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981.642 B348s
Baumgarten, Christina Elisa Sua majestade, o Itajaí-Açu : memórias, histórias e heranças de um rio / Christina Baumgarten. – Blumenau : HB, 2008. 208p. : il. col. ISBN: 978-85-86864-49-0 1. Rios – Importância na história 2. Itajaí-Açu, Rio, Vale – (SC) – História I. Título II. Título: Memórias, histórias e heranças de um rio.
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Desde que o mundo é mundo e que se estabeleceram os primeiros arremedos de civilização, os rios são determinantes no desenvolvimento das comunidades e na história humana. Conforme o historiador inglês Geofrey Blainey, “se um viajante incansável tivesse vivido no Oriente Médio em 4.000 a.C. e tivesse realizado o feito pouco comum – talvez impossível – de cruzar por terra toda a extensão que vai das margens do Mar Negro ao alto Rio Nilo, não teria encontrado nenhum monumento de maior vulto. Não teria encontrado nenhuma cidade, nenhum templo do conhecimento e nenhum palácio real de grande luxo. Se, aproximadamente mil e quinhentos anos mais tarde, suas pegadas tivessem sido rastreadas por outro viajante, visões deslumbrantes teriam sido relativamente comuns, principalmente ao longo dos grandes rios da região. Quatro volumosos rios deste canto do mundo e vários outros importantes rios de outras terras mais afastadas tiveram um papel fundamental no despertar da civilização.” Historicamente, sabemos que os grandes rios do Oriente Médio atravessavam planícies secas, cujo solo se enriquecia com as enchentes anuais. Dezenas de milhões de toneladas de sedimentos eram carregados corrente abaixo e
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espalhados em camadas finas sobre o solo empobrecido, formando uma camada fertilizante que gerava a vida. Nas estações secas, os canais carregavam a água dos rios para irrigar as terras aráveis, queimadas pelo sol. Nas planícies alagadas, as pessoas e as cidades podiam receber mais alimentos do que em qualquer outro lugar do mundo daquela época. Em um tempo em que o transporte por terra era primitivo, os rios largos eram também uma estrada, ao longo da qual os barcos podiam transportar a partes longínquas do reino e por um custo baixo, alimentos, suprimentos, pedras, metais e outras riquezas, além de pessoas. Os exemplos mais clássicos de riqueza gerada por um rio são o Nilo, que nutriu extraordinariamente a civilização do Egito; os rios gêmeos Tigre e Eufrates, que permitiram o florescimento das civilizações mesopotâmicas como a Assíria, a Suméria e a Babilônia. Na Suméria, belas cidades surgiram às margens dos rios e canais por volta do ano 3000 a.C., enquanto o desenvolvimento da arte de contar foi mérito primeiro da Babilônia. Já a Assíria consagrou-se como o berço do comércio, mas todas elas deviam sua riqueza, poder e beleza à fertilidade
dos assim chamados rios gêmeos que, alimentados pelo derretimento da neve nas montanhas da Turquia e já tendo percorrido quase dois terços de sua viagem até o mar, formavam entre eles uma planície quente e de fertilidade incomparável. Suas terras eram abundantes quando plantadas com cevada e trigo. Enquanto na maioria das regiões os agricultores tinham que cavar a terra com pedaços de pau afiados e pás rudimentares, neste vale era possível realmente arar a terra, possibilitando assim que uma grande área fosse cultivada por um número pequeno de servos e enriquecendo sobremaneira toda a região. As casas, as campinas e os pomares de Nínive, a mais deslumbrante das capitais da Assíria, eram abastecidas com água que corria por um canal vindo das cadeias de montanhas. Nas vastas planícies que os dois rios gigantescos atravessavam, várias cidades nasceram durante um período de 2 mil anos, deixando a marca de uma civilização adiantada e poderosa. O poder que vinha da riqueza trazida pelo rio também foi constatado no Vale do Indo, banhado por rios que desciam das neves do Himalaia e deslizavam até o Mar das Arábias. Embora o Rio Indo tenha dado à Índia o seu nome, a maior parte de suas águas ficam hoje dentro da República do Paquistão. O Vale do Indo era generosamente privilegiado pela natureza. Uma floresta brotava ao longo de suas margens
férteis, e quando desmatada, revelou um solo rico. O rio era excelente para a agricultura, pois as enchentes anuais, maiores que as do Nilo, inundavam as áreas mais baixas no período entre junho e setembro. A cada ano, elas espalhavam uma camada de sedimento que enriquecia o solo. A civilização que prosperou em torno do Rio Indo surgiu por volta de 2.500 a.C. e floresceu por aproximadamente sete séculos. E finalmente, o fato de outra civilização asiática ter surgido nos vales quentes e sedimentados da China é uma cabal evidência da importância e influência que os grandes rios tiveram sobre a história humana. Fluindo gota a gota desde as nascentes, fossem elas as neves derretidas das grandes montanhas, ou as escondidas e ricas minas d´água que afloravam nos locais mais inusitados, os rios sempre foram objeto de encanto, surpresa, sucesso e desespero para as civilizações humanas. Assim como a história de grandes cidades como Londres, Paris e Hamburgo estarão para sempre marcadas pela existência dos rios que até hoje correm através delas, como o Tamisa, o Sena e o Danúbio, assim também a história das gentes do Vale do Itajaí esteve e estará para sempre marcada pela existência e pela passagem do majestoso ItajaíAçu. Nascendo no Alto do Vale, na região da Serra do Morro Alto, hoje município de Rio do Campo, ele se desenrola como um novelo líquido através de 200 quilômetros de uma longa e sinuosa caminhada, espalhando vida, encanto, fertilidade e medo numa população estimada de 1 milhão de habitantes.
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Vale do Itajaí (Poema de Christiana Elisa Deeke Barreto, escrito em Janeiro de 1937) Ó Pátria! tu! Desde a infância longe no passado o coração senti de tua imagem impregnado. Ó Pátria, tu das catedrais de matas altaneiras junto ao rio caudaloso, de leito esverdeado por murtas rasteiras! Saltando já em branca espuma dos rochedos, cantando, logo mais, debaixo dos arvoredos, para deslizar, depois, silenciosos, escuro e profundo, como a ocultar um segredo obscuro ao mundo. Ilhas apontam da calma da paisagem com mata milenária, barbas de musgo na ramagem, onde orquídeas florescem em profusão silvestre, ressoando o bater da araponga pela paisagem agreste. Logo mais, em leito raso, o rio torna a se alargar, correndo as águas em faceiro borbulhar. Três braços – Norte, Sul e Oeste a sua bacia vêm formando, com numerosos afluentes neles desaguando. E o rio prossegue, vale abaixo, sem descanso, por trechos raros, íngremes ou profundos, no cenário variado de seu avanço. Até que, no Salto do Norte, majestoso como trovão o estrondo faz estremecer o nosso coração. Vencido, finalmente, o ímpeto inclemente, ele desliza sereno, carregando cargas pacientemente. Carrega cargas? Sim, em tempos idos, desde que, a esse torrão, colonos foram trazidos. Não existiam, então, caminhos – pontes no ermo do sertão, tendo sido o rio o único meio de comunicação. Através de canoas – balsas – até tornar-se eminente, a navegação fluvial a vapor e de comboios de lanchas a motor
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para um transporte mais eficiente. Foi revogado o sistema pelo progresso, sempre mais acelerado, repousando em terra o último vapor, um monumento ao passado. Repousa velho e desgastado sobre colunas estribeiras, junto às águas do rio, que refletem paisagens ribanceiras. Junto ao rio, cujo espelho ele em milhares de viagens singrara, quando - rio abaixo – acima passageiro e fretes transportara. Gozando agora a inatividade merecida, espelhando-se no rio que, sereno prossegue na descida, entre margens mais rasas, lerdo a se alargar como que, cansado – com saudades do mar, já se fazendo o fim, de seu percurso pressentir, Um rio – irmão menor – vindo a ele se unir. Encontrando as águas, logo, após, o final traçado ele deságua tranqüilo no oceano agitado. Ó Pátria! Tu, das catedrais de matas altaneiras, junto ao rio caudaloso, de leito esverdeado por murtas rasteiras! Sempre e sempre eu fico a me auscultar para dentro de minh´ alma ouvir, de tuas matas e águas, o doce murmurar. Imaginando-te aos dias de sol, de frio hibernal, sob o céu cristalino soprando o vento terral ou, abrasada sob mormaço intenso de verão sob céu de negrumes, prenúncio de raios e trovão depois de temporais, quando o rio amarelo – desenfreado transbordando o leito, transforma vastas áreas em banhado. Em noites serenas, de luar e solidão profusa cortando o silêncio o grito rouco da coruja.
quando o Cruzeiro do Sul no céu resplandesce e os nossos pensamentos se transformam em preces... Ó Pátria! Tu! De verdes matas e esplendor, junto ao rio caudaloso, sob véu cor-de-rosa quando as murtas em flor! Em cujas margens avançam, através de exuberante flora caminhos e estradas, seguindo ao longe terra afora onde, outrora, ressoava o eco das pancadas do aço, penetrando no cerne das florestas a machadadas quando depois, no emaranhado de galhos secos, o fogo lavrava em altas labaredas, ao longe, a sua presença anunciava com crepitar assustador e abrasante, entre estalos e chiados destruía tudo que, há milênios, permanecia intocado Onde depois nas cinzas, entre toras semi-carbonizadas, por mãos calejadas plantações, foram cultivadas, até que o colono, com perseverança e suor, À paisagem rebelde conseguia a sua marcação impor! E ele a gleba, que lhe dá o pão o solo que ele lavra, ama e venera com devoção, não como escravo em terras estranhas mourejando, mas como filho, em seio materno repousando! Igual a todos, que jamais a esta terra aportaram, e a alma desta terra, sem restrições aceitaram. Sentindo-se ligado, assim, a todo habitante deste país imenso, do qual és parte integrante. E onde todos, em cada dia de sua vida, dentro de si veneram a imagem desta terra Pátria querida! Ó Pátria! Tu, das catedrais de matas altaneiras, junto ao rio caudaloso, de leito esverdeado por murtas rasteiras!
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Desde que a colonização do Vale iniciou, no primeiro terço do século dezenove, o Rio Itajaí-Açu tem sido fundamental no gradativo processo de ocupação de terras que, deslumbra-se quem põe nelas os olhos até hoje, também sempre teve muito de desafio e dificuldades. O nome Itajaí-Açu é de origem indígena e foi adotado pelos índios carijós que ocupavam a praia de Cabeçudas, no município de Itajaí. Lá há, até hoje, uma monumental pedra que, provavelmente, deve ter se deslocado de uma encosta em priscas eras e, equilibrando-se de maneira surpreendente sobre as escarpas que formam a praia, assume uma formação original que atualmente é conhecida como Bico do Papagaio. Na sua forma original esta formação assemelhava-se à cabeça de uma ave, o Jaó. Por este motivo a palavra Itajaí-Açu significa: ITA = pedra; JAÓ = o pássaro, a ave; AÇU = rio grande, ou seja, Rio Grande do Pássaro de Pedra. Desde os idos de 1800 ouve-se ecos da presença de colonizadores nas terras do grande vale, porém muito antes deles, estas terras foram todas palmilhadas e exploradas pelos Xoklengs, indígenas originários do tronco dos Gês-Tapuias
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que habitaram estas terras desde tempos imemoriais. Semi-nômades, estabeleciam acampamentos praticamente fixos nos altiplanos das serras e aventuravam-se em excursões de caça e pesca por todo este imenso e inexplorado território que, por decreto da mãe natureza, a eles pertencia. Quando começaram a topar com a presença dos imigrantes europeus que tomaram de assalto as terras desta região, muitos conflitos surgiram, gerando uma gradativa destruição das tradições indígenas que hoje se encontram praticamente extintas. Mas, sem sombra de dúvida foram eles os primeiros a reverenciar a majestade do rio que se estendia ao longo do vale, sobrevivente e testemunha das constantes alterações da caprichosa natureza. O conhecimento hodierno nos afasta da romântica visão de que o Doutor Blumenau foi o primeiro a palmilhar as terras do Vale do Itajaí-Açu, em busca de um local aprazível para estabelecer um empreendimento colonizador. Desde 1500, na mesma época em que as valentes caravelas portuguesas esquadrinhavam as nossas costas, as terras catarinas já eram constantemente visitadas por exploradores d’além mar. Registros oficiais marcam a passagem do comerciante francês Binot Palmiére de Gonneville em 1505 pelas terras
de São Francisco do Sul e, desde então, foi constante a presença de estrangeiros em busca de conhecimento, aventuras e principalmente riquezas da nossa terra. Em 1820 o cientista francês Saint Hilaire passou pelo território catarinense e deixou fartos registros desta passagem, descrevendo a riqueza da nossa flora, fauna e belezas naturais. Em suas expedições pelo interior do estado, acabou topando com o Major Agostinho Alves Ramos, que por esta época estava explorando as terras do Vale e logo em seguida, no ano de 1821, estabeleceu-se na foz do Rio Itajaí-Açu, construindo uma capela e agrupando em torno de 40 pessoas num povoado que daria origem à cidade de Itajaí. Quando ele tomou esta iniciativa, já havia inúmeros moradores pelas margens do Itajaí-Açu, porém eram moradores esparsos, que por ali haviam se estabelecido sem o intuito pré-concebido de fundar qualquer povoação. Durante muito tempo o assentamento de Alves Ramos serviria como um posto avançado para as constantes entradas de aventureiros e exploradores que subiam o Rio ItajaíAçu. Servindo como elo fundamental de ligação entre o litoral, já palmilhado por muitos moradores e viajantes, e o interior bravio e inexplorado, o grande rio tinha uma presença constante, majestosa e fundamental na vida de todas aquelas pessoas. Em 1835, a colonização das terras do vale recebeu um grande incremento com a promulgação da Lei no. 11, inspirada exatamente pelo mesmo Agostinho Alves Ramos que, então, tornara-se Deputado Provincial. Dizia a Lei: “Artigo 1º.: Nos Rios Itajaí e Itajaí-Mirim, da freguesia do Santíssimo Sacramento, se estabelecerão duas colônias, cada uma com dois arraiais.” “Artigo 2º.: Nos lugares denominados Pocinho e Tabuleiro se situarão os dois primeiros arraiais. Os dois últimos, no caso de progredirem as colônias, deverão ser, um nas nascentes do Ribeirão Conceição, braço deste último, e o outro no alto daquele, no lugar denominado Belchior, ou mais acima, em sítio tal que ambas as margens possam ser habitadas.” A principal inferência que se pode fazer da leitura deste enunciado legal é que a colonização daquelas terras estava toda respaldada na existência, traçado e possibilidades do Rio Itajaí-Açu e seus afluentes. Outro aspecto interessante a observar é que a ambição da conquista de novas terras e, consequentemente, das riquezas que estas poderiam trazer, já era fator preponderante naquelas priscas épocas em que a colonização dava seus primeiros e incipientes passos. Tanto é que, no ano de 1842, Alves Ramos foi visitado
pelo engenheiro belga, Charles van Lede, que vinha para percorrer a província de Santa Catarina no afã de encontrar um local adequado para a instalação de uma colônia belga. De suas explorações, ele acabou publicando uma extensa obra denominada “De la colonisation au Brésil – Mémoire Historique, descriptif, statistique et commerciel sur La Province de Sainthe Catherine” (Memórias históricas, descritivas, estatísticas e comerciais da colonização do Brasil na província de Santa Catarina) nas quais se destacam algumas descrições detalhadas do que deve ter sido uma das primeiras sondagens técnicas exploratórias da bacia hidrográfica do Rio Itajaí-Açu. A expedição, iniciada em 31 de março de 1842, durou 5 dias e contou com a presença de inúmeros homens, além do engenheiro e do Inspetor Provincial José Gomes Almeida, que serviu de guia para o grupo. Van Lede descreveu em seu livro, com riqueza de detalhes, o que seus olhos de europeu maravilhado avistaram, desenhando o que deve ter sido uma das primeiras visualizações do entorno do majestoso rio: “Saímos às 2h45min. na direção nordeste; o rio apresenta um profundidade de 12 metros, a velocidade das águas é de 9.255 metros por hora, a altura dos barrancos marginais é de 1 metro em ambas as margens. Achei curioso o fato de que os dois rios (Itajaí-Açu e Itajaí-Mirim) são baixos, mais ou menos um metro abaixo da maré alta. A redondeza é toda coberta de matas. Depois de navegarmos aproximadamente meia hora, a água continuando salobra e uma total ausência de terras cultivadas, divisamos a nordeste o Morro da Itapocoróia e, um pouco mais adiante, o Morro “Bahul”. Na localidade de “Sacco Grande, onde chegamos aproximadamente 1 hora após a partida, encontramos algumas casas na margem esquerda. Aproveitamos para procurar mais re-
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madores e seguimos até a confluência do Itajaí-Mirim, na direção sudeste, onde o rio atinge uma largura de aproximadamente 80 metros. Suas margens são totalmente desabitadas, cobertas de floresta virgem apresentando terrenos planos e uniformes. Às 5h00 da tarde chegamos ao Saco do Machado, e percebemos que o rio apresenta aqui grande profundidade. Uma tarde lindíssima! Que terra maravilhosa! A medida que progredimos a vegetação vai ficando cada vez mais bela; o solo é de areia e quartzo. A nordeste aparece uma serra, que provavelmente separa o Vale do Itajaí do Camboriú-Mirim. São 6h22min e começa a escurecer, portanto paramos para acampar. Segundo dia de viagem, 1º. de abril de 1842: Partimos na direção oeste às 6h13min, reconhecendo uma paisagem que continua plana e coberta de matas virgens. Há pouquíssimas habitações e praticamente sem planta-
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ções. Às 7h45min avistamos o morro d´Ilhota. O terreno é arenoso e coberto de matas virgens. Avistamos uma casa na margem direita. Desemboca neste local o Ribeirão dos Pinheiros e a vegetação continua “excessivamente vigorosa” (o grifo é do autor) Às 10h50min atingimos a confluência com o Rio Luiz Alves. Este rio é navegável até o primeiro salto, em três dias de viagem. Ouve-se o latir de cachorros caçando nas florestas, um vento leve na direção nordeste e continuamos a viagem com as velas desfraldadas. No início da tarde, 1h12min, atingimos a habitação de Henrique Flores. São 12 mil pés de café, arroz e cana-deaçúcar A propriedade de Flores acompanha duas léguas e meia o percurso do rio com a profundidade de uma légua. Às 2h06min avistamos Poço Grande, um local de vegetação densa, admirável e algumas raras derrubadas. Na margem direita o que se vê ainda são as terras de Flores e na margem esquerda anotei a desembocadura do Ribeirão Estalei-
ro dos Naos. Observei a presença de muitos paus de Tajuva, usados para tingir, é uma madeira corante de belíssima cor amarela. Anotei uma formação carbonífera e areia xistosa. O rio aperta-se entre as margens, com pedras e rochedos no leito. Às 4h40min chegamos numa colônia alemã, com um pequeno riacho pela margem esquerda, e pernoitamos no sítio do colono alemão Nicolai. Terceiro dia de viagem, 02 de abril de 1842: Partimos às 7h48min na direção noroeste. Às 8h43min avistamos a desembocadura do Ribeirão do Belchior, que é navegável apenas algumas léguas. Há muitos paus de cedro, uma estratificação arenosa e carbonífera, e em seguida a Ilha Belchior, com 200 metros de largura e 800 metros de comprimento. Às 9h21 min chegamos na casa do Inspetor Almeida, que nos acompanha e fizemos uma parada. Continuamos à tarde, saindo com 13 homens às 2h40min. Uma meia hora depois, tivemos uma vista maravilhosa sobre colinas em forma de anfiteatro, cobertas com a mais rica e exuberante
vegetação, um riacho do lado direito e uma habitação na margem esquerda. No final da tarde, depois de passar por inúmeros riachos e muita mata virgem e exuberante, atingimos uma ponta de praia, onde aparece novamente a estratificação da formação do solo com as mesmas características. Acampamos na Praia Grande às 5h19min. Quarto dia de viagem, 03 de abril de 1842: Nossa partida se deu às 6h05min, na direção oeste. A largura do rio aqui é de 150 metros. Observamos na margem direita o Ribeirão Garcia. O aspecto da paisagem é cada vez mais belo. Nos barrancos há marcações que indicam que as águas aqui sobem até 8 metros acima do nível normal do rio. O terreno é plano e somente a uma distância de mil metros divisa-se algumas colinas de mais ou menos 80 metros de altura. Na margem direita encontramos um rio navegável – a Velha. A 2 mil metros a nordeste há uma elevação de 300 metros que reconhecemos ser o Morro da Fortaleza. Aqui encontramos a Ilha da Fortaleza. Na margem es-
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querda vê-se alguma formação conglomerada, blocos enormes de pedra formando um porto natural que dá condições de atracação para embarcações de até 8 metros de calado. A correnteza aqui é de 6 mil metros, e a vegetação sempre a mesma. Um pouco mais adiante divisa-se, na margem esquerda, o grande riacho Fortaleza, e rochedos no rio a 6 metros da margem direita. Toda a margem direita do rio, até o Salto, é terra requerida pelo Tenente Coronel Agostinho Alves Ramos e totalmente inabitada. Às 10h00 da manhã atingimos o Ribeirão da Topava, na direção nordeste, um rochedo de 10 metros de altura no meio do leito do rio e nossa última parada, a 2 quilômetros do salto do Itajaí-Grande. Há 2 quilômetros antes do Salto, encontramos as águas em estiagem, a correnteza muito forte, a equipagem fatigada e muitos os perigos. Parecia que, a cada momento, íamos chocar-nos com algum banco de areia ou rochedo que aparecia cada vez mais constantemente. Resolvemos fazer o resto do caminho a pé, atracando na margem direita em um lugar onde outrora, alguns moradores tinham cosntruído uma choupana para refúgio noturno. Caminhamos através do mato fechado, de bússola na mão, temerosos de nos perdermos em meio à densa floresta virgem e cheia de perigos. Depois de quase quatro horas de caminhada chegamos novamente às margens do rio e qual não foi a nossa
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surpresa ao verificar, mais abaixo, a nossa embarcação, no mesmo lugar onde a deixáramos. Percebemos então que tínhamos vencido apenas 2 quilômetros através do terreno extremamente acidentado. Não haveria tempo hábil para chegar até o Salto, que era nosso objetivo e, cansados e decepcionados, resolvemos retornar para a embarcação. Às 16h30min nossa expedição já descia o rio, levada pela correnteza. Às 18h00 chegamos novamente à casa do Inspetor Almeida, e exaustos, nos atiramos ao chão para descansar e recuperar do cansaço extremo que sentíamos. Sómente no dia seguinte prosseguimos em nossa excursão, retornando para a colônia do Santíssimo Sacramento.” Pelas descrições de van Lede, tudo leva a crer que o ápice de sua aventura aconteceu exatamente onde, alguns anos depois, surgiria a colônia do operoso Doutor Blumenau. O local do acampamento da última noite na floresta parece, pela descrição do engenheiro, ser exatamente o que atualmente denomina-se “Prainha” e fica no coração da hoje cidade de Blumenau. Também é interessante observar que, pelas suas descrições, ele julgava, bem como a maioria das pessoas que residiam pelas cercanias naqueles idos tempos, que as nascentes do Rio Itajaí-Açu, naquela época mais conhecido como Itajaí Grande, ficavam logo acima da região onde hoje situa-se o município de Blumenau. Atualmente sabemos que
elas estão a quase 200 quilômetros além desta fronteira, encravadas na bela serra do Morro Alto, no município de Rio do Campo. Mas naqueles tempos, elas permaneciam silenciosas no seio da terra, protegidas por mata cerrada, indígenas bravios e rochas escarpadas. Seria quase impossível a um aventureiro, naquela época, localizar estes ricos mananciais. Haja vista a dificuldade de Charles van Lede em percorrer uma trajetória que hoje é possível fazer de automóvel em aproximadamente 45 minutos. Ele levou quatro dias! Foi somente em 1867 que o intrépido engenheiro agrimensor Emil Odebrecht chegou às nascentes do Itajaí, na distante e bravia cercania onde se situam, atualmente, os municípios de Rio do Campo e Papanduva. Em 1848, um fato marcou para sempre o Vale do Itajaí. Subindo com uma balsa improvisada e algo perigosa, um jovem alemão estudioso e aventureiro tomou-se de amor por esta região, que aos seus olhos afigurava-se como uma visão do paraíso. Hermann Bruno Otto Blumenau, proveniente do Condado de Brunswick, veio da distante Alemanha para marcar eternamente a vida do grande rio e todo o seu entorno. Podemos imaginá-lo, subindo lentamente o majestoso rio, desde a cidade de Itajaí, que naquela época chamava-se Colônia do Santíssimo Sacramento, observando detidamente as margens férteis e aromáticas do grande rio, exalando o perfume das orquídeas, ostentando entre folhas de um verde intenso as cores de suas muitas espécies vegetais.
O encanto sobreveio, enquanto o marulho da água movida pela grande e improvisada embarcação embalava os sonhos grandiosos do colonizador com alma de sonhador. Enquanto na Alemanha as terras escasseavam e eram alvo de intermináveis disputas, ali a imensidão era tanta, que entrava na alma como um encanto sutil, um feitiço eterno. Seus olhos se alongaram floresta adentro, tentando devassar a grande muralha verde de folhas, cipós, troncos, galhos... flores de matizes e coloridos inusitados, enormes árvores de um copado glorioso, a majestade da floresta se impondo até as margens do grande rio... e este, como uma esteira luminosa, propiciando o transporte de um tudo, prometia prosperidade e sucesso a qualquer empreendimento ali levado a efeito! O Doutor Blumenau apaixonou-se pelo Vale do Itajaí mesmo tendo visto apenas uma pequena parcela dele, e sonhou com aquela terra colonizada, dominada, arada e fértil como os vales do milenar Nilo, do qual todo homem culto conhecia a existência. Do sonhar até a execução passaram-se muitos anos, mas é certo que, desde a primeira vez em que subiu o Vale navegando as intrépidas águas do Rio Itajaí-Açu, nenhum dos dois jamais foi o mesmo: nem o corajoso desbravador, nem as terras por ele palmilhadas. O marco inicial deste processo é o ano de 1850, quando chegaram oficialmente à colônia os primeiros 17 moradores, provenientes da Alemanha e arregimentados por Blumenau e seu sobrinho Reinhold Gaertner.
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Uma gota de justica A Obra “Desbravadores do Vale do Itajaí” um óleo sobre tela pintado originalmente no tamanho 0,85 x 1,25 metros teve, durante décadas, a sua autoria ignorada pelo grande público. Por um descaso impossível de agora responsabilizar, o seu autor, o iluminado pintor catarinense Kurt Guilherme Herrmann foi esquecido e a obra, executada especialmente para o centenário de Blumenau, em 1950, relegada a segundo plano. Kurt Guilherme Herrmann, catarinense nascido em Corupá no dia 31 de janeiro de 1907, notabilizou-se pelos temas históricos de tal forma que foi considerado o segundo “Victor Meirelles" da pictografia brasileira. Realizou exposições no Automóvel Clube do Rio de Janeiro, no Jockey Club de São Paulo, no Salão de Exposições do Lord Hotel em Curitiba e nos centenários das cidades de Joinville e Blumenau. Quando da exposição realizada no Automóvel Clube do Rio de Janeiro, reuniu a nata da classe artística brasileira, gerando críticas favoráveis em toda a imprensa nacional. Seu acervo de obras, hoje espalhado em museus e coleções em todo o Brasil, está a merecer a devida atenção que tamanho talento deveria despertar nos catarinenses. “Desbravadores do Vale do Itajaí”, que já teve sua autoria atribuída a inúmeros outros artistas catarinenses, é uma imagem perfeita, que permanece ao longo de décadas a evocar a coragem e o pioneirismo de nossos ancestrais que, assim como o próprio Kurt Guilherme Herrmann, souberam construir com seu talento, uma nova realidade para todos nós. Que se corrija agora, esta imensa injustiça cometida com o grandioso talento de Kurt Guilherme Herrmann!
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A colônia prosperou às margens do grande rio, tanto vivendo de sua fartura e fecundidade quanto sofrendo por seus humores alterados que, vez por outra, faziam transbordar ferozmente as suas águas, levando junto no retorno a maior parte dos indenes esforços da colonada. Mas, apesar das periódicas cheias do Itajaí-Açu, a colônia foi crescendo gradativamente e abrangendo um território cada vez mais extenso daquela bacia fluvial. Pequenos aglomerados humanos foram se formando, sempre às margens do dadivoso rio que, ora dava, ora tirava a prosperidade daquelas comunidades. Seja explorando a possibilidade de novas terras, seja perseguindo os indígenas que volta e meia causavam estragos e mortes nas comunidades, mas sempre movidos pela ambição da conquista de um maior território, os homens foram avançando gradativamente rumo às terras bravias da serra e do planalto, explorando os inúmeros afluentes da enorme bacia e compreendendo, a pouco e pouco, a grandiosidade do sistema fluvial que formava e servia o imenso e fértil Vale do Itajaí. As comunidades daquela época, totalmente desprovidas de consciência ecológica, usavam e abusavam das águas do rio, desmatavam celeremente o seu entorno, destruíam a sua mata ciliar, sem em momento algum perceber que esta selvagem “colonização” traria conseqüências graves para o futuro da região. A madeira ia surgindo, fruto do tombamento célere dos grandes gigantes da floresta: cedros, camboatás, figueiras, canelas, mognos e araucárias iam caindo diariamente sob a ação organizada de um verdadei-
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ro batalhão de homens operosos que, visando à construção de cidades, avenidas, pontes, residências e sedes para seus negócios, não poupavam esforços no desmatamento progressivo de toda a região. A água dos rios, utilizada tanto para irrigação da lavoura como para consumo familiar, começou a manifestar os primeiros sintomas de doença e comprometimento, fruto das selvagens investidas sofridas de forma sistemática. No início do século XX as comunidades do Vale do Itajaí, quase sem exceção, apresentavam muitos problemas endêmicos, tais como o tifo, as verminoses, o impaludismo e o amarelão, frutos da utilização indiscriminada de águas contaminadas na alimentação, higiene e preparo dos alimentos. Os homens encarregados dos poderes públicos começaram a sentir necessidade de combater os problemas mais graves, primeiro de maneira corretiva, para em seguida perceber a necessidade de medidas preventivas. Começaram a surgir as primeiras iniciativas que, mesmo incipientes, marcavam de maneira indelével o surgimento de um novo estado de coisas. Numa extensa narrativa publicada nos anos de 1950 na Revista Blumenau em Cadernos, o Engenheiro Reinoldo Althof narra, com riqueza de detalhes, o elenco de providências que haviam sido tomadas ao longo dos anos anteriores para combater os problemas. Mesmo que involuntariamente, o comentarista teceu uma crônica histórica do que viria a ser, no futuro, uma radiografia da situação sanitária do Vale do Itajaí, bem como o conceito de utilização das águas do Rio Itajaí-Açu:
" O Abastecimento de Agua de Blumenau - Reinoldo Althoff Atendendo ao apelo do grande amigo de Blumenau, Sr. Ferreira da Silva que, por uma deferência toda especial convidou-me para escrever algo sobre o abastecimento d´água em Blumenau, faço-o com prazer, pois que, depois de três lustros a serviço desta encantadora e pitoresca cidade, já me sinto blumenauense de ação e coração. Quando empossado interventor federal em Santa Catarina, foi uma grande preocupação do Dr. Nereu Ramos de Oliveira zelar pela saúde de seu povo. O litoral se esvaía e definhava pelas endemias, o empaludismo campeava, o amarelão já vinha do berço, a subnutrição ceifava vidas. O sistema precaríssimo de higiene multiplicava os casos de infecção intestinal e verminose. Em Lajes a incidência de febre tifóide era de estarrecer. A cidade, que não possuía esgoto de espécie alguma, nem fossas sépticas, servia-se de cubos para necessidades fisiológicas, em caráter precaríssimo. Os mananciais de água potável eram rasos. O solo poroso contribuía espantosamente para a poluição das águas do subsolo. Em Blumenau, repetia-se o fenômeno: os poços eram cavados em terras porosas de aluvião, a água era extraída por sistemas rudimentares, com vasilhas expostas à poeira. Para facilitar, os
poços, geralmente, eram situados junto às instalações sanitárias. A higiene acompanhava automaticamente a contaminação. Os sediados mais próximos ao rio, davam-se ao conforto de bombear as águas do rio Itajaí-Açu, e possuíam rede de água domiciliar. Não cogitavam, entretanto, que estavam absorvendo o esgoto de todas as populações ribeirinhas num curso de rio de 240km de extensão. Os hospitais de Blumenau possuíam mais de 60 leitos isolados para tratamento do tifo, que viviam repletos. Anualmente, preciosas vidas eram ceifadas no centro da cidade, comprovadas pela estatística de “causa mortis” dos hospitais. Foi quando ele instituiu no Estado os Centros de Saúde, para prodigalizar em escala crescente a assistência social. Médicos foram recrutados. Às expensas do Estado foram mandados a São Paulo, para freqüentarem cursos especializados de medicina sanitarista. De volta, foram destacados para dirigirem os Centros de Saúde. Os benefícios em outros setores, tão logo se fizeram notar. O tratamento do tifo, porém, foi quase sem êxito. Quanto mais incidência, mais focos, a contaminação era geral. Daí, estimulado pelos médicos sanitaristas, o chefe do executivo catarinense propôs-se a cortar o mal pela raiz. Em Lajes, foram
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de pronto atacados os serviços da construção do abastecimento de água tratada, em 1940. Em 1940, o então prefeito do município de Blumenau, Sr. José Ferreira da Silva, entabulou negociações com a Caixa Econômica para um empréstimo de Cr$ 3.500.000,00, contando com uma renda anual de Cr$ 3.000.000,00 pela Prefeitura Municipal. Por motivos alheios à sua vontade, não pode concluir a obra gigantesca. Endossado pelo Sr. Interventor Federal, o seu sucessor, o ilustre blumenauense, Dr. Afonso Rabe terminou os serviços de abastecimento de água em 1941. O então departamento das municipalidades contratou técnicos especializados paulistas que projetaram a estação de tratamento, a de recalque e a rede geral. Os serviços de construção foram executados pelo engenheiro Isaías de Mello. Em novembro de 1943, o Sr. Dr. Heitor Blum em modesta inauguração entregava ao povo de Blumenau esta obra gigantesca, que representa hoje um patrimônio de nada menos de Cr$ 50.000.000,00. Aqui permanece até hoje a rede de água de Blumenau, entregando, sem interrupção, saúde aos blumenauenses. Desapareceu o espectro do tifo na nossa cidade. Quando surge esporadicamente algum caso, não há dificuldade de localizar a razão e de pronto eliminá-la. A água de Blumenau é tratada pelo processo internacional. Com dosagens estabelecidas, de acordo com seu estado “in natura” de hidróxido de alumínio e de cálcio, extirpa-se da água a matéria orgânica. De mês a mês, retira-se dos tanques de sedimentação cerca de 5 toneladas de matéria orgânica mineral, em decomposição e suspensão. Depois de retirada a matéria orgânica, recebe a água mais uma dosagem de hidróxido de cálcio para elevá-la ao estado de alcalinidade. Finalmente, a água recebe a última dosagem de hipoclorito de cálcio (cloro) que elimina completamente a ação do germe do tifo e do colibacilo. A Estação de Tratamento serve a 4.000 residências e pequenas indústrias. Nos 15 anos de existência ainda não houve solução de continuidade. Nas épocas de aguda estiagem e mesmo com relativa restrição na energia elétrica, o blumenauense sempre teve fartura de água. Blumenau, entretanto, desenvolveu-se fora da expectativa. Planos arrojados de prédios de dezenas de andares já estão em evidência. As zonas mais distantes do perímetro urbano estão se enfeitando. A indústria do loteamento cria vulto. As montanhas que circundam a cidade se engalanam com novas residências modernas.
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Dos 6.000.000 de litros de que dispomos para abastecer a cidade, 4 milhões são consumidos diariamente. O consumo se agrava dia por dia. Em pontas mais distantes e em horas de intensidade de consumo, às vezes a água já é pouca. A natureza foi pródiga. Justamente nestes locais existem substanciosos mananciais. Por sugestão da direção da estação de tratamento, o poder executivo já entrou em estudos para a construção nestes locais de novas estações de tratamento. Estas estações, em número de 4, serão situadas na Itoupava Seca, Velha, Garcia e Rua Itajaí. Formarão novas redes à volta de si próprias. Abastecerão integralmente todo o perímetro urbano. Terão caráter “standardizado” com bombas, dosadores e demais máquinas de procedência local. Qualquer desarranjo será de pronto reparado. Estarão todas interligadas à estação central. Havendo qualquer falha na central, as subestações abastecerão a parte central da cidade e vice-versa. O volume total diário de todas as estações ficará em 12.000.000 de litros de água para Blumenau, que mesmo nas condições atuais prima como dos melhores do Brasil.” Interessante comparar com os números atuais. Se na década de 50 Blumenau consumia quatro mil metros cúbicos de água por dia, e traçava-se a expectativa de uma multiplicação para doze mil, imaginando que, num futuro remoto, esta IMENSA quantidade de água seria utilizada, hoje o
consumo diário da cidade gira em torno de nada mais nada menos do que 65 mil de litros e a capacidade de geração, considerando todas as ETA’s é de 104.400 m3. Outra história interessante, que permanece até os dias atuais marcada pela existência do Rio Itajaí-Açu é a do valoroso Vapor Blumenau. Se por aproximadamente um século e meio, sendo a única via de comunicação de Blumenau com o resto do país e do mundo o Rio Itajaí-Açu, o tráfego de passageiros e cargas era feito por canoas, botes e lanchões que iam até o porto de Itajaí e dali seguiam em barcos maiores para os demais portos da Província e do Império, com a evolução da colônia, concomitante ao surgimento de novas tecnologias de locomoção, surgiram os vapores. O primeiro vapor a atracar no Porto de Blumenau foi o São Lourenço. Suas viagens não respeitavam um horário fixo. Este fato levou um grupo de comerciantes de Blumenau e Itajaí a fundar uma cooperativa para adquirir um navio a vapor que fizesse o trajeto entre as duas cidades em viagens regulares. Em 1878, por meio de ações estipuladas, na época, em 100$00, foi comprado o vapor Progresso. Com o crescimento da Colônia e das transações comerciais, o Progresso já não atendia à demanda do transporte de cargas e passageiros. Em 1893, a Companhia de Nave-
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gação Gustav Ferdinand Salinger encomendou um navio maior e mais possante, na mesma fábrica alemã construtora do vapor Progresso. Este novo vapor viria a se chamar Blumenau. Sua construção foi terminada em 1894. Tinha 28 metros de comprimento, 4,40 metros de largura e 2,10 metros de altura. Calava 80 centímetros e sua máquina tinha a potência de 80 cavalos. Era um dos poucos vapores produzidos pela fábrica alemã com rodas laterais. Suas peças vieram da Alemanha e foi montado no Porto de Itajaí. Navegou pela primeira vez no dia 30 de maio de 1895, quando cobriu o percurso entre Itajaí e Blumenau, com a presença do então governador catarinense, Hercílio Luz. O Vapor, em sua plena atividade, tinha capacidade para 20 toneladas de carga. Após a primeira reforma, podia transportar até 40 pessoas, mais a tripulação de cinco homens. Efetuava três viagens por semana a Itajaí, transportando carga da região do alto Vale, como a madeira que vinha de Rio do Sul por trem, e trazia os mais diversos produtos que os grandes navios desembarcavam no porto de Itajaí. Seu trajeto principal era o percurso entre Blumenau e Itajaí.
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Parava em Gaspar e Ilhota antes de chegar a seu destino final, em uma viagem que durava aproximadamente seis horas. O retorno, em função das correntezas do rio Itajaí, durava até oito horas. Em 1919, por decreto presidencial, o Vapor Blumenau foi encampado e passou a ser administrado pela Estrada de Ferro Santa Catarina. Deixou de navegar na década de 50, ficando por um bom período abandonado na foz do Ribeirão do Tigre, no bairro da Itoupava Seca, próximo às oficinas da Estrada de Ferro. No final da década de 50, Pedro Nogueira da Luz, sensibilizado com o estado de deterioração do valente vapor junto à foz do Ribeirão, mobilizou autoridades municipais, estaduais e federais, a fim de encampar o Vapor Blumenau junto ao Patrimônio Municipal, pois este pertencia, então, ao Patrimônio da União. Depois de encampado pelo município, o vapor sofreu reformas nas administrações do Prefeito Zadrozny e do Prefeito Dalto dos Reis (em 1985). Foi colocado ao tempo, sobre um apoio, à beira do Rio Itajaí-Açu, onde se encontra até hoje.
Interessante observar que, não obstante a história tenha registrado claramente a importância do Rio Itajaí-Açu na existência das gentes do Vale, bem como a sua relação íntima e inseparável com as suas... ora turbulentas ora plácidas águas, são escassos os registros da utilização das águas do rio para o lazer e o esporte. Uma das poucas notáveis iniciativas neste sentido fica por conta da criação do Clube Náutico América, que se notabilizou muito mais pelos seus bailes do que pelos seus feitos náuticos, muito embora seus atletas tenham colecionado importantes vitórias. Em princípio de outubro de 1920, um grupo de rapazes tendo à frente João Kersanach idealizou a fundação de uma agremiação náutica “para a prática do saudável exercício do Remo”, conforme rezava a Ata de Fundação.
O remo, modalidade esportiva mais praticada pelos seus integrantes, era capaz de atrair grande público. Nas barrancas do Rio Itajaí-Açu os espectadores prestigiavam regatas entre o clube América e o Clube Náutico Ipiranga. Esta iniciativa, somada a competições de nado que aconteceram na década de setenta e logo foram extintas, por conta da crescente poluição das águas no centro da cidade de Blumenau, foram as únicas iniciativas destacadas de uso do Rio Itajaí-Açu no lazer o nos esportes. Atualmente, o trecho Ibirama-Apiúna é conhecido em todo o universo dos esportes radicais pela prática do Rafting, que ali as corredeiras permitem.
Algumas das mais importantes conquistas do clube foram: 1950 – Campeão da regata Centenário de Blumenau. 1954 – Vice-campeão brasileiro. 1956 – Vitórias nas regatas de São Paulo e República Oriental do Uruguai. 1957,1958 e 1959 – Tricampeão internacional, com o barco 8 com timoneiro. 1975 – Campeão brasileiro no single skiff – Junior. 1976 – Campeão Sul-americano no single skiff - Junior, sendo representado o país no mundial na Austrália. 1980 – Campeão Catarinense no four skiff. 1996 – Terceiro colocado no mundial máster no doublé skiff e 2 sem – Budapeste - Hungria. 2002 – Campeã brasileira no single skiff. 2005 – Vice-campeão-Geral catarinense. 2005 e 2006 – Campeão nos JASC no double skiff – peso leve.
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III
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Ó Belo Itajaí (Esther Laus Bayer, Itajaí, 25/10/1966) E... foi em manhã de uma beleza imensa Que eu quis falar contigo, Itajaí, Para dizer-te o que min’alma pensa A teu respeito, o que penso de ti.
Encachoeirado vejo-te em Indaial Zangado.. ah! como tu ficas lindo E em Blumenau tu és um festival Que faz a gente te adorar sorrindo.
Mas tuas águas me fitaram, mansas, Falando da paz que as acompanhava... E o sol, doirando, pintou nuanças tantas Que eu fiquei muda... ao tempo que te olhava.
Em Brusque teu passeio é sonhador! Entre os belos bambuais perto da ponte... E quando tu viajas para Itajaí Vens a olhar para um novo horizonte.
Oh! Pus-me, então, a namorar-te, meu rio! E criei pra ti meu canto de poetisa Cobri meus versos de sentir macio... Fiz-te carícias com as mãos de brisa.
Aqui as palmeiras saúdam-te à passagem, Abanando-te, lá de Navegantes... Barcos faceiros espelham tua imagem No lado que o sol guarda seus brilhantes.
Gaivotas leves voavam prazenteiras No longe azul que é bem mais azul... E enquanto as aves valsavam ligeiras Tua eterna magia tornou-se taful.
E... agora tu vais embora pro mar Colher tuas rendas, lá fora, na praia! Nem dizes adeus... não queres me olhar... E o meu devaneio por isso... desmaia.
Às tuas margens salgueiros em festões Segredam-me histórias encantadas... Lembram Lin Yutang, seus cantos e ilusões Pessegueiros em flor pelas estradas.
Meu simples poema, ó belo Itajaí! Não sabe cantar teus ricos valores... Pede-te perdão..., despede-se de ti... Jogando em teu seio braçadas de flores.
(Publicada no Blumenau em Cadernos de outubro de 1966)
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As cidades que atualmente compõem a bacia hidrográfica do maior rio a nascer e desaguar no Estado de Santa Catarina, foram se formando ao longo das graciosas curvas de um rio sinuoso, manhoso e caprichoso. Enquanto desenhava as mais belas paisagens, caprichava na formação de vales majestosos e fertilizava terras que geravam riquezas, o Rio Itajaí-Açu foi marcando, com a sua personalidade indomável, as gentes de toda a região. Quem vive às margens do Itajaí sabe que não pode brincar com o mau humor do rio e que cada atitude tem seu preço, cobrado mais hoje mais amanhã. Esta consciência foi sendo construída gradativamente, principalmente embasada nas experiências e a custa de muito sofrimento. As cidades que vivem às margens do Itajaí-Açu já foram destruídas inúmeras vezes pela sua força, e talvez repouse exatamente neste paradigma a sua força. A bacia hidrográfica do Rio Itajaí-Açu completa inclui 48 municípios. São eles: Itaiópolis, Santa Teresinha, Vitor Meirelles, Rio do Campo, Salete, Witmarsun, Taió, MirimDoce, Dona Emma, Presidente Getúlio, José Boiteux, Rio
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do Oeste, Pouso Redondo, Braço do Trombudo, Agrolândia, Atalanta, Agronômica, Laurentino, Rio do Sul, Lontras, Doutor Pedrinho, Rio dos Cedros, Ibirama, Benedito Novo, Apiúna, Ascurra, Rodeio, Timbó, Pomerode, Indaial, Blumenau, Aurora, Presidente Nereu, Ituporanga, Vidal Ramos, Petrolândia, Imbuia, Chapadão do Lageado, Alfredo Wagner, Botuverá, Guabiruba, Brusque, Gaspar, Ilhota, Luiz Alves, Piçarras, Penha e Itajaí. Os mais importantes no traçado direto do rio são Rio do Sul, Lontras, Ibirama, Indaial, Blumenau, Ilhota, Luis Alves e Itajaí. Acima de Blumenau em direção às nascentes do Rio Itajaí-Açu, todos eles pertenciam às terras da Colônia Blumenau em seus primórdios. Abaixo de Blumenau pertenciam ao Major Agostinho Alves Ramos, fundador da Colônia do Santíssimo Sacramento, que é hoje a cidade de Itajaí. Juntas, as duas colônias cobriam toda a extensão da bacia hidrográfica do majestoso rio e foram responsáveis pela sua ocupação paulatina, sempre comandada pelas incursões fluviais promovidas pelos colonizadores. Estes primitivos aglomerados, formados por pessoas que se
e graciosos regatos, arroios e riachos desaguam no ItajaíAçu, aumentando paulatinamente a sua corrente, até torná-la uma potência em expansão, que para se derramar no mar, divide as cidades de Navegantes e Itajaí. São os rios: Cubatão, Cachoeira, Novo, Correia, Corupá, Jaraguá, Itapocu, Lagoa Nova, Porto Limoeiro, Porto Itaperiu, do Julho, do Julio Régua, Itapocuzinho, Putanga, Pirai, das Pombas, Trombudo, Adaga, Perimbó, das Pedras, Krauel, Neisse Central, Benedito, dos Cedros, Bonito, Palmeiras, do Texto, Itoupava, Garcia, Velha, Bom Retiro, Itajaí Mirim e Luiz Alves. Rio do Sul, a primeira das cidades mais importantes da bacia, tem uma população de 56.919 (estimativa IBGE) e uma área Territorial de 258,401 km². Sua altitude é de 339,88m acima do nível do mar. O ponto culminante é a Serra do Mirador, a 824m e a temperatura média anual é de 18°C, com máxima de 34°C e mínima de 5°C, portanto um clima temperado. A cidade possui duas pontes sobre o Rio Itajaí-Açu: Ponte dos Arcos e Ponte Curt Hering. Em seus primórdios, era habitada apenas pelos Xoklengs, que muito lutaram para preservar seu território de caça e pesca, mas não puderam resistir ao progresso inexorável da civilização. orientavam muito mais na esperança de uma vida melhor do que na lógica, foram evoluindo e formando cidades cada vez mais importantes, que hoje são responsáveis pelo progresso de todo o vale.
Logo em seguida vem a cidade de Lontras, com seu clima mesotérmico úmido e uma população de 9.180 habitantes, numa área de 230 km2, localizada numa altitude de 360 metros acima do nível marítimo.
A cidade de Rio do Sul, a mais próxima das nascentes do Itajaí-Açu, é muito importante para a bacia como um todo, pois é em seu território que se unem os rios que formam, em toda a sua força, o Itajaí-Açu. Do sentido sul vem o Itajaí do Sul, formado pelos rios Caeté, Adaga e Águas Frias, cuja nascente situa-se no município de Alfredo Wagner. Desde a nascente até o centro da cidade, onde se dá o encontro dos três, o Caeté possui outras duas denominações: Lageado e Santo Anjo. No sentido oeste são as águas do Itajaí do Oeste que se derramam na corrente caudalosa, tornando-a ainda mais forte para descer rumo ao mar. Este rio é formado pela junção dos Rios Bonito, que após misturar-se com outras águas passa a chamar-se Rio Azul e o Verde, nascidos no pequeno município de Rio de Campo. Logo abaixo de Rio do Sul, o Itajaí-Açu é engrossado pelas águas do Hercílio, que jorram da cidade de Ibirama e é conhecido também como Itajaí do Norte. Infinitas outras correntes e nascentes, formando pequenos
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Ibirama, que contribui com seu Rio Hercílio para o caudal itajaiense, possui uma população de aproximadamente 17.000 habitantes e é a sede da Usina Hidrelétrica Salto Pilão. A cidade está localizada numa altitude de 150 metros acima do nível do mar e possui 7 pontes pênseis, 01 ponte de ferro e duas pontes de arcos, todas preservadas e ainda em uso. Indaial, com sua população de aproximadamente 50.000 habitantes e altitude de apenas 64 metros acima do nível do mar, possui uma área territorial de 430.534 Km². A cidade é intensamente irrigada pela bacia do ItajaíAçu, sendo este seu principal rio, e apresenta como seus principais afluentes os rios Benedito, Encano, Ribeirão da Mulde e Ribeirão Alto Warnow. A Vegetação nativa do município de Indaial faz parte da grande Mata Tropical Atlântica. A Ponte Engenheiro Emílio Baumgart é o monumento símbolo de Indaial, foi a primeira ponte de concreto erguida por sobre o rio Itajai-Açu. Foi construída pela Firma Emílio Odebrecht de Pernambuco, cujo contrato foi assinado em 18 de outubro de 1924. A primeira pedra foi colocada em 13 de fevereiro
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de 1925, quando eram Prefeito de Blumenau o Sr. Curt Hering e Presidente da Câmara o Dr. Victor Konder. Seu custo total foi de quatrocentos e quarenta contos de réis, sendo que o Governo do Estado pagou duzentos e quarenta contos e o Município pagou duzentos contos de réis.
Blumenau, fruto do sonho do médico-farmacêutico Hermann Bruno Otto Blumenau, é a mais importante cidade da bacia hidrográfica do Rio Itajaí-Açu. A idéia era formar uma colônia agrícola, mas a vocação industrial prevaleceu. E Blumenau tornou-se o maior pólo têxtil do Brasil. A cidade expandiu-se, modernizou-se, mas não abandonou seus traços coloniais. Nos idos de 1950 já era uma referência de qualidade de vida do sul do Brasil. Por tornar-se um importante centro industrial, Blumenau passou a receber visitantes de todo o Brasil e do exterior. A princípio, a maioria freqüentava a cidade para fazer negócios. Ou comprar os seus produtos, famosos pela qualidade. Essa condição, na década de 1960, fez de Blumenau o principal destino de quem visitava Santa Catarina. O movimento que pôs Blumenau em destaque no Estado aconteceu naturalmente, sem que houvesse qualquer planejamento nesse sentido. A consciência de que Blumenau tinha mais do que indústria e comércio a oferecer só foi manifestada profissionalmente em novembro de 1968, quando a Prefeitura mandou
produzir a primeira peça publicitária da cidade. Para a divulgação da cidade, a Prefeitura usou um encarte na revista Seleções do Reader’s Digest . Nesta peça publicitária, pela primeira vez a cidade foi apresentada com todos os seus encantos, que a fazem tão especial. Como efeito dessa primeira divulgação, gente de todas as partes veio conferir de perto o exotismo da cidade. O fluxo de turistas não parou mais de crescer. As características da cidade e sua pujança econômica favoreceram a criação de grandes eventos. Assim, Blumenau passou a realizar as principais feiras do sul do Brasil. Na década de 1980, a iniciativa privada e o poder público uniram-se para reproduzir em Blumenau uma festa que já existia há cerca de 200 anos em Munique, na Alemanha: a Oktoberfest . O principal, a cidade tinha: a cultura alemã, com suas manifestações musicais, folclóricas e gastronômicas e, claro, um grande consumo de cerveja. A idéia deu certo e já nos primeiros anos a festa ganhou projeção internacional, tornando-se a segunda maior festa de tradição alemã do
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mundo. A festa foi idealizada como um produto turístico. Atribui-se o seu êxito à originalidade, mas também à beleza da cidade e à qualidade dos serviços prestados. A população de Blumenau atualmente beira os 300.000 habitantes, numa área de 519.837 km². Inúmeras pontes cortam o Rio Itajaí-Açu no território blumenauense. São elas: Ponte José F. Da Silva (Ponte do Anel Viário Norte), Ponte Engenheiro Antônio Avila Filho (Ponte dos Arcos), Ponte Adolfo Konder (Ponte da Ponta Aguda), Ponte Aldo P. De Andrade (Ponte da Prefeitura), Ponte Gov. Vilson Pedro Keinobing (Ponte do Tamarindo), Ponte Irineu Bornahausen (Ponte da Itoupava Norte), Ponte Lauro Muller (Ponte do Salto) e Ponte de Ferro. Localizada no baixo Vale do Itajaí, quase junto à foz da bacia, Luiz Alves é a Capital Catarinense da Cachaça. Possui uma população de aproximadamente 10.000 habitantes, numa área de 260,3km2. Seu clima é temperado quente, com temperatura média entre 16ºC e 28ºC e está numa altitude de 70m acima do nível do mar. Ilhota é uma pequena cidade localizada abaixo de Blumenau, no traçado final do Itajaí-Açu. Com apenas 11.552 habitantes espalhados numa área de 253.442 km², a cidade fica localizada apenas 15m acima do nível do mar.
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Itajaí e Navegantes formam, juntas, o portal que libera o majestoso rio para derramar-se no Oceano Atlântico. Itajaí, cidade portuária importante no contexto econômico estadual, possui área de 289 km² e população estimada de 170.000 habitantes. Navegantes conta atualmente com população girando em torno de 40.000 habitantes e está se transformando, gradativamente, em outro pólo de grande influência graças à construção de um porto.
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IV
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Esse mesmo rio ( Jofer) Esse mesmo rio, para cujas margens Há cem anos atrás, esperançoso e altivo, Trazia braços que amanhassem a terra E inteligências que civilizassem o ermo; Esse mesmo rio, em cujas águas claras Se espelharam toscos ranchos primitivos E colonos jovens, idealistas, fortes, Suados se banhavam ao pôr do sol; Esse mesmo rio, que gerou desgraças Mas também fartura e abundância Corre ainda hoje a teus pés Então o contemplavas no mortal invólucro Angustiado pela dúvida, pelo temor insano Do fracasso do teu ideal magnificente. Hoje o vês cantando junto ao pedestal Do brônzeo corpo em que fulguras Imortal na realidade augusta do teu sonho. Publicado no Blumenau em Cadernos, fevereiro de 1958, pg. 76)
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A interferência humana na paisagem do Rio Itajaí-Açu iniciou com a necessidade de cruzá-lo, que determinou a construção de pontilhões, passagens e finalmente pontes bem estruturadas, obras que demandaram muito tempo e dinheiro para ficarem prontas, desafiando corajosamente o ímpeto do velho rei, muitas vezes mal-humorado com as interferências em seu traçado calmo, porém vigilante. Igualmente não tardou muito para que os primeiros colonizadores do Vale do Itajaí, em contato constante com a força do majestoso rio, percebessem que ele possuía um potencial a ser explorado. Foi deste modo que surgiram as primeiras construções ao longo do Itajaí-Açu, sempre seguidas de novas investidas e empreitadas levadas a efeito por homens corajosos, intimoratos, desafiadores. Data de 1913 o início da primeira iniciativa de cunho comercial no traçado do Rio Itajaí-Açu. Foi a construção da Usina Elétrica de Salto Weissbach, levada a efeito por empreendedores de olho no futuro. Henrique Hacker, um dos seus construtores, narrou a história da sua construção na publicação denominada Blumenau em Cadernos, publicada pela extinta Fundação Casa Doutor Blumenau, de agosto de 1960, conforme segue: “Felix Hering, que foi um dos principais diretores da Companhia Hering, depois de ter terminado os seus estudos técnicos numa
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escola especializada em assuntos fabris e têxteis, na Alemanha, ingressou como funcionário técnico-especializado na firma Bromberg Hacker e Cia. de São Paulo, no ano de 1913. As agências dessa firma, em diversas partes do país, já haviam instalado mais de cem usinas elétricas em várias localidades brasileiras. Naturalmente, o senhor Hering, como filho de Blumenau, chamou a atenção de meu irmão Hans Hacker sobre as possibilidades e vantagens de se aproveitar o grande salto do Itajaí-Açu, em Weissbach. Meu irmão veio a Blumenau e aí estudou demoradamente o assunto, chegando à conclusão da perfeita viabilidade da construção de um conjunto gerador de eletricidade. Auxiliado também pelo senhor Feddersen, entrou ele em contacto com elementos das finanças e com industriais locais. Esses entendimentos, porém, não deram nenhum resultado prático. Assim, e em razão de já ter o meu irmão, juntamente comigo, assentado estabelecer em Blumenau uma firma importadora de aparelhos e máquinas, resolvemos construir a usina por nossa conta e sob nossa responsabilidade e, dessa forma, preparamos terreno para fornecer, mais tarde, às indústrias locais, motores e máquinas, de que necessitam, além de energia elétrica. A Casa Bromberg e Cia, de Hamburgo, forneceria o necessário equipamento para a concretização de idéias. Projetávamos, igualmente, fundar e estimular a fundação de novas indústrias e aumentar as existentes, às quais nos associávamos com o valor dos respectivos fornecimentos de material. Aconteceu que, em julho de 1914, estourou a 1ª. Grande Guerra Mundial.
Felizmente, parte das máquinas já havia chegado e pôde ser montada. Devido, entretanto, a um acidente fatal, Hans Hacker morreu. E eu, devido à guerra, fiquei com os meus negócios e atividades paralisados. Naquele tempo, eu era diretor técnico da casa matriz de Bromberg e Cia em Porto Alegre e não podia acostumar-me a uma vida de inatividade. Resolvi, então, meter-me em negócios de colonização de terras no Estado de Santa Catarina. Devido às minhas atividades nesse setor, surgiram Luzerna, Joaçaba, Capinzal, São Pedro e Francônia, isto ainda no tempo dos fanáticos e das lutas no Contestado. A experiência animou-me depois a tentar, também, a colonização das terras do Norte do Paraná que, naquele tempo, eram ainda sertão bruto, com matas abundantes e impenetráveis, habitadas apenas pelos índios. O presidente do Estado do Paraná, Dr. Afonso Alves de Camargo, fechou comigo um contrato de concessão de 5.000 quilômetros quadrados de terras das mais próprias para o povoamento e colonização. Infelizmente, pela minha condição de alemão, o contrato foi depois anulado, com grandes prejuízos meus, e os terrenos confiados aos ingleses que os colonizaram, aliás muito eficientemente. Foi daí que surgiram Londrina, Apucarana, Maringá e as demais cidades de espantoso progresso na zona do café. Firmas de Santa Catarina, tais como Carlos Hoepcke e Cia., Salinger e outras, faziam suas compras diretamente da Europa, por intermédio da firma Bromberg, em Hamburgo. Esta, entretanto não aprovava que São Paulo ou Porto Alegre fizessem concorrência a clientes de Hamburgo. Daí a projetada fundação da nossa firma em Blumenau, que provavelmente teria a razão social de Irmão Hacker. Interrompidos os meus negócios de colonização e outras atividades igualmente paralisadas, como as plantações de arroz em grande escala a que eu me havia aventurado, também os projetos de organizar a nossa firma e fundar novas indústrias foram por água abaixo. As máquinas que havíamos importado, bem como nossos credores, deveriam ser pagos, e as firmas de Blumenau em nada nos ajudariam, de sorte que tivemos de convidar amigos de São Paulo que, sob a orientação do Dr. Altino Arantes, assumiram o acervo.
Como resultado das negociações, a firma Bromberg recebeu uma hipoteca sobre terras adjacentes ao Salto e à Usina, para garantir o empréstimo. Muito mais tarde e em razão do grupo paulista não se interessar muito para melhorar e aumentar as instalações do Salto, firmas de Blumenau adquiriram a Usina, pagando o grupo paulista, sendo, nessa ocasião, fundada, pelos industriais de Blumenau, a Empresa Força e Luz de Blumenau S/A, da qual participaram, também, industriais de Brusque. Quando, em 1946, eu me mudei de São Paulo para Blumenau, recebi cartão do ilustre estadista Nereu Ramos em que ele, fazendome justiça, congratula-se comigo pelo meu retorno à terra natal, à qual o meu irmão, pelo seu esforço e atividade, havia dado grande impulso progressista, construindo uma usina que viria proporcionar a todo o Estado extraordinário desenvolvimento.” E foi assim, dependendo da iniciativa privada e contornando as agruras de uma guerra que agitou todo o mundo ocidental, que surgiu a primeira iniciativa comercial de aproveitamento das águas do Itajaí-Açu. A Usina mantém preservados os relógios e o painel de controle, em mármore italiano, e ainda hoje funciona com os equipamentos originais. O Edifício, de concepção arquitetônica ímpar e engenharia espetacular, apresenta peculiaridades únicas, pois uma parte foi construída sobre as corredeiras do rio. Seus porões têm uma atmosfera mística e envolvente, ressoando o som inexorável das águas que por ali correm, insensíveis à passagem do tempo e às mudanças ali ocorridas. A usina já não é mais a mesma, mas a força geradora das águas do Itajaí-Açu continuam transmitindo a sua energia num devir constante que os séculos não foram capazes de alterar. Em 1955 o então Governador de Santa Catarina, Irineu Bornhausen criou, através do Decreto Estadual no. 22, a Centrais Elétricas de Santa Catarina. As necessidades energéticas do estado, que até então haviam sido supridas por pequenos e médios sistemas elétricos regionalizados,
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mantidos pela iniciativa privada, como a Usina de Salto Weissbach, passaram a ser geridos pelo governo através da estatal. O modelo privatizado, que se mostrou incapaz de responder ao incremento da demanda, pressionada pelo surto desenvolvimentista que tomou conta do país durante o governo de Juscelino Kubitschek de Oliveira, foi então substituído pela iniciativa do estado. Em 1957 foi construída a Usina Palmeiras, no município de Rio dos Cedros, também pertencente à bacia hidrográfica do Rio ItajaíAçu, e depois desta construção, o velho rio foi deixado, durante um longo período, em absoluta paz. O ano de 2002 marcou a retomada da utilização da força do majestoso Itajaí-Açu, com o início das obras da Usina Salto Pilão, no município de Ibirama. Com 182 megawatts de potência instalada, energia suficiente para abastecer uma população de 700 mil pessoas, o equivalente à Grande Florianópolis, a Usina Hidrelétrica de Salto Pilão se constitui no maior aproveitamento elétrico do Rio Itajaí-Açu e uma das maiores usinas subterrâneas do Brasil. Também é o maior investimento privado no Vale do Itajaí, com recursos da ordem de R$ 530 milhões. Os túneis escavados em rocha somam, uma vez prontos, um total de 10 quilômetros de extensão, utilizando tecnologias e procedimentos de ponta, o que torna a usina uma das maiores do país em concepção subterrânea. O aproveitamento consiste na captação de parte das águas
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do Rio Itajaí-Açu, nas proximidades da localidade de Riachuelo, no município de Lontras, e no seu desvio através de túnel para o mesmo rio, na localidade de Subida, no município de Apiúna, utilizando-se um desnível de aproximadamente 200 metros. Uma pequena barragem e vertedouro, com altura máxima de 3 metros na forma de um S desviará a vazão da água necessária para a movimentação das turbinas. O restante da água verterá pela crista da barragem. Esse sistema de usina hidrelétrica é denominado central de desvio com aproveitamento a fio d’água, pois não possui reservatório de acumulação e nem exerce controle hidráulico sobre o fluxo de água do rio. Ele elimina qualquer possibilidade de contribuir para a formação de cheias com a montante da barragem. O túnel de adução representa o principal trecho do sistema de canalização subterrânea e, no seu emboque, estará a tomada de água com comportas, instaladas numa estrutura de concreto com cerca de 20 metros de altura. O túnel, revestido em concreto no trecho inclinado e em aço na parte horizontal, atravessará o maciço rochoso das encostas do Rio Itajaí-Açu e lançará as águas nos condutos forçados. Na construção desta usina, Santa Catarina projeta-se no panorama da engenharia brasileira por abrigar uma das três maiores usinas subterrâneas de porte. Com o produto
da escavação em rocha (600 mil metros cúbicos), transformado em brita, seria possível pavimentar uma estrada moderna com cerca de 83 quilômetros de comprimento. A quantidade de concreto a ser utilizada (35 mil metros cúbicos) serviria para construir 26 edifícios de sete pavimentos com quatro apartamentos por andar de 100 metros quadrados cada. A energia do velho rio é hoje um dos seus maiores tesouros, e nada mais será como dantes. Aquela paisagem estática que, durante centenas de anos, permaneceu incólume como testemunha de um passado milenar, nunca mais será a mesma. Testemunha muda de um mundo em constante evolução, o majestoso rio sofre com as mudanças que, visando o progresso necessário à evolução da sociedade, alteram para sempre a sua face imperial. Os recantos escondidos da visão humana, verdadeiras jóias de pedra engastadas pela ação persistente das águas em desalinho e fúria, estão por um fio. Em breve serão apenas uma recordação, quem sabe perenizada em fotos, imagens estáticas de um passado que jamais voltará! Outro fator preponderante de mudança que atuou de maneira importante junto ao Rio Itajaí-Açu foi a construção da ferrovia. A Sociedade Anônima Estrada de Ferro Santa Catarina iniciou as obras em 1906, com o início dos estu-
dos dirigidos pelo engenheiro-chefe Henrique Krober, que fora Tenente Coronel da reserva do batalhão Ferroviário Imperial da Baviera. Krober veio a falecer em Blumenau, retardando um pouco os trabalhos. A firma Bachstein-Koppel deu prosseguimento às obras, retomando o processo em 1907. Ainda neste ano chegaram ao Porto de Itajaí os primeiros trilhos que, via Itajaí-Açu, eram transportados até Blumenau, desembarcando no Porto da Itoupava Seca. Também em 1907 chegou ao mesmo porto a Macuca, transportada no Vapor Koblenz. A velha máquina chegava aqui reluzente e novinha em folha, e foi carinhosamente batizada com este nome por lembrar um pássaro da fauna local. Ainda hoje repousa, incólume, nos jardins da Prefeitura Municipal de Blumenau. No final de 1908, os trilhos já haviam chegado a Indaial, e também chegaram mais duas locomotivas maiores que a Macuca. No dia 03 de junho de 1909 a ferrovia chegou a Ascurra e em outubro deste mesmo ano à localidade de Hansa (hoje Ibirama). Respeitando os humores do majestoso rio, os construtores da Estrada de Ferro calcularam detalhadamente a cota de construção da via férrea, tendo projetado a construção de tal forma que uma enchente média não poderia alcançá-la. Somente a grande enchente de 1911 conseguiu atingi-la e apenas em alguns poucos pontos, como na estação Encano/Indaial.
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Em 1914, início da Primeira Guerra Mundial, o governo brasileiro tirou a concessão dos alemães para a Estrada de Ferro Santa Catarina, que passou a ser explorada, em 1917, por uma comissão militar do governo brasileiro. Mais tarde ficou sob a administração do governo estadual e, depois, do governo federal. A ferrovia continuou avançando interior adentro. Em 1923 teve início a construção do trecho em direção a Rio do Sul, que ia dominando a natureza, ao galgar os contrafortes da Serra do Mar, em Subida. Em função da topografia acidentada desta serra, este trecho só foi inaugurado em 1929. A construção da ferrovia também se alongou para o leste, em direção a Itajaí, porque a navegação no Rio Itajaí-Açu mostrava-se insuficiente para dar vazão à produção industrial cada vez mais florescente do vale. O transporte fluvial era lento e dependia da quantidade de água no leito do rio, muito variável e por vezes inviabilizando a passagem de embarcações. A única estrada existente até lá atravessava terrenos alagadiços e
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não era confiável. A construção deste trecho foi iniciada em 1926 e, para tanto, foi necessário construir uma grande ponte na área central de Blumenau, o que teve início de 1929. A ponte continua firme, apesar de haver passado por grande perigo em 1986 quando, devido ao intenso tráfego, quebrou e foi ameaçada de demolição. Salva por ação de preservacionistas responsáveis, foi toda reformada e hoje incorpora, garbosa e imponente, a belíssima paisagem da cidade de Blumenau. O trecho até Itajaí foi inaugurado somente em 1954, com a demora de 18 anos justificada pela necessidade da construção de inúmeros aterros ao longo do leito e pela falta de recursos financeiros. Em 1964 a Estrada de Ferro Santa Catarina atingiu seu ponto mais distante: a localidade de São João da Agrolândia, apenas sete anos antes de ser desativada pelo poder público. As paisagens bucólicas de beleza apaixonante que se avistava da janela dos trens que percorriam o vale, desafiando corajosamente uma geografia agreste da região permaneceram como testemunhas mudas do sucateamento de um dos mais belos monumentos construídos pelo homem. A construção da estrada de ferro foi um desafio humano ao rio, que foi atravessado e vencido com a construção de pontes, pontilhões, passagens e monumentos. Estes permanecem, muitas vezes vencidos pelo avanço indomável da natureza, mirando estáticos o rio que continua passando, veloz e invencível, no seu interminável caminho rumo ao oceano.
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Principais Pontes sobre o Rio Itajai-Acu: Em Rio do Sul: Ponte dos Arcos: Construída em 1933, a Ponte dos Arcos foi uma das obras integrantes da expansão da Rede Ferroviária no Estado de Santa Catarina. Foi construída sobre as águas do Itajaí do Sul, um pouco antes do encontro de águas que forma o Rio Itajaí-Açu. Continua em uso atualmente. Ponte Curt Hering: A Ponte Curt Hering foi construída em 1954, em substituição a uma balsa pela qual, nos primórdios da colonização, passava o gado guiado pelos primeiros pioneiros. A ponte foi um marco no início da colonização de Rio do Sul, dando maior ênfase à construção da Casa de Força e Luz em 1946. Ela foi, sem dúvida, um dos indícios mais fortes de que a colonização era uma necessidade, exigindo maior estrutura para o escoamento das extrações de madeira e travessia do gado.
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Em Ibirama: Ponte Metálica da Estrada de Ferro Pertence aos municípios de Ibirama e Apiúna. Esta é mais uma das admiráveis obras de arquitetura e engenharia erigidas quando da construção da antiga Estrada de Ferro de Santa Catarina no ano 1909. A velha e resistente ponte possui 102 metros de comprimento em vãos de 42 e de 60 metros com 178 toneladas de aço, e foi erguida em apenas seis semanas. Na época da inauguração da ferrovia era a maior obra de engenharia da região do Vale do Itajaí. Permitiu a passagem dos trens da Estrada de Ferro Santa Catarina procedentes de Blumenau, com parada em Hansa e posteriormente em Ibirama. Atualmente ela serve para travessia de pedestres e veículos. Ela sofreu uma reforma em 2005 pelo Consórcio Empresarial Salto Pilão, com a substituição de 13 toneladas de chapas de aço. Mas até a reforma, já protagonizou histórias bem interessantes. Depois que foi desativada, a rede vendeu a ponte para o ferro velho Puff, de Blumenau, que nunca chegou a retirá-la, pois a comunidade de Ibirama impediu os trabalhos ameaçando os trabalhadores contratados para o serviço. Saindo da parada da subida, no km 63, a linha da Estrada de Ferro Santa Catarina transpunha a pequena ponte de ferro de 20 metros sobre o ribeirão local e, por cerca de 6 km, margeava o Rio Itajaí Açu, até alcançar a confluência do Rio Itajaí do Oeste com o Rio Itajaí do Norte (ou rio Hercílio), onde propriamente começa o Itajaí-Açu. Para atender o projeto estabelecido pelo consórcio formador da estrada de Ferro Santa Catarina e os interesses da colonizadora Hanseática, os engenheiros projetaram a construção de imensa ponte ferroviária de 102 metros de comprimento, transpondo o braço Oeste do Itajaí. A construção desta ponte demandou boa parte do ano de 1909 e, como ainda não havia ligação ferroviária até o local da construção, os materiais (madeira, cimento e pedras) para o início da obra, foram transportados por carroções puxados por mulas. A construção desta ponte de ferro foi a mais fascinante obra de todo o trecho pioneiro de 70 km. Quem percorre, de carro ou a pé, o antigo leito da ferrovia que dá acesso à ponte, percebe ainda hoje os cortes feitos na rocha e as curvas suaves construídas ao longo da margem direita do Rio Itajaí-Açu.
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Em Indaial: Ponte Engenheiro Emílio Baumgart: Foi a primeira ponte de concreto erguida por sobre o rio Itajai-Açu. Construída pela Emílio Odebrecht Engenharia, teve seu contrato assinado em 18 de outubro de 1924. A primeira pedra foi colocada em 13 de fevereiro de 1925, quando eram Prefeito de Blumenau o Sr. Curt Hering e Presidente da Câmara o Dr. Victor Konder. O custo total da construção foi de quatrocentos e quarenta contos de réis.
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Em Blumenau: Ponte Aldo Pereira de Andrade (Ponte de Ferro): A Ponte da Estrada de Ferro que serviu de travessia sobre o Rio Itajaí-Açu para a ferrovia que ligava Blumenau a Itajaí, teve sua construção em 1929 com material importado da Alemanha. Em 13 de março de 1971, por decisão do Governo Federal, a Estrada de Ferro Santa Catarina é utilizada pela última vez. Em 1991 a ponte foi completamente restaurada em parceria com a Fundação Roberto Marinho e adaptada ao trânsito de veículos e pedestres. A ponte leva o nome do Deputado Estadual Aldo Pereira de Andrade e simboliza um marco do desenvolvimento econômico de Blumenau e do Vale do Itajaí.
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Ponte Eng. Antonio Vitorino Ávila Filho (Ponte dos Arcos): No dia 18 de dezembro de 1954, o Presidente da República João Café Filho e comitiva realizam histórica viagem de trem em direção à estação terminal em Itajaí, inaugurando assim este importante tronco ferroviário entre as duas cidades. Tem 160m. de comprimento, com 3 arcos interligados de 41,65 metros cada um.
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Ponte Lauro Müller (Ponte Do Salto): Foi a primeira ponte construída em Blumenau sobre o Rio Itajaí-Açu, no bairro do Salto. Seus pilares de granito foram construídos entre fevereiro de 1896 e julho de 1898. A estrutura de ferro, entretanto, somente foi colocada depois da grande enchente de 1911. Esta estrutura chegou a Blumenau em setembro de 1912. Foi trazida pelo vapor Gudrin, que ancorou em Itajaí em 7 de setembro de 1912. Foi inaugurada oficialmente em 29 de junho de 1913. O comprimento total da ponte é de 200 metros, inclusive os pilares terrestres, que têm 6 metros de largura. A superestrutura foi fabricada na Alemanha. Em 2002 foi reformada e reinaugurada.
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Ponte José Ferreira da Silva (Anel Viário Norte): Iniciada em fevereiro de 1975 e inaugurada em 17 de outubro de 1976. A ponte tem 194,98 metros de comprimento por 16 metros de largura (13 de pista de rolamento) e 1,50 metros para passeio e guarda rodas nos dois lados, numa área total construída de 3.119,68m².
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Ponte Adolfo Konder (ligação entre a cidade e o Bairro Ponta Aguda) Os trabalhos de instalação foram iniciados em outubro de 1953 e sua inauguração ocorreu no dia 1º de dezembro de 1957. Toda obra foi realizada por elementos de Blumenau, desde o projeto até a sua conclusão. A ponte tem comprimento total de 135 metros e 10,40 metros de largura.
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Ponte Irineu Bornhausen (Ponte da Itoupava Norte): Foi inaugurada no dia 15 de Novembro de 1953 pelo Governador Irineu Bornhausen. Tem 163 metros de comprimento, dividido em 10 metros de vĂŁo, sendo 6 de 17,50 metros e 4 de 14,50 metros. Largura de 9,60 metros de pista e 1,20 metros de passeio, em ambos os lados. A altura dos pilares ĂŠ de 11 metros, sendo projetada e construĂda pelo sistema de vigas retas. Liga o bairro Itoupava Norte com a Itoupava Seca.
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Ponte Gov. Wilson Pedro Kleinübing (Ponte do Tamarindo): Inaugurada em 18 de dezembro de 1999, a ponte faz ligação entre os bairros Itoupava Seca e Itoupava Norte, sendo decisivo para o desenvolvimento da região norte. A tecnologia empregada para sua construção foi desenvolvida na Alemanha. A ponte tem 318 metros de extensão e 19 metros de largura, com capacidade para 8 mil carros por hora. A pista de rolamento está a 26 metros de altura da cota normal do rio na margem esquerda e 22 metros na margem direita. É conhecida dos blumenauenses como “ponte do tamarindo”, devido a um tamarindeiro plantado há 80 anos na margem direita pela filha do ecologista Fritz Müller.
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Em Gaspar: Ponte Hercílio Deeke: Sua construção iniciou-se em 1952, chegando à conclusão em 1960. Sua importância é fundamental para o município de Gaspar e arredores, uma vez que se constitui na única forma de transposição do rio neste município e ligação com a região denominada Margem Esquerda. A grande enchente de 1983 causou uma destruição parcial na engenharia da ponte, ocasionando uma trabalhosa obra de restauração. A velha ponte mais uma vez apresentou problemas no ano de 1987, demandando obras de reforço e recuperação estrutural. Em 2005 foi definitivamente constatada a sua precariedade e a ponte foi fechada para tráfego superior a seis toneladas, assim permanecendo até a atualidade.
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Em Itajai: Ponte sobre a BR 101: A ponte sobre o rio Itajaí-Açu, que atende ao tráfego SulNorte da rodovia, possui extensão de 472 metros e foi construída em 1958. Com o desenvolvimento urbano dos municípios de Navegantes e Itajaí foi implantada, em 1993, uma passarela para pedestres na lateral leste da ponte, mas a mesma está interditada desde outubro de 2007, com as obras de recuperação, avaliadas em R$ 1.300.000,00, sem continuidade até agora. A importância desta ponte se dá principalmente por causa do acesso ao Aeroporto de Navegantes, eixo fundamental no transporte de todo o Vale do Itajaí.
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Imagens da construção da ponte em 1958, cedidas pela Fundação Genésio Miranda Lins
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A interferência humana traz, em seu bojo, a beleza e a desgraça. As pontes, usinas hidrelétricas, barragens, estradas de ferro e outras construções representam a superação de limites impostos pela natureza, o esforço do homem para vencer obstáculos e conquistar a supremacia dos lugares e da natureza, mas, igualmente representam o fim de um tempo em detrimento de novas situações, o abandono de paradigmas milenares que, durante incontáveis eras, representaram referenciais de vida e sinais da existência divina no Universo.
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”Um dia, a Terra vai adoecer. Os pássaros cairão do céu, os mares vão escurecer e os peixes aparecerão mortos na correnteza dos rios. Quando esse dia chegar, os índios perderão o seu espírito. Mas vão recuperá-lo para ensinar ao homem branco a reverência pela sagrada terra. Aí, então, todas as raças vão se unir sob o símbolo do arco-íris para terminar com a destruição. Será o tempo dos Guerreiros do Arco-Íris.” Profecia feita há mais de 200 anos por “Olhos de Fogo”, uma velha índia Cree.
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As Enchentes
As Enchentes
A história das enchentes marcou definitiva e profundamente o destino de todo o Vale do Itajaí, notadamente da cidade de Blumenau. Este processo vem caminhando lado a lado com a história da colonização e do seu desenvolvimento. Desde 1850, ano oficial da fundação de Blumenau até a entrada no 3º. Milênio foram registradas 68 enchentes, das quais 11 até 1900, 20 nos 50 anos subseqüentes e 38 nos últimos 50 anos. O modo com que os blumenauenses e, com o passar do tempo, a população das comunidades ribeirinhas lidavam com as enchentes foi se modificando com a urbanização da colônia e o desenvolvimento técnico. Inicialmente, a população da então colônia não tinha nenhuma preocupação ecológica e um pensamento de sustentabilidade ainda não surgira junto aos dirigentes dos locais afetados. Nos relatos da enchente de 1862, cujo pico foi estimado em 9 metros, consta que imensas plantações de tubérculos de aipim dos barrancos dos rios e ribeirões e partes baixas, destinadas à alimentação de suínos, foram em parte arrancadas pelas águas, enquanto a parte que ficou submersa apodreceu (SILVA, 1975:9). Fica evidente que a cultura da mandioca era praticada em cotas muito baixas, prova-
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velmente, nas terras fertilizadas pelas enchentes. Em 1885 ocorreu uma cheia de 7 metros, que causou a paralisação de muitos engenhos e moinhos de milho (SILVA, 1975:19). A exploração da força d’água se dava necessariamente a fio d’água, de modo que uma cheia de 7 metros gerava prejuízos. Atualmente é de conhecimento geral que uma enchente em Blumenau, ou seja, o extravasamento do Rio Itajaí-Açu ocorre a partir da cota de 8,50 metros. Observase, portanto, um recuo na ocupação das margens dos rios, em relação à época da colonização. Esta mudança de comportamento não pode, entretanto, ser atribuída exclusivamente ao processo de aprendizagem de que usar áreas de alto risco de inundação dá prejuízo. A gradual mudança do modelo de desenvolvimento econômico, ou seja, a redução paulatina da atividade agrícola, nas áreas contíguas ao centro da cidade, deve ter sido co-responsável pelo desuso das barrancas dos rios. Devido à sua localização, a sede da Colônia Blumenau sempre enfrentou problemas de maior ou menor porte com as enchentes. Com o crescimento populacional e a conseqüente expansão urbana, mais áreas inundáveis – os antigos lotes coloniais – foram sendo ocupadas. Entretan-
to, as enchentes não implicavam em maiores prejuízos por causa da cultura hídrica da população de Blumenau (BUTZKE, 1995), que aprendeu a conviver com enchentes de pequena magnitude. A enchente de 1880 – a maior de que se tem registro – foi a primeira que ensejou ações dos governos da Província e do Império. Era Presidente da Província o Sr. João Rodrigues Chaves, que tomou todas as medidas possíveis para minorar o sofrimento dos habitantes do Vale do Itajaí: providenciou a distribuição de alimentos, ordenou a execução de obras de emergência, autorizou a liberação de recursos financeiros e coordenou coletas e distribuição de donativos para socorro às vítimas (SILVA, 1975:14, 15). Associado à ação governamental, teve início, com a mesma calamidade, o uso político das enchentes, conforme narrado no mesmo livro do historiador José Ferreira da Silva: “Depois da enchente de 1880, o governo Imperial mandou para Blumenau uma comissão sob a chefia do engenheiro Antunes, que tinha de gastar a quantia de 400 contos de réis em obras públicas. Antunes, porém, recebeu do ministro liberal, que então guiava o bem do Império, mais outra ordem, a de fundar um partido liberal em Blumenau, que até aquele tempo se confessava conservador. Não era de se admirar que, em vista dos meios de que dispunha, facilmente conseguiu a sua ordem.”
Em 1911 repetiu-se a catástrofe de 1880. Aos relatos dramáticos seguiram-se discussões sobre soluções para o problema. Diversas foram as sugestões de obras de proteção para Blumenau, carecendo, porém, de estudos que lhe servissem de base. As idéias que surgiram na época podem ser consideradas rizíveis e geraram grande polêmica, divulgada pelos periódicos da época e transcritas no mesmo livro citado acima: “Assim, entenderam alguns que se deva construir um paredão pela margem direita do rio reforçando toda a ribanceira... Este modo de encarar o problema ressente-se do vício de adiar-lhe a solução definitiva para ater-se à providência de ordem secundária, pois com a construção deste molhe de pedra, não se teria outro resultado senão o de garantir as margens do rio contra desbarrancamentos, nunca, porém, o de evitar enchentes, porquanto na última inundação as águas subiram até cinco metros da extinta comissão de terras, é de se rasgar um canal que existe pouco mais ou menos realizável, na margem esquerda do rio, no trecho que fronteia a cidade, canal que irá ter ao Belchior. Com a construção desta obra, as águas do monte, transbordando, escoar-se-iam pelo canal, evitando assim o alagamento rápido da cidade, fato que hoje o estreita e asfixia nas imediações da Vorstadt. Ainda assim não se evitaria o perigo de futuras inundações, mas simplesmente se conseguiria atenuar-lhes as funestas conseqüências por se evitar o
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crescimento rápido e impetuoso das águas, o que já seria muito. Outros, ainda descoroçoados de todos os recursos de engenharia e desalentados com a recente catástrofe, acham aconselhável a mudança da cidade para ponto mais elevado, onde se forrem os perigos de futuras enchentes, apontando como tal o lugar salto, junto aos quatros pilares de pedra ali implantados pelo governo do estado. Este alvitre parece-nos extremamente desarrazoado e pouco justo, pois a sua adoção viria inutilizar o imenso trabalho que atualmente representa a cidade de Blumenau, que ficaria relegada à mais lamentável decadência.” A primeira obra sugerida, o tal “muro de arrimo”, passou a ser pleito da população durante longos anos. Após a enchente de 1948, fora feito uma solicitação ao órgão competente para que fossem tomadas as devidas providências. Após a enchente de agosto 1957, o debate sobre o muro de arrimo voltou à pauta, por causa dos desbarrancamentos que ocorreram nas margens do rio, ao longo da Rua 15 de Novembro. Em resposta à demanda da prefeitura, o 15° Distrito do Departamento de Portos, Rios e Canais, sediado em Florianópolis, previa a conclusão do projeto para o mês de Setembro, alertando desde já que sua execução seria de competência do estado. A obra finalmente foi construída na década de 60: a Avenida Beira-Rio. A segunda
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idéia, um canal de Blumenau até o Belchior, foi retomada quase 20 anos mais tarde no primeiro estudo de defesa contra cheias. Segundo Beate Frank, uma das técnicas mais renomadas na questão das cheias da Bacia do Itajaí-Açu, “é surpreendente que a terceira idéia, de mudança de cidade, ou melhor – em linguagem técnica atual - de estabelecer um zoneamento que contemplasse um uso mais adequado das áreas inundáveis, fosse totalmente rejeitada”. A etapa seguinte na luta por medidas de controle de cheias iniciou em 1957, alcançando relativo sucesso. Neste ano ocorreram quatro enchentes, uma das quais beirando a marca dos 13 metros. Foi uma verdadeira calamidade pública: “As águas torrenciais e traiçoeiras do rio Itajaí-Açu arrastaram em poucas horas, rio abaixo, para o Atlântico, tudo o que os colonos, com rara energia e competência tinham construído, trazendo também o desânimo e a dor para a grande maioria dos habitantes do município e principalmente para a cidade. ... Dois terços das residências, estabelecimentos fabris e comerciais e depósitos foram atingidos pela inundação. A defesa civil, improvisada, teve uma atuação importante no socorro aos flagelados. Colaboraram o pessoal da prefeitura, o destacamento de polícia local, vários cidadãos e o 23°Regimento de Infantaria. O serviço de pluviometria da Empresa Força e Luz teve sua atuação reconhecida, bem como a rádio Clube de Blumenau, que tomou a si
a tarefa de informar o público sobre o nível e a previsão do rio. Depois do abaixamento do nível do rio surgiu outro problema: os desbarrancamentos das margens do rio Itajaí-Açu, fazendo com que as porções de terra deslizassem para o leito do rio, levando casas e prédios. Os prejuízos causados pelas enchentes foram detalhadamente levantados. Segundo o relatório do prefeito, as enchentes de 1957 e suas conseqüências desastrosas para a vida social e econômica da região do Vale do Itajaí tiveram reflexos imediatos sobre a mobilização de todas as forças ponderáveis, não só da parte dos poderes públicos, mas também de instituições de classe interessadas” (BLUMENAU, 1958:12; BOLETIM MENSAL 1957). Em outubro de 1957, o então Presidente da República Juscelino Kubitschek de Oliveira baixou Decreto de n° 42423, nomeando um grupo de trabalho para estudar a situação econômica da Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí-Açu e propor as medidas necessárias ao seu desenvolvimento. O grupo de trabalho iniciou imediatamente suas atividades. Já no dia 12 de outubro, logo após a nomeação, uma comissão se dirigiu a Blumenau, e se reuniu com o Comitê Executivo da Comissão de Defesa do Vale do Itajaí. Em fe-
vereiro de 1958 houve novas reuniões, com ampla participação de prefeitos e vereadores e da Associação Comercial e Industrial de Blumenau, nas quais muitos dos cidadãos mais eméritos da região proferiram palestras, demonstrando preocupação mais ampla com o Vale do Itajaí, indo além do simples controle de enchentes. Falava-se do problema das cheias, mas igualmente da produção de energia elétrica, de irrigação e de outros aspectos do aproveitamento do vale. O escritório de engenharia Machado da Costa S.A. foi contratado para realizar os estudos de aproveitamento múltiplo do rio Itajaí e seus afluentes, e ao escritório Engenheiros e Economistas Consultores Sociedade Civil Ltda. ficou afeta a execução dos estudos geo-econômicos. Os estudos geo-econômicos efetuados mostraram que, de um lado, os fatores energia e transporte constituíam os problemas gerais que impediam o desenvolvimento da bacia do Itajaí. De outro lado, evidenciaram que a intensidade com que progrediram as transações comerciais na região foi maior que a verificada nas regiões economicamente mais bem desenvolvidas da União, o que foi atribuído, numa primeira análise, à predominância de transações a vista e à diminuta participação de intermediários. Em re-
Levadas pelo medo das cheias periódicas, a maior parte das empresas que mantém plantas industriais próximas ao Rio Itajaí-Açu instalou réguas de medição do nível do rio (na foto a régua instalada pela Brandili, em Apiúna).
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sumo, foi comprovado que o benefício econômico de investimento em obras para uso múltiplo dos rios da bacia seria relevante. Os estudos de usos múltiplos dos recursos híbridos resultaram, preliminarmente, na proposta de construção de sete barragens. As soluções clássicas para o afastamento de enchentes – alargamento da calha do rio e/ou diques para aumentar as seções de vazão e apressar o escoamento – não poderiam ser adotadas no Vale do Itajaí, tendo em vista a forma de ocupação do vale. Segundo Bessa (1968:7), a verificação do máximo aproveitamento das obras que devessem ser construídas foi sempre a grande preocupação. A idéia do uso múltiplo era exatamente a de utilizar os represamentos de controle de cheias para o aproveitamento hidrelétrico e a irrigação. Enfim, o projeto de regularização do Rio Itajaí-Açu e seu aproveitamento múltiplo foi dividido em duas partes: a proteção do vale contra as inundações e o aproveitamento do potencial elétrico existente. A primeira parte do projeto se constituía de obras consideradas de cunho social, por serem de benefício geral, sem, no entanto, permitirem o retorno, pelo
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menos direto, do capital investido. Das cinco barragens de retenção de cheias inicialmente previstas, a do rio Benedito foi considerada dispensável, enquanto a necessidade de construção da do rio Itajaí Mirim seria revista após a retificação do rio no seu baixo curso. Em 1961, novas enchentes assolaram o vale. Simultaneamente à enchente ocorrida no mês de novembro, ocorreu uma tromba d’água em Blumenau que ocasionou mortes e muitas perdas materiais, transformando a enchente numa calamidade de enorme proporção. O Presidente da República João Goulart, sobrevoou a região inundada, destinando uma verba considerável aos primeiros socorros e às vítimas. Ainda em novembro, veio a Blumenau o Ministro da Viação e Obras Públicas, general Juarês Távora, que determinou que se fizessem imediatamente barragens nos braços formadores do Itajaí, capazes de evitar novas catástrofes. Sendo assim, motivados por mais uma enchente, o processo iniciado em 1957 foi retomado com todo vigor. Partiu-se, finalmente, para a construção. A Barragem Oeste foi iniciada em 1964, a Barragem Sul, em 1966, e a retificação do Itajaí Mirim, em 1963.
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Para serem concluídas, as obras levaram muito mais tempo do que fora inicialmente previsto. Várias enchentes ocorridas neste período voltaram a mobilizar a opinião pública e a classe política em torno das obras. Assim ocorreu em 1973 e em 1975. A Barragem Oeste foi concluída em 1973, com capacidade de 83x106 m³, e em 1975 a Barragem Sul, com capacidade de 97x106 m³. As obras da Barragem Norte, iniciadas em 1976, tiveram muitos obstáculos, mas foram concluídas, em 1992, graças a uma significativa mobilização popular. Essa terceira barragem tem capacidade de armazenamento de 357x106 m³. Às inundações catastróficas no ano de 1983, que causaram danos materiais na ordem de US$ 1,1 bilhão, seguiram-se novas iniciativas no sentido de “resolver” o problema. Em agosto de 1983, uma assembléia de cidadãos de Blumenau criou o Projeto Nova Blumenau, que foi em seguida ratificado pelo executivo municipal. O projeto era entendido como um esforço conjunto da comunidade no sentido de superar, no menor tempo possível, as conseqüências deixadas pelas últimas enchentes, e, ainda minimizar danos e poupar vidas nas enchentes que viessem a acontecer. No entanto a iniciativa não vingou e, já no ano seguinte, as catastróficas cheias se repetiram, trazendo mais destruição e alarme para toda a população do vale do majestoso – e muitas vezes irado – Rio Itajaí-Açu. Em 1996, a criação do Comitê do Itajaí, com o devido suporte legal, marcou uma nova fase na abordagem do problema das enchentes e no desenvolvimento de uma concepção mais abrangente de gestão integrada de recursos hídricos.
Aprender a lidar com os humores do velho rio, respeitar seus limites e necessidades, pastorear esta verdadeira fronteira líquida é um longo, envolvente e profundo aprendizado. Enquanto este conhecimento não estiver expresso com absoluta clareza na mente de cada cidadão deste vale, as calamidades não cessarão e o rio continuará cobrando o seu tributo em perdas, vidas e dores.
Barragens no Rio Itajai-Acu: BARRAGENS NO RIO ITAJAÍ-AÇU: Barragem Norte - José Boiteux (Rio Hercílio ou Itajaí do Norte) capacidade de contenção: 357 milhões m3 Área da bacia - 2.318 km2 Início da operação – 1992 Barragem Oeste - Taió (Rio Itajaí do Oeste) Capacidade de contenção: 83,4 milhões m3 Área da bacia - 1.042 km2 Início da operação - 1973 Barragem Sul - Ituporanga (Rio Itajaí do Sul) Capacidade de contenção: 97,5 milhões m3 Área da bacia - 1.273 km2 Início da operação - 1976 Juntas, estas grandes obras têm capacidade para armazenar 540 milhões de metros cúbicos de água, com um custo estimado de manutenção de R$ 800 mil/ano.
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Relacao das enchentes registradas em Blumenau, desde sua fundacao: ANO
DATA
COTA
ANO
DATA
COTA
ANO
DATA
COTA
1852
29/10
16.30
1935
24/09
11.65
1973
03/07
09.00
1855
20/11
13.30
1936
06/08
10.40
1973
22/07
09.30
1862
00/11
09.00
1939
27/11
11.45
1973
28/07
09.35
1864
17/09
10.00
1943
03/08
10.50
1973
29/08
12.35
1868
27/11
13.30
1946
02/02
09.45
1975
04/10
12.63
1869
21/10
11.00
1948
17/05
11.85
1975
13/12
08.50
1870
11/10
10.00
1950
17/10
09.45
1976
15/05
08.30
1880
23/09
17.10
1953
01/11
09.65
1976
29/05
10.85
1888
00/01
12.80
1954
08/05
09.56
1977
18/08
09.15
1891
18/06
13.80
1954
22/11
12.53
1978
26/12
11.50
1898
01/05
12.80
1955
20/05
10.61
1979
10/05
09.45
1898
25/12
11.30
1957
20/07
09.28
1979
09/10
10.45
1900
02/10
12.80
1957
02/08
10.60
1980
31/07
08.40
1911
02/10
16.90
1957
18/08
13.07
1980
22/12
13.27
1911
29/10
09.86
1957
16/09
09.44
1982
15/11
08.65
1923
20/06
09.00
1961
12/09
10.35
1983
04/03
10.60
1925
14/05
10.30
1961
30/09
09.63
1983
20/05
12.52
1926
14/01
09.50
1961
01/11
12.49
1983
09/07
15.34
1927
09/10
12.30
1962
09/09
08.94
1983
24/09
11.75
1928
31/05
08.20
1962
21/09
09.29
1984
07/08
15.46
1928
18/06
11.76
1963
29/09
09.67
1990
21/07
08.82
1928
15/08
10.82
1966
13/02
10.07
1992
29/05
12.80
1928
17/09
10.30
1967
18/02
10.50
1992
01/07
10.62
1931
02/05
11.05
1969
06/04
10.14
1997
01/02
09.44
1931
14/09
11.25
1971
09/06
10.35
1998
28/04
08.24
1931
18/09
11.53
1972
17/08
10.70
1999
03/07
08.26
1932
25/05
09.75
1972
29/08
11.35
2001
01/10
11.02
1933
04/10
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25/06
11.30
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A destruicao das matas nativas
A destruição e utilização irracional da mata Atlântica começou em 1500 com a chegada dos europeus. Nestes mais de 500 anos a relação dos colonizadores e seus sucessores com a floresta e seus recursos, foi a mais predatória possível. Registros oficiais apontam para a retirada maciça de madeira às margens do Rio Itajaí-Açu, na região do Rio Itajaí-Mirim, para a construção do Museu Nacional do Rio de Janeiro, no ano de 1820. No entanto, foi no século XX que o desmatamento e a exploração madeireira atingiram níveis alarmantes. Das florestas primárias só foi valorizada a madeira, mesmo assim apenas de algumas poucas espécies. Nenhum valor era atribuído aos produtos não madeireiros e os serviços ambientais das florestas eram ignorados ou desconhecidos. Todos os principais ciclos econômicos desde a exploração do pau-brasil, a mineração do ouro e diamantes, a criação de gado, as plantações de cana-de-açúcar e café, a industrialização, a exportação de madeira e, mais recentemente, o plantio de soja e fumo, foram, passo a passo, desalojando
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a Mata Atlântica. Historicamente, os setores agropecuário, madeireiro, siderúrgico e imobiliário pouco se preocuparam com o futuro das florestas ou com a conservação da biodiversidade. Pelo contrário, sempre agiram objetivando o maior lucro no menor tempo possível. O mais grave é que esta falta de compromisso com a conservação e, muitas vezes, até o estímulo ao desmatamento, partiram dos governos. Um exemplo da forma como o desmatamento era estimulado pode ser encontrado em Relíquias Bibliográficas Florestais (ENCINAS, 2001), que transcreve uma exposição de motivos feita em 1917 pela Comissão da Sociedade Nacional de Agricultura para o Ministro da Agricultura, Indústria e Comércio. A Comissão solicitava ao governo federal e aos governadores dos Estados que fizessem ampla campanha estimulando o corte de nossas florestas para exportação ao mercado europeu depois que terminasse a primeira guerra mundial. No documento intitulado “o corte das mattas e a Exportação
das madeiras brasileiras”, pode-se encontrar o seguinte parágrafo:... “Seria um acto revelador de intelligente previsão e muito remunerador aproveitarmos o prazo que nos separa da data em que se celebrará a paz, para darmos a máxima actividade á indústria extrativista das madeiras, formando por toda a parte, na proximidade dos nossos portos de embarque, avultados stocks de madeiras seccas e limpas que serão procuradas com empenho e promptamente expedidas por bom preço, para o exterior, quando a guerra cessar”. ...”por meio de reiteradas publicações feitas na imprensa diária de todos os municípios, e por outras medidas adequadas, estenderia a patriótica propaganda para todo o país...”. Já no final da década de 1920, podia-se ver o resultado perverso das políticas florestais equivocadas da época. Uma descrição da irracionalidade praticada contra a Mata Atlântica pode ser encontrada num livro escrito em 1930 por F.C.Hoehne. Ao liderar uma expedição, na qualidade de assistente-chefe da seção de botânica e agronomia do Instituto Biológico de Defesa Agrícola e Animal do Estado de São Paulo, Hoehne percorreu de trem a região das matas onde ocorria a araucária, nos estados do Paraná e Santa Catarina, passando pelas regiões de Curitiba, Ponta Grossa, Rio Negro, Mafra, São Francisco do Sul, Porto União, além de outras cidades menores, chegando a Joinville. Registrou em detalhes a beleza da paisagem, a diversidade da flora, a presença humana e a destruição promovida pela exploração madeireira irracional e pela expansão de
pastagens e agricultura sem nenhum cuidado com o meio ambiente. Em Três Barras, a caminho de Porto União, Hoehne descreveu com intensa revolta a enorme degradação promovida pela empresa South Brasilian Lumber and Colonisation Comp. Ltda., que recebera a concessão para explorar milhares de hectares de florestas ricas em araucárias e imbuias. Hoehne escreveu: ““... Alguém disse que nosso caipira é semeador de taperas, fabricante de desertos e um inimigo das matas. .Assim procederam e continuam agindo os vanguardas da nossa civilização que denominamos pioneiros e desbravadores do sertão. Urge que os governos opponham um dique à onda devastadora de madeiras, que ameaça transformar nossa terra em um deserto.” Segundo registros oficiais, numa conferência em Minas Gerais, realizada em 1924, um orador disse: entre nós é nulo o amor por nossas florestas, nula a compreensão das infelizes conseqüências que derivam de seu empobrecimento e do horror que resultaria de sua completa destruição. “Fortalecer o sentimento (de conservação) é uma medida de necessidade urgente”. Durante a primeira Conferência das Nações Unidas Sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada em Estocolmo (Suécia) em 1972, os representantes do governo brasileiro deram ao mundo um dos mais deploráveis exemplos de desconsideração para com o meio ambiente, de todos os tempos, ao declararem “que venha a poluição,
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desde que as fábricas venham com ela”. Não só os governantes, mas a maioria dos brasileiros também sempre foi indiferente à destruição da Mata Atlântica, cabendo aos cientistas e algumas figuras públicas a defesa de teses conservacionistas, pelo menos até a década de 1970. Somente nos últimos 30 anos, com o surgimento e crescimento do movimento ecologista, começa uma lenta mudança na consciência do povo brasileiro em relação ao meio ambiente. Boas iniciativas começam a surgir e florescer, sendo valorizadas pela população que, a cada dia, percebe a necessidade de preservar, cuidar, proteger e preservar. Uma das mais valorosas iniciativas no que tange à vegetação que faz parte da Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí-Açu é a do Projeto Piava que, entre suas muitas campanhas em prol da preservação da qualidade do rio, deflagrou e mantém um trabalho de reconstituição das matas ciliares.
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As matas ciliares estão para um rio como os cílios estão para os olhos, daí o nome. Elas protegem as correntes de água, incentivam a fertilidade em cadeia, que dá e mantém vida aos ecossistemas integrantes de uma bacia. Da vegetação original das matas ciliares do Itajaí-Açu muito pouco restou, devido ao intenso processo de desmatamento. A mata original, em toda a sua exuberância e riqueza, era composta de plantas como o Coqueiro-jeriva, Guamirim, Cedro, Cedro rosa, Canela-guaicá, Amoreira, Guarapuvu, Tucaneira, copiúva, grumixama, tanheiro, camboatá branco, acoita-cavalo, figueira-branca, jerivá, ipê-amarelo, mamica-de-porca, pau-jacaré e açucará entre outras. Desta riqueza original quase nada sobrou, e o Projeto de Recuperação da Mata Ciliar se dedica, vagarosa e sistematicamente, a recompor toda esta diversidade, devolvendo ao majestoso rio um pouco da riqueza que lhe foi tirada.
Poluicao, agressao e outras interferencias: Os rios têm um papel importante na diluição de esgotos domésticos e efluentes industriais. Mas o uso de um curso d’água para a diluição dos esgotos deve respeitar certos limites, de maneira a não comprometer a qualidade da água. Caso contrário pode inviabilizar outros usos. A quase ausência de estações de tratamento de esgoto nos municípios da bacia do Itajaí é responsável pelos principais indicadores de baixa qualidade da água, os coliformes fecais e a demanda bioquímica de oxigênio, ambos altos demais na maioria dos pontos estudados. O principal impacto ecológico da poluição orgânica em um curso d’água é a redução dos teores de oxigênio dissolvido. Os esgotos domésticos possuem muita matéria orgânica que, quando é lançada na água, entra em decomposição. Nesta fase de decomposição, a matéria orgânica consome o oxigênio disponível na água. Os dados mostram que 1 litro de esgoto consome aproximadamente 300 mg de oxigênio, em 5 dias, no processo de estabilização da matéria orgânica. Igualmente, a diluição dos efluentes industriais pode e tem
se constituído num problema grave que aflige a bacia hidrográfica do Itajaí como um todo. Para não haver dano ao rio, é preciso observar a composição dos rejeitos e o processo industrial utilizado. Os estudos realizados pela FATMA mostram que a carga poluidora lançada pelas indústrias estimada de mais de um milhão de habitantes, com o tratamento adequado reduziu-se para o correspondente a uma população de aproximadamente 250 mil habitantes. Foram estimadas as vazões médias de esgotos industriais
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para cada município, em função das vazões captadas pelas indústrias, adotando-se um coeficiente de retorno igual a 0,7, ou seja, para cada 10 litros, 7 retornam ao rio. Foram consideradas, para fins de cálculo das vazões de efluentes industriais, tanto os efluentes oriundos de águas captadas superficialmente, quanto os oriundos de águas subterrâneas. Outro aspecto que pode abalar a cadeia ecossistêmica de uma bacia hidrográfica é a geração de energia elétrica. Tudo indica que a energia hidráulica continuará sendo, por muitos anos, a principal fonte geradora de energia elé-
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trica no Brasil. Embora existam fortes restrições ambientais e uma distribuição irregular do potencial hidrelétrico, estima-se um crescimento intenso da geração deste tipo de energia no Brasil. Atualmente, há uma tendência de se utilizar as pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) para gerar energia. Na bacia do Itajaí existem 8 PCHs (pequenas centrais hidrelétricas) em operação, principalmente em Rio dos Cedros, Benedito Novo, Doutor Pedrinho, Blumenau e Taió, e outras planejadas ou em construção. Existem também diversas microcentrais hidrelétricas. Igualmente, a atividade portuária, importante para a economia de Santa Catarina e de Itajaí, é outro exemplo de uso das águas e que pode pôr em risco o equilíbrio dos recursos hídricos. Para receber os navios de grande porte são realizadas dragagens constantes na área do porto, em Itajaí, e isto afeta a ecologia e a morfologia do rio Itajaí. Outro uso freqüente é a extração de areia e seixos do rio Itajaí-Açu e de alguns de seus afluentes. Este uso já foi alvo de um termo de ajustamento de conduta proposta pelo Ministério Público Federal, para estabelecer limitações à exploração.
Usos da Agua Afinal de contas, pode-se perguntar... Para que serve a água? O Rio está à nossa volta, faz parte da nossa vida e da nossa história, mas dificilmente paramos para refletir sobre seus usos e utilidades. Toda a água produzida na bacia hidrográfica pode ter diversos usos e, por ser tão necessária, a demanda de água pode superar sua disponibilidade e causar conflitos. Estes conflitos são agravados pela degradação da qualidade da água. Tecnicamente, a água de um rio oferece usos denominados como consuntivos e não-consuntivos. O uso consuntivo é aquele que impõe a retirada de água, havendo perda entre o que é retirado e o que retorna ao rio. Já o uso não-consuntivo é aquele em que não existe a necessidade de retirar as águas dos rios. Segundo informações do PROJETO PIAVA, os principais e mais praticados na bacia do Rio Itajaí-Açu são: Abastecimento humano: este uso é considerado o mais prioritário e nobre, uma vez que o homem depende da oferta adequada de água para sua sobrevivência. A água potável é aquela que não causa prejuízos aos sentidos. Abastecimento industrial: água usada na indústria, no processo produtivo. Cada indústria tem um uso específico e requisitos particulares; por exemplo: indústrias alimentícias exigem água de ótima qualidade, já as que necessitam de água apenas para o resfriamento, exigem que esta seja livre de substâncias que causem o aparecimento de incrustações e corrosão nos dutos. Dessedentação de animais: também considerado um uso nobre, pois trata de manter a vida dos animais nas atividades pecuárias.
Irrigação: a irrigação representa o uso mais intenso dos recursos hídricos, sendo responsável por 70% do consumo de água doce do mundo. A irrigação pode carrear para os corpos de água subterrânea e superficial as substâncias empregadas para o aumento de produtividade da agricultura (fertilizantes e defensivos). Geração de energia elétrica: a água é utilizada para fins energéticos, por meio da geração de vapor d’água nas usinas termoelétricas ou pelo aproveitamento das quedas nas usinas hidrelétricas, como é o caso das Pequenas Centrais Hidrelétricas – PCH’s. em todos os casos, os requisitos de qualidade da água são pouco restritivos, mas o uso causa impactos ambientais devido à inundação, devido à mudança no regime da água ou devido ao desvio do curso do rio.
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Assimilação e transporte de poluentes: apesar do uso não ser recomendado, os corpos d’água são utilizados para assimilar e transportar os despejos nele lançados (esgotos urbanos, esgotos das atividades rurais e efluentes industriais). O comportamento dos corpos de água como receptores de despejos varia conforme suas características físicas, químicas e biológicas e de natureza das substâncias lançadas. Grande parte da poluição da bacia do Itajaí se deve aos esgotos domésticos lançados nos cursos de água, sem tratamento.
flora e da fauna. No Vale do Itajaí se pratica intensamente a piscicultura.
Preservação da fauna e flora: O equilíbrio ecológico do meio aquático deve ser mantido, independentemente dos usos que se faça da água ou dos cursos d’água. Para isso, é necessário garantir a manutenção de concentrações ideais de oxigênio e de sais dissolvidos, e não despejar substâncias tóxicas acima de concentrações críticas para os organismos aquáticos. Aqüicultura: a criação de organismos aquáticos de interesse para o homem requer padrões de qualidade praticamente idênticos aos necessários para a preservação da
Mineração: A mineração se dá de muitas formas. No Vale do Itajaí é muito comum a extração de areia e de seixos rolados dos rios, o que caracteriza, portanto, um uso da água. A modificação das calhas dos rios em decorrência da extração de areia é um impacto importante, que tem gerado conflitos em muitas localidades.
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Recreação: a água em si e os cursos d’água oferecem várias alternativas de recreação. Existe um valor econômico bastante expressivo associado ao aspecto estético da água. Corpos de água poluídos são inconvenientes ao homem, em decorrência da liberação de odores desagradáveis, da presença de substâncias flutuantes e da turbidez excessiva.
Navegação: A navegação fluvial e o serviço portuário são usos da água que independem de sua qualidade. Atualmente, a navegação no rio Itajaí é quase inexistente, mas o serviço portuário é um importante uso do rio Itajaí.
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RECORDAÇÕES DO ITAJAÍ-AÇU Desde a ponte de ferro à praça Vinha a nado quando era criança Água fresca, dádiva e graça Esse tempo não sai da lembrança Hoje em dia tu estás poluído Mesmo assim são belas tuas curvas Aquele tempo ainda está refletido Em tuas águas que agora são turvas Eram limpas, tom esverdeado Via o fundo quando mergulhado O teu leito de areão espalhado Lembro de criança os folguedos Nas tuas águas afogava meus medos Nadando e descobrindo segredos Jairo Martins
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Viver às margens de um rio marca a vida de uma pessoa. Seja pela cantilena rumorosa e constante da batida da água nas pedras, seja pela imensa massa líquida que, ora abençoa e apascenta, ora ameaça e amedronta quem vive em seus limites. Viver às margens de um rio é conviver diariamente com uma fronteira líquida, um limiar que, se limita as caminhadas, alonga indefinidamente o olhar. A passagem constante das águas lava a terra, a pedra e, de certa forma, as mágoas do coração. Quem vive às margens de um rio já sabe que nada é definitivo e se acostuma a tomar a fertilidade que ele traz e transformá-la em frutos que, vez por outra, ele mesmo leva embora. Assim, viver às margens de um rio é aprender que perdas e ganhos são os dois lados da incrível moeda do jogo da vida. O medo, a doação, a vida em todos os seus movimentos é o grande aprendizado de quem vive em torno de um rio. Esta sabedoria é antiga, e está presente na mitologia de todas as civilizações, como a sinalizar que, desde sempre, a água é fonte de criação, vida e fecundação. No poema bíblico da criação, o espírito pairava sobre as
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águas, numa clara referência simbológica ao poder da água como criadora da vida. Os astecas veneravam a deusa água, denominada Chalchiuhtlicue, e o deus da chuva, Tlaloc. Para os incas, a divindade das águas, denominada Pachamama, era incomparavelmente poderosa. Os egípcios adoravam Taueret, a deusa guardiã do Nilo, fonte de suas maiores riquezas e até os nossos indígenas Xoklengs, que aqui estavam antes que nossos ancestrais sequer sonhassem com esta terra, reverenciavam o Rio ItajaíAçu como a fonte geradora da vida. O Professor Nanblá Gakran, indígena da tribo Xokleng e que é hoje um dos maiores responsáveis pela preservação desta quase extinta cultura, reconta o mito da criação que ouvia da boca de seu avô, quando menino: “E os Vãjeky (homens da tribo) saíram da água. Eles queriam sair e ficaram esperando do lado de baixo da água. Enquanto isso, Plándjug Cacique Xokleng) veio subindo, fazendo o caminho. E quando terminou de fazer o caminho, voltou para buscar os outros. Então vieram subindo com ele. Onde pisaram em terra firme, prepararam o lugar e festejaram dançando.” A presença marcante da tradição e do conhecimento da força das águas, dos rios e fontes é tão antiga quanto a humanidade, e tão importante quanto a mesma!
A menina, o avo e o medo Quando eu era pequenina, uma das coisas que eu mais adorava fazer era passar temporadas na casa dos meus avós maternos. Minha avó Maria era a doçura e ingenuidade personificadas numa mulher corpulenta, grisalha e doce como mel. Ela tinha aroma de flor de laranjeiras, olhos de quem sabia das coisas da vida, e habilidades únicas na manufatura de uma autêntica “coruja” assada em forno a lenha. Meu avô era um homem severo, sempre de cenho franzido, pouco se o via rindo, mas de uma bondade incomparável. Ambos tratavam de fazer da minha estada em sua humilde e graciosa casinha, às margens dos trilhos do trem, os períodos mais gloriosos da minha vida. Cometiam agrados de todas as formas, eram coniventes com meus pequenos caprichos infantis e tudo aquilo que eu gostava era providenciado num piscar de olhos, só pela alegria de me verem feliz. Meu avô, sempre de chapéu na cabeça (antes nu do que sem chapéu, dizia ele, como cavalheiro de velha estirpe) e mãos geladas que encostava no meu rosto quente, num gesto de inesquecível ternura, era experimentado nas artes do preparo de um bom peixe. Nascido em Porto Belo, pele sazonada pelo ar marinho, criara-se pescando, preparando e comendo peixes dos bons. E não seria a vida em Blumenau que o impediria de continuar saboreando uma de suas iguarias preferidas. Assim sendo, comprava na feira livre, cedo pela manhã, peixes frescos recém-vindos do litoral, e os preparava ele mesmo, com prazer inigualável. Nada de filé pronto, limpo e congelado. O peixe vinha se debatendo, semi-vivo, numa prova cabal e irrefutável do seu frescor. E dá-lhe eviscerar o peixe, numa operação que me causava uma mistura de nojo e fascínio. Mas o melhor momento, o gran finale de cada temporada passada lá era quando ele, num tom de voz baixo e conspirador, me dizia sussurrando: - Tininha, hoje à noite vamos jogar as tripas no rio!! Esta simples frase continha uma promessa arrepiante e aventureira, um ritual muitas vezes repetidos por nós dois. Íamos, na calada da noite, meu avô e eu, ele levando numa mão o pacote contendo as vísceras eliminadas do peixe e na outra a minha mãozinha fria e trêmula, e eu levando meus pavores e excitação. Era uma grande aventura, um perigo enorme! Ele sempre me alertava que, se fôssemos flagrados, provavelmente seríamos presos... e eu acreditava piamente, sabedora de que me arriscava por
amor a ele! Como era ferroviário, meu avô residia numa casa rente aos trilhos do trem, numa região que hoje perdeu todo o encanto mágico que tinha para mim, quando criança. Vivíamos ali sempre expectantes, esperando ouvir o apito do trem ao longe, uma constante ameaça temida pela minha avó como a cruz pelo diabo. A casa ficava a poucos passos da Ponte de Ferro (era assim que todos a chamavam naquela época) logo depois do temível túnel por onde o trem passava para singrar a garbosa terra blumenauense. O primeiro perigo era encontrar o trem exatamente durante a travessia do túnel, supremo terror da minha avó. Mas o mais excitante, apavorante e maravilhoso era chegar até o meio da ponte, olhar para as águas ferozes do rio e nelas atirar o pacotinho que o meu avô escondia sob o casaco, diligentemente, transformando uma simples operação de eliminação de lixo doméstico numa aventura rocambolesca digna dos melhores romances que coloriram a minha infância. Se não esqueço jamais meus avós, tão meigos e amorosos, também não esqueço o rio, enfeitiçante e ameaçador, a me olhar lá de baixo, pelos vãos estreitos das tábuas da ponte, como que a me desafiar com sua força viril. Embora eu tenha enfrentado enchentes assustadoras, morado quase às margens do Ribeirão Garcia, me banhado em suas águas então límpidas, esta é, talvez, a minha lembrança mais forte do Rio Itajaí-Açu.
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Darcio Lucas, a vida e a morte nas aguas O RAFTING no Rio Itajaí-Açu se transformou não só numa atividade de esporte radical conhecida em todo o Brasil, mas também numa fonte de renda para um bom número de cidadãos da valorosa cidade de Ibirama. O mais conhecido deles é o Dárcio Lucas, proprietário do Ibirama Rafting Radical, a empresa mais antiga e organizada da região. Quando fomos fotografar o Rio Itajaí-Açu, numa inesquecível expedição da qual fizeram parte mais constante meu marido Gilberto e o fotógrafo do projeto, Marcello Sokal, sentimos necessidade de singrar o rio de barco, em diferentes trechos, a fim de encontrar ângulos e situações inusitadas para as fotos. Eu também queria experimentar a sensação vivida pelos nossos ancestrais, quando aqui viviam totalmente dependentes da locomoção que o rio permitia, utilizando bateiras, botes e jangadas. Um dos percursos que fizemos foi desde o molhe da barra até a altura de Ilhota, repetindo o percurso que os nossos imigrantes tinham que realizar
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para chegar à colônia. Junto desta, a outra maior emoção foi o rafting que realizamos no trecho que vai da Ilha das Cutias até Apiúna, conduzidos exatamente pela expertise do Dárcio. Depois do atendimento cordial da Liane, esposa dele, que estava grávida em seus últimos dias e nos ajudou com os óculos e o protetor solar, saímos para nossa grande aventura. Assim que colocamos o barco na água e começamos o incrível périplo pelas águas às vezes turbulentas do ItajaíAçu, encantados com o panorama inédito e surpreendente que se nos oferecia, o Dárcio comentou que sua mãe estava muito doente, fato que lhe causava muita tristeza, pois ela era ainda muito jovem, e sempre fora uma verdadeira batalhadora. Depois de uns vinte minutos de “rema, pára, no chão, em frente, atrás, etc.” e muitas corredeiras e paisagens de embriagadora beleza, o celular do Dárcio tocou. Imediatamente eu pensei: - vai ver a mulher do Dárcio foi para a maternidade... era o que o seu ventre protuberante estava a anunciar quando a deixáramos, há pouco. Mas o Dárcio apenas ouviu, ficou calado e, logo depois, grossas lágrimas começaram a cair de seus olhos bem azuis. A notícia não era de vida, era de morte. Sua mãe acabara de falecer. Eu então pensei na ironia da situação dele, vivendo do rio e dele extraindo o seu sustento e a manutenção da sua família diariamente. O Rio Itajaí-Açu é tão importante para o Dárcio, sua água está tão entranhada nele como se corresse em suas veias, que até os momentos mais importantes da vida dele ele vivencia dentro desta água que abençoa a vida e a morte!
Arlindo Pereira, o pescador de Apiuna Arlindo Pereira é guarda na Indústria de Malhas Brandili. Nasceu, criou-se e pouquíssimas vezes saiu da cidade, pela qual nutre um inequívoco sentimento de amor e orgulho. Mas uma das maiores habilidades do Arlindo é a pesca! Ele aprecia os peixes de água doce como os mandins, jundiás, traíras, carpas e tilápias. Sabe como ninguém fazer um belo assado com os peixes que o Rio Itajaí-Açu, generosamente, lhe oferece. Mas sente uma imensa tristeza quando olha para o Ribeirão do Tigre, um riacho assoreado que corre ao lado do seu local de trabalho. Seus olhos contemplam a areia, a poluição e o estrangulamento da água que corre tímida, suja e barrenta, mas o que ele ainda vê é uma imagem guardada na retina... um rio de águas límpidas, rumorosas e fagueiras, repleto de vida, peixes saltando e uma velha árvore que, debruçada preguiçosamente sobre ele, permite que a passarinhada faça festa nas bagas vermelhas oferecidas. Mais do que isso, ele recorda a oportunidade de festas todos os finais de semana, que obedeciam sempre o mesmo ritual: levantar cedinho, colocar uma roupa velha e confortável, preparar varas e anzóis e partir em busca do almoço domingueiro. Arlindo não sabe o que era melhor: se a farra de pescar os jundiás, as traíras, as tilápias, os carás, as piavas espertinhas e puladeiras ou o almoço depois, a família reunida em torno do peixe assado fresquinho e caseiro, temperado com alfavaca colhida no jardim de casa e acompanhado de alfaces verdes e crocantes!!
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Nauri Miranda – o guardiao das nascentes No município de Rio do Campo, uma cidadezinha perdida no alto Vale do Itajaí, daquelas nas quais a vida ainda passa despercebida, preguiçosa e sem grandes mudanças, existe uma área rural (???) denominada Rio Azul. É lá, encravada numa montanha de ares mágicos e quase sempre coberta de intensa bruma que está guardado um dos maiores tesouros de Santa Catarina: a principal nascente de Sua Majestade, o Itajaí-Açu. E como toda majestade, tem também seu guardião que, no caso, é o Nauri Miranda. Como súdito fiel de todo rei velho e sábio, Nauri lhe rende homenagens
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constantemente, e zela pelo seu bem estar de uma forma quase automática, sem nem mesmo saber bem o porquê. Nauri não conhece as mazelas deste reinado, pouco ou nada sabe da poluição que o ataca, das agressões que ele sofre constantemente. O que o faz zelar pela nascente é um sentimento natural, brotado de suas muitas caminhadas no mato, da sua contemplação pura e ingênua da natureza e a certeza de que, de alguma forma, ele tem responsabilidade sobre isto. Nauri nem conhece o verdadeiro dono daquelas terras, só sabe, porque alguém falou, que parece que é algum ricaço dono de muitas terras, que vive na distante cidade de Lebon Régis. Mas ele é vassalo fiel, e uma vida de muitos sacrifícios, que ele sabe enumerar, rindo como se fosse a coisa mais natural do mundo, fizeram dele um homem consciente das suas obrigações e deveres, independente das dificuldades. E elas são muitas para um homem que levanta às 4h30min da manhã todo santo dia, toma um café reforçado e começa seu trabalho na direção de um microônibus a bordo do qual faz o transporte escolar da região. O serviço, que é mantido pela Prefeitura Municipal de Rio do Campo, a exemplo da maior parte dos municípios que possuem extensa área rural, garante a escola da criançada destas perdidas várzeas do nosso estado que, se constitui apenas 2% do território nacional, é enorme para quem o palmilha com olhos abertos e atentos. Enorme e rico de tipos como o Nauri, que não recusa serviço, jamais atrasa nos horários porque a criançada depende dele para não perder aulas e só chega em casa desta cansativa lida diária lá pelas 23h00, depois de palmilhar quase 200 quilômetros, e isto todo santo dia. Apesar desta rotina cansativa, Nauri continua sendo um súdito fiel e presta reverência e homenagens para aquele rei que nasce tão perto da sua casa. Muitas vezes, quando o frio cobre de gelo a estrada de chão batido que passa diante da sua casinha, ele vai para o quintal com a cuia fumegante de chimarrão nas mãos e, olhando para a montanha mágica que guarda e protege o segredo do majestoso rio, rende graças a este velho rei que, sem nem entender tecnicamente porque, ele sente no sangue que, de alguma forma, garante a sua própria vida!
Uma viagem de trem a Rio do Sul Quando eu tinha aproximadamente uns cinco anos, minha mãe levou-me de trem para Rio do Sul, para visitar a minha madrinha Genni Schneider. Para além da expectativa magnífica de usufruir as benesses de uma madrinha que mais parecia um anjo, uma mulher de uma bondade inesquecível e coração do tamanho do mundo, a viagem em si provocou toda uma excitação inenarrável dias antes da partida. Andar de trem! E uma viagem longa, quase uma odisséia... era assim que se apresentava a ida a Rio do Sul, cidade que parecia de outra galáxia para uma criança nascida e criada sob o céu de Blumenau. No dia aprazado, lá estávamos nós, ansiosas e expectantes, sob a humilde plataforma da estação modesta de trens cujo prédio sobrevive, até hoje, como uma clínica veterinária. Um meninote passou com uma grande bandeja, oferecendo pastéis fresquinhos e já fiquei com água na boca, ansiando por ingerir aquelas delícias. Fiquei nervosa porque minha mãe não esboçou a menor intenção de comprar aquelas verdadeiras maravilhas... mal sabia eu que o menino embarcaria conosco no trem e passaria toda a viagem nos tentando com seu tabuleiro de delícias.
Quando embarcamos, outra emoção. Sentir o trem se movimentando, vagarosa e persistentemente, cada vez mais rápido, expelindo fumaça e apitando com uma coragem e garbo únicos, e absolutamente inesquecíveis! A valorosa máquina de ferro cuspia fogo pelas ventas e escalava, com força inacreditável, as cercanias do nosso amado Vale do Itajaí. Lembro com nitidez da emoção da primeira travessia do Rio Itajaí-Açu. O trem enfrentou a ponte como um lutador de boxe diante do seu maior adversário e, dando de ombros para o rio que o desafiava, desfiando rendas d´água lá embaixo, soltou uma baforada forte e cruzou a ponte de ferro com uma coragem que arrepiou a minha nuca. Jamais esquecerei as águas encapeladas do Rio Itajaí-Açu, que pareciam querer desafiar o trem, atraí-lo para um mergulho sem volta. Feiticeiras como sereias, suas ondas rendilhadas pelo vento do final da tarde tentavam seduzir o trem trabalhador, esforçado, dedicado. E ele, vencido pelo seu espírito alemão blumenauense de ser, ignorava a sedução do rio e ia adiante, rompendo a serra e nos levando para o nosso destino, orgulhoso de sua força e coragem!
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“A água que se toca nos rios é a última daquela que se foi, e a primeira daquela que vem. Assim é o tempo presente.”
Leonardo da Vinci
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A maria-sem-vergonha (Impatiens sultani) Quantos nomes pode ter uma plantinha? Normalmente, aquele popular, pelo qual todos a conhecem, e o científico, que garante a sua catalogação científica e existência oficial perante os meios acadêmicos. Pois será que há, por estas bandas, planta mais comum e recorrente do que a maria-sem-vergonha? Onipresente nas barrancas do ItajaíAçu, onde quer que haja um mínimo traço de umidade ela floresce valorosa e colorida! É tão dadivosa na explosão de cores espontânea e gratuita, que acabou recebendo este nome quase que ofensivo, mas que reflete a sua sem cerimônia em oferecer, quase que escandalosamente, a sua cornucópia de cores em miríades de florinhas que, se são de uma singeleza ímpar, compensam toda esta simplicidade com uma fertilidade e presença ímpares. É quase impossível dissociar a maria-sem-vergonha do Rio Itajaí-Açu. Ambos são presentes que a natureza, diariamente, coloca à nossa disposição, sem nada pedir em troca!
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A " batera" velha de guerra Desconheço se, em algum outro lugar do mundo, se usa o nome BATERA, ou BATEIRA. Mas aqui no Vale do Itajaí, não existe outra forma mais adequada para referir-se à canoa feita de madeira vergada, encaixada de uma maneira que só os velhos carpinteiros dominam, e que com tanta freqüência é vista singrando as águas do Itajaí-Açu. Subindo o Vale, a freqüência com que se avista uma velha bateira atracada nos fundos das casinholas que margeiam o rio é tanto maior quanto mais se adentra o interior. Usada para transporte e pesca, a bateira velha de guerra é a grande companheira de um sem-número de moradores que dela extraem mil e uma utilidades. Porém, as épocas em que ela se torna mais útil são também as mais tristes. É nas grandes enchentes que a bateira se torna o mais valoroso meio de salvar vidas, transportar um sem número de coisas, levar víveres de um lado para o outro e, finalmente, contemplar a desolação que o nosso rio causa quando, zangado com as interferências inadequadas dos seus súditos, ele se espraia como um mar sobre as cidades, vilas e vales, com uma fúria que nos cala e faz refletir sobre tudo!
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A valorosa sarandi (Phyllanthus sellowianus) Aprendi com o Ademir Mewes, que é um dublê de guia de rafting, fotógrafo amador nas horas vagas, e operador de máquinas nas obras da Usina Salto Pilão, que as ilhotas que enfeitam a corrente do Itajaí-Açu são cobertas de uma planta valente denominada Sarandi. E digo valente porque, há décadas, o Rio possuía pelo menos o triplo de pequenas ilhas que pontuavam com graça única a sua paisagem. Porém as capivaras, no afã de se alimentarem, comiam as raízes da vegetação que as cobria, tornando o solo fraco e poroso. O resultado não demorava a aparecer.
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A indômita passagem da corrente do Itajaí-Açu ia levando a terra, levando, levando... até que a ilhota se desfazia na água, deixando um vazio insubstituível. As únicas que resistiram ao ataque conjunto dos animais e da correnteza foram aquelas cobertas pela valente Sarandi, que nada teme e desenvolveu a capacidade de se enraizar na rocha. Vai daí que não podem ser comidas, portanto resistem, mantendo desta forma as ilhotas esverdeadas que, garbosamente, diferenciam o traçado único e generoso do nosso grande e majestoso rio.
Diminuicao da sujeira no rio: consciencia ou necessidade? Há cerca de uma década, era algo triste singrar o Rio Itajaí-Açu de barco, ou mesmo observar a passagem da correnteza às suas margens. A quantidade de plásticos boiando, tristemente presa à ramaria que margeia o rio, ou simplesmente estagnada nos mais belos recantos formados pelos caprichos da correnteza era assustadora. Tentativas de limpar o rio, recolhendo o lixo, resultavam praticamente inócuas, dada a quantidade gigantesca de lixo acumulado. Hoje, observando-se atentamente, detecta-se uma diminuição acentuada deste acúmulo. Porém é algo triste constatar que esta diminuição não decorreu de uma maior conscientização das populações, notadamente as ribeirinhas, e sim da necessidade! Com o surgimento da reciclagem de materiais, o plástico oriundo de garrafas, sacos e embalagens diversas passou a ser mercadoria valiosa e, portanto, diligentemente juntado para ser vendido... Salve a reciclagem e o resultado financeiro dela decorrente, que conseguiu fazer o que anos de trabalho de conscientização não conseguiram!
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De onde vem este tal de Pilao? Atravessando o trecho mais profundo do Rio Itajaí-Açu, no município de Ibirama, um pouco antes do canteiro de obras da Usina Salto Pilão, e que possui surpreendentes 45 metros de profundidade, descobri finalmente o porquê do nome “Salto Pilão”, como era denominado um dos trechos mais belos e radicais das corredeiras do rio, e que infelizmente teve que ser drasticamente diminuído por conta das obras da Usina. Os mais antigos aprenderam a observar que as águas em torvelinho entravam em pequenas cavidades das rochas que compunham o leito do Rio Itajaí e ali, girando loucamente, conseguiram, ao longo de décadas de trabalho constante, cavar buracos muitas vezes de inacreditável profundidade. É comum encontrar cavidades dessas com mais de 30 metros, fruto do trabalho constante e persistente da perfeita conjunção água/rocha/tempo!
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A Ilha das " Cutias" Considerada a maior ilha fluvial do sul do Brasil, a Ilha das Cutias (a grafia é assim mesmo, com U) é um encanto à parte no traçado do Rio Itajaí-Açu. Ela está situada numa grande bifurcação do rio, logo após a desembocadura do Rio Hercílio. Contam antigas lendas que, como as águas do Hercílio, que entram no Itajaí-Açu um pouco amedrontadas de se derramarem naquela corrente imperiosa e selvagem, queriam permanecer próximas da sua nascente, foram acumulando sedimentos a fim de permanecer mais próximas de sua origem. Com tanta força e empenho o fizeram que se formou, com o passar das eras, a Ilha das Cutias, morada preferida destes graciosos animaizinhos.
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As sociedades de vala O mais notável regime de apropriação da água na bacia do Itajaí foi desenvolvido pelos produtores de arroz, introduzido na região por colonos italianos de Ascurra, Rodeio e Rio dos Cedros, a partir de 1883. Os primeiros produtores tentaram cultivar arroz a seco, mas a baixa produtividade deste método e a alta infestação de plantas daninhas e pragas levaram os agricultores a optar pela cultura do arroz irrigado. Água para isso não faltava. Quando as propriedades não tinham um ribeirão para irrigar as suas terras, o colono repartia com seu vizinho menos afortunado a água que não lhe fazia falta. Com a constante expansão das arrozeiras, surgiu a necessidade de se encontrar um meio de se obter água suficiente para todos os plantadores de arroz. A solução estava na construção de canais de irrigação. Para isso reuniam-se os interessados, discutia-se a viabilidade do projeto e, uma vez aprovado, formava-se uma sociedade, estabelecendo-se os direitos e as obrigações dos associados. Isso feito, represava-se o ribeirão principal em sua parte superior, desviando parte de suas águas através de um canal construído rente à base das encostas, em nível superior às arrozeiras, de modo a facilitar sua irrigação. O registro mais antigo é o da abertura do canal na valada secundária de São Pedrinho, em Rodeio, no ano de 1912. A
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adoção dessa prática rapidamente se espalhou em toda a região. Construíam-se grandes valos com ferramentas manuais. Para levar água até as quadras de arroz, erguiam-se tapumes ou barragens nos rios, resultando num sistema de irrigação compartilhado por diversos produtores e gerenciado de forma comunitária pelas sociedades de vala, também chamadas de sociedades de água, vala de companhia, associação de vala ou turma da vala. A maioria dessas sociedades existe até hoje de modo informal, com regras e normas respeitadas e consolidadas por meio da prática e dos costumes do cotidiano na lavoura. Alguns cobram taxas, quotas de produção ou prestação de serviços para a manutenção do sistema, com diferenças sutis entre as do Alto, do Médio e do Baixo Vale. As sociedades de vala estão presentes em 23 municípios. Gaspar e Pouso Redondo são os municípios com o maior número de associações de vala cadastradas: 17 e 18 grupos, respectivamente. A área média irrigada por esses grupos alcança os 40,38 ha e a área média por sócio chega aos 5,36 ha. Percebe-se que grandes partes dos rizicultores que integram as sociedades de vala são pequenos produtores. Tanto que, ao todo, 926 rizicultores, dos cerca de 3.300 existentes, trabalham em sistemas coletivos de abastecimento.
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Lendas e causos envolvendo o Rio ItajaiAcu e seu vale, extraidas dos livros Lendas e Causos de Santa Catarina I e II, de Isabel Mir Brandt e Maria Jose Ribeiro:
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O Escravo Simeao e Nossa Senhora da Conceicao Se foi milagre, só uns poucos velhos moradores de Itajaí sabem contar. E foi assim que aconteceu: naquela época Itajaí era uma vila muito pobre e a primeira capelinha construída para Nossa Senhora da Conceição era muito pequena, de pau-a-pique e barreada. O Major Agostinho Alves Ramos, como devoto da Santa, mandou um escravo rebelde chamado Simeão construir uma nova capela de pedra. Ele assim o fez, mas sem muito esforço. Dois anos mais tarde, o escravo estava limpando a capela, quando as paredes de pedra começaram a cair. Apavorado, ele
correu até a imagem da Santa, abraçou-a com toda força e prometeu construir uma nova capela, caso saísse com vida do desmoronamento. Testemunhas contaram mais tarde que Simeão estava em pé, no meio dos escombros, abraçando a Santa, branco de susto e sem um arranhão sequer, quando o desmoronamento terminou. Foi a partir desse episódio que, não só o Major Ramos e o escravo Simeão, mas toda a colônia de Itajaí passou a se empenhar na construção da maravilhosa Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição.
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Ze do Mato e as orelhas dos Botocudos Tudo começou quando Zé do Mato se juntou à Companhia de Pedestres dos irmãos Martins. Sem ser convidado, nem sequer constava dos registros e diários de caçadas dos irmãos, mas todo mundo sabia que ele seguia a tropa mato adentro e, muitas vezes, era o responsável pela localização dos acampamentos dos índios botocudos. Mas na hora de cortar as orelhas dos mortos a confusão estava armada! Ele queria a sua parte, mas os outros alegavam que ele não pertencia à companhia e por isso não teria direito às orelhas e muito menos ao pagamento que os colonos da colônia Hamônia sempre faziam por elas. Um dia, Zé do Mato resolveu enganar os bugreiros. Depois de uma bem sucedida caçada, Zé do Mato disse para eles que tinha uma surpresa. Dias antes ele tinha enterrado umas garrafas de cachaça, da forte, no lugar onde costumavam acampar. Antes de descer a serra até Hamônia, ele desenterrou a cachaça e ofereceu aos bugreiros que beberam e fizeram muita festa. Tarde da noite, totalmente bêbados, foram dormir. Cada um usava o seu colar de orelhas. Eles penduravam-nas no pescoço, para exibi-las como troféus
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e impressionar as moçoilas da colônia. Zé do Mato aproveitou o momento, cortou os colares e saiu em desatada corrida pela picada no meio da mata, em direção a colônia Hamônia. Queria chegar antes de todos, pousar de herói. Tinha que pegar o dinheiro e dar o fora, antes que os irmãos Martins chegassem em seu encalço. Já era madrugada, foi quando corria, desviando dos obstáculos, que Zé percebeu que estava sendo seguido, não pelos bugreiros, mas por um bando de índios que o ameaçavam com suas lanças e flechas. Como estava sozinho e não tinha como enfrentar o bando de índios, voltou ao acampamento, devolveu as orelhas e pediu ajuda aos companheiros. Animados com a possibilidade de conseguir mais algumas orelhas, os bugreiros nem prestaram muita atenção no que tinha acontecido e se lançaram na captura desse novo bando de índios. Já estava amanhecendo e finalmente os bugreiros se lançaram ao ataque. Conseguiram matar todos, como sempre faziam. Mas, quando foram cortar as orelhas dos índios mortos, perceberam que eles já estavam sem
orelhas. E que o número de orelhas que traziam penduradas no pescoço equivalia ao número de índios. Apavorados, resolveram fugir dali. Nem sequer pensaram em voltar ao acampamento para recolher alguns víveres deixados lá. Corriam e andavam o mais rápido possível, quando foram cercados por um bando de índios. A luta que se seguiu foi mais feroz do que as anteriores, mas os bugreiros, que tinham armas de fogo, logo lograram matar todos eles. Quando os bugreiros sacaram o facão da cintura para cortar as orelhas, viram espantados que esse bando também não tinha mais orelhas, e estava em igual número às orelhas dos colares. Então resolveram que não deixariam os corpos ali abandonados e passaram o dia cavando e sepultando os índios. Cansados, com pouca munição e sem víveres, a tropa resolveu que deveria voltar o mais rápido possível para o acampamento onde poderiam repousar, se alimentar e recarregar as armas. No outro dia, seguiram para Hamônia. Mas naquela noite foram atacados por um bando de índios sujos de terra e sem orelhas. Desesperado, no meio da luta Zé do Mato começou a arrancar os colares de orelhas dos bugreiros e a jogar para os índios, que paravam de lutar, escolhiam as orelhas, colocavam-nas no lugar e iam embora. Assim foi, até que não sobrasse mais nenhuma orelha e nenhum índio. Quando tudo estava terminado, os bugreiros, muito assustados com os acontecimentos, decidiram que nunca contariam a nin-
guém o que tinha acontecido, nem registrariam tal fato nos diários de caçadas. Nisso, olharam para Zé do Mato e perceberam que ele estava sem as duas orelhas. Em Lontras, todo mundo sabe contar as histórias dos irmãos Martins, os grandes caçadores de bugres. Mas quando se trata de falar do Zé do Mato, a maioria desconversa. É que os acontecimentos daquela época, quando os colonizadores contratavam os caçadores de bugres e pagavam os seus serviços em troca das orelhas dos mesmos, nem sempre devem ser ditos em alto tom. Circulam de boca em boca, mas sempre se fala baixinho. O fato nunca deve ser dito a mais de uma pessoa, senão a assombração volta. E a assombração do Zé do Mato gerou muitos boatos. Sabe-se que ele deixou a Companhia de Pedestres, formada pelos homens que caçavam bugres lá pela serra do Mirador, e mudou-se para Florianópolis. Tentou várias profissões, mas nada deu certo. Até que ele resolveu enfrentar o seu destino: voltou a Lontras, embrenhou-se na mata em busca de suas orelhas e nunca mais voltou. Há alguns colonos e mateiros da região que dizem ter encontrado uma ossada humana no meio da mata. Mas ninguém mexe e nem conta onde encontrou, pois se mexerem e forem os ossos do Zé do Mato, a assombração voltará. Tem gente que faz trilha ecológica por aquelas bandas que diz ter visto, durante as caminhadas, alguns troncos de árvores com orelhas. Eles juram e fotografam. Mas nas fotos as orelhas nunca aparecem.
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O pilar do farol de Jaragua Em Jaraguá do Sul, há um pilar solitário no meio do rio Itapocú. Se alguém perguntar para um morador de Jaraguá o que o pilar do farol faz ali, parado no meio do rio, ele vai responder que é para sinalizar as margens direita e esquerda. Se perguntar a outro, ele vai dizer que é para sinalizar as enchentes. Outro pode dizer ainda que é para sinalizar a quantidade de curiosos que olham para o pilar e saem perguntando o que não tem resposta. Tem gente que diz que o pilar é para lembrar dos velhos políticos que tinham poder e construíram um pilar de farol no meio do rio só porque quiseram fazê-lo. Alguns moradores alegam que o pilar é para mostrar para as águas do rio onde fica o leito.
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Um morador falou que o pilar de farol foi construído no tempo que havia peixe no rio, para ajudar o povo a pescar. É que o peixe vinha nadando no meio do rio, batia com a cabeça no pilar, ficava desnorteado e vinha pra margem, onde entrava facilmente nos puçás dos pescadores. Também tem morador que afirma que o pilar foi construído para sinalizar a aterrissagem de uma nave com minúsculos extraterrestres que, de vez em quando, chega a Jaraguá do Sul, para abduzir e engravidar algumas jovens solteiras. Mas há aqueles moradores mais velhos que falam – e até juram ser verdade – que um dia houve uma ponte de ferro apoiada naquele pilar.
O Rei de Pomerode Num país onde não há mais reis, até dá vontade de ser um deles. Em Pomerode, um aprendiz de sapateiro quis ser rei e até o foi, por um curto período de tempo. Ele se chamava Hermann e, como precisava conquistar as pessoas que seriam seus súditos, fez-se antes curandeiro. Com um carretel de linha que dizia ser mágica, fazia curas e assim se tornava conhecido, admirado e rico. Não tardaria, no entanto, para que a inveja se instalasse naquele futuro reino. Mas ele só pensava em dar andamento ao seu audacioso plano. Como todo rei tem que ter um castelo, ele construiu um que chamou de Hotel Oásis. E todo rei que tem um castelo precisa de uma corte. Então ele organizou festas faustosas e seus convidados eram as pessoas muito ricas ou os políticos influentes da região. As festas do rei do Hotel
Oásis ficaram famosas. Mas, como todo rei de reinos pobres, ele gastava mais do que ganhava e logo ele começou a cobrar ingresso dos seus convidados. E, como em todo reino cuja nobreza não se importa com o rei, nem com o povo, ninguém gostou de pagar a conta e abandonaram o rei. Então o rei foi pedir dinheiro emprestado aos ricos que antes comiam e bebiam as suas custas e eles cobraram com juros e correções cada centavo emprestado. Assim o rei Hermann, cada vez mais pobre, pediu o último empréstimo a um parente próximo. Como não pagou, perdeu seu reino, sua corte e seu castelo por 800 cruzeiros. Os súditos ele não perdeu, porque nunca os teve. O castelo abandonado foi saqueado até virar escombros. E o rei Hermann morreu pobre e esquecido pelo povo de Pomerode.
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A travessia das bruxas Um antigo morador das margens do Rio Itajaí, onde hoje fica a cidade de Navegantes, muitas noites se viu envolto pelo mistério da canoa. Naquele tempo, as casas eram construídas com os fundos para as margens do rio, onde cada morador costumava amarrar a canoa em algum toco de árvore, para que ela não se perdesse na correnteza, ou fosse levada por alguém que desrespeitasse a propriedade alheia. Mas naquela casa, a canoa sumia todas as noites e aparecia amarrada do outro lado do rio, no dia seguinte. Sempre era preciso pedir para alguém que fosse buscar a canoa. Numa noite, o dono da canoa resolveu passar a dormir dentro dela, para impedir que a mesma fosse para o outro lado do rio. Quando amanheceu, ele percebeu que estava na outra margem. Muito assustado, remou rapidamente de volta pra casa, e recomendou à sua mulher que vigiasse a canoa, enquanto ele ia até a venda da vila para comprar uma corrente com cadeado. E, naquela noite, depois de acorrentar a canoa, ele foi dormir com a chave do cadeado no pescoço. Na manhã seguinte, a canoa estava do outro lado do rio novamente.
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Na noite seguinte ele resolveu não dormir, ficou a noite inteira de arma em punho, sentado, com um lampião aceso, dentro da canoa. Mas foi só dar uma cochilada motivada pela longa noite de vigília e lá estava ela de novo no outro lado do rio! Então ele resolveu chamar o padre para benzer a canoa, mas ela continuava fazendo suas travessias noturnas. Foi quando ele resolveu chamar uma bruxa que morava na outra margem, para desfazer o encantamento da canoa e, se desse resultado, ele pagaria com uma parte do peixe que ele pescava todos os dias. Naquela noite, ele fingiu que tinha ido dormir e se escondeu no rancho da canoa, para ver como a bruxa quebraria o encanto. De repente, ele ouviu muito barulho e risadas vindas de dentro da própria casa. Mesmo assustado, foi espiar pela janela, e para sua surpresa, percebeu que estava casado com uma das bruxas de Navegantes, que os colonizadores tinham trazido num dos navios vindos de Açores. As outras bruxas tinham ficado do outro lado, em Itajaí. E agora a canoa tinha trazido todas elas para o lado de cá, Navegantes, e elas estavam ali, na sua casa numa agradável reunião.
Quando um indio criou Deus Um dia, um índio estava cansado. Então, para não ir para a caçada, ele disse aos outros índios: - esta noite, enquanto observava o fogo, tive uma visão que disse que eu deveria ficar junto ao fogo por três dias e que as chamas me diriam onde estava a caça. Para isso os homens deveriam deixar-lhes água e alimento suficientes, pois ele não poderia se afastar do fogo. Os outros índios estranharam, mas, como respeitavam o poder do fogo, foram para a caçada sem ele. Assim o índio observou o mundo que o cercava, por três dias. Quando os outros índios voltaram, não tinham caçado nada, e perguntaram: - então, onde está a caça? E o índio que não queria caçar respondeu: - o fogo me disse que quando não houver caça grande, de carne e sangue vermelho como suas chamas, que comamos os peixes, de carne branca como a água. E os outros índios saíram em busca dessas carnes. Tempos depois não havia mais peixe, e então os índios perguntaram onde estava a caça e os peixes. E o índio que não queria mais caçar e passava os dias se alimentando com o alimento trazido pelos outros índios, tendo todo o tempo para observar a natureza, disse: - A água falou comigo e disse que tivéssemos as frutas como alimento. – E os índios assim o fizeram. Mas um dia as frutas acabaram e os índios perguntaram: - onde está a caça, os peixes e as frutas? E o índio que não queria mais caçar respondeu: - Deus tirou tudo de nós porque não o adoramos. E os índios perguntaram: - quem é Deus? Mostre-nos quem ele é que faremos com que nos devolva tudo o que nos foi tirado. Então o índio que não queria mais caçar, nem morrer, fez um homem de barro e atirou-o dentro da fogueira. Atiçou o fogo e assustou os índios que se afastaram. Então encheu a boca de água e cuspiu no fogo, que se apagou. Depois pegou o homem de barro, mostrou aos outros índios e disse: - aqui está Deus, vocês devem adorá-lo e, de todo o alimento que conseguirem, deverão deixar para Deus uma parte. E os índios assim foram procurar alimentos. Um dia o índio que não queria caçar ficou velho e, entre seus filhos, chamou aquele de quem mais gostava – que também não queria caçar – e contou-lhe o segredo de como criou Deus. Mas o outro irmão, que gostava de caçar e lutar não gostou da história. Matou o filho predileto, roubou Deus, e tornou-se o guardião da imagem. Então
ordenou aos outros índios que construíssem uma fortaleza para que ninguém mais ousasse roubar seu Deus. Providenciou guardas para o dia e para a noite, e ordenou-lhes que morressem, se fosse necessário, para proteger o Deus. E os outros índios assim o fizeram. Um dia os índios souberam que do outro lado do grande vale, existiam outros índios que também tinham um Deus, e que aquele Deus dava-lhes mais alimentos do que o Deus deles. Então abandonaram-no, e foram em busca do outro Deus. O Deus de cá não gostou e matou os índios.
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O espirito que chora em Indaial Durante os treinamentos que os “milicos” do 23º. Batalhão de Infantaria de Blumenau fazem às margens do Rio Itajaí-Açu em Indaial, acontecimentos misteriosos ocorrem e que poucos ousam contar. Mas foi o sargento Willian que fez o relato ao seu comandante, na esperança de que o local de treinamento fosse mudado para que tais fatos não ocorressem mais. - Comandante, a gente avisa... Mas os milicos não tomam jeito... Então é melhor mudar de local. Toda noite quando seleciono quem vai ficar de guarda, é um problema. Os recrutas mais medrosos preferem ficar presos no batalhão a ficar de guarda durante a noite; e os recrutas metidos a corajosos sempre se dão mal. E todos dizem que a menina chora a noite inteira e só sossega quando algum recruta cai dentro do rio. Diante do espanto do comandante, o sargento Willian explicou que há muitos anos, a região era chamada de indaiá pelos índios. Foi na época da guerra do Paraguai, quando os recrutadores dos Voluntários da Pátria passaram por Blumenau, que alguns jovens que não queriam ir para a guerra
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se esconderam nos palmeirais de Indaial com a ajuda dos índios que viviam na região. Mas os recrutadores vieram atrás, pois sabiam que os jovens eram bons armeiros e atiradores, já que todos freqüentavam os clubes de caça e tiro onde treinavam suas pontarias. Essas habilidades eram muito valiosas na guerra. Quando os recrutadores chegaram, houve muita confusão, brigas e correria na aldeia. Uma indiazinha apavorada resolveu se esconder entre as pedras do rio, onde ficou presa e exausta de tanto lutar para se soltar do meio das pedras pegou no sono. Naquela noite caiu uma chuva torrencial elevando as águas do rio Itajaí e cobrindo o corpo da indiazinha. Seu corpo nunca foi encontrado, então os índios pediram a Tupã que o rio fosse um lugar sagrado, onde seu espírito repousaria. Muitos anos mais tarde, apareceram outros soldados que faziam manobras de guerra naquela região e que despertaram o pequeno espírito da indiazinha que chora, apavorando durante a noite. E quando alguém se aproxima dela, as águas do rio Itajaí formam corredeiras tentando proteger seu pequeno espírito.
O portico de Indaial e as lembrancas do velho Wigand Era no tempo das caravanas de tropeiro há muitos que em Timbó havia uma grande ferraria. Servia de ponto de partida e chegada das tropas, com seus cavalos, mulas e carroças. Tinha muito serviço a ser feito, mas era também um lugar onde se trocava todo tipo de informação, pois os tropeiros sabiam o que acontecia nos mais remotos rincões das terras recém-colonizadas. Muitas vezes, as grandes companhias de tropeiros contratavam os ferreiros de Timbó para fazerem parte da companhia por um tempo determinado, mas esses ferreiros não queriam se ausentar muito tempo de casa e de suas famílias, apesar da recompensa financeira que tal empreitada tinha. Contam que essa mania que os timboenses tinham de se ausentar por longos períodos de suas casas, atiçava os colonos de Indaial, que a título de ajudar as mulheres nos afazeres da roça, também ficavam em Timbó fazendo
o papel de maridos substitutos. Toda essa tramóia foi descoberta por causa das enchentes do Rio Itajaí que impediram que a companhia seguisse o costumeiro caminho, e então resolvesse voltar para Timbó, até que as águas baixassem e o caminho fosse transitável. Dizem que na fuga dos maridos substitutos, alguns levaram tiros, outros pedradas e pauladas, que as mulheres choravam e pediam clemência, houve até quem afirmasse que os fujões se vestiram de mulheres para fugir da fúria dos maridos traídos. Muitos anos mais tarde, os indaialenses inauguraram orgulhosamente o portal da cidade. E foi o velho Wigand que, saudoso dos tempos da ferraria de Timbó, falou em alto e bom tom para quem quisesse ouvir: vai ficar muita galhada nesse pórtico.
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VIII
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Desde que os primeiros imigrantes letrados começaram a derramar as saudades de sua terra natal em textos e poesias, inspirados nas paisagens que traziam na retina da lembrança e que, paulatinamente, se iam mesclando com a imagem do cotidiano, o Rio Itajaí-Açu tem sido cantado
em muitas línguas e cantos. Impossível reunir, numa única pesquisa, toda a produção literária gerada sob a inspiração do generoso rio, cujas águas fertilizam muito mais do que terras, batizando a palavra inspirada de quantos o tem decantado em prosa e verso.
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A Colonia
Autor: Albrecht Wilhelm Sellim – 1866 (Escrita originalmente em alemão e traduzida por Gertrudes Scheltzke) Como és bela ao amanhecer do dia, Quando o orvalho brilha na verde relva E o perfume das flores paira na floresta. Os riachos jubilam canções primaveris, Desce murmurante ao vale, o ribeirão, Ainda envolto em suave neblina. As ondas se pintam de rubros tons, Na verde mata a vida está a acordar. E, para receber sua majestade o sol, Entoa seu mavioso hino, o sabiá. Como és bela iluminada pelo sol, Que silencioso, com ofuscante luz, Das brumas da noite te fez despertar. As palmeiras balançam suavemente, Em suas copas, coloridos papagaios Ao longe, das arapongas, o martelar. No pomar, na roça, todos ativos, Velhos e jovens estão na labuta, trabalhando aqui na colheita do milho, e semeando ali o fruto futuro. Como és bela no silêncio crepuscular, Quando os raios do sol, com fulgor, se despedem Abraçando a mata com um dourado adeus. A cada instante surgem novos encantos Que nos deslumbram e nos entusiasmam, Fazendo ao infinito o pensamento voar. Os pirilampos iniciam seu bailado, Ouve-se ao longe, das rãs, o coaxar. De entre nuvens, vitoriosa surge, A bela lua, com prateado esplendor.
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Blumenau
Autora: Maria Kahle – 1872 (Escrito originalmente em alemão e traduzido por Wilfried Krambeck) Através de extensas plantações, ricas e bem arranjadas, Corre a viagem, através de jardins, ardentes de flores, Onde ao lado de penugens de rosas sobre varas de pêssego Abundantemente no emaranhado de folhagens do sul, frutos dourados crescem. Em cada curva ri-se uma cumeeira de telhado, da ampla casa enxaimel adornada com telhas vermelhas, Com janelas em branco emolduradas, claro como espelho, Com galinhas, gansos, cachorro e bando de patos Junto ao riacho. O sol envolve em fixo pano de seda dourado O rápido rio, a floresta, o verde campo de pastagem, A barca passa através de vermelhas fogosas ondas... Pálida desce a noite, quando o objetivo da viagem se aproxima. Na margem do rio, aconchegante e familiar, Blumenau se expandiu Como um jardim, através do qual o dia das pessoas agradavelmente passa... Assim um dia uma cidadezinha junto ao Weser olhou para mim.
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Ode a Timbo Revisitada Autor: Lindolf Bell
No ramo desta memória desfio as manhãs, desafio o meu coração. Terra conciliada, ilhada entre a distância das colinas e a memória. vão dos tempos de antes onde ajuntarei o que a infância deixa entre as frestas, as festas, as telhas, os entulhos, vão dos tempos de depois onde plantarei nem despojo nem cinza apenas tempo, tempo no ritmo dos dias e águas de nascer onde vivo. Nenhum navio rodou mais sobre si mesmo que o meu coração em sua viagem circular, pião solto na tarde de domingo, a vida grudada debaixo da planta dos pés debaixo de árvores simples e olhares solenes de amigos ainda solidários, ali na clareira das tardes onde comecei a fiar a minha teia de intrincado destino e a misturar os sonhos como as contas de um colar inesperadamente desfiado pelo temporal. Oh! Coração, folhagem das timboranas, dos antúrios do vaso do vazio, da vazante do mar longínquo do tempo de parar ou partir.
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E pensar que nenhuma dessas nuvens sobre os morros ergueu-se em vão entre os vãos do meu tempo de partir e meu tempo de voltar, nuvens colhidas pelos olhos e pelo desejo de saber para onde chegar nas bicicletas pedaladas e aladas da incerteza. Lavrar é o meu tempo de sempre. Fruta passageira para sempre nas funduras da memória guardada entre achas de lenhas rachadas e súbitas palavras e a dor entalhada entre as folhas e rachaduras da realidade e o continente de viver onde a sede de terra me ampara e o tempo ocila na ambígua imagem. No ambíguo ramo destas memórias me armo. Não fosse a dor entalhada entre as folhas e as folhas e as nervuras abertas de viver,
Não fosse o arroio com pedras feitas do dia e da noite, o arrozal com chuva nas espigas e o rosto dos meninos se espelhando e espalhando nas águas turvas, não fosse o rosal na lavra constante do fugaz instante das lavras, não fossem as carroças de estrumes. com os extremos de viver e morrer atados no mesmo feixe de lavrador, não fossem as roças onde o tempo cresce sem plantar e os cavalos fosforescem as crinas da invisível certeza. Oh! Coração, celebra a tua órbita ascendente, que no ramo desta memória me armo.
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Rio Itajai
Autor: Arnaldo Brandão (Extraído do Livro Poemas de Arbran, Edições Pongeti, 1951) O céu azul, as margens verdes E as águas vivamente amareladas Esta é a longa bandeira Que se desprende do alto da serra E vem, graciosamente, encontrar-se com o mar... Por elas deslizam touças de água-pés E pelas suas ribanceiras florescem aleluias E se debruçam salgueiros chorosos... O rio corre por sobre as pedras E foi, assim, que o chamaram Os primitivos Guaranis. Rio caudaloso e longo Por onde sobem e descem Pequeninas embarcações. A brisa que sopra no vale
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Faz ondular, com elegância, os imensos canaviais e os arrozais dourados pelo sol da manhã. Nas tuas margens, grande rio, Cidades e aldeias se reclinam, Para mirar nas tuas águas As torres das suas igrejas, E as flores dos seus jardins. ... e o rio, correndo e saltando Por sobre as pedras Vem se arrastando, Até encontrar-se com o mar. Aí então, os dois se abraçam E deste amplexo grandioso, Nasceu a cidade de Itajaí...
Nauemblu
Autor: Dennis Lauro Radünz O rio irremovível vela sem açus nauemblu a cupidez da tristeza entretecida trama a malha viária O rio indevassável sela conluios (tessitura eterna) nauemblu irremovível, indevassável perece adolesce em vigília vã a tecelã.
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Ha Risco
Autor: Tchello d’Barros - livro de poemas “Palavrório” Com quantos rios Se faz a canoa Desenha-se um risco No rio que é a vida Desdenha-se um riso Nem eu me arrisco Sou menos que isso Só um arabesco Um mero rabisco
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Leito Desfeito Autor: Carlos Braga Mueller Eu olho pro Rio e rio. Chove. O rio sobe. Eu olho pro rio e choro. Deus, imploro: Quero rir de novo !
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AguAlento Autora: Isnelda Weise
Translúcida, fria, morna, ou ardente mas sempre presente, em alguma estação. Água, deságua em bocas sedentas, em corpos ferventes, que do flagelo fogem em busca de alento, tal qual grande rede. Estação sede. Água deságua em rostos suados, em ruas seminuas, em becos escuros sem cor nem horizonte. Estação fonte. Água deságua com modéstia imensa em qualquer lugar. Brota, sorrateira, e abastece, indolente o solo estéril, em tempo de estio. Estação rio. Água deságua Em noite brejeira, eis que sua audácia em forma de chuva, esconde o luar. Para, aguaceira, na aurora do dia encher de jasmim toda jardineira, e fazer-se primavera. Estação mar!
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Obituario Verde
Autor: Cácio Machado da Silva, do Livro Folhas de Outono De surpresa, Fui pego pelo noticiário, Me fez muito mal, Estampado no jornal. Onde fiquei sabendo Que um irmão meu Havia morrido, Não pude acreditar, Retraí-me a rememorar. Por um tempo a lembrar Que era tão forte e vigoroso Às vezes tranquilo e remansoso Doutras
Agitado e barulhento Não fumava, não bebia, Não tinha tumores, Nem leucemia Mas morreu. Era bem mais velho do que eu. Foi minguando, perdendo o brilho Enxugando até secar. Sentirei sua falta. Com ele Não posso mais brincar Como fazia desde guri. Morreu meu RIO Que passava Atrás da casa onde nasci.
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Crianca do Vale das Enchentes
Autor: Roberto Diniz Saut – do livro “Circo aparente da vida real” No vale verde do rio açu Nascem loiras crianças Ao som da chuva, dos ventos, do frio E crescem crianças medrosas do rio. Feliz do berço seco Que lama não molha! Feliz da terra fértil Que rio não mancha! Quando anoitece Em céu encoberto, Recolhe-se o sorriso E alegria empobrece Teares trabalham, Máquinas estalam, Janelas umedecem, Nervosos adultos que falam, Agitam, se apavoram Rostinhos pequenos Erguem-se ao senhor, Aflitos na prece, Orando que amanhã Venham o dia E o sol protetor Criança que vai Criança que vem, Alegre esperando Momentos de paz. Vale verde, Verde enchente, Chuva que chora No rio nosso açu E crianças recolhem Brinquedos no sótão, Pequeninos corações Lavradores, operários, Lavados de dor! Chove, chove no vale da criança, Onde o sol é a única esperança!
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Acu Amante
Autora: Dorothy de Brito Steil Toca o peito A margem da vida Limpa o limo Do beiral Massageia Suavemente Teu corpo Nas curvas do dorso Embriaga Com o perfume Os lírios floridos Enfileirados desde a nascente
Espuma de ardor Lavam em burburinho As marcas desse amor Ama desvairadamente Açu sorrateiro O vale e a gente blumenauense enquanto rabisco poemas em tuas águas ao porvir ao futuro que madura na moldura do existir
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O Corpo do Barco Autor: Marcelo Steil
O corpo do barco É um oco que ocupa A vaga que o mar Lhe toma em garupa E o volume d´água Que o bojo desloca É a força que tolda Acima suas costas O corpo do barco Acolhe o pescado E os homens que deixam No mar seus pecados Nos braços que os remos Nas curvas do dia Contornam os extremos Da vida, essa via. Ao barco meu corpo Do pouco que resta Girar oceanos Em justa calestra
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Rio em Versao Normal Autora: Ana Paula dos Santos 11 anos - 5ª série O rio é que corre como gato O rio tem cheiro de ar fresco A cor do rio parece Amarelo queimado Minha rua tem um barulho É fato Minha cidade É perfeito retrato
Rio em Versao Apaixonada O Rio é louco como amor O Rio tem cheiro de sabor A cor do rio parece paixão A minha rua tem um barulho Como declaração Minha cidade parece Corações loucos apaixonados
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Idas e Vindas
Autora: Maria de Fátima Hammes Na beira do cais do meu cotidiano Ancorei meu barco lento cheio de sonhos Como num mar revolto De águas turbulentas, me vi náufraga O tempo passou, partiste Assim como o sol se põe no horizonte Assim como as folhas secas são varridas pelo vento Hoje meus pés tocam a areia branca sem direção E o meu olhar se perde na imensidão Nas idas e vindas da minha vida Tu vais e vens e ficas ainda Preenches o espaço que é teu e te escondes Mas depois partes sem dizes para onde Adormeço e esqueço a razão da espera Estás perto, num certo lugar sem mim
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O Nosso Rio Autora: Edith Kormann
Nasceu de uma fenda Rola pelas rochas E com frêmito envolve os pequeninos Serpenteia belo e majestoso pelo vale Brinca com areia das praias Despenca das cachoeiras com fúria e beleza Abraça os que nele penetram Levando-os para a eternidade No seu leito dormem sonhos Que explodem com as tempestades Que invadem a alma dos blumenauenses
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Sonho em Aguas Navegaveis Autor: Suzana Mafra Sonho como um rio Que vai pro mar Em busca de amor Leva em si Flores e música Por onde ele passa Faz-se serenata A moça que abre a janela Pensa: que música é aquela ?! Rio de águas limpas E coração sensível Leva em si nobre carta Escrita em música Tocada em flauta
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O Ceu Acima do Acu
Autor: Tchello d’Barros – livro de poemas “Palavrório” O espelho de mim mesmo Na retina dos teus olhos Deixam sombras os meus passos Sobre o rosto da cidade Dormitam as capivaras Ao som de teares e tramas E gerânios azulados Exalam o cio do pólen Que destino sinuoso Tão incerto e inefável Dessas águas nesse rio No espelho dos teus olhos O destino é tão difuso Quanto esse nosso beijo
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Sem Titulo
Autora: Raquel Furtado Este rosário de conflitos dramatizo, complico E o rio continuará na mesma direção ...Amanhã... O rio açu-azul margeia imagem Mas depois da margem a água não é boa.
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Sem Titulo
Autor: Vicente Freshel de Mello Rego Aspiro à esfera celeste, E a estrela alva da manhã Com brando e suave zéfiro!... Navio errante em sonhos As pálpebras se fechando, Num paralelo distante, Com a floresta curva Percorrida até o fim. Ao final numa canoa de cedro Crepitando sua pira Sobre as águas de um límpido rio.
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Desencontro das Aguas Autor: Geraldo Luz
Ao domingo azul do mar prefiro as águas do rio: verde-claras, verde-escuras, conforme a composição. Claras de ver o fundo, Escuras de ver os peixes Boiando, mortos, boiando Nas águas que foram verdes Verde-claras, verde-vivas. Ao domingo azul do mar prefiro as águas do rio.
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XI
Autor: Lindolf Bell Amei a tarde plena De navios, ruas estreitas, Becos largos sonhos, A tarde cheia do destino, Temporais da infância, Amei a tarde de olhos e narizes e bocas Na praça aberta de meu tempo interior, A tarde cheia das esperas, Encontros, outras tardes, E a palavra inventando teu pássaro rosto Sentado no tempo, Vago na queda, Pronto no vôo. Ponte onde te vi passar, Onde as águas de um rio passam E passa um barco todas as tardes, Meu coração preso Entre as tábuas do fundo Eu te arrebatarei numa hora qualquer, Lâmpada efêmera das águas. Sim, eu te vi, te vejo, Te verei, alma da tarde
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Texto Liquido
Água. Aquático. Aqüífero. Aqueduto. Aquanauta. Aquário. Aguado. Aquoso. Aguaçal. Aguaceiro. Aguaceira. Aguacento. Aguadilha. Desaguadouro. Água de cano. Água de coco. Água de cheiro. Água de colônia. Água de flor. Água de goma. Água benta. Aguagem. Aguardente. Água-mãe. Água-marinha. Aguapé. Aguapezal. Aguaraquiá-Açu. Água que passarinho não bebe. Pantanoso. Encharcado. Alagadiço. Bebedouro. Escoamento. Cacimba. Açude. Barragem. Cachoeira. Cascata. Lago. Lagoa. Laguna. Lençol freático. Chuva. Chuvisco. Garoa. Toró. Chuvarada. Pé d´água. Poça. Poço. Adutora. Nuvem. Mar. Gota. Respingo. Duto. Corredeira. Correnteza. Orvalho. Sereno. Névoa. Neve. Gelo. Charco. Lágrima. Rio. Riozinho. Riacho. Ribeirão. Córrego. Arroio. Corredeira. Corrente. Fio d´água. Fiapo. Sanga. Regato. Igarapé. Ribeira. Sangradouro. Várzea. Vazante. Corixo. Furo. Grota. Lageado. Canal. Riachuelo. Riachinho. Braço. Corrediço. Curso. Leito. Fonte. Nascente. Montante. Jusante. Vazante. Afluente. Talvegue. Vala. Veio. Rio Nilo. Rio Tâmisa. Sena. Danúbio. Reno. Douro. Prado. Mississipi. Amarelo. Tejo. Misouri. Zaire. Ganges. San Francisco. Huang Ho. Lena. Eufrates. Tigre. Mekong. Mackenzie. Yenizei. Volga. Orinoco. Indo. Arkansas. Orange. Colorado. Columbia. Dnieper. Reno. Tamisa. Jordão. Loire Tibre. Elba. Senegal. Vermelho. Amazonas. Negro. Juruá. Purus. Madeira. Mamoré. Uruguai. Guaíba. São Francisco. Pojuca. Canoas. Pelotas. Tietê. Novo. Paranapanema. Paraná. Tocantins. Solimões. Xingu. Tapajós. Jurema. Branco. Juruá. Trombetas. Uatumã. Araguaia. Paraguai. Iguaçu. Grande . Parnaíba. Taquari. Sepotuba. Rio Acaraú. Rio Jaguaribe. Piranhas. Potengi. Capibaribe. Uma. Pajeú. Turiaçu. Pindaré. Grajaú. Itapecuru. Mearim. Verde. Azul. Bonito. Lageado. Adaga. Itajaí. Itajaí Grande. Itajaí do Norte. Itajaí do Sul. Itajaí Pequeno. Itajaí-Mirim. Itajaí-Açu. SUA MAJESTADE, O ITAJAÍ-AÇU! Christina Baumgarten.
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IX
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Protopoema (José Saramago in As Pequenas Memórias) “Do novelo emaranhado da memória, da escuridão dos nós cegos, puxo um fio que me aparece solto. Devagar o liberto, de medo que se desfaça entre os dedos. É um fio longo, verde e azul, com cheiro de limos, e tem a macieza quente do lodo vivo. É um rio. Corre-me nas mãos, agora molhadas. Toda a água me passa entre as palmas abertas, e de repente não sei se as águas nascem de mim, ou para mim fluem. Continuo a puxar, já não há memória apenas, mas o próprio corpo do rio. Sobre a minha pele navegam barcos, e sou também os barcos e o céu que os cobre, e os altos choupos que vagarosamente deslizam sobre a película luminosa dos olhos. Nadam-me peixes no sangue e oscilam entre duas águas como os apelos imprecisos da memória. Sinto a força dos braços e a vara que os prolonga. Ao fundo do rio e de mim, desce como um lento e firme pulsar de coração. Agora o céu está mais perto e mudou de cor. É todo ele verde e sonoro porque de ramo em ramo acorda o canto das aves. E quando num largo espaço o barco se detém, o meu corpo despido brilha debaixo do sol, entre o esplendor maior que acende a superfície das águas. Aí se fundem numa só verdade as lembranças confusas da memória e o vulto subitamente anunciado do futuro. Uma ave sem nome desce donde não sei e vai pousar calada sobre a proa rigorosa do barco. Imóvel, espero que toda a água se banhe de azul e que as aves digam nos ramos porque são altos os choupos e rumorosas as suas folhas. Então, corpo de barco e de rio na dimensão do homem, sigo adiante para o fulvo remanso que as espadas verticais circundam. Aí, três palmos enterrarei a minha vara até a pedra viva. Haverá o grande silêncio primordial, quando as mãos se juntarem às mãos. Depois saberei tudo.
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As ĂĄguas de um rio, seja correndo selvagens por sobre as pedras, seja desenhando quadros de infinita beleza ou percorrendo as cidades, traçam vida, desenham fertilidade, criam novas realidades. É a arte do Divino Gestor que se manifesta em cada partĂcula do nosso imenso e maravilhoso planeta.
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ร gua corrida, รกgua parada. Rio da vida, vida no rio. Tudo se dilui nas รกguas criadoras, que nunca cessam sua incansรกvel busca por novas realidades.
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O rio, com sua constância pertinaz, ensina a cada ser a necessidade de lutar, prosseguir, evoluir. A natureza Ê a såbia professora, ensinando-nos silenciosamente os caminhos a seguir.
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Os rios desafiam a mão humana. Por mais que sofram interferência dos homens, sempre dão um jeito de impor a sua personalidade, o seu jeito único de ser, o seu traçado inamovível. A mão humana constrói e o rio acomoda, com sabedoria milenar. 158
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Esteira de luz, emoldurada por filigranas de sutileza incomparรกvel que a natureza, caprichosa cria, apenas para embelezar o cenรกrio diรกrio, o traรงado do rio vai despejando lampejos de ouro numa paisagem que olhos atentos reconhecem ser de sonho.
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Jรก sei olhar o rio, por onde a minha vida passa....
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ler no pergaminho lĂquido da paisagem o encanto das horas, compreendendo o vaivĂŠm da existĂŞncia.
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Ping, ping. Respingos pingam pontuais pontuando o passar das horas.
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Poรงas pontificam a paisagem prostradas ao poente. Ping, ping, ping! 165
Célere e silencioso, o rio passa deixando seus rastro: alívio para as plantações, água para os animais, vida para as comunidades, renovação para o solo, a força da sua beleza para a paisagem.
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Suas gotas s達o como pequenas fadas encantadas aspergindo magia no mundo.
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- Para onde vais, rio? Brada a gaivota com seu grito rouco. - Vou para o infinito! Ruge o rio na sua faina interminรกvel de fluir para o mar.
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Recantos. Meandros. Rendas de espumas. Universos verdes silenciosos. Mundo pacificador. Morada de seres desconhecidos.
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Palco para o espetáculo das árvores. Papel onde o sol pinta tesouros de luz. O rio é uma tela de mil artes.
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Selvagem e feroz nas nascentes. Domesticado e manso na foz.
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O Rio Itajaí-Açu é um palco democrático onde se encenam, todos os dias, os melhores dramas da vida.
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Me leva, rio.....me leva prĂĄ longe! Tens o condĂŁo de me transportar atĂŠ infinitos horizontes, novas conquistas, vida renovada a cada dia!
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Cobre? Prata? Ouro? Diamante?
De que material nobre ĂŠ feita esta esteira mutante, que se revela e se renova a cada instante?
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Uma gota, uma onda, uma corredeira, uma torrente.
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As águas do Itajaí-Açu se revelam em tantas formas quantas a imaginação humana é capaz de captar.
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Pedras, รกrvores, galhos, barcos, pontes....
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todos se curvam diante da passagem de Sua Majestade, o ItajaĂ-Açu!
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O que faz vocĂŞ feliz?
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Namorar? Passear? Comprar? Trabalhar? Viajar? Produzir? Ensinar? Vender?
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Já experimentou sentar às margens do Rio Itajaí-Açu e ficar, indefinidamente, mirando a passagem inexorável das águas?
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Ora turbulentas na corredeira, ora plácidas no remanso, elas tem uma lição para nos transmitir. Você sabe qual é! 185
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O rio, desde que nasce até que deságua, é signo de muita vida e também de morte. Em seu seio carrega a operosidade, a criação da vida e o veneno que lhe imputam nas entranhas. Mas não se ouve o rio clamar. Ele segue, inexoravelmente, o seu destino, levando sempre a mesma mensagem: aprenda a viver!
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X
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O rio e o oceano “Diz-se que, mesmo antes de um rio cair no oceano, ele treme de medo. Olha para trás, para toda a jornada, os cumes, as montanhas, o longo caminho sinuoso através das florestas, através dos povoados e vê à sua frente um oceano tão vasto que entrar nele, nada mais é do que desaparecer para sempre. Não há outra maneira. O rio não pode voltar. Ninguém pode voltar. Voltar é impossível na existência. Você pode apenas ir em frente. O rio precisa se arriscar e entrar no oceano. E somente quando ele entra no oceano é que o medo desaparece. Porque, apenas então o rio saberá que não se trata de desaparecer no oceano. Mas tornar-se oceano. Por um lado, é desaparecimento. Por outro, é renascimento.” OSHO
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A água faz parte da vida e, devido ao descuido com sua preservação, torna-se cada vez mais escasso o recurso que pode determinar os rumos da história da humanidade. Um fio de água conduz a humanidade através da complexa meada de sua história. As primeiras comunidades humanas se formaram ao lado de rios, para se manter abastecidas de água fresca, sem a qual o ser humano não sobrevive mais do que dois ou três dias. Mais tarde, nos primórdios da vida agrícola e sedentária, foram as dificuldades de conter os surtos de contaminação da água que impulsionaram o desenvolvimento e consumo de outras bebidas, a exemplo da cerveja, café, chá, destilados e refrigerantes. Milênios se passaram e a água tem novamente um papel determinante na evolução da raça humana. Ela é a candidata mais provável para ser a bebida do futuro: sua disponibilidade determinará os caminhos da civilização. No momento em que a tecnologia para atacar a contaminação é farta, os problemas são outros: poluição, desperdício, excesso de consumo, crescimento populacional, distribuição desigual do recurso no mundo. Segundo a FAO (agência das Nações Unidas para a agricultura e alimentação), por volta de 2025, 1,8 bilhões de pes-
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soas estará vivendo em países ou regiões com escassez absoluta de água, e dois terços da população mundial poderá enfrentar dificuldades para obter este recurso. A entidade explica que o consumo de água tem crescido com mais do que o dobro da velocidade do crescimento populacional no último século. Ainda de acordo com a FAO, cerca de 1,2 bilhões de pessoas em todo o mundo já não tem acesso à água limpa suficiente para suprir suas necessidades básicas diárias. Três quartos do planeta Terra são formados por água, mas apenas 1% deste volume é potável e está disponível para uso humano. O restante é água salgada dos mares (97%), ou está nas calotas polares e regiões montanhosas. As questões de poluição e falta de tratamento da água têm se agravado de tal forma que a ONU declarou 2008 o ano do saneamento básico. A estimativa da organização é de que 50% dos rios do mundo estejam poluídos por esgotos, dejetos industriais e agrotóxicos, em vários níveis de gravidade. Mas a maior luta a ser travada neste quadro, segundo especialistas, é o combate ao desperdício, e a forma mais eficaz de combater o desperdício é através da mudança de comportamento e da atitude das pessoas. Um processo doloroso e difícil, porém crucial daqui para a frente. Assim
como 2008 foi dedicado ao saneamento básico, 2009 é o Ano Internacional da Água, revelando a importância deste líquido precioso em todo o planeta. Estima-se que a humanidade use atualmente metade das fontes de água doce do planeta. Em 40 anos, deve utilizar perto de 80%. O Brasil concentra 14% da água doce superficial do mundo e 30% dos mananciais subterrâneos, mas corre o risco de jogar fora essa riqueza. Segundo estudo da organização não-governamental Instituto Socioambiental (ISA), os vazamentos, fraudes e sub-medições na rede de distribuição das 27 capitais brasileiras causam perdas de aproximadamente 45% do total retirado diariamente dos mananciais. São 6,14 milhões de litros, o que seria suficiente para abastecer 38 milhões de pessoas por dia. A situação do saneamento básico não é melhor: menos de 50% da população das capitais tem seu esgoto tratado. Há também o desperdício no uso. A média de consumo de água per capita nas capitais brasileiras é de 150 litros por dia, 40 a mais do que o uso médio recomendado pela ONU. Segundo especialistas, se o Brasil aprender a gerir seus recursos hídricos, pode encontrar muitas oportunidades na crise. A água, associada ao sol e ao solo, já representa riqueza inexorável. Com esta combinação pode-se produzir alimentos para um mundo que se torna cada vez mais urbano”, afirmam eles. O Brasil pode até exportar água, de outra forma que não seja nos alimentos, como já faz.
O Fluxo Dos Numeros 1,2 bilhões de pessoas já não têm acesso à água limpa suficiente para suas atividades. 2,6 bilhões de pessoas no mundo sofrem com a falta de saneamento básico. Dentro de 20 segundos uma criança morrerá vítima de doenças provocadas por más condições de saneamento, como a diarréia. 110 litros é o volume de água recomendado para suprir as necessidades básicas diárias para uma pessoa, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU) (incluindo água para beber, fazer a higiene, cozinhar etc.). 50% das áreas alagadas desapareceram durante o século 20, muitos rios não chegam mais ao mar, e espécies de peixes estão ameaçadas de extinção.
A cada ano são jogados em todo o planeta mais de 200 milhões de dejetos de esgotos sem tratamento. A ONU estima que 80% das enfermidades do mundo sejam relacionadas à água. Quando a gente olha para a imensidão de água do Rio Itajaí-Açu, não imagina que um dia toda aquela água pode estar contaminada, inutilizada, morta! Mas este fato é real, concreto, palpável! E só uma coisa pode mudar este rumo: a conscientização individual de cada habitante deste rico, fantástico e encantado Vale do Itajaí!
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Agua em Agua pedirem um milagre nem pisco transformo água em água e risco em risco Paulo Leminski, in “La vie en close”
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Palavras finais Eu, súdita. Ele, Majestade! Súdita que sou, curvo-me diante da majestade do Itajaí-Açu. Desde imemoriais tempos, ele esteve presente no cotidiano das comunidades que se formaram no seu entorno. Também foi assim em minha vida, constelando minhas vivências e marcando a passagem do meu tempo pessoal. Nele banhei-me e desafiei pela primeira vez o medo, brinquei e refresquei meu calor. O Itajaí-Açu aplacou minha sede de água, de vida, de conhecimento. Quantas vezes quedei-me a olhar para o horizonte líquido que ele construía contra o céu, imaginando divisar ao longe a silhueta de uma balsa, repleta de corajosos pioneiros que, de muito longe, vinham para a construção de um mundo novo. Em seu afã de desbravar, usavam esta milenar esteira líquida como meio de locomoção pelo território então inóspito das terras do vale.
Aflita e atônita, assisti inúmeras vezes o espetáculo da sua ira sagrada, quando com braços líquidos arrancava as construções que invadiam seu leito secundário, seu espaço imperial e secular. Nada me dói mais, no entanto, do que assistir à sua lenta agonia, um assassinato cometido cotidianamente por milhares de mentes inconscientes, que o agridem com dejetos, com produtos químicos, com desrespeito pelo seu traçado, com lixo e descaso. Ele grita e eu ouço os seus gritos, sinto a sua agonia inerme e lenta, e meu coração se agita. O nosso planeta é líquido, e cada pedaço desta imensa teia é fundamental para a sobrevivência da nossa espécie. Assim, este livro é uma carta estelar de escritora, mas é também um libelo em defesa deste abençoado e imenso ser vivo que agoniza e, em sua agonia mortal, pede socorro ao coração de cada morador dos vales.
Christina Elisa Baumgarten é Escritora e Memorialista com 23 obras publicadas, nas quais já retratou uma boa parte da sociedade organizada brasileira. São alvo de sua pena precisa organizações, entidades e personalidades que, sob a ótica da autora, constituem-se matéria prima para as mais saborosas narrativas. “A riqueza do potencial humano é tanta que nada precisa ser inventado. As melhores narrativas resultam da observação e descrição da coragem e do gênio humano!”
Marcello Sokal, 40 anos, é fotógrafo há 19 anos. É sócio-fundador e diretor-técnico da APROFOTO (Associação dos profissionais em Fotografia), com sede em Balneário Camboriú – SC e Diretor de eventos da ASSEFOP – Associação de Fotógrafos Profissionais, com sede em Blumenau-SC. Participou de inúmeras exposições coletivas e individuais no Rio de Janeiro, São Paulo, Blumenau, Florianópolis, Brusque, Joinville, São Francisco do Sul, Rio do Sul, Itajaí e Balneário Camboriú e assinou as fotos que ilustram o livro “A Igreja do Santíssimo Sacramento” de autoria do Padre José Artulino Besen.
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Por Porque que oo futuro futuro ée hoje? hoje? Uma das grandes mudanças do século 21, e que vem marcando definitivamente a nossa vida, é a nova velocidade da vida do ser humano. Hoje, vive-se numa velocidade quase 200% maior do que 20 anos atrás. A velocidade da comunicação, a maneira de se relacionar, as descobertas da ciência e a construção de novos ícones são diários. O que vai marcar a história da humanidade daqui para frente, acontece todos os dias, através das manifestações mais distintas. Por isso acreditamos que um instituto que incentiva projetos nascendo hoje, ou que nasceram ontem, ou ainda que
surgirão amanhã, tem uma relevância fundamental. Não estamos apenas numa era de resgatar a história, mas sim de construí-la. É chegado o tempo no qual, mais importante do que saber fazer é saber escolher! O Instituto Memória do Cotidiano incentiva novos prismas da expressão humana, o resgate com visão de futuro e o apoio a projetos que ajudam a salvar e preservar o que ainda está por vir. Essa é a nossa maneira de ajudar a construir um futuro melhor, por que são as nossas escolhas diárias que estão criando o futuro. O Instituto atua em quatro áreas distintas denominadas ALMA, TEMPO, UNIVERSO e MENTE.
Alma
Universo
Projetos Humanitários que ajudam a aproximar o homem da sua alma e a sua alma do mundo. Manifestações de afeto, de proteção e cuidado com o ser humano, movimentos para a paz e para o equilíbrio do ser humano são muito bem-vindos aos Projetos Alma do Instituto Memória do Cotidiano.
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O ambiente em que vivemos é parte fundamental da construção do futuro. Apoiar projetos revolucionários da ciência e do poder criativo humano que buscam preservar o nosso planeta também é função do Instituto Memória do Cotidiano. Todos os dias, seres humanos conscientes e visionários, desenvolvem novas formas de arte, projetos avançados de conscientização e registros escritos e fotográficos do passado, para que um dia sejam utilizados como o mapa base da construção do novo ecossistema do nosso planeta. Os projetos Universo apóiam estas iniciativas integralmente.
Tempo
Somente quem olha para o passado pode construir o futuro. Por isso acreditamos que apoiar projetos que registram o que passou, a história do homem e suas complexidades, é muito importante. A ação propulsora deste Instituto nasceu da mente da escritora Christina Elisa Baumgarten, uma especialista em registros históricos de reconhecimento nacional. “ No decorrer dos últimos 15 anos, entrevistei e escrevi vivências da história particular de vários seres humanos, assimilando ensinamentos, sentimentos encontrados e tomadas de decisão que foram significativas para a vida de todos nós hoje. Percebi que empresários, grandes líderes da história, filósofos e a maioria de nós, utiliza o mesmo processo para definir o rumo de suas vidas. Eu desejo que o Instituto Memória do Cotidiano seja um guia para a nossa sociedade, uma inspiração para nossos empresários e políticos nas suas tomadas de decisão, para a construção de um novo amanhã.” Os projetos Tempo são aqueles que buscam, de alguma maneira, resgatar o ontem, registrá-lo hoje, para que seja usado amanhã.
Mente
No ano de 2007 foi diagnosticado pela Organização Mundial de Saúde que, de cada dez pessoas no mundo, quatro eram depressivas. Entre as demais, duas eram depressivos em tratamento e pelo menos outras duas eram ex-depressivos. Cada ser humano reage e cura suas fragilidades mentais de maneira própria, porque o cérebro humano é impressionante e único. Nos projetos Mente do Instituto Memória do Cotidiano, você vai conhecer histórias, ferramentas de superação e expressões artísticas de quem já superou doenças ou distúrbios emocionais. Nós acreditamos que a mente do ser humano é o maior dos recursos naturais do nosso planeta, por que através dela logramos as conquistas tecnológicas e científicas mais importantes para a humanidade.
Nosso primeiro projeto é este livro, incluído no Espaço TEMPO do Instituto. Sejam bem-vindos ao HOJE!
www.memoriadocotidiano.com.br 195
Consciencia Cultural
Todas as manifestações artísticas, inspiradas por Deus e executadas pela mente humana, sempre influenciaram a humanidade. A criatividade é o resultado da aquisição de cultura adquirida durante toda a vida de uma pessoa, desde que nasce até dar o último suspiro. A arte, a dança, o teatro, a magia da música, a pintura, enfim, todas estas expressões culturais ainda são consideradas a melhor terapia de reabilitação para mentes em desequilíbrio. Ler é ainda a mais fascinante viagem pelo universo da imaginação, sendo capaz de levar o ser humano a realizar grandes feitos. Ter CONSCIÊNCIA CULTURAL é utilizar a cultura como mecanismo de criatividade e inovação, seja nos negócios, no serviço executado ou como ferramenta de motivação nas indústrias.
Se o marketing da sua empresa anda sem inspiração, descubra as poderosas ferramentas do Marketing Cultural, com as quais você pode potencializar seu negócio, independente do tamanho e do ramo ao qual se dedica. Além disso você ganhará pontos com os excelentes resultados da Responsabilidade Social e potencializará a imagem da sua empresa!
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“Participar desta grande aventura que foi o livro Sua Majestade, o Itajaí-Açu nos trouxe imensa satisfação como empresa, por assinar tão bela obra, que acima de tudo, é um libelo em defesa do nosso rio! Isto é deixar um rastro de consciência ecológica, responsabilidade social e compromisso com o planeta, valores que estão incutidos no DNA da Electro Aço Altona S.A.” Alcantaro Corrêa
“A Albany tem assinado obras que destacam, tanto o valor cultural quanto a defesa criativa da nossa biosfera, a grande casa do ser humano chamada Terra. Esta é a nossa maneira de devolver a sociedade todo o nosso sucesso e conquistas. Para a Albany, isto se chama Responsabilidade Social!” Vanderson Vendrame
“Investir em cultura é essencial para a criatura humana e todo indivíduo que tem ao seu alcance a possibilidade de empreender gestos desta natureza, não pode se furtar a este grande compromisso. É por defender esta causa que o CRCSC apóia integralmente a iniciativa denominada Bolsa Cultural Catarinense, que vai levar a cultura, em suas múltiplas manifestações, até os mais perdidos rincões do Estado de Santa Catarina.” Sérgio Faraco
“Quando conheci a proposta de Hermann Baumgarten Editora, com a sua Bolsa Cultural Catarinense e as belíssimas obras que publica, sempre sob o signo do marketing cultural e da responsabilidade social, percebi que esta era uma proposta que deveria ser apoiada por tantos quantos almejam e lutam por um planeta melhor. Foi exatamente por isto que levei a proposta para a cidade em que vivo, Caçador, no Meio Oeste catarinense, como forma de inserir a nossa promissora cidade nestes programas.” Jairo Conceição de Lima
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Mecanismos de Marketing Cultural e Responsabilidade Social
O que e?
A Bolsa Cultural Catarinense é um fundo de depósitos oriundos da renúncia fiscal permitida pelas leis de incentivo à cultura: o Imposto de Renda devido por Lucro Real pela esfera federal e o ICMS pela esfera estadual. Toda empresa que paga IR por lucro Real ou ICMS pode investir uma parte deste montante em Projetos Culturais devidamente aprovados pelos órgãos competentes nas esferas federal e estadual, sem que isto acarrete nenhum tipo de ônus para a mesma. As empresas que possuem valores pequenos resultantes desta sistemática, tradicionalmente não são procuradas por produtores culturais para participar em projetos, que normalmente envolvem verbas maiores. A Bolsa Cultural Catarinense engloba inúmeros projetos e disponibiliza esta possibilidade às empresas de menor porte, praticando inclusão tanto de produtores e produções culturais quanto de empresas de menor porte, fazendo uma verdadeira ponte entre a cultura e a humanidade.
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Por que surgiu?
Estamos vivendo a era do conhecimento, quando a cultura, o talento, as artes e a criatividade se tornam os insumos mais importantes para o bem estar e para a riqueza das nações. Santa Catarina está ingressando na era pós-industrial junto com as nações mais desenvolvidas do mundo. Ao produto industrial se agregam valores como marca, moda, design, cultura, artes e novos produtos, como os espetáculos, o turismo e o lazer, a literatura.No entanto, com tanta riqueza, diversidade e possibilidades, Santa Catarina ainda figura como um dos estados de mais tímido investimento em projetos culturais, participando desta listagem apenas com empresas de grande porte. Para modificar este estado de coisas e incluir o nosso estado no panorama artístico que ele merece, bem como oportunizar a participação de empresas de menor porte em projetos culturais surge a “Bolsa Cultural Catarinense” que viabilizará a inclusão cultural de empresas de todo porte em projetos culturais.
Hermann Baumgarten Editora Um defensora incansavel da Cultura Catarinense A história da HB Editora se confunde com a da colonização européia em Blumenau. Desde que a família Baumgarten colocou os pés nesta terra, em 1856, através do empreendedor Karl Julius Baumgarten, ela nunca mais foi a mesma. O senso de empreendedorismo, o amor pelas letras e literatura e o espírito guerreiro desta família mudou para sempre a face da comunidade em que se estabeleceu. Hoje a HB Editora está presente em todo o Brasil com projetos arrojados, que tem por objetivo principal o resgate da imagem das empresas, entidades, associações e instituições para as quais presta seus qualificados serviços. Mantendo seu foco em projetos culturais, a HB Editora tem lançado obras fundamentais para a compreensão da nossa sociedade, tanto no que tange a sua expertise, que são os livros, quanto em outros projetos de inclusão social e marketing cultural. A consagração da HB Editora veio com a especialização obtida a partir do Projeto Resgate da Memória, um projeto autoral da escritora Christina Baumgarten, e que procura traçar um tênue fio entre o passado e o presente, unindo-os e preparando a estrutura para o futuro. Esta grande jornada resultou em obras que, juntas, já traçam para todos os seus leitores, um verdadeiro mergulho no cabedal de pioneirismo e empreendedorismo de boa parte da sociedade organizada brasileira. Já foram perfiladas pelo projeto instituições como a Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina, o SENAI/SC, o SIMM-
Valorizando o
MEB – Sindicato das Indústrias Metalúrgicas da Região de Blumenau, o SINDUSCON – Sindicato da Construção Civil de Santa Catarina, a ABAD – Associação Brasileira de Distribuidores e Atacadistas, além de inúmeras empresas e entidades culturais, com destaque para a Volkswagen do Brasil – Caminhões e Ônibus e da ABIP – Associação Brasileira da Indústria de Panificação e Confeitaria. Também personalidades como Emílio Baumgart, Walter Mogk, Hubert Schildwachter e Neusa Manske Hoemke foram biografados pela pena precisa da escritora e publicadas com o selo da HB Editora. Definindo como seu negócio principal a divulgação da imagem das empresas pelo melhor custo/benefício, a Hb Editora atua em demandas culturais específicas tais como: publicações alusivas a datas comemorativas, biografias, projetos de inclusão social e cultural para empresas, instituições e organizações, tanto aquelas que dispõem de amplos recursos de marketing e oriundos da renúncia fiscal quanto as que tem limitações neste sentido, viabilizando sua inclusão cultural. Foi pensando nisto que a empresa inovou e criou a Bolsa Cultural catarinense, uma proposta mágica que transforma pequenos recursos em grandiosas ações. Utilizando conhecimentos e talentos específicos, a HB Editora defende como missão “promover a imagem das empresas, organizações e outros substratos sociais através de projetos de inclusão.”
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(Demóstenes)
Sempre que um produtor cultural consegue viabilizar o seu produto, há muito o que comemorar. A soma de esforços necessários não é pouca nem pequena. Principalmente quando este produto é um LIVRO num PAÍS de POUCA LEITURA. Para que ele aconteça é necessário que o escritor acredite e lute por sua idéia, que as empresas e seus gestores tenham a coragem de investir em cultura literária e que muitos parceiros se incorporem à idéia inicial, para que ela cresça e frutifique. Pois esta foi exatamente a fórmula que gestou e viabilizou SUA MAJESTADE, O ITAJAÍ-AÇU. Empreendedores corajosos acreditaram na minha... um pouco louca idéia, personalidades criativas e talentosas se uniram a mim na concepção original, agregando novos valores ao que era apenas um rascunho na minha cabeça e o inusitado aconteceu... surgiu esta belíssima obra, que encanta quem a contempla e preenche lacunas até então enormes de informações reunidas num mesmo local. É preciso agradecer e mencionar a especial sensibilidade de Alcantaro Corrêa, Adolfo Fey, Vanderson Vendrame, Rufino Schmitz, Edson Schiavotelo e Carlos Alberto Bezerra de Miranda, respectivamente gestores da Electro Aço Altona, Metalúrgica Fey, Albany Industrial, Metalúrgica Krieger e BAESA - Energética Barra Grande S.A, empresas que assinam conosco esta obra. Também precisa ser registrado o talento de Marcello Sokal, um fotógrafo iluminado e Gabriela Pakuczewsky, uma designer arrojada e corajosa. Ambos deram ao meu texto toques de genialidade e valorizaram, com sua contribuição, o que iniciou como um devaneio de escritora. Merece registro também a paciência dos familiares e da equipe da Hermann Baumgarten Editora Ltda., todos unidos para auxiliar e respaldar este extenuante trabalho que consumiu mais de três anos até se materializar. Ficam assim homenageadas as pessoas que comigo construíram esta belíssima obra, que eu consagro à posteridade catarinense! Obra executada com recursos oriundos da Lei Rouanet
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2008, Christina Elisa Baumgarten. Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 5988\73. Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida ou transmitida por quaisquer meios, sem prévia autorização dos editores. Livro Sua Majestade, o Itajaí-Açu – Memórias, histórias e heranças de um rio Pesquisas: Fernanda Pakuczewsky Entrevistas e texto original: Christina Elisa Baumgarten Apoio logístico: Gilberto Bordão de Moura Coordenação Editorial e Gráfica: Christina Elisa Baumgarten Revisão: Jairo Pacheco Martins Consultoria Científica: Beate Franke Colaborações especiais: Maria Isabel Pinheiro Sandri (Projeto Piava) Nauri Miranda (Rio do Campo) Darcio Lucas (Ibirama) Leomir Minnozzo Sérgio Faraco Sérgio Lueders José Cimardi Osmar Pamplona Wilson Krueger Projeto Gráfico e Editorial: Hermann Baumgarten Editora Ltda Rua Comandante Joãozinho Haeger, 133 89010-190 – Blumenau\SC Fones (47) 3322 6306 e 9917 0842 Site: www.hbeditora.com.br Edição de Arte: Gabriela Pakuczewsky
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Diagramação: Ermelino Rocha Junior - Designer Gráfico Desenhos especiais: Raphael Sombrio Impressão: Nova Letra Gráfica e Editora Ltda - Blumenau/SC Obra editada com fundos arrecadados via Lei Rouanet – MinC Novembro 2008. Agente Cultural: Armando Appel – Ala Cultural Apoio Cultural: Electro Aço Altona Albany Industrial Metalúrgica Fey Metalúrgica Krieger BAESA - Energética Barra Grande S.A
Bibliografia: Livros: *A estrada de ferro no Vale do Itajaí – Angelina Withmann, Editora da FURB * Enchentes na Bacia do Itajaí, 20 anos de experiência Beate Frank e Adilson Pinheiro, Editora Edifurb * O movimento das águas – Guarim Liberato Junior, Publicação do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí (CBH-Itajaí) * O Espírito de Uma Época - Christina Baumgarten, HB editora * A Mata Atlântica e Você - Organizadores: Wigold B. Schaeffer e Miriam Prochnow. APREMAVI Edição * Plano de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí - Construindo o futuro da bacia – Relatores: Aurélia Maria Santos e Beate Franke, publicação do Projeto Piava. *Lendas e Causos de Santa Catarina - Isabel Mir Brandt e Maria José Ribeiro, Nova Letra Editora. *Lendas e Causos de Santa Catarina II - Isabel Mir Brandt e Maria José Ribeiro, Nova Letra Editora. Revistas: WR – Weg em Revista, edição 52, junho de 2008.
Outras publicações: Jornal de Santa Catarina, diversas edições Caderno do Educador Ambiental do Projeto Piava
Iconografia: Fotos especialmente produzidas para o livro por Marcello Sokal Fotos do Arquivo IPA- FURB Fotos do Arquivo Histórico de Blumenau Fotos do acervo pessoal Foto Dietz Fotos Christina Baumgarten Fotos da construção ponte de Itajaí: Fundação Genésio Miranda Lins
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Este livro foi impresso na fonte Berthold Baskerville, corpo 10 e impresso em papel couchĂŞ matt 150gr. pela Nova Letra GrĂĄfica e Editora para a Hermann Baumgarten Editora Ltda. Blumenau, 2008.
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