Revista Perfil Ed. 02

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Foto: Antonio Olmos

Nº2 • FEV 2016 | R$10

MALALA YOUSAFZAI A paquistanesa que conquistou o Prêmio Nobel da Paz com apenas 17 anos

arte

cinema

Música

moda

Ciência e interatividade no Museu do Amanhã

O sucesso de Star Wars VII - O despertar da força

Entrevista com a banda Café Pequeno

O vintage invadiu o guarda-roupa



REPRESENTATIVIDADE IMPORTA


EDITORIAL

O AMANHÃ É HOJE O Museu do Amanhã foi inaugurado em dezembro de 2015 no Rio de Janeiro e uma das propostas é a de trazer discussões sobre as ações do homem e suas consequências para a natureza, agora e no futuro. Depois de cinco anos de obras, os participantes do projeto puderam dizer, finalmente, que o Amanhã chegou. Desenvolvimento e inovação foram levados a uma área da cidade carregada de história e de cultura, mas que precisava ganhar mais atenção da população e do poder público. O progresso chega, mesmo aos locais mais afastados. O nosso município é exemplo claro disso: moradores que vieram para Teixeira de Freitas há 40 anos podem relatar que os carros aqui podiam ser contados nos dedos, a energia elétrica era desligada às 21h e a infraestrutura precária. Hoje, temos uma estimativa de 157 mil habitantes, universidades estadual e federal, outras particulares, além de grande frota de veículos. Talvez, os primeiros moradores não imaginavam que o cenário mudaria tão rápido. O mundo alcançou grandes conquistas, a rapidez na informação, a tecnologia, medicamentos para diversas doenças e alternativas para tornar o dia a dia mais confortável. Conseguimos avanços também em nossos direitos, mesmo quando se trata das minorias. Estamos em 2016 e nós, mulheres, podemos estudar, votar, trabalhar fora de casa, escolher com quem vamos nos casar e se teremos ou não filhos. Apesar disso, nosso amanhã ainda não chegou por completo e, por isso, temos continuado lutando. Contra o machismo, que julga nosso caráter pelas roupas que usamos, que associa o feminino às tarefas domésticas e ao cuidado dos filhos, que nos subjuga e objetifica, que nos olha como se merecêssemos receber um salário menor por um trabalho igual ao de um homem. Metade da população no Brasil é negra, mas, os negros ainda são considerados minoria, assim como as mulheres. Isso porque a escravidão acabou, entretanto, o preconceito racial, infelizmente, é muito vivo. Vemos poucos negros 4

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em cargos de liderança, nas universidades públicas e particulares, em papeis de protagonistas em novelas e filmes e em campanhas publicitárias. A cor continua marginalizada e inferiorizada, um problema evidenciado pela campanha #seráqueéracismo nas redes sociais. Podem tentar argumentar jogando nomes de nível global na conversa, como Barack Obama, que ocupa um dos cargos mais importantes do mundo, Finn (o ator John Boyega), um dos protagonistas de Star Wars VII: O Despertar da Força, e Viola Davis, protagonista da série How To Get Away With Murder, vencedora do Emmy. Mas, enquanto esses casos forem a exceção, ainda precisaremos lutar por esse amanhã. Essa exceção é reafirmada com a falta de indicações de pessoas negras ao Oscar 2016, fato que aconteceu pelo segundo ano seguido. 20 pessoas foram indicadas por sua atuação e todas elas são brancas. Isso levou à criação da hashtag #OscarAindaMuitoBranco. Antes do anúncio, eram cotados nomes como Will Smith (“Um homem entre gigantes”), Michael B. Jordan (“Creed: nascido para lutar”), Idris Elba (“Beasts of no nation”) e Samuel L. Jackson (“Os oito odiados”). O diretor Spike Lee já anunciou que não vai comparecer à premiação, uma forma de protesto e luta. Nada do que conquistamos no mundo foi gratuitamente, exigiu muito estudo, esforço, paciência, dedicação e quebra de estruturas para chegar ao ponto em que estamos. E o que ainda precisa ser conquistado requer os mesmos ingredientes. Como citamos em nossa matéria de capa, quando Malala reflete sobre ser ou não feminista, “se não eu, quem?, se não agora, quando?”. O momento de fazer grandes transformações para as futuras gerações é esse e os protagonistas dessa revolução somos nós. Por isso, mesmo ainda batalhando, o nosso amanhã também é hoje.

yara lopes, diretora de redação DA REVISTA PERFIL


EXPEDIENTE

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SUMÁRIO

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08

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CAPA

turismo

As conquistas da ativista paquistanesa Malala Yousafzai

O carnaval em diferentes regiões do Brasil

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coluna eventos

turismo

Dicas para um evento de sucesso

Checklist para viagem internacional

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música

música

Entrevista com a banda Café Pequeno

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6

31

Cantor, produtor e ator David Bowie morre aos 69 anos

32

música

Coluna saúde

arte

Astro do rock Elvis Presley completaria 81 anos de vida

Pela gota d’água

Museu do Amanhã combina ciência e interatividade

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SUMÁRIO

38

44

46

coluna educação

coluna direito

Maravilhosa escola nova

Democracia e minorias

52

coluna comportamento

54

Pelo direito de se sentir triste

cinema

cinema

Morre o ator Alan Rickman aos 69 anos

Público aprova novos protagonistas de Star Wars VII

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57

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coluna literatura

eventos

esporte

O novo Acordo Ortográfico

Diversidade marca o primeiro Texas Moto Rock

A trajetória de Dennys “A Máquina”

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74

70

coluna direito

tv

beleza

Atenção à lista de materiais escolares

Programas musicais conquistam o Brasil

Makes de verão para dia e noite

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80

82

moda

moda

gastronomia

O vintage invadiu o guarda-roupa

Peças de moda praia indispensáveis para esse verão

Comidinhas leves para o verão REVISTA PERFIL

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TURISMO

CARNAVAL DE NORTE A SUL DO BRASIL

A festa tradicional tem diferentes facetas de acordo com a região do país onde é comemorada, mas, a alegria é intensa em todas elas Por Camilla Rissi

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TURISMO “O ano só começa depois do carnaval”. Essa máxima brasileira pode até ser um pouco exagerada, mas traduz a importância que essa celebração tem para a cultura do país. No calendário, sábado, domingo, segunda e terça são reservados para a folia, no entanto, as festas sempre começam semanas antes e terminam depois desses quatro dias. Considerado um dos festejos populares mais animados do mundo e o mais esperado pelos brasileiros, chegou aqui por volta do século XVII, originado do Entrudo, festividade portuguesa na qual se realizavam jogos e brincadeiras de rua como forma de entretenimento popular. Sob influência das festas carnavalescas comemoradas na Europa, como França e Itália, onde a comemoração era baseada em desfiles urbanos, máscaras e fantasias, a folia foi ganhando sua identidade brasileira, foram nascendo os primeiros blocos de carnaval, onde as pessoas se

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CARNAVAL PELO BRASIL Ao se popularizar pelo Brasil, a festa ganhou uma cara nova em cada região. Começaram a se formar as escolas de samba, a nascer os grandes blocos tradicionais e, assim, o carnaval brasileiro tornou-se a maior festa do país, famosa em todo o mundo, atraindo milhões de turistas todos os anos. As opções para os foliões são muitas, desde os desfiles suntuosos das escolas de samba do Rio e de São Paulo ao carnaval regado de axé na Bahia. Conheça as principais comemorações espalhadas pelo país:

RIO DE JANEIRO Há quem diga que o carnaval carioca dura o ano todo, porque assim que a festa acaba, começam as preparações dos carros alegóricos e fantasias que brilharão na Sapucaí nos desfiles luxuosos das escolas de samba no ano seguinte. Em setembro, a festa já começa com os ensaios nas quadras das escolas e, em dezembro, a cidade se agita com os ensaios de rua e os técnicos, que levam milhares de pessoas aos sambódromos todos os fins de semana. O ápice do carnaval acontece durante os dias da festa, nos quais são realizados os desfiles oficiais, um show que atrai olhares de todo o mundo, contando histórias encantadoras, sejam lendárias, ou, sobre temas de nosso cotidiano. Os blocos de rua também atraem muitos foliões, desde os maiores e tradicionais Banda de Ipanema e Cordão da Bola Preta, até alguns menores e mais tranquilos, como Volta, Alice e Bloco pra Iaiá. Foto: Silvia Tereza

RJ - MARQUÊS DE SAPUCAÍ

fantasiavam e desfilavam em grupo pelas ruas com seus carros enfeitados, o que acabou dando origem aos carros alegóricos. Porém, o carnaval que conhecemos começou a nascer no século XX, junto com as marchinhas carnavalescas e o samba.


TURISMO Foto: José Cordeiro

SÃO PAULO

SP - ÁGUIA DE OURO

O carnaval de São Paulo é semelhante ao do Rio, e tem ganhado cada vez mais força, atraindo mais foliões, fazendo com que os blocos tradicionais retomem vida. Os desfiles das escolas de samba são realizados no Sambódromo Anhembi, numa passarela projetada por Oscar Niemeyer. Os desfiles dos grupos especiais de acesso acontecem na sexta e no sábado, evitando conflitos com os desfiles cariocas, que são realizados no domingo e na segunda.

RECIFE Foto: Decolar

Recife é dona do maior bloco carnavalesco do mundo, o Galo da Madrugada, recorde devidamente registrado no Guinness Book, chegando a reunir um milhão e meio de foliões ao som de muito frevo, seguindo o poderoso e imponente Galo de 27 metros, pesando mais de duas toneladas. Há quem prefira os mais de 30 trios elétricos que desfilam agitando pelas ruas da cidade ou os palcos distribuídos com apresentações musicais.

RECIFE

OLINDA O frevo também é protagonista nas festas de carnaval de Olinda, junto ao som do maracatu. No carnaval mais Foto: Decolar

OURO PRETO

folclórico do país há dezenas de blocos desfilando pela cidade, contando com a presença dos tradicionais bonecos de Olinda, gigantes em meio aos foliões, vestidos com as mais diversas fantasias, proporcionando um carnaval inesquecível a quem participa.

OURO PRETO Cidade histórica de Minas Gerais, tomada pelo público universitário, Ouro Preto possui um dos carnavais de rua mais famosos do país. Contando com a influência baiana, os mineiros celebram REVISTA PERFIL

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TURISMO Foto: Porto Seguro Tour

PORTO SEGURO

para todos os públicos, com programações descentralizadas como o Palco do Rock, Villa Infantil e o Carnaval dos Bairros, que acontece em Cajazeiras, Periperi, Plataforma, Pau da Lima e em outras regiões.

CARNAVAL NA REGIÃO Assim como em Salvador, o restante da Bahia costuma comemorar o carnaval com trios elétricos, muito agito e alegria. E o extremo sul baiano não fica de fora da folia. Entre as festas mais populares da região estão: o carnaval ao som de axé, em blocos, na maior parte, organizados pelos próprios estudantes das repúblicas da cidade. Além dos blocos, existem várias apresentações de bandas locais e artistas do cenário nacional em pontos descentralizados da cidade.

MANAUS Em Manaus, a junção do folclore local do Boi-bumbá com o carnaval originou o Carnaboi, o que fez com que o carnaval amazonense se tornasse famoso em todo o país. Nesse período, o carnaval reúne duas tradicionais agremiações rivais nas festas de Boi-bumbá, Garantido e Caprichoso, que deixam a inimizade de lado pra aproveitarem juntos o Carnaboi.

Mais uma recordista na nossa lista de carnavais mais badalados do país, Salvador detém o título de maior festa de carnaval do mundo, segundo o Guinness Book, batendo recorde com 2.700.000 foliões em seis dias de festa. Entretanto, semanas antes das comemorações oficiais, a cidade já começa a se agitar, arrastando multidões de todos os lugares do mundo. A folia 12

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Outra tradição de Salvador são os blocos afros e afoxés como Ilê Ayiê, Filhos de Gandhy, Olodum, Bankoma e o Muzenza, que resgatam a herança africana durante o carnaval, festejando com roupas características as cores dos orixás, cantigas e tambores e, no carnaval de 2016, ganha um circuito exclusivo, o Afródromo. No carnaval de Salvador, há festa

SALVADOR - FAROL DA BARRA

PORTO SEGURO A cidade do Sul da Bahia também é disputada por milhares de turistas de todo o Brasil e atrai até visitantes de outros países. Os grandes destaques são para os shows de artistas famosos que acontecem ao longo dos dias, os trios elétricos são sucesso garantido. Os foliões podem escolher curtir os dias de festa na Passarela do Álcool ponto mais popular da cidade à noite, onde ficam os melhores bares e restaurantes -, o Carnaporto na Arena Axé Moi - que em 2016 trouxe Cláudia Leitte, Michel Teló, Bell, Saulo, Tomate, Monobloco, Psirico, Jamil e Eva -, ou, os blocos de rua que oferecem uma alternativa mais tradicional e cultural. Cerca de 40 blocos vão às ruas em todo o município, dando continuidaFoto: Decolar

CARNAVAL NA BAHIA SALVADOR

acontece em três principais circuitos: Dodô (Barra/Ondina), Osmar (Campo Grande/Avenida Sete) e Batatinha (Centro Histórico). Para dar conta do recado, artistas consagrados como Ivete Sangalo, Cláudia Leitte, Daniela Mercury, Bell Marques, Timbalada, Durval Lelys, entre outros, comandam a festa em diferentes blocos.


TURISMO de à tradição de vestir fantasias bem coloridas e fazer muitas brincadeiras. Uma opção interessante para quem quer curtir a festa em família.

CARAVELAS O carnaval de rua mais famoso da região, Caravelas chama atenção pela tradição com seus blocos culturais, as marchinhas e as escolas de samba. As ruas que integram o circuito de carnaval, Barão do Rio Branco, Sete de Setembro, além das praças 15 de Novembro, Santo Antônio e Teófilo Otoni serem devidamente ornamentadas para receber os foliões que curtem os trios e desfiles das escolas de samba Coroa Imperial e a Irmãos Portela, com direito a samba enredo e carros alegóricos. O encerramento fica por conta do tradicional banho de cheiro, que acontece na

Eutrepsemia, Pirão Mania, Sapo Bala, Kero BB e TôaToa. Para não ficar de fora da folia, basta escolher um dos blocos, ou, vários, garantir seu abadá e pular atrás do trio. Quem está de carro costuma tirar um dia para conhecer também a Costa Dourada, famosa pelas falésias coloridas que chegam a medir 15 metros de altura.

PRADO

MUCURI Na época do carnaval, Mucuri tornase um dos principais destinos no Extremo Sul da Bahia. A festança conta com palcos montados à beiramar, trios elétricos e vários blocos que já se tornaram tradição na cidade. Entre os mais famosos blocos que comandam a diversão estão Peroá, Foto: Orionauta

CARAVELAS

Quarta-Feira de Cinzas, às 6h da manhã. Na ocasião, um caminhão pipa joga água perfumada com essência aromática nos foliões, fechando o carnaval com chave de ouro. Para quem não conhece a cidade, esses quatro dias sempre aparecem como uma excelente oportunidade de passear pelo centro histórico, aproveitando a arquitetura mais antiga, e até esticar a viagem para um passeio em Abrolhos.

As comemorações de carnaval em Prado começam na sexta-feira à noite, contando com variadas atrações para todos os tipos de público. Na praça Redonda acontecem bailes à fantasia e apresentações de orquestras locais. Na praça de Eventos fica o palco onde acontecem shows com bandas de Axé e Pagodão. Já o agito nas ruas é liderado pelo Trio Carreta, que arrasta milhares de foliões pela avenida 2 de Julho. Artistas como Carla Cristina, Abronkka, Pagod’art, Araketu, Tony Salles (ex-Raghatoni), GuigGhetto, Selva Branca e Asas Livres, já fizeram a festa no carnaval de Prado, que promete sempre muita animação. Durante a estadia na cidade, muitos turistas chegam a conhecer as diversas belezas naturais, como a praia do Tororão, Cumuruxatiba e Corumbau, opções que servem até como descanso depois de tanta folia.

ALCOBAÇA Foto: Divulgação

PRADO - CUMURUXATIBA

Alcobaça é um dos principais destinos de quem mora no Extremo Sul da Bahia, atraindo turistas que gostam de curtir praia e caminhar na orla. No carnaval, não poderia ser diferente, aparece como um dos mais populares da região, sempre contando com diversas bandas locais, e até nacionais. Além dos trios que garantem a animação dos foliões, Alcobaça conta ainda com programação cultural e música ao vivo na praça da Caixa d’água, proporcionando à população um carnaval mais familiar. REVISTA PERFIL

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EVENTOS

EVENTO DE SUCESSO É

O QUE REALIZA O SONHO DO ANFITRIÃO Por Gabriella Martinelli, Vitória/ES

Um evento, muitas vezes, é a realização de um sonho, quantas mulheres não sonham a vida inteira com o dia do seu casamento, quantas mães e filhas não idealizam a festa de 15 anos, assim como os aniversários da infância e tantas outras festas que realizamos e pensamos em cada detalhe ao longo da vida. Entretanto, planejar e executar um evento não é algo simples, exige muita dedicação e organização. Encontrar os melhores fornecedores, que consigam compreender o estilo dos anfitriões e fazer com que tudo fique em sintonia é essencial para tornar um evento em um dia inesquecível. Em seis anos trabalhando com eventos, já participei da realização do sonho de várias pessoas, cada um a seu estilo e a sua maneira, e cada um com a sua magia e emoção, uma vez que, cada sonho é um sonho, e gosto é algo muito pessoal. Cabe aos profissionais de eventos fazerem com que esse dia supere as expectativas de quem o sonhou tanto. Cada vez mais os eventos têm tido personalidade dos noivos, ou, do aniversariante, retratando o estilo de vida destes e com detalhes DIY - o “Faça você mesmo”, com lembrancinhas, porta-guardanapos, kits banheiro e forminhas feitas pelos anfitriões ou por algum familiar. Guardanapos bordados pelas avós, caixinhas enfeitadas pelas mães, entre outros mimos que tenho visto ultimamente nos eventos e que os enche de afeto e faz com que os convidados vejam os anfitriões em cada detalhe.

Os novos serviços para eventos são muitos, mas a palavra de ordem do mundo contemporâneo é uma apenas: “real-time”, tudo que é ao mesmo tempo e na hora agrada a quem vai fazer festa. Aplicativos que postam as fotos no mesmo instante em que elas são tiradas pelos profissionais de imagem, bebidas extravagantes com uma alta combinação de sabores ao gosto do cliente sendo feitas na frente dele, fotos do Instagram sendo reveladas na mesma hora que são postadas, cerimônias sendo transmitidas ao vivo para aqueles que não puderam estar presentes, entre outros serviços que têm ganhado aqueles que querem fazer uma festa bem ao estilo do tempo presente. Inspirações é o que não falta no mundo dos eventos, e é sobre isso que vamos conversar todos os meses, mostrando aquilo que é novidade e que tem feito sucesso nas comemorações. Celebrar é sempre uma bela forma de eternizar um momento especial. Uma comemoração, por mais simples que seja, tem o poder de deixar em nós boas recordações. Para quem quer celebrar e eternizar um momento de alegria, a dica que fica nessa coluna inaugural é a seguinte: idealize tudo do jeito que você sempre sonhou, sem muitas interferências externas. Os fornecedores podem orientar, mas, quem vai fazer as escolhas desse dia especial é você, pois, só assim, o resultado final será perfeito.

A grande variedade de serviços agregados aos eventos tem chamado a atenção de todos que vão realizar uma festa. Cada ano surgem novas tendências, novas ideias, mas, a tendência que tem que prevalecer é aquela com a cara de quem está proporcionando a comemoração, são eles quem precisam se identificar com cada detalhe daquele dia e também os que mais devem voltar para casa satisfeitos e encantados com tudo que aconteceu. Falar do que está em alta nas comemorações demanda tempo e muitas linhas. Resumindo, hoje em dia vale “quase tudo” em eventos, desde valsas inovadoras com uma mesclagem de ritmos nada tradicionais a food trucks na saída da festa. 14

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Gabriella Martinelli: atua como Assessora e Cerimonialista no Estado do Espírito Santo


SÁBADO. TÉCNICA MISTA SOBRE TELA. TOZ

O Vendedor de Alegria traduz um espírito mais solar, leve e exuberante do artista baiano Tomaz Viana. Uma referência aos vendedores que saem às ruas com suas bolas coloridas, a figura em cores vibrantes com a cabeça nas nuvens tornou-se um dos personagens mais populares de Toz.


TURISMO Foto: Viajesim

CHECKLIST DE VIAGEM INTERNACIONAL

Seguro de viagem, visto, vacinas e documentos para imigração estão entre os 12 itens necessários de resolver antes de sair do país Por Júlia Ferreira, Estocolmo, Suécia

Você planeja a viagem com meses de antecedência, compra as passagens, reserva o hotel, faz o roteiro e arruma as malas. Mas, será que não faltou nada? Para te ajudar, a Perfil organizou uma checklist do que precisa ser conferido e providenciado antes de o avião decolar para evitar qualquer estresse desnecessário naquelas férias que deveriam ser relaxantes:

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PASSAPORTE

Sim, esse é o item mais importante de uma viagem para outro país. Ele é a sua identidade lá fora, por isso, cuide muito bem dele! Certifique-se de que o passaporte está dentro da data de validade - alguns países cobram que ela dure por, pelo menos, seis meses após a volta do passageiro ao Brasil. Também é importante ter uma cópia autenticada em cartório; ajuda bastante em caso de perda ou roubo.

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VISTO

Alguns destinos exigem visto de entrada para brasileiros, então, o segundo passo antes de uma viagem para o exterior é verificar a obrigatoriedade deste para o país de destino. Em alguns países o visto é concedido no próprio aeroporto, na chegada. Outros, requerem um processo demorado no consulado do país de destino ainda no Brasil.

SEGURO VIAGEM

Se o seu destino for a União Europeia, o seguro viagem é obrigatório e deve ser apresentado ao agente de imigração do país por onde você entrar no continente. Contudo, mesmo que o seu destino não exija um seguro, é altamente recomendável a obtenção de um, assim você tem a garantia de que, caso ocorra algum imprevisto (acidentes, malas perdidas, voos cancelados, consultas médicas etc.), poderá contar com o seguro e não precisará ter gastos não planejados. Dica: normalmente, o cartão de crédito com o qual a passagem é comprada oferece um seguro viagem de 30 dias, sendo apenas necessário ligar e ativá-lo (confira se ele cobre o valor mínimo exigido pelo seu país de destino). 16

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TURISMO 04

CARTÃO DE CRÉDITO

É importante lembrar de habilitá-lo para uso no exterior! Alguns bancos só habilitam por um período determinado de tempo, por isso, tenha o telefone para ligar no caso de precisar habilitar o cartão novamente ou o cartão não funcione.

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DOCUMENTOS NA IMIGRAÇÃO

Ao chegar em um país, os turistas passam pela Imigração, onde pode haver a necessidade de mostrar outros documentos e informações além do passaporte. É costumeiro pedirem a passagem de volta ao país de destino, reserva em hotel ou carta-convite (caso fique hospedado na casa de alguém), cartão de crédito e seguro viagem internacional. Deixe tudo isso dentro de uma pasta na bagagem de mão. Não se assuste se o fiscal de Imigração fizer algumas perguntas além das tradicionais “o que você vai fazer aqui?”, “por quanto tempo você vai ficar?” e “onde vai ficar hospedado?”. Apenas relaxe e responda de maneira calma e tranquila que tudo dará certo.

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DINHEIRO

Muitas vezes a melhor opção para viagens curtas é já levar todo o dinheiro que você pretende gastar na própria moeda local. Assim é possível evitar todas aquelas taxas do banco. Se for ficar muito tempo, ou, não confiar nas casas de câmbio brasileiras, a dica é levar Real e apenas um valor suficiente para um táxi e um lanche na moeda local. Normalmente, há casas de câmbio nos próprios aeroportos ou estações de trem, mas, elas raramente têm as melhores condições de troca. Então, procure alguma pela cidade. Outra dica para quem prefere evitar andar com dinheiro em mãos são os cartões pré-pagos.

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VACINAS

Vários países exigem, além do visto, que o passageiro comprove ter tomado algumas vacinas. As mais comuns são a febre amarela (que deve ser tomada pelo menos 11 dias antes do embarque e ter o Certificado Internacional de Vacinação), febre tifoide e antitetânica. Informe-se se é o caso de seu país de destino.

Foto: Disconal

REVISTA PERFIL

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TURISMO 08

RESTRIÇÕES DE BAGAGEM

Esteja atento ao limite de peso, tamanho e quantidade de bagagens. Se for viajar em classe econômica para a América do Sul, o limite é uma mala de 23kg. Para a Europa e Estados Unidos são permitidas duas malas de até 32kg, mas, tome cuidado se for viajar dentro destes destinos, pois o limite pode variar nestes trechos e você acabar pagando excesso de bagagem. Lembre-se também de que voos internacionais proíbem objetos cortantes - como alicates, tesouras de unha e canivetes - e embalagens de líquidos acima de 100ml na bagagem de mão, coloque-os na mala despachada.

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MEDICAMENTOS

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Quem desejar usar o celular durante a viagem para fazer ligações ou usar a internet deve habilitá-lo para roaming internacional com a operadora. Entretanto, tome cuidado com as tarifas indesejadas. A fim de evitá-las, lembre-se de desligar os dados do celular e não atender chamadas que não sejam importantes. Também é uma boa ideia se informar com a empresa sobre os planos e tarifas oferecidos para o uso do aparelho no exterior. Caso ele seja indispensável, contratar um plano pode evitar que você caia da cadeira quando a conta chegar. Dica: se não fizer questão de manter o seu número do Brasil, uma boa forma de economizar é comprar um chip de uma operadora local, as tarifas costumam ser bem mais amigáveis - mesmo para ligações internacionais.

É importante lembrar de levar a prescrição médica dos medicamentos, porque alguns podem sofrer fiscalização.

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HABILITAR O CELULAR

COM CRIANÇAS

Crianças menores de idade que viajam ao exterior na companhia de apenas um dos pais, de parentes ou sozinhas, precisam ter uma autorização assinada e com firma reconhecida. Confira o site do Conselho Nacional de Justiça (www.cnj.jus.br) para ter acesso a um modelo do documento e mais informações.

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ADAPTADORES

Um dos melhores amigos de um viajante é o adaptador universal. Ele pode ser adquirido facilmente em lojas de malas, de eletrônicos e pela internet. Com ele, você evita ficar sem bateria no celular, câmera, notebook ou outros gadgets, e não precisa se preocupar se vai entrar na tomada do seu destino, pois pode ser usado em tomadas de mais de 150 países. Só se lembre de sempre conferir a voltagem dos seus aparelhos e do destino para não estragar nada. Foto: Inglês Executivo

Depois de conferir todos os tópicos, reúna as principais informações e documentos em uma pastinha que deve ficar na bagagem de mão. Nela, devem estar: passagens aéreas, endereço e reserva do hotel (mande um email confirmando alguns dias antes, para evitar dor de cabeça quando chegar!), carta-convite, se for o caso, apólice do seguro viagem internacional, receitas de remédio que estiver levando, cópias de todos os seus documentos e cartões (facilita muito em caso de perda ou roubo) e telefones úteis, como banco, Embratel para ligações a cobrar para o Brasil, empresa da bandeira do cartão, seguro saúde, Consulado, ou Embaixada brasileira. Agora, é só embarcar e aproveitar. Boa viagem!

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MÚSICA

REPERTÓRIO DO CAFÉ PEQUENO VAI DO ROCK AO FORRÓ

Juntos desde 2007, os cinco integrantes da banda conquistaram reconhecimento e espaço em eventos de todo o Extremo Sul da Bahia Por Yara Lopes Fotos Ailton Carvalho (Negão Fotógrafo)

A expressão “café pequeno” pode ter um significado levemente pejorativo, de diminuição, mas, em Teixeira de Freitas e região, muita gente até se esquece disso, pois já foi absorvido como sinônimo de boa música e profissionalismo. Isso porque desde 2007, cinco músicos se juntaram em formação que permanece até hoje para tocar nos mais variados eventos e, desde então, ganharam reconhecimento do seu público. Quem procura entretenimento para festas de formaturas, casamentos ou outras comemorações de porte maior procuram a banda Café Pequeno para garantir um repertório bem variado e que possa agradar à maioria das pessoas. 20

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Kenny Vasconcelos, 30, na voz, Gilson Leite, 32, com voz e violão, Paulo Gomes, 32, na bateria, Marcos Lobu, 35, no contrabaixo, e Douglas Wlinger, 33, na guitarra. Os cinco começaram a tocar juntos aos vinte e poucos e amadureceram ao longo do tempo junto com o projeto. Atualmente, além do Café, os integrantes também desenvolvem projetos individuais. Kenny Paladino atua com voz e violão em barzinhos, casas de show e outros eventos, onde pode também trabalhar suas músicas autorais, com um estilo mais suave. Seu Gilson também desenvolveu uma carreira paralela à banda, nesse caso, com repertório mais animado, que pode incluir reggae, samba rock e até o forró. Os

demais músicos tocam também em outros projetos colaborando inclusive com Kenny e Gilson quando eles têm apresentação. O que chama atenção para os meninos do Café Pequeno é a sintonia e leveza que existe entre eles, mesmo que cada um tenha personalidades tão diferentes. Quem conhece e interage com a banda percebe as brincadeiras, a intimidade e, acima de tudo, o respeito com as opiniões de cada um. Eles comentam que dá para encontrar de tudo um pouco nessa formação, que sempre tem o que pega mais no pé, o pensativo, o brincalhão, o sério, e que essas diferenças criam uma mistura única.


MÚSICA Revista Perfil: Todos vocês já eram músicos antes, mas, como chegaram a essa formação que encontramos hoje para criar o Café Pequeno? Café Pequeno: Não foi nada planejado, a banda acabou acontecendo por necessidade. Inicialmente, já existia um trabalho com voz, violão e bateria, mas foram surgindo outros eventos e percebíamos que o público precisava de mais do que estávamos oferecendo naquele momento. Para sermos completos e alavancarmos, tivemos que integrar contrabaixo e guitarra. Isso aconteceu em 2007. Revista Perfil: Nesse momento inicial, a partir de 2007, qual era o estilo musical adotado por vocês? Café Pequeno: Nos definíamos como uma banda de rock e MPB, basicamente tocávamos o que nós gostávamos de ouvir e de tocar também. Tinha um grupo bom que se identificava com a gente justamente por gostar desse tipo de música. Mas, também incluímos opções mais dançantes, com músicas da Jovem Guarda, que sempre animam o pessoal nesse tipo de evento. Funcionou bem por bastante tempo. Revista Perfil: Em qual momento isso deixou de funcionar? Café Pequeno: Na verdade, precisamos passar por uma transição, uma reestruturação da banda. Percebemos que havia a possibilidade de tocar mais em eventos grandes e não podíamos nos restringir por causa do tipo de música que tocávamos. Paramos, sentamos, conversamos e decidimos incluir em nosso repertório forró, arrocha, sertanejo universitário, axé. Tudo que faz bastante sucesso a gente toca. Criamos esse novo modelo há cerca de três anos e isso, realmente, deu um bom resultado e conferiu muito mais visibilidade ao grupo.

Revista Perfil: Algo mais mudou durante essa reestruturação? Café Pequeno: Sim, no início de 2013 convidamos mais um músico para fazer parte do Café Pequeno, o tecladista Patrik Reis. O som do teclado era necessário para o que estávamos nos propondo a fazer. Ficamos juntos durante dois anos, mas, ele precisou seguir um caminho mais individual para tocar seu próprio projeto. Continuamos parceiros e, sempre que pode, ele toca com a gente em alguns eventos como músico convidado.

um dos principais frutos que o Café Pequeno nos trouxe foi poder ser reconhecido e respeitado pelo nosso trabalho como músicos

Revista Perfil: No início, vocês apresentavam músicas autorais, como o hit “Torrada com patê”. Com esse novo estilo, ainda é possível fazer esse tipo de trabalho? Café Pequeno: Atualmente, não. Nos tornamos uma banda baile, as pessoas querem ouvir músicas dançantes e bem conhecidas. Mas, voltamos a compor nossas próprias canções, temos algumas canções autorais estruturadas, nada pronto ainda que possa ser divulgado. Podemos dizer que esse é o nosso projeto de 2016, tirar um tempo para concluir isso e até gravar um CD. Isso vai ser um reencontro com a nossa essência, acreditamos que vamos voltar a chamar atenção daqueles fãs do começo da nossa carreira. Estamos indo com bastante calma para não dar nenhum passo errado; prezamos pela nossa carreira.

Revista Perfil: Vocês conseguiram se tornar totalmente profissionais e realmente viver da música? Café Pequeno: Acreditamos que somos a prova viva de que é possível viver da música. Todos nós conseguimos nos sustentar, pagar nossas contas, temos família, fazemos isso com os frutos de nosso trabalho. Marcos é o único que além de músico, também é funcionário público, mas ainda assim passou dois anos entre um concurso e outro dedicando-se completamente à música e deu tudo certo. A nossa banda virou realmente uma empresa. Temos CNPJ, um caixa definido para nossas despesas, agenda organizada. O celular não para, tem gente já nos contratando para casamento em 2017. Revista Perfil: Há um grande compromisso dos integrantes com o que vão entregar aos contratantes. Eles também valorizam esse comprometimento e profissionalismo? Café Pequeno: Entregamos um show de qualidade, temos pontualidade e não furamos com quem nos contrata. Tentamos não misturar as coisas, por isso, não levamos esposas, namoradas, parentes, ou, amigos como acompanhantes, ali somos profissionais e vamos para fazer o nosso trabalho. Nos adequamos também ao local onde vamos tocar, inclusive, na questão do vestuário, para não destoar dos convidados da festa em um casamento, por exemplo. Ao longo dos anos, as pessoas foram percebendo isso e hoje elas enxergam que somos uma banda séria. Para isso, cobramos o cachê que merecemos e tocamos as horas combinadas. O profissionalismo deve funcionar para os dois lados, contratante e contratado. REVISTA PERFIL

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MÚSICA Revista Perfil: Para conseguir entregar sempre músicas novas e integrar esses hits ao repertório, é preciso muito ensaio? Café Pequeno: Não ensaiamos muito, mas, quando ensaiamos, conseguimos avançar bastante. Tudo acontece em um estúdio próprio para esses momentos, na casa do Paulo, a nossa bat caverna. Mas, a nossa sintonia ajuda a criar uma boa apresentação mesmo sem ensaios constantes. Já temos algumas canções que não saem do nosso repertório porque as pessoas sempre pedem, como as da Jovem Guarda, e vamos adaptando com novas opções. Revista Perfil: Com toda essa experiência que vocês têm de anos juntos, o que foi mais difícil e desafiador? Café Pequeno: Conseguir agradar a quem nos ouve. No início, tinha gen-

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te que não entendia o nosso estilo e achava que veria um show só com músicas do sertanejo universitário. Outras vezes, como somos uma banda muito eclética, é complicado sentir durante o show o que tem animado mais as pessoas, o que faz com que elas vibrem. Revista Perfil: E o que o Café trouxe de mais especial para a vida de cada um? Café Pequeno: Muitas coisas, mas, principalmente, as grandes amizades que formamos aqui, isso é impagável. Também é bom demais ser reconhecido e respeitado pelo que faz, muita gente nos encontra na rua e cumprimenta, elogia. As críticas existem, felizmente os elogios têm prevalecido, principalmente quando terminamos um show. Isso nos dá mais vontade de continuar ensaiando, tocando e fazendo o nosso trabalho. O que nos diferencia é que tocamos de tudo, e

nos momentos em que estamos tocando determinado estilo, é como se a banda fosse especializada naquilo. Queremos que quem curte rock sinta que está ouvindo um conjunto de rock e a mesma sensação venha para quem curte arrocha e forró. Um estilo não vale menos que o outro e temos a mesma vontade e determinação na hora de interpretar todos eles.



MÚSICA Foto: Jimmy King

DAVID BOWIE AINDA BRILHA: CONSTELAÇÃO É BATIZADA EM SUA HOMENAGEM

Após a morte do cantor, ator e produtor, seu álbum recém-lançado alcançou o topo da lista da Billboard e cientistas o homenagearam com uma constelação Por Yara Lopes

O aclamado cantor inglês David Bowie chamou atenção do mundo da música ao lançar um novo álbum, Blackstar, seu 25º em estúdio, no dia 8 de janeiro, quando completava 69 anos. Essa produção foi considerada como uma das melhores de sua carreira desde os

anos 70, inspirando-se no jazz e aparentando iniciar uma nova fase. Artista inquieto, curioso e surpreendente, esse camaleão do rock nunca passou muito tempo com um só estilo. Depois de um hiato de dez anos, ele havia retornado com The Next Day, em

2013, trabalho que parece ser uma tentativa de fazer uma grande síntese de sua carreira.

Foto:FFW

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Com apenas sete faixas e 40 minutos de duração, Blackstar foi um dos discos mais concisos de Bowie. Ainda assim, o álbum lançado apenas dois dias antes de sua morte conseguiu atingir um feito inédito para o artista, ficar em primeiro lugar na lista de mais vendidos da Billboard. 181 mil cópias foram vendidas, superando a liderança de Adele. Uma das músicas desse álbum, Lazarus, tem um musical homônimo escrito em parceria entre David e o dramaturgo Enda Walsh, sequência ao livro The Man Who Fell to Earth, de Walter Tevis, que inspirou o filme de mesmo nome feito em 1976 e que tem Bowie como o protagonista. Muita gente tem se emocionado com a peça em Nova Iorque.


MÚSICA

Foi difícil acordar. Despertei com alguém me chamando: “acorda, dorminhoco! bota uma roupa e arruma

a cama”. Levantei, sentei. As notícias acabavam de chegar, e o repórter enxugou as lágrimas quando falou. É uma sensação estranha essa de perder um ídolo – com um gosto antiquado, confesso que a maioria deles já havia partido quando eu nem sonhava em nascer – eu acusei o golpe. Não queria sair de casa, não queria que o tempo passasse. Se antes havia uma distância espacial, aprendi que a mais incômoda pode ser a temporal. Ontem, que vira anteontem e de repente tem 3 anos ou 13 e quem é que ainda lembra? “Ninguém pode te culpar por ir embora”, talvez, só eu mesmo.

Foto:Divulgação

Uma homenagem muito especial foi organizada por astrônomos belgas do Observatório Público MIRA, que batizaram uma constelação com sete estrelas - Sigma Librae, Spica, Zeta Centauri, SAO 204 132, SAO 241 641, Beta Triangulum autrani e Delta Octantis de Aladdin Sane, nome do álbum cuja capa tem a icônica foto em que o cantor aparece com um raio pintado no rosto. Muitas outras pessoas, famosas ou não, fizeram suas declarações de homenagem ao artista, que lutou secretamente contra o câncer por 18 meses e faleceu no dia 10 de janeiro, como o fã Lucas Barreto Vinhas Abreu, do Rio de Janeiro:

Passei o dia com a cabeça longe, talvez, em marte, lembrando de como a obra do Bowie me transformou no que eu sou hoje, desde os air-guitars Foto: Greg Gorman

de Ziggy Stardust na adolescência até o mergulho total em Hunky Dory, Heroes, Low, Earthlings e tantos discos com tantas memórias afetivas. Ele foi um amigo que eu nunca conheci. Acho que é isso que define um gênio: a capacidade de causar identificação em milhares de pessoas. E por que a gente ama algo tanto assim? O amor é negligente nas suas escolhas. Foi muito difícil dormir. Os pesadelos vieram, e para ficar. Foi assombroso como David Roberto Jones levou essa história do câncer sob sigilo, entregou-se a vida até os últimos momentos e fez uma despedida digna da história de David Bowie. O clipe de Lazarus, canção de seu último disco, lançado dois dias antes da morte, é uma despedida e um réquiem para os fãs. Vida e arte caminharam indissociáveis e Bowie alcançou sua imortalidade. O homem terminou da melhor forma possível, “I’m happy, hope you’re happy too. I’ve loved all I needed to Love” (Estou feliz, espero que você esteja feliz também. Eu amei tudo que precisava amar), e foi assim que ele se despediu: “I’ll be free, ain’t that Just like me?” (Eu serei livre, isso não é a minha cara?). O mito está aqui, David Bowie sempre estará. REVISTA PERFIL

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MÚSICA Foto: Michael Ochs Archives

OS 81 ANOS

DE ELVIS PRESLEY

Se ainda estivesse vivo, o rei do rock teria completado 81 anos em janeiro de 2016, e ainda aparece como um dos artistas que mais lucram no mundo Por Yara Lopes

Elvis Aaron Presley nasceu para Vernon e Gladys Presley em uma casa de dois

quartos em Tupelo, Mississippi, no dia 8 de janeiro de 1935, em circustâncias humildes. Seu irmão gêmeo, Jessie Garon, nasceu morto, e Elvis cresceu como filho único. Aos 10 anos de idade, participou de um concurso de

talentos na feira Mississippi/Alabama, conseguindo ficar em segundo lugar e garantir um prêmio de 5 dólares mais ingressos para toda a programação de diversão do evento. Na ocasião, ele cantou Old Shep, música que retrata Foto: Michael Ochs Archives

Considerado pelos fãs como o maior nome do rock and roll dos últimos tempos, morreu ainda muito jovem, com apenas 42. Parece que é a sina de muitos artistas, como John Lennon, morto aos 40 anos. Nos últimos anos de sua carreira, Elvis Presley tornou-se um consumidor abusivo de medicamentos, já que abominava drogas como cocaína, heroína e maconha. Em seu coquetel químico diário era possível encontrar remédios para perda de peso e controle de apetite, tudo combinado a um ritmo de shows intenso e gravações intermináveis. No dia 16 de agosto de 1977, ele foi encontrado desacordado em um dos banheiros da mansão de Graceland, onde devia ter desmaiado algumas horas antes. A causa oficial da morte foi falência cardíaca.

LANÇOU A MODA DO CASACO DE COURO

REVISTA PERFIL

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MÚSICA Foto: Michael Ochs Archives

o desespero de um menino por ter perdido seu cachorro.

O FAMOSO TOPETE

Seu primeiro violão foi um presente de sua mãe em seu aniversário de 11 anos, em 1946, uma tentativa de convencer o menino a não querer mais comprar uma espingarda, que além de perigosa, era mais cara do que eles poderiam pagar. Ele usou o mesmo violão por quase 10 anos, um item de muito significado em sua carreira. Em 1948, quando o garoto tinha 13 anos, a família se mudou para Memphis, Tennessee, onde sua carreira realmente começou. As suas influências musicais eram a música pop e country da época, a música gospel que ouvia na igreja e nas noites de cantoria que frequentava, e o R&B que ele absorveu na histórica Beale Street quando adolescente em Memphis. Entre 1948 e 1954, Elvis trabalhou em várias atividades, como lanterninha de cinema e motorista de caminhão, concluindo os estudos em 1953. Quando tinha um tempo de folga, tocava violão e cantava, às vezes, até arriscava algumas notas ao piano.

O SUCESSO Sua carreira profissional começou em julho de 1954, o chamado “marco zero” do rock and roll, quando decidiu entrar em estúdio para gravar algumas faixas - foi nessa época que That’s All Right, Mama encantou o dono da Sun Records. Dias depois, e após algumas gravações, duas músicas de Elvis começaram a tocar nas rádios de Memphis e foram sucesso imediato. Dez dias depois, fez seu primeiro show na cidade. Não demorou muito para que Elvis emendasse diversos programas de rádios, aparições em programas de TV e, consequentemente, veio o sucesso. Mystery Train chegou em 11ª colocação na parada da Billboard, Baby, Let’s Play House chegou ao 5º lugar e I Forgot To Remember To Forget, finalmente, o levou ao topo da para28

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da. Suas apresentações nos programas de rádio e televisão fascinavam o público. Em 1956, Elvis tornou-se uma sensação internacional. Com um som e estilo que reuniam suas diversas influências, ameaçavam a sociedade conservadora e repressiva da época e desafiavam os preconceitos múltiplos, Elvis fundou uma nova era e estética em música e cultura populares, consideradas, hoje, cults e essenciais, mundialmente. Suas canções e álbuns transformaram-se em enormes sucessos e alavancaram vendas recordes em todo o mun-

do. Elvis tornou-se o primeiro mega star da música popular, inclusive, em termos de marketing. Para muitos, a revolução do rock que teve o cantor como grande símbolo teria sido a última grande revolução cultural do século XX. Isso porque bandas, cantores e compositores que surgiram nas décadas seguintes - e fizeram muito sucesso - foram influenciados, de alguma maneira, direta ou indiretamente por ele. Elvis Presley inicia suas apresentações internacionais, encantando e escandalizando as plateias, com suas roupas extravagantes e sua maneira exagera-


MÚSICA Foto: Divulgação

tada. São dois dos principais sons de “cinema” do rei do rock. Vale ressaltar que nem todas estão presentes no terceiro disco, por conta dos outros álbuns (Love, Rock e Live), que reúnem algumas delas. A trilha de King Creole, filme de 1958 no qual Elvis interpreta o rebelde Danny Fisher, que abandona a escola para cantar e juntar dinheiro para o seu pai, também é outro acerto da coletânea.

MODA Na moda, a sua influência é bem maior do que a maioria dos fashionistas gostaria de admitir, onde a atitude, as roupas e joias de Elvis entraram para a história da música e do mundo fashion, influenciando o visual dos Beatles, de Katy Perry e até da princesa Diana. O astro imortalizou as pedras preciosas, as correntes de ouro e suas fartas costeletas foram copiadas infinitamente pelos jovens da época. Podemos observar, também, itens básicos de nossos guarda-roupas popularizados por Elvis, a exemplo da calça jeans, da camiseta branca e da jaqueta de couro estilo aviador.

MACACÃO - A MARCA REGISTRADA

CINEMA Mas, não foi apenas de romances e rock and roll que viveu Elvis Presley, sua carreira inclui 33 filmes lançados entre 1956 e 1972. Ele poderia ter aproveitado a oportunidade para fazer Belas Artes e se tornar, de fato, um grande ator, mas, ainda assim, recebeu críticas muito positivas por sua versatilidade. Atuou em gêneros como musical, faroeste, drama e romance. Os maiores e melhores destaques nesse período foram Flaming Star (1960), Wild In The Country (1961), Follow That Dream (1962), Kid Galahad (1962), Fun in Acapulco (1963), Viva Las

Vegas (1964) e Roustabout (1964). A partir de 65, seus filmes e trilhas sonoras perderam qualidade drasticamente, configurando período de grande alienação e tédio pessoal para o artista. E é essa ligação com a sétima arte que está contemplada no terceiro álbum da coletânea Elv-Is. A Little Less Conversation e Viva Las Vegas para abrirem o CD; uma aposta bem acerFoto: Michael Ochs Archives

da de rebolar. Em 1958, é chamado para servir o exército. No dia 14 de agosto, morre sua mãe. Em outubro é transferido para uma base militar dos Estados Unidos, na Alemanha, onde fica até março de 1960. De volta a sua cidade, retorna aos palcos e marca com sua apresentação no programa The Frank Sinatra Show, onde, com suas roupas extravagantes, realiza uma de suas melhores apresentações. Em 1961, fez shows tanto em Memphis quanto no Hawai, este beneficente e considerado por muitos dos seus fãs como um dos mais emblemáticos e clássicos de sua carreira.

Os macacões com capa foram também marca registrada de Elvis, com decotados no peito, gola alta, calça boca de sino e bordados com pedras e tachas. O modelo mais icônico é o “Aloha Eagle“, usado no show do Havaí, que levava uma águia americana estampada nas costas. Outras peças e estilos adotados pelo cantor ao longo de sua carreira foram as camisas cor de rosa (dizem que era sua cor preferida), os looks em couro preto - fetiche antes desse fetiche ser pop -, os sapatos com meias aparentes, o uso de joias e acessórios chamativos e os uniformes militares. O cabelo era um show à parte: as fartas costeletas e o topete cheio de goma são referências até hoje, citando exemplos que vão desde John Lennon aos cantores Bruno Mars e REVISTA PERFIL

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MÚSICA Alex Turner, do Arctic Monkeys, nos dias atuais. Tudo isso completava a atitude do rei, ou, “Elvis, The Pelvis”, que levava as garotas à loucura com o vozeirão, os quadris e o estilo.

AUGE

Já solteiro, em 1972, após o casamento com Prisicila Presley, conheceu a Miss Tennessee Linda Thompson. O romance deu um ânimo à vida e carreira de Elvis - que considerava o divórcio com Priscilla o segundo maior “baque” após a morte de sua mãe. Em 1974, começou a dar sinais de cansaço e sofria com os problemas de saúde. Apesar da vontade de diminuir o ritmo, Elvis fez turnês muito intensas em 1975 - e chegou a ser hospitalizado duas vezes. Em 1976 se separou de Linda. Pouco depois, conheceu Ginger Alden, com quem namorou até o dia de sua morte. Em 1977, mais magro (muitos apostavam que o motivo seria o novo relacionamento), Elvis realizou shows regularmente, apesar dos problemas de saúde. No dia 26 de junho daquele ano, ele fez o último show de sua carreira, em Indianápolis, antes de tirar alguns dias para descansar, enquanto preparava sua próxima turnê, que começaria no dia 18 de agosto. 30

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Em tempos de pirataria, streaming pago e música por demanda, o repertório de Elvis Presley ainda soma números impressionantes. Só no serviço de streaming Spotify, a música mais ouvida do cantor, Suspicious minds, conta com cerca de 22.144.411 execuções. Coletâneas, relançamentos e discos ao vivo mostram que a marca Elvis Presley continua tão rentável como em seu auge, nos anos 1950-1970, atraindo desde o colecionador que o acompanha desde os anos de sucesso, até jovens que não testemunharam o período de atividade do cantor.

Mesmo morto, Elvis também é uma das celebridades que mais faturam com direitos autorais e royalties. Em levantamento publicado pela revista “Forbes” em outubro de 2014, o cantor aparece como segundo colocado da lista, com uma arrecadação de cerca de US$ 55 milhões só em 2013, ficando atrás apenas do também cantor Michael Jackson. Na lista de artistas que mais vendem discos no mundo, compilada pela Soundscan, Elvis também aparece em segundo lugar, com uma venda total de 600 milhões de discos no mundo todo, atrás apenas dos Beatles. Foto: Michael Ochs Archives

Em 1969, após oito anos, Elvis voltou aos palcos e manteve o ritmo de shows - e o sucesso de público e crítica - até 1977. Durante esse período, chegou ao ponto mais alto de sua carreira, com mais de mil show realizados, uma performance mais madura e com muitas gravações produtivas, como Suspicious Minds e In The Ghetto. Na década de 70, fez shows com recorde de público, lançou um documentário de sucesso, foi recebido na Casa Branca pelo então presidente Richard Nixon, voltou ao topo das paradas musicais de todo o mundo e recebeu diversos prêmios, incluindo seu segundo Grammy.

A ARRECADAÇÃO CONTINUA

ESTILO REBELDE FAZIA SUCESSO


SAÚDE

PELA GOTA D’ ÁGUA! Por Dr. Jorge Cleber

Água, a maior invenção da energia! Um mililitro (ml) de água tem massa de aproximadamente um grama; contém 3,3 x 10²² ou 33.000.000.000.000.000.000.000 partículas ou moléculas de água. A água é um caso de amor eletrostático entre dois átomos de hidrogênio e um átomo de oxigênio, H2O ou H—O—H. Em uma cena de “Perdido em Marte”, o ator Matt Damon fabrica água/H2O a partir de gás hidrogênio(H2) de um reservatório de foguete e gás oxigênio(O2), ele provoca a combustão ou queima do gás hidrogênio e forma H2O. Com isso, produz batatas em Marte! O hidrogênio é o primeiro elemento da natureza, o mais leve; já o oxigênio, é o oitavo da classificação química. Pela fórmula de Einstein E=MC² (energia é igual à massa vezes velocidade da luz ao quadrado), toda massa foi derivada de energia. A água (H2O) é a paixão da ciência química. Dissolve tudo; compõe entre 60% e 95% da massa corporal dos seres vivos. Do suco ao whisky, do perfume à vacina; seja na produção de um carro ou uma deliciosa macarronada... O surf ou a vela; o banho ou a irrigação; a chuva, o rio, o mar! A água preenche 2/3 da superfície da Terra na forma dos oceanos e mares, entretanto, somente a doce, das fontes dos rios, lagos, aquíferos e lençóis freáticos servem ao consumo dos seres vivos, incluindo o homem. Para se formarem os rios e as fontes subterrâneas de água potável, ocorre evaporação da água do mar, sua precipitação na Terra forma os rios, lagos e reservas subterrâneas; a isso chamamos ciclo hidrológico ou ciclo da água. A grave e súbita destruição do rio Doce, devido resíduos de mineração, estabelece um alerta: há uma fragilidade na prevenção dos acidentes ambientais de larga escala; é difícil e precária a ação após e, até mesmo, irreparáveis os danos ambientais. Outro aspecto é a eterna discrepância entre a infindável riqueza extraída e a miséria que cerca os territórios explorados. A bacia hidrográfica compreende uma área territorial por onde corre o rio e, obviamente, pelo caráter único e indispensável da água para nós, nossos filhos e familiares (isso mesmo. Seja egoísta e pense em você!), ela é a fonte de nossa vida!

Você conhece a sua bacia hidrográfica? Em um levantamento via satélite, preliminar e amador, pudemos constatar que a do rio Alcobaça/Itanhém, desde sua foz ou desbocadora, no município de Alcobaça/BA, até sua nascente em Minas Gerais, tem cenário crítico. Nossa vida está por um fio d’água. Literalmente. O rio Alcobaça está assoreado e comprometido pela baixa cobertura de vegetação ciliar? O rio Alcobaça está poluído com resíduos sanitários e lixo? A proteção das nascentes do rio Alcobaça está efetiva? Há ações concretas em curso e estudos para conhecermos a verdadeira realidade da nossa bacia hidrográfica? Uma boa diversão seria cada um, de casa mesmo, usar a ferramenta Google Earth, programa de imagens e recursos gráficos. Com ele, você estuda a superfície de qualquer lugar da Terra. Com o Google Earth poderíamos vigiar nossa bacia hidrográfica, mapear os pontos mais críticos e construir um conhecimento comunitário do rio que supre a nossa cidade ou região (no caso, o Alcobaça). Uma ideia assim poderia ser posta em prática? Levantamento fotográfico da bacia do rio Alcobaça de sua poltrona? Agora, precisa usar essa informação em prol de nossa fonte de vida... Estar com o Google confere o poder de saber muito, mas não estrutura por si só o conhecimento. Quando vemos o globo terrestre, temos a falsa impressão do planeta Terra ser fonte inesgotável da água. Pagamos e temos nossa caixa de água sempre cheia, no entanto, não estamos garantidos. A fonte, o rio, sempre está ameaçada. Seja nas nascentes, na foz ou no seu percurso intermediário. O rio é a vida para o mundo rural. Os amantes das criações de animais, da montaria, das plantações, da navegação e da pesca. A vida urbana morre ou míngua sem o rio. A tecnologia pode ser a fonte alternativa para a resolução da degradação ambiental. Vamos nos posicionar. Traremos um relatório sobre o rio Alcobaça, ou, vamos pedir água?

Dr. Jorge Cléber: médico-cirurgião especialista no aparelho digestivo.

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ARTE Foto: Beth Santos

MUSEU DO AMANHÃ: UM LUGAR PARA PENSAR NO FUTURO O museu projetado pelo arquiteto espanhol Santiago Calatrava atrai milhares de turistas diariamente pela combinação de arquitetura moderna e informações científicas Por Yara Lopes

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ARTE Foto: JP Engelbrecht

PRAÇA MAUÁ AGORA É PONTO DE ENCONTRO

Quem chega à praça Mauá, área central e tradicional do Rio de Janeiro, pode se surpreender com o novo equipamento cultural da cidade, que mais parece uma nave espacial. Localizado em cima do Pier Mauá, com vista para a Baía de Guanabara, em um total de 34,6 mil metros quadrados, incluindo a área construída, espelhos d’água, jardim, ciclovia e espaço para lazer, o Museu do Amanhã foi inaugurado no fim de dezembro. O momento muito

Os visitantes têm enfrentado longas filas, espera-se que o museu seja um Foto: Beth Santos

EXPOSIÇÃO TERRA - QUEM SOMOS?

aguardado por moradores e turistas aconteceu com um viradão cultural que deixou o espaço 36 horas aberto para conseguir atender à demanda do público, cerca de 25 mil pessoas. O objetivo desse espaço científico é explorar ideias e perguntas sobre o nosso futuro, discutindo quais as possibilidades que a humanidade ainda tem.

cartão postal do Rio de Janeiro, tanto quanto os icônicos Cristo Redentor, Pão de Açúcar e Calçadão de Copacabana. Na fila, um wi-fi liberado é uma boa solução para o tempo passar mais rápido. Quem consegue vencer a espera garante que o esforço vale a pena, os espaços criados são inovadores e informativos. Todos que entram recebem um cartão onde devem inserir seu nome e e-mail. Ao longo do tour, se passar o cartão nos ícones dispostos em cada área, essas informações serão armazenadas e, posteriormente, encaminhadas para o endereço eletrônico. Na próxima visita, a IRIS te indica novos pontos dentro do Museu do Amanhã para conhecer. Seis grandes tendências para as próximas cinco décadas são exploradas: mudanças climáticas; alteração da biodiversidade; crescimento da população e da longevidade; maior integração e diferenciação de culturas; avanço da tecnologia e expansão do conhecimento Essa é a primeira vez que o Rio de Janeiro recebe uma proposta de museu que trabalha mais com as

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• REVISTA PERFIL


ARTE

Quem é apaixonado por fotografias, ou, se você for apenas curioso e gostar de descobrir coisas diferentes, vai passar um bom tempo na parte do passeio sobre o “quem somos”. Três grandes cubos formados por diversas fotografias que retratam a matéria, a vida e o conhecimento. Tratando-se de matéria, a Nasa cedeu imagens reais da Terra, que ficam na parte externa da instalação, internamente um dos espaços mais poéticos de todo o museu, onde vídeos do planeta passam ao fundo enquanto um pano flutuante enfatiza uma beleza suave das forças da natureza, como a gravidade. O segundo cubo representa a vida e mostra externamente o DNA de um ácido que forma uma proteína comum em todos os seres vivo, internamente, painéis de fauna e flora interativos permitem experimentar o impacto exercido sobre ele, caso uma das espécies existentes nesses ecossistemas fosse retirada. O último cubo, do pensamento, traz do lado de fora sinapses do cérebro de um ser humano de 30 anos e, do lado de dentro, fotos do que fazemos com tudo isso que pensamos, a diversidade de culturas, agricultura, patrimônio e tantas outras variedades no estilo de vida de cada povo. É de tirar o fôlego.

Foto: Beth Santos

experiências das pessoas do que com obras propriamente ditas. Uma mistura da seriedade da ciência à leveza e sensibilidade da arte foi responsável por um resultado que consegue ensinar alguma coisa a cada instalação. Com suporte tecnológico, ambientes imersivos, jogos e instalações audiovisuais criados com base em estudos científicos desenvolvidos por diversos especialistas, é possível levantar questionamentos como: de onde viemos? quem somos? para onde vamos? Não importa a idade, a origem, a profissão, percorrer os espaços faz você pensar no planeta e em nossas escolhas.

ANTROPOCENO

Outro ponto forte e extremamente impactante da visitação, ainda falando sobre quem somos, é a instalação que traz seis grandes painéis de led com 10 metros de altura. A grandiosidade desses painéis, que ficam dispostos formando uma espécie de círculo - os visitantes ficam no centro - causam, instantâneamente, uma reflexão sobre onde estamos e o que temos feito ao meio

ambiente, já que as telas mostram as ações do homem - como a quantidade de lixo que produzimos - e o impacto que elas causam. É praticamente impossível sair de lá da mesma maneira que entrou. Quem foi atraído justamente pela possibilidade de interação com as informações do museu não pode deixar de parar na parte de jogos. No Jogo das REVISTA PERFIL

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ARTE Foto: JP Engelbrecht

Civilizações, quatro pessoas são responsáveis por controlar os recursos do planeta e as suas escolhas determinam o rumo que a Terra vai tomar nas próximas décadas. Você também pode calcular a sua pegada ecológica de acordo com o seu padrão de consumo e depois analisar qual o impacto dessas escolhas para o planeta e fazer um comparativo com a média do seu país. Uma terceira opção possibilita ao visitante responder a algumas perguntas e descobrir sua personalidade em um cenário mais futurista.

ESTRELA DE 20 PONTAS

SUSTENTABILIDADE O acervo faz o visitante pensar no futuro, discute sobre a diversidade ambiental e traz reflexões sobre o impacto das ações do homem nos ecossistemas. Dessa forma, sua construção não poderia fugir à sustentabilidade. A arquitetura é sustentável e segue as especificações para obter a certificação Liderança em Energia e Projeto Ambiental (Leed, sigla em inglês), concedida pelo Green Building Council. Um dos pilares é o bom aproveitamento dos recursos naturais e, para isso, a água da Baía de Guanabara é usada com dois propósitos: para abastecer os espelhos d’água e para o sistema

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energia solar. Ao longo do dia, elas se movimentam como asas para acompanhar o posicionamento do Sol. O prédio tem aletas que carregam 5.492 placas de painéis fotovoltaicos para captação de energia solar. Os jardins priorizaram a vegetação restinga e de espécies nativas, uma das críticas é justamente não ter mais árvores frondosas na área, o que poderia contribuir para diminuir o calor intenso da praça com a criação de sombras, tornando o espaço mais agradável ao público.

O formato da estrutura também foi pensado de maneira a ajudar a reutilizar os recursos naturais. A cobertura móvel do edifício tem grandes estruturas de aço que servem de base para as placas de captação de

EDUCAÇÃO E MUSEU DE ARTE DO RIO Foto: Beth Santos

OBRA DE DANIEL WURTZEL

de refrigeração, onde é utilizada na troca de calor. Depois de usada na climatização, ela é devolvida mais limpa ao mar, num gesto simbólico. A água da chuva captada pela cobertura é utilizada como complemento para irrigação dos jardins, descargas dos vasos sanitários e lavagem dos pisos das áreas molhadas.

A praça Mauá já tinha ganhado mais destaque com a instalação do Museu de Arte do Rio (MAR), uma construção que restaurou dois prédios de épocas diferentes e os uniu com uma cobertura fluída em forma de ondas do mar para trazer ao público exposições artísticas e instalações variadas, que, muitas vezes, exaltam a cultura nacional. Um dos diferenciais do MAR é ja nascer com uma escola ao lado, a Escola do Olhar, que oferece diversos cursos e workshops para professores e toda a comunidade. O Museu do Amanhã também tem uma relação com o contexto social que o cerca e preocu-


ARTE Foto: JP Engelbrecht

GLOBO TERRESTRE

pa-se com a educação. Uma equipe interdisciplinar faz visitas mediadas e escolares e propõe eixos temáticos para o debate com os alunos, trazendo as questões abordadas no museu, sua arquitetura, a Baía de Guanabara e a região histórica do entorno. Para incentivar a visitação dos dois equipamentos culturais da praça, existe o Bilhete Único dos Museus, que dá um desconto para o ingresso conjunto.

A ORIGEM DO MUSEU Em construção desde 2010, o Museu do Amanhã é uma das âncoras do Porto Maravilha, projeto de revitalização da Região Portuária do Rio de Janeiro que promove reestruturação de uma área de 5 milhões de metros quadrados no coração da cidade. Além das mudanças na mobilidade urbana - com a derrubada da Peri-

metral, a construção de dois novos túneis e várias vias, implementação do Veículo Leve Sobre Trilhos - a operação urbana tem trazido muito mais atenção a uma área rica em história e cultura, mas que estava esquecida para milhões de cariocas de outras partes do município. O grande canteiro de obras dessa operação também abriu espaço para fortalecimento de patrimônio cultural, com os programas Porto Maravilha Cultural e Cidadão. O equipamento faz parte da nova cara da Região Portuária e de uma praça Mauá que passou de um lugar abandonado para um dos mais visitados da cidade. Todo esse processo foi concebido e realizado em conjunto com a Fundação Roberto Marinho e construído pela concessionária Porto Novo, supervisionada pelo Porto Maravilha. A gestão ficou a cargo do Instituto de Desenvolvimento e Gestão e o museu, agora, faz parte do circuito da Secretaria Municipal de Cultura. Foto: JP Engelbrecht

VISTA DA PRAÇA MAUÁ À NOITE

REVISTA PERFIL

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EDUCAÇÃO

MARAVILHOSA ESCOLA NOVA Por Professora Doutora Yolanda Aparecida de Castro Almeida

Você escolheu a escola do seu filho. Com certeza, seguiu alguns critérios, pois, apesar de uma boa educação acadêmica não garantir êxito profissional, sem ela, dificilmente, este sucesso é alcançado. Um dito popular ensina não chorar o leite derramado. Mas, se seus critérios foram apenas preço, “com-modismo”, influência de amigos, status, proximidade da casa, preferência do seu filho; acredite: o leite vai entornar no fim do ano. E ao derramar, vai jorrar sais minerais, açúcar, proteínas, gordura. Queimar toda a panela e fogão. Haverá acusações. A escola dizendo que os pais foram ausentes. Os pais afirmando que a instituição, quando chamava, era para reuniões rápidas e generalizadas. No meio desta rinha, o filho/aluno. E aí nem importa a idade! Desde o mais tenro estágio, este inteligente ser aprende a jogar maravilhosamente com os dois times. Talvez, você, que não fez o inexistente curso “Saiba qual a melhor escola para seu filho”, se pergunte o que deveria ter feito? Você poderia procurar saber um pouco sobre a MISSÃO, VISÃO e VALORES da escola. Acredite: já fiz isto, e confesso que parece ter ocorrido, com pouquíssimas diferenças, um “controcê, controvê” descarado em todas as instituições. Se este artigo fosse sobre missão, visão e valores, veríamos que não somente as escolas, mas, praticamente todas as empresas utilizam estes termos para que seja estabelecida a identidade da marca com o público desejado. No entanto, reflita. Está aí o seu papel: a partir deste momento, investigue se a missão, a visão e os valores estão se materializando no cotidiano. Observe se a instituição possui os profissionais em número e qualidade. Conhecendo seu filho, acredita que esta escola conseguirá desenvolver no seu rebento a criticidade, a capacidade de criar, tornando-o um cidadão atuante numa sociedade em permanente metamorfose? Você deve ter observado, independente da escola que escolheu, que a instituição oferece sempre uma proposta pedagógica inovadora. O mais importante aqui é saber que inovação é esta: são o uso de novas tecnologias? Com a rapidez com que estas se tornam obsoletas, creia: “novas” é realmente impossível. Seria um novo método pedagógico? Construtivismo, Sociointeracionismo, a Pedagogia de 38

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Freinet, ou, ainda, a educação libertadora de Freire? Quem sabe, talvez, um método que utilizasse a Neo Teoria de Aprendizagem de Skinner? Não aceite um “confie em nós” como resposta. Lembre-se que não estamos falando do aluno, ou, do filho. Estamos falando do filho-aluno. À esta altura da leitura, você se pergunta: o que fazer? Onde está a prescrição? A resposta é: não há receita! Aqui não é o “Que Marravilha” e o paladar é outro. Sim, seria mais fácil se, além de uma “Bela Cozinha”, tivéssemos uma bela escola, belos professores, belos filhos, belos pais. Além disto, até o sistema educacional que rege a educação é controverso. Exemplificando, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996, artigo 24, orienta que ao se avaliar o aluno, prevaleça os aspectos qualitativos sobre os quantitativos. Este mesmo sistema oferece como passagem para a universidade um exame nacional onde os aspectos quantitativos sobrepõem sobre os qualitativos. Parece que definir uma escola para o filho é muito mais difícil que se imagina. Mas, existem atitudes que podem ajudar. Primeiro: lembre-se que a educação dada a seu filho é obrigação de pai e mãe, ou, dos responsáveis. Delegue à escola a obrigação da escola. Delegue ao seu filho, a obrigação do seu filho. Delegue a você, a sua obrigação. É árduo, porque irá requerer disciplina, vigilância, estudo, discernimento e cobrança. Você, a escola e seu filho terão que estar atentos o tempo todo às visões, missões e valores: atentos ao leite. Assim, ele não vai derramar. Quem disse que seria fácil?

Yolanda Aparecida de Castro Almeida: é Professora da Universidade do Estado da Bahia, doutora em tratamento da informação espacial pela PUC/Minas. Mestre em tecnologia ambiental. Pedagoga, geógrafa e socióloga.



CAPA Foto: Antonio Olmos

MALALA YOUSAFZAI:

DO PAQUISTÃO PARA O MUNDO A ativista paquistanesa foi a pessoa mais jovem a ganhar um Prêmio Nobel da Paz, em 2014, com apenas 17 anos de idade Por Déborah Araujo, Rio de Janeiro 40

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CAPA “Se a sua intenção é parar o terrorismo, não culpe a totalidade da população muçulmana, não é isso que vai parar os terroristas.” Essa foi a mensagem enviada pela jovem Malala Yousafzai ao pré-candidato republicano à Presidência dos Estados Unidos Donald Trump, após ele declarar, em uma coletiva de imprensa sobre o atentado que matou 14 pessoas e feriu outras 17 na cidade de San Bernardino, Califórnia, que “os muçulmanos deveriam ser banidos do país até as autoridades investigarem outros possíveis atos terroristas”. Com apenas 18 anos, Malala já tem muita autoridade quando o assunto é defesa de direitos e combate ao extremismo religiosos e político, tendo ela mesma sido vítima de um atentado que quase lhe tirou a vida. Ela defende que “o que aterroriza extremistas religiosos como o Talibã não são tanques ou bombas ou balas americanas, é uma garota com um livro”.

Malala Yousafzai é tema do documentário He Named Me Malala (“Ele Me Nomeou Malala”, 2015), que trata de seu dia a dia com a família, suas origens e seu trabalho através do Malala Fund, organização sem fins lucrativos co-fundada pela ativista e seu pai para construir escolas em várias regiões pobres no mundo, a começar por Swat e Shangla, no Paquistão, onde Malala nasceu e cresceu. “Meu pai é um exemplo para todos os pais e homens em geral. Se queremos igualdade, os homens devem lutar e apoiar quem busca essa igualdade. Precisamos caminhar juntos”, declarou Malala em uma entrevista recente. Seu nome é uma homenagem a Malalai de Maiwand (século 19), a “Joana d’Arc” da etnia pachtum, a qual Malala pertence, e também a maior heroína do país vizinho, Afeganistão.

Apesar de seu avô paterno achar o nome muito triste, com significado de “luto, sofrimento”, Malala tem orgulho de se chamar assim. “Eu a adorava [Malalai], assim como amava ouvir as músicas que ele [seu pai, Ziauddin] cantava para mim e a maneira como meu nome flutuava ao vento quando alguém o chamava”, narra Malala em outro trecho de seu livro. Atualmente, a família Yousafzai Ziauddin, sua esposa Toor Pekai, Malala e seus irmãos mais novos, Kushal e Atal - mora na cidade de Birmingham, Inglaterra, para onde Malala foi levada para se recuperar do tiro que quase lhe tirou a vida. O documentário, dirigido pelo premiado Davis Guggenheim (o mesmo diretor de “Uma Verdade Inconveniente”, 2006), mostra a nova rotina em território estrangeiro de uma jovem que sonha em voltar para sua terra, mas que não pode por conta das ameaças à sua vida. Mostra o amor de um pai por sua filha, e sua luta para que ela tivesse direito à educação. E, principalmente, Foto: UN Photo/Mark Garten

A ativista paquistanesa, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz em 2014 - e a pessoa mais nova a recebê-lo - é um símbolo de seu país e internacional da luta pelo direito de todas as crianças à educação. Desde nova ela acompanha seu pai, o educador Ziauddin Yousafzai, em eventos e entrevistas para defender a causa. Por conta disso, Malala foi alvo de uma tentativa de assassinato por membros do grupo extremista Talibã em sua terra natal, no Vale do Swat, em 9 de Outubro de 2012. Ela e duas amigas foram atingidas dentro do transporte que as levava com outras colegas e professoras da escola para suas casas. “Um talibã disparou três tiros à queima-roupa em três meninas e não matou nenhuma delas. Parece uma história improvável, e dizem que minha recuperação foi milagrosa. (...) Deus impediu que eu fosse para o túmulo. Tenho a sensação de que esta é uma segunda vida”, declara Malala eu seu livro autobiográfico

“Eu Sou Malala” (2013), escrito em co-autoria com a jornalista inglesa Cristina Lamb e lançado no Brasil pela editora Companhia das Letras.

SECRETÁRIO-GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS E MALALA

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CAPA Foto: UN Photo/Eskinder Debebe.

DISCURSO NO CENTRAL PARK, EM NOVA IORQUE

o filme conta a história de uma menina que sonha em um futuro melhor para todas as crianças.

que “a mensagem tenha sido espalhada e inspire mais pessoas a fazer alguma coisa, não apenas assistir ao filme”.

ENCONTRO DE DUAS ADMIRADORAS MÚTUAS

As duas jovens também conversaram sobre Feminismo, até então um assunto delicado para Malala. “A palavra feminista é um pouco difícil. Quando a ouvi pela primeira vez, escutei conotações negativas e poucas positivas. Tive dúvidas em me definir ou não como feminista. Mas depois escutei seu discurso, em que você diz ‘se não agora, quando? Se não eu, quem?’, e percebi que não há mal nenhum em me definir como feminista. De modo que sim, sou feminista e todas deveríamos ser porque a palavra feminismo é outra palavra para igualdade”, declarou Malala, em referência ao discurso feito por Emma Watson como Embaixadora da Boa Vontade da ONU Mulheres convidando a todos os homens e mulheres a participar da campanha HeForShe, em Nova York, em 20 de Setembro de 2014.

Como parte da divulgação do documentário, Malala foi entrevistada pela atriz inglesa Emma Watson, porta-voz oficial da campanha pela igualdade entre gêneros HeForShe (“ElesPorElas”, como é chamada no Brasil), da Organização das Nações Unidas (ONU), durante a abertura do Into Film Festival em Londres, em Novembro de 2015: “Como você sente em ter sua história contada no filme e exibida para milhares de jovens hoje como parte do festival?”. “É um tanto interessante, eu não gosto de me ver na televisão, eu não consigo nem ouvir minha voz“, respondeu a ativista. “Mas uma vez que o filme estava pronto e eu assisti, me inspirou o modo como Davis Guggenheim conduziu a história por animação e leu a mensagem da educação pelo mundo, e o comprometimento dele com esse chamado.” Malala espera desse projeto 42

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A atriz postou a conversa completa em vídeo nas redes sociais, com

mais de 35 mil compartilhamentos no Facebook e mais de 300 mil visualizações no YouTube. “Hoje conheci Malala. Ela foi generosa, absolutamente graciosa, simpática e inteligente. Isso pode parecer óbvio, mas fiquei ainda mais impressionada com isso pessoalmente. (...) Ela tem a força de suas convicções, juntamente com o tipo de determinação que eu raramente encontro... E que não parece ter sido diminuída pelo sucesso que ela já teve. E, por último... Ela tem um senso de zen / calma / paz (por favor, insira a sua palavra aqui) a seu redor”, escreveu Emma Watson, admirada, em sua postagem.

PELA EDUCAÇÃO DE TODOS Fora das telas e dentro de casa Malala Yousafzai também é uma inspiração. Em Agosto de 2015, Toor Pekai, sua mãe, falou publicamente pela primeira vez que voltou à escola para aprender a ler e escrever - e que é atormentada incessantemente por Malala para fazer o dever de casa.


CAPA

Em 2014, Malala foi reconhecida com o Prêmio Nobel da Paz, junto com o também ativista indiano de direitos humanos e pela educação Kailash Satyarthi. Essa foi a segunda indicação da jovem à premiação internacional. A primeira foi em 2012, pouco depois do atentado do Talibã. No entanto, o prêmio foi dado à União Europeia. Em seu discurso de agradecimento na cerimônia de entrega do Nobel em Oslo, Noruega, no dia 10 de Outubro de 2014, Malala declarou que o prêmio não é só dela, e sim “das crianças esquecidas que querem educação. É das crianças assustadas que querem a paz. É das crianças sem direito à expressão que querem mudanças. Estou aqui para afirmar os seus direitos, dar-lhes voz”. Malala ressaltou que

Foto: UN Photo/Mark Garten

“Eu amo muito isso. Eu gosto de ler, escrever e da aprendizagem, mas quando chego em casa e eles deramme a lição de casa, eu coloco minha bolsa no canto - eu digo ‘eu não posso ser incomodada’ “, ela riu. “Mas então Malala chega em casa e diz: ‘onde está a sua bolsa, você tem feito sua lição de casa’, e eu quero dizer ‘Ah, é um pouco difícil!’”, contou Toor Pekai ao público do evento Women Into The World, em Londres.

DISCURSO PARA A ASSEMBLEIA GERAL DA ONU

esse não é momento de lamentar pelas crianças, mas sim a “hora de agir, para que seja a última vez que vejamos uma criança sem direito à educação.” Ela também destinou ao Malala Fund a sua metade do prêmio 1 milhão de dólares da Fundação Nobel. Essa é uma pequena parte do trabalho em nível internacional que vem sendo realizado por Malala desde 2013, principalmente junto à ONU. No dia 18 de Agosto de 2015, Malala Yousafzai Foto: UN Photo/Mark Garten

se uniu a 193 jovens de todo o mundo segurando lanternas azuis, na Cúpula de Desenvolvimento Sustentável da Assembleia Geral da ONU, chamando os líderes mundiais para colocar a educação universal como prioridade. Esse é o mesmo pedido que ela fez no dia 12 de Julho de 2013, seu décimosexto aniversário, data nomeada de Malala Day (“Dia da Malala”). Usando véu e roupa rosa (sua cor favorita), a ativista convocou todos os governos a assegurar a educação obrigatória livre para todas as crianças do mundo e a lutar contra o terrorismo e a violência, protegendo as crianças da brutalidade e do perigo. “Uma criança, um professor, uma caneta e um livro podem mudar o mundo. A educação é a única solução. Educação antes de tudo”, é a mensagem que ela deixou para todos. E em relação ao ataque contra sua vida, Malala declarou: “Também não odeio o talibã que atirou em mim. Mesmo que eu tivesse uma arma e ele estivesse na minha frente, não atiraria nele. Esta é a compaixão que aprendi com Maomé, Jesus Cristo e Buda, a herança de mudança que recebi de Martin Luther King, Nelson Mandela e Muhammad Ali Jinnah”. REVISTA PERFIL

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DIREITO

DEMOCRACIA E MINORIAS Por Dr. Leonardo Santos Vieira Coelho

É ensinamento da Política de Aristóteles que a Democracia é o governo onde domina o número, sem se descurar o pensador que o regime político democrático é o governo de seres humanos essencialmente iguais. Quer isto dizer que, sendo iguais as pessoas naquilo que é relevante para o Estado, obviamente o aspecto político desse mesmo Estado deve ser moldado por deliberação da maioria do povo, gozando cada indivíduo, em tese, do mesmo peso popular. Mas, isto não é só. A deliberação da maioria não se acha incondicionada na ordem jurídica, merecendo dos gestores legais, ao contrário, um verdadeiro controle qualitativo, a fim de que o implemento dessa decisão popular majoritária resulte em efetiva observância e proteção ao núcleo duro do direito das minorias, nada importando a inexpressividade do seguimento minoritário atingido, não valendo, aqui, o domínio numeral apregoado pelo mestre grego. A questão fulcral reside na ilegitimidade das medidas que não observem o mínimo fundamental da minoria, sendo referido piso vital um direito que, não reconhecido, torna o indivíduo marginalizado no seio social. Se aplicarmos com fito pedagógico a técnica do reducionismo do Estado ao ambiente familiar, sabe-se que é perfeitamente racional que todos os integrantes de uma mesma família deliberem sobre a natureza de um determinado prato que será servido na mesa de jantar, fazendo-o empregando a técnica do voto pela maioria; porém constitui ato de imposição ditatorial a simples exclusão imotivada de um integrante da mesa, mesmo que tal deliberação encontre lastro no voto de quase todos os componentes da família. Nesse último caso, antes de realizar-se o ideal democrático, tem-se, isto sim, manifestação de verdadeira ditadura da maioria, que alui as vigas mestras do princípio democrático. De igual ilegitimidade, verbi gratia, a inação de uma mãe face a agressão ao filho caçula pelo primogênito, que se serve da força para subjugar o pequeno. A liberdade do maior, neste último caso, antes de constituir direito se cuida de uma liberdade que oprime e ofende e o direito, na espécie, é o dado realmente libertador, porém, em favor da parte fraca. Feliz o axioma: “No conflito entre o forte e o fraco, a liberdade oprime e o direito liberta”. 44

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A premissa é de simplicidade franciscana. Pressupondo o ideal democrático a necessidade incontornável de convivência entre os diversos integrantes do corpo social – povo –, por desdobramento natural e lógico, a maioria, alijando a minoria, no contexto da tensão das relações interpessoais, há de soberanamente decidir, sim, mas, fazendo-o à vista das necessidades populares, incrementando o patrimônio jurídico dos desiguais, visando a sua igualização com os outros integrantes da comunidade jurídica. A Democracia pressupõe a existência de dois corpos ocupando o mesmo espaço. Daí o nascimento dos direitos voltados à afirmação igualitária, ou seja, direitos que impõem à autoridade estatal o manejo eficaz de políticas públicas para o real aperfeiçoamento dos direitos da primeira geração – de cunho eminentemente individualista. De nada adiantou a previsão do direito de liberdade se os titulares do poder econômico se mostraram mais livres e potentes ao alcance das prerrogativas individuais, de modo a se tornarem, em suma, ainda mais poderosos, dando azo à quimérica desigualdade social. E foram esses mesmos opulentos que, com o mote da formação de riqueza, passaram por cima das liberdades dos marginalizados, os quais, contando apenas com a liberdade estabelecida na lei – em plano abstrato –, na prática, se apresentaram submissos ao modo de produção estabelecido. Historicamente, surge a contingência da discriminação benéfica ou positiva, de modo que ao Estado passou a competir a previsão de ações públicas, para integrar ao corpo subjetivo central os negros, as crianças, idosos, portadores de necessidades especiais e todos quantos estejam trafegando à margem das relações sociais. A ideação de igualdade passou a ser efetiva e real, colocando fim à tradicional perspectiva individualista e opressora nascida ao depois das revoluções burguesas do final do séc. XVIII – a estadunidense em 1776 e francesa de 1789. A solução manifestada pelas diversas Constituições do pós-guerra veio colocar cobro em definitivo ao equívoco conceito de justiça encontradiço desde os gregos, segundo o qual “fazer justiça é dar a alguém o que é seu.” Em tempos atuais, melhor é lembrar, com João Mangabeira, que “se fazer justiça é dar a alguém o que é seu, dê-se ao pobre a pobreza, ao miserável a miséria


DIREITO e ao desgraçado a desgraça, que isso é o que é deles. Não é à toa que aos escravos se deu a escravidão”. E complementa o grande baiano, para concluir com pena certeira que “fazer justiça é dar ao indivíduo segundo o seu trabalho e segundo a sua necessidade”, tal como apregoa a Carta de São Paulo aos Tessalonicenses, já que a visão estatal de justiça só pode ser a de justiça social, vale dizer, de uma justiça manifestada em medidas condizentes com o caráter fundamentalmente igual dos seres humanos, a despeito da evidente desigualdade efetiva existente. Disso resulta a necessidade de se os igualar com ações estatais afirmativas – direitos sociais –, para materialização real dos mesmos direitos fundamentais, desde que se não queira positivar ser esse Estado hipócrita e sádico, a custas do sacrifício das liberdades públicas da cidadania. Portanto, desde que os indivíduos se mantenham cônscios dos limites impostos a suas deliberações, o ambiente do processo democrático, como meio afirmador dos mais graves valores jurídicos, deve evolver-se com respeito aos setores minoritários e a despeito dos sabores cambiantes da autoridade pública eleita, que deve à Constituição da República

respeito sem contraste na ordem jurídica pátria. E que finalmente em um momento na história se possa em definitivo lançar-se o discurso da igualdade num púlpito erguido sobre o solo de um Estado justo e realizador dos direitos e garantias fundamentais, nada importando a utopia, que esta conta com assento constitucional. O fim constitucional último até pode ser inatingível, mas, sua busca incessante tem força de gerar resultados importantes para o desenvolvimento do Estado democrático de direito. Vale, nesse campo, evocar as sempre precisas palavras de Mário Quintana: “Se as coisas são inatingíveis, ora, não é motivo para não querê-las...Que tristes os caminhos, se não fora a mágica presença das estrelas”.

Leonardo Santos Vieira Coelho: é Juiz de Direito, titular da vara de Prado e da 112ª Zona Eleitoral.

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CINEMA

DIVERSIDADE:

A NOVA REVOLUÇÃO DE STAR WARS O novo filme da série, O Despertar da Força, chamou atenção pela escolha de seus protagonistas, uma mulher e um homem negro Por Eric Andriolo, Rio de Janeiro Fotos: Divulgação

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CINEMA O ano era 1977. Quando o primeiro Star Wars estreou nos Estados Unidos, a recepção do público foi uma surpresa caótica. Os meros 32 cinemas que aceitaram exibir o filme ficaram rapidamente lotados de expectadores, que viam e reviam o filme. A presença foi tamanha que, pela primeira vez, cinemas daquele país instituíram a obrigatoriedade de o expectador sair da sala de cinema após ter visto o filme, algo que não era, necessariamente, uma regra, e que só se tornou norma por aqui nos anos 80. O público jamais havia visto algo assim. Durante os depressivos anos 70, a referência em ficção científica era o altamente artístico e confuso 2001: Uma Odisseia no Espaço, seguido do sucesso de O Planeta dos Macacos. Mas, há muitos anos o cinema desse gênero estava agonizando, e mesmo depois de Tubarão, de Steven Spielberg, ter batido todos os recordes de bilheteria e inventado os blockbusters de verão, ainda assim os estúdios de Hollywood estavam decididos a fechar de vez suas divisões de efeitos especiais. Agora, o cinema era repleto de histórias realistas, protagonistas sombrios e tramas sobre a decadência da sociedade.

DARTH VADER

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Mas, Star Wars (no Brasil, “Guerra nas Estrelas”, mais tarde renomeado para Star Wars Episódio VI: Uma Nova Esperança) trouxe algo que nunca havia sido visto. Efeitos especiais convincentes, uma trama que lembrava o já velho seriado Flash Gordon, misticismo aliado à ficção científica, e um ritmo que iria para sempre definir o novo gênero dos filmes de ação. Uma história de herói à la Rei Arthur em uma galáxia muito distante. Tudo resultado da mente visionária do diretor George Lucas. Por tudo isso, o filme se tornou o maior sucesso de bilheteria de seu tempo, e é até hoje o filme independente mais lucrativo da história, tendo gerado mais de US$ 2,6 bilhões, em valor ajustado para inflação. Foi o início de uma saga trilionária. A história de Luke Skywalker e (na trilogia prólogo) Anakin Skywalker, totaliza centenas de livros, seriados e histórias em quadrinho, além de milhares de brinquedos. Entretanto, quando um novo Star Wars foi anunciado pela Disney sob a tutela do diretor J. J. Abrams, a expectativa era inteiramente diferente. Ao longo dos anos, a franquia vinha gradualmente se esgotando, enquanto

seu criador, George Lucas, era cada vez mais alvo de críticas por más decisões criativas em seus filmes. Os recentes episódios I, II e III, da década passada, foram recebidos com amplo desapontamento por parte dos fãs. O otimismo só foi retomado quando a Disney anunciou ter comprado os direitos da franquia em 2012, por exorbitantes US$ 4 bilhões e 2% das ações da gigante midiática. Desde então, os fãs estavam esperando que a nova produção lhes entregasse um filme à altura dos títulos originais da franquia. Especialmente porque, seguindo a tradição da série, este seria apenas o primeiro de outros três filmes que devem ser lançados nos próximos anos. Star Wars Episódio VII: O Despertar da Força inovou em outros campos. Em um mundo já saturado de filmes de ação, o que surpreendeu a muitos foi a escolha dos protagonistas. No novo episódio, Rey (Daisy Ridley), uma mulher, é a protagonista. Em uma era na qual Hollywood é amplamente criticada por produzir sempre filmes com protagonistas que são homens brancos e de meia idade. Mas, o fato de Rey ser a principal personagem foi


CINEMA AMIZADE CONQUISTA O PÚBLICO

uma surpresa para muitos, uma vez que o estúdio fez de tudo para enganar a audiência em trailers, pôsteres e entrevistas, apresentando outro personagem principal, Finn (John Boyega), um negro. No filme, ambos são ajudados por Poe Dameron, interpretado pelo artista latino Oscar Isaac. Ou seja, o novo trio de heróis é o mais diverso da história da saga. Em meio a muitos elogios rasgados e críticas acaloradas (o filme foi recebido com idolatria por muitos fãs e com revolta por outros, no melhor estilo ame ou odeie), talvez, essa diversidade seja a característica mais impactante para a indústria do cinema. Em perspectiva, a trilogia original (episódios IV, V e VI, que foram lançados entre 1977 a 1983) teve um único personagem negro (Lando Calrissian, vivido por Billy Dee Williams) e apenas uma personagem mulher com presença de tela (a princesa Leia Organa, vivida por Carrie Fisher). Ambos são coadjuvantes. A segunda trilogia (episódios I, II e III, de 1999 a 2005) seguiu o mesmo

padrão, com personagens de Samuel L. Jackson e Natalie Portman, e também sofreu críticas moderadas de racismo, em geral por personagens alienígenas que alguns interpretaram como paródias de negros e judeus. Já o novo filme trouxe diversidade aos heróis e lhes deu objetivos, personalidades e mostrou-os na tela crescendo e superando desafios. Indo além das personagens mais simples das trilogias anteriores. Algo raro, principalmente em superproduções, que, frequentemente, evitam o risco de inovações no elenco. “É uma novidade a inclusão de uma heroína como protagonista de uma grande produção de Hollywood como Star Wars - uma franquia que se notabilizou com a presença central de grandes figuras masculinas, como Luke e Anakin Skywalker, por sinal, personagens que são pai e filho”, disse o professor Gabriel Cid de Garcia, filósofo e doutor em Literatura Comparada. Gabriel trabalha com cinema no Fórum de

Ciência e Cultura da UFRJ. Ele lembra que o movimento, apesar de significativo, não é sem precedentes. Ao mesmo tempo em que cinemas estavam estreando O Despertar da Força, estava em cartaz o episódio final de Jogos Vorazes protagonizado por Katniss Everdeen (vivida pela premiada atriz Jennifer Lawrence). O ano de 2015 também trouxe mulheres em papéis decisivos no novo Mad Max: Estrada da Fúria, com a atriz Charlize Theron. O criador e diretor da franquia Mad Max, George Miller, consultou a autora feminista Eve Ensler (que filmou The Vagina Monologues) para aprimorar suas personagens femininas. No passado, outros filmes haviam rompido o tabu no gênero de ação. Famigeradamente em Exterminador do Futuro 2, Kill Bill, e, até mesmo, a animação da Disney Mulan, que trata exatamente da questão do gênero. “Aos poucos, vemos romper-se, bastante tardiamente, diga-se de passagem, a hegemonia de gênero, branca e REVISTA PERFIL

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CINEMA REY, FINN E BB-8

masculina, que de maneira geral dominava o cinema de Hollywood para as grandes massas”, disse Gabriel Cid. Ele atribui parte da mudança às discussões nas redes sociais: “muitas pessoas têm trazido à tona diferentes perspectivas que apontam os preconceitos e os mecanismos excludentes”. Até então, uma avaliação comum por parte de muitos na indústria cinematográfica era de que o público não aceitaria bem a mudança. Era a crença de que personagens femininos só atrairiam mulheres, e protagonistas negros venderiam filmes para nichos negros. Filmes que discutem essas questões estavam frequentemente restritos a produções independentes, pequenas, exibidas em salas alternativas de cinema, que atraem apenas o público mais cinéfilo. No entanto, o relativo sucesso do Episódio VII pode abalar esse argumento de forma decisiva. Em apenas 20 dias, o novo capítulo da saga Star Wars superou o recorde de arrecadação doméstica de US$ 760,5 milhões do filme Avatar, que levou sete meses para conseguir esse resultado. 50

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É o filme mais rentável da história nos Estados Unidos. Isso parece mostrar que não é a diversidade que impede que públicos maiores encham as sessões dos filmes mais inclusivos. “O tamanho do público parece corresponder mais à maior distribuição de filmes em salas e toda a publicidade que gira em torno de seu lançamento”, disse Gabriel Cid. “A desigualdade está mais no potencial apelo de mercado que parece reger a distribuição de filmes”. Entre os fãs, a grande maioria das reações foi positiva. O agregador de críticas Rotten Tomatoes, por exemplo, registrou 93% de aprovação entre críticos e público, e, muitas pessoas, em um eco do fenômeno causado pela estreia do Star Wars original, reassistiram o filme diversas vezes. “Eu vi o filme duas vezes no cinema. Se o dinheiro me permitisse, assistiria mais”, disse o estudante de jornalismo Caio César, fã da saga desde a infância. “A recepção do público, tenho

percebido, tem sido a melhor possível”. Assim como metade da população brasileira, Caio é negro, e aprovou o elenco mais diverso dessa nova trilogia. “Acho que a diversidade étnica do filme ajuda na identificação com o público. Sempre é interessante para um negro ver um personagem negro como ele na tela, por exemplo, nos sentimos representados”, disse. Caio é amante de cinema, e mantém um blog sobre o assunto (chamado Cinema2manos) com o colega de universidade Renato Furtado, do curso de rádio e TV. Renato também assistiu ao filme no cinema, em meio a “aplausos e gritos” da audiência durante a exibição. “Das pessoas que tenho contato, todas ou acharam o filme sensacional, ou, ao menos, gostaram bastante”, disse ele, que também aprovou a mudança na escolha dos personagens principais. “Chamou atenção. Eu acho muito bom e muito interessante que um filme desse tamanho apresente tal diversidade. O meio cinematográfico e os


CINEMA filmes, em geral, não são muito bons nesse quesito”. “O fato de Star Wars colocar essa variedade de personagens é muito importante. Para eles, os produtores, como negócio, porque atinge mais gente, e para o público também, porque mais gente se vê representada na tela. Ajuda muito também que os personagens sejam bem construídos ao invés de serem só personagens vazios ou estereotipados”.

FINN

No entanto, a preocupação com o “negócio” também é vista por alguns como uma pedra no caminho da maior diversidade nas telas de cinema. Como exemplo, houve muitos incidentes que foram alvo de críticas no “merchandising” que acompanhou os filmes. A internet foi inundada de reclamações por conta da falta de bonecas da protagonista Rey nas lojas, e também da sobra de figuras do personagem negro Finn, que aparentou vender menos que os demais.

Darth Vader, Luke Skywalker e o novo vilão Kylo Ren. A empresa justificou a escolha dizendo que, como o jogo foi lançado meses antes do filme, e que a personagem não foi inclusa para “evitar revelar um ponto de roteiro essencial”, e disse que, agora, vai acrescentá-la. A explicação foi recebida com ceticismo pelo público, segundo o jornal britânico The Guardian.

No início de janeiro, a empresa de brinquedos Hasbro teve de voltar atrás e pedir desculpas aos fãs por ter omitido Rey de seu jogo “Monopoly: Star Wars”, que tinha bonecos de Finn,

“Alguns empresários ignoram a real dimensão dos fatos e investem na busca de tendências, optando pela diversidade como uma forma de atrelar uma certa sofisticação à

esta ou aquela, ao passo que mantém diversos elementos que ainda reproduzem machismos e preconceitos na maioria dos seus produtos”, disse Gabriel Cid . Para ele, o mercado age dessa forma porque percebe que o espectador está mais engajado em questões sociais. “Visivelmente há uma mudança de postura, mas, desconfio de suas intenções”, disse Cid. “Estamos falando de um espectador que (...) não é alienado em relação às questões sociais e aos ativismos. O espectador médio não vai digerir mais qualquer produto da mesma forma”.

KYLO REN

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COMPORTAMENTO

PELO DIREITO

DE SE SENTIR TRISTE Por Daniel Bovolento, São Paulo

Hoje foi um daqueles dias em que levantar da cama foi um martírio. Só queria poder ter ficado trancado no quarto, olhando pro teto, fazendo o básico pro dia não passar em branco. Tem horas em que todo mundo se sente assim, com vontade de ser intocável, de se resguardar num quarto escuro por horas e horas. Enquanto isso, pipocam mensagens de apoio, de “sai dessa”, de “vamos sair”, de “para de palhaçada” e afins. Por que as pessoas não entendem que não há problema em se sentir triste? Vejo um movimento em prol da felicidade, do bem-estar, de estar sorrindo o tempo todo. É uma motivação nossa querer animar quem a gente gosta quando a pessoa tá pra baixo, como se a gente achasse que estar triste fosse algo penoso que ninguém precisa passar. Eu entendo o lado bom e agradeço, mas, me sentir triste faz parte de um processo de renovação que as pessoas não parecem entender. Quando a gente se sente triste, a gente mergulha mais um pouco na gente. É como se nós tivéssemos tirado o dia pra ficar em silêncio, observar com olhos pesados as coisas, manter o mínimo de contato possível com os universos paralelos dos outros. É um modo de coexistir no mundo – a gente tá ali, mas não tá, tá afundado na gente, repensando e sentindo tudo com mais intensidade. É um processo necessário esse da tristeza: pra se livrar desse sentimento de pesar, nós precisamos senti-lo até que ele se esgote. Digo sempre pros amigos com pós-namoro traumático, ou que foram demitidos, ou que tiveram uma perda pessoal grande, que é importante que eles sintam. Sintam, chorem, botem pra fora tudo. Já disse isso antes e repito: a gente não apaga a tristeza, não extingue a angústia, não exila o peso pra fora da gente, porque eles são sentimentos cíclicos. Nós os drenamos, e, pra isso, a gente precisa sentir tudo, como se fosse uma catarse necessária pra botar pra fora. Por isso que eu ponho óculos escuros e ando em direção ao metrô com a minha playlist de instrumental clássico, que é pra sentir melhor. É por isso que eu fecho a porta do quarto quando chego em casa e apago a luz, respiro fundo e deixo o mundo lá fora. É por isso que eu choro uma, choro duas, sinto o peito pesar pra caramba e deixo isso tudo ir saindo 52

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aos poucos de mim, seja através das palavras, do choro, da respiração ofegante, da corrida noturna, do soco no saco de areia ou do sono pesado. Cada um tem a sua maneira de lidar com a tristeza. A gente deveria entender melhor e respeitar isso. Nem tudo é caricato e você ainda vai ver muita gente triste pulando em festa animada durante a semana, comendo um McDonald’s às 3 da manhã, enchendo a cara na hora do almoço, desligando o smartphone pra não ter contato com mais ninguém e por aí vai. O importante é descobrir a sua válvula de escape pra sentir tudo, pra se sentir triste e isso não se tornar algo pior. Se a gente não sente, acumula. E tristeza acumulada é uma das piores coisas que se pode sentir. Avise aos amigos que eles não precisam se preocupar, você pede ajuda se precisar. Diga que não quer ir na tal festa se você não quiser ir mesmo e ponto final. Não tem disso de se obrigar a sentir algo que você não tá sentindo. Vai por mim: quando você se permite sentir tristeza e respeita a sua (e a tristeza alheia), isso causa uma baita de uma felicidade particular que só você vai entender.

Daniel Bovolento: Carioca morando em São Paulo, publicitário, dono do blog Entre Todas as Coisas e autor do livro Por onde andam as pessoas interessantes


NINA ALEGRIA. TÉCNICA SPRAY SOBRE TELA. TOZ

As obras do artista baiano Tomaz Viana tornaram-se ainda mais tocantes porque são inspiradas em gente querida - amigos e família. A doce e sensual Nina aparece em muitos dos cenários criados por Toz, que mistura diferentes técnicas, como spray, pincel, tinta a óleo e colagens.


CINEMA Foto: The Guardian

ALAN RICKMAN:

“UMA VIDA INTEIRA PARECE TER PASSADO EM MINUTOS” Ator inglês interpretou papeis de peso no cinema e teatro e tinha sua voz grave e profunda como característica marcante Por Yara Lopes 54

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CINEMA

Além de Snape, Alan também interpretou personagens muito marcantes, como o terrorista psicótico alemão Hans Gruber em Duro de Matar, o Xerife de Nottingham em Robin Hood - O Príncipe dos Ladrões, o próprio Rasputin no filme Rasputin, que rendeu a ele o Globo de Ouro, e o Juiz Turpin no musical Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet. Emprestou sua voz a Marvin, o robô paranoico-depressivo que serve como alívio cômico de O Guia do Mochileiro das Galáxias, e à lagarta

Foto: Canto dos clássicos

2016 não começou bem para os fãs de Alan Rickman, o ator inglês estava lutando contra um câncer e faleceu no dia 14 de janeiro. A notícia veio como um baque para todos que acompanhavam e admiravam seu extenso trabalho na dramaturgia, além de sua personalidade. Um dos papeis mais importantes que desempenhou em sua carreira foi Severus Snape, professor de poções de Hogwarts, na saga Harry Potter. Ao longo dos oito filmes da série baseada nos livros da autora J.K. Rowling, o público pôde viver uma relação de amor e ódio com o personagem de Alan, que fez uma atuação magnífica. Quem acompanhou tudo, ganhou um carinho ainda maior ao saber da história completa de Snape.

DURO DE MATAR

do filme Alice no país das maravilhas. Ele ficou consolidado como um especialista em vilões, apesar de ter vivido papeis mais leves, como na comédia romântica Simplesmente Amor, como um marido infiel. Só aos 42 anos ele começou a fazer cinema, antes atuava como um premiado profissional do teatro. Fãs de Alan, principalmente os que acompanharam seu trabalho de uma década nos filmes com realidade mágica, compartilharam depois de sua morte muitos dos seus momentos marcantes, como a declaração

que fez após terminar de filmar Harry Potter: “Acabei de voltar do estúdio de dublagem onde falei para um microfone como Severus Snape pela última vez. No ecrã passavam imagens de há 10 anos do Daniel, da Emma e do Rupert. Eles tinham 12 anos. Também voltei recentemente de Nova Iorque, e enquanto lá estava, vi o Daniel a cantar e a dançar (brilhantemente) na Broadway. Uma vida inteira parece ter passado em minutos”. Todos que o admiravam tiveram essa mesma sensação depois do dia 14 de janeiro, de que uma vida inteira se passou em minutos. Foto: Divulgação

SNAPE E LILY POTTER

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CINEMA Quem trabalhou com o ator usou as redes sociais para lamentar a perda, como Emma Watson, que interpretou Hermione Granger: “Eu fiquei muito triste ao ouvir sobre Alan hoje. Me sinto muito sortuda por ter trabalhado e passado algum tempo com um homem e um ator tão especial. Eu realmente vou sentir falta das nossas conversas. Descanse em paz, Alan. Nós te amamos”. Evanna Lynch, que viveu Luna Lovegood, também usou a rede social para lamentar o falecimento do ator: “Não estou preparada para um mundo sem Alan Rickman. Era uma bela alma. Ele foi muito gentil e generoso. Eu também nunca vou esquecer o quão assustador era encontrar acidentalmente com ele vestido como Snape. E o quanto ele nos fez amar o Snape! Descanse em paz, Alan”. Daniel Radcliff, o personagem principal dos filmes Harry Potter, fez uma das declarações que mais emocionou os fãs da franquia: “Alan Rickman é, sem dúvida, um dos maiores atores com quem já trabalhei e vou trabalhar. Ele é, também,

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uma idade tão jovem foi incrivelmente importante e eu vou levar as lições que ele me ensinou para o resto da minha vida e carreira. Sets de cinema e palcos de teatro ficam muito menores com a perda deste grande ator e homem”. Mesmo tendo conquistado um Globo de Ouro, um Emmy (Rasputin) e um Bafta (Robin Hood), além de três Tonys (o Oscar do teatro nos EUA) e três Olivier (o Oscar do teatro britânico), Rickman nunca ganhou um Oscar. O ator, no entanto, não parecia se abalar pelo fato. “Papeis ganham prêmios, atores não”, disse em entrevista em 2008. Rickman deixa dois trabalhos inéditos. Volta a fazer a voz da lagarta em Alice Através do Espelho, que deve estrear este ano, e participa de Eye on the Sky, de Gavin Hood, no qual atuou junto a Helen Mirren. Alan se foi, mas, seu trabalho continua vivo e ele será lembrado durante muito tempo. “-After all these time? -Always.” Foto: Universe 42

SEVERUS SNAPE

uma das pessoas mais leais e apoiadoras que eu conheci na indústria cinematográfica. Ele me encorajou muito, tanto no set quanto nos anos pós-Potter. Eu tenho certeza que ele viu tudo o que fiz no palco, em Londres e em Nova York. Ele não tinha que fazer isso. Eu sei que as outras pessoas que tiveram amizade com ele por muito mais tempo do que eu vão dizer que ‘se você ligar pro Alan, não importa onde ele esteja ou se está ocupado, ele vai te retornar dentro de um dia’. As pessoas criam sua percepção dos atores com base nos personagens que eles interpretaram. Então pode ser uma surpresa saber que, ao contrário dos personagens mais severos (ou assustadores) que ele interpretou, Alan era extremamente gentil, generoso e engraçado. E algumas coisas, obviamente, ficavam ainda mais engraçadas quando ele fazia seu inconfundível contrabaixo. Como ator, ele foi um dos primeiros dos adultos em Potter a me tratar como um profissional ao invés de uma criança. Trabalhar com ele em


LITERATURA

DE OLHO NO NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA Por Prof. Dr. Valci Vieira dos Santos: Sempre achei que uma gramática é uma coisa muito séria. Uma boa gramática é um alto serviço a uma língua e a um país. Se essa língua é a nossa, e o país é este em que vivemos, o serviço cresce ainda e a empresa torna-se mais difícil. Machado de Assis

Nada melhor do que invocar o gênio de Machado de Assis, para falarmos sobre o novo acordo ortográfico da língua portuguesa, afinal, quem o superou no cuidado ao escrever textos tão primorosos, tão respeitosos com a língua vernácula? A sua preocupação com uma escrita bem acabada, com um estilo próprio, revela-se no conjunto de sua obra literária. Machado foi esse escritor cuidadoso com o que produzia, por isso, procurava estar sempre sintonizado com a estrutura da língua, com eficiência e correção. Sigamos, pois, o exemplo do bruxo do Cosme Velho para escrevermos com precisão. Para escrevermos com eficiência, precisamos estar atentos à evolução da língua, às mudanças que a gramática de um idioma nos impõe. A ortografia, que é a parte da gramática normativa que nos ensina a escrever corretamente as palavras de uma dada língua, acabou de ter suas regras reestruturadas. O Acordo Ortográfico da língua portuguesa foi assinado em 16 de dezembro de 1990, na cidade de Lisboa, Portugal, sendo o Brasil um de seus signatários. Seu objetivo é a unidade essencial da língua portuguesa e a manutenção de seu prestígio internacional. De lá para cá, vários decretos foram assinados, a começar pelo Decreto de nº 6.583/2008, o qual referendou o Acordo no Brasil. Em 1º de janeiro de 2009, a Reforma Ortográfica entrou em vigor, com uso facultativo, prevista sua obrigatoriedade para 1º de janeiro de 2013. Entretanto, em dezembro de 2013, a presidente Dilma Rousseff assinou outro decreto prorrogando esse prazo para 1º de janeiro de 2016. Esta data chegou. Agora, não tem mais jeito. O Acordo deverá ser obrigatoriamente observado, o que significa que devemos conhecer e aplicar, corretamente, as novas regras. Muitas já vêm sendo usadas por todos nós, ainda que não houvesse a obrigatoriedade. Não dá mais para nos descuidarmos, principalmente para

aqueles que se submetem a vestibulares e concursos públicos. Assim, quanto mais cedo atento estivermos, mais bem sucedidos seremos com a escrita de textos conforme as regras do Acordo. Quais são essas novas regras? As inovações aludem-se, basicamente, a três aspectos: 1- a acentuação das palavras; 2- o emprego do hífen; e 3- as consoantes mudas. Ora, estar de posse dessas informações, para escrever com competência, significa dizer que o caro leitor deverá adquirir um desses inúmeros manuais e guias, já publicados, sobre a nova ortografia, que trate dos acentos diferenciais, o fim do trema, no campo da acentuação gráfica, e o que muda nas oxítonas, paroxítonas e proparoxítonas, sem falar do emprego do hífen, cuja reestruturação exige ainda mais nossa atenção, dada sua complexidade. No entanto, adquirir um manual ou um guia, não é suficiente. É preciso colocar em prática os conhecimentos. É preciso exercitar a língua escrita. A leitura, por seu turno, é outra prática indispensável para que nos familiarizemos mais rápido com as mudanças. Recentemente, tive acesso à nova Gramática Fácil do professor Evanildo Bechara, e, em uma de suas “orelhas”, veja o que o editor nos diz sobre maneiras de aprender: “Existem duas maneiras de aprender. A primeira ensina a pessoa, no mar de dúvidas, a manter-se à superfície. A segunda, além de permitir à pessoa permanecer à superfície, ensina-lhe dar braçadas, ir mais além. Assim, pela primeira maneira, a pessoa boia; pela segunda, nadando, avança e chega a seu destino”. Meu caro leitor, cônscio estou de que você já escolheu a segunda maneira, então, mãos à obra! Mergulhe-se, sem dó nem piedade, com disciplina e afinco, nas últimas mudanças do novo Acordo Ortográfico.

Prof. Dr. Valci Vieira dos Santos: Professor e Diretor Acadêmico da Faculdade do Sul da Bahia-FASB Professor da Universidade do Estado da Bahia-UNEB

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EVENTOS

SHOWS, APRESENTAÇÕES E DIVERSIDADE MARCAM O TEXAS MOTO ROCK

Primeiro evento de motociclismo com nível nacional em Teixeira de Freitas atrai milhares de moradores e visitantes Por Yara Lopes Fotos: Wesley Morau 58

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EVENTOS Rock, tatuagens, motos dos mais variados modelos e muita história pra contar. Esse foi o cenário encontrado por quem passou por trecho da avenida Presidente Getúlio Vargas, em Teixeira de Freitas, nos dias 15, 16 e 17 de janeiro. O primeiro Texas Moto Rock conseguiu atrair moradores do município, motociclistas e apaixonados pelo esporte de cidades variadas, como Eunápolis, Porto Seguro, Nanuque, Vitória e Vila Velha. O evento reuniu shows de rock de diferentes bandas, venda de produtos especializados (motos, capacetes, camisetas, luvas etc.), corrida de mototartaruga, motosseata e apresentação de wheeling. Esse foi o primeiro evento da categoria com nível nacional na cidade e o processo de organização durou cerca de um ano. O resultado de todos esses meses esteve nos sorrisos e nos comentários dos participantes. “Acompanho esse tipo de encontro ao máximo que posso e já tinha vindo em Teixeira de Freitas em acontecimentos menores. Mas, percebemos a diferença grandiosa neste, não podemos deixar de parabenizar os organizadores. Acredito que o Texas Moto Rock vá ficar ainda melhor nos próximos anos e vamos voltar sempre que tiver, com certeza. O melhor de tudo

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isso é poder reencontrar os amigos, fazer novos e dividir nossas histórias”, relatou Júnior Cobra, motociclista de Eunápolis que chamou atenção com seu triciclo cheio de adesivos das cidades já visitadas. Não só o veículo de Júnior exibia uma espécie de mapa dos locais por onde motociclista e motocicleta já passaram. Esse é um costume comum nessa comunidade, que também exibe seu trajeto com bottoms variados e coloridos nos coletes, que são considerados a segunda pele do piloto. As bandeiras hasteadas ao longo da avenida mostravam o orgulho de cada grupo de pessoas do coletivo ao qual pertencem. Jeferson Gaivota é um desses motociclistas que levou a bandeira e apontava com carinho aos colegas. Ele pilota há cerca de 25 anos e há seis está aposentado e dedica seu tempo ao turismo, na maioria das vezes, vai pilotando. Como mora em Porto Seguro, cidade turística e com algumas das praias mais lindas do Brasil, procura locais com paisagens diferentes das que já está acostumado, optan-


EVENTOS do por cidades em Minas Gerais em busca de belas cachoeiras. Antigamente, havia um preconceito em relação a esse esporte, acreditando que as roupas pretas, o gosto pelo rock e o corpo marcado por tatuagens poderiam ser significado de vandalismo e bagunça. Hoje, já existe uma melhor compreensão desse estilo e dos valores nutridos pelos membros dos moto clubes, que se consideram como irmãos. A igualdade é um dos pontos que eles mais valorizam e é por isso que a caveira é seu símbolo, ela só mostra que se trata de um ser humano, mas não evidencia gênero, cor, raça. Esses ensinamentos são passados de pai para filho e muitas famílias foram juntas aproveitar esse momento de esporte e lazer. Emílio Sangali, mo-

tociclista de Teixeira de Freitas, levou seu casal de gêmeos para aproveitar o ambiente, já que mesmo com apenas 10 anos, Pedro César e Analiz já são apaixonados por motos e pretendem pilotar quando tiverem idade suficiente e viajar bastante, inspirados no pai.

Foram muitos momentos de diversão ao longo dos três dias, mas, o momento mais esperado pelos participantes foi a apresentação de wheeling. O grupo de Teixeira de Freitas treina aos fins de semana constantemente para conseguir fazer as manobras que foram apresentadas no evento. O público vibrou com intensidade ao ver os motociclistas empinarem

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EVENTOS

seus veículos de maneira bem radical, ousando, inclusive, ao colocar algum acompanhante na garupa enquanto ele ficava de pé. A chamada manobra suicida, feita sem a roda da frente, também foi apresentada por dois dos rapazes do grupo. Sem parecer ter medo de cair, eles chegam a empinar todos ao mesmo tempo, dividindo o espaço delimitado pela organização.

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Apesar de o destaque ser para os pilotos, chamou muita atenção a atuação da acompanhante de um deles. A estudante Mariane Brito, de 19 anos, participa dos treinos com o namorado há dois. Ela se apaixonou pelo esporte e se voluntaria para ficar com ele na garupa enquanto empina ou até dar a mão para ele apoiar e

conseguir fazer tentativas mais audaciosas. “Sinto medo, claro, quem não tem medo de uma queda perigosa? Mas, treinamos muito para conseguir fazer um show bonito. Ainda não sei pilotar, mas, tenho muita vontade e sei que um dia eu estarei também em cima da moto fazendo essas manobras”, confessou.




ESPORTE

DENNYS “A MÁQUINA”

GANHA DESTAQUE NO CENÁRIO DO MMA Atleta teixeirense treina no Rio de Janeiro e fez sua estreia no mundo da luta em 2011, hoje, aparece como um dos nomes promissores do UFC brasileiro Por Yara Lopes Fotos: Ailton Carvalho (Negão Fotógrafo)

No início de 2011, há cinco anos, Dennys não imaginava que teria seu nome chamado por narradores em um octógono ou que dividiria o espaço de treino na mesma academia que os irmãos Minotauro e Minotouro. Nessa época, o rapaz, de então 25 anos, morava em Teixeira de Freitas, sua cidade natal, e trabalhava como guarda municipal. Quando não estava no horário de trabalho, normalmente estava treinando jiu-jítsu, modalidade que praticava desde os 18 anos de idade. 2011 era o ano em que ele estava se preparando e juntando dinheiro para conseguir participar do campeonato mundial que

aconteceria em Salvador, já que, como ele mesmo diz, é um esporte que requer investimento financeiro. Um convite inesperado mudou sua vida para sempre. Uma luta aconteceria em setembro de 2011 em Vitória, Espírito Santo, e procuravam um rival para Thiago Jambo, que estaria representado por Minotauro. Alguns atletas já haviam desistido e declinado o convite, com medo de enfrentar o lutador. Dennys nunca tinha entrado em um octógono antes e sua experiência era toda voltada para o jiu-jítsu, uma área de luta com realidade bem

diferente do MMA. “Como eu estava juntando dinheiro para competir no mundial, perguntei logo se eu receberia alguma coisa para lutar. Como havia cachê, aceitei na hora. Mas, aí precisei passar por um treinamento intenso, já que luta desse jeito eu nunca tinha feito”, explicou. Seu treinador de jiu-jítsu, Guilherme Augusto, e Alisson Ferraz, também treinador, ajudaram a criar uma rotina mais puxada e diferenciada para deixá -lo, na medida do possível, preparado para esse embate, que aconteceria em um mês. O local estava cheio e a luta REVISTA PERFIL

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ESPORTE entre Dennys e Jambo antecederia a principal, mas, ele conta que acabou tornando-se a mais aguardada da noite: “Como eu fazia antes alguns freelas como modelo, cheguei a desfilar e fazer fotos, aproveitaram para criar um marketing interessante. Me mostraram como um cara vindo das passarelas para o octógano, isso chamou bastante atenção. A emoção foi indescritível quando chamaram meu nome e o público começou a vibrar, aplaudir, gritar junto. As pessoas tentavam tocar em mim. Foi inexplicável. Naquela multidão, consegui identificar o rosto de Jiraya, meu melhor amigo que considero irmão, nervoso, acho que mais ainda do que eu. O pessoal da igreja que frequento, a Primeira Igreja Batista, também acompanhou”. Para alegria, e até um pouco de surpresa do público, o teixeirense ganhou os dois primeiros rounds. Pelo que ouviu dos comentários do juiz, a luta estava ganha. Usando as técnicas características do jiu-jítsu, ele tentou segurar o jogo para manter esse resultado, que ao fim da luta estava bem equiparado. Ele acredita que ganhou, por pontos e técnicas, mas, acabaram decidindo dar a vitória para Thiago Jambo, pois seria estranho fazer de um novato total o grande vencedor. Jambo foi levado à luta por Minotauro, seu representante, e Dennys ficou impressionado por poder ver de perto um grande ídolo. Mesmo com todos os fãs tentando cumprimentar um dos grandes representantes das artes marciais no Brasil, houve o contato inicial com o atleta baiano. Minotouro ficou impressionado com “A Máquina” e pouco tempo depois fez contato para que ele fosse treinar com o Team Nogueira, no Rio de Janeiro. Cauteloso, achou melhor primeiro ir dar uma olhada antes de aceitar o convite. Acompanhado do amigo/irmão Jiraya, passou um 66

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mês de férias na cidade maravilhosa para conhecer a academia; aproveitou para treinar. Segundo ele, nunca apanhou tanto na vida como nesses 30 dias. Ao mesmo tempo, percebeu que era aquilo que queria para a sua vida e que realmente tinha se encontrado. Mudou-se para o Rio de Janeiro e passou a morar no Recreio dos Bandeirantes, nas instalações da academia dos irmãos Minotauro e Minotouro, tendo apoio de uma equipe com treinadores de boxe, jiu-jítsu, muay thai, além de suporte nutricional. Sua próxima luta foi em Porto Seguro e, dessa vez, a dificuldade era de encontrar alguém que quisesse enfrentá-lo. Apesar de ser novo no ramo, já dava para perceber que ele era duro na queda e que a força dos socos e chutes não era pequena. Foi uma luta muito rápida, vencida em apenas alguns segundos. Mais uma vez, teve apoio de uma grande torcida de Teixeira de Freitas, que fez questão de acompanhar. A terceira luta profissional foi em Arapiroca, no Alagoas, e também ficou marcada em sua memória: “O meu adversário era natural de lá, então, já fui preparado para ser vaiado e sofrer com falta de apoio. Foi

justamente o contrário, as pessoas gritavam meu nome, fiquei extremamente feliz. Mesmo lutando lesionado, tive um bom resultado”.

AS DIFICULDADES Atualmente, Dennys mora no Rio de Janeiro, treina com o Team Nogueira e faz parte do maior evento de MMA da América Latina, o Jungle Fight, na categoria Meio-médio. Tudo isso pode parecer muito glamouroso, entretanto, existe um grande trabalho que quem simplesmente assiste às lutas não vê. Os treinos acontecem de segunda a sábado, duas vezes por dia, das 11h às 14h e das 21h às 23h. Eles intercalam as diferentes modalidades ou focam mais em uma a depender do adversário, investindo em boxe, muay thai e jiu-jítsu. “Os meus treinos são muito pesados, levo muito mais porrada do que nas lutas oficiais. Já quebrei a mão, tive várias torções nos joelhos, lesionei o peito. Mas, é isso que me deixa preparado para enfrentar o adversário no octógono. Então, quando chega a hora, eu sempre posso pensar que durante o treino foi pior e que posso passar por aquele momento e garantir uma vitória”, diz.


ESPORTE musculação, ele decidiu tirar férias e voltar pra casa nesse período. Veio para Teixeira de Freitas no Natal aproveitar o tempo com a família e os amigos, se permitindo sair da dieta e comer à vontade, passar alguns dias mais isolado na roça com os familiares e até estender a visita à região das praias para aproveitar um pouco. “Fazer uma boa luta envolve técnica e treino, mas, o nosso psicológico é fundamental para que o bom resultado venha. Perder essa luta mexeu muito comigo, era a minha grande chance. Voltar foi bom pra recarregar as energias, física e emocionalmente, e eu só vou voltar e marcar uma luta quando sentir que é realmente o meu momento. Estou tranquilo e confiante que Deus sabe o melhor pra mim, o meu momento ideal vai chegar”, afirma.

A ORIGEM DO NOME

Recentemente, no fim de novembro de 2015, Dennys teve uma luta muito importante, que poderia o levar a conquistar o tão sonhado cinturão. Mesmo sentindo-se mais preparado do que Jorginho Filho, ele acabou perdendo a luta por um chute que foi dado em sua cabeça: “Eu sei que aquela luta poderia acontecer novamente mil vezes e eu teria condições de vencer, mas, naquele momento, eu deslizei, errei e perdi a luta. Eu sabia que ele daria chute, treinei isso, mas, essas coisas acabam acontecendo. Agora é a hora de ele aproveitar essa vitória e seguir a carreira, avançar. E é o meu momento de descansar, me recuperar e estar bem para enfrentar os próximos desafios”.

Segundo ele, normalmente, muitas pessoas te cercam e te apoiam, mas, no momento em que você perde, ao invés de aparecerem palavras de compreensão e motivação, os discursos são mais pessimistas e terminam de te colocar para baixo. Ele ilustra essa situação com o que aconteceu com José Aldo, lutador brasileiro conceituado, invicto e com cinturão. Ao perder a luta história em apenas 13 segundos para Connor Mc Gregor, tudo mudou. No dia seguinte, os próprios brasileiros que se diziam fãs do atleta apareceram destilando críticas, desapontados, justamente no momento em que o ídolo precisava de injeção de ânimo. Ele guarda esse tipo de situação como ensinamento e lição.

Ele confessa que um dos grandes problemas nesse mundo da luta é visto justamente quando há uma derrota.

Como recebeu uma pancada forte na cabeça e precisava descansar, afastado até mesmo de atividades como

O nome Dennys “A Máquina” fez sucesso, tem peso e chama atenção, é difícil de esquecer depois de ouvir uma vez. Ele pode agora agradecer a ideia de Guilherme Augusto, seu primeiro treinador, que o iniciou e apadrinhou nesse universo da luta. Ele conta que no início não gostava, acha forte demais, talvez, um pouco prepotente. Agora, já faz parte de quem ele é e precisa se esforçar diariamente para fazer jus ao que nome diz, pois ao ouvir esse tipo de chamativo, o público, automaticamente, espera uma grande atuação e resultado. “A Máquina” tem correspondido às expectativas. Ele já chegou a treinar com lutadores de nome internacional e consegue ter um sparring de igual para igual. Quando perguntado se então era o seu soco forte que fazia diferença na hora da luta, ele nega: “O meu soco é realmente muito bom e forte, mas o meu chute pode ser ainda mais impactante. Eu consigo ter um bom desempenho nas três modalidades de luta e ter uma força grande, por isso, me REVISTA PERFIL

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ESPORTE torno um profissional completo. Quem vem me enfrentar sabe que não é uma luta fácil, a próxima que fizer então, com certeza, vou dar muito trabalho. Além disso, fico tranquilo no octógono e até rio para o meu adversário, mais uma vantagem”. Todos o chamam de Dennys “A Máquina”, em sua casa só é usado o primeiro nome. Ainda assim, esse não é seu nome original e sim um apelido dado por sua família. “Meu nome não é Dennys, meus pais que me chamam assim desde pequeno, é um apelido familiar que pegou e se espalhou para todos os setores, inclusive, profissional. Na verdade, me chamo Cláudio Cesário Américo. Nunca entendi como de Cláudio passou para Dennys; eles nunca souberam me explicar”, revela.

PREPARAÇÃO PARA AS LUTAS Quando tem uma luta marcada, é preciso começar uma rotina diferente, com treinos específicos para aquele adversário, de acordo com suas habilidades e fraquezas. Um dos pontos mais importantes nesse momento é

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a alimentação, que precisa ser muito regrada, cortando sal, açúcar, carboidratos e adicionando muita água. Isso porque toda vez que luta, ele precisa perder entre 15kg e 18kg. Para quem não é atleta, isso pode parecer insanidade, mas pra Dennys, já faz parte de seu treinamento. Tudo é feito com acompanhamento médico e nutricional e não pode ser copiado em casa. Para chegar ao peso ideal, além dos cortes desses alimentos, ele precisa fazer alguns truques na última semana para desidratar. Com ajuda de sauna e casacos específicos para isso, ele consegue perder bastante água. Ele também é adepto do choque d’água, que consiste em beber cerca de 10 litros de água por dia e depois ir diminuindo, chegando a ficar várias horas antes da pesagem sem ingerir nada. Na hora da pesagem, que acontece na véspera da luta, ele está no peso certo, mas que é muito abaixo do seu normal. Quando vai fazer a famosa encarada com o adversário, há aquele espanto, porque ele está bem magro. De um dia para o outro é normal que os lutadores recuperem parte do peso perdido, antes mesmo da luta: “No dia seguinte, já

estou bem melhor e isso acaba dando um novo espanto ao combatente. Claro que ele também está com mais peso, mas a minha genética ajuda bastante e eu consigo fazer esse processo de perder e ganhar muito rapidamente. Além disso, vejo muitos lutadores comendo errado no dia anterior à luta, se enchendo de comidas gordurosas. Se eu faço uma dieta pra melhorar meu desempenho, não vou colocar tudo a perder na véspera”. Justamente por passar por uma preparação intensa, ele não desiste da luta mesmo que apareça algum tipo de empecilho. Cerca de 10 dias antes de uma luta em julho, também pela Jungle Fight, contra Alex Pavão, ele lesionou a mão. Decidiu lutar assim mesmo e recuperar os estragos depois da luta. “Já tinha feito toda a preparação, não queria desistir por causa da lesão, como já disse, nos meus treinos é sempre pior. Na hora do embate, o primeiro golpe que dei foi justamente com essa mão. Na hora a gente não sente nada. Usei bastante a mão machucada e consegui uma vitória por finalização ainda no primeiro round”, ressalta Dennys.


DIREITO

ATENÇÃO

ÀS LISTAS DE MATERIAL ESCOLAR Por Dra. Sara Dânitza

Superados os festejos natalinos, a brilhante comemoração do réveillon, passadas as férias, as viagens, a praia, chega a hora de começar o ano de fato. Após dias de descanso, nos deparamos com um leque de obrigações e contas a pagar e os pais com a tão temida lista de material escolar. Conhecida por amedrontá-los no início das aulas, a lista de material escolar é, sem dúvida alguma, encarada como um dos vilões no orçamento familiar, onerando as despesas no começo do ano. Nesse momento, é preciso que os consumidores estejam bem atentos aos itens descritos nas listas fornecidas pela instituição de ensino, observando se nela está contido algum item proibido pelo Procon. Isso mesmo! A exigência de material escolar de uso coletivo está vedada, exceto se a instituição de ensino apresentar um plano de execução apontando como e quando será a utilização do material pelo aluno e se acontecerá de forma individualizada. Alguns itens que costumeiramente compõem a lista de material escolar foram completamente proibidos pelo Procon, isso porque tratam-se de produtos de uso coletivo ou que, em muitas vezes, não fazem parte da metodologia de ensino e aprendizagem do estudante, mas, sim, do uso geral da escola. Na intenção de reduzir os custos da sua operação, algumas instituições de ensino delegam aos pais o dever da compra de alguns materiais que, certamente, não implicam na formação do aluno, tais como material de limpeza, copos descartáveis, pinceis para quadros, envelopes, entre outros. Atento a essa conduta, o Procon estabeleceu uma lista com rol exemplificativo dos itens que estão proibidos de constar nos pedidos escolares. Vale ressaltar que o Código de defesa do consumidor dispõe como prática abusiva a transferência ao consumidor da despesa que é devida à empresa, assim como quando da atribuição da obrigação dos pais a compra de materiais de uso coletivo. Diante de condutas abusivas nasceu a Lei 12.886 em 26 de novembro de 2013, que acrescentou o § 7º ao art. 1º da Lei 9.870/99 (lei que dispõe sobre o valor total das anuidades escolares e dá outras providências), com o intuito de trazer invalida a cláusula contratual que force o consumidor a prestação suplementar ou provimento de material escolar de uso coletivo ou qualquer outro destinado à instituição de ensino.

§ 7º . Será nula cláusula contratual que obrigue o contratante ao pagamento adicional ou ao fornecimento de qualquer material escolar de uso coletivo dos estudantes ou da instituição, necessário à prestação dos serviços educacionais contratados, devendo os custos correspondentes ser sempre considerados nos cálculos do valor das anuidades ou das semestralidades escolares. É importante ficar atento também ao perceber que a escola exige que a compra dos itens seja feita em determinado empreendimento ou requer que os materiais sejam de determinada marca, esse comportamento deixa claro a prática ilegal da venda casada, conforme preconiza o artigo 39,I do Código de defesa do consumidor Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas: I - condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de outro produto ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites quantitativos; Os pais, ora consumidores, devem estar atentos às exigências das instituições de ensino, pois a desobediência ao disposto na Lei 9.870/99 deve ser combativa e o melhor meio de combate às arbitrariedades contra o consumidor é a informação, ciente de estar ou ter sido lesado este deve, imediatamente, procurar a escola e tentar de forma amigável solucionar o conflito, não sendo possível a alternativa, é levar o fato ao Poder Judiciário. Lembrando que, um bom diálogo entre as partes é, na maioria das vezes, o instrumento capaz de sanar a desavença. Assim se pode enfrentar a lista, as compras de maneira menos dolorosa e iniciar o ano sem esse transtorno. Superada a lista, feliz 2016!

Dra. Sara Dânitza: é advogada e pós-graduanda em direito civil e processo civil

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TELEVISÃO Foto: Divulgação Globo

THE VOICE BRASIL

SOLTA A VOZ! A febre dos realities shows musicais que entraram de vez na cabeça dos brasileiros Por Camille Dornelles, Rio de Janeiro

The Voice Brasil Emissora: Globo Origem: a franquia holandesa The Voice of Holland

Quantas temporadas teve: a quinta

Como uma boa música, os programas de competição musical ficaram de vez na cabeça dos brasileiros. Mas, antes de falar de música, vamos falar um pouco de cinema. Os antenados no cinema de Woody Allen, como eu, devem se lembrar de seu filme mais recente “Para Roma com amor”. No longa, o cineasta levanta uma questão interessante: você já reparou como as pessoas parecem cantar muito melhor no chuveiro? Isso porque é nesse ambiente que o camarada realmente solta a voz, sem vergonha de seu talento. No filme de Allen vemos um agente funerário se tornar um renomado cantor de ópera porque tomou coragem para cantar em frente ao público. O interessante é que ele fez exatamente aquilo que fazia todos os dias no chuveiro, mas, a coragem fez sua vida mudar de cabeça para baixo. Pois bem. É isso o que os realities shows musicais procuram: talentos 70

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anônimos com coragem para cantar na frente do público. E a identificação desse público com os participantes é que guarda a chave do sucesso desse tipo de programa, afinal, todo mundo canta no chuveiro. O pensamento “poderia ser eu ali”, ou, “será que eu teria chance?” não faz apenas o reality conquistar audiência, mas, também, temporadas inúmeras. Alguns programas, como American Idol, chegaram à marca das impressionantes 14 edições. Os britânicos são os patronos desse tipo de reality show desde 2001, quando “Pop Idol” estreou no canal Independent Television. O programa também teve franquias internacionais, chegando ao Brasil em 2006, pelo canal aberto SBT. Você o conheceu como “Ídolos”, naquela época. No entanto, essa foi apenas a porta de entrada. A partir de então, nosso país teve mais de dez programas musicais em canais abertos e cada um deles com uma

temporada está confirmada para 2016. Audiência: um dos realities musicais de maior audiência, chegou a ser o líder do seu horário, com 20,3 pontos.

Como é o esquema de participação: na primeira audição, os jurados ficam de costas e escolhem quem colocar em seus times. Basta uma aprovação para o candidato estar dentro do programa. Ele recebe aulas de canto e interpretação e faz apresentações semanais. Os votos populares começam nas semifinais, quando passa a ser eliminado um por semana. O programa também é uma competição entre os treinadores. Principais participantes: Ellen Oléria (2012); Sam Alves (2013); Danilo Reis e Rafael (2014); Renato Vianna (2015).

peculiaridade. Fizemos uma relação de alguns programas para você conhecer um pouco mais sobre eles e se contagiar com o que ainda está rolando. Quem sabe em 2017 você não troca o jato do chuveiro por um flash de holofote?


Fama

Foto: Divulgação SBT

TELEVISÃO

Emissora: Globo Origem: produção espanhola Operación Triunfo (2001-2011)

Quantas temporadas teve: 4 temporadas (2002-2005) Por que acabou: a emissora não deu explicações. Após o fim da quarta temporada estreou o programa Estrelas, com Angélica.

Como era o esquema de participação: os participantes eram

Ídolos Emissora: SBT e Record Origem: franquia do programa britânico Pop Idol (2001-2003)

Quantas temporadas teve: 7 temporadas (2006-2012) Por que acabou: a Record anunciou o fim da atração para dar lugar ao reality “Got Talent Brasil”.

Como era o esquema de participação: a primeira audição

Foto: Divulgação Globo

aprovados pelos jurados e recebiam aulas de canto e interpretação durante a semana. O júri escolhia quatro para serem votados, dos quais dois eram salvos. Os dois restantes iam a voto popular. Principais participantes: Vanessa Jackson, vencedora (2002); Thiaguinho (2003); Marina Elali (2003); Roberta Sá (2003); a atriz Mariana Rios (2002); Luka, dona do hit To Nem Aí (2002); Dan Torres, da dupla Cidia e Dan (2004).

era individual em frente aos jurados e era preciso uma aprovação majoritária para passar para a próxima fase. Muitos iam apenas para fazer graça. O público começava a votar a partir das semifinais. Principais participantes: Thaeme Mariôto, da dupla Thame e Thiago, vencedora (2007); o ator Chay Suede (2010), que saiu direto para a novela “Rebelde” e tem carreira musical.

Os Iluminados Emissora: Globo Origem: programa alemão Keep Your Light Shining

Quantas temporadas teve: 1 temporada (2015). A segunda temporada está confirmada para 2016.

Como é o esquema de participação: quadro do “Domingão

The Voice Kids Emissora: Globo Origem: a versão mirim de The Voice Quantas temporadas teve: 1 tempo-

audiência no seu horário. No domingo, 17 de janeiro, ficou o dobro de pontos à frente da segunda colocada, Record.

rada (2016)

Audiência: o programa veio preencher a

Como é o esquema de participação: segue as mesmas regras

lacuna deixada por The Voice Brasil nos fãs e segue superando as outras emissoras em

do The Voice, com participantes de 9 a 15 anos.

do Faustão”, tem sete participantes. Cada um canta um trecho de uma música selecionada até que seu tempo acabe e o próximo continue de onde esse parou. O público vota durante a música e os três menos votados vão para a decisão do júri, que elimina um a cada semana. A final é escolhida apenas pelo público. Principais participantes: o vencedor foi Jefferson Moraes (2015).

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Foto: Divulgação Globo

TELEVISÃO

Superstar Emissora: Globo Origem: competição israelense Rising Star

Quantas temporadas teve: a terceira temporada está confirmada para 2016.

aceita a inscrição de bandas e conta com a interatividade para as votações. O público vota durante a música apresentada e a banda precisa receber uma quantidade mínima de votos para ser aprovada. Os três jurados também votam e cada voto tem valor de 7%. A banda precisa obter 70% dos votos SIM para continuar na disputa. Principais participantes: Banda Malta, vencedora (2014); Luan e Forró Estilizado (2014); Suricato (2014); Scalene (2015); Versalhe (2015); Lucas e Orelha, vencedor (2015).

PopStars Emissora: SBT Origem: programa neozelandês Pop Stars

Quantas temporadas teve: 2 temporadas (2002-2003) Por que acabou: a emissora não explicou porque o programa não foi renovado.

Como era o esquema de participação: feito para mostrar a

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formação de um grupo feminino e depois de um grupo masculino, os participantes eram realocados entre os grupos pelos jurados e público através das votações e eliminações semanais. Principais participantes: Rouge (2002); Br’Oz (2003); Marjorie Estiano (2002).

Foto: Divulgação SBT

Como é o esquema de participação: o programa só

Astros Emissora: SBT Origem: outro programa brasileiro, chamado Show de Calouros Quantas temporadas teve: 2 temporadas (2008-2009; 2012-2013) Por que acabou: veio como substituto do programa Ídolos, mas, a baixa audiência não o sustentou no ar. Em 2012 veio preencher outra lacuna, deixada pelo reality “Qual é o seu Talento”?

Como era o esquema de participação: os participantes se inscreviam no site e iam às audições marcadas pela produção. Podiam ser solos, duplas, trios e bandas. Eram eliminados por voto popular. Principais participantes: Shirley Carvalho (2008)



BELEZA

NUDE ESTÁ EM ALTA

PARA AS MAKES DE VERÃO Ao invés das cores fortes e vivas, a maquiadora esclarece que este verão pede tons nudes e mais sóbrios Por Yara Lopes Fotos: Ailton Carvalho (Negão Fotógrafo) Make: Clicia Pinheiro

Antes mesmo de chegar o verão, já aparecem as tendências no mundo da moda, seja de roupa ou de maquiagem. Normalmente, ao pensar na estação mais quente do ano vem à mente cores fortes e bem vibrantes. Em 2015, essa regra valeu, e tons como rosa e laranja, assim como o neon, foram vistos tanto nas roupas quanto nas makes. Mas, esse ano a tendência mudou e o nude chegou com tudo, podendo ser visto em desfiles de moda e nos looks de famosas. A novela Totalmente Demais, por exemplo, trouxe esse tipo de caracterização em suas principais personagens, como a Carol, a atriz Juliana Paes, e a Elisa, Marina Ruy Barbosa, que tem os lábios em tons naturais ou bem claros. A maquiadora Clicia Pinheiro ressalta que as cores para o verão 2016 são, além do já falado nude, os marrons e os dourados: “Claro que o rosa, o laranja e outros tons fortes ainda po-

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dem aparecer, cada um é livre para criar, mas, a tendência do verão é a sobriedade. Para dar uma quebrada nesses tons mais claros, temos as alternativas de optar por pigmentações nos olhos e batons líquidos nos lábios. O importante é a mulher adaptar essas dicas e alternativas de acordo com a situação, estilo e personalidade para se sentir bonita”.

LOOK PARA DIA Se quiser investir em uma make para o dia, ideal para um casamento ao ar livre, festa de aniversário, ou, alguma outra celebração, aposte em uma pele bem feita para não ter erro. “Com uma boa base no rosto e corretivo nas olheiras ou áreas com manchas e marcas, a pele já fica bem uniforme, isso é essencial. Também aplico um iluminador mais puxado para o dourado na área das maçãs e, nesse mo-

mento, como é dia, invisto também em um blush rosado. Tudo isso vai te deixar radiante e iluminada, com o look perfeito para o verão”, indica a maquiadora. Entretanto, ser básica não significa deixar de seguir alguns passos da maquiagem, como a sombra. Ela vai aparecer, mas em tons bem mais claros e sóbrios. O côncavo pode ser marcado com um marrom de maneira bem leve e depois o restante do olho é complementado por um tom perolado. Para destacar o olhar, você pode investir em uma sombra preta como delineador e em seguida dar uma marcada com o delineador líquido. Embaixo da linha d’água, apenas uma sombra marrom clara. Finalize com cílios postiços, o truque para deixar todo olhar mais destacado. Não importa o seu formato de sobrancelha, com a maneira certa de corrigir e delinear, ela pode ficar da maneira que você mais gosta. O truque é pintar a sobrancelha levemente com uma boa sombra marrom para fazer o tracejado da maneira que você preferir - normalmente, as mulheres preferem sem falhas e mais longas. Para ajudar a corrigir esse traço, passe corretivo ao redor da sobrancelha, vai ajudar também a dar uma iluminada na área. O último passo é escolher o batom, que para o dia pode ser um líquido em tom mais claro.


BELEZA LOOK PARA A NOITE Se quiser uma opção para sair à noite, pode investir em mais sofisticação. A indicação da especialista para a área dos olhos é um esfumado sem nenhuma marcação. Para fazer isso, você precisa de boas sombras marrons e pretas e muita paciência com o pincel para repetir o movimento de vai e vem por alguns minutos. A sombra marrom clara é seguida por uma preta também mais clara. Em seguida, marque o olhar com um delineador em gel, para depois voltar a esfumar com um marrom mais escuro e um preto forte. Não tem problema se a sombra misturar com o delineador, o resultado final não será comprometido. O grande destaque desse olhar vai ser um pigmento purpurinado que será colocado por cima de todas as sombras e o delineado, conferindo mais cara de verão, glamour e requinte. Deixe o medo nesse momento e se arrisque se nunca usou algo mais ousado. Na parte de baixo dos olhos, opte por sombra no lugar do lápis, nesse caso de noite é possível misturar marrom, preto e até um lilás. Mais uma vez, os cílios postiços dão o toque final. Em relação à pele, a preparação é a mesma, mas você pode valorizar as suas formas com as técnicas de con-

torno e iluminação. É simples, basta iluminar as áreas que você quer destacar, normalmente o centro do rosto - meio da testa, embaixo dos olhos, centro do nariz e queixo. Use base ou corretivo mais escuros para disfaçar e dar profundidade em locais como extremidades do nariz, extremidades da testa e nas maçãs do rosto. Depois de todas essas marcações, use uma esponja para esfumar tudo, sem deixar nenhum marcado, apenas uma leve coloração. Como a pele já está bem carregada, aplique levemente pó translúcido só na área T do rosto. O blush pode ser nesse momento substituído por um pó bronzeador, fica muito mais natural. Ilumine o rosto com um iluminador com toques de dourado. O grande truque que vai finalizar toda essa produção e aparece agora como uma grande tendência é a maneira de colorir os lábios. “Não é porque o neon e as cores mais vivas deixaram de aparecer que não podemos ter uma make bem glamourosa. A novidade do momento é usar um iluminador nos lábios no lugar do batom. Como é noite de verão, optei por um iluminador dourado, basta passar nos dedos e em seguida contornar os lábios. Você não vai se arrepender do resultado, é original e muito bonito”, conclui Clicia Pinheiro.

LOOK DIA - LAYARA RUELA Base Líquida TimeWise Acab. Matte Mary Kay - R$62,00 Corretivo quem disse, berenice? - R$25,90 Estojo de sombras Naked Basics Palette da Urban Decay - R$219,00

Delineador líquido Intense Preto - R$23,99 Iluminador sun beam Benefit - R$129,00 Batom Líquido Aquarela Natura - R$25,50

LOOK NOITE - IZABEL MIRANDA Base Velvet Contém 1g R$195,00 Paleta de sombra Catharine Hill - R$89,90 Delineador em gel Fluidline MAC - R$69,00 Sombra Vult pigmento branco - R$15,18 Paleta de contorno Highlight & Contour Nyx - R$159,90 Pó compacto duo bonzeador/ iluminador Vult - R$18,50 Make B. Mineral Blush Baked - R$58,00

Clicia Pinheiro:

é maquiadora, especialista no atendimento de noivas, madrinhas, formandas e debutantes

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MODA

MODA ATEMPORAL: O VINTAGE INVADIU O GUARDA-ROUPA

Itens como a jaqueta de couro, as calças cigarretes e as minissaias foram lançadas décadas atrás e ainda fazem sucesso Por Louise Rodrigues, Rio de Janeiro

Sabe aquele broche que a sua avó guarda na gaveta? E aquele chapéu que seu avô nunca mais usou? Aquela blusa que sua mãe usava na juventude e, por algum motivo, ainda está no fundo do armário? E a bolsa que você comprou há uns 10 anos e está dentro da sacola de coisas para se desfazer, mas que nunca são lembradas? Isso

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tudo é (ou ainda pode ser) moda. É isso mesmo: o vintage invadiu as lojas em 2015 e, em 2016, a tendência é reforçar a moda urbana trazendo um toque de época para os looks modernos. Mas, para dar ainda mais personalidade ao estilo, vale usar o que realmente pertenceu ao guarda-roupa do passado.

Assim como tudo que envolva moda, qualquer pessoa pode usar peças vintage. E deve fazer isso da forma que se sentir a vontade. Nunca esqueça: a partir do momento que todo mundo precisa usar roupas, a moda é democrática e não deve seguir os padrões de beleza impostos pela sociedade. Use o que tiver vontade, e estará incrível. Então, se você curte esse estilo de moda de época, preste atenção nessas dicas e monte seu look do jeito que quiser. A história da moda é bastante longa e, por isso, é impossível passar por cada década e contar todas as mudanças. O que precisamos saber é que, sob o ponto de vista da moda, os anos 30, 40 e 50 foram um pouco mais conservadores. As décadas de 20, 60 e 80 foram revolucionárias. E, por fim, os anos 70 e 90 foram uma transição de cores, estampas, tons e texturas entre as décadas. Justamente por isso, a moda urbana de hoje se inspira mais dos anos 60 a 90. A década de 20, apesar de toda a revolução que trouxe, deixou marcas mais específicas, como o estilo de Coco Chanel, os vestidos de seda e os ternos menos justos. Os anos 60 não se resumem às bolinhas e tiaras. Muito pelo contrário. Surgiram as calças cigarretes, as minissaias e os vestidos curtos. As mulheres, pela primeira vez, puderam

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MODA 02

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1 - As bolinhas ficaram muito famosas nos anos 60, mas, continuam atuais. Combinadas com a saia jeans alta, deram um ar retrô leve.

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3 - Os looks de couro começaram a fazer sucesso na década de 60 e permanecem um clássico no guarda-roupa dos homens. Crédito: Afonso Gossip Boy.

Crédito: O mundo de jess.

5 - As calças cigarretes normalmente eram usadas por mulheres nos anos 60, mas, também entrou para o guarda roupa masculino. Crédito: O último black power.

2 - Tudo nesse look é vintage, desde as bolinhas, passando pela gola do vestido, até o sapato boneca e os óculos redondos.

4 - Inspirações de décadas passadas, como a cigarrete e o all jeans, podem se tornar muito modernas com um acessório diferente, nesse caso, a sandália de animal print.

6 - A década de 70 deixou como legado as roupas com estampas mais exóticas e acessórios mais diferentes.

Crédito: My Secrets.

Crédito: Cris Valias.

Crédito: Santa Abusada

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MODA 07

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7 - Calças boca de sino foram febre nos

inclusive, para os homens.

mas, fez sucesso há 20 anos.

anos 70, agora voltaram as bocas abertas

Crédito: O último black power

Crédito: O último black power

12 - Um look mais grunge também fez

foi uma herança dos anos 80 e é possível

10 - Os anos 90 foram muito coloridos, essas cores fortes combinam com o verão. Optar por croppeds também deixa o look tanto vintage, quanto moderno.

fazer muitas combinações.

Crédito: Tendência de mulher

Crédito: Meninices da Vida

11 - Jeans com jeans deu certo nos anos 90 e ainda dá. Parece uma combinação moderninha,

13 - Os acessórios, como óculos e lenços, po-

renomeadas de flare. Crédito: Casa de paetê.

8 - A combinação de minissaia e colete

parte dos anos 90. Para quem prefere um preto, mas não quer ser discreto, é uma excelente opção.

Crédito: fiamapereira

9 - Opções em couro mais justas apareceram nos anos 80 e continuam válidas,

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dem dar um ar mais retrô a qualquer look. Crédito: Mônica Ambrosio


MODA usar smoking e o jeans entrou para as opções possíveis do guarda-roupa da juventude. As estampas passaram a ser futuristas e geométricas, por isso a fixação de representar as bolinhas quando se fala dessa época. Os cabelos começaram a sair dos coques, os penteados e se tornaram mais volumosos e a maquiagem marcava os olhos, fazendo com que os batons deixassem de ser uma prioridade. No guarda-roupa masculino, o estilo de Elvis Presley voltou com bastante força. Os topetes altos com as laterais baixas ganharam adaptações. Os looks de couro, as boinas e os suspensórios também conquistaram o armário dos homens. A chegada da década de 70 trouxe consigo o Movimento Hippie e a revolução da moda completamente unissex. Estampas e acessórios mais coloridos e com estampas exóticas invadiram as ruas. A combinação de calça

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boca-de-sino e colete foi uma das mais clássicas dessa época, assim como os vestidos compridos de manga larga e os coletes com caimento de quimono. As sandálias perderam o salto e os óculos ganharam formato redondo. As tiaras, bandanas e coroas de flores viraram o xodó da época. Os cabelos eram usados da forma mais natural possível e os bigodes eram a grande aposta dos rapazes. Já em 1980 tudo era colorido, cintilante e revolucionário. A moda era se vestir com liberdade e não havia um padrão definido. Várias combinações eram possíveis: saia na altura do joelho, meia calça, polainas e cropped; meias coloridas bem altas, tênis branco, vestido e brincos de argola coloridos; vestidos com estampas geométricas e coloridas; e minissaias, com polainas e casaco eram algumas das combinações mais usadas. Os ca-

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belos eram arrumados em topetes e penteados frisados e os fios mais longos com franjas lisas fizeram a cabeça dos homens, assim como as calças cintilantes e blusas de couro justas. Nessa época, inclusive, eles usavam cropped tanto quanto as mulheres, o que nos faz pensar como a geração dos anos 80 tinha a mente mais aberta que a nossa. Por fim, os anos 90 foram marcados pela influência da década anterior, com algumas particularidades inesquecíveis. O jeans virou a peça queridinha, usada, inclusive, nos tapetes vermelhos. Absolutamente tudo ganhou essa estampa: vestidos, bolsas, sapatos, acessórios, cadernos, blusas e até lacinhos de cabelo. As lingeries começaram a ser deixadas à mostra. As calças ficaram mais despojadas, as bermudas se tornaram mais largas e a estampa xadrez ganhou um lugar especial no guarda-roupa. Os batons vermelhos e rosa choque, o delineador preto e a sombra purpurinada se tornaram a maquiagem padrão da década e acessórios como gargantilhas, spikes, tornozeleiras, prendedores de cabelo bico-de-pato e minipiranhas estouraram as vendas nas lojas. A moda vintage chama atenção pela possibilidade de montar um look completamente retrô, ou, simplesmente, usar uma peça ou acessório para dar mais charme às produções. Você também pode misturar as tendências para conseguir um visual mais despojado. E uma das maiores vantagens dessa moda é que não é preciso gastar muito: além das peças de época que você ou alguém da sua família já têm em casa, dá para fazer a festa e comprar muita coisa em antiquários e brechós por preços bem em conta. Você também pode usar o que já tem e nem imagina que pode ser retrô. É só usar a criatividade! REVISTA PERFIL

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MODA

OS MODELOS DE MODA PRAIA INDISPENSÁVEIS PARA O VERÃO Blogueira e consultora de moda e imagem indica diferentes modelos que estão em alta e não podem ficar de fora nessa estação Por Pollyana Loureiro, Posto da Mata Fotos: Divulgação

O verão chegou! É hora de colocar o bronze em dia sem perder a pose, ou melhor, o estilo. Vou contar quais são as apostas e tendências para a moda praia dessa estação.

01 O famoso e queridinho top cropped agora ganhou uma versão beachwear. Essa peça é aposta certa pra quem adora desfilar tendências por aí. Se combinada com um bom jeans, pode ser uma ótima opção para um look pós-praia, como ir a um restaurante por exemplo. Cuidado com a exposição ao Sol, a marquinha pode não ser a ideal.

TRYA R$ 350,00

02 O modelo ripple é superfeminino e estratégico para modelar o corpo. Ficou muito conhecido por ter um franzido na calcinha que “levanta o bumbum”. Essa é uma opção moderna para o tradicionalíssimo cortininha. BODY FOR SURE R$190,00

SACHI R$ 160,00

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Outra tendência que migrou do dia a dia para a moda praia foi o hot pants. A peça que tem uma pegada vintage, com inspiração nos anos 50, une conforto e estilo. Quem deseja disfarçar a silhueta, pode optar por tecidos lisos e escuros, já que as estampas e tecidos muito claros ajudam a aumentar visualmente.

O biquíni dupla face é um investimento, vez que você acaba tendo várias opções em um só conjunto. Geralmente, as peças têm um lado liso e outro estampado, ou, duas estampas diferentes em cada uma das partes, assim, as possibilidades de combinações aumentam.

C&A R$49,90 80

SACHI R$ 165,00

• REVISTA PERFIL

MORANGO BRASIL R$193,00

R$ 329,00


MODA 05

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Faz algum tempo que os bodies vêm sendo usados como maiôs, até mesmo os de manga cumprida. É uma opção mais sofisticada e ajuda muito a otimizar a mala de verão, já que pode ser usado tanto como peça de praia, quanto para o dia a dia.

Faz tempo que os maiôs deixaram de ser sinônimo de esconder o corpo. São várias as opções de modelos e recortes. Quem tem seios maiores, pode optar por alças mais largas e decotes em formato de V, enquanto quem tem seios menores, escolher modelos mais altos no colo e com alças mais finas.

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AGUA DOCE R$ 159,00

Os biquínis de crochê, muito presentes no último verão, ganharam cor e uma nova roupagem. Esse modelo é febre do verão 2016. É importante ressaltar que ele fica melhor em quem tem seios maiores.

CLASSIC R$ 88,70

08 Os chapéus, além de serem acessórios que acrescentam estilo à composição do look, são aliados na proteção contra os raios solares. Uma superdica é investir em viseiras e chapéus que venham com fator de proteção.

GALERIA DO BIKINI R$ 289,00

UV LINE R$ 189,90

UV LINE R$ 159,90 REVISTA PERFIL

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GASTRONOMIA Foto: Radiant Rachels

DE OLHO NO VERÃO E NAS COMIDINHAS

Ingredientes simples, leves – outros nem tanto! - e algumas pitadas de amor Por Renata Fontanetto, Rio de Janeiro

Foto: Og my veggies

Confesso que não sou afeita a dietas. Não sou daquelas que vê no verão uma oportunidade de ficar sarada, magérrima e da cor do pecado – minha quantidade de melanina não me concede aquela cor dourada, mas, sim, a cor pimentão. Talvez, a grande maioria dos brasileiros, no entanto, ame o verão, assim como eu. Se o bronzeado não favorece, não há problema! Vamos combinar que o mar, mergu-

lhos de piscina e aqueles dias dourados de sol são uma ótima pedida? Adicione a essa receita ingredientes que você juraria que não dariam uma boa composição, mas, com malemolência e sabor rendem, sim, um mundo de descobertas! Se você está junto comigo nessa, segura na minha mão que eu prometo que as próximas receitas, com vegetais e frutas, podem te surpreender!

Smoothie geladinho de melancia e manjericão Ingredientes Três xícaras de melancia em cubo Duas xícaras de cubos congelados de melancia ½ copo de água de um coco fresco 4 folhas grandes de manjericão Como fazer? Coisa MAIS FÁCIL DO MUNDO: bata tudo e beba A-GO-RI-NHA!

Mingau de aveia dormida para o café da manhã Ingredientes

Como fazer?

1 banana madura amassada ¾ de xícara de aveia em flocos ¾ de xícara de leite normal, de coco ou de amêndoas 1 colher de chá de sementes de chia 1 pitadinha de sal marinho ou de flor de sal 3 a 4 morangos maduros Um bocadinho de mel, se necessário

À noite, antes de ir dormir, junte todos os ingredientes (menos o morango), cubra e deixe na geladeira por uma noite. De manhã, coloque o morango por cima e delicie essa delícia!

Creme maravilhoso de abacate com cacau em pó Como fazer?

Dois abacates maduros ½ copo de leite normal ou leite de amêndoas ½ xícara de mel ½ xícara de cacau em pó de boa qualidade ½ colher de sopa de extrato de baunilha

Amasse os abacates primeiro, fazendo um creme. Junte o cacau e misture. Coloque os outros ingredientes e vá misturando até formar uma pasta homogênea. Prove e veja se quer adicionar algum ingrediente. Coloque na geladeira por, no mínimo, duas horas até ficar mais consistente.

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Foto: Pinterest

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Ingredientes:




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