Foto: Jo茫o Feij贸
Novo ano, Novo formato Caros leitores, Conforme irão reparar nas páginas que se seguem, o formato dos artigos do nosso boletim mudou um pouco. E porquê? Muito simples, porque resolvemos investigar, ouvir as opiniões e críticas de alguns dos nossos leitores e saber o que realmente pensavam sobre este boletim. Uns diziam que estava muito pesado, que tinha artigos muito extensos; outros, que estava a ficar enorme, que devia ser mais reduzido pois nem sempre havia tempo para ler tudo. E assim, com opinião aqui e opinião acolá, o Conselho Editorial chegou à conclusão que sim, deveríamos mudar para um boletim mais leve, com informação mais compacta e artigos mais sucintos. O conteúdo vai permanecer o mesmo, porque o boletim espelha e transmite a visão e a missão da Justiça Ambiental que, afinal, é a alma desta Organização. E isso não mudará nunca. Esperamos que gostem deste novo formato e que continuem a ler e a desfrutar dos artigos aqui publicados . Como sempre, mantemo-nos abertos às vossas opiniões, críticas e sugestões. Contamos com elas para aprender e melhorar. Boa leitura
Conselho Editorial Anabela Lemos, Daniel Ribeiro, Janice Lemos, Ruben Manna, Samuel Mondlane e Vanessa Cabanelas Boletim informativo com a autorização Nr. 17/GABINFO-DEC/2007
JA | Marรงo 2016
Mau Humor
Foto: João Feijó
JA | Março 2016
ProSavana: Continuamos a dizer NÃO! O Prosavana continua a ser um dos debates polémicos da actualidade. Do lado dos proponentes o objectivo é avançar tal como está, implementar rapidamente. Do lado da sociedade civil as preocupações e insatisfação persistem, no entanto, há quem acredite que seja possível “humanizar” o Plano Director, e há ainda quem, como o grupo articulado na Campanha Não ao Prosavana, mantenha a posição de que o Plano Director e os modelos propostos não servem a realidade moçambicana, não servem os camponeses e camponesas do corredor de Nacala. As consultas públicas do Draft Zero do Plano Director que tiveram lugar em meados do ano passado levantaram imensas questões e foram amplamente contestadas quer através de cartas como de vários comunicados de imprensa lançados a relatar as inúmeras irregularidades que as caracterizaram. Como de costume, os proponentes do Prosavana ficaram quietinhos e deixaram o “povinho” reclamar e
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a poeira assentar enquanto preparavam uma nova “rolha”! Ora, para essa nova estratégia de “rolha” a JICA contratou uma empresa de consultoria, a Majol (que entretanto já foi alvo de alguma polémica e causou acesa troca de comunicados de imprensa devido a um infeliz incidente que teve lugar num encontro organizado em Nampula). A Majol aproximou-se de organizações da sociedade civil, entre elas algumas das organizações articuladas na Campanha Não ao Prosavana, para, segundo eles, colher sensibilidades e melhor entender os receios e questões em relação ao Prosavana. De acordo com a Majol, a razão desta consultoria é a grande preocupação da JICA e do governo do Japão com a contestação que o programa tem recebido. Estariam inclusive a considerar abandoná-lo… O que como é óbvio, seria bom demais para ser verdade! Na altura em que nos contactou, a Majol mencionou a vontade da JICA e da Coordenação do Prosavana em estabelecer um Mecanismo de Diálogo, e quiseram saber se estaríamos interessados. Clarificamos a nossa posição relativamente ao Prosavana, particularmente quanto ao Plano Director Versão Zero, e informamos que só faríamos parte de um processo de diálogo se e quando o governo respondesse às inúmeras questões colocadas quer por carta quer nos encontros passados e disponibilizasse todos os documentos metodológicos que possibilitaram a elaboração do Plano Director. Caso contrário não faria qualquer sentido um processo de diálogo pois não haveria bases para discutir. Pouco tempo depois, tomámos conhecimento que a Majol organizara em parceria com o governo e várias organizações da sociedade civil (encabeçadas por duas ou três plataformas provinciais) um encontro em Nampula para estabelecer o referido Mecanismo de Diálogo entre a sociedade civil e os proponentes do Prosavana. Curiosamente, esqueceram-se de convidar as organizações articuladas na Campanha Não ao Prosavana, mas mesmo assim estivemos presentes, e o mecanismo foi estabelecido apesar da nossa contestação e sem as organizações articuladas na Campanha Não ao Prosavana. A forma manipuladora e discriminatória como este mecanismo foi estabelecido demonstra que não há uma intenção genuína de envolver a sociedade civil, de alargar a discussão de um programa tão polémico e de interesse nacional. As plataformas provinciais de Nampula, Niassa e Zambézia aderiram ao mecanismo, o OMR para nossa grande surpresa também aderiu, mas e o resto? Que resto? – poderão alguns perguntar-se, convencidos que essas plataformas são devidamente representadas e representativas. Pois, infelizmente cada vez mais se favorece a participação de plataformas assumindo que representam a sociedade civil ao invés de manter os processos abertos a todos. O Mecanismo está, de facto, aberto a todos – dirá certamente quem o defende – mas “aberto a todos” implica mais do que simplesmente aceitar que outros se juntem, implica na realidade criar as condições para que todos participem. Deixámos claro aos consultores da Majol que a nossa participação no processo estaria dependente do acesso à informação, do acesso a todos os documentos metodológicos, e isso não aconteceu! O acesso a essa informação, em nossa opinião, além de fundamental para todos os que integram o mecanismo, deveria ser igualmente garantido a todos os cidadãos moçambicanos interessados. “O resto” a que nos referimos são na verdade os principais interessados ou
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JA | Março 2016
afectados, os camponeses e camponesas, ou como o Prosavana gosta de os apelidar: os beneficiários! Curiosamente, a UNAC e as uniões provinciais não estão certas deste mecanismo. Então quem representa os camponeses e camponesas?! As plataformas?! O Prosavana tem vários intervenientes, desde a equipa de coordenação, às agências de cooperação dos países envolvidos, passando pelos próprios governos desses três países e respectivas organizações da sociedade civil. Temos que reconhecer que, neste caso, não tem sido somente o nosso governo a falhar. Os nossos queridos parceiros de cooperação do Japão – JICA – têm demonstrado a sua faceta mais feia. Se tinham fama de boa gente e de muito honrados, então devem nos ter enviado as ovelhas negras todas do Japão, porque estes que para aqui vieram são manipuladores e mentirosos, estão cismados em dividir a sociedade civil moçambicana e em destruir as suas boas relações com movimentos e organizações do Japão e do Brasil. Lamentámos bastante a pressão que os nossos companheiros do Japão têm sofrido e reiteramos a solidariedade e o compromisso com justiça social e ambiental que nos uniu nesta luta. Mantemonos firmes! Estamos juntos! Porquê que continuamos a dizer que não? Porque nada de substancial mudou. Mudaram apenas os seus textos e discursos, que com novas palavras bonitas mascaram agora melhor as mesmíssimas intenções. No entanto, não se assumiram quaisquer compromissos sérios! Continuamos a dizer que não – apesar das inúmeras tentativas de desacreditar o nosso posicionamento, incluindo acusações de defendermos interesses alheios e agendas obscuras (o que é quase engraçado num Programa que de moçambicano não tem nada) – porque submetemos para vossa apreciação uma análise ao vosso Plano Director onde apresentamos argumentos concretos e explicamos as nossas preocupações, mas que até agora não mereceu qualquer resposta da vossa parte! É este o tipo de diálogo que pretendem estabelecer? O Mecanismo de diálogo está criado. Os proponentes já podem ficar tranquilos enquanto se vão entretendo em reuniões intermináveis. E o processo está bem entregue, a facilitar e a acelerá-lo estão as hábeis mãozinhas da WWF. Mas deixemos esse assunto para outro momento... Porquê que continuamos a dizer não? Uma vez mais, porque nada mudou! Porque o Prosavana é um programa ambicioso voltado para o agro-negócio, para a exploração de grandes extensões de terra, para culturas de rendimento e quem sabe agricultura por contrato. Não foi desenhado para o nosso camponês, não o envolve, não o protege, não o favorece, não considera a essência da agricultura camponesa, não propõe medidas para, de facto, melhorar a vida dos camponeses e não salvaguarda os seus direitos à terra e recursos! Resumidamente, porque “NÃO” é a única resposta honesta e justa a este Programa! Por nós, a JICA pode levar o seu programa maravilhoso de volta. Se é tão bom, por favor levem-no e implementem-no lá na vossa terra! Muito obrigada, mas Não obrigada!
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Comunicado ProSavana marginaliza e exclui a Campanha Não ao Prosavana do processo de diálogo A Campanha Não ao ProSavana tem vindo a monitorar o Programa ProSavana. Este programa desperta muitas preocupações e insegurança pela maneira como foi concebido e pelos impactos negativos e profundos sobre a agricultura camponesa, meio ambiente e Direitos Humanos. A Campanha Não ao ProSavana participou nos dias 11 e 12 de Janeiro de 2016, na reunião realizada em Nampula, organizada pela Plataforma das Organizações da Sociedade Civil de Nampula (PPOSC-N), Fórum de ONGs do Niassa (FONAGNI), Fórum de ONGs da Zambézia (FONGZA), a Rede de Organizações para Ambiente e Desenvolvimento Comunitário Sustentável (RADEZA) facilitada pela MAJOL Consultaria e Serviços, Lda. Esta empresa foi contratada pela Agência de Cooperação Japonesa (JICA) com objectivos de “criar um mecanismo de diálogo e coordenação entre o governo e as organizações da sociedade civil, e elaborar um Road Map para o debate e tomada de decisão conjunta de assuntos relevantes sobre o ProSavana”. Um dos objectivos por detrás da referida reunião é legitimar o ProSavana que desde o início é caracterizado pela violação de direitos humanos e incumprimento de preceitos legais, entre outros, sobretudo no acesso à informação e participação pública, em especial por via das consultas públicas. Em reconhecimento às inúmeras irregularidades verificadas nas auscultações públicas de 2015, o governo prometeu uma segunda ronda de consultas públicas, obedecendo aos procedimentos legais, daí que se julgou que o processo facilitado pela MAJOL fosse de facto o início desta segunda ronda. No entanto, a dita reunião foi manchada por graves irregularidades, que mais uma vez, confirmam a prevalência de vícios insanáveis de concepção e de procedimentos de que padece o programa ProSavana e que devem, por isso, ser pública e amplamente denunciados: 1. Existência de convites direcionados a algumas organizações da sociedade civil, identificadas como sendo favoráveis ao ProSavana nos termos em que foi concebido, e exclusão das restantes que apenas tiveram conhecimento através do convite público divulgado na imprensa nacional, sem a mínima antecedência; 2. Tentativa de agressão física protagonizada pelos organizadores do evento a dois activistas da União Nacional dos Camponeses, uma organização integrante da Campanha Não ao ProSavana;
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3. Publicação de um comunicado de imprensa pelos organizadores do encontro que não reflecte as discussões e conclusões do encontro como se pode verificar na acta do encontro; Ainda no processo de legitimação forçada do Prosavana a Campanha Não ao Prosavana tem evidências que as decisões das plataformas provinciais neste processo não tem sido representativas, ou seja não tem envolvido todas as organizações que destas fazem parte, sendo maioritariamente decisões de alguns dos representantes destas plataformas. Diante dos factos acima arrolados, a Campanha Não ao ProSavana expressa profunda indignação e insatisfação pela forma como o processo de diálogo tem sido conduzido; reafirma o compromisso e engajamento em continuar incansavelmente a realizar acções de advocacia e resistência ao ProSavana em defesa dos direitos das comunidades do Corredor de Nacala e da soberania nacional. O Pedido A Campanha Não ao ProSavana exige o cumprimento das demandas levantadas na Carta Aberta para Deter e Reflectir de Forma Urgente o Programa ProSavana aos governos de Moçambique, Brasil e Japão em 2013 e ainda na Carta Aberta ao Presidente da República de Moçambique em 2015: • Que sejam tomadas todas as medidas necessárias para a suspensão imediata de todas as acções e projectos em curso nas savanas tropicais do Corredor do Desenvolvimento de Nacala no âmbito da implementação do Programa ProSavana; • Que seja urgentemente estabelecido um mecanismo inclusivo e democrático de construção de um diálogo oficial amplo com todos os sectores da sociedade moçambicana, particularmente camponeses e camponesas, povos do meio rural, comunidades do Corredor, organizações religiosas e da sociedade civil com o objectivo de definir as suas reais necessidades, aspirações e prioridades da matriz e da agenda de desenvolvimento soberano. A Campanha Não ao Prosavana acredita e defende a solidariedade entre os povos, por isso reafirma o seu engajamento no diálogo triangular dos movimentos sociais e organizações da sociedade civil de Moçambique, Brasil e Japão. A Campanha Não ao Prosavana convida e apela a todos os movimentos de camponeses, ambientais, sociais, organizações da sociedade civil, comunidades rurais e todos os cidadãos em geral para ampla mobilização, engajamento e organização de uma frente comum de resistência ao ProSavana. Maputo, 19 de Fevereiro de 2016
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A Responsabilidade de Responsabilizar Remetidos a segundo plano face aos males maiores que afligem hoje Moçambique, os graves problemas no fornecimento de água e electricidade em diversos pontos do país, ainda assim, não passaram despercebidos a ninguém. Não é um problema novo, antes pelo contrário, é um problema antigo cuja resolução já nos foi prometida várias vezes e que parece estar permanentemente dependente de mais uma coisa qualquer. Esquecendo as políticas, as decisões medíocres, as justificações descabidas, os imprevistos mais que previstos e todo o corrupto jogo de bastidores já dilatadamente denunciado pela imprensa, pelo CIP e por tantos outros, pretendemos nestas linhas reforçar algo que também já foi muito sublinhado em várias discussões e debates sobre o tópico: a urgente necessidade de efectivamente responsabilizar as empresas de serviços públicos pela sua prestação. No mês passado, numa noite de Sexta-feira em que ficámos sem electricidade em pleno horário nobre, liguei para o piquete da EDM e perguntei à simpática senhora que me atendeu se o problema era grave ou se a electricidade seria reposta em breve. Como por certo muitos outros utentes do bairro onde moro, queria saber se valia a pena esperar a electricidade “voltar” para ver um filme, ouvir música, sentar-me ao computador, enfim... essas coisas que se fazem quando se decide passar o serão em casa numa Sexta-feira. Do outro lado da linha, a senhora respondeu-me com um automático “estamos a trabalhar”. De tantas vezes já ter ouvido essa frase ao longo dos últimos anos, estou, por um lado, convicto que é a resposta que os treinam a dar em QUALQUER SITUAÇÃO (ideia que é, aliás, reforçada pelo facto dela nem me ter perguntado de onde lhe ligava), e por outro, profundamente indignado com o óbvio desperdício de recursos humanos pago pelo erário público aqui cabalmente identificado. Certamente que um qualquer atendedor de chamadas poderia fazer aquele papel, libertando aquela simpática senhora para tantas outras tarefas que a EDM terá de certeza hoje em mãos. Insisti. Perguntei se me sabia dizer o que havia ocorrido, uma vez que via da minha varanda o Alto Maé iluminado. Ela também insistiu: “Estamos a trabalhar” – disse-me outra vez. Mas em minha casa nada trabalhava... Perguntei-lhe então se podia falar com alguém que me pudesse dar mais informação, nem que fosse um taxativo “não sabemos o que se passa nem quanto tempo vai demorar”. Voltou a responder-me que estavam a trabalhar e eu educadamente despedi-me do simpático atendedor de chamadas e desliguei o telefone. Como que de modo a justificar o aumento de 15% no seu tarifário doméstico à escassos meses atrás, a EDM tem oferecido ao país um serviço deplorável, com cortes permanentes e apagões de horas a fio. Para tornar a coisa pior, segundo o FIPAG esses cortes têm contribuído também para a igualmente caótica situação do fornecimento de água. Será justo concluir que o actual estado das coisas é fruto de uma gestão inconsequente que só poderá mudar quando se começar a imputar responsabilidades adequadamente? Parece-nos óbvio que sim. Logicamente que não esperaríamos que já para o mês, como acontece há décadas nos países ditos de primeiro mundo, a EDM ou qualquer outro provedor de serviços de utilidade pública fosse compelido a começar a indemnizar os seus utentes por quebras de serviço. Temos noção que estamos a anos-luz disso, mas podíamos ao menos tentar caminhar nessa direcção.
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DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DA ÁGUA Art. 1º – A água faz parte do património do planeta. Cada continente, cada povo, cada nação, cada região, cada cidade, cada cidadão é plenamente responsável aos olhos de todos. Art. 2º – A água é a seiva do nosso planeta. Ela é a condição essencial de vida de todo ser vegetal, animal ou humano. Sem ela não poderíamos conceber como são a atmosfera, o clima, a vegetação, a cultura ou a agricultura. O direito à água é um dos direitos fundamentais do ser humano: o direito à vida, tal qual é estipulado no Art. 3º da Declaração dos Direitos do Homem. Art. 3º – Os recursos naturais de transformação da água em água potável são lentos, frágeis e muito limitados. Assim sendo, a água deve ser manipulada com racionalidade, precaução e parcimónia. Art. 4º – O equilíbrio e o futuro do nosso planeta dependem da preservação da água e de seus ciclos. Estes devem permanecer intactos e a funcionar normalmente para garantir a continuidade da vida sobre a Terra. Este equilíbrio depende, em particular, da preservação dos mares e oceanos, por onde os ciclos começam. Art. 5º – A água não é somente uma herança dos nossos predecessores; ela é, sobretudo, um empréstimo aos nossos sucessores. Sua protecção constitui uma necessidade vital, assim como uma obrigação moral do homem para com as gerações presentes e futuras. Art. 6º – A água não é uma doação gratuita da natureza; ela tem um valor económico: precisa-se saber que ela é, algumas vezes, rara e dispendiosa e que pode muito bem escassear em qualquer região do mundo. Art. 7º – A água não deve ser desperdiçada, nem poluída, nem envenenada. De maneira geral, sua utilização deve ser feita com consciência e discernimento para que não se chegue a uma situação de esgotamento ou de deterioração da qualidade das reservas actualmente disponíveis. Art. 8º – A utilização da água implica no respeito à lei. Sua protecção constitui uma obrigação jurídica para todo homem ou grupo social que a utiliza. Esta questão não deve ser ignorada nem pelo homem nem pelo Estado. Art. 9º – A gestão da água impõe um equilíbrio entre os imperativos de sua protecção e as necessidades de ordem económica, sanitária e social. Art. 10º – O planeamento da gestão da água deve levar em conta a solidariedade e o consenso em razão de sua distribuição desigual sobre a Terra. No mês de Março, dia 14, comemora-se como sempre o “ Dia internacional de Acção para os Rios, Água e Vida” e no dia 22 “ O Dia Internacional da Água”. Este ano decidimos publicar a “A Declaração Universal dos Direitos da Água”, na esperança que os nossos governantes e decisores, reflictam por um momento e que se inspirem para que comecem a tomar as decisões mais correctas para o seu povo. A água é um bem comum e é uma condição essencial da vida na terra, como diz a declaração. Apesar de muitos de nós termos plena consciência da importância da água e que 08
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sem ela não há vida, as nossas atitudes, decisões e como usamos este recurso natural e finito, demonstram muitas vezes que ignoramos ou menosprezamos a importância da água para a manutenção da vida em todo o planeta Terra. Como um bem comum que é, qualquer decisão sobre o seu uso deve ser tomada com o envolvimento de todos os cidadãos do País, e tendo em conta sempre os impactos actuais e para as futuras gerações. Em Moçambique, isso não está a acontecer, o objectivo principal é maximizar o seu uso para produção de energia, para agro-negócio e para os mais diferentes mega projectos. Porquê esta correria desenfreada para construir barragens, principalmente para a produção de energia, quando existem várias alternativas mais viáveis, renováveis, descentralizadas e com menos impactos e acima de tudo, sem a necessidade do uso deste recurso tão importante. Porquê então? Vejamos só alguns dados sobre Moçambique: • Apenas 47% dos moçambicanos tem acesso a água potável(I); • EmTete, devido à mineração, os nossos rios estão a ser poluídos, sem controlo ou informação correcta do estado actual dos mesmos. • As comunidades rurais, particularmente as comunidades realocadas pelos projectos de mineração, têm cada vez mais dificuldades de acesso a fontes de água. • As propostas de construção de novas barragens continuam a ser prioridade para o governo, só no Rio Zambeze pretendem construir três barragens, com imensuráveis impactos negativos tanto no riquíssimo ecossistema como para as comunidades rurais na sua maioria completamente dependentes do rio para sua subsistência. • Nas províncias da Zambézia, Nampula e Niassa as plantações de árvores exóticas, como pinheiros e eucaliptos, estão a restringir ainda mais o acesso às fontes de água das comunidades, para além de alegadamente estar a contribuir para a redução da água disponível nos rios e riachos sazonais. • Na zona industrial da Matola e Machava, os rios estão a ficar poluídos devido às indústrias, e nada é feito para melhorar a situação. • A seca que se verifica no país, desde finais de 2015, colocou em risco de insegurança alimentar 176.139 pessoas , só nas províncias de Gaza (77.365 pessoas), Inhambane (75.565 pessoas), Sofala (14.006 pessoas) e Niassa (9.203 pessoas), que não estão a conseguir satisfazer as necessidades mínimas alimentares.(II) A crise climática vai piorar ainda mais a situação dos nossos rios e fontes naturais de água, e umas das projecções para Moçambique são grandes secas e cheias. Será que a ganância de construir barragens é uma simples alucinação e ignorância da nossa elite? Não é mais importante o nosso governo assegurar o acesso a água ao seu povo e proteger este bem comum para hoje amanhã e sempre? SEM ÁGUA NÃO HÁ VIDA (I)https://en.wikipedia.org/wiki/Water_supply_and_sanitation_in_Mozambique (II)https://ivairs.wordpress.com/2016/01/10/a-dura-seca-em-mocambique/
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Notícias Internacionais A triste relação entre pobreza e degradação ambiental O ranking EPI 2016, que mede o desempenho ambiental dos países, mostra a estreita relação que existe entre pobreza e degradação do meio ambiente. Feito a cada dois anos pelas Universidades de Yale e Columbia, o estudo classificou 180 países com base em 20 indicadores distribuídos por 9 categorias: critérios de saúde ambiental; poluição do ar; recursos hídricos; biodiversidade e habitat; florestas; energia e clima, entre outros. Bem distantes dos países mais verdes do mundo, na lanternina do ranking estão países muito pobres e com altos níveis de degradação de seus recursos naturais. É uma relação fácil de entender. A falta de dinheiro se reflete no baixo tratamento de resíduos, em índices humilhantes de acesso ao esgoto e água tratada, à elevada contaminação dos rios, da terra e do ar, entre outras condições de vida degradantes. Ao mesmo tempo, os problemas ambientais ajudam a piorar o quadro económico, colocando em risco muitas das atividades que sustentam as comunidades nesses países. Fenômenos extremos provocados pelas mudanças climáticas, por exemplo, levam à diminuição da água potável, da terra para agricultura e das reservas pesqueiras. É a triste e insustentável a relação entre pobreza e degradação ambiental,um ciclo vicioso que precisa de ser rompido. Fonte: http://exame.abril.com.br/mundo/noticias/os-10-paises-com-o-pior-desempenho-ambiental-de-2016#1
A diminuição do número de abelhas, borboletas e pássaros, essenciais para a polinização dos cultivos, ameaça parte da produção agrícola mundial, advertiram nesta sexta-feira especialistas que avaliam para a ONU o retrocesso da biodiversidade. “Um número crescente de polinizadores estão ameaçados de extinção, em nível mundial, devido a vários factores, muitos deles causados pelo homem, o que coloca em risco os meios de existência de milhares de pessoas e centenas de bilhões de dólares de produção agrícola”, estima este grupo de especialistas internacionais em um comunicado. A Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços dos Ecossistemas (IPBES, em inglês) chegou a esta inquietante conclusão em seu primeiro relatório, divulgado em Kuala Lumpur, e em um documento para frear uma espiral prejudicial para a alimentação das populações. Trata-se da primeira análise de tal magnitude realizada sobre o tema. Segundo a IPBES, de 5% a 8% da produção agrícola mundial, ou seja, entre 235 e 577 bilhões de dólares, são diretamente dependentes da acção dos polinizadores nas colheitas (cereais, frutas, etc). “Sem os polinizadores, muitos de nós não poderíamos consumir café, chocolate ou maçãs, entre outros alimentos de nossa vida diária”, comentou Simon Potts, vice-presidente do IPBES e professor da Universidade de Reading (Reino Unido). Existem mais de 20.000 espécies de polinizadores, sejam selvagens, como as borboletas ou os mamangabas, ou domésticos, como a abelha-europeia (Apis mellifera), que fabrica mel. De modo geral, ao menos três quartos das colheitas mundiais dependem de polinizadores para o crescimento das plantas, para o rendimento ou a qualidade, indicam estes especialistas. Diferentemente do trigo ou do arroz, a maioria das frutas e verduras, as oleoginosas e certos cereais - que constituem “fontes importantes de vitaminas e minerais” - dependem da polinização. Daí a advertência dos cientistas sobre uma “possível alta dos riscos de desnutrição”. Fonte: https://br.noticias.yahoo.com
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