A Pátria para Cristo - Ed. 277

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EDITORIAL MAPEANDO OS DESAFIOS DO CAMPO BRASILEIRO

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uais são os desafios da obra missionária no Brasil na atualidade? Em mais uma edição da revista A Pátria para Cristo, reunimos novos e antigos alvos da evangelização que não podem passar despercebidos. Em destaque, a realidade dos surdos, que passam de 9 milhões e vivem, em grande maioria, isolados, até mesmo dentro da própria casa. A missionária e pedagoga Marília Manhães fala sobre a necessidade de um olhar e uma abordagem contextualizada para esse grupo. É também de forma contextualizada que a Mensagem deve continuar chegando aos povos indígenas, entre os quais, apesar do trabalho pioneiro de Missões Nacionais, ainda há muito a ser feito. Em entrevista, o missionário Rinaldo de Mattos conta sua trajetória com os Xerente e fala sobre os rumos que a evangelização de indígenas precisa seguir. Ao mesmo tempo que olhamos para esses dois cenários já conhecidos, porém desafiadores, falamos sobre Minas Gerais, onde a evangelização tem enfrentado problemas sociais como isolamento, depressão e suicídio. Já no Sul, um novo campo é explorado e o casal ucraniano Iryna e Vitalii chega à cidade de Prudentópolis (PR) para evangelizar seu próprio povo imigrante ali. A iniciativa é pioneira de Missões Nacionais e necessita da oração e parceria do povo batista brasileiro. Irmãos, é certo que a obra não pode parar e que a nossa sociedade mostra a cada dia mais barreiras a serem transpostas na evangelização. É certo também que o Senhor da seara não tem deixado faltar a provisão para que sua obra continue. Ele conta conosco nestes desafios. E sabemos que com Ele a vitória é certa! Boa leitura!

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SUMÁRIO

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Gerente Executivo de Comunicação de Missões Nacionais

MULTIPLICANDO PELO BRASIL

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IMIGRANTES UCRANIANOS NO BRASIL

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SEU PGM PODE SER PARCEIRO DE MISSÕES

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AÇÃO SOCIAL MOVIDOS POR COMPAIXÃO E GRAÇA

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VOLUNTÁRIOS: HISTÓRIAS DE QUEM É MOVIDO PELA GRAÇA ´ PÁG

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MATÉRIA DE CAPA

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O DESAFIO DE MINAS GERAIS

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“... NA VIDA REAL NÃO EXISTE ESSE AMOR...”

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ATÉ ONDE VAI A SUA VISÃO?

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VIDA E OBRA DE RINALDO DE MATTOS

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IGREJA PRIORIZANDO MISSÕES

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QUEM PRECISA DE UMA AGÊNCIA MISSIONÁRIA?

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Pr. Jeremias Nunes dos Santos

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GENTE QUE FAZ MISSÕES

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PANORAMA

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INSTITUTO BATISTA DE CAROLINA

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A Pátria para Cristo | ISSN 2316-6843 Nossa Missão: “Multiplicar discípulos” | Nossa Visão “Alcançar todos com o Evangelho”

Uma publicação da Junta de Missões Nacionais da Convenção Batista Brasileira. Ano LXXI | nº 277 | Tiragem: 35 mil | Abril de 2018 Direção executiva: Pr. Fernando Brandão | Gerência Executiva de Comunicação: Pr. Jeremias Nunes | Jornalista responsável: Raquel Lima – DRT/RJ 19.171/2007 Redação: Rebeca Nascimento, Fabiane Ventura | Revisor: Adalberto A. de Sousa | Arte: Oliverartelucas


PALAVRA DO DIRETOR

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Falta de acessibilidade

não pode frear a evangelização do Brasil M issões Nacionais tem uma história de pioneirismo entre os batistas brasileiros no desafio de alcançar os 9,7 milhões de surdos no Brasil, número que foi apontado no Censo de 2010 realizado pelo IBGE. A estimativa equivale a quase 5% de toda a população. As barreiras de acessibilidade e inclusão não podem deter o avanço da evangelização nesse segmento social tão esquecido pela sociedade.

No Brasil, os surdos só começaram a ter acesso à educação durante o Império, no governo de Dom Pedro II, que criou a primeira escola de educação de meninos surdos, em 26 de setembro de 1857, na antiga capital do País, o Rio de Janeiro. Entretanto, foi somente em 2002, por meio da sanção da Lei n° 10.436, que a Língua Brasileira de Sinais (Libras) foi reconhecida como meio legal de comunicação e expressão no país. Depois de 16 anos da implementação da Lei, ainda vemos obstáculos que limitam o alcance da acessibilidade ideal para que surdos tenham igualdade de condições entre ouvintes. Essa parcela da população ainda enfrenta dificuldades para conseguir realizar atividades cotidianas dentro e fora das igrejas e precisam de uma atenção especial. Nosso trabalho vai muito além da tradução de materiais.

ESPAÇ,O DO LEITOR “O meu desejo é que Deus possa despertar mais e mais servos para esse trabalho tão importante, que é o de evangelizar e ganhar vidas para Cristo Jesus. Que Deus em Cristo Jesus possa continuar abençoando todos os membros da Junta de Missões.”

Adilson Esposti

Plantamos igrejas em Libras por todo o país, capacitamos e formamos líderes surdos e ouvintes, disseminamos a visão de alcançar e incluir todos com o evangelho. Ir além também significa, para Missões Nacionais, poder criar pontes em famílias em que antes havia um abismo na comunicação e no convívio. A verdade é que o poder do evangelho transforma completamente qualquer pessoa e situação e é por meio dele que nossas fronteiras precisam ser ampliadas para que não haja esquecidos no Brasil. Estamos felizes com alguns alvos de fé que foram alcançados nesses últimos anos, mas nosso desejo é avançar. Todas as igrejas e cristãos fazem parte dessa missão!

Pr. Fernando Brandão Diretor Executivo de Missões Nacionais

Envie sua mensagem para jornalismo@missoesnacionais.org.br. Seu comentário poderá ser publicado na próxima edição! “A Junta de Missões Nacionais em muito tem contribuído para propagar o Reino de Deus neste vasto Brasil; e homens e mulheres vocacionados e convocados por Deus têm cumprido, ao longos dos anos, o IDE DE JESUS. Sempre tive vontade de ir para o campo missionário e hoje Deus tem me permitido ir como voluntário. Parabéns a toda diretoria e demais componentes da JMN pelo esforço e dedicação na Obra do Nosso Deus.”

Josué Deyglison



GENTE QUE FAZ MISSÕES

Silvia, Radical no Projeto Sertão em Barreiras (BA) “Quando cheguei em Barreiras (BA), logo senti o cuidado de Deus e amor pelo povo, tendo a convicção de que eu estava no centro da vontade de Deus... no lugar que Ele separou para mim”, disse Sílvia. “O Radical também tem sido um tempo em que Deus tem me ajudado a melhorar como discípula, serva e como pessoa... aprendi a lidar com diferenças, a abraçar mais as pessoas, e tudo isso só contribuiu para o meu crescimento. Sou grata a Deus pelo o Projeto Radical Sertanejo, por Deus ter me enviado a Barreiras, pelos meus mentores, pastor Rafael Lucchiari e Joselina Lucchiari, pois tudo isso tem sido e sempre será bênção na minha vida!”

Laís, Radical na Cristolândia Rio

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“Meu nome é Laís de Lima, tenho 19 anos e sou Radical Cristolândia. Estou no campo missionário há 1 ano e desde então minha vida mudou completamente. Na Cristolândia tenho a oportunidade de servir pessoas que estão nas cracolândias e presas nas drogas, levando amor e esperança para elas, que já estão tão esquecidas pela sociedade. Além disso, Jesus não tem só transformado a vida delas, mas a minha também!”


Pollyana, Radical no Viver “Reconhecer por trás de sorrisos largos e sinceros aqueles que até mesmo em barulhos de tiro se aproximam com o abraço mais apertado de “obrigado” por estarem aqui, é mudar o sentimento de medo para paz. Eu imaginava que estava dedicando um ano da minha vida para o campo missionário, no entanto, estar na Casa Viver como Radical é compreender que nunca fui eu, é só Ele por meu intermédio. Intencional e Contínuo é Deus, por meio do projeto na vida de cada criança e por meio de cada criança, na nossa vida. Privilégio, coração grato e experiências indizíveis.”

Núbia, Radical Amazônia na região de Manacapuru “Usamos como estratégias o Pequeno Grupo Multiplicador (PGM) e Novo Sorriso da Amazônia para alcançar as pessoas, e tem dado muito certo, pois hoje temos 5 PGM’s, sendo 3 Pequenos Grupos Multiplicadores Infantis (PGMI’s). E essas crianças que participam dos PGMI’s foram alcançadas por intermédio do Novo Sorriso da Amazônia. Louvamos a Deus por vidas como a de Franciele, de apenas 14 anos de idade, que sonha em ser Radical, tem se destacado, pois em todas as atividades tem nos acompanhado e tem mostrado grande potencial em ser líder autóctone. Peço que orem pelo nosso ministério e novos desafios como batismos dos novos convertidos, por nossa vida, para Deus renovar nossas forças dia após dia, pois os desafios são grandes e a obra não pode parar.”

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MULTIPLICANDO PELO BRASIL

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A Primeira Igreja Batista em Goianinha (RN) realizou o batismo de 25 irmãos que professaram publicamente sua fé em Cristo Jesus durante a Conferência “Chamados para viver a Missão”. O evento recebeu o pastor William Salgado, da 1ª IB de Campo Grande (MS), que falou sobre os princípios bíblicos da Igreja Multiplicadora e a capacitação dos líderes de PGM em treinamento.

31 de dezembro foi dia de festa na Igreja Batista Memorial de São João do Paraíso (MA), quando foram batizadas 11 pessoas, todas frutos de Relacionamentos Discipuladores. Louvamos a Deus pelos irmãos que têm investido sua vida para ganhar outras vidas para Jesus.


A IB da Agulha em Icoaraci (PA) recebeu o pastor Jefferson Dantas, 1ª IB em Imperatriz (MA), que compartilhou os cinco princípios do Novo Testamento e o resgate da intencionalidade da multiplicação de discípulos, com o intuito de cumprir a Grande Comissão. Louvamos a Deus por ver igrejas em todas as regiões do Brasil avançando na pregação do evangelho.

Em fevereiro a Igreja Batista em Libras de Belém (PA) comemorou 7 anos de existência com o batismo de 10 pessoas. Louvamos a Deus pelo precioso trabalho que tem sido desenvolvido na cidade. Oramos para que mais pessoas conheçam a Cristo por meio desses discípulos que têm sido formados. Que o Senhor abençoe esta amada igreja!

A IB Jardim Guanabara em Goiânia (GO) passou pelo PGM Protótipo no ano passado, e hoje tem 4 pequenos grupos. Eles realizaram um treinamento com objetivo de fundamentar os PGMs no Relacionamento Discipulador (RD) e reforçar a importância deste para a Multiplicação de PGMs saudáveis. O pastor Danilo Resende e seus dois supervisores entenderam que precisam priorizar o princípio da Evangelização Discipuladora e o princípio da Formação de Líderes.


Imigrantes ucranianos no Brasil: um alvo de Missões Nacionais

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o início de 2018, chegou ao Brasil mais uma família ucraniana. Vitalii e sua esposa, Iryna, vieram com seus filhos, Evelina e Ustyme, com destino a Prudentópolis, no Paraná. Mas a história deles é diferente da dos outros 75% de moradores da cidade, que também são imigrantes ou descendentes de ucranianos. Direcionados por Deus, eles vêm falar ao seu próprio povo sobre o evangelho.

“Depois de alguns meses, Anatoliy disse: ‘um milagre aconteceu. Para mim ligaram os irmãos da missão brasileira e disseram que precisam de uma família ucraniana para servir no Brasil. Eu não sei se isso são vocês ou não. Vocês orem e Deus conduzirá.’ Quando nos encontramos a terceira vez, ele perguntou se estávamos prontos para ir ao Brasil. O chamado ferveu ainda mais forte. Nós oramos e concordamos”, contou Vitalii.

“Estamos muito felizes de estar aqui. Depois de ter aceitado Cristo no meu coração, não pensava sobre missões, mas eu sempre orava dizendo que não queria viver a minha vida em vão. Nosso chamado missionário começou pela minha esposa”, conta Vitalii.

A situação de uma cidade de mais de 60 mil habitantes com grande maioria imigrante alertou sobre a dificuldade de missionários brasileiros se inserirem em uma cultura tradicional e pouco aberta para o evangelho. A contratação de missionários de fora do país com objetivo de evangelizar seu próprio povo no Brasil é um marco para Missões Nacionais e a testificação de que Deus provê os recursos para sua obra, por mais improváveis que sejam. A missionária Iryna conclui pedindo o apoio dos batistas brasileiros para essa grande obra.

Iryna conta que seu coração ardia por missões e pedia que Deus colocasse esse desejo também no coração de seu esposo. “Eu orava a Deus, dizendo: ‘Não entendo por que o Senhor dá tais desejos ao meu coração. Por que o meu coração está fervendo por missões, se o coração do meu marido não está assim? Não pode ser na família uma pessoa missionária, e outra não. Se o Senhor quer que a nossa família sirva na obra missionária, mude o coração do meu marido’.” O casal viveu junto um grande despertamento por intermédio de um congresso de missões em seu país. Foi lá que eles tiveram o primeiro contato com o Brasil, ao ouvirem o testemunho do missionário Anatoliy Shmilihovskyy, da JMM. Os dois decidiram juntos se preparar no Seminário Teológico Batista Ucraniano.

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“O povo ucraniano preserva muito sua tradição ortodoxa e cultura mais fechada. Nosso sonho e objetivo é abrir uma igreja batista lá. Este é um grande desafio para nós, que somos jovens e com pouca experiência. Então precisamos de suas orações. Acreditamos que nosso Deus é grande, maravilhoso e poderoso, e por isso estamos aqui.” Você pode ser um parceiro desse projeto pioneiro acessando o QR Code ou o link https://www.atos6. com/missoesnacionais/ projetos/ vitalii-e-iryna-arshulik



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Seu PGM pode ser parceiro de Missoes! “Se os pequenos grupos não têm uma proposta para missões, então não servem para nossa igreja” – essa foi a palavra do pastor Gilson Breder, ainda em 1999, quando estavam decidindo se adotariam, ou não, a estratégia de pequenos grupos na igreja. Àquela altura, conforme nos relata Djalma Albuquerque, a 1ª IB de Campo Grande já entendia que “uma igreja sem missões é como uma padaria sem pão”, e que “só faria sentido ter pequenos grupos se eles se envolvessem de alguma forma com missões. A visão missionária era inegociável; pequenos grupos, não”. Mais que adoção financeira, o PAM PGM pode ser uma excelente ferramenta para ampliar a visão missionária

da igreja, aproximando-a mais ainda do Campo Missionário, por mais distante que ele esteja geograficamente. “Enquanto a igreja crescia, os PGMs foram aprendendo a cuidar melhor dos missionários. Hoje, orar por eles, cuidar deles e até visitá-los no campo missionário são ações que fazem parte de uma cultura presente em cada PGM. É maravilhoso presenciar os testemunhos contagiantes de como nossa igreja passou a amar mais missões graças ao que está acontecendo nos PGMs”, testemunha Djmalma. Pr. Milton Monte Gerente Executivo de Mobilização de Missões Nacionais



Voluntários:

histórias de quem é movido pela graça

Acesse o QR Code ou o site e leia os relatos completos dos voluntários: www. missoesnacionais. org.br *Colaboração da voluntária de Comunicação Litza Alvez

Eles foram alcançados pela graça. Hoje são movidos por essa mesma força ao levar o amor de Cristo por meio de ações em presídios e na Casa Alma Livre, em Minas Gerais. Glauciane Gonçalves Costa A missionária de Missões Nacionais Mônica Peixoto, em 2007, durante uma visita a um presídio feminino, conheceu Glauciane, hoje com 28 anos,que travou uma luta para abandonar seus vícios. Em 2012 ela teve seu alvará de soltura expedido e, começou a desfrutar de uma vida bem diferente daquela dos tempos remotos. Cheia de gratidão pela ação transformadora do Espírito Santo, ela passou a abençoar outras pessoas que viviam na mesma prisão dos entorpecentes. Atualmente, Glauciane é integrante do grupo de voluntários da Casa Alma Livre e da Capelania Prisional.

“Sinto que meu dever como serva é, na medida do possível, apoiar e encorajar, sempre lembrando a essas mulheres que ainda há esperança. Faço questão de estar perto e colocar na mente delas que dias melhores estão próximos. Enfim, um dia me acolheram e vi que isso é bom, então, quero acolher também!” (Glauciane)

Pastor Wagno Bragança Pai, marido, pastor, coordenador do curso de Teologia da Faculdade Batista de Minas Gerais, Wagno Alves Bragança é um bom exemplo de voluntário que, mesmo sendo tão ocupado e comprometido com tantos afazeres, dedica boa parte do seu tempo para mudar a vida de outros. Hoje dedica-se à capacitação dos voluntários da Capelania Prisional de Missões Nacionais que visitam os presos. Além disso, também oferece palestras no sistema prisional por intermédio do projeto Amigo Agente, que orienta agentes penitenciários.

“O pastor Wagno faz parte do nosso trabalho com muito empenho e sabedoria. Jamais nos negou ajuda, mesmo com tantos afazeres e compromissos. Temos muita alegria por tê-lo conosco. Ele é realmente muito especial pra todos nós.” (Mônica Peixoto)

Pastor Evaldo Francisco da Silva A parceria do pastor Evaldo Francisco da Silva e sua esposa, Eunice, com a Capelania Prisional iniciou-se em 2007, após uma visita a um presídio em Ribeirão das Neves. Atualmente, o pastor Evaldo faz parte da equipe que atua em vários projetos voltados para o trabalho de Capelania Prisional. Ele lidera uma equipe que visita todo o primeiro domingo o presídio José Abranches, em Ribeirão das Neves, e também coordena o projeto Aliança com a Vida, para presos dependentes químicos.

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“O pastor Evaldo é 2º Sargento da Polícia Militar e generosamente compartilha conosco sua vasta experiência no trabalho de prevenção ao uso e abuso de drogas, fruto de mais de 20 anos na Patrulha de Prevenção às Drogas, do 18º Batalhão PM em Contagem/ MG. Por isso, é uma pessoa cuja importância precisamos destacar e honrar. É um missionário voluntário que veste a camisa, pela Capelania Prisional de Missões Nacionais em Minas Gerais. E a sua atuação é essencial para o sucesso deste trabalho.” (Mônica Peixoto)


AÇÃO SOCIAL

MOVIDOS POR COMPAIXÃO E GRAÇA

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Bíblia declara que Jesus morreu por todos (2Co 5.15). Ele amou os necessitados e nos orienta a fazer o mesmo.

Se, por algum motivo, não somos impelidos a agir quando presenciamos o sofrimento de alguém, é imprescindível buscar ao Senhor.

suas respectivas famílias, apoio para se reintegrarem ao mercado de trabalho e acompanhamento por uma igreja. Realizamos mais de 139 mil atendimentos nas Cristolândias, promovemos 5.083 encontros com familiares. Encaminhamos: 3.890 para atendimento médico, 1.670 para atendimento odontológico, 1.866 para vacinação.

A ação de compaixão em favor do próximo precisa ser realizada com amplitude tal que mude a realidade em que ele se encontre. Nos tranquilizamos muitas vezes ao oferecer uma cesta básica a uma pessoa necessitada. Isso é louvável, porém, quando pensamos no contexto de vida em que a pessoa está, nos perguntamos: esta ação dará a ela a oportunidade de sair da realidade em que se encontra?

172 ex-usuários professaram sua fé em Jesus e foram batizados, 126 foram matriculados no ensino fundamental e médio, 143 em cursos técnicos e 266 em cursos livres.

Missões Nacionais tem procurado exercer seu ministério social com esta visão. Jesus não tocava na vida de uma pessoa apenas para aliviar momentaneamente sua dor. Ele tocava para transformar sua vida e mudar sua história.

Na Amazônia 3842 atendimentos odontológicos foram realizados e 18.000 kits de higiene foram distribuídos.

É sob esta perspectiva que no ano anterior reinserimos na sociedade 126 pessoas que antes viviam nas cracolândias. Foram acolhidos pela Cristolândia por aproximadamente dois anos e receberam cuidados nos aspectos: físico, emocional, espiritual e intelectual, além da reaproximação com

Trabalhamos consideravelmente para que as igrejas compreendessem a importância de implementar o projeto de Prevenção às Drogas – VIVER, e com o apoio delas 277 mil crianças foram alcançadas.

Estas e outras realizações só foram possíveis pela compaixão que move o povo batista, que acredita e investe em Missões. Deus seja glorificado! Por Anair Bragança S. Siqueira Gerente executiva de Assistência Social de Missões Nacionais

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CAPA

Surdos: 9 milhões de brasileiros esquecidos pela sociedade

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o buscar entender o povo surdo, deve-se partir do princípio de que são grupos de pessoas imersas em uma língua e cultura distintas. O sujeito surdo é um ser absoluto dos seus próprios pensamentos; ele é capaz de compreender o eu, a razão, a emoção, o espiritual e a relação. As políticas sociais na saúde, na educação, na habitação, na assistência social e ações afirmativas ainda têm olhado para os surdos e suas comunidades de forma homogênea, desconsiderando o indivíduo surdo em sua individualidade e necessidades. Mas o que esperar das políticas públicas? A igreja brasileira precisa fazer algo por essas pessoas, muitas das quais, em pleno século XXI, ainda são vítimas de exclusão social. Há necessidade de um olhar etnográfico sobre o povo surdo, ou seja, um olhar que trate de questões


dados à prostituição, vícios de jogatinas e tantas outras mazelas que têm destruído a vida dos surdos e roubado o direito de serem felizes, e muitas vezes por seus próprios familiares. Como viver sem entender o que os outros falam? Como ser “ouvido”’ quando as pessoas não os entendem? Quem poderá levar a mensagem que transforma, como dizem as Escrituras em Romanos 10, 14: “Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? e como crerão naquele de quem não ouviram? e como ouvirão, se não há quem pregue”? O pioneirismo do ministério com surdos de Missões Nacionais torna o evangelho relevante para os surdos, ao se observar um profundo abismo linguístico e cultural entre o povo surdo e o povo ouvinte, em suas multiculturas. Para abolir este abismo, precisamos compreender a revelação divina dentro de seu contexto histórico e cultural, bem como conhecer e compreender como a comunidade surda tem se estabelecido no cenário atual. O trabalho missionário tem estreitado os relacionamentos com o povo surdo: apesar de toda a sua diversidade cultural, têm-se construído pontes de compreensão entre eles. O evangelho derruba as barreiras que dividem as pessoas em: judeus e gentios, escravos e senhores, homens e mulheres, primeiro mundo e terceiro mundo, surdos e ouvintes. Os surdos estão sendo protagonistas da transmissão do evangelho. A partir da cosmovisão da sociedade surda, é possível traçar o processo missiológico na evangelização dos surdos em nosso país.

Pioneirismo missionário O desejo da instituição de atender o povo surdo com a evangelização fez com que, no ano de 1991, houvesse a iniciativa de reunir um grupo seleto de surdos e intérpretes para a produção do primeiro método para o ensino de sinais bíblicos, “O manual de sinais bíblicos” e livro “O Clamor do Silêncio, estratégia para evangelização de surdos”, que serviram de apoio para a expansão do trabalho de evangelização dos surdos nas igrejas batistas por meio do Plano Nacional de Evangelização (PNE). Assim, com a rápida explosão do processo de evangelização entre surdos, havia a necessidade de iniciar um trabalho mais organizado, respeitando as comunidades surdas brasileiras, já com um olhar da importância do discipulado entre eles, fundamentado na Grande Comissão em Mateus 28.19 e 20. relativas à cultura, à língua do povo, identidade, organização social, que constituem seus valores e suas lutas. Esses fatores são de fundamental importância para o entendimento de muitos fenômenos das sociedades complexas a fim de compreender as relações humanas em que povo surdo está inserido. Compreendendo-as, poderemos levar o evangelho transformador e relevante a este povo. Em nosso país, temos a legitimidade da Língua Brasileira de Sinais e a Lei de Inclusão – que afirma a autonomia e a capacidade desses cidadãos para exercerem atos da vida civil em condições de igualdade com as demais pessoas. Ainda assim, podemos observar nessa população de mais de 9,7 milhões de pessoas que, nas regiões mais desfavorecidas de nosso país, alguns surdos nem sequer conhecem o que é ter uma família, ser chamado de filho e viver no convívio social. É doloroso pensar na região norte do nosso país, onde milhares de crianças surdas ainda vivem como selvagens, sendo molestadas, jovens

Desde 2000, Missões Nacionais tem em seu quadro de missionários alguém que coordena todo o trabalho missiológico com surdos em âmbito nacional: na evangelização, na educação e como intérprete de Libras envolvida nos movimentos surdos no Brasil. Inicia-se um novo processo de discipulado com os surdos para serem protagonistas na evangelização entre seus pares: no ano de 2008 é lançado o primeiro curso de formação de líderes, visando à capacitação continuada de líderes na visão multiplicadora de seus projetos Alcance Surdos, Igrejas em Libras, EvangeSurdos, Seminários de Capacitação e, recentemente, o desejo de avançar com Radical Surdo nas regiões em que há um grande índice de vulnerabilidade social entre os surdos e suas comunidades, para que a história deles seja transformada pelo evangelho e os surdos possam dizer que podem ouvir as grandezas de Deus em sua própria língua, a Libras, conforme ocorreu em Atos 2.11: “todos nós os ouvimos falar das grandezas de Deus em nossa própria língua”.

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Multiplicando discípulos entre os surdos Hoje, os surdos passam a ser parte integrante do processo de construção e de produção da visão missionária entre seu povo. Em outubro de 2008 e maio de 2010, foram nomeados os primeiros dez missionários surdos, integrando o quadro de funcionários da Junta de Missões Nacionais, o que foi um marco na história missionária dos batistas brasileiros. Esses missionários têm atuado na plantação de Igrejas em Libras entre o povo surdo, em 6 cidades brasileiras. Em obediência ao chamado de Deus, eles entendem que foram comissionados para ser Luz, anunciando a boa mensagem do evangelho de Cristo Jesus à vida dos surdos. A partir do anúncio da mensagem de Cristo, os surdos são confrontados com a diferença e podem, ao aceitar a mensagem de transformação, fazer parte de um povo que é alvo e anunciar essa mensagem de transformação a outros surdos, transmitindo o cuidado e o grande amor de Deus, conforme escrito na Bíblia em 2Timóteo 2.2: “o que ouviste de mim diante de muitas testemunhas, transmite a homens fiéis e aptos para também ensinar outros”. A Igreja em Libras é um projeto que facilmente pode ser multiplicado pelas igrejas e convenções. A Plantação da igreja em Libras cria um ambiente, onde flui uma pedagogia que enfatiza o jeito de surdos de ensinar. No processo de ensino-aprendizagem, utilizam-se estratégias visuais e os conceitos são transmitidos em língua de sinais, fazendo com que o ensino seja prazeroso, autêntico, com traços culturais e linguísticos que farão todo o sentido, despertando o desejo de aprender as verdades bíblicas e os conceitos relacionados à vida social. Além disso, o trabalho evangelístico auxilia o sujeito surdo a se reconhecer como povo escolhido e amado por Deus. Missões Nacionais, através do ministério com surdos, portanto, deseja que a igreja brasileira se volte para este povo, entendendo que o evangelho é para todos e todos são convidados a viver o relacionamento com o seu Criador, adorando-o em espírito e em verdade, resgatando sua essência de imagem e semelhança de Deus por meio do seu relacionamento pessoal com Cristo Jesus. É a partir desse encontro com Cristo que ocorre a mudança de sua história que, a priori, era marcada por proibição e afastamento de Deus. Então, o acesso direto com o seu Criador é restabelecido. Muitas são as oportunidades para se envolver na evangelização discipuladora dos surdos em nosso Brasil. Orando, contribuindo e indo levar a mensagem de Cristo até esse povo. Marília Moraes Manhães Pedagoga em Educação Especial de Surdos e coordenadora do Ministério com Surdos de Missões Nacionais


O desafio de

Minas Gerais C

om tantos desafios para a pregação do evangelho ao redor de uma país tão cheio de diversidade, é importante não deixarmos de lado um grupo de pessoas em favor de outras que, aos nossos olhos, podem parecer mais necessitadas de ouvir a Palavra. A convicção da graça necessária para todos deve nos mover contínua e incansavelmente a cada cidade, cada povoado, cada etnia, cada família. É nesse pensamento que vamos aos ribeirinhos, aos sertanejos e às cracolândias, mas também vamos a Minas Gerais. O estado tem mais de 20 milhões de habitantes e, apesar de ser o segundo mais populoso do país, conta com apenas 1.150 igrejas e congregações batistas da CBB. Do total de 853 municípios, em 46% não há igreja batista. De acordo com a Visão Brasil 2020, que traça as metas para a evangelização no país, há a necessidade da plantação de 1.205 novas igrejas. Atenta a esse cenário, Missões Nacionais tem investido no Projeto Minas, que tem como objetivo gerar um movimento intencional de plantação de igrejas multiplicadoras no estado, enviando missionários e formando líderes locais. Patos de Minas é uma das 14 cidades definidas como bases de multiplicação. A região, que inclui outras 10 cidades vizinhas, necessita de plantação de 45 igrejas até 2020. É lá que atuam os missionários Fernando e Dagmar Coelho. O casal trabalha há cinco anos com evangelização e relacionamentos discipuladores na cidade, que tem como grande desafio o alto índice de suicídios e pessoas com depressão. “Na última Operação Jesus Transforma, percebemos que cerca de 85% das pessoas que abordamos tinham familiares com sintomas de ansiedade, depressão e pensamento suicida. Os voluntários ficaram muito assustados com esse índice.

Segundo o delegado de Patos de Minas, em 2017 houve um crescimento absurdo em relação a suicídios e homicídios. Foram 17 homicídios e 27 suicídios no ano. Isso virou uma questão de saúde pública, e nós vimos a necessidade de as igrejas se mobilizarem e conscientizarem a população por intermédio de profissionais como psiquiatras e psicólogos”, relatou o missionário Fernando Coelho. Paralelo a isso, a população, majoritariamente católica, tem grande rejeição ao evangelho. Um outro desafio que deve abrir nossos olhos para a necessidade de oração e investimento na evangelização do povo mineiro. Apesar dos obstáculos, frutos têm sido colhidos em Patos de Minas. Um deles é dona Gasparina, que durante a evangelização dos voluntários na Operação Jesus Transforma aceitou receber um estudo e reconheceu Cristo como Senhor e Salvador de sua vida. Para o missionário, testemunhos como o dela renovam as formas para continuar nessa obra. “Quero deixar a todos os batistas esse desafio de investir na obra missionária em Patos de Minas. A realidade espiritual da cidade é preocupante. Precisamos alcançar toda a cidade com o evangelho de Cristo Jesus. Invistam em oração e também ofertando para que outros missionários possam vir e ajudar nessa obra”, finaliza o pastor.

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“... Na vida real não existe

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“Pode uma mãe esquecer-se de seu filho de peito, de maneira que não se compadeça do filho do seu ventre? Mas ainda que esta esquecesse, eu, todavia, não me esquecerei de ti.” (Is 49.15)

Projeto Amazônia da JMN, atua em comunidades ribeirinhas. Portanto, aqui na Amazônia usamos muito canoas para atravessar os rios. Nessas comunidades há muitas crianças. Vou compartilhar algumas histórias que tem nos motivado a cada dia continuarmos anunciando o amor de Deus para cada criança ribeirinha e indígena. Na comunidade ribeirinha do Vasco, num dia em que o tema do Pequeno Grupo Multiplicador Infantil (PGMI), era sobre o amor de Deus, as missionárias Luciara e Samara (Radical Amazônia) começaram a falar e comparar este amor com amor materno, como uma mãe cuida e se preocupa com os filhos. E em meio a explicação uma menina de 9 anos se vira e fala: “Missionária, esse amor aí só existe nesta história, porque na vida real amor não existe, amor de mãe não existe... Desse jeito não existe, só nas histórias,

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só existe em contos de fada, na vida real não existe esse amor...”Esta menina tem mais 2 irmãos e cada um de um pai diferente, ela não tem uma mãe presente, que ofereça carinho, atenção e cuidado; e ela sente muita falta de receber este amor em casa. Outro dia, num outro encontro de (PGMI), na Comunidade de Campinas do Norte (Manacapuru), uma criança de apenas 7 anos disse que estava muito ansiosa para morar no céu. Sabe qual o real motivo para este desejo? Ela tem sofrido e chorado muito por causa do seu lar desestruturado. “Porque lá não vai ter choro e nem problema”, respondeu aquela pequenina, diante da indagação da missionária radical Maria Eliza. E ela não é a única. “Missionária no céu vamos ser muito felizes”, diz outra em seus comentários constantes com a missionária Gabriela.


esse amor...”

Frases como dessas crianças penetram fundo ao nosso coração, principalmente porque queremos ver as crianças pulando, sorrindo, animadas, brincando e não chorando e sofrendo. Nas comunidades ribeirinhas da Amazônia, temos vivenciado muitas experiências, e dentre elas o fato de perceber a tristeza no olhar das nossas crianças. Tristeza ocasionada por várias situações como ausência do amor maternal, ausência do amor paternal, pais viciados em drogas, brigas dentro de casa, fome, pobreza, abusos físicos, psicológicos, verbais e etc. Estas são realidades que nos fazem compreender o quanto nossas crianças precisam conhecer o amor que é maior que qualquer amor deste mundo e que preenche o coraçãozinho triste e desolado.

missionária radical Kelma, conta que uma criança muito esperta e muito inteligente sofre por não ter o amor do seu pai. Muitas dessas crianças já estão sendo acompanhadas e consoladas ao conhecerem o amor de Deus através de um relacionamento discipulador. Já é possível ver crianças antes com semblantes tristes, pesados, desanimadas e sem esperanças; hoje já sorridentes, sonhando com o futuro, reconhecendo e experimentando o amor maior e sendo crianças felizes em Jesus, para glória de Deus! Todos esses relatos são reais e não são os únicos. Há muitas crianças indígenas e ribeirinhas que precisam de você, do seu envolvimento na obra missionária para que eles continuem ouvindo sobre o amor de Deus e tendo a oportunidade de transformar os seus choros em sorrisos. Como já disse, aqui na Amazônia usamos muito a canoa para percorrer os rios, e as canoas precisam de quilha, (uma peça muito importante em uma embarcação). Uma canoa sem quilha, roda para todos os lados e não sai do lugar que está. Gira em torno de si mesma.

Na comunidade Botafogo também em Manacapuru, através do relacionamento discipulador, encontramos outra criança também com a idade de 7 anos que mora com sua avó e que é muito retraída. Sempre que as missionárias radicais, Cleyde e Gabriela Muzy, se aproximavam dela a encontravam brincando sozinha, com semblante triste e sem permitir muita abertura para conversar. Outro dia numa atividade evangelística na comunidade que atuam, observaram um menino sentado na calçada com um olhar carregado de tristeza. Cleyde se dirigiu a ele o chamou, enquanto Gabriela continuava a programação. Ele morava numa casinha velha de madeira e morava só com o pai que era usuário de drogas e fazia muita coisa errada. Aquele menino já havia presenciado muito cena triste e ruim do seu pai.

Após ler estes relatos verídicos, saia da condição que se encontra, e vá em direção aos pequeninos que tanto sofrem. Não permita girar em torno de si mesma, mas que sua “canoa” tenha a quilha para te conduzir até aos pequeninos da Amazônia.

Em Marajaí, temos uma comunidade indígena e lá as crianças também precisam saber que existe o amor de Deus. Nossa

Juntamente com seu esposo, pr. Alexandre Fernandes, é coordenadora da plantação de igrejas na Amazônia

Uma criança entendeu esta metáfora, ao ouvir do missionário e orou: “Senhor, não quero ser uma canoa sem quilha...” E você, qual será a sua oração hoje, ao ouvir o clamor das crianças? Deus te chama para demonstrar o seu grande amor e cuidado as crianças ribeirinhas e indígenas. Missionária Carla Andréa Fernandes


Vida e Obra Rinaldo de Mattos

uma vida em missão entre os indígenas O

missionário Rinaldo de Mattos ouviu o evangelho pela primeira vez em 1955, aos 21 anos. De família católica, começou a estudar no Instituto Bíblico do Brasil para falar de Jesus aos seus familiares. Mas ao ouvir sobre os povos indígenas do Brasil que viviam em isolamento, entendeu seu chamado e decidiu não somente levar o evangelho de Cristo à sua família, mas ser missionário entre os aqueles que viviam nas aldeias distantes dos grandes centros urbanos. Juntamente de sua esposa Gudrun Körber de Mattos, tem realizado um grande trabalho na área de educação e ensino contextualizado da Palavra de Deus aos Xerente, no Tocantins desde os anos 60. Em nossa entrevista ele fala sobre os desafios dessa missão.

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Como e quando o senhor entendeu o chamado missionário? Desde o início ele foi direcionado aos indígenas? Minha conversão se deu no ano de 1955, em São Paulo, Capital, quando eu tinha 21 anos de idade. Fui o primeiro convertido de uma família católica de nove irmãos. Eu queria evangelizar minha família, mas não sabia ainda manusear bem a Bíblia. Então, ingressei no Instituto Bíblico do Brasil, a fim de me preparar melhor. Eu só queria evangelizar minha família, mas, pela providência divina, alguns dos professores do instituto eram também missionários aos índios, da recém-chegada ao Brasil, Missão Novas Tribos do Brasil. Eles passaram a visão indígena para nós, e eu fui um entre outros onze alunos que se decidiram para o trabalho indígena. Conte um pouco sobre os primeiros anos nesse ministério. Minha primeira viagem ao campo, em direção à tribo Xerente, no município de Tocantínia, TO, ainda solteiro, ocorreu em 1959. Depois, em 1960, já casado com Gudrun Körber, fomos morar em Tocantínia e iniciamos o trabalho com o povo Xerente. Na época não havia ainda eletricidade na região.

O trabalho consistiu mais no estudo da língua e da cultura e na ação social, com enfoque na Educação e Saúde. A Gudrun, como enfermeira que era, atendia o povo na área de Saúde. Com o concurso de outros missionários, iniciamos a alfabetização e acabamos por implantar, nas aldeias onde trabalhávamos, as quatro séries do antigo Primário. O conhecimento em Linguística facilitou a elaboração do alfabeto, o que possibilitou, mais tarde, a tradução do Novo Testamento, feita pelo colega pastor Guenther Carlos Krieger.

caí de costas. Pensei: Eu vim aqui pensando que iria ensinar, e ele me diz que eu tenho muito a aprender... Pois bem. Esse foi o primeiro passo no meu aprendizado de contextualização entre os Xerente. Eu não sabia que eles possuíam um tão grande cabedal de conhecimento da origem das coisas. Aí eu comecei a gravar e estudar os muitos mitos da biblioteca mitológica Xerente, conhecer a sua cosmovisão, seu sistema cognitivo, sua maneira de reagir às coisas, sua índole, etc. e foi a partir daí que pude comunicar aos Xerente o evangelho de modo inteligível e significativo, em sua própria linguagem e em sua própria visão de mundo. Devo muito àquele ancião, meu primeiro professor xerente de Contextualização... Quais são os maiores desafios da atualidade na evangelização desses povos? Podemos falar de três desafios: a) O desafio das mais de 100 etnias indígenas brasileiras, ainda sem a presença de missionários; b) O desafio dos cerca de 40 idiomas indígenas brasileiros ainda sem a tradução da Bíblia; c) O desafio do preparo da liderança das atuais igrejas indígenas em todo o País.

A cultura indígena não atrapalha o evangelho e o evangelho não atrapalha a cultura indígena.

Tentando falar o xerente, o melhor possível, conseguimos transmitir o evangelho, e alguns indígenas se converteram. Eles não se tornaram, logo, líderes em potencial, mas constituíram famílias crentes, ganharam seus filhos e netos para Cristo, e muitos deles hoje são líderes na igreja. Mas uma igreja indígena mesmo, nascida da espontaneidade deles, só aconteceu em 1993, trinta e três anos depois da nossa chegada. Hoje há mais de 600 índios batizados, quase vinte igrejas, cada uma delas com sua própria liderança, e temos 3 pastores devidamente consagrados ao ministério da Palavra. Conte uma ou duas experiências mais marcantes de seu ministério entre os indígenas. Houve muitas, mas a mais marcante foi: Certa vez, contando a história do Gênesis em uma aldeia, levantou-se um ancião e disse: “Issuquiucêtafalanu aí é verdade. É desse jeitinmemo que nossus pai contava, que nossus avô contava e que nossus bisavô contava. O Deus que feis tudo pránóis, ducomeçu. Mais, tem muuuito, a história é cumpriiiida. Se ucêficá aqui cum nóis, negóciu de treis pra quatru anu, aí ucê vai ficásabenudireitin como tudo aconteceu, do começu...”. Eu quase

A necessidade de novos missionários ainda é muito grande. Numa estatística do Departamento de Assuntos Indígenas (DAI) da Associação de Missões Transculturais Brasileiras (AMTB), lemos que para a realização completa de todo o trabalho indígena hoje, precisamos de mais de 500 novos missionários! Para concluir: Como evangelistas/ missionários devem conciliar a cultura indígena com a evangelização, de forma sábia, a fim de não serem rechaçados pelo poder público, mídia e pelos próprios nativos?

Muitos missionários não sabem que os indígenas possuem todo um cabedal de conhecimento sobre os fenômenos da vida e do mundo. Outros entendem que os indígenas são possuidores de certo conhecimento, mas acham que tudo não passa de superstição, quando não, acham que esse conhecimento é de origem maligna. O missionário precisa estar consciente da dignidade da pessoa humana e de toda a forma de cultura. Preconceitos culturais, etnocentrismo, estereótipos devem ser banidos da bagagem do missionário. Quando um missionário prestigia a cultura indígena e comunica o evangelho através dela, ele não somente faz uma comunicação inteligível mas coopera para a preservação do patrimônio linguístico e cultural do povo-alvo de seu ministério. Uma evangelização assim estará livre de críticas e será não somente bem aceita pelos indígenas, como será um exemplo para nossas igrejas, para a nossa sociedade e para o governo. Eu costumo dizer que a cultura indígena não atrapalha o evangelho e o evangelho não atrapalha a cultura indígena. O evangelho é tanto supracultural como transcultural e pode passar de cultura para cultura, de modo harmonioso.

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PÁG

Até onde vai a sua visão?

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significado mais comum da palavra visionário em nosso dicionário é: “aquele que tem ideias extravagantes”. Eu prefiro uma definição mais didática, simples e coerente com o que a palavra realmente deseja comunicar. Eis então: “indivíduo que desenvolve a capacidade de enxergar além”. A Bíblia nos ajuda a entender melhor esse termo, ao nos apresentar diversos exemplos de pessoas que enxergaram além e, por isso, fizeram a diferença em seu tempo. Em primeiro lugar devemos saber que, em se tratando do reino de Deus, essa capacidade não é natural, ou seja, não advém do próprio ser humano, pelo simples motivo de o reino de Deus ser espiritual. Em consequência, a visão precisa, de igual modo, ser espiritual. Deus, após nos resgatar da morte, que é fruto de nossos delitos e pecados, nos convoca a seguir seus passos por meio da Grande Comissão. Mas, ao longo da história, Ele chama pessoas específicas para realizar missões específicas. Eis aqui a visão espiritual! Abraão seria o patriarca; Moisés, o libertador; Davi, o grande rei; Paulo, o apóstolo dos gentios. Todos tinham um elemento em comum, por mais que tivessem chamados diferentes. O que os impulsionava a enxergar

além? Além das dificuldades, além de suas fraquezas, além de seus históricos de vida, além de suas próprias visões limitadas? A fé em quem os chamou, a fé em quem os dotou da visão! O elemento em comum é a fé! A fé do vocacionado no Deus que o chamou é o que lhe permite enxergar além. Um engenheiro civil pode liderar a construção do maior monumento do mundo; um médico pode salvar quantas vidas lhe for possível; um presidente pode ser lembrado por uma gestão de prosperidade. Todos os sucessos das mais prestigiadas profissões têm data para acabar. Não adentram a eternidade. Deus nos dá o privilégio de sermos participantes de seu Reino, de maneira tal que o fruto de nosso trabalho tenha consequências eternas: uma vida resgatada pelo evangelho, um discipulado desenvolvido provocando crescimento espiritual, a liderança espiritual exercida com lealdade. Tudo isso só é possível para aquele que consegue enxergar além. Eu sei quem sou, sei por que estou aqui e sei para onde vou! E você? Até onde vai a sua visão? Igor Alexandre S. Botelho Aluno do 5º período de Teologia do Seminário do Sul



Igreja priorizando missões

A

conteceu com a nossa igreja esta experiência. Temos certa urgência em substituir o telhado de nosso templo, para tanto estamos em campanha financeira. Já tínhamos cerca de 100 mil reais arrecadados, quando, em 04 de setembro de 2017, no culto da manhã, recebemos as missionárias da JMN Fabíola Molulo e Sílvia Regina. Foi uma bênção aquele culto! A missionária Silvia, que foi resgatada por Cristo na Cracolândia em São Paulo, deu o seu comovente e impactante testemunho. Enquanto as missionárias falavam, o Espírito Santo falava ao meu coração. Senti que deveria aproveitar o momento e clima para sugerir que a igreja enviasse o saldo da campanha do telhado para Missões, mas não o fiz, pois não queria ser levado pelas emoções do momento. Orei e pedi ao Senhor que, se aquele desejo em meu coração fosse resultado do seu mover, Ele revelasse o mesmo a outro membro da igreja. Ao assumir o púlpito comuniquei aos irmãos que Deus havia falado algo ao meu coração, mas que aguardaria um sinal de Deus para firmar as minhas convicções. Terminado o culto, despedimo-nos das missionárias e fui ao gabinete pastoral. Ao chegar lá, o diácono Alan me aguardava na porta, e dis-

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se: “Pastor, eu sei o que Deus falou ao senhor, pois falou o mesmo a mim e estou aqui por isso. Deus mandou a igreja enviar o dinheiro do telhado para Missões Nacionais”. Não tive mais dúvidas. No domingo seguinte a igreja, em Assembleia Administrativa, tomou a mesma decisão, por maioria esmagadora de votos. E assim foi feito. Após a Assembleia fiz um apelo para que irmãos voluntários me procurassem para a reposição do dinheiro do telhado. Para minha surpresa, dentro de 02 meses, 81 irmãos assumiram o compromisso e ofertaram R$ 207.900,00. Detalhe, para levantar o dinheiro que enviamos a Missões tínhamos demorado 18 meses. O ocorrido fez muito bem a nossa igreja. Cremos que Deus continuará abençoando a todos nós. Com isso aprendemos: Quando a igreja prioriza Missões, Deus prioriza a igreja. Assis Borges Xavier Pastor da Primeira Igreja Batista de Araruama - RJ


Quem precisa de uma

A

agência missionária?

igreja precisa de uma agência missionária? Fazer campanhas, levantar ofertas ou manter missionários por intermédio de uma agência não é uma espécie de terceirização da obra missionária? A igreja investir diretamente no campo, sem a mediação de agências, não seria mais econômico? De tempos em tempos, os questionamentos acima surgem. São questionamentos justos, ainda mais quando motivados pelo desejo de envolver plenamente a igreja local na tarefa de testemunhar “tanto em Jerusalém, como em toda a Judeia e Samaria, e até os confins da Terra” (Atos 1.8b). A solução dessas dificuldades passa pelo entendimento do papel das agências missionarias como auxiliares da igreja local, como esclarecido a seguir.

Agências missionárias: unidade para fazer mais com menos É fácil perceber o valor das agências missionárias quando olhamos para os desafios missionários. Quanto maior o desafio missiológico, mais necessidade de se trabalhar em parcerias para melhor aproveitar os recursos disponíveis e também a experiência acumulada ao longo dos anos pelas agências. Não se trata de delegação, mas de união de esforços. Juntos, sempre se faz mais. Sem a cooperação mútua, a tarefa de missões em todas as esferas (local, regional, nacional e mundial) ficaria limitada às igrejas de maior porte e recursos. Mas, por intermédio das agências, como a Junta de Missões Nacionais, qualquer congregação ou igreja pode fazer parte de todas essas esferas ordenadas por Cristo, mesmo que tenha poucos recursos.

A igreja local é aquela que, de fato, faz missões •

A Junta é administrada e auditada pela Convenção Batista Brasileira (CBB), que é a representação das igrejas batistas a ela filiadas.

Os recursos financeiros da Junta vêm das igrejas.

Os vocacionados e, consequentemente, os missionários vêm das igrejas.

Os intercessores são os membros das igrejas.

É às igrejas que os missionários prestam relatórios ao final.

O resultado dos projetos missionários é uma igreja, organizada pelos princípios batistas, ou a representação dos batistas em ações de compaixão e graça, no caso das cristolândias.

A responsabilidade pela tarefa, e sua execução, é da igreja ao final. Ela não delega essa responsabilidade, apenas utiliza meios cooperativos de fazê-lo, pois sem a igreja as juntas simplesmente não existiriam.

Relacionamento: a chave para melhores resultados O melhor relacionamento entre a Junta e as igrejas que a compõem é necessário. Quanto mais estreito for este relacionamento, menos institucional a relação será e mais os objetivos da igreja em criar as juntas será alcançado. Se há dúvidas, mal-entendidos no uso dos recursos, ou se a sua igreja não está compreendendo bem a realização de um determinado projeto, entre em contato com a Junta através do falecom@missoesnacionais.org.br, telefone (21) 2107-3884 ou procure um representante regional. Se preferir, coloco meu telefone e WhatsApp à disposição: (21) 99155-8692.

Conclusão Algumas igrejas podem, pelo total de recursos que têm à sua disposição, deixar de participar do trabalho associativo. As de menos recursos podem julgar-se desnecessárias ou que devem cuidar das necessidades de sua própria comunidade primeiro. Independentemente dos argumentos envolvidos em cada uma destas situações, há uma verdade bíblica inquestionável: juntas as igrejas, é possível fazer muito mais. Vamos continuar agindo assim? Pr. Milton Monte Gerente Executivo de Mobilização em Missões Nacionais

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PANORAMA Em fevereiro, as comunidades ribeirinhas da Amazônia receberam um grupo de 30 profissionais de saúde e voluntários durante a viagem missionária Missões Saúde no barco O Missionário. Ao fim da viagem, foram contabilizados 636 atendimentos dentários, 669 atendimentos médicos, 18 atendimentos psicológicos e 2.059 caixas de medicamento distribuídas.

Um grupo de 73 jovens da 1ª IB de Ourinhos (SP) aproveitou o feriado de Carnaval para realizar uma caravana missionária em Assaí (PR), onde atuam os missionários Alexandre Takao Katayama e Alécia Nomura, com a plantação de igrejas entre os imigrantes japoneses. O período foi marcado também pelo batismo de dois novos irmãos, frutos da evangelização discipuladora naquela região.

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Festa na Cristolândia de São Gonçalo (RJ) pelo término da recuperação do aluno Mauro César. Ele, que é conhecido como Sorriso, agora vive uma nova história com Cristo!

A IB em Libras de Belém (PA) comemorou 7 anos de existência com o batismo de 10 pessoas. Louvamos a Deus pelo precioso trabalho que tem sido desenvolvido na cidade. Oramos para que mais pessoas conheçam a Cristo por meio desses discípulos que têm sido formados.

O Lar Batista F.F. Soren (TO) promoveu um grande encontro de ex-internos, voluntários e missionários de diversas épocas. Foram quase 50 ex-internos reunidos em confraternização. Louvamos a Deus por esse projeto, que desde 1942 tem abençoado vidas e permitido recomeços a muitas pessoas.

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Seja uma parceiro da evangelização através do Colégio Batista: www.atos6.com/ missoesnacionais/ projetos/colegio-batistacarolina-ma

Instituto Batista de Carolina: a missão de educar O

Instituto Batista de Carolina iniciou suas atividades no dia 16 de março de 1936 através da visão do missionário L.M. Bratcher, que mesmo em um período de crise no Brasil olhou para a realidade do Maranhão e considerou socorrer as crianças sertanejas do Sul do Maranhão. O colégio, que sempre teve o respeito e a credibilidade da cidade de Carolina, atravessou os anos e chegou a 2018 com o propósito de se tornar um colégio modelo para o Brasil. Em 2016, a Gerência de Administração e Suporte de Missões Nacionais assumiu a gerência administrativa e o colégio foi reformulado em seu administrativo, pessoal e em sua visão missionária.

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O colégio hoje conta com um projeto de evangelização onde, semanalmente, são realizados cultos com os professores e alunos. Além disso, o material de ensino religioso foi estrategicamente selecionado para que corações sejam alcançados por Jesus. O colégio também realiza acampamento com os adolescentes e um projeto chamado Altas Horas, onde alunos a partir do 6º ano podem participar e lá ouvem do amor de Jesus por eles. Além disso, todas as atividades festivas do calendário escolar são realizadas a partir de uma visão evangelística. Junto ao trabalho missionário, o colégio também possui uma oferta de atividades extracurriculares como balé, futebol feminino e masculino, xadrez, tênis de mesa, vôlei, atletismo e – como novidade – ginástica rítmica. Além disso, está iniciando através de parcerias o trabalho com música e inglês. Em tempos em que tantos desafios são enfrentados dentro das escolas, torna-se cada dia mais vital a presença e atuação de uma escola cristã, fundamentada na Palavra de Deus, a fim de formarmos uma geração que glorifique a Deus em seus atos. Pensar em escola é pensar em um Brasil melhor, com ética, honestidade e justiça e se esse é o nosso objetivo precisamos formar bons líderes, com convicção para fazer o que precisa ser feito. Adriana Dias Missionária e diretora do Colégio Batista Carolina




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