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Pano para Mangas Margarida Vargues

PANO PARA MANGAS

Margarida Vargues

Já que estamos na silly season sejamos, então silly - assim mesmo, em inglês, que não soa tão rude como um “parvo” ou eufemístico como um “tonto”, em português.

Hoje dei comigo a pensar sobre a vida pré e pós whatsapp. Não que o pós implique o seu desaparecimento, porque ele por aqui anda - para o bem e para o mal em proporções quase iguais.

As conversas a dois não têm que causar qualquer confrangimento. Se se quer responder, respondese. Se não se quer responder, não se responde. Se apetece enviar qualquer coisa só porque nos lembrámos de alguém do outro lado, fantástico. Se não apetece também está tudo bem. Se se quiser

ESTAR OU NÃO ESTAR

-DEIXA DE SER QUESTÃO-

desaparecer, da mesma forma se desaparece - dãolhe o nome de ghosting, mas agora há designações para tudo e mais alguma coisa… Sem cobrança, de preferência.

Isto é algo que vem dos tempos do telefone com fio, em que podíamos discar o número e, do outro lado, se atendia, ou não. Voltávamos a ligar. Ninguém atendia. Paciência. A vida continuava. Afinal, não chegávamos a saber quem tinha ligado. Era uma espécie de anonimato. E se quiséssemos encontrar quem quer que fosse sabíamos onde ir, como chegar, onde estar. Havia - e há - sempre como alcançar o outro. Quem é do tempo do Henrique Mendes e do seu Ponto de Encontro? Corria-se Seca e Meca para chegar a quem quer que fosse.

Depois, há os grupos de whatsapp que são como cogumelos indesejados num canteiro de peônias. Quando se dá por isso já estamos em mais um: o grupo dos pais da turma do mais velho, o grupo dos pais da turma do mais novo, o grupo dos pais do futebol, o grupo dos pais do ballet, o grupo dos professores, o grupo do ioga, o grupo da meditação, o grupo das caminhadas, o grupo dos colegas da universidade, o grupo do aniversário da X, o grupo do presente de aniversário do Y, o grupo dos amigos das férias na neve, o grupo da viagem ao fim do mundo, o grupo…

Paralelamente, surgem outros grupos com mais ou menos os mesmos elementos dos anteriores, mas diferentes, pois há “assuntos” que só podem ser tratados em “privado”.

Conseguem ser uma verdadeira dor de cabeça na correria do dia a dia, onde a disponibilidade não é grande e onde dois pequenos riscos azuis, ainda que não sendo da censura, representam uma espécie de ditadura do estar sempre presente.

Até há bem pouco tempo era impossível - falha do sistema, ou não - livrarmo-nos desta praga sem que os demais dessem por isso. Sempre que saía alguém de um destes aglomerados de pessoas com algo em comum lá aparecia, em final de conversa, “a pessoa X abandonou o grupo”, deixando os restantes membros intrigados, zangados, a cortar na casaca do desertor.

Que vergonha! Não quero que fiquem a falar mal de mim!

A única solução, até há pouco, passava por silenciar as notificações, e assim a tão importante conversa era reduzida a cinzas, que é como quem diz, ficava no fim da linha, esquecida, até que surgisse um momento de tédio ou curiosidade mórbida ao jeito de “deixa lá ver o que se passa ali”. Dependendo da dinâmica são necessários vários momentos de tédio para apanhar o fio à meada, o que leva, mais uma vez, a que o “esquecimento” fale mais alto.

A escravatura chegou ao fim, aparentemente, no dia 9 de Agosto! Após um período de testes, a plataforma ouviu - de certeza que ouviu, embora todos neguem a pés juntos ouvir as nossas conversas e ler os nossos pensamentos - as pragas juradas por milhares de utilizadores e estendeu o poder da invisibilidade a (quase) toda a comunidade. Dito assim, soa a seita do demónio!!! Estava quase lá…

Até nos podem incluir em mais mil grupos de whatsapp que já é possível uma saída (mais uma vez, “quase”) à francesa - como se faz nas festas que começam a ser demasiado pesadas - sem que ninguém dê por isso, a não ser o anfitrião

É, ou não, uma das melhores notícias desta silly season, já de janela aberta para Setembro e, consequentemente, uma nova avalanche de whatsapp? Como? Instruções aqui!

E porquê o “quase”? Porque há alguém que fica a saber da saída. A sério? Mas quem? Os administradores dos grupos!!!

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