NOVEMBRO ‘10
Destaques 2 || Educação 6 || Sociedade 10 || JUPBOX 13 || U.Porto 14 || FLASH 16 || Desporto 18 || Cultura 22 || Críticas 27 || Cardápio 28 || Opinião 29 || Devaneios 31
Férias da nossa geração Alternativas para viajar ao menor preço P22
Cimeira da NATO
Jornal da Academia do Porto || Ano XXIII || Publicação Mensal || Distribuição Gratuita Directora Aline Flor || Director de Fotografia Miguel Lopes Rodrigues || Directora de paginação Natacha Cunha Chefe de Redacção Dalila Teixeira
O que muda para Portugal? P4
Estudantes saem à rua Manifestação a 17 de Novembro
2 ||
JUP || NOVEMBRO 10
NUNO MONIZ
Mariano Gago satirizado nos muros da cidade do Porto
Estudantes às ruas Uma manifestação nacional de estudantes do Ensino Superior foi convocada pela Associação Académica de Coimbra. A 17 de Novembro, várias associações de todo o país estarão em Lisboa para reivindicar o direito a melhores apoios sociais. No dia 17 de Novembro, estudantes do Ensino Superior vão invadir as ruas de Lisboa. Os estudantes de Coimbra decidiram, na madrugada de 30 de Setembro, convocar uma manifestação com âmbito nacional em protesto contra a legislação que estabelece as actuais condições para atribuição de bolsas de estudo. A ac-
ção começa na Cidade Universitária e termina na Assembleia da República. O objectivo principal é contestar a legislação que estabelece condições para a atribuição de bolsas e o Decreto 70/2010. Contudo, segundo a moção aprovada na Magna de Coimbra, a manifestação terá também como rei-
vindicações a “redução imediata da propina”, “mais financiamento para o Ensino Superior”, “igualdade no acesso à acção social por parte dos estudantes nacionais e estrangeiros” e que “nenhum estudante seja impedido de se matricular por ter dívidas para com a Universidade.” Referente à última revindicação,
ela vem contestar os regulamentos universitários que impedem alunos de se matricular e, subsequentemente, concorrer à bolsa de acção social escolar. Este tipo de entraves legais também se encontra na Universidade do Porto. Segundo o artigo 4º do “Regulamento de Propinas da UPorto” com o despacho nº.
6170/2010, na eventualidade do não pagamento de propinas é prevista “a suspensão da matricula e da inscrição, com privação do direito de acesso aos apoios sociais até à regularização dos débitos, acrescidos dos respectivos juros, no mesmo ano lectivo em que ocorreu o incumprimento da obrigação”. No final da assembleia magna, o presidente da Associação Académica de Coimbra (AAC) disse que a acção no dia 17 de Novembro serviria para “exigir ao Governo a revogação do decreto-lei 70/2010 para evitar que estudantes saiam do sistema de acção social e consequentemente do ensino superior” A Assembleia Magna de Coimbra ditou o regresso à luta de rua. Os estudantes da Universidade de Coimbra assim adoptam uma postura mais “agressiva” na luta por uma acção social escolar mais justa e solidária. ATÉ O CANGURU PERDEU A BOLSA O cortejo da Latada de Coimbra
Destaque
|| 3
JUP || NOVEMBRO 10
MIGUEL LOPES RODRIGUES
Os estudantes voltam às ruas devido aos problemas no apoio social
foi aberto por um canguru, sem bolsa. O canguru foi escolhido para simbolicamente representar os estudantes do ensino superior que, com os recentes cortes no financiamento do Ensino Superior e na acção social escolar, vão começar a sentir ainda mais dificuldades na hora de pagar as propinas e outras despesas associadas à frequentação da Universidade. Sátira esta que foi acompanhada por um protesto em que vários membros de núcleos de estudantes da AAC desfilaram pelas ruas de Coimbra de mão atadas, fazendo alusão aos estudantes que
Nova fórmula da bolsa: (12*IAS)+P-C • IAS (Índice de Apoio Social) = 419.22€ • P (Propina) = 986,88€ • C = Capitação Fórmula da Capitação : C=RTA/A • RTA (Rendimento Total do Agregado Familiar) = (0.85*RT) + RNT • RT = Rendimentos de Trabalho • RNT = Rendimentos não provenientes de Trabalho (apoios sociais, etc) • A = Soma das parcelas do agregado (1 bolseiro, 0.7 pessoa maior de idade, 0.5 pessoa menor de idade)
frequentam a Universidade com poucos apoios e que actualmente se encontram forçados a abandonar o ensino superior devido à falta de apoios económicos. Para alem do canguru, ao longo das quatro horas do cortejo, José Sócrates, Mariano Gago e António Marinho Pinto foram outras personalidades públicas que foram satirizadas no Cortejo da Festa da Latada em que os cortes na acção social escolar e a falta de condições nas residências estudantis estiveram na ordem do dia. Pelo percurso liam-se frases como “Quem rouba assim é Gago”. Ainda antes da publicação das normas técnicas do novo regulamento de atribuição no passado dia 14, planeou-se um acampamento em Lisboa, de forma a forçar o lançamento das mesmas. O acampamento, proposto por cinco associações de estudantes, foi discutido mas não aprovado na reunião extraordinária do Encontro Nacional de Direcções Associativas (ENDA). ENDA EXTRAORDINÁRIO, FRACAS CONCLUSÕES A 11 de Outubro, reuniu-se um Encontro Nacional de Direcções Académicas (ENDA) extraordinário que decorreu nas instalações da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP). Este ENDA foi convocado pela Federação Académica do Porto com carácter de urgência, com um único ponto na ordem de trabalhos; Acção Social directa e indirecta. As normas técnicas concretizadoras do novo Regulamento de Atribuição de Bolsas de Estudo não tinham sido aprovadas, passado mais de um mês da
apresentação do novo Regulamento de Atribuição de Bolsas de Estudo (a 3 de Setembro de 2010). Após várias horas de discussão, o ENDA apresentou 4 deliberações. Primeiro, apresentar uma proposta de normas técnicas ao MCTES e à DGES. Segundo, entregar um cheque de 98 euros e 60 cêntimos, com o intuito de suportar as horas extra de trabalho do Sr. Ministro para que possa, dessa forma, finalizar o regulamento de atribuição de bolsas de estudo pelo qual os estudantes desesperam há vários meses. Terceiro, exigir o congelamento do preço da refeição social e do alojamento em residência universitária para o ano 2010/2011, no anterior valor atribuído a estes parâmetros. Por ultimo, reunir com o Primeiro-Ministro, José Sócrates. NOVAS NORMAS TÉCNICAS, MAIS EXCLUSÃO Dirigentes estudantis de vários pontos do país pretendem mais financiamento e mais justiça na acção social escolar, visto que após a fixação das normas técnicas no dia 14 de Outubro espera-se que um considerável número de estudantes deixará de ser apoiados. Segundo Miguel Portugal, presidente da AAC, o actual regulamento de atribuição de bolsas tem “bons princípios”; contudo, não aceita a saída de estudantes do Ensino Superior devido à falta de apoios. De acordo com as normas técnicas, se um aluno estiver em perigo de prescrever, deixa de ser elegível para bolsa. O aproveitamento escolar é considerado segundo o critério de obter mais de 50% dos ECTS em que se inscreveu. Isto é, se um aluno do Ensino Superior se inscrever
a 3 cadeiras em que uma delas tenha mais ECTS que as outras duas cadeiras, mesmo obtendo aproveitamento às duas cadeiras que têm menos créditos e não obtendo aproveitamento à terceira, o aluno fica sem direito a bolsa. De acordo com o regime transitório, será atribuída aos bolseiros de 2009/2010 a bolsa mínima de 98€. Ou seja, os estudantes que recebiam bolsa continuam a receber este ano. Esta alteração poderá ter impacto nos estudantes em termos de atraso de atribuição, visto que os técnicos do SASUP podem não conseguir analisar as candidaturas todas em tempo útil para cumprir o prazo estipulado pelo Regulamento de Bolsas aprovado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. Como resultado o Ministério pretende atribuir mais bolsas mínimas aos estudantes. Contudo, sendo um regime transitório, poderá significar a perda de bolsa no ano académico seguinte. Na verdade, com as alterações do decreto-lei 70/2010, mudam as regras de cálculo dos rendimentos das famílias. Uma família de 4 elementos passa a contar como tendo apenas 2.9 pessoas, o que significa que a capitação vai ser maior, excluindo muitos estudantes de ter bolsa. Por outro lado, passam a contar os rendimentos brutos das famílias, ou seja, não o rendimento de que as famílias realmente dispõem, mas também o que elas pagam de impostos ou os empréstimos que tenham, por exemplo para pagar casa, como se fossem rendimentos, o que também retirará do apoio alguns milhares de alunos. NÚMERO DE BOLSEIROS Apesar de ser impossível neste momento avançar com um número de bolseiros total, foram já excluídos mais de 9400 bolseiros por irregularidades no processo, tais como processos incompletos por falta de apresentação de documentos requeridos pelo novo Regulamento de Bolsas e Normas Técnicas. No ano passado, era quase 80 mil o número de estudantes que beneficiavam de bolsa. Este ano, esse número salda-se, por agora, em menos de 60 mil, aguardando-se ainda saber quais os estudantes do 1º ano que realmente poderão ter bolsa à luz das novas regras. RICARDO SÁ FERREIRA ricardo.sa.ferreira@gmail.com
Os que vão e os que ficam Convocada pela Assembleia Magna da Associação Académica de Coimbra (AAC), a manifestação estudantil de 17 de Novembro continua a causar polémica, mesmo entre as associações de estudantes. Os principais objectivos da acção de protesto são “a revogação do decreto-lei 70/2010 [que muda a fórmula de cálculo dos rendimentos], o preço das cantinas e do alojamento, mais financiamento para o Ensino Superior e ainda melhor Acção Social Escolar Directa”, conforme explica Miguel Portugal, presidente da Direcção da AAC. A participação ainda é parcimoniosa, uma vez que um dos grandes motivos - a (na altura não) publicação das normas técnicas - já foi concretizado. No entanto, “esperam-se novidades durante os proximos dias, mas a AAUM [Universidade do Minho] e AEESEC, já aprovaram a ida a Lisboa”, explica o responsável pela AAC. Para a Associação de Estudantes da Escola Superior de Educação de Coimbra, no entanto, que “não existe uma resposta que possa ser dada” quanto à adesão oficial, uma vez que, até o fim de Outubro, ainda não tinha havido uma reunião da direcção com esse ponto na ordem de trabalhos. A Federação Académica do Porto, por sua vez, não deverá fazer parte do grupo de estudantes manifestantes. Ricardo Morgado, presidente da FAP, explicou numa entrevista ao JUP que, por um lado, a manifestação seria um passo atrás depois do sucesso, ainda que parcial, das negociações das AEs com o Ministério; por outro lado, explica que, apesar de já ter sido convocada mais de uma semana antes, a manifestação do dia 17 de Novembro não foi proposta no ENDA, não existindo assim o compromisso de seguir as deliberações conjuntas do Encontro Nacional de Dirigentes Associativos. ALINE FLOR
4 || DESTAQUE
JUP || NOVEMBRO 10
CIMEIRA DA NATO
Ainda faz sentido? Este mês, nos dias 19 e 20, vai-se realizar a já bastante polémica Cimeira da NATO em Lisboa. Este acontecimento está a dar azo a vários movimentos e acções anti-guerra, assim como preocupações com a segurança das altas figuras de Estado participantes. As Cimeiras da NATO são encontros organizados periodicamente que reúnem os chefes de Estado dos países-membros. Neste encontros são levadas a cabo discussões políticas e/ou económicas e também questões urgentes de segurança que possam afectar os membros. Esta Cimeira de Lisboa, no Parque das Nações (FIL), vai ser a primeira a ser realizada em Portugal desde que estas começaram em 1957. O nosso país reforça a sua aliança e reforça também o seu papel na organização. Portugal é estrategicamente importante como membro da NATO, antes de mais pela sua localização geográfica e pela utilização que os americanos têm dado à Base das Lajes no Açores. Estes factores colocam o nosso país na lista de países fundadores, assinantes do Tratado do Atlântico Norte. Portugal entra na NATO ainda sobre a alçada do fascismo do Estado Novo. O secretário-geral Anders Rasmussen revelou, em Julho, à comunicação social portuguesa, que esta cimeira será bastante importante e que definirá o futuro da NATO durante os próximos dez anos. Rasmussen considera também que a experiência histórica de Portugal é uma mais-valia nos contactos com outros países. Enalteceu também o
papel do país nos conflitos dos Balcãs e do Afeganistão e o seu papel como membro da Aliança Atlântica. Neste encontro com os Ministros do Negócio Estrangeiros e da Defesa, Luís Amado e Augusto Santos Silva, em Julho, o secretário-geral anunciou que espera aprovar um novo conceito estratégico na Cimeira de Lisboa nos dias 19 e 20 de Novembro. Os contactos com a Rússia são também um passo que a NATO quer dar nesta Cimeira. A Federação Russa já confirmou a sua presença na Cimeira de Lisboa. Neste momento a Rússia está envolvida nas Parcerias para a Paz e faz parte da Comunidade dos Estados Independentes. Outro assunto que se quer discutir na Cimeira de Lisboa é a questão do escudo antimíssil para o qual a NATO pretende o apoio da Turquia. Por enquanto a Turquia tem mantido uma posição de “zero problemas” na sua relação com a Rússia e o Irão, e estabelecido relações diplomáticas com a NATO. Aguarda-se a discussão de vários assuntos, e vários líderes como Nicolas Sarkozy e Angela Merkel já vieram declarar que esperam chegar a consensos sobre as pastas polémicas, como o escudo antimíssil. Outra das grandes questões ligadas à Cimeira é sem dúvida a se-
gurança. Fortes dispositivos vão ser montados e as forças policiais em peso vão patrulhar a área. Estimase que o Governo gaste cerca de 5 milhões de euros em material de segurança. Entre os dispositivos, encontram-se carros blindados antiminas, anti-motins, anti-bombas e anti-fogo, viaturas com capacidade para seis pessoas. Além deste material estão a ser adquiridos outros materiais como gás lacrimogéneo e gás-pimenta. No fim de Setembro, os partidos da Oposição vieram pedir explicações ao governo sobre os elevados custos do material numa altura particularmente difícil a nível económico, e chamaram atenção ao facto de a GNR já possuir carros blindados. O Governo justificou-se dizendo que o material é necessário à Polícia de Segurança Pública por necessidades futuras que ultrapassarão a Cimeira a realizar-se em Novembro, no Parque das Nações. Apesar disso, em Comissão dos Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, o Ministro da Administração Interna Rui Pereira revelou que não sabe se o material chegará a tempo da Cimeira. CONCERTOS ADIADOS E CANCELADOS O facto de a Cimeira de realizar-
se no Parque das Nações está a condicionar a realização dos concertos dos Arcade Fire e da colombiana Shakira que serão no Pavilhão Atlântico, visto que este está localizado dentro do perímetro de segurança do local. O concerto da banda canadiana estava marcado para o dia 18 de Novembro e da colombiana para dia 21. A disputa entre o Governo e a promotora do concerto dos Arcade Fire arrastou-se por alguns meses, mas o espectáculo acabou, por fim, a ser cancalado. O Ministério dos Negócios Estrangeiros considerou que a data do concerto era incompatível com os acontecimentos em questão, por causa da segurança do local, mas foi só depois de reforçada esta posição pela PSP que a promotora acatou a imposição. Os Arcade Fire poderão voltar a Portugal apenas no próximo ano; aqueles que já compraram bilhetes para o concerto serão reembolsados. CONTESTAÇÃO: MOVIMENTOS ANTI-NATO No plano da contestação destacam-se dois movimentos que, ao longo dos últimos meses, se têm desdobrado em acções de sensibilização, informação e acções directas para contestar a realização da Cimeira em Portugal. Uma das
Nos últimos meses, houve acções de contestação à realização da Cimeira em Portugal.
DESTAQUE || 5
JUP || NOVEMBRO 10
DIREITOS RESERVADOS
NATO: raízes e História Portugal recebe a presença do Presidente Barack Obama e de outros altos-dignatários na Cimeira da NATO. Mas, primeiro, o que é que se vai passar nesta cimeira? A NATO ou OTAN (sigla francófona, que também é aplicada ao português), é a Organização do Tratado Atlântico Norte, criada em 4 de Abril de 1949, pela assinatura de um tratado entre os países do Pacto de Bruxelas e os EUA. Este tratado celebrava a protecção dos EUA aos países europeus em caso de ataque nuclear soviético e a mútua assistência em caso de agressão. Além dos EUA e de 12 países da Europa Ocidental, o tratado incluiu o Canadá. A OTAN – ou NATO – foi durante a Guerra Fria uma forte aliança política, a chamada Aliança Atlântica, incorporando novos países e aumentando o seu potencial bélico. O primeiro Secretário-Geral da NATO foi Lord Ismay, conhecido pela famosa declaração em que definia os objectivos da
plataformas é a CPPC, Conselho Português para a Paz e Cooperação, organização que foi formalizada em 1976 e que desde então tem estado presente nas movimentações Anti-Guerra e também Anti-NATO. Outra plataforma chamada PAGAN, Plataforma Anti-Guerra Anti-NATO, foi criada devido à realização da Cimeira em Portugal. Constituída a 30 de Setembro de 2009, é um “movimento anti-militarista português integrado na campanha internacional «No to War, No to NATO»”. Tem como propósito “manifestar pública e pacificamente o desagrado com as políticas belicistas da NATO.” Ambas as plataformas têm alguns objectivos no que diz respeito à mobilização nessa semana que se adivinha de protesto. A PAGAN organiza uma Contra-Cimeira com participações internacionais em vários painéis e mesas redondas sobre temas da Guerra, Militarização, NATO, Feminismo, etc. Por outro lado, a CPPC concentra os seus esforços na realização de uma grande manifestação no dia 20 de Novembro em Lisboa. O JUP falou com um activista da PAGAN sobre a realização da Cimeira e o que é a NATO em Portugal.
organização: “Para manter os Russos fora, os Americanos dentro, e os Alemães em baixo.” Actualmente, o seu Secretário-Geral é o dinamarquês Anders Fogh Rasmussen. Depois da queda da União Soviética e desmoronamento de respectivo bloco, a NATO sofreu uma redefinição estratégica, porque a principal razão da sua criação já não existia. O objectivo passou a ser tornar-se o centro de segurança de toda a Europa, englobando os países do bloco soviético e da América do Norte. A acção da NATO sempre esteve marcada pelas acções militares, bastante polémicas. No pós Guerra Fria a acção militar da NATO centrou-se especificamente nos Balcãs. Os maiores exemplos são, provavelmente, os bombardeamentos da Bósnia-Herzegovina em 1995, e da Jugoslávia em 1999. Com o crescente número de países, foram criados programas de parceria entre os vários países e en-
“Após o desaparecimento deste bloco [soviético], esta definição pacífica deixou de legitimar a própria organização. Para o “Carvalho”, a NATO tem passado a ideia e que é “uma organização pacífica e com objectivos de defesa militar perante uma agressão estrangeira”. Para este membro da PAGAN, depois do fim da Guerra Fria esta organização deixou de fazer sentido, porque a ameaça original tinha desaparecido: “após o desaparecimento deste bloco [soviético], esta definição pacífica deixou de legitimar a própria organização”. Para a PAGAN é urgente desmascarar a NATO e revelar o potencial bélico da NATO, que, segundo a organização é uma realidade ofensiva e violenta, que não faz sentido. Acerca do novo Conceito Estratégico da NATO, que vai ser aprovado na Cimeira de Lisboa, Carvalho refere que “representa acima de
tre estes e a organização. Por exemplo, a Parceria para a Paz em que cada país tem uma relação bilateral individual e que pode escolher a extensão da sua participação. É um dos “motores” da Aliança Atlântica. A grande controvérsia que rodeia a NATO é a crítica ao controlo excessivo dos Estados Unidos da América e o seu controlo quase total da organização. O país mais poderoso do Mundo exerce uma força motriz e intensa na organização. Depois dos atentados de 11 de Setembro de 2001, a NATO viu-se forçada a invocar pela primeira vez o Artigo 5. Este artigo invoca que qualquer ataque a um dos seus membros é um ataque a todos. Este facto levou às operações nos países considerados perigosos a nível terrorista como o Afeganistão. A Organização é regulada por um Parlamento e por um Conselho, onde estão presentes os actuais 28 países membros.
tudo a militarização da UE e a necessidade de esta cooperar de forma ainda mais activa na organização e em todos os futuros conflitos preconizados pela aliança. Esta situação é uma exigência dos EUA” e também “está também em cima da mesa a possibilidade dos exércitos intervirem em situações em que a segurança nacional de qualquer um dos países membros possa estar em risco. Isto pode-se aplicar a situações de conflito social, idênticas às que decorrem hoje na Grécia e França”. O activista considera que a contestação é importante por uma questão da manter a paz e lutar por ela: “É necessária a mobilização de todas as pessoas que consideram que a guerra não é solução porque este novo conceito estratégico assume um risco grave para o equilíbrio mundial”. A PAGAN pretende que Portugal saia da NATO o mais rápido possível. Conselho Português para a Paz e a Cooperação
www.cppc.pt Plataforma Anti-Guerra Anti-NATO
antinatoportugal.wordpress.com JÚLIA ROCHA E NUNO MONIZ
Educação
6 ||
JUP || NOVEMBRO 10
LÍNGUA GESTUAL PORTUGUESA
LGP (em língua gestual) RENATA SILVA
Este mês assinala-se o Dia Nacional da Língua Gestual Portuguesa (LGP), língua oficial no país desde 1997. O JUP falou com futuros intérpretes cujo objectivo consiste em promover a inclusão da pessoa Surda como cidadã em igualdade de direitos e de oportunidades.
A “arte” de comunicar através das mãos “O intérprete de Língua Gestual Portuguesa é ‘o ouvido e a boca do surdo’”. Assim o descreve Alexandre Carvalho, estudante do 3º ano do curso de Tradução e Interpretação em LGP da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico do Porto (ESE). O JUP falou com alunos e professores desta licenciatura para melhor entender a realidade do profissional que faz a “ponte” entre a comunidade ouvinte e a Comunidade Surda.
O que é a Língua Gestual Portuguesa? “A LGP é uma língua visual e motora, cuja produção se processa através dos gestos e das expressões faciais e corporais, e cuja percepção se realiza através da visão” A LGP é considerada, desde 1997, uma das três línguas oficiais de Portugal – a saber, Língua Portuguesa, Mirandês e Língua Gestual Portuguesa. Fonte: Programa Curricular da Língua Gestual Portuguesa
O trabalho de um intérprete realiza-se em escolas, tribunais, autarquias, hospitais, na televisão e
em associações. Mas, na verdade, é no contexto escolar que a maioria dos estudantes que se licenciam no curso da ESE vão desempenhar a sua função, explicou a docente e intérprete Cláudia Rubim. As Escolas de Referência para a Educação Bilingue de Alunos Surdos (EREBAS) são o destino de estágio de muitos alunos e a colocação de vários recém-licenciados. O curso de Tradução e Interpretação em Língua Gestual Portuguesa permite a entrada de estudantes em regime pós-laboral, onde surgem pessoas “que procuram o curso por interesse pessoal” e que vêem na licenciatura “uma maisvalia para o desempenho das suas profissões”, acrescenta. É o caso de Lurdes Figueiredo, aluna do 3º ano, cuja opção passou pelo facto de ser uma área “não muito conhecida” e “interessante”. Pelo contrário, Alexandre Carvalho, que se prepara para estagiar numa EREBAS, já conhecia e convivia com a Comunidade Surda, antes de se inscrever no curso. Foi esse contacto que o levou a querer ser intérprete de LGP, alguém
“útil a uma comunidade um pouco largada ao abandono”. “O acesso à informação e aos serviços públicos na sua própria língua é um direito que assiste a todos os cidadãos Surdos”, justifica. Ensinar e dotar de várias qualidades um intérprete de Língua Gestual Portuguesa “aumenta a possibilidade de desenvolvimento e de participação da pessoa Surda como cidadã em igualdade de direitos e oportunidades”, considera Cláudia Rubim. No entanto, para os alunos de Tradução e Interpretação em LGP, a licenciatura não fornece bases suficientes para o mercado de trabalho, devido “à falta de interacção com a Comunidade Surda”, lamenta, por sua vez, Alexandre Carvalho. “ Locais como os hospitais, centros de saúde e centros de emprego não constam da preparação que obtemos durante a nossa formação”, acrescentou, revelando ainda ser “muito difícil aprender qualquer língua gestual sem o contacto permanente com falantes nativos”. A mesma opinião é partilhada por Joana Queirós, também do 3º ano,
O intérprete é o ouvido e a boca do Surdo que reitera a importância ao longo do curso do “contacto com os surdos, como por exemplo nas associações”. Por outro lado, “o contacto com profissionais intérpretes pode ser um factor benéfico pela partilha das suas experiências e vivências no mercado de trabalho”, adiantou o aluno da ESE. Quando questionado sobre a dificuldade em aprender LGP, Alexandre explicou ao JUP que “existe uma variação linguística muito elevada em diversas zonas geográficas do país”, exigindo “um esforço extra em aprender regionalismos”. Faltam também dicionários e gramáticas, acrescenta. Nesse sentido foi lançado pela Porto Editora no dia 21 de Setembro o
Dicionário de Língua Gestual Portuguesa, da autoria da intérprete Ana Bela Baltazar. Na Internet há também o “Spreadthesign.com”. Trata-se de um site lançado em 2008, onde se pode pesquisar várias palavras e ver os gestos correspondentes. Com este projecto de âmbito internacional, pretendese a divulgação das línguas gestuais de diversos países europeus. Para além do curso Tradução e Interpretação de Língua Gestual Portuguesa, existem formações básicas e introdutórias dadas pela Associação de Surdos do Porto. Porque há mais intérpretes de LGP, actualmente existe um maior número de estudantes Surdos que frequentam a universidade, usufruindo desses serviços, explicou Cláudia Rubim. Por esse motivo, a ESE criou recentemente um Mestrado em Tradução e Interpretação em LGP, para “proporcionar o desenvolvimento de um conjunto de competências científicas e técnicas fundamentais para o exercício de funções destes profissionais.” RENATA SILVA
EDUCAÇÃO || 7
JUP || NOVEMBRO 10
À CONVERSA COM JOÃO LOPES DOS SANTOS O prémio Nobel da Física 2010 foi atribuído a Andre Geim e a Konstantin Novoselov pelas suas descobertas pioneiras sobre grafeno. Dois dos seus trabalhos seguintes foram feitos em colaboração com investigadores portugueses, um dos quais com investigadores da FCUP: Eduardo Castro, então estudante de doutoramento e actualmente a trabalhar no Instituto de Ciência dos Materiais de Madrid, e João Lopes dos Santos, professor associado e presidente do Departamento de Física e Astronomia da FCUP. O JUP foi conhecer mais de perto o trabalho do Professor Lopes dos Santos. JUP: O que é o grafeno? João Lopes dos Santos: É uma forma de carbono. A mina de um lápis também é constituída por carbono, na forma de grafite. Na grafite os átomos de carbono dispõem-se em camadas e dentro de cada camada numa rede hexagonal. Cada camada é muito resistente mas elas são facilmente separáveis entre si. Quando escrevemos, o lápis deixa uma marca no papel porque ficam lá pedaços de grafite, conjuntos de várias camadas que se libertaram
PAULO ALCINO
da mina. A uma única dessas camadas isoladas dá-se o nome de grafeno. O trabalho dos laureados com o Nobel consistiu em isolar uma folha de grafeno suficientemente grande para medir as suas propriedades. JUP: Quais as descobertas da investigação que fez em conjunto com os homenageados? JLS: No trabalho em que participei, recebemos dados experimentais do grupo de Andre Geim sobre um sistema de bicamada de grafeno. O que fizemos foi demonstrar teoricamente que o gap de energia pode ser variado facilmente aplicando um campo eléctrico externo, sem ser preciso fazer alterações à estrutura do material. O gap de energia corresponde à separação entre os estados de valência e de condução dos electrões no material, sendo muito importante para as suas propriedades electrónicas. Ter um gap variável permite por exemplo construir um detector/emissor de radiação de frequência variável. JUP: Que tipo de investigação se faz no Porto sobre grafeno? JLS: Em Portugal é feita investigação teórica em grafeno nas Universidades do Porto e do Minho. Os tópicos de investigação actuais nesta área na FCUP são Grupo de trabalho do professor João Lopes dos Santos.
DA ESQUERDA PARA A DIREITA: Eduardo Castro (Instituto de Ciência dos Materiais de Madrid), João Lopes dos Santos (FCUP), Nuno Peres (Universidade do Minho), Francisco “Paco” Guinea (Instituto de Ciência dos Materiais de Madrid), António Castro Neto (Boston University) e Vítor Pereira (National University of Singapore).
O Nobel da Física e Portugal as propriedades electrónicas de uma bicamada de grafeno com torção e a reconstrução química das fronteiras das folhas de grafeno. O primeiro é importante para as aplicações industriais porque,
O grafeno chamou a atenção dos físicos por ter propriedades invulgares.
quando são produzidas pelos métodos mais promissores para aplicações industriais, raramente as camadas assentam perfeitamente, havendo uma pequena torção entre elas. O primeiro trabalho que há sobre este assunto foi desenvolvido em conjunto pela UP, UM e Boston University. Já o segundo tema é relevante porque a reconstrução das fronteiras permite alterar as propriedades electrónicas e de transporte de fitas de grafeno. Tenho apenas pena de que em Portugal ainda não se faça investigação experimental sobre grafeno. JUP: Que aplicações poderá vir o grafeno a ter no futuro? JLS: Sendo um material com propriedades muito diferentes do habitual, as possibilidades de aplicação são imensas, uma vez
que permite abrir áreas que até agora nem existiam por falta de materiais adequados. Estes desenvolvimentos dependerão agora muito da imaginação para utilizar as características únicas do grafeno. Actualmente, por exemplo, foram criados com grafeno os transístores que operam à frequência mais elevada até agora conseguida. A Samsung produz folhas de grafeno com 70cm de largura. Sendo estas transparentes mas ao mesmo tempo tendo propriedades metálicas, são ideais para ecrãs tácteis ou para revestir células solares. Mas, acima de tudo, o grafeno chamou a atenção dos físicos por ter propriedades electrónicas e mecânicas extremamente invulgares. PAULO ALCINO paulo_alcino@vodafone.pt
8 || EDUCAÇÃO
JUP || NOVEMBRO 10
UP e o “novo” regime de prescrições O regime de prescrições está nas agendas do Ensino Superior e tem sido alvo de contestação por parte dos estudantes. Na UP, mais de 500 estudantes prescreveram no primeiro ano em que se sentiram os seus efeitos. Depois de a Federação Académica do Porto (FAP) ter apresentado uma moção contra o regulamento do regime das prescrições da Universidade do Porto, o documento foi alterado. Inicialmente era pedida a suspensão do regime durante, pelo menos, um ano. Depois das negociações, as condições de isenção do regulamento na UP abrangem agora mais estudantes, tal como era previsto pela federação que apresentou a moção. Ainda assim, segundo informações da FAP, mais de 600 estudantes prescreveram no início deste ano lectivo, altura em que se começou a sentir os efeitos do regulamento que entrou em vigor já em 2007. O regulamento original previa a isenção apenas dos estudantes a tempo parcial e dos trabalhadoresestudantes. No documento actual, os estudantes portadores de deficiência física e sensorial, com doença transmissível ou infecto-contagiosa ou com doença grave de recuperação prolongada têm também justificação para não acumular os créditos necessários. Para além destes,
estão também incluídos no documento os estudantes em situação de maternidade ou paternidade ou de morte de um familiar próximo, e ainda os alunos com estatuto de atletas de alta-competição. O regime de prescrições é aplicá-
tipo de ingresso: inicial, reingresso, transferência ou mudança de curso. Neste regime tudo tem que ver com os créditos que cada estudante acumula ao longo dos anos. Cada ciclo de estudos e cada curso tem um número máximo de
vel a estudantes de licenciatura e de mestrado, deixando assim de fora o terceiro ciclo de estudos, o doutoramento. Nos primeiros dois anos não há prescrições, qualquer que seja o
inscrições permitido que depende do número de créditos necessários. Para não prescrever, o estudante deve acumular, pelo menos, 60 créditos (ECTS) nos três primeiros
O JUP ERROU Na quarta coluna da página 4, o comentário foi feito por Susana Castro, e não por Francisco Esteves. A notícia da página 5, “Os estudantes mostram o seu descontentamento, com pompa e circunstância”, foi escrita por
Mariana Catarino. Na notícia da página 9, “Os estudantes mostram o seu descontentamento, com pompa e circunstância”, Luís Gomes foi erradamente referenciado como Luís Mendes.
A foto da página 20 foi cedida pelo GADUP, e não pela FADU. Aos visados, as nossas sinceras desculpas.
anos. No entanto, se conseguir apenas o número mínimo, deve começar a acumular 50 ECTS por ano, nos anos seguintes. Assim, num curso que exige 360 ECTS, o objectivo é que o estudante complete uma média de 40 ECTS por ano. No caso dos trabalhadores-estudantes e dos estudantes a tempo parcial (que se inscrevem no máximo em 37,5 créditos por ano lectivo), só precisam de ter metade dos créditos mínimos relativamente aos estudantes regulares. Um estudante prescrito não pode candidatar-se ao Ensino Superior durante o ano lectivo. Passado esse tempo, o estudante pode reingressar no mesmo ciclo onde tinha prescrito. Os estudantes podem recorrer da decisão de prescrição da sua matrícula desde que fundamentem devidamente esse mesmo recurso. O regime de prescrições é obrigatório por lei para todas as instituições, mas elaborado e aplicado individualmente. No caso da UP, todas as faculdades têm que obedecer ao regime imposto pela Universidade. POLÉMICA E FALTA DE INFORMAÇÃO O actual regime tem sido muito contestado pelas associações académicas e pelos alunos de várias universidades. Por enquanto, isto parece ser um problema apenas para os alunos prescritos, já que a maioria dos estudantes que não prescreveu não sabe bem o que muda com o novo regulamento. Rita Castro, aluna da Faculdade
de Letras da Universidade do Porto (FLUP) e Beatriz Moreira, aluna da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto (FFUP) são exemplo disso. As alunas já ouviram falar vagamente no novo regime mas não têm informações suficientes para formar uma opinião acerca disto. Contudo, com a crescente divulgação do tema em manifestações e protestos, os estudantes tendem a procurar saber mais sobre o tema. Para alguns alunos este regime é “uma moeda de duas faces”, como afirma Júlia Rocha, aluna da FLUP. De acordo com a estudante universitária, em alguns casos o regime é injusto uma vez que há pessoas que “por razões estranhas à vida académica ou por complicações pessoais têm de sofrer a consequência de algo que não podem controlar”. Porém, segundo a mesma estudante, em alguns casos o regime deve ser aplicado, uma vez que “há alunos que estão a absorver vagas, recursos e dinheiro por razões não muito importantes”. Da mesma opinião é Raquel Abreu, aluna da FLUP, que considera que “através deste regime todos os alunos poderão ter um melhor rendimento nos cursos da UP, sendo que apenas os minimamente interessados permanecem”. Ainda Sara Marques, da mesma instituição, advoga que “todos os alunos se devem esforçar por conseguir dentro do mínimo de tempo estabelecido tirar o curso”. Contudo entende também que “o número de créditos estipulados para tirar os cursos tem de ter em conta a natureza e dificuldade desses respectivos cursos”. A estudante admite ainda que já tinha ouvido falar da medida, porém, no princípio, tinha uma ideia errada sobre a mesma. Antes de perceber melhor em que consistia o regime, Sara Marques pensava que os alunos não podiam voltar a inscrever-se depois de prescreverem e não podiam, assim, acabar o curso. Esta é uma ideia que tem vindo a ser clarificada à medida que o assunto começa a ser difundido e explicado aos alunos da Universidade do Porto. Contudo, existem ainda muitas lacunas a resolver na informação que os estudantes recebem sobre o regime de prescrições, que pode afectar alguns alunos sem sequer os alertar sobre o facto. IRINA RIBEIRO
EDUCAÇÃO || 9
JUP || NOVEMBRO 10
ERASMUS: cidade do Porto cada vez mais internacional O Eurodinner da ESN Porto juntou sabores de vários países numa grande festa de estudantes Erasmus na Invicta
MIGUEL LOPES RODRIGUES
Todos os anos, centenas de jovens provenientes de diferentes partes do mundo escolhem a cidade Invicta como destino para estudar. Só no primeiro semestre deste ano lectivo, a Universidade do Porto recebeu 1062 estudantes através de programas de mobilidade internacional de estudantes universitários. Ao todo, está prevista a chegada de mais de 1500 estudantes neste ano lectivo, o que faz da Universidade do Porto a Instituição com mais alunos estrangeiros do País. Embora a maioria dos estudantes estrangeiros sejam do Brasil, de Espanha, da Polónia, Turquia e Itália, este ano, a Universidade do Porto recebeu alunos provenientes de 53 países diferentes, vindos de lugares tão remotos como o Malawi, a Mongólia, a Costa Ria, o Togo, o Irão e a Tailândia. No pátio da Universidade Católica Portuguesa (UCP), Alžbeta Gavendova, que chegou da Eslováquia em Setembro e que ficará por cá
até Novembro ao abrigo do programa Erasmus, explica o porquê de ter escolhido a cidade do Porto para a sua aventura: “Eu podia escolher qualquer lugar que quisesse, podia candidatar-me a qualquer universidade mas a Universidade Católica foi a que me respondeu mais rapidamente e foi muito fácil comunicar desde o inicio com as senhoras que trabalham no departamento de mobilidade. A comunicação foi tão fácil logo a partir do primeiro contacto que achei que o melhor seria vir para aqui estudar.”. Já no caso de Katharina Kuczminski, proveniente da Alemanha, os motivos para a sua escolha foram outros: “Escolhi o Porto porque já conhecia algumas pessoas aqui e porque me apaixonei pelas pessoas, pelo modo de vida e pelo país em si quando estive aqui de fé-
rias. Aqui a vida é muito mais lenta e relaxada”, explica. É no âmbito do Programa Erasmus que surge a Erasmus Student Network – Porto (ESN Porto). Criado por um grupo de estudantes voluntários, com o apoio da Reitoria da Universidade do Porto, o BPI e a ESN International, a organização tem como objectivo integrar e apoiar os estudantes vindos do estrangeiro através do Programa Erasmus. O projecto BuddyPorto, incluído no ESN Porto proporciona o acompanhamento de um guia que ajuda e esclarece as dúvidas dos alunos que chegam à cidade. “Eles foram muito simpáticos. Antes de eu vir para aqui eles já tinham entrado em contacto comigo através de e-mails e do Facebook para saber quando é que eu iria chegar. Foram ao aeroporto
buscar-me e ajudaram-me com o alojamento. Foi muito bom sentir que alguém estava a tomar conta de nós e que estavam interessados em entreter-nos”, explica Alžbeta Gavendova, a propósito do apoio da ESN para integrá-la na vida académica da Invicta. O objectivo do ESN Porto é mostrar o melhor de Portugal aos estudantes vindos do estrangeiro. Nesse sentido, organiza diversas actividades, como visitas guiadas pela cidade, viagens a outras cidades, aulas de desportos radicais e dança, festas, entre outras. Häly Nõmm, um jovem estónio de 20 anos, que estuda Psicologia no Instituto Superior da Maia (ISMAI), afirma que “sempre quis vir para Portugal, para poder experienciar algo completamente diferente”. O ISMAI pareceu-lhe ser a melhor opção para fazer Erasmus. O estudante diz estar a gostar da experiência “mais do que a 100%”. Considera-se bem-vindo por todos, e apesar de já ter uma boa impressão de Portugal antes de vir para o nosso país afirma estar surpreendido: “Não conheço o Porto, e aconteceu-me várias vezes estar na rua com um mapa e virem-me perguntar se precisava de ajuda. Não me parece que no meu país exista esse tipo de abertura”, explica. A impressão causada no estudante da Estónia foi muito boa, e o programa dá-lhe a oportunidade de conhecer gente nova “todas as semanas ou até mesmo todos os dias”, refere. Häly gosta de estar rodeado de “gente tão boa”. No entanto, nem tudo é perfeito e o jovem conta que no início, os procedimentos burocráticos não lhe agradaram. Javier Trujillo, de 22 anos estuda no quinto ano na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) ao abrigo do programa Eramus. O espanhol diz que não escolheu o Porto por uma razão especial, tendo em conta que era a sua
sétima opção, mas que, “com o passar do tempo, vai subindo lugares”. Javier não tinha tantas expectativas em relação ao Porto, mas, tal como Häly, está surpreendido: “O Porto é a cidade ideal para nos divertirmos. Tem todos os ingredientes para isso e actividades não faltam. O que falta é tempo para desfrutar de todas”. A imagem que o jovem tinha de Portugal não era a melhor, apesar de sempre lhe terem dito que o Porto era a cidade mais “íntima e calorosa” do país. Agora, Javier não tem dúvidas quanto a isso: “É algo que se nota, e começo a ganhar muito carinho pelas pessoas daqui”. O JUP quis saber o que é que o estudante estava a gostar mais nesta experiência “O que gosto mais é a Super Bock… Não, não, brincadeira (risos). O que mais gosto é o facto de estar a mudar a minha ideia sobre Portugal”, confessa.
Além do programa Erasmus, existe também o programa de Mobilidade e Intercâmbio, entre Portugal e Brasil. Naiara Back de Moraes é uma jovem de 22 anos que decidiu vir estudar para Portugal. Estuda na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), dado que esta tinha protocolo com a sua faculdade de origem, a Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUI). Naiara afirma estar a gostar da experiência… “e muito!” O JUP perguntou à jovem se se sentia bem recebida e bem tratada em Portugal. Esta respondeu: “Pelo pessoal da ESN e reitoria sim, me sinto muito bem acolhida. Sinto dificuldade apenas com colegas portugueses, poucos se mostraram solidários e receptivos”.
GABRIELA ALMEIDA E LUÍS MENDES
10 || SOCIEDADE
JUP || NOVEMBRO 10
SUSANA COSTA
O Mercado Porto Belo atrai pessoas de todas as idades
Mercado Porto Belo dá vida aos sábados da Invicta Inês Magalhães criou na Praça Carlos Alberto um espaço ao ar livre que atrai “miúdos e graúdos”. Acontece aos Sábados, sempre que o tempo ajuda.
Todas as tardes de Sábado, sempre que as condições climatéricas o permitem, a Praça Carlos Alberto é palco de uma versão “à moda do Porto” do famoso mercado Portobello londrino. O Mercado Porto Belo foi trazido até à cidade Invicta por Inês Magalhães, designer de moda, que durante alguns anos viveu em Londres, mais precisamente em Notting Hill, onde fica o Portobello Road Market. Cliente assídua do popular mercado, a mentora do projecto “sentia falta da existência de algo semelhante na cidade”. Neste mercado a diversidade de produtos é grande. Podem encontrar-se roupas vintage ou de jovens criadores, produtos biológicos como chás e compotas, velharias, brinquedos para crianças ou ainda máquinas fotográficas e livros antigos. Quando em 2008 regressou ao Porto, a sua cidade natal, a designer de 32 anos apresentou a proposta à Câmara Municipal do Porto para que se fizesse o mercado na Praça Carlos Alberto e a 20 de
O “Portobello Road Market” original O mercado de Portobello estende-se quase por um quilómetro, em Portobello Road, e é um ponto de passagem muito visitado pelos turistas em Londres. O local atinge todo o seu esplendor aos Sábados, dia em que recebe mais turistas, mas nos outros dias também há alguma actividade, tal como explica Inês Magalhães, que durante anos viveu em Portobello. “É um ponto turístico que durante a semana não tem muito movimento para além de alguns vendedores de fruta e legumes, mas ao fim-desemana traz uma enchente que dá muita vida à cidade”, conta. O Portobello Road Market começou como mercado de comida no século XIX e só na década de 60 do século XX passou a acolher também vendedores de antiguidades. Em 1999, a zona de Portobello viu a sua fama catapultada ao ser um dos cenários do filme Notting Hill, protagonizado por Julia Roberts e Hugh Grant.
Junho de 2009 o projecto ganhou vida. O local escolhido já tinha alguma tradição de mercados que remontava ao século XVII, uma vez que aí se realizava a Feira das Caixas, onde se faziam as caixas para as bagagens dos emigrantes que iam para o Brasil. Mas a principal razão para a Carlos Alberto ter sido o lugar de eleição para lançar esta iniciativa foi a vontade que Inês tinha de “ressuscitar” esta zona da baixa portuense que estava “muito adormecida”, como explicou. “Em 2001 houve uma obra na Praça para construir um parque subterrâneo e o comércio da envolvente foi-se muito abaixo”, continua Inês. Quando a construção terminou “as pessoas já tinham perdido o hábito de passar aqui”, acrescenta Inês. Na primeira edição, o Mercado Porto Belo tinha cerca de vinte expositores, mas o número já aumentou. Embora vá variando a
cada fim-de-semana porque “há alturas em que toda a gente pode vir e outras em que há algumas baixas, temos sempre à volta de 35 expositores”, revela Inês Magalhães, que é responsável pelo mercado. E será que há algum critério para seleccionar os vendedores? Inês assegura que sim. A designer faz sempre questão de conhecer o produto que as pessoas querem vender e os potenciais vendedores para que o espírito familiar e o bom ambiente do mercado sejam sempre mantidos. “Quero que o produto seja sempre muito variado”, diz Inês, “assim há uma mistura saudável que atrai todo o tipo de gente e não se torna elitista ou só para uma determinada faixa etária”, conclui. Maria Paula, de 66 anos, vende bijutaria em Porto Belo e confirma esta tendência de um público heterogéneo. “Vejo desde a juventude até pessoas de idade, passando também por estrangeiros”, diz a vendedora. Mais de um ano passou desde a primeira edição e Inês faz um balanço “muito positivo”. Mariana Silva, de 22 anos foi a primeira vez ao evento em Setembro e agora, sempre que pode, passa por lá porque “tem bom ambiente e acabo sempre por comprar qualquer coisa para mim ou para oferecer”, revela a jovem. As pessoas aderiram em massa e os pedidos para conseguir um lugar no Mercado Porto Belo são mais do que a capacidade que existe para os receber. “As pessoas que participam não querem sair daqui”, refere Inês Magalhães, “mesmo que calhe de haver uma tarde em que não vendam nada dizem sempre que é um prazer estar aqui”. A prova disso mesmo é Carlos Pessoa, de 57 anos. Fez em Setembro um ano que foi pela primeira vez ao mercado vender sacos de alfazema que, quando aquecidos, aliviam as dores musculares, e desde então não perde nenhuma edição: “sempre que houver feira estou cá, já sou residente”, conta o vendedor. Apesar de não estar em contacto com os clientes, Inês fala com os vendedores que lhe dizem que são várias as pessoas a pedir para que o mercado se realize o ano todo, o que é difícil já que nos meses mais frios e chuvosos, como Janeiro e Fevereiro, há for-
Sociedade
|| 11
JUP || NOVEMBRO 10
SUSANA COSTA
O Porto Belo é giro porque é na rua e faz sentido porque é na rua. Levando isto para um sítio fechado a probabilidade de ser um sucesso é muito baixa. çosamente uma paragem. E porque não mudar o mercado para um recinto fechado no Outono e no Inverno? Embora já tenha tido diversas propostas nesse sentido e não descarte completamente essa possibilidade, não é algo que a responsável pelo evento se sinta motivada a fazer porque o Porto Belo “é giro porque é na rua e faz sentido porque é na rua”. “Levando isto para um sítio fechado a probabilidade de ser um sucesso é muito baixa”, acrescenta Inês Magalhães. Uma vez que se trata de um mercado de rua, “as pessoas passam aqui a caminho da missa ou porque vão a Cedofeita e acabam sempre por parar e comprar”, diz Inês, e conclui que “num recinto fechado o mercado ficaria demasiado descaracterizado”. O ano passado, o evento teve lugar de Junho até ao fim de Dezembro. Mas este ano a mentora do projecto pretende que haja mercado todos os Sábados, das duas às sete horas da tarde, desde que não chova, equacionando ainda, novamente, uma eventual paragem em Janeiro ou Fevereiro, se o clima assim o exigir.
Queres vender no mercado Porto Belo? As inscrições no Mercado Porto Belo estão abertas a qualquer pessoa, basta contactar a organização através do endereço mercadoportobelo@gmail.com. Aos participantes é disponibilizada uma mesa para que possam expor os seus produtos. A selecção dos candidatos é feita de acordo com a diversidade dos produtos que pretendem vender. Cada lugar no mercado tem o preço único de dez euros.
SUSANA COSTA
Mini Porto Belo dedicado às crianças Começou em Outubro, mas o objectivo é que uma vez por mês as crianças encham a Praça Carlos Alberto para vender, até um euro, as “traquitanas e tralhas” que já não usam. A responsável pelo Mercado Porto Belo, Inês Magalhães, já tinha ideia de fazer algo dedicado aos mais pequenos mas, foi depois de receber uma chamada a sugerir que fizesse uma versão do mercado em que as crianças pudessem participar como vendedores que deitou ‘mãos à obra’. A mentora do projecto convidou Tânia Santos, formada em Psicologia e uma habituée do mercado original para ser o seu braço direito e, em menos de duas semanas, tinham a primeira edição do Mino Porto Belo preparada. “A adesão foi automá-
tica”, conta Inês. “Tivemos aqui 60 crianças a vender e a aprender como lidar com o dinheiro”, revela a designer de moda. O evento foi largamente divulgado e “não se circulava na Praça Carlos Alberto, havia imensas crianças e famílias e o evento superou em muito as nossas expectativas”, explicou Inês Magalhães. A edição de Novembro já está agendada mas, para já, o dia ainda não será divulgado. Para inscrever o seu filho no Mini Porto Belo basta enviar uma mensagem de correio electrónico para miniportobelo@gmail.com ou contactar o 915425049 e pagar uma taxa de inscrição de 2,50 euros por criança. SUSANA COSTA susanaspcosta@gmail.com
12 || SOCIEDADE
JUP || NOVEMBRO 10
ABC da Austeridade Austeridade tem como sinónimos rispidez, disciplina, penitência, severidade. No plano económico, o termo é geralmente aplicado quando se fala em rigor das contas públicas, nomeadamente no que diz respeito à redução drástica da despesa. As medidas que têm vindo a ser implementadas pelo Governo são resposta à preocupação com o equilíbrio das contas públicas, fragilizado após a crise dos mercados financeiros em 2008 e as seguintes injecções de capitais públicos para salvar o sistema bancário, o que fez disparar o valor dos défices em vários países da Europa. Sabemos que o défice é a diferença entre as despesas do Estado (na educação, na saúde, nas pensões e outras prestações sociais, investimento em infra-estruturas, benefícios fiscais, etc.) e as receitas (pela colecta através de diversos impostos e taxas, pelos lucros de empresas públicas, etc.) calculado anualmente e que é expresso em percentagem do PIB. Diferente
da contabilidade da mercearia da esquina, a existência de défice é natural na economia e necessária para levar a cabo políticas contracíclicas (adoptadas em períodos em que é necessário investimento público que accione a retoma económica, sobretudo quando o investimento privado e o consumo se encontram estagnados). Acontece que o défice também necessita de financiamento, o que leva o Estado a ter de pedir dinheiro emprestado, ou seja, a financiar-se. Para tal, o Estado emite títulos de divida pública, que são negociados nos mercados financeiros (mercados com características especiais, como por exemplo, a especulação). O que, portanto, preocupa o governo é que se tem vindo a assistir
Vem colaborar com o JUP! Rua Miguel Bombarda, 187 espacosjup.blogspot.com Próxima reunião 4 de Novembro 18h
ao aumento dos juros da dívida pública (isto é, os juros que o Estado paga em troca dos empréstimos obtidos). Este aumento deve-se à diminuição da confiança que os possíveis compradores de títulos têm no cumprimento do compromisso por parte do Estado. Ou seja, quando alguém pensa em emprestar dinheiro à República Portuguesa vai ter em consideração o equilíbrio, ou não, das contas públicas para analisar o risco de não lhe ser devolvido o dinheiro que vai emprestar. Face a este problema (quer ele seja o problema económico mais grave que o país enfrenta, quer não seja) e na esperança de que os «mercados» fiquem convencidos, o governo escolheu como sua prioridade política o controlo do défice.
Algumas medidas e objectivos do Orçamento de Estado 2011 DESPESA - Cortar salários da função pública - Diminuir o subsídio de desemprego - Reduzir as ajudas de custos e horas extraordinárias da função pública. - Reduzir as despesas no âmbito do Serviço Nacional de Saúde, nomeadamente com medicamentos e meios complementares de diagnóstico; - Reduzir em 20% as despesas com o Rendimento Social de Inserção; - Eliminar o aumento extraordinário de 25% do abono de família nos 1. º e 2.º escalões e eliminar os 4.º e 5.º escalões desta prestação; - Reduzir as transferências do Escolha essa condicionada pelas recomendações no mesmo sentido por parte de instituições como o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o BCE (Banco Central Europeu) e muito influenciada pelas agências de ‘rating’ privadas que ao classificarem as políticas dos governos nacionais (o seu papel de informadores condiciona de forma determinante o comportamento dos mercados) se vêm revelando como novos poderosos agentes no actual contexto de globalização financeira. Perante este consenso global, aparentemente só contestado pelo mundo do trabalho, nomeadamente pela OIT (Organização Internacional do Trabalho) e pelas duas centrais sindicais portuguesas (a CGTP e a UGT que se juntam na greve geral do próximo dia 24 pela primeira vez em vinte e dois anos), o governo vai garantindo a fatalidade das medidas incluídas nos vários PEC’s (Programa de Estabilidade e Crescimento) e prestes a serem concretizadas no orçamento de estado para 2011. Com a certeza da escolha pela austeridade, a dúvida será perceber de que forma o bom funcionamento dos serviços públicos é posto em causa e quais as consequências da redução das prestações sociais para a pobreza, sendo já seguro que o desemprego aumente. É também claro quem sai mais prejudicado: os
Estado para o Ensino - Congelar as pensões, promoções e progressões na função pública - Aumento da taxa normal do IVA em 2pp.;
RECEITA - Revisão das deduções à colecta do IRS (já previsto no PEC); - Imposição de uma contribuição ao sistema financeiro em linha com a iniciativa em curso no seio da União Europeia; - Aumento em 1 pp da contribuição dos trabalhadores para a CGA, alinhando com a taxa de contribuição para a Segurança Social. funcionários públicos que vêem os seus salários reduzidos, os desempregados que têm cada vez menos apoio, os jovens à procura de emprego e as pessoas em situação de maior fragilidade ao verem as suas prestações sociais reduzidas ou retiradas. Também os estudantes universitários não são poupados, estimando-se que mais de 10.000 estudantes venham a perder a bolsa de estudo em resultado dos novos critérios de atribuição contidos no decreto de lei 70/2010. Uma austeridade que, ao prejudicar de tal forma os salários (e a procura/consumo) e o investimento público (necessário à criação de emprego), contém em si o terror de ser pior a emenda que o soneto: com a contracção da economia (diminuição do consumo e da produção que implica também uma diminuição da riqueza colectada pelos impostos) não é seguro que o défice diminua o que, continuando este tipo de prescrições, faz avizinhar um 4º PEC de sacrifícios. Os mercados, esses, seguem intranquilos. Para infelicidade do Ministro das Finanças, Teixeira do Santos, que, abatido, confessa: “não vejo por onde ir se os mercados exigirem mais”. AMARÍLIS FELIZES maosvisiveis.wordpress.com
JUPBOX
|| 13
JUP || NOVEMBRO 10
DIREITOS RESERVADOS
Concordas com o novo regime de prescrições? VERA COVÊLO TAVARES vera.covelo@yahoo.com
BRUNO LARANJO SANTOS 4º Ano de Engenharia Electrotécnica
GABRIEL BARROS 5º Ano de Engenharia Civil
ISABEL RIBEIRO 4º Ano de Medicina Dentária
MARTA GONÇALVES 1º Ano de Ciências da Comunicação
Acho que o regime de prescrições devia ser diferente, devia ser consoante o número de cadeiras inscritas e não o total de cadeiras, mas quanto ao resto estou de acordo.
O regime de prescrições deve ser visto como um balizamento da vida académica. Se por acaso o aluno estiver em risco de prescrever deve ver aquilo que vai fazer, se está no curso certo, se está a ter a atitude certa perante o curso... nesse aspecto concordo. Mas existem várias situações pontuais que o regime não prevê, nomeadamente quando se está a apenas a uma ou duas cadeiras de acabar o curso e se prescreve.
Acho bem que é para as pessoas se porem a estudar e não a acumular matrículas e ocupar espaço na faculdade. Só não concordo que as pessoas não possam agora congelar a matrícula, que não se pode fazer na minha faculdade agora.
Acima de tudo tem de ser uma responsabilidade de cada aluno. Sabendo que existe esse regime de prescrição e o aluno vê que está em risco de prescrever, mais vale inscrever-se em tempo parcial.
14 ||
JUP || NOVEMBRO 10
AGENDA
E-LEARNING CAFÉ http://elearningcafe.up.pt/
2 DE NOVEMBRO, 19H30 “OPEN IDEAS, THINK TANK” A iniciativa Open Ideas, Think Tank visa promover a discussão de temas como a Gestão, Liderança e Estratégia. A organização convida quem gosta de discutir estas temáticas, de aprender e partilhar conhecimento a participar nesta iniciativa e a tornar-se membro do grupo. MAIS INFORMAÇÕES: http://groupspaces.com/OpenIdeasThinkTank/
3 DE NOVEMBRO, 20H30 WORKSHOP DE XADREZ Promovido pelo Gabinete de Actividades Desportivas da Universidade do Porto (GADUP). INFORMAÇÕES/INSCRIÇÕES: Balcão do GADUP no átrio da Faculdade de Desporto. MAIS INFORMAÇÕES: http://www.sas.up.pt
8 DE NOVEMBRO, 21H15 “PALAVRAS CRUZADAS – ENTRE O EVANGELHO E A UNIVERSIDADE” Serão 75 minutos de (re)descoberta daquilo que a Palavra faz nos diversos ambientes do saber e na vida de universitário. Decorrerá nas segundas 2ª-feiras de cada mês: 8 Novembro, 13 Dezembro, 10 Janeiro, 14 Fevereiro, 14 Março, 11 Abril, 9 Maio, 13 Junho. ORGANIZAÇÃO: Pastoral Universitária.
10 DE NOVEMBRO, 21H30 JAZZ Grupo liderado por Michael Lauren, professor da ESMAE.
3 DE NOVEMBRO
15 A 16 DE NOVEMBRO
26 E 27 DE NOVEMBRO
MCKINSEY REALIZA SESSÃO SOBRE OPORTUNIDADES DE CARREIRA E RECRUTAMENTO
“OPEN MIND” - CICLO DE CINEMA E DEBATES
JORNADAS DE BIOENGENHARIA
- 15 de Novembro, às 21h00, no auditório, filme “24 Hour Party People”, de Michael Winterbottom - 16 de Novembro, às 18h00, na sala B032, debate “Música, ócio nocturno e juventude” com base no filme.
Na sala B019 da FEUP, às 15h00. A entrada é livre e gratuita. No entanto, os estudantes interessados em participar devem enviar um e-mail para emprego@fe.up.pt, com o nome, ano e curso e a uma manifestação de interesse em assistir à sessão.
15 A 18 DE NOVEMBRO WORKSHOP DE FOTOGRAFIA DE ARQUITECTURA
ATÉ 10 DE NOVEMBRO
Sala de Formação da Reitoria da U.Porto, 18h30 às 21h30. Formador: Pedro Canto Brum Preço: 35€ UP | 40€ fora UP INSCRIÇÕES: Gabinete de Cultura, Desporto e Lazer da Reitoria da U.Porto; Ana Martins anamartins@reit.up.pt; Ruben Rodrigues rrodrigues@reit.up.pt ; Tlf. 220408193
ANUÁRIA 2010 - MOSTRA DE TRABALHOS DE ALUNOS DA FAUP
16 DE NOVEMBRO
5 DE NOVEMBRO CONFERÊNCIA “MEDIAÇÃO E FORMAÇÃO”, COM JOSÉ ALBERTO CORREIA Auditório 2C da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP) 18horas INFORMAÇÕES: Serviço de Pós-Graduações em Ciências da Educação TEL.: +351 226079739 FAX.: +351 226079725 E-MAIL: gpg@fpce.up.pt
6 DE NOVEMBRO WORKSHOP DE TAI-CHI CHUAN Sala de Formação e Sala do Fundo Antigo (Biblioteca) da Reitoria da U.Porto, 9h30 às 12h30 e das 14h às 17h. Estrutura do curso: teórico - manhã / prático - tarde Preços: 25€ UP | 30€ fora UP INSCRIÇÕES: - Gabinete de Cultura - Desporto e Lazer da Reitoria da U.Porto - Ana Martins anamartins@reit.up.pt - Ruben Rodrigues rrodrigues@reit.up.pt Tlf. 220408193 Anfiteatro Nobre da FLUP, 17h30.
8 DE NOVEMBRO LEITURAS E CONFERÊNCIAS EM TORNO DE HEDDA GABLER, DE HENRIK IBSEN, CONFERÊNCIA DA PROFESSORA ASTRID SAETHER Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 17h30.
9 DE NOVEMBRO 10ªS JORNADAS DE ENGENHARIA QUÍMICA DA FEUP
- “ENGENHARIA QUÍMICA: EMPREGABILIDADE” Grande Auditório da FEUP Oradores convidados da FEUP e de empresas como Sonae, Efacec, Galp, UPTEC, Continental.
Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto Porto (vários locais)
CICLO DE CONFERÊNCIAS DO MESTRADO EM SOCIOLOGIA
BUSINESS & INNOVATION NETWORK @ FEUP
“Organizações Não Governamentais de Desenvolvimento: a problematização das suas representações e práticas”, com Vanessa Marcos Sala 203 da FLUP, 17h30
Na Faculdade de Engenharia da U.Porto.
17 A 19 DE NOVEMBRO
10, 11 E 12 DE NOVEMBRO
15 DE NOVEMBRO FMUP PROMOVE CONFERÊNCIA SOBRE “DIABETES NA ADOLESCÊNCIA” Aula Magna da FMUP, das 9h30 às 13 horas.
Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto Organizado pelos estudantes do Mestrado Integrado em Bioengenharia da FEUP/ICBAS
ATÉ 27 DE NOVEMBRO “TRANSPARÊNCIA - ABEL SALAZAR E O SEU TEMPO, UM OLHAR” Museu Nacional Soares dos Reis COMISSÁRIO: Manuel Valente Alves ORGANIZAÇÃO: Museu Nacional Soares dos Reis, Reitoria da Universidade do Porto, Casa - Museu Abel Salazar
ATÉ 30 DE DEZEMBRO HOMENAGEM A UMA FIGURA EMINENTE DA UNIVERSIDADE DO PORTO - PROFESSOR FERREIRA DA SILVA Reitoria da Universidade do Porto 5 de Novembro, pelas 18h30: inauguração da exposição na Sala de Exposições Temporárias do Edifício da Reitoria onde serão mostradas obras e aparelhos científicos utilizados por Ferreira da Silva que pertencem ao espólio do Museu da Ciência da Faculdade de Ciências. COMISSÁRIO: Carlos Corrêa
CLIMATE AND PUBLIC HEALTH RISKS 2010 - A CHALLENGE OF THIS NEW DECADE Anfiteatro Nobre da Faculdade de Letras da U.Porto
25 DE NOVEMBRO, 2, 9, 13 E 16 DE DEZEMBRO WORKSHOP DE ESCRITA CRIATIVA Sala de Formação da Reitoria da U. Porto, 18h30 às 20h30. Formador: João Pedro Mésseder Horário: 18h30 às 20h30 PREÇO: 65€ UP | 75€ não UP INSCRIÇÕES: Gabinete de Cultura, Desporto e Lazer da Reitoria da U.Porto; Ana Martins anamartins@ reit.up.pt; Ruben Rodrigues rrodrigues@reit.up.pt ; Tlf. 220408193 ORGANIZAÇÃO: Reitoria da Universidade do Porto e a Editora Civilização
ATÉ 30 DE DEZEMBRO Exposição: O ABC DO INSTRUMENTO CIRÚRGICO Sala de Exposições Temporárias, Reitoria da Universidade do Porto - 3º piso COMISSÁRIA: Maria Amélia Ricon Ferraz Terças a Sextas das 11h00 às 18h00 entrada livre
Licenciados PósBolonha tendem a continuar estudos Licenciados da UP têm tendência para prolongar os estudos na era pós-Bolonha e optam pela Universidade do Porto para continuar a formação. adquiridas”, afirma-se no sumário de apresentação do estudo.
DIREITOS RESERVADOS
Os formados na Universidade do Porto têm tendência para prolongar os estudos após o primeiro ciclo de 3 anos, de acordo com um inquérito realizado a metade dos alunos que concluíram esse primeiro ciclo em 2006/2007. O estudo foi realizado pelo Observatório de Emprego da Universidade do Porto, no âmbito de um programa de estudos sobre a transição dos formados na U.Porto para o mercado de trabalho. Dos mais de mil respondentes licenciados pós-Bolonha, cerca de metade continuava os estudos ou estava em formação/estágio profissionais na altura da aplicação do inquérito (entre Fevereiro e Abril de 2010). Uma percentagem bastante significativa (37,6%) já exercia uma actividade profissional. Quanto aos que prosseguiram estudos, os resultados mostram que valorizam razões como Au-
mentar as condições de sucesso na futura inserção profissional, Aprofundar conhecimentos e competências na sua área científica e Desenvolvimento das capacidades pessoais. “Razões que apontam, globalmente, para uma forte valorização do ensino como meio para um ingresso qualificado no mercado de trabalho”, segundo a equipa técnica do estudo. A grande maioria dos que continuaram estudos manteve-se na U.Porto (85,2%), embora nem sempre na mesma Faculdade ou área científica da licenciatura. Esta opção de continuar na Universidade do Porto relaciona-se com “a avaliação muito positiva que os licenciados fazem da formação obtida na U.Porto, com destaque para os conhecimentos teóricos e o desenvolvimento e enriquecimento pessoal, mas também para as competências relacionais, técnicas e profissionais
PRÉ-BOLONHA Dado que 2006/2007 foi ainda ano de conclusão de licenciaturas de acordo com o esquema préBolonha, o inquérito envolveu também licenciados no regime anterior. Neste caso, 73,4% dos respondentes estava empregado (incluindo bolseiros), três quartos tinham ingressado num emprego regular após a conclusão do curso e o tempo médio de procura do primeiro emprego foi de 3,4 meses (3,5 meses para as mulheres e 2,9 para os homens). A maioria (74,4%) ingressou no primeiro emprego até seis meses após a conclusão do curso. As funções que desempenham são avaliadas como só podendo ser exercidas por alguém com uma licenciatura igual ou idêntica (68,2%) ou com outra licenciatura (16,3%). Por sua vez, muitos dos diplomados exercem actividades profissionais que se enquadram no grupo dos Especialistas das Profissões Intelectuais e Científicas (75,2%), detêm um vínculo laboral a termo (56,6%) e estão inseridos em empresas (73,9%) de natureza privada. Inquiriu-se quase metade do total dos licenciados pré-Bolonha em 2006/2007, uma percentagem muito próxima da percentagem dos formados pós-Bolonha nesse ano, o que foi considerado pelos investigadores, tanto num caso como noutro, amostras robustas.
UPorto
|| 15
JUP || NOVEMBRO 10
RECORD DE ESTUDANTES DE MOBILIDADE Estima-se que os cursos da U.Porto recebam mais de 1500 jovens de todo o mundo ao abrigo de projectos de mobilidade internacional de estudantes universitários (cerca de 1062, só no primeiro semestre), em 2010/2011. São 53 as nacionalidades que povoam o “mapa” da U.Porto este ano lectivo. Projecta-se dessa forma um novo máximo na história na instituição, resultado do constante esforço de internacionalização desenvolvido pela universidade que se tem traduzido também na posição de liderança assumida pela Universidade em vários consórcios internacionais e na subida registada nos principais rankings de universidades. EURODINNER A 19 de Outubro, reuniram-se cerca de 100 estudantes estrangeiros da U.Porto à mesma mesa no “Eurodinner” que decorreu no espaço “reservado” aos Erasmus da U.Porto, no 2ª piso do Bar Galerias de Paris. Ponto obrigatório no programa anual de actividades preparado pela Erasmus Student Network - Porto (ESN Porto) para acolher os estudantes de
DIREITOS RESERVADOS
mobilidade da Universidade, o “Eurodinner” tem como grande objectivo promover o convívio e o diálogo entre as diferentes nacionalidades usando a gastronomia como linguagem universal. Para isso, os estudantes são desafiados a confeccionar e partilhar entre si pratos, bebidas, sobremesas e petiscos típicos dos respectivos países de origem. Pelo meio, têm a oportunidade de provar especialidades da cozinha portuguesa e de conviver ao som de música tradicional de cada país.
LABS SAPO/U.PORTO LANÇA SAPO VOXX A aplicação de recolha automática de citações de fontes de comunicação social na Internet, Sapo Voxx, que está a ser desenvolvida para a Sapo, é um dos projectos em curso no Laboratório Tecnológico Sapo (Labs Sapo/U.Porto). Fruto de uma parceria entre a Faculdade de Engenharia (FEUP) e a Portugal Telecom, o Labs Sapo/U.Porto foi oficialmente inaugurado a 18 de Outubro. O Sapo Voxx consome as emissões on-line de vários orgãos de comunicação social (e.g. Lusa, JN, Público) e tenta encontrar citações (directas ou indirectas) proferidas por um conjunto aberto de entidades. Após encontrar essas citações o Sapo Voxx tenta igualmente encontrar o tópico acerca do qual versa a citação. O Labs Sapo/U.Porto está instalado no Departamento de Engenharia Informática da FEUP e a funcionar desde Abril de 2010 com o objectivo de promover a criação de novos
produtos e serviços que potenciem a utilização da tecnologia em português. Conta actualmente com a colaboração de cerca de 20 alunos do Mestrado Integrado em Engenharia Informática e Computação (MIEIC) e do Programa Doutoral em Engenharia Informática (ProDEI) e com a perspectiva de colaboração de alunos de outras faculdades da U.Porto. Para além do Sapo Voxx, no Labs Sapo/U.Porto estão em curso outros projectos como o Sapo Ciclope (conjunto de ferramentas de monitorização para os blogues do Sapo); o Marsupilami (sistema de ilustração de texto baseado em colecções multimédia de larga escala) e o BeepBeep/Sylvester (criação de filtros automáticos para separação por tópico de mensagens de Twitter em português). Mais informações http://noticias.up.pt
16 ||
JUP || NOVEMBRO 10
1
FESTIVAL INTERNACIONAL DE TUNAS UNIVERSITÁRIAS O XXIV FITU - Festival Internacional de Tunas Universitárias, encheu o Coliseu do Porto nos dias 15 e 16 de Outubro. O evento, organizado pelo Orfeão Universitário do Porto, levou a concurso a Tuna de Engenharia da Universidade do Porto, a Tuna Académica da Faculdade de Economia, a Tuna da Universidade Católica do Porto, a Twist - Tuna Universitária do Instituto Superior Técnico, a Infantuna de Viseu e a Tuna Universitária do Minho. A grande vencedora foi a Tuna da Universidade Católica Portuguesa, dos “Padrecos”, que celebrou assim o seu 20º aniversário.
2
3
|| 17
FLASH
JUP || NOVEMBRO 10
5
4 6 Legenda: 1. Tuna da Universidade Católica Portuguesa 2. Tuna Universitária do Minho 3. Tuna Universitária do Porto 4. Jograis do Orfeão 5. Agrupación Arcipreste de Hita 6. Tuna Universitária do Porto SIMONE ALMEIDA
18 ||
JUP || NOVEMBRO 10
Arrancam os campeonatos intra-faculdades na U.Porto A FepLeague e a Liga de Futsal da Faculdade de Engenharia (FEUP) são dois exemplos de campeonatos universitários realizados entre estudantes da mesma faculdade. As actividades vão de Outubro até ao início de Maio e não passam ao lado do panorama estudantil destas instituições. A FepLeague é uma competição que tem vindo a realizar-se há já 10 anos. A edição deste ano conta com 24 equipas, mas houve épocas em que o número ascendeu às 32. Para Bruno Coelho, coordenador do Departamento Desportivo da Associação de Estudantes da Faculdade de Economia do Porto (AEFEP), a passagem do curso de cinco para três anos foi a principal causa da redução do número de estudantes participar. Não há distinção entre equipas: podem ser femininas ou masculinas, mistas, e até os professores podem formar a sua equipa ou fazer parte de uma juntamente com alunos. Este ano há até uma equipa só com estudantes Erasmus. As regras da competição são muito simples: as 24 equipas são divididas em três grupos de oito. Dentro de cada grupo passam as quatro melhores. As equipas que passaram à fase seguinte serão novamente
divididas em grupos, de onde só seguirão as duas melhores. Por sua vez, os terceiros lugares jogarão entre si “play-offs” para apuramento de mais duas equipas para os quartos de final. A partir dos “quartos” passa a equipa que ganhar cada jogo individual, até a final. Mobilizando cerca de 300 estudantes, a FepLeague é um tema comum entre os estudantes daquela faculdade. “É a actividade da AEFEP que se prolonga durante mais tempo e é a actividade mais falada. Quando se fala da AE diz-se se organizou bem a FepLeague ou não”, conta Bruno Coelho ao JUP. O coordenador do Departamento Desportivo refere ainda que até no sorteio dos grupos houve sala cheia, tal era a expectativa entre os estudantes. Além da FepLeague a Faculdade de Economia promove ainda a FepCup, competição jogada entre as mesmas equipas, mas em que as fases de grupos são substituídas por jogos individuais onde o vencedor passa à fase seguinte – uma espécie de Taça de Portugal. No final de
ambas as competições, há ainda a SuperCup, um jogo entres as equipas vencedoras de ambas as ligas. Também a Faculdade de Engenharia tem vindo a promover desde há cinco anos as competições de futsal entre estudantes da faculdade, numa linha de funcionamento semelhante à da FEP. A Liga e a Taça futsal envolvem cerca de três centenas de estudantes. Apesar do número de equipas para esta época ainda não estar definido, deverá rondar as 24. As principais dificuldades destas competições passam pela disponibilidade dos alunos. Há dias fixos para se jogar e os encontros entre equipas são previamente marcados, contudo pode acontecer os estudantes não terem disponibilidade para jogar em determinada data. Nesses casos a solução passa por trocar os horários dos jogos entre equipas, ou mais tarde compensar os jogos. Para Bruno Canhoto, estudante que colabora com o departamento Desportivo da AEFEUP esta flexibilidade é muito importante,
DIREITOS RESERVADOS
Drink Team, a equipa vencedora da FepLeague na edição do ano passado
pois “cada vez é mais complicado puxar os estudantes para actividades extra curriculares”. Estas Ligas são financiadas essencialmente pela taxa de inscrição paga pelos estudantes, que é usado para o aluguer do espaço e para pagar os árbitros federados que estão presentes nos jogos. Quanto aos prémios, passam mais pelo simbolismo do que pelo valor material: medalhas ou, no caso da FEUP, bilhetes semanais para
FADU reconhece os melhores estudantes-atletas
as noites da Queima. Mas, como refere Luís Pombo, estudante de Economia participante na última edição dos campeonatos da FEP, o importante é “o desporto, a competição, o companheirismo e as desculpas que o futebol proporciona para outras actividades, como jantaradas porque se ganhou... ou porque se perdeu!” VERA COVÊLO TAVARES vera.covelo@yahoo.com
Galardões
Sara Moreira vence pelo IPP, mas a Universidade do Porto fica de fora dos grandes prémios. O Casino da Figueira da Foz foi o local escolhido para Gala do Desporto Universitário, organizada pela Federação Académica de Desporto Universitário (FADU) no dia 6 de Outubro. A iniciativa, que decorreu pelo terceiro ano consecutivo, veio premiar os melhores atletas da época 2009/2010, para reconhecer quem sempre se dedicou ao desporto universitário e para comemorar os 20 anos da criação da FADU. A grande vencedora da noite foi a
Associação Académica de Coimbra (AAC), que recebeu quatro dos cinco principais prémios em disputa. Melhor Equipa Masculina, Melhor Equipa Feminina, Melhor Atleta Masculino e Melhor Treinador, foram os galardões conquistados pela AAC. A atleta Sara Moreira, do Instituto Politécnico do Porto (IPP), recebeu o prémio de Melhor Atleta Feminina do ano, depois de se ter sagrado Campeã Nacional Universitária de 3000m e Campeã Mundial Univer-
sitária de Corta-Mato. O IPP tinha também estudantes nomeados na disputa para Melhor Equipa Feminina (Basquetebol do IPP) e Melhor Equipa Masculina (Futebol de 11 do IPP e Futsal da AE do Instituto Superior de Engenharia do Porto). A Universidade do Porto saiu da Gala do Desporto Universitário sem conquistar qualquer prémio em disputa, apesar de Maria Luísa Estriga, treinadora do andebol feminino, bem como a sua equipa, estarem nomea-
das para Melhor Treinador e Melhor Equipa Feminina, respectivamente. Durante a cerimónia foram também entregues distinções aos atletas que receberam medalhas nos Campeonatos Europeus Universitários e os elementos das Selecções Nacionais Universitárias receberam um diploma de mérito pelos resultados obtidos. Este ano, os Galardões Prestígio foram atribuídos ao Instituto Politécnico do Porto e ao Comité Olímpico de Portugal.
Melhor Atleta Feminino: Sara Moreira (IPP) Melhor Atleta Masculino: Sérgio Franco (AAC) Melhor Treinador: Jorge Franco (AAC) Melhor Equipa Feminina: Futsal Feminino (AAC) Melhor Equipa Masculina: Rugby Sevens (AAC) DIANA FERREIRA
Pólo de Ciências da Comunicação recebeu InternationalConference on Media and Sport
Desporto
|| 19
JUP || NOVEMBRO 10
GADUP
Equipas em competição no Troféu de Vela em Aveiro
Durante dois dias, nas instalações do curso de Ciências da Comunicação da UP, falou-se de desporto e cobertura mediática de grandes eventos.
MARIANA TEIXEIRA
de novas tecnologias. A nível da forma de tratamento das notícias e dos atletas, concluiuse que os média davam naturalmente mais atenção aos atletas dos seus países, e desportistas de renome. Notava-se também que era dada muito mais importância aos países europeus em detrimento de outros continentes. Especialmente no Mundial da África do Sul, havia alguma negatividade relacionada quando se mencionavam países africanos. Uma conferencista romena, Bianca Marina Mitu, alertou para o crescimento do mediatismo à volta do desporto, com uma tendência para apelar ao sensacionalismo e a esfera mais pessoal do desporto de forma a atrair o público. Apesar do auditório onde se realizaram as conferências ter ficado muito longe de estar cheio, no final do INCOMES, o professor Rui Alexandre Novais considerou o evento um sucesso, salientando a sua importância e a vontade de lhe dar continuidade em anos futuros.
Dois estudantes da FEUP e um da FCUP integraram a equipa que levou a Universidade do Porto ao pódio.
VERA COVÊLO TAVARES
MARIANA TEIXEIRA
Bianca Marina Mitu durante a sua apresentação sobre mediatismo em torno dos eventos desportivos
U.Porto em terceiro lugar no Troféu Nacional Universitário de Vela A equipa de Luís Sena e Pedro Setas Costa, da Faculdade de Engenharia, e João Zamith, da Faculdade de Ciências, levou a Universidade do Porto (UP) ao pódio no torneio que marcou o início das competições universitárias nacionais, nos dias 16 e 17 de Outubro, na ria de Aveiro. O trio esteve empatado com outra equipa no segundo lugar, mas no desempate os estudantes da Universidade do Porto passaram para a terceira posição. Apesar do resultado positivo, a equipa admite que “soube a pouco”. Luís Sena, estudante de Engenharia Mecânica na FEUP, considera que “o primeiro lugar era difícil, mas o segundo era acessível”. A organização dos Troféu esteve a cargo da Associação Académica da Universidade de Aveiro, o Sporting Clube de Aveiro e a Federação Portuguesa de Vela. Para Luís Sena, atleta federado de vela, notava-se um certo “amadoris-
mo” na organização da prova, a começar pela escolha do local, que, na opinião do estudante da FEUP, não era o mais propício à realização da prova, o que terá limitado uma maior competitividade. João Zamith concorda com o companheiro de equipa dizendo que o país tem uma costa extensa, e que não percebe “por que é que a prova foi organizada na Ria, onde o vento não era constante”. Ao todo, quinze equipas disputaram este Troféu. Além da equipa que chegou ao pódio, o Porto esteve ainda representado por mais um equipa da UP e uma do Instituto Politécnico do Porto (IPP), que ficaram em 8º e 9º lugar, respectivamente. A equipa vencedora foi a Associação de Estudantes do Instituto Superior Técnico (AEIST). Este Troféu foi o ponto de partida para mais um ano de competições universitárias a nível nacional, com a UP a contabilizar já uma Medalha
de Bronze. A Vela é uma modalidade nova nos campeonatos universitários, tendo por isso ainda um longo caminho a percorrer. Para Luís Sena, este troféu deveria abrir caminho para outras competições, mas não só aos primeiros classificados. “Falta o póstroféu”, afirma. VERA COVÊLO TAVARES
GADUP
A primeira Conferência Internacional de Média e Desporto (INCOMES) trouxe à Universidade do Porto doze investigadores de países como a Holanda, Alemanha, Reino Unido, entre outros, que apresentaram à comunidade académica estudos realizados sobre cobertura mediática de eventos desportivos. Sendo os mega-eventos os principais acontecimentos em análise, as conferências acabaram por se focar maioritariamente em tópicos relacionados com o último Campeonato Mundial de Futebol e os Jogos Olímpicos, em especial os de Pequim, realizados em 2008. Os trabalhos desenvolvidos passavam pela análise de determinados órgãos de comunicação social para extrair resultados. Foi destacada a importância da cobertura televisiva de um evento, já que a televisão continua a ser o meio de comunicação social (média) predilecto entre a população. Chegou-se também à conclusão que os grandes eventos desportivos contribuem largamente para o desenvolvimento e exploração de outros meios de difusão e
20 || DESPORTO
JUP || NOVEMBRO 10
ANDRÉ DUARTE E LEANDRO SILVA
O Regresso da Tranquilidade Quem olhou de relance para o banco de suplentes da Selecção Portuguesa, no jogo contra a Dinamarca, deparou-se com um cenário diferente. Um Carlos Queiroz que oscilava entre as exaltações com árbitros e um ar resignado perante as más exibições da equipa deu lugar a um Paulo Bento tranquilo, tal como era habitual nos tempos de treinador leonino. É a sua imagem de marca. Tranquilidade quando assumiu a equipa principal do Sporting, depois do fiasco na final da Taça UEFA em Alvalade na época 2004/2005, tranquilidade na saída mediática do clube e tranquilidade quando aceitou treinar uma selecção afectada por uma série de maus resultados e pela polémica acerca do processo disciplinar de Carlos Queiroz.
imagem do seu treinador. Note-se também a influência de um Nani em grande forma e de um Cristiano Ronaldo mais parecido com o jogador que actua no Real Madrid. As mudanças a nível táctico e mesmo as próprias convocatórias, foram poucas. As diferenças mais notórias são a inclusão de Carlos Martins no meio-campo e o regresso de Pepe à posição de central. Paulo Bento entregou também a João Pereira a missão de fazer esquecer Paulo Ferreira e Miguel no lado direito da defesa. É demasiado cedo para retirar conclusões definitivas. Apenas o tempo e os resultados dirão se a escolha de Paulo Bento para seleccionador foi acertada. Apesar dos bons resultados iniciais, a selecção nacional continua em situação complicada nas contas do apuramento para o Europeu. A equipa lusa tem apenas mais um ponto que a Dinamarca apesar de ter mais um jogo disputado. Portugal está proibido de perder pontos, sobretudo se os dinamarqueses ganharem à Noruega. Por agora, só existe uma certeza: Paulo Bento era o homem que a Selecção precisava. Um homem com pulso de ferro mas ponderado e suficientemente sereno para lidar com os “egos” dos jogadores, a expectativa de dez milhões de treinadores de bancada e a pressão mediática inerente ao cargo que ocupa. Nestes tempos de crise, a estabilidade que Paulo Bento trouxe, veio mesmo a calhar.
O início da era Paulo Bento tem sido auspicioso: duas vitórias seguras, futebol mais agradável e uma equipa mais tranquila, à imagem do seu treinador. Um apuramento para o Mundial tremido, seguido de uma prestação pouco mais que mediana (apenas uma vitória contra a Coreia do Norte) e uma derrota na partida com a Noruega precedida de um empate com o Chipre nos jogos de qualificação para o Euro 2012. Foi esta a herança deixada por Carlos Queiroz ao novo timoneiro da equipa das Quinas. O início da era Paulo Bento tem sido auspicioso: duas vitórias seguras, futebol mais agradável e uma equipa mais tranquila, à
Galaico-Durienses reforçam laços entre universidades A XXV edição dos Jogos Galaico Durienses será organizada pela Universidade de Trás os Montes e Alto Douro (UTAD) de 23 a 25 de Novembro. FRANCISCO FERREIRA (ARQUIVO JUP)
A diversidade de jogos é escolhida por quem organiza, mas tem de haver sempre um jogo tradicional
Há 20 anos, seis universidades – Universidade do Porto (UP), Universidade do Minho (UM), Universidade de Trás os Montes e Alto Douro (UTAD), Universidade da Coruña (UDC), Universidade de Santiago de Compostela (USC) e Universidade de Vigo – juntaramse com o objectivo de organizar jogos de convívio entre as várias universidades. Assim nasceram os Jogos Galaico-Durienses. Os Jogos começaram por se realizarem duas vezes por ano, uma vez em Março e outra em Novembro, uma vez em Espanha e outra em Portugal. Como em muitos casos as dificuldades financeiras imperaram, a sua organização tornou-se apenas anual, mas manteve-se a rotatividade para a sua organização entre ambos os países. A próxima edição, a vigésima quinta, decorre de 23 a 25 de Novembro, em Vila Real. As modalidades variam todos os anos, mas procura-se apostar um pouco em desportos menos
“badalados”. Para esta edição a UTAD propõe a esgrima, natação, tiro e corrida, badmington e jogos populares como desportos individuais. Quanto às actividades colectivas, haverá voleibol, rugby e futsal – esta última a ser disputada apenas por funcionários e docentes com mais de 30 anos. Haverá ainda os Jogos sem Fronteiras, actividade onde participarão apenas os dirigentes desportivos das seis universidades. Cada instituição participa com cerca de 40 participantes, que ainda estão em processo de selecção pelo Gabinete de Actividades Desportivas da Universidade do Porto. No entanto, Bruno Almeida, director do GADUP, comenta que nem sempre é fácil cativar os estudantes para esta iniciativa, apesar de os Jogos serem uma actividade apelativa: afinal, são três dias numa cidade diferente em convívio com colegas universitários e com todas as despesas pagas. “Cada vez é mais complicado
arranjar participantes, porque os estudantes têm menos tempo e pode ser difícil mobilizá-los para passar alguns dias fora”, afirma Bruno Almeida. Na última edição dos GalaicoDurienses, em Santiago de Compostela, a UP ficou em 4º lugar, não cumprindo o objectivo de ficar entre os lugares do pódio, mas ainda assim foi a melhor equipa portuguesa. Para este ano, o objectivo continua a ser “ganhar”, mas o director do GADUP reconhece que quem joga em casa, neste caso a UTAD, parte sempre em vantagem. No próximo ano, a pedido da UP e contrariando a norma que dizia que os Jogos alternavam entre Portugal e Espanha, a competição será realizada pela Universidade do Porto no âmbito do centenário da instituição. A Galiza receberá posteriormente os Galaico-Durienses durante dois anos consecutivos. VERA COVÊLO TAVARES
DESPORTO || 21
JUP || NOVEMBRO 10
BREVES
UP promove escalada na Serra de Valongo A Universidade do Porto vai organizar, no dia 7 de Novembro, um dia de escalada em Valongo. A iniciativa é aberta a toda a comunidade académica, com experiência nesta actividade ou não, mas os interessados em participar têm de se inscrever na modalidade de Escalada promovida pelo Gabinete das Actividades Desportivas da Universidade do
Porto (GADUP), que decorre na Faculdade de Desporto (FADEUP). A ideia será subir a Serra de Valongo, um local propício para a prática desta actividade, sob a orientação do técnico do GADUP Filipe Carvalho que estará sempre presente. As inscrições deverão ser feitas no balcão do GADUP na Faculdade de Desporto.
Novembro é mês mais de mais duas provas universitárias nacionais Depois do Troféu de Vela em Outubro, as modalidades inter universitárias continuam. A Associação Académica da Universidade do Minho (AAUM) vai receber o I Torneio de Apuramento de Hóquei em Patins nos dias 25 e
26 de Novembro. Já a Associação Académica da Universidade de Aveiro (AAUV) está encarregada de organizar o I Torneio de Apuramento de Andebol feminino, entre 29 e 30 deste mês.
De relembrar que tanto as equipas de Andebol feminino da Universidade do Porto (UP) como a de Hoquéi em Patins foram campeãs nacionais na época anterior, pelo que as expectativas para esta época estão em alta.
MODALIDADE DO MÊS
Squash: a técnica de jogar uma bola contra a parede Saído das prisões para o mundo, o Squash é uma modalidade que tem vindo a crescer ao longo dos tempos. Em Portugal ainda está pouco desenvolvido, mas a tendência é para crescer. O Squash é um desporto praticado entre quatro paredes – sendo que a da retaguarda é de vidro - e terá surgido Inglaterra no século XIX, quando começou a ser praticado pelos condenados em prisões. Este desporto, jogado individualmente ou em duplas, tem como objectivo, de uma forma muito básica, acertar
com uma bola de borracha nas áreas delimitadas da parede frontal. Dado que os atletas jogam de forma alternada com o adversário – ora arremessa um a bola, ora arremessa outro – a ideia é bater com a bola na parede para que o adversário não o consiga fazer quando for a sua vez de jogar. É, por isso, um desporto muito
rápido que exige grande resistência e força física, pois ao contrário de outras modalidades em que se pode gerir mais ou menos o ritmo a que se desenvolve uma actividade, no Squash passa-se logo do oito ao oitenta: de um estado em que não se está a jogar para, logo de seguida, estar-se a “dar o litro”. Actualmente, em Portugal, en-
tre 500 a 1000 pessoas praticam Squash, mas apenas cerca de 250 participam em competições de âmbito profissional, apesar de não poderem ser chamados de “profissionais” já que não vivem apenas dessa actividade. De facto, Alberto Rezende, treinador de Squash no Clube de Squash do Porto e campeão nacional no
Professor, à esquerda, e aluno, à direita durante uma aula de Squash
VERA COVÊLO TAVARES
ano passado, afirma que para já, “em Portugal é impossível” viver do Squash. Já na vizinha Espanha, onde cerca de 100 000 pessoas praticarão a modalidade, já é possível levar esta modalidade de forma profissional. Para Alberto Rezende, as principais razões para o estado ainda embrionário desta actividade em Portugal passam “não haver apoios por parte dos Estado, é um desporto com pouca visibilidade mediática e é um desporto que tem poucos praticantes para ter grandeza suficiente”. Contudo, apesar do número ainda reduzido de participantes, o campeão nacional de Squash conta ao JUP que, depois de cerca de uma década de estagnação, ultimamente a modalidade tem vindo a crescer, especialmente nas camadas mais jovens, “devido aos profissionais que começaram a trabalhar na área” e também ao facto de o Grupo Solinca “ter investido bastante na modernização do Squash em Portugal.” VERA COVÊLO TAVARES
22 ||
JUP || NOVEMBRO 10
Turismo jovem afasta-se do convencional Um milkshake de factores como a crise económica, gosto em viajar, curiosidade por novas culturas e espírito de aventura levam milhares de jovens a procurar novas modalidades de turismo. O JUP foi conhecer jovens que passaram a fazer turismo de forma mais aventureira e arriscada. INTERRAIL DE COMBOIO PELA EUROPA O Interrail é um tipo de viagem que faz parte do imaginário da maior parte dos jovens. Criado em 1972, apareceu como sendo uma forma mais barata e mais livre de os jovens visitarem vários países da Europa. Alexandre Santos, estudante de Nutrição na FCNAUP, fez um Interrail no Verão passado com mais cinco amigos. “A minha maior paixão sempre foi viajar”, aponta Alexandre como motivo para ter embarcado na aventura. Já Inês Pedroso, estudante de Ciências de Comunicação, diz que no início foi a “curiosidade e a vontade de ultrapassar fronteiras” que a levou a fazer o Interrail, coisa que já pensava fazer há muito tempo. Alexandre Santos percorreu 18 cidades de 11 países numa jornada de 25 dias pela Europa e afirma que todos os sítios pelos quais passou “têm o seu encanto”: Praga, “por ser das cidades mais bonitas que vi até hoje”, “Berlim pelas pessoas, pela cerveja, pela despreocupação, pela história que é constantemente recordada pela cidade toda, pela arte urbana”, “Amesterdão pela diferença, pela liberdade...”, diz, acrescentando sempre mais uma cidade e mais um motivo pelo qual o Interrail que fez em Agosto deste ano se tornou inesquecível. Para Inês Pedroso, todas as 11 cidades por onde passou com mais seis amigos a marcaram de uma forma ou de outra. “As cidades de Itália marcaram-me; muito, ali-
ás: é um país com um potencial enorme, são mais do que bonitas e com uma história incrível. Outra das cidades que mais me cativou foi, sem sombra de dúvida, Berlim: uma cidade marcada por uma história recente e conservada, com uma cultura imensa, com pessoas de personalidade muito própria e com um movimento nocturno espectacular”. “Liubliana foi uma cidade que me surpreendeu. Mais escondida e mais recatada, talvez aquela na qual pusemos expectativas mais baixas…revelou-se uma cidade interessante”, afirma, dizendo que lhe custa não referir todas as outras cidades. Para Alexandre, a melhor parte do Interrail foram as viagens entre as várias cidades em que aproveitaram para se divertir e conhecerse melhor. “Nem uma viagem de 13 horas entre Viena e Brasov nos abrandou e impediu de ser a melhor viagem entre todas as que fizemos”, diz o estudante. Inês diz que todos os momentos vividos deixaram uma marca que jamais será apagada: “mesmo os momentos menos agradáveis deixaram lições para o futuro: ao nível de adaptação a novas circunstâncias, é de um valor inabalável. Aprendi a lidar com sítios sem condições de limpeza, aprendi a lidar com culturas completamente distintas. Aprendi a ser mais autónoma e mais capaz. Aprendi a desenrascar-me e a fazer contas à vida... O Interrail pode ser ainda mais caro se não preparamos bem as coisas. Quanto à experiência de convívio, é um desafio enorme estar com as mesmas pessoas durante 24 horas,
25 dias seguidos”. Quanto aos custos, ambos estudantes disseram ter gasto uma média de 1200€ incluindo gastos com as viagens, o alojamento e alimentação. Para Alexandre, a maior vantagem deste tipo de viagem é o dinheiro: “gastamos muito menos por cidade do que se visitássemos cada cidade isoladamente. Viajar de comboio pela Europa é muito fácil e permite-nos chegar aos centros das cidades sem passar por checkin e temos a oportunidade de ver paisagens fantásticas enquanto estamos no comboio”, explica. Se voltavam a repetir a experiência? Ambos dizem que sim. “Com outro percurso”, diz Inês; “adorava fazer algo assim noutro local como a América do Norte ou a Ásia”, acrescenta Alexandre.
TURISMO DE POLEGAR LEVANTADO E CARTAZ NA MÃO A conhecida cena de uma pessoa, na berma da estrada com o polegar estendido e um cartaz com um destino escrito na outra mão é-nos apenas familiar dos filmes. Em Portugal, o costume de andar à boleia não é muito frequente, estando intimamente conotado com um acto de rebeldia de jovens com um espírito aventureiro. Nos quatro cantos do mundo, são muitas as pessoas que, por vários motivos, pedem boleia a estranhos. Em alguns casos, fazem-no numa curta distância, mas há quem o faça por milhares de qui-
lómetros. Em alguns países, a modalidade revela-se fácil, segura e eficaz. Para alguns, “apanhar boleia” não é apenas uma forma de economizar na deslocação, significa bastante mais. Pedro Oliveira, antigo estudante da Faculdade de Economia, já praticou a modalidade várias vezes. Durante o ano lectivo de 2008/2009, esteve a estudar na Finlândia pelo programa Erasmus. Em conversa com um grande amigo e devido a alguma curiosidade pelo hitchhiking (termo utilizado na língua inglesa), Pedro decidiu viver esta experiência que, segundo o próprio, “vai muito mais além do poupar dinheiro”. Enquanto esteve em Erasmus, o antigo aluno da FEP visitou Helsínquia, Rovaniemi e Inari na Lapónia, e também a Noruega. Depois do seu regresso a Portugal, Pedro sentiu saudade de andar à boleia e decidiu fazer “uma viagem por Espanha”, em que passou por Zaragoza, Valencia, Alicante e Madrid. Nas viagens de polegar levantado e cartaz na mão, Pedro estima que percorreu cerca de três mil quilómetros. Na sua primeira viagem, os familiares de Pedro não tinham conhecimento da sua aven-
“Nem uma viagem de 13 horas entre Viena e Brasov nos abrandou e impediu de ser a melhor viagem entre todas as que fizemos.”
tura. Depois, explica que, “como correu tudo bem, acharam piada, ainda chegaram a perguntar se o dinheiro que me davam não chegava, mas consegui explicar que não é uma questão de dinheiro. Hoje em dia, os meus pais já estão habituados ao meu tipo de viagem e confiam na minha análise das diferentes situações e pessoas”. Gonçalo Cadilhe, um dos maiores especialistas de turismo do país e cronista regular do semanário Expresso, confessa que para si andar à boleia “não é um último caso. Se puder, gosto imenso”. O cronista fala da imprevisibilidade deste tipo de viagem, em que “se vai à boleia sem datas marcadas e, sobretudo, com uma liberdade bestial”, algo a que recorreu principalmente no início da sua carreira de viajante, quando não tinha que se fazer acompanhar de equipamentos de filmagem, como hoje acontece. Andar à boleia implica um certo perigo. Gonçalo Cadilhe concorda, mas conclui que “o medo também se aprende a controlar” e explica que este é menor quando vamos com amigos. Pedro Oliveira nunca foi sozinho nas suas viagens de hitchhiking. “Fui sempre com um ou dois amigos. Na minha opinião, dois é o número perfeito porque nem estás sozinho, o que muita gente pode achar estranho, nem estás com gente a mais”. O ex-estudante de Erasmus afirma que nunca rejeitou nenhuma boleia, mas “fui sempre muito cuidadoso”. Em Portugal, a modalidade não é muito comum, mas o especia-
COUCHSURFING: MAIS QUE UMA FORMA ALTERNATIVA DE VIAJAR Couchsurfing é uma comunidade internacional de viajantes que procuram e/ou disponibilizam um sofá,onde os “surfers” possam ficar durante um ou mais dias. Esta actividade não se limita a ser uma forma alternativa de
DIREITOS RESERVADOS
lista em viagens conhece países “onde é fácil andar à boleia porque há pouca gente com carro e não serás o único. É muito comum na América Central as pessoas andarem à boleia nas carrinhas pick-up”. À boleia, Gonçalo Cadilhe, aconselha que as pessoas mais inexperientes comecem por se aventurar à boleia em regiões tranquilas, usando como exemplo a sua experiência em ilhas: “Aconselho a uma pessoa inexperiente se a boleia é nos Açores ou na Nova Zelândia. Não aconselho se a boleia é nos Estados Unidos ou na Europa.” Com o avançar dos anos, o número de pessoas que andam à boleia tem-se reduzido, afirma o posto de turismo do Porto. A razão apontada para a diminuição desta prática deve-se à crescente acessibilidade dos transportes, cada vez mais económicos, frequentes e eficazes. A modalidade não promete extinguir-se. Pedro Oliveira, afirma que a boleia “é mais que um meio de deslocação, é um meio de conhecer pessoas novas e interessantes e é uma forma de viagem muito divertida”. Numa das suas viagens na Lapónia, Pedro conta que conheceu uma finlandesa num cenário altamente improvável. “Uma das boleias que mais me impressionou foi a de uma jovem, com 18 anos e que tinha a carta de condução há menos de um mês. Ia visitar a família e era linda de morrer. E o mais engraçado da situação foi ela ter dado boleia a três rapazes que tinham passado dez dias a caminhar num parque nacional na Lapónia com barbas gigantes e com um aspecto nada interessante. Nesse dia parecia que o improvável nunca iria acontecer, mas aconteceu, e tivemos uma viagem incrível com uma pessoa muito interessante”.
Cultura
|| 23
JUP || NOVEMBRO 10
Viajar à boleia, em que se vai sem datas marcadas, sobretudo, com uma liberdade bestial
viajar e poupar dinheiro no alojamento. Tem um quadro de princípios e objectivos próprios, que nada têm que ver com dinheiro. No couchsurfing pretende-se que os viajantes participem na vida das cidades que visitam, que conheçam e se adaptem à rotina de quem os recebe (ou de quem recebem), que interajam com pessoas que não conhecem e de diferentes culturas. Daniela Cerqueira, estudante da Universidade do Porto, aventurouse recentemente no couchsurfing e revela que o objectivo “é receber alguém e ensinar-lhe um pouco da nossa cultura, a nível da gastronomia, por exemplo, e de levar a conhecer a cidade” e os seus principais pontos de interesse. Daniela diz-nos que começou a fazer couchsurfing pelos “motivos errados”, ou seja, para “poupar dinheiro no alojamento”. Mas a ver-
O que é verdadeiramente importante, e é comum a todos os “surfers”, é “a interajuda e a vontade de aprender e de ensinar”
dadeira missão desta actividade “é conviveres com o dia-a-dia de outras pessoas, de outros países. Quando as pessoas vêm para tua casa tu ficas a conhecer a rotina delas: a que horas acordam, o que comem, o que gostam de fazer, como se vestem”. A exigência para ser “surfer” é apenas a da criação de um perfil no site. Esse perfil terá informações sobre a casa (por exemplo, quantas pessoas se aceitam por noite e durante quantos dias) e informações pessoais (quais os gostos da pessoa, experiências de couchsurfing, formação académica, etc). Quando se quer ir para a casa de alguém, tem que se fazer um request, onde se explica os motivos pelos quais se pretende fazer couchsurfing, pedido que pode ou não ser aceite. Uma outra possibilidade de fazer couchsurfing é saber se há ou não sofá disponível. No caso de não existir, pode-se simplesmente “acolher” uma pessoa apenas durante uma tarde, por exemplo, e ir passear com ela pela cidade. Até agora, a Daniela só praticou a modalidade em Londres. Durante o tempo que esteve na cidade, adaptou-se aos hábitos e rotinas de quem a recebeu. Uma das situações “estranhas” com
que se deparou foi ter que comer brócolos crus, algo que não costuma fazer, mas que faz parte dos hábitos ingleses. O que é verdadeiramente importante nesta actividade, comum a todos os “surfers”, é “a interajuda e a vontade de aprender e de ensinar”.
NUMA CIDADE POR UM DIA Os voos low-cost são cada vez mais procurados por todos os que apreciam uma boa viagem e gostam de uma boa pechincha em viagens de avião. As companhias aéreas low-cost são capazes de efectuar vários voos em horários que permitem a chegada a um novo país e o retorno a casa no mesmo dia. A vantagem consiste na visita à cidade por apenas um dia, sem gastos relativos à estadia. O número de turistas por um dia na cidade do Porto tem vindo a crescer, constata o posto de turismo do Porto. Normalmente, são espanhóis oriundos das zonas fronteiriças que visitam o Porto por um dia e pedem informações de locais a visitar no posto de turismo. O posto de turismo do Porto não dispõe ainda de iniciativas e programas especiais para este
novo tipo de turismo, mas é uma possibilidade para o futuro. A Gonçalo Cadilhe, o “turismo por um dia” parece pouco inteligente, devido ao impacto negativo que o uso do avião tem para o ambiente, afirmando que “é necessário ter uma relação sensata com a ecologia”. Para o profissional de viagens, os gastos das deslocações não são o problema; apenas é necessário que as pessoas saibam gerir o seu tempo, “organizando a sua vida de maneira a, com pouco dinheiro, conseguir tempo para que todos os custos sejam repartidos por vários dias”. Pedro Oliveira, antigo estudante de Economia, já pensou várias vezes em ser turista por um só dia. Porém, explica que prefere permanecer por mais tempo numa cidade e acrescenta que, “nos dias de hoje, já nos são disponibilizadas muitas formas de contornarmos grandes despesas numa viagem”. Links http://www.interrailnet.com/ http://www.couchsurfing.org CATARINA MEDEIROS DANIELA TEIXEIRA DIANA FERREIRA MARIANA CATARINO
24 || CULTURA
JUP || NOVEMBRO 10
IRINA RIBEIRO
CONTA-ME COMO É...
A moda
Adelina Gomes tem 54 anos e é coordenadora do voluntariado da Associação Acreditar. É voluntária no Hospital de S. João “há dois anos e meio, embora pareça que seja há vinte” e trabalha com crianças a quem foi diagnosticado cancro, principalmente a nível cerebral. “É preciso ter muita força de vontade. Foi uma colega do trabalho que me falou. Estive um ano a amadurecer a ideia, a pensar nos prós e nos contras”. Mas acabou por ceder. E Adelina nunca se arrependeu da escolha que fez. “Arrependo-me sim de não conseguir fazer mais e melhor.
Quando passeio na rua, não posso deixar de notar que os adolescentes estão cada vez mais parecidos uns com os outros. Já me aconteceu passar de carro em algum sítio e acenar para raparigas, que se pareciam com as minhas primas. Acho que é normal confundir alguém, mas nunca me tinha acontecido tão sistematicamente. O que mais vejo são raparigas e rapazes com o cabelo demasiado volumoso, maior do que o próprio corpo, e calças a cair até aos joelhos. Gostava de saber quem dita estas regras da moda (que todos parecem, religiosamente, seguir) e porque é que as pessoas parecem não querer seguir um estilo próprio. Agora, há uma homogeneidade da moda que é adoptada por todos e que faz com que ninguém tenha uma característica individual, ninguém sobressaia pela sua originalidade. Hoje em dia, a imagem
faz com que as pessoas (principalmente, as mulheres) vivam obcecadas em construir uma personagem que agrade à sociedade. Esta ávida procura faz com que, muitas vezes, as loucuras sejam perpetuadas em nome da inclusão ou da não marginalização. Tudo isto tem uma outra consequência que é a crescente preocupação da sociedade com aquilo que não é, definitivamente, o mais importante. Ou seja, as pessoas vão ficando cada vez mais fúteis e superficiais, muitas das vezes, inconscientemente. A sociedade vai-se “estupidificando”. Tudo isto faz com que estejamos pouco atentos aos problemas graves que nos rodeiam e que subvertamos os valores morais que nos fazem viver de uma forma equilibrada. O que eu estou a tentar explicar é que, se não tivermos cuidado, isto pode transfigurar-nos de tal maneira que já não nos conhecemos. Não estou a dizer que não nos devemos tratar nem devemos deixar de cuidar de nós (não me interpretem mal), antes pelo contrário, devemos, sim, fazê-lo, principalmente, para agradarmos a nós próprios e não só aos outros. Apenas, não devemos viver em função deste paradigma de beleza (que objectivamente não existe) e não devemos deixar-nos alienar pela procura desse mesmo paradigma.
“Tudo isto tem uma outra consequência que é a crescente preocupação da sociedade com aquilo que não é, definitivamente, o mais importante.” conta muito mais do que devia. Neste país e no mundo, não há lugar para a fealdade. Quem não seguir um padrão pré-definido pela sociedade é simplesmente marginalizado, posto de parte, exactamente porque todas as outras pessoas seguem o referido padrão. O ideal de beleza
primeiro, mas depois aceitam os voluntários como amigos. “Vale tudo, desde brincadeiras a conversas sérias. Às vezes temos perguntas bem difíceis das quais eu queria fugir, mas temos de ter a capacidade de lhes saber responder com a mesma astúcia com que elas as fazem”. A voluntária conta ainda que as crianças são mais corajosas que os adultos e têm uma capacidade muito superior de sofrimento perante os tratamentos, que são tão dolorosos. As crianças “têm força, conseguem continuar e ensinam os pais a acreditar”.
que as conforte e lidar com isso a nível pessoal. Para apoiar a família, existe o projecto Sete Cores do Arco-Íris, que vai desde os cuidados do diagnóstico até ao final – seja a cura ou a morte. “Normalmente – e infelizmente – é a morte; por isso é que são [cuidados] paliativos.” A Acreditar disponibiliza ainda psicólogas aos pais e o apoio que eles necessitam, “pois muitas vezes estes pais o que precisam é de ser ouvidos”. A nível pessoal, Adelina sente-se feliz e realizada. Mas os dias não são sempre iguais, e por isso já pensou
...Ser Voluntária na Oncologia Pediátrica do S. João Acho que devia fazer mais, podia dar mais de mim e não posso porque trabalho, porque sou humana”. O voluntariado é normalmente de três horas por dia, mas Adelina diz que nunca se fica por aí. E, nessas três horas, tudo pode acontecer. “Se a criança está internada, ela decide o que quer fazer. Se ela decidiu que tinha de cantar três horas, nós cantamos três horas. Tudo o que lhes passar na cabeça e for possível”. Mas não se criam laços imediatos com as crianças. São, por norma, observadoras e querem conhecer
Adelina acredita que um dos passos para vencer o cancro é a necessidade que eles têm de viver e o positivismo com que encaram a doença. No entanto, há sempre excepções. O Luís é um desses casos. Quando entrou no Hospital, “era um miúdo alegre, bem-disposto, fantástico e, no espaço de um mês, foi-se completamente abaixo”. Acabou por não superar a doença e faleceu “porque não teve força de vontade para a superar”. Nestas situações, é muito complicado saber o que dizer às famílias
em desistir. “É evidente que quando saio do S. João, nestas alturas, chego ao carro e descarrego. Muitas vezes choro, porque são muitas emoções que lá dentro não podemos passar, mas curiosamente quem nos dá força são as crianças”. E o que é preciso para se ser voluntário? “É preciso gostar muito, ter muito carinho. Não é preciso ser ninguém em especial, é preciso ter amor, amor para dar e saber receber, porque nós recebemos muito mais do que aquilo que damos”. LILIANA PINHO E SARA MARQUES
CULTURA || 25
JUP || NOVEMBRO 10
GOURMET DAS TASCAS NUNO MONIZ
O “Vasco” tem cozinha sempre aberta
Vasco da Gama O Vasco da Gama, conhecido como “Vasco” há 39 anos, é o snack-bar ideal para quem quer ser bem recebido. Situado na Rua da Boa Hora, ao pé dos Serviços de Acção Social da Universidade do Porto (SASUP) e do Centro Desportivo Universitário do Porto, é-se cumprimentado pelos funcionários logo à terceira visita. O Vasco é um projecto de família - pai e filhos. O Sr. Vilela, o Sr. Carlos
e o Sr. Manuel. Apesar dos longos anos de vida do estabelecimento, esta família gere o espaço há 23 anos, tendo anteriormente passado por várias mãos. A aposta é clara e fica ainda mais quando se lê o menu do Vasco: “O acolhimento passa pelo extremo cuidado no serviço prestado e no estabelcer com os seus clientes um estreito relacionamento de simpatia, que na maior parte dos casos
resulta em amizade”. Aberto todos os dias excepto no Domingo, dispõe sempre de um prato do dia e catorze super-menus com bebida incluída – da meia francesinha à fêvera em prato. O ambiente acolhedor, os preços económicos, a variedade e o ponto de acesso wireless são apenas algumas das características que fazem do Vasco um sítio ideal para estudantes.
Cozinha aberta constantemente, perfeito para quem tem horários desregulados para as refeições, ou para quem costuma ter ataques de fome a meio da manhã ou da tarde. Principalmente quando não se tem tempo e entre trabalhos da faculdade tem-se mesmo de comer alguma coisa, quem sabe se não calha bem uma francesinha vegetariana. Duas televisões e uma grande
perspicácia: desporto numa, séries noutra. Uma boa maneira de passar um bocado num ambiente que rapidamente se torna familiar.
Vasco da Gama
Rua da Boa Hora, 58 Telf: 222050235 NUNO MONIZ nunompmoniz@gmail.com PUBLICIDADE
26 || CULTURA
JUP || NOVEMBRO 10
LILIANA PINHO
Não era um dos favoritos, mas arrecadou o Nobel da Literatura A Academia deliberou e, este ano, o reconhecimento foi para Mario Vargas Llosa, um eterno candidato. Mário Vargas Llosa disse um dia que “a literatura não é algo que nos faça felizes, mas ajuda-nos a defendermo-nos da infelicidade”. E foi desta vez que a literatura fez Vargas Llosa muito feliz, ou “comovido e entusiasmado” nas suas próprias palavras. No dia 7 de Outubro, a Academia Sueca anunciou o escritor peruano como o Nobel da Literatura 2010. Aos 74 anos, Llosa foi reconhecido “pela sua cartografia das estruturas de poder e pelas suas imagens mordazes da resistência, revolta e derrota dos indivíduos”, conforme comunicado oficial da Academia. O autor de clássicos como “A Tia Júlia e o Escrevedor”, “A Casa Verde”, “A Guerra do Fim de Mundo” ou “A Cidade e os Cães” não é ape-
nas um dos escritores mais influentes da sua geração. Líder político e activista pela liberdade e igualdade social, nunca baixou os braços na luta contra um regime melhor no seu país, o Peru, uma luta que se encontra bem vinculada nos temas e na forma como escreve. Ainda que fosse um eterno candidato, o escritor não era um dos favoritos deste ano e competia com outros grandes nomes. A atribuição do prémio não deixou de ser uma grande surpresa para todos, inclusive para Llosa. Mario Vargas Llosa torna-se assim o 103º a ser premiado com o Nobel da Literatura, que é atribuído desde 1901 e tem um valor de cerca de um milhão de euros. LILIANA PINHO
Padrecos 2010 Coliseu do Porto
Bigodes, álcool e muita festa em mais um Arraial no de Engenharia
Foi a 2 de Outubro que o Coliseu do Porto recebeu o Festival de Tunas organizado pela Tuna da Universidade Católica Portuguesa, que comemora este ano o seu 20º aniversário. O Festival de Tunas deste ano contou com a participação da Tuna Académica de Lisboa, da Tuna Universitária do Minho, da Azeituna (Tuna de Ciências da Universidade do Minho) e da Tuna de Medicina do Porto. A Tuna feminina da Universidade Católica Portuguesa (UCP), a Tuna de Engenharia da Universidade do Porto e a própria Tuna da Universidade Católica Portuguesa actuaram sem, no entanto, entrarem no concurso. André Guiomar, aluno do Mestrado de Cinema e Audiovisual da UCP, afirma que o festival ”foi um espectáculo que resultou, principal-
mente pela versatilidade de estilo das tunas que iam desde o Minho a Lisboa, passando pelo Porto. Para os caloiros foi óptimo porque se envolveram num ambiente diferente” Tomás Vilas Boas, um dos elementos da TUCP falou com o JUP acerca do Padrecos. “Este ano foi o mais marcante porque se realizou no mesmo ano em que a Tuna faz 20 anos”, afirma. Depois da entrega de prémios, o Coliseu do Porto fechou as portas ao som do hino da Tuna da Universidade Católica Portuguesa, “Tuna de Padrecos”. TERESA CASTRO VIANA
Prémios Padrecos 2010 Melhor Pandeireta: - Tuna Universitária do Minho Melhor Estandarte - Tuna de Medicina do Porto Melhor Interpretação Musical - Tuna Académica de Lisboa Melhor Solista
- Tuna Académica de Lisboa Tuna mais Tuna - Azeituna 2ª Melhor Tuna - Tuna Universitária do Minho Melhor Tuna - Tuna de Medicina do Porto
De 26 a 29 de Outubro, os estudantes da Academia encheram o Pavilhão Rosa Mota, atraídos por um cartaz ambicioso e a promessa de noites de grande folia. O arraial é de Engenharia, mas nem só de engenheiros se fez a festa. Se no ano passado o Arraial tinha sido um sucesso, este ano superou as expectativas. De todo o lado, vieram pessoas para ver o mais ansiado nome do cartaz: Günther e as Sunshine Girls. O fenómeno do Youtube esgotou o pavilhão Rosa Mota e tornou o espaço demasiado pequeno para o sem-número de pessoas que estava presente na noite de quinta-feira. Por todo o lado se viam bigodes e imitações do artista sueco, trauteando as letras ainda antes de o espectáculo começar. E Günther não desiludiu, levando os estudantes ao rubro com “Teeny Weeny String Bikini” e “Tutti Frutti Summer Love”. O ponto alto foi a “Ding Dong Song” e, ainda que tenha sido cantada três vezes, mostrando o raro reportório do cantor, foi cantada com entusiasmo de todas as vezes. Quem também levou o pavilhão ao rubro foram os Homens da Luta. “E
o povo, pá?” gritaram os estudantes em uníssono de cada vez que Neto e Falâncio o pediram. A banda, do Porto, estava em casa. Fizeram piadas, puxaram pelos engenheiros, e encerraram o dia 27 com muita euforia. Mas o Arraial desde logo começou bem. A terça-feira começou com o DJ Xico L, mas foi dia de música directamente vinda de Engenharia, com a TEUP e a TUNAFE – Tunas masculina e feminina de Engenharia - que aqueceram as hostes para a semana. E, claro, o Arraial não podia acabar mal. David Fonseca foi outro dos nomes mais aguardados, com as suas canções “Superstars”, “Kiss me, Oh Kiss Me”, “Cry for Love”, entre muitas mais. Um espectáculo à altura do que o artista português nos tem habituado. Sílvio Monteiro é de Engenharia Química e tinha as expectativas em alta, “pelo cartaz essencialmente, porque foi uma aposta ganha com nomes sonantes”. E, como a tantos
outros, o que mais o atraiu foi Günther. “Vim para ver que ele realmente existe, que não é só no Youtube. Ainda assim acabei por vir os dias todos, também por David Fonseca”. Mas Sílvio garante que, se Günther não fosse o ponto alto do arraial, as suas expectativas sairiam “um bocado furadas”. Uma palavra para descrever o certame? “Surpreendente.” A edição deste ano apostou também em animações paralelas – como os modeladores de balões e os pauliteiros – e marcaram ainda presença nomes como La La Pito, Meu Outro Tanto, Come na Rua, Cintura e Hookers On Rockets. Ficou apenas a nota ser necessário mais controlo sobre a empresa de segurança, uma vez que, segundo o JUP apurou, alguns seguranças (aparentemente já embriagados) foram protagonistas de algumas cenas abusivas que resultaram em queixas dos estudantes. LILIANA PINHO
Críticas
CULTURA || 27
JUP || NOVEMBRO 10
3/5 “WALL STREET”- O DINHEIRO NUNCA MORRE OLIVER STONE Em 2010, Oliver Stone faz a sequela de Wall Street, original de 1987. O filme conta a história de Jacob Moore (Shia LeBeouf), corrector da Bolsa de Valores de Nova Iorque. Jacob anseia ascender rapidamente na sua carreira e alcançar um cargo de poder. Por outro lado, Gordon Gekko, interpretado por Michael Douglas, é o personagem central do filme. Gordon sai da cadeia, passados oito anos da sua condenação por fraude fiscal. Quando o patrão de Jacob se suicida, Gekko acredita que foi graças a Bretton James, outro corretor, que terá lançado um boato que fez com que a sua empresa entrasse em colapso, levando então ao suicídio do seu chefe. Jacob namora com a filha de Gekko e usa o relacionamento para se aproximar dele, com vista à construção de um plano para derrubar o homem que destruiu a vida do seu patrão e mentor. Oliver Stone tem um gosto particular pela área da bolsa de valores, daí o lançamento de dois filmes relacionados com o tema. A história não é fantástica mas vive das boas interpretações e de uma boa fotografia. MIGUEL LOPES RODRIGUES
3/5 “BAZAR ALEMÃO”
4/5
HELENA MARQUES
“THIS IS WAR”
Em “O Bazar Alemão” é-nos descrito o ambiente pré-Segunda Guerra Mundial na ilha da Madeira, mais propriamente no Funchal. Nesta altura, esta cidade cosmopolita é reconhecida internacionalmente como um fantástico destino de férias. Mas há ainda muitos estrangeiros que residem permanentemente na ilha, gozando da hospitalidade portuguesa. A certa altura, a comunidade judaico-alemã na cidade do Funchal começa a ser perturbada pela assombrosa ameaça nazi, a que pensavam ter escapado. Ao longo da história, conhecemos casos de famílias que fazem parte desta comunidade: o casal Eugen Beckman e Elisabeth Schulte que vêem o seu pedido de casamento negado por ela ser de origem judaica, a família Brusov da Polónia, o médico Franz Schönberg entre outros. Conhecemos também os delatores: os Bromberger, fervorosos adeptos de Hitler que não hesitam em denunciar o que eles consideram que não cumpre as leis da protecção da pura raça ariana. Apesar do interesse histórico desta obra e da descrição muito bem conseguida dos seus protagonistas, falta-lhe seguimento. Em cada capítulo conhecemos novas personagens, mas a história propriamente dita nunca avança. É curioso saber principalmente a influência do III Reich, que perturba mesmo a tranquilidade do Funchal. A autora, jornalista, baseou-se na investigação de uma professora do Departamento de Estudos Alemães da Universidade da Madeira que encontrou informações sobre as denúncias feitas contra residentes judaicos (principalmente os de origem alemã) à Gestapo, no Consulado Alemão do Funchal.
O “This Is War” é o terceiro álbum de 30 Seconds To Mars. Extremamente melódico, mas ainda assim, rockeiro. “This Is War” é um álbum perfeito para ouvir naqueles dias em que precisamos de sentir, de reviver… sentir um arrepio na espinha, abrir os braços, fechar os olhos e cantar. É um álbum que alerta para as escolhas e egoísmo do Homem, tendo em conta a era em que vivemos e o desrespeito que nutrimos pela Terra, pelo Mundo e acima de tudo uns pelos outros. Todo o álbum é uma ode à guerra, como em “Night Of The Haunter”, “A Call To Arms”, “Search & Destroy”, entre outras. Ao longo das músicas, nota-se a evolução que a banda sofreu na composição deste álbum, ainda que baseado em sons alternativos, futuristas e agarrados ao rock tradicional (não fossem estes influenciados pelos Pink Floyd, Kiss, Alice Cooper, etc). Os três singles, “Kings And Queens”, “Closer To The Edge” e “This Is War” retratam bem o poder do álbum. A ordem de apresentação dos singles foi bem escolhida, com coerência e segue uma determinada linha musical. A falta de músicas mais calmas neste álbum é colmatada com “100 Suns” e “Alibi”, fechando ainda com o surpreendente “Equinox”, uma música pesadamente calma com canto gregoriano e alguma simetria. O sentimento que o álbum deixa a quem o ouve é de querer mais, de um arrepio intenso e vibrante. Não obstante, “This Is War” também dá que pensar, no que o Homem fez e vai fazer, no passado e no futuro, deixando o presente num vácuo espacial, em que cada um de nós decide o melhor a fazer.
JÚLIA ROCHA
30 SECONDS TO MARS
LUÍS MENDES
Cardápio
JUP || NOVEMBRO 10
MÚSICA
TEATRO
EXPOSIÇÕES VÁRIOS
1/NOV
2/NOV A 21/NOV
13/SET A 20/NOV
21/SET A 14/DEZ
VAMPIRE WEEKEND Coliseu do Porto 21H00 Entre 25€ e 35€
T3+1 CANTO DO CISNE, OS MALEFÍCIOS DO TABACO Teatro Carlos Alberto Quarta a Sábado às 21h30; Domingo às 16h Entre 10€ - 15€
PORTO MÚLTIPLO Restaurante Via Garrett 11h00 às 12h00
LEITURAS NO MOSTEIRO Mosteiro de São Bento da Vitória Terça 21h00 ENTRADA GRATUITA
3/NOV
XAVIER RUDD Hard Club 23€
3/NOV PEDRO ABRUNHOSA & COMITÉ CAVIAR Coliseu do Porto 23€-21H30
3/NOV SOMBRA TOUR 2010 MOONSPELL E OPUS DIABOLICUM Casa da Música 22,5€
4/NOV CRYSTAL CASTLES Teatro Sá da Bandeira 23€-21H00
5/NOV RITA REDSHOES Hard Club 15€
8/NOV BROKEN SOCIAL SCENE Casa da Música 25€-22H00
18 A 28/NOV SOMBRAS Teatro Nacional S.João Terça a Sábado às 21h00; Domingos às 16h Entre 7,5€ e 16€
26 E 27/NOV ODISSEIA: O COLÓQUIO Teatro Nacional de São João Sexta e Sábado 10h30 - 13h00; 14h30 - 18h00 ENTRADA GRATUITA
27/NOV CADERNETA DE CROMOS AO VIVO Coliseu do Porto 21h30 Domingos às 16h Entre 15€ - 25€
23/SET A 12/NOV NOVOS.COM JÚLIO RESENDE Galeria Cor Espontânea Segunda a Sábado das 13h00 às 19h00 ENTRADA LIVRE
2/OUT A 19/DEZ
ABEL SALAZAR E O SEU TEMPO UM OLHAR Museu Nacional Soares dos Reis Terça das 14h00 às 18h00 Quarta a Domingo das 10h00 às 18h00
LOOK UP! NATURAL PORTO ART SHOW Vários locais da cidade
13/NOV
2/OUT A 19/DEZ
CULTURE & ADMINISTRATION Mosteiro São Bento da Vitória 21h30
“O LAGO DOS CISNES” NO GELO Coliseu do Porto
30/SET A 27/NOV
23/OUT A 27/NOV SEMINÁRIO “AS FÚRIAS” Museu de Arte Contemporânea de Serralves
Opinião
|| 29
JUP || NOVEMBRO 10
PALAVRAS LEVA-AS O VENTO
Era uma vez uma lei 1992: Cavaco Silva é primeiroministro e Couto dos Santos ministro da educação. Em pleno mês de Agosto é aprovada a lei 20/92, a famosa lei das propinas. Apesar de o movimento estudantil do ensino secundário vir de uma importante vitória, a revogação da PGA (Prova Geral de Acesso), no ensino superior as principais academias eram dominadas pelo PSD. O fim do «ensino tendencialmente gratuito» e o início da
privatização da escola pública originou a emergência de um forte movimento estudantil que foi capaz de derrotar muitas destas direcções associativas. No Porto, a FAP era dominada por Diogo Vasconcelos (PSD) e apenas as AE’s de Ciências, Belas-Artes e Letras (mais tardiamente) se opuseram abertamente a esta lei e organizaram-se. O ano 1992 foi um ano de manifestações e greves. Mesmo nas faculdades e academias em que o poder se mantinha sob influência do PSD, os estudantes desafiaramno e convocaram greves e manifestações um pouco por todo o país. A 18 de Novembro de 1992 ocorreu uma grande manifestação nacional que conseguiu juntar nas ruas mais de 10 mil estudantes. Um ano depois, cerca de 1000 estudantes di-
rigiram-se para São Bento e foram recebidos à bastonada pela polícia de choque. O governo de Cavaco Silva revelava-se: primeiro tinham sido os trabalhadores da TAP, agora eram os estudantes e seguir-se-iam ainda os manifestantes contra as portagens na ponte 25 de Abril e os vidreiros da Marinha Grande. Cavaco Silva marcava, definitivamente, a política nacional e impunha as leis e a propina à bastonada. A carga policial veio permitir que a contestação extravasasse as faculdades. A manifestação de resposta aconteceu a 7 de Dezembro e pôs na rua mais de 20 mil pessoas. Aos estudantes do superior juntaram-se estudantes do secundário, professores, cidadãos anónimos e alguns sindicatos. O ministro Couto dos Santos caía nesse
dia e era substituído por Manuela Ferreira Leite. Se é verdade que o movimento contra as propinas não conseguiu revogar a lei, também é verdade que impediu que o valor proposto, já para o ano de 1994/95, de propina máxima, 750 euros, não fosse além dos 300 euros. Mas, na verdade, aquilo que hoje a distância nos permite perceber é que este movimento falou verdade quando disse que esta lei representava o fim do ensino público, gratuito e universal. Avisámos que aceitá-la seria permitir o aumento progressivo dos valores a serem pagos; chamámos a atenção para o facto de esta escolha expulsar estudantes da universidade; lembrámos que a acção social escolar não era capaz de responder a estes casos e que o ensino se estava a tornar cada vez mais elitista, a reproduzir as desigualdades sociais, e a afirmar-se como um privilégio daqueles que o podiam pagar. E, por isso, boicotámos a lei e gritámos «Não pagamos!» E o resultado está aí: o valor das propinas já ronda os 1000 euros,
o que significa que aumentaram cerca de 450% desde que a lei entrou em vigor; um doutoramento pode custar 35 mil euros. Hoje há estudantes que não chegam sequer ao ensino superior; há estudantes que são obrigados a desistir da sua formação porque não têm dinheiro para pagar propinas. Hoje, um agregado familiar de quatro pessoas, com um rendimento de trabalho total de cerca de 1900 euros, não tem direito a bolsa e paga as propinas por inteiro. Hoje, o ensino superior é um privilégio de quem o pode pagar, diga o ministro Mariano Gago o que quiser para sossegar a consciência. A lei 20/92 significou um retrocesso civilizacional. Aniquilou a possibilidade de Portugal recuperar de quase meio século de atraso e de se preparar para os desafios dos tempos que correm. Quem patrocinou e aceitou o fim do ensino superior público, universal e gratuito é, pois, responsável pelo atraso do país. ANDREA PENICHE Ex-presidente da Direcção da AEFLUP
PUBLICIDADE
30 || OPINIÃO
JUP || NOVEMBRO 10
EDITORIAL
Nunca baixar os braços
As lições brasileiras O leitor destas linhas com certeza já saberá quem saiu vencedor da segunda volta das presidenciais brasileiras… … E desde esta data que escrevo tudo indica que seja uma vencedora, Dilma Rousseff. Em caso de acerto torna-se mais previsível o percurso e as escolhas do futuro governo brasileiro. Será, na sua essência, um governo de continuidade. Não quer isso dizer que uma vitória de José Serra representasse uma mudança radical nos rumos da política brasileira, já que até o conservador Financial Times aponta as “notáveis semelhanças” entre os dois candidatos, mas é difícil não ver no candidato da coligação de centro-direita do PSDB/DEM um regresso aos anos de Fernando Henrique Cardoso, que deixou a presidência em 2002. De qualquer forma, só pelos resultados da primeira volta, esta campanha já será lembrada pela maior
transferência de votos já operada por um governante na história do Brasil, com o poderio político de Lula (com 80% de aprovação popular) a alavancar a candidatura da apagada e tecnocrata Dilma Rousseff. Com um crescimento económico a superar os 7% este ano e com os números de ascensão social a registar a saída de 24 milhões de pessoas da linha de pobreza, crise é uma palavra que só se encontra nas secções de política internacional dos jornais brasileiros. Lula soube usar estes números como ninguém no clima de précampanha que o PT impôs nos últimos dois anos. Uma economia pujante e a expectativa de vir a tornar-se um dos maiores produtores mundiais de petróleo, com a descoberta de enormes reservas
no subsolo marítimo, reforçaram ainda mais a posição do país no cenário internacional. Em Junho, Dilma efectuou um périplo pela Europa no qual Portugal não ficou de fora, encontrando-se com José Sócrates e, quem mais, Américo Amorim, aquele que com a descoberta do petróleo brasileiro um dia acordou o homem mais rico de Portugal. Mas não nos enganemos, a candidatura de Dilma foi uma solução de recurso. Os sucessores mais óbvios de Lula, como José Dirceu, Palocci ou mesmo outras figuras de topo do PT, sucumbiram aos inúmeros escândalos de corrupção envolvendo o actual Governo, o que de certo modo contribuiu para a concentração de poder unipessoal em Lula e que tem alimentado as suposições de que o presidente pode voltar em 2014. O revês é, claro, a credibilidade política de Dilma. É certo e sabido que, na política, os coadjuvantes não nasceram para líderes. Por fim, se alguma lição fica destas presidenciais brasileiras é como um programa político, só-
lido e mobilizador, como o do PT que levou Lula ao poder em 2002, com a promessa de rechaçar as medidas neoliberais em favor da imensa maioria da população, pôde se transformar, apenas oito anos depois, em uma propaganda desalentadora e institucionalizada. Com uma realidade social – a nível da distribuição de renda, acesso à habitação, à saúde e educação públicas – que impossibilita qualquer propaganda numérica capaz de maquiar a sua calamidade. O PT de Dilma será, então, um partido longe dos movimentos sociais e das lutas políticas travadas no seu passado, onde a união com sectores conservadores da sociedade brasileira passaram a ser oficializadas nas alianças eleitorais com partidos do calibre do conservador PMDB ou na candidatura ao Estado de Alagoas do Ex-Presidente da República cassado, Fernando Collor de Mello. Falar da vitória deste PT é, lá no fundo, falar de uma esquerda que perdeu. ADRIANO CAMPOS
AGÊNCIA BRASIL
PODER ONLINE
FICHA TÉCNICA DIRECÇÃO DIRECÇÃO DO NJAP/JUP - PRESIDENTE Ricardo Sá Ferreira VICE-PRESIDENTE Catarina Cruz VOGAIS Nuno Moniz (JUP) || Henrique Guedes (galerias) DIRECÇÃO DO JUP Aline Flor DIRECTORA DE PAGINAÇÃO Natacha Cunha DIRECTOR DE FOTOGRAFIA Miguel Lopes Rodrigues CHEFE DE REDACÇÃO Dalila Teixeira EDITORES E SUB-EDITORES EDUCAÇÃO Teresa Castro Viana SOCIEDADE Leandro Silva DESPORTO Vera Covêlo Tavares CULTURA Liliana Pinho OPINIÃO Nuno Moniz
COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Adriano Campos || Aline Flor || Amarílis Felizes || Andrea Peniche || André Duarte || Catarina Medeiros || Daniela Teixeira || Diana Ferreira || Gabriela Almeida || Irina Ribeiro || Júlia Rocha || Leandro Silva || Liliana Pinho || Luís Mendes || Mariana Catarino || Miguel Lopes Rodrigues || Nuno Moniz || Paulo Alcino || Renata Silva || Ricardo Sá Ferreira || Sara Marques || Simone Almeida || Susana Costa || Teresa Castro Viana || Vera Covêlo Tavares IMAGEM DA CAPA Miguel Lopes Rodrigues DEPÓSITO LEGAL nº23502/88 TIRAGEM 10.000 exemplares DESIGN LOGO JUP Bolos Quentes Design EDITORIAL/GRAFISMO Joana Koch Ferreira PAGINAÇÃO Aline Flor || Natacha Cunha
PRÉ-IMPRESSÃO Jornal de Notícias, S.A IMPRESSÃO NavePrinter - Indústria Gráfica do Norte, S.A. Propriedade Núcleo de Jornalismo Académico do Porto/Jornal Universitário REDACÇÃO E ADMINISTRAÇÃO Rua Miguel Bombarda, 187 - R/C e Cave 4050-381 Porto, Portugal || Telefone 222039041 || Fax 222082375 || E-mail jup@jup.pt
APOIOS Reitoria da Universidade do Porto, Serviços da Acção Social da Universidade do Porto, Universidade Lusófona do Porto, Instituto Português da Juventude.
Depois de um ano longe das ruas, os estudantes do Ensino Superior voltam a mostrar as suas cores à cidade de Lisboa. As direcções associativas tentaram o que puderam e conseguiram vitórias – algumas nem tanto. Avisaram pacificamente as condições necessárias mas foi só depois da ameaça de acção que conseguiram uma reacção do Governo. Depois da publicação das normas técnicas e com o caminho preparado para a atribuição das bolsas de estudo sob o novo regulamento, pode parecer exagerada uma acção nacional que procura melhorias na Acção Social Escolar. Mas não. Algumas exigências foram cumpridas, mas nem por isso devemos baixar os braços. Nem podemos, enquanto vemos os nossos direitos a serem arrancados a pouco e pouco. Ainda falta assegurar o apoio a “actuais” e futuros estudantes bolseiros e manter os preços de alimentação e alojamento, de que dependem tantos estudantes. Falta garantir-lhes que o Ensino Superior é uma aposta ganha e que vale a pena investir na educação: a educação dos que vão construir o nosso país quando estes – os que agora estão no poder – acabarem por cair. Falta lembrar aos nossos caros governantes que a política não é um jogo de marionetas, mas que nas suas mãos está o futuro de quem ainda espera o seu lugar ao sol. E falta fazê-los ver o quão errada parece ser a sua ideia de “democracia”: quando não conseguimos ver nisto um governo “do povo, pelo povo, para o povo”. O destino parece próximo, mas é ao chegar ao topo desta montanha que podemos ver o longo caminho que ainda há para percorrer do lado de lá. Filhos da geração de um Abril adormecido, é esta uma boa altura para nos levantarmos para ir até onde as palavras de apelo parecem não estar a chegar. ALINE FLOR
JUP || NOVEMBRO 10
OPINIテグ || 31 MIGUEL LOPES RODRIGUES
Devaneios Penso sempre nela. Todos os dias penso nela. E tenho saudades. Faz-me falta e hテ。-de sempre ser assim. As lテ。grimas cobrem a minha pele cansada. E penso nela. Todos os dias penso nela. E tenho saudades. Ainda a sinto comigo. Ainda a tenho comigo. Hoje e sempre. Teresa Castro Viana
PUBLICIDADE