JA! JUSTIร A AMBIENTAL 5 de Marรงo, 2014
Boletim # 31
Bom senso....precisase!
Este boletim de Março, está mais direccionado às mudanças climáticas, especialmente devido ao contexto do país deste o início de 2014. Começou primeiro com reuniões da sociedade civil sobre o que se poderia fazer sobre o assunto, depois foram as famosas reuniões relâmpagos dos nossos governantes, com algumas propostas de mecanismos financeiros. Com um acréscimo da temática do desenvolvimento. Mas afinal o que é? O que queremos quando pensamos no “desenvolvimento”? Porque não começar a olhar a fundo para o que hoje chamamos de desenvolvimento e que tipo de desenvolvimento!. Neste contexto, o REDD voltou a ser falado, particularmente em termos de propaganda falsa que será uma ferramenta essencial para resolver as questões climáticas. Enquanto decorria numa sala de conferências da capital o debate de como implementar o REDD em Moçambique, no Quénia as forças florestais do País, estavam a expulsar violentamente o povo nativo dos “Sengwers “, queimando as suas casas e forçandoos a abandonar o local onde viveram durante séculos. Tudo devido a um projecto REDD, que se trata de um plano de gestão de recursos naturais, que inclui o REDD, sendo o Banco Mundial o financiador por créditos de carbono assim como corretor (I). O que está a decorrer no Quénia, não é surpresa para a JA e para muitos dos nossos parceiros da rede Africana Contra o REDD (NRAN). A declaração de Maputo, assinada por vários movimentos, organizações e pessoas comuns,é bastante clara no que se refere às principais preocupações apresentadas, entre estas, “que o REDD“ e projetos do tipo REDD levam ao deslocamento de comunidades dependentes da floresta, servidão, assassinato, repressão e a outras violações dos Direitos Humanos” e que o REDD“ representa uma grande ameaça para a segurança da terra, água e alimentação em África, pois é um plano de usurpação de terra à escala continental”. Longe de nós imaginarmos que os crimes contra os direitos humanos e outros, iam ocorrer assim tão rapidamente. A seguir foi a vez dos “Mecanismos de desenvolvimento limpo”, mais uma reunião, esta até com algumas propostas do Governo Belga, e mais propaganda para as tão famosas “soluções falsas” e como sempre pouco tempo foi reservado para um diálogo ou debate justo e transparente, em que os participantes poderiam ter a oportunidade de questionar e compreender o que realmente se passa, o que querem e como. É claro há sempre alguma coisa que fica no esquecimento, porque nunca há tempo suficiente para os participantes questionarem e tirarem as suas dúvidas. Mas todos nós já estamos habituados a estas reuniões relâmpago, frustantes, que nada mais são que um processo carimbado com uma aprovação... para no fim dizerem que existiu sim a famosa “reunião pública”! Com todas estas ferramentas, que dizem ser as soluções para resolver/melhorar as questões climáticas, sejam estas os “CDM', “MDL”, “REDD” e a recente “economia verde”, não vão resolver ou solucionar nada, porque estas não são mais que negócios como qualquer outro de compra e venda. Uma solução para os problemas das mudanças climaticas como apregoam? Que louca imaginação estes seres humanos têm.
Só podemos solucionar estas questões quando chegarmos à conclusão que não podemos comprar nem vender o clima, as florestas, o ar que respiramos e a água que bebemos, são todos bens comuns e como tal um direito humano, e isso nunca se vende nem se compra é um direito adquirido por todos nós seres humanos. (I) Carta da NRAN, veja a página do NRAN: http:noreddafrica.org/ , para mais informaçào sobre REDD e o caso do povo Sengwers
O Cálvário do Cálcário em Matutuíne A mina de calcário que será desenvolvida como parte do projecto da GS CIMENTOS em Matutuíne vai custar cerca de 74 Milhões de Dólares, e prevêse que opere durante 50 anos. Durante esse período, cerca de 125 ha podem ser explorados e quando a fábrica estiver a operar em plena capacidade, esperase que sejam extraídas anualmente cerca de 810 000 toneladas de calcário. Em breve, a mina terá um poço aberto de aproximadamente 15 20 ha de extensão. A área a ser explorada anualmente será ditada pelo perfil de calcário (profundidade de calcário), cuja espessura real é variável. A população total da área da licença 4102C é de 322 pessoas nas localidades de Mudissa e Mudada, que também foi abrangida pelo projecto CifMoz. Apesar das expectativas em relação a oportunidades de trabalho e eventuais projectos de desenvolvimento serem elevadas em virtude das promessas feitas, as comunidades receiam que estas não sejam suficientes para todos. Receia se que o projecto venha apenas piorar o padrão de vida das comunidades locais, uma vez que com certeza trará consigo além de impactos ambientais (como os resultantes do uso da água do rio Maputo), problemas sociais e económicos em virtude da ocupação de áreas férteis usadas para a pratica de agricultura que é a base de subsistência da comunidade, pastagem e fonte de água potável das comunidades. De acordo com as comunidades que serão afectadas pelo projecto, o local onde serão reassentadas ainda não está claramente definido e as consultas comunitárias não estão seguir a Lei. As populações relatam que estão a ser informadas que vão ser realocadas sem que lhes seja facultada qualquer informação adicional sobre o projecto e sem que lhes seja dada a oportunidade de contestálo. E o que estão a fazer os agentes e funcionários do aparelho do Estado?
Rumo de desenvolvimento socialmente perigoso, ambientalmente displicente e tão pouco esclarecido quão transparente
É isto é que é desenvolvimento?
Há dias, numa reunião em Maputo sobre o mediático projeto de exploração e processamento de gás natural em Palma, Cabo Delgado, ouvimos o representante da Empresa Nacional de Hidrocarbonetos afirmar em jeito de apelo que todos temos um papel a desempenhar em Palma, uma vez que todos temos em comum querermos que o país se desenvolva. Certo... e errado. Certo, porque realmente todos queremos que o país se desenvolva e temos plena consciência que em prol desse dito desenvolvimento sacrifícios deverão ser feitos, mas se o sacrifício é o direito a uma vida condigna das gentes e comunidades locais, então errado.
Resumidamente, como já frisámos em outras ocasiões, a nossa noção de progresso e desenvolvimento é muito diferente da do executivo, mas não somos nem ingénuos nem tão radicais como convenientemente gostam de nos retratar, e, como já mencionamos no início deste texto, entendemos perfeitamente que por vezes sacrifícios têm de ser feitos para o bem comum, mas a nosso ver, justificar esses sacrifícios com um discurso vago sobre combate à pobreza absoluta sem explicar como, é, na melhor das hipóteses, um insulto à nossa inteligência. Essa é em nossa opinião, uma das maiores lacunas da nossa governação.
Mas e se esse sacrifício trouxer para Moçambique e para os Moçambicanos em geral enormes benefícios? Ora, se esse investimento vai realmente trazer benefícios para Moçambique e para todos os Moçambicanos, somos de opinião que aqueles afectados diretamente pelo projeto, deverão ser os primeiros a serem devidamente recompensados ao invés de meramente compensados, ou seja, deverão ser os seus principais beneficiários. Se tal não for possível e, se à imagem de outros megaprojetos implementados no país, esse desenvolvimento questionável vier apenas exasperar a pobreza daqueles que já muito pouco têm, então, não obrigado. Não vamos atirar ninguém ao vulcão para que chova prosperidade.
Qual é o plano?
Consultas comunitárias para quê?
O espelho do quão perigoso é o rumo de desenvolvimento a que estamos a ser conduzidos hoje (dizemos rumo e não plano porque não acreditamos que haja plano algum) é o modo como o papel da consulta comunitária foi subvertido pelo sistema. Os processos de consulta comunitária, como hoje existem, não passam de mera formalidade, de exercícios burocráticos “para inglês ver”, que apesar de criados para salvaguardar os direitos e interesses das comunidades, quando realmente decorrem não são mais do que reuniões de carácter propagandista que têm lugar em mesas invariavelmente inclinadas pelo “peso” do estado, para o lado errado. São prática informativa que serve apenas para validar a ideia de que as comunidades concordaram com um projeto cujas eventuais consequências e repercussões, bem como os potenciais benefícios que deste poderiam e/ou deveriam exigir, na larga maioria das vezes não entendem. Desconhecedoras dos seus direitos e desprovidas de um apoio e aconselhamento que, no mínimo, deveria isento, por parte de um governo, que a bem da verdade se diga, aparenta estar mais interessado em facturar do que em zelar pelos interesses e pelo futuro de Moçambique e dos Moçambicanos, as comunidades acabam por ser presas fáceis.
“É para fazer o quê então? Sentar em cima da nossa riqueza e continuar a passar fome?”
Bem, estaríamos a mentir se disséssemos que não nos agradaria que o país mudasse as suas políticas de investimento. Que deixássemos de investir em extrativismo e mineração, abandonássemos a ideia de construir barragens e centrais termoeléctricas para alimentar essas indústrias, que potencializássemos a agricultura com os camponeses em mente, sem agronegócios, monoculturas e agrotóxicos, que não permitíssemos que a indústria madeireira delapidasse as nossas florestas selvaticamente, enfim...
Se o nosso governo nos prometesse uma resposta cabal e franca a uma pergunta apenas, essa pergunta seria: Qual é o plano traçado para o país a longo prazo? Nós não conseguimos descortinálo... Daqui a 3540 anos, quando acabar o carvão, o gás natural, o petróleo, a madeira, o agronegócio e suas ferramentas tiverem debilitado severamente a fertilidade dos nossos solos e a nossa fauna e flora tiver sido significativamente debelada por todo este aparelho, de que nos servirá a infraestrutura criada para atender essas indústrias e toda a rede de serviços orientada para suprir as necessidades dessas companhias e respectiva mão de obra? O que está a ser feito para garantir que cidades como Tete e Nacala não se transformarão em elefantes brancos, cidades fantasmas, desertas e abandonadas à imagem das muitas que mundo a fora ficaram órfãs do desenvolvimento de outrora? Estamos a pensar nisso? O que estamos a fazer pelo futuro do turismo nacional?
Pelos milhares de operadores turísticos do país que hoje, face à conjuntura políticomilitar, estão “às moscas” e a fechar portas? Estamos a concederlhes incentivos e isenções fiscais para que sobrevivam? Além das largas parcelas de terra que estamos a conceder a corporações estrangeiras (invariavelmente à custa da deslocação coerciva de milhares de Moçambicanos) para que nelas se produza milho, soja e arroz para exportação, o que estamos a fazer para aumentar significativamente a produção alimentar de Moçambique? “Só quando a última árvore for derrubada, o último peixe for morto e o último rio poluído é que o homem perceberá que o dinheiro não se come.” Indios Cree “Em Moçambique, dados revelados pelo Ministério da Agricultura indicam que uma em cada duas crianças de idades compreendidas entre zero a cinco anos sofre de desnutrição crónica, fazendo quase 50 por cento de crianças afectadas. O número total das pessoas que passam fome, ainda de acordo com José Pacheco, é de cerca de 300 mil, grande parte destas nas zonas rurais". Leia mais na edição impressa do «Jornal O País» .....e só estamos a falar de desnutrição
Persistem as Dúvidas sobre a Implementação do REDD+ em Moçambique Tendo em conta os problemas que o REDD tem criado em alguns países da África e da América Latina, e embora o decreto REDD+ tenha sido aprovado a 27 de Agosto de 2013 pelo Conselho de Ministros, persistem ainda as incertezas de como este mecanismo deve ser implementado em Moçambique. Foi neste âmbito que no dia 23 de Fevereiro do ano corrente, a Justiça Ambiental foi convidada a fazer parte de um workshop, que teve lugar no hotel Girassol Indy Village, organizado pelo Institute of Development Studies (IDS), Natural Resource Institute (NRI) e a Universidade Eduardo Mondlane (Departamento de Engenharia Florestal). Segundo os organizadores, o workshop foi organizado com o objectivo de partilhar informações e fazer uma análise das perspectivas do REDD+ no país, identificando junto com os participantes as condições reais em que o Carbono Florestal poderá contribuir para o desenvolvimento e adaptação às mudanças climáticas. Este mecanismo (REDD+) foi proposto pelos países industrializados e altamente poluidores, como uma solução válida para responder aos impactos das mudanças climáticas causados maioritariamente pela emissão de gases de efeito de estufa para atmosfera. O REDD permite que esses países, ao invés de reduzirem os seus níveis de emissões, os mantenham em troca de alegados sequestros de carbono florestal que obtêm através da adesão dissimulada a estes projectos de suposta protecção florestal através da preservação das florestas nativas e do estabelecimento de plantações florestais em países tropicais em via de desenvolvimento. Para a Justiça Ambiental este mecanismo não serve. Para além de ser claramente uma falsa solução à adaptação às mudanças climáticas, visto que em outras palavras os países desenvolvidos compram o direito de CONTINUAREM A POLUIR, constitui uma ameaça à autonomia das comunidades rurais que têm a floresta e a terra como os principais meios de sobrevivência e de geração de renda. Em resultado, a essas comunidades poderá ser restrito o acesso aos recursos florestais dos quais dependem, e podem ser privadas do direito ao uso e aproveitamento de terra para produção de comida em troca de ordenados míseros e injustos que não compensam o custo de prescindir da prática de agricultura de subsistência familiar, como outrora foi reportado no caso do projecto N’hambita, um dos projectos piloto de crédito de carbono na província de Sofala. Ainda que por precipitação o governo já tenha aprovado o decreto REDD+, este mecanismo carece ainda de uma discussão ampla e inclusiva por parte dos vários actores da sociedade, especialmente pelas comunidades rurais. É imperativa a necessidade de estas serem consultadas e bem esclarecidas sobre como este mecanismo pretende funcionar e sobre os reais impactos que este poderá ter sobre as suas vidas em todos os sentidos, sob pena de verem as suas terras usurpadas e se tornarem mãodeobra barata para trabalhos pesados ao serviço dos interesses dos países do ocidente e em nome da protecção do planeta. No futuro, antes que se aprove qualquer decreto ou lei, é importante que o Governo de Moçambique investigue e aprenda com as experiências dos outros países, que envolva de forma aberta, transparente e ampla os vários sectores nesta discussão e que essas experiências sirvam de lição para que não sejam cometidos os mesmos erros.
Mais uma acusação contra a Vale dos Oleiros e da Comunidade do Bairro de Bagamoyo Na Comunidade do Bairro de Bagamoyo em Moatize, Tete, foram soterrados 28 fornos de fabrico de blocos pela Empresa Vale Moçambique. Nesta operação foram utilizadas máquinas pesadas da Empresa para dar lugar à construção de um muro de vedação, mesmo após a Empresa receber ordens para interromper temporariamente as suas actividades, esta desobedeceu!
Esta acção que se iniciou no dia 20 de Dezembro de 2013 continuou até ao dia 08 de Janeiro de 2014.
Vendose prejudicados e violados os seus direitos, os Oleiros da Comunidade do Bairro de Bagamoyo apresentaram queixa ao Chefe das Operações em Serviço no Comando Distrital da PRM de Moatize, onde foi solicitada a comparência de um responsável da Empresa, mas infelizmente ninguém apareceu e só no dia 21 de Janeiro de 2014, na sala de sessões, pelas 15 horas e 05 minutos é que um representante da Empresa Vale esteve presente e foi possível então realizar finalmente um encontro entre o Governo Distrital de Moatize, a Empresa Vale Mocambique e a Comissão da Comunidade do Bairro Bagamoyo e os seus respectivos líderes, de modo a tentar ultrapassar os conflitos entre as partes envolvidas. Foram ouvidas várias queixas dos oleiros e da restante Comunidade do Bairro de Bagamoyo, onde acusam a empresa Vale de destruição dos seus meios de subsistência com a destruição das suas culturas, pomares e fornos de fabrico de tijolos.
Há claramente falta de entendimento entre a Comunidade do Bairro de Bagamoyo e os representantes da Vale Moçambique, os representantes da Comunidade falam em 28 fornos destruidos e ainda uma quantidade não especificada de tijolos para além das machambas e pomares, a Vale Moçambique afirma não ter soterrado nem destruido nenhum forno, o representante da PRM confirma a existência de fornos e a sua destruição pela Vale Moçambique mas não sabe especificar quantos.
Segundo a Administradora, a Empresa deverá continuar a desenvolver as suas actividades enquanto prosseguem as averiguações e ambas as partes envolvidas serão comunicadas para tomarem conhecimento da situação caso haja a necessidade de indemnização da parte da Empresa Vale à Comunidade. E assim, vai se empurrando indefinidamente o processo, desconsiderando completamente o facto de estes fornos, estes tijolos, estas machambas e pomares serem as únicas fontes de rendimento desta comunidade enquanto decorrem as ditas averiguações como irá viver esta comunidade? A Vale Moçambique tem se comportado vergonhosamente perante as comunidades locais à tempo demais. A Comunidade do Bairro de Bagamoyo continua à espera que haja justiça e que seus direitos sejam defendidos e respeitados. Até à data nada ficou resolvido!
Os Mecanismos de Desenvolvimento Sujo e As Acções de Mitigação Nacionalmente (In)apropriadas Os impactos das mudanças climáticas (MC) no planeta tem estado a piorar de duma forma alarmante, constituindo uma ameaça à nossa própria sobrevivência. É necessário uma diminuição urgente nas emissões e como tal a poluição antes que seja tarde demais. Simples quanto isso. Mas, ironicamente, criamse supostas soluções para as (MC) e a salvação do planeta, pelas mesmas corporações que foram as causadoras da situaçào actual. Os líderes mundiais, em particular os dos países industrializados estão cada vez mais preocupados em fazer dinheiro do que resolver os problemas da crise climática que assola e afecta todo o mundo. Esses mesmos, tem concentrado mais esforços no desenvolvimento de soluções falsas baseadas no mercado, comodificando desta forma a natureza. As Nações Unidas, o Banco Mundial, a Indústria, as Multinacionais, os Governos e algumas Organizações Não Governamentais, são os principais actores na promoção desta fraude climática, visto por muitos como crimes contra a humanidade e o planeta. Algumas dessas falsas soluções são os famosos Mercados de Carbono (Crédito de Carbono), os MDL Mecanismos de Desenvolvimento Limpo, o REDD Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação, etc... Estas e muitas outras soluções falsas, constituem uma tragédia para o meio ambiente, contribuindo apenas para o constante aumento das emissões e permitindo que os poluidores continuem a poluir. Neste âmbito, realizouse no dia 18 de Fevereiro do corrente ano, em Maputo, um workshop sobre o Financiamento Climático em Moçambique, organizado pelo MICOA em parceria com o Ministério Federal Belga do Ambiente, e segundo os objectivos do encontro, visava a identificação e priorização de acções de mitigação e intervenções apropriadas para o país, as famosas NAMAs, nos sectores dos resíduos municipais e produção do carvão vegetal.
Estiveram presentes no evento, representantes do Governo Moçambicano e Belga, sector privado, organizações da sociedade civil, ONGs, representantes das Nações Unidas e consultores. Estranhamente, mas já não surpreendente em eventos desta natureza, o espaço de questionamento e debate aqui foi quase que inexistente. Para além de para muitos ali presentes não ter ficado claro o assunto e o seu processo, o tempo disponibilizado para esclarecimento, perguntas e respostas foi também bastante limitado, tendo sido sugerido que se usasse o período de intervalo para mais esclarecimento. Ou seja, podiase usar os espaços informais como os intervalos de café para podermos esclarecer e ou questionar junto dos intervenientes e apresentadores. Um processo não transparente, o que mostra que certamente não devem haver coisas muito boas por de traz das iniciativas promovidas. Na verdade, o evento mostrou ser apenas uma promoção dos ditos Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL), que têm sido visto como um dos mecanismos de flexibilização criados pelo Protocolo de Quioto. Segundo os seus promotores os MDL servem para auxiliar o processo de redução de emissões de gases de efeito de estufa ou de captura de carbono (sequestro de carbono) por parte dos países industrializados, prestando assistência à Convenção Quadro das Nações Unidas sobre MC, para que viabilizem o desenvolvimento sustentável através de implementação de projectos, de modo a que estes países industrializados cumpram seus compromissos quantificados de limitação e redução de emissões de gases de efeito estufa. Na verdade, de limpo e sustentável, estes mecanismos não têm nada! Tratase apenas de mais uma falsa solução para os problemas climáticos que temos enfrentado com tendências a agravar, isto porque os poluidores não mostram quaisquer sinais e nem intenção alguma de mudar de atitude em relação ao seus modos e meios de produção.
Ao agirem assim, os países em desenvolvimento são sujeitos a implementar projectos que consideram que vão contribuir para a sustentabilidade e que apresentam uma redução ou captura de emissões de gases causadores do efeito estufa, obtendo como resultado as chamadas Reduções Certificadas de Emissões emitidos pelo Conselho Executivo do MDL. Certificados estes, que os permitem continuar a poluir à custa dos povos nos países do Sul ou considerados de baixarenda, esses tais certificados e sua aquisição são negociados no mercado internacional. Este encontro, fez parte de vários realizados em vários países considerados do Sul ou de baixarenda com o objectivo central de promover os MDL a nível do continente, considerado pelas Nações Unidas como sendo o mais avançado mecanismo de financiamento climático, com mais de 7.000 projectos a nível Mundial. 2.3% destes projectos estão a ser implementados em África, estando a China, Índia e o Brasil a liderarem a lista da alocação deste financiamento. Em Moçambique, iniciativas relacionadas às mudanças climáticas tem estado a ser bastante promovidas, como os MDLs que foi bastante promovidos neste encontro, pelo Governo Belga e as NU, e ainda segundo estes, existem mais de um bilhão de dólares americanos só no mercado de carbono, estando a Europa até ao momento com mais de 12.000 fábricas envolvidas neste mercado. Sendo que, a Bélgica comprou entre 2008 e 2012, 12.2 milhões de créditos de carbono e pretendem continuar com as negociações para aquisição de mais créditos pelo menos até 2020.
Moçambique, já se encontra na mesa de debate sobre o MDL, e neste momento o processo encontrase à espera da sua aprovação. O projecto da Green Resource, já é um dos projectos que fazem parte do dito mecanismo de desenvolvimento limpo. Um exemplo claro que mostra o quanto o mecanismo tem muito pouco de limpo. Pois, na zonas de implementação deste projecto, já se tem feito sentir os vários impactos negativos, tais como a privatização de recursos, o desenvolvimento de monoculturas, violação dos direitos laborais, perda e usurpação de terras das comunidades locais e desaparecimento das plantas indígenas em redor das suas plantações. Na nossa forma de ver, este tipo de iniciativa, surge como uma imposição para os países considerados em vias de desenvolvimento como Moçambique. Até porque em parte, isto é devido às fragilidades que o próprio governo tem, sem deixar de lado os vários conflitos de interesse pessoais e público. Até porque uma das coisas que é facilmente notável no discurso dos governantes, é exactamente a fonte do dinheiro para financiar certos programas do governo, independentemente da credibilidade da fonte e as verdadeiras intenções do financiador. Neste caso em particular, para o governo é mais importante ser abrangido por este financiamento climático, independentemente das consequências dos projectos a serem desenvolvidos no país.
Apesar de já existirem exemplos de projectos falhados e que só colocam Moçambique ainda mais vulnerável às mudanças climáticas, ignorando completamente o facto de que com base em vários estudos, Moçambique está na lista dos países mais vulneráveis e a serem mais afectados pelas MC. Assim sendo, disfarçado de "solução" para a crise das MC, o MDL está agora a criar mais injustiça acima das várias injustiças já existentes. Pois, o MDL subsidia actividades bastante perigosas, com fins lucrativos, dando dessa forma cada vez mais vantagens e benefícios às empresas multinacionais, que são baseadas principalmente na Europa e nos EUA. Por sua vez, estas mesmas empresas poderão continuar a poluir além dos limites estabelecidos pelos políticos, especialmente na Europa, porque a UE Trading Scheme (ETS) perdoa o aumento da poluição no Norte, desde que seja compensado por projectos duvidosos e até sujos no Sul, especialmente na China, Índia, Brasil e México. Ou por outra, o proprietário de um grande veículo de poluentes na Europa pode pagar a um país Africano para não poluir, de alguma forma, para que o proprietário do veículo poluidor na Europa seja autorizado a continuar poluindo!! Na teoria, este processo é visto como se os países em desenvolvimento estivessem com isso, beneficiando de projectos de energia sustentável.
No fundo, o MDL, em vez de fornecer um fluxo adequado de financiamento climático para projectos relacionados com a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas, serve para beneficiar as grandes corporações e os governos que estas influenciam e controlam e em vez de resolverem os verdadeiros problemas climáticos que afectam a todos nós, vào é agravar ainda mais os problemas já existentes. É importante e necessário que o nosso Governo tenha muita cautela ao enveredar por estes caminhos, porque o processo actual, de aprovação em Moçambique para o MDL e o processo do governo para as NAMAs (Acções de Mitigação Nacionalmente Apropriadas), podem resultar em ainda mais problemas climáticos para Moçambique, África e o Mundo como um todo, pois em nada contribuem para a redução de emissões de gases de efeito estufa pelos grandes poluidores. Irá colocar o povo Moçambicano cada vez mais vulnerável e com menos poder sobre os seus recursos, tornandonos assim cada vez mais dependentes dos países do Norte e os grandes poluidores como a Europa e Estados Unidos.
"Só quando a última árvore for derrubada, o último peixe for morto e o último rio for poluído é que o homem perceberá que o dinheiro não se come." Poverbio dos Indios Cree JA! JUSTIÇA AMBIENTAL AV: MaoTséTung n°: 549,1°Dto. Maputo, Tel: 21496668 Mais informação na nossa pagina: Inglês: http://www.ja4change.org/index.php/en/ ; Português: http://www.ja4change.org/index.php/pt/ No nosso Blog: Inglês:https://ja4change.wordpress.com ; Português:http://justicaambiental.wordpress.com Conselho Editor: Anabela Lemos, Daniel Ribeiro, Janice Lemos, Vanessa Cabanelas e Ruben Manna Layout: Ticha