Concepção de John D. H. Downing John D. H. Downing (2004, p. 21) conceitua mídia radical como sendo “mídia – em geral de pequena escala e sob muitas formas diferentes – que expressa uma visão alternativa às políticas, prioridades e perspectivas hegemônicas”. Sobre esse conceito, o autor salienta, ainda, que “embora o alcance dessa mídia, na aurora do século XXI, seja mais amplo do que nunca, [...], esses meios de comunicação não são, de forma alguma, recentes na cultura e na política” (2004, p. 21). 4 O
Facebook foi lançado em 2003 e hoje é a maior rede social do mundo. Em dezembro de 2013, o site registrou 1,23 bilhão de usuários ativos por mês. www.facebook.com.br O Twitter foi criado em 2006 e conta com mais de 214 milhões de usuários ativos. https://twitter.com/
No entanto, o próprio autor admite certo paradoxismo ao fazer uso da palavra alternativa, visto que “qualquer coisa, em algum ponto, é alternativa a alguma outra.” (DOWNING, 2004, p. 27). Downing (2004, p. 24) pondera que distinguir a mídia radical da que é radical apenas na aparência ou ainda da que não é radical, não é tarefa simples, já que “não existe nenhuma alquimia instantânea, nenhum procedimento socioquímico inconteste, capaz de distinguir” essas mídias. No entanto, embora o tipo de mídia conceituada pelo autor exista no Brasil, principalmente em comunidades marginalizadas pelo poder público ou fora da pauta da grande imprensa, como associações de bairro e sindicatos de classe, é na cobertura das manifestações de junho de 2013, concorrendo em um tipo de cobertura alternativa ao “coro” entoado pelos principais veículos do país, que a Mídia Ninja protagoniza um novo debate do “fazer jornalismo” dando “voz” aos “marginalizados”. 5. MÍDIA NINJA A Mídia Ninja surgiu como grupo, com identidade e produção própria para publicação externa, em abril de 2013. Embora a discussão sobre a criação do grupo tenha ocorrido no ano de 2012, os componentes da Mídia Ninja desenvolvem ações integradas de midialivrismo5 desde 2005, no Grupo Fora do Eixo – rede colaborativa constituída por coletivos de cultura, que tem como princípios: A economia solidária, o associativismo e o cooperativismo, (...) da divulgação, da formação e intercâmbio entre redes sociais, do respeito à diversidade, à pluralidade e às identidades culturais, do empoderamento dos sujeitos e alcance da autonomia quanto às formas de gestão e participação em processos socioculturais, do estímulo à autoralidade, à criatividade, à inovação e à renovação, da democratização quanto ao desenvolvimento, uso e compartilhamento de tecnologias livres aplicadas às expressões culturais e da sustentabilidade pautada no uso e desenvolvimento de tecnologias sociais. (FORA DO EIXO, 2014)
Em artigo científico intitulado DO MIDIALIVRISMO DE MASSA AO MIDIALIVRISMO CIBERATIVISTA: uma reflexão sobre as perspectivas de comunicação alternativa no Brasil, Renata Escarião Parente utiliza Fábio Malini e Henrique Antoun para trazer a seguinte definição: “O midialivrismo de massa reúne experiências de movimentos sociais organizados que produzem mídias comunitárias e populares, de dentro do paradigma da radiodifusão, se afirmando como práticas da sociedade civil alternativas e antagonistas em relação ao modo de se fazer comunicação dos conglomerados empresariais transnacionais e nacionais de mídia (que controlam a opinião pública desde o nível local até o internacional.” 5
Atuando na divulgação independente de festivais de música, a “Mídia Livre Fora do Eixo”, como a Mídia Ninja era denominada anteriormente, tinha como objetivo principal narrar as ações do Fora do Eixo, visto que a grande mídia não demonstrava interesse em abordar os temas sugeridos pelo grupo. Em 2011, o grupo passou a estreitar relações com movimentos sociais e outros coletivos de midialivrismo, não se restringindo, então, apenas, à promoção das ações do coletivo Fora do Eixo, mas apurando seu olhar para as questões sociais mais amplas e que circundavam seus componentes, como, por exemplo, as questões de moradia, regulamentação das drogas e cultura digital. Alguns participantes da Mídia Ninja são jornalistas, mas a maior parte deles têm formações variadas. Para as coberturas dos fatos, o grupo organiza-se através de reuniões, em modelo descentralizado que busca romper com a hierarquia tradicionalmente presente nos veículos de grande circulação. Busca-se adotar um modelo colaborativo, em que todos são “livres” na proposta de pautas e coberturas, sem necessitarem obrigatoriamente de “aprovação” de um editor ou chefe de redação. O grupo recebe convites para participar de Assembleias dos movimentos sociais para entender as reivindicações e noticiar em suas ferramentas, o que auxilia o planejamento das coberturas. O midialivrismo busca mostrar a relevância da comunicação independente, fora do circuito das grandes empresas de comunicação. Atualmente, em todo o mundo, grupos como CMI – Centro de Mídia Independente, Al Jazeera e Democracy Now promovem a divulgação de movimentos sociais, além de interligar coletivos que trabalham dentro dos mesmos princípios de acesso livre à informação. O projeto de produção livre e independente do grupo expandiu-se, então, para várias cidades brasileiras que começaram a trabalhar de maneira integrada em um processo de retroalimentação, comunicando-se através de chats de comunicação, realizando reuniões periódicas para alinhamentos gerais. No entanto, cada núcleo é autônomo em suas pautas e produções. O grupo mantém, hoje, uma fan page na rede social Facebook, com 282 mil fãs e site na Plataforma Oximity que possui um sistema de editoria de conteúdo que permite que os próprios usuários sejam os editores da plataforma. Presente em todas capitais brasileiras, a Mídia Ninja fez sua primeira transmissão ao vivo em 2011, na “Marcha da Liberdade”, na cidade de São Paulo, através de um canal criado pelo grupo intitulado “POSTV”.
Cerca de 100 pessoas, atualmente, pensam e se dedicam exclusivamente à Mídia Ninja, em todo o Brasil. Estima-se que a rede total de colaboradores do coletivo seja de 200 pessoas. Ao contrário da necessidade de imparcialidade, conceito largamente apregoado no meio acadêmico e em cursos de Jornalismo, a Mídia Ninja orgulha-se em defender a parcialidade do jornalismo, visto que considera não existir, na prática cotidiana das redações, e no que é “consumido” pelo público, isenção no ato de noticiar. O midiativismo, para o Ninja, é a causa principal; defendemos a parcialidade subjetiva de quem produz conteúdo, não acreditamos em imparcialidade como o jornalismo tradicional e temos uma conexão muito forte com os movimentos sociais (...) que a gente entende que precisam de mais voz, que precisam de uma outra visibilidade, que as mídias corporativas, o jornalismo tradicional não proporcionam. (PEÇANHA, 2014).
O grupo, no entanto, reconhece que esse posicionamento é polêmico, pois “eles [os meios de comunicação tradicionais] têm dificuldade em assumir a própria parcialidade, (...) porque não defendem princípios e valores e sim interesses próprios e interesses que eles não querem expor.” (PEÇANHA, 2014). Esclarece ainda que: “a ação é o nosso envolvimento com a causa e não é porque temos um posicionamento e exprimimos essa parcialidade que não estamos fazendo uma produção jornalística, pelo contrário”. Para Rossi e Ramires (2013, p. 78), os profissionais de jornalismo produzem suas matérias lidando, sempre, com o conceito de isenção, atributo necessário para que o produto notícia receba um selo de qualidade. Segundo os autores, “a cobrança é feita pelos donos de jornais, editores, fontes que oferecem as notícias e também pela audiência”. No entanto, embora seja essa a “meta” do jornalista no exercício da sua profissão, manter-se 100% isento no momento da produção de notícias é um exercício que requer muito cuidado, visto que editores e donos de veículos, por exemplo, acabam interferindo nos materiais. Clóvis Barros (2008) problematiza sobre a questão ao considerar que não devemos ver esse debate de maneira simplista. Está claro que não se trata apenas de detectar as diversas versões ou opiniões sobre o mesmo fato. O pluralismo na imprensa (requisito primeiro da imparcialidade) “não corresponde a um balanço aritmético de conteúdos informativos ou de opinião, em que todas as opções políticas e ideológicas
têm uma quota proporcional de positivo/negativo, normal/ sensacional. Da mesma forma, em um sistema político bipartidário, não se trata de conjugar opostos. É algo mais amplo: pensando na enorme variedade de leitores e no conjunto social, onde há tantos matizes diferentes, trata-se de refletir a diversidade. (BARROS, 2008, p. 43).
O tema da imparcialidade jornalística, em qualquer esfera social, gera grandes debates, sendo, pois, matéria de muita polêmica. 6. METODOLOGIA E ANÁLISE Neste trabalho, baseamo-nos em dez aspectos enumerados por Downing (2004, p. 27), que podem funcionar como parâmetro para diferenciar a mídia radical da mídia convencional. Nosso objetivo é verificar a hipótese inicial de que o coletivo Mídia Ninja pode ser considerado uma mídia radical. Para esta análise, elencamos, na tabela seguinte, os aspectos propostos pelo autor e procuramos corresponder a cada um desses aspectos um trecho da entrevista coletada com Peçanha, coordenador de transmissões ao vivo da Mídia Ninja. Com essa metodologia, pretendemos compreender se o que é teorizado por Downing (2004) é visto no fazer diário do coletivo de imprensa, para, dessa forma, concluir se é possível caracterizá-lo como uma mídia radical. Nos depoimentos do ativista, destacamos em negrito trechos que entendemos como diretamente relacionados aos aspectos mencionados na teoria. Aspectos da categorização
Prática da Mídia Ninja Correspondente
1. Paradoxismo da palavra alternativa dentro do conceito de mídia radical, pois “qualquer coisa, em algum ponto, é alternativa a alguma outra.” (DOWNING, 2004, p. 27).
2. O ponto de vista do observador ou do ativista, “pode representar forças radicalmente negativas, bem como forças construtivas.” (DOWNING, 2004, p. 27).
“A gente se esforça pra falar além do “cercadinho”, furar a bolha e conseguir falar para mais pessoas que não estão familiarizadas com lutas ou com causas. Somos uma alternativa ao consumo de notícias, tal como existe hoje. Acreditamos ser uma boa alternativa.” (PEÇANHA, 2014) “Tudo que a gente faz no dia a dia é a melhor forma de nos posicionar contra o modelo de comunicação que está instituído, que é da manutenção do status quo, que é de algumas famílias detendo as concessões públicas e que ficam a mercê de alguns interesses, que são o dinheiro; do modelo em que poucas pessoas falam, de valores conservadores, preconceituosos, que não representam a diversidade plural de uma cultura como a do
3. Mídia radical como sendo, “em certas circunstâncias, a mídia da minoria étnica, (...) religiosa.” (DOWNING, 2004, p. 28)
nosso país, então temos essas como nossas motivações primeiras, de toda a nossa produção, de toda a nossa luta, que é quebrar esse monopólio de comunicação.” (PEÇANHA, 2014) “O nosso trabalho parte das causas das minorias, desses grupos e desses movimentos sociais como forma de dar visibilidade, mas a gente comunica para os “desorganizados”. A grande maioria das pessoas que curtem nosso Facebook não têm envolvimento com uma causa; não fazem parte dos “organizados”, muitas vezes está entrando em contato pela primeira vez com o tema da regulamentação da maconha, da regulamentação da mídia, por exemplo.” (PEÇANHA, 2014)
4. A mídia radical pode atrapalhar-se “com a profundidade do seu radicalismo e ainda mais com a eficácia da sua expressão.” (DOWNING, 2004, p.28)
“A grande maioria das pessoas que curtem nosso Facebook não têm envolvimento com uma causa; não fazem parte dos “organizados”, muitas vezes está entrando em contato pela primeira vez com o tema da regulamentação da maconha, da regulamentação da mídia, por exemplo.” (PEÇANHA, 2014)
5. Quando a mídia radical é forçada à clandestinidade, “os meios se veem de fato numa situação binária, do tipo ‘ou isto ou aquilo.’” (DOWNING, 2004, p.29)
“Em Agosto, logo após as manifestações, nós fomos fortemente criminalizados pelos grandes veículos. (...) A imagem que se tinha na época era de uma molecada com celular na mão cobrindo as manifestações. A partir daí uma série de setores conservadores se sentiram ameaçados e criaram várias reportagens especulativas, caluniosas, mentirosas, ofensivas em alguns casos. A Revista Veja ficou em uma produção muito intensa de conteúdo contra a gente. Ao sermos presos, nós mobilizamos parte do ato para exigir que fôssemos liberados.” (PEÇANHA, 2014) “A gente transmite ao vivo via celular, conectado a uma bateria externa e pela rede 3g. Fazemos, ainda, fotos em tempo real, exibidas em tempo real na página e também vídeos que são levados para casa, editados e posteriormente postados. A gente escreve direto da manifestação e também temos alguns colegas que ficam na base dando suporte (...), inclusive quando tem atos simultâneos em vários estados. Alguém fica recebendo conteúdo, dando uma refinada no material que chega e fazendo os posts.”
6. Enorme variedade de formatos (DOWNING, 2004, p. 29)
7. “Os meios radicais alternativos têm alguma coisa em comum, é o fato de romper regras (...).”(DOWNING, 2004, p. 29)
“Eu fui preso em 22 de junho e depois em 15 de março. É chato, mas fui preso por estar denunciando a própria violência policial e ela te censura. No primeiro dia do Papa no Brasil eu e outro rapaz fomos detidos porque estávamos transmitindo as manifestações ao redor do Palácio Guanabara, no Rio de Janeiro. A manifestação foi pra frente da delegacia exigindo que soltassem o Ninja. Notamos um grande
envolvimento dos movimentos sociais e de outros midiativistas, porque entendem que são veículos que dão voz a essas causas. Nós fomos agredidos lá em São Paulo e também fomos detidos lá, repórteres fotográficos, cinegrafistas. A gente rompia com as normas o tempo todo. Não ir identificado para as coberturas já é um rompimento e isso foi o que nos deixou tão próximo das pessoas que estavam ali nas manifestações.” (PEÇANHA, 2014) 8. Esses meios “são tipicamente de pequena escala” (DOWNING, 2004, p.29)
“Eu acho que é isso. Na parte em que fala “pequena escala” eu acho que sim, mas não pra sempre. A mídia radical não precisa ser só em pequenas escalas. Acho que em pequenos núcleos nós podemos fazer disputa na escala do que é a atual mídia hegemônica. Queremos disputar essa hegemonia, mas sem ser o novo hegemônico. Queremos uma nova grande mídia que pode surgir a partir da comunicação independente e do midiativismo e dessa produção livre. Seguiremos independentes na nossa produção. Nós somos um movimento social.” (PEÇANHA, 2014)
9.
A mídia radical alternativa “serve a dois propósitos precedentes: a) expressar verticalmente, a partir dos setores subordinados, oposição direta a estrutura de poder e seu comportamento; b) obter, horizontalmente, apoio e solidariedade e construir uma rede de relações contrárias às políticas públicas ou mesmo à própria sobrevivência da estrutura de poder.” (DOWNING, 2004, p. 29)
“Tudo que a gente faz no dia a dia é a melhor forma de nos posicionar contra o modelo de comunicação que está instituído, que é da manutenção do status quo, que é de algumas família detendo as concessões publicas e que ficam a mercê de alguns interesses, que são o dinheiro (...). Ao sermos presos nós mobilizamos parte da mobilização para exigir que a gente saísse. (PEÇANHA, 2014)
10. Tendência em ser mais “democrática do que a mídia estabelecida.” (DOWNING, 2004, p. 30)
“Nós nos consideramos totalmente mais democráticos do que a mídia hegemônica. Porque quando você tá na rua entrevistando um morador de rua ou um prefeito como fizemos com o Eduardo Paes, a gente tá indo de uma ponta a outra e estamos tentando conversar com essas minorias que não têm visibilidade e que são perseguidas e criminalizadas. É claro que a gente não dá conta da pluralidade das etnias, dos costumes, da cultura brasileira, mas a gente se esforça em buscar dar relevância a uma série de direitos fundamentais que precisam ser provocados, para que ganhem espaço e conquistem vitórias públicas, e no imaginário das pessoas, para a construção do espaço democrático.”
7. RESULTADOS E CONSIDERAÇÕES FINAIS A Mídia Ninja surgiu em junho de 2013, com uma proposta diferenciada do que existia até então, procurando mostrar o outro lado da notícia. Em um momento em que a mídia tradicional optou por marginalizar o movimento, dando foco principal aos atos de vandalismo praticados por um grupo, o coletivo buscou o contrário, enfatizando a violência dos policiais na repressão aos manifestantes. Com audiência de até 200 mil pessoas, em sua transmissão ao vivo e com mais de 260 mil pessoas em suas redes sociais, o coletivo ganhou a simpatia dos manifestantes e de uma parcela da população, que passou a repudiar os veículos tradicionais durante os atos que duraram um mês. Depois da violenta repressão policial do dia 13 de junho, os veículos da mídia tradicional mudaram o tom da cobertura. A entrevista realizada com o principal articulador do movimento, Filipe Peçanha, foi fundamental para que pudéssemos contrapor o modelo de mídia radical proposto por Downing (2004) ao modelo praticado pela Mídia Ninja. Como demonstrado no item anterior, foi possível localizar nas falas de Peçanha indícios que levam a uma aproximação entre os dois modelos em todas as categorias sugeridas pelo teórico. Os itens em destaque na seção anterior podem caracterizar o coletivo como uma mídia que se posiciona contra o modelo oficial e o monopólio de comunicação, em favor de causas sensíveis a minorias. Trata-se também de um trabalho de pequena escala, que não pretende se tornar hegemônico, interessado em buscar a ruptura com regras estabelecidas e, por isso, alvo de intensa perseguição e criminalização. O grupo se considera democrático e faz uso de formatos variados para transmitir seu conteúdo (fotos, vídeos, textos – tudo ao vivo e também editado). Todos esses fatores, citados por Peçanha, e presentes também na proposição teórica de Downing, permitem-nos concluir que o coletivo Mídia Ninja pode ser caracterizado, de forma legítima, como uma mídia radical, de acordo com esse arcabouço teórico. É importante destacar que esse trabalho constitui um esboço de entendimento de um movimento bastante amplo, que é o de surgimento e consolidação de mídias alternativas e radicais no país. Nosso objetivo foi apenas sinalizar as principais características que o grupo atribui a si próprio, procurando enquadrá-las dentro do que vem sendo teorizado nessa área da comunicação. Estudos mais aprofundados e de
maior fôlego podem colaborar ainda mais para a compreensão de um fenômeno que é de suma importância para o jornalismo e para a comunicação como um todo. REFERÊNCIAS DOWNING, John D. H. Mídia Radical: rebeldia nas comunicações e movimentos sociais. 2. ed. São Paulo: Senac São Paulo, 2004. CASTELLS, Manuel. Redes de indignação e esperança: movimentos sociais na era da internet.1. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2013. CHAUI, Marilena. Cultura e Democracia. In: Crítica e y emancipación: Revista Latinoamericana de Ciencias Sociales, Año1, n. 1. Buenos Aires: CLACSO, 2008. Disponível em: http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/secret/CyE/cye3S2a.pdf SAMWAYS, Daniel Trevisan. Censura à imprensa e a busca de legitimidade no regime militar. Apresentado durante o IX Encontro Estadual de História, Rio Grande do Sul, 2008. Disponível em: http://eeh2008.anpuhrs.org.br/resources/content/anais/1212349634_ARQUIVO_Cens uraaimprensaeabuscadelegitimidadenoregimemilitar.pdf FAUSTO, Boris. História Concisa do Brasil. 2 ed. São Paulo: EDUSP. LUCIANA, Lima, POMAR, Marcelo, Ortellado, Pablo. Vinte centavos: a luta contra o aumento. 1. Ed. São Paulo: Veneta, 2013. Trecho sobre o papel desempenhado pelo Grupo Fora do Eixo, retirado do site: www.foradoeixo.org.br, em 7 de junho de 2014. ROSSI, Michelle, RAMIRES, Marques Mário: A Imparcialidade como Conceito de Qualidade Jornalística. Revista Comunicação e Mercado: Revista Internacional de Ciências Sociais Aplicadas das UNIGRAN. 4. ed. Dourados – MS, 2013. Entrevista com Filipe Peçanha, Coordenador de transmissões ao vivo da Mídia Ninja, no dia 22 de março de 2014, via Skype. BARROS FILHO, Clóvis de. Ética na Comunicação. 6. ed. São Paulo: Summus, 2008. CERVO, Amado L, BERVIAN, Pedro A: Metodologia Científica. 5. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2002. RECUERO, Raquel. Redes sociais na Internet. 2 edição. Porto Alegre: Sulina, 2014. PARENTE, Renata Escarião. Do Midialivrismo de massa ao Midialivrismo Ciberativista: uma reflexão sobre as perspectivas de comunicação alternativa no Brasil. Trabalho apresentado ao Grupo de Trabalho Comunicação e Cidadania do
XXIII Encontro Anual da Compós, na Universidade Federal do Pará, Belém, de 27 a 30 de maio de 2014. Pesquisa Perfil dos Manifestantes (http://g1.globo.com/brasil/noticia/2013/06/veja-integra-da-pesquisa-do-ibope-sobreos-manifestantes.html).